POLÍTICOS E ELEITORES - AÇÕES CONCRETAS Marizete Martins Nunes do Nascimento Coordenadora Nacional do Ministério de Fé de Política - RCC 1. A FÉ OPEROSA1 A fé justifica-se pelo amor ao próximo, que é uma estrada para encontrar também a Deus. Fechar os olhos diante do próximo torna-os cegos também diante de Deus. No seio da comunidade dos fiéis não deve haver uma forma de pobreza tal que sejam negados a alguém os bens necessários para uma vida digna. A Igreja tem tríplice dever: anúncio da Palavra de Deus; celebração dos sacramentos e serviço da caridade. Portanto, ela prepara o cristão para a vida espiritual e temporal, incentivando-o a ter coerência entre a fé proclamada e a vivenciada. Palavra de Deus e vida sacramental sem o testemunho da caridade, esvazia a razão de ser da vida eclesial. Dessa forma, o cristão deixa de ser no mundo: fermento, sal e luz. Portanto, enquanto se tem tempo, pratique o bem para com todos, mas principalmente para com os irmãos na fé (cf. Gl 6,10). A política é a arte de administrar o Estado ou a Cidade em prol do bemcomum, tendo como dever central a justa ordem da sociedade. Conclui-se que o objetivo e a medida intrínseca de toda política é a Justiça. É aqui que a política e fé se tocam. A fé origina no encontro com o Deus vivo e abre horizontes para além do âmbito próprio da razão. A Doutrina Social da Igreja quer servir para a formação da consciência na política e ajudar a crescer a percepção das verdadeiras exigências da justiça e a disponibilidade para agir com base nestas, ainda que tal colidisse com interesse pessoal. A Igreja não pode nem deve tomar nas suas próprias mãos a batalha política para realizar a sociedade mais justa possível. Não pode, nem deve colocar-se no lugar do Estado, nem ficar à margem na luta pela justiça, inserindo nela pela argumentação racional e despertando as forças espirituais, sem as quais não poderá prosperar. A sociedade justa deve ser realizada pela política, cabendo a Igreja trabalhar para a abertura da inteligência e da vontade às exigências do bem. 1 Cf. Carta Encíclica DEUS CARITAS EST do sumo pontífice Bento XVI aos Bispos, Presbíteros e Diáconos, às pessoas consagradas e a todos os fiéis leigos sobre o amor cristão, Paulinas, 189, 3 ª edição - 2006, Pia Sociedade Filhas de São Paulo - São Paulo. A caridade deve animar a existência inteira dos fiéis leigos, bem como sua atividade política vivida como "caridade social". (Catecismo da Igreja Católica, 1939). A atividade caritativa cristã deve ser independente de partidos e ideologias. Só se contribui para um mundo melhor fazendo o bem agora e pessoalmente, com paixão e onde for possível, independentemente de estratégias e programas de partido. A oração, como meio para haurir continuamente a força de Cristo, tornase uma urgência concreta. Quem reza, não desperdiça o seu tempo, mesmo quando a situação apresenta todas as características de uma emergência e parece impelir, unicamente, para a ação. A piedade não afrouxa a luta contra a pobreza ou mesmo contra a miséria do próximo. A beata Teresa de Calcutá é um exemplo evidentíssimo do tempo dedicado a Deus na oração não só não lesa a eficácia nem a operosidade do amor ao próximo, é a sua fonte inexaurível. A luz de Deus entrará no mundo mediante a vivência do amor. 2. A POLÍTICA2 A Igreja exorta os cristãos leigos a participarem, com coragem e discernimento, da atividade política "para gravar a lei divina na cidade terrestre". Hoje o mais importante é definir um novo modelo para o país, para isso não basta inserir um voto numa urna, é necessário acompanhar os representantes eleitos, numa atitude de colaboração e de cobrança para que os compromissos de campanha sejam cumpridos. A política é uma das mais altas expressões da caridade cristã (Paulo VI). É a busca do bem comum, consistindo no respeito pela pessoa, na exigência do bem-estar social e na existência de uma ordem justa, segura e duradoura (cf. Catecismo da Igreja Católica, nºs 1095 a 1102). 2.1 - OPÇÕES DO PROJETO DE NAÇÃO CONFORME A DOUTRINA SOCIAL DA IGREJA E A NECESSIDADE DO POVO a. Democratizar o estado e ampliar a participação popular - assegurando e ampliando os direitos sociais nas áreas da educação, saúde, moradia, segurança, alimentação, respeito às diversidades culturais e étnicas; - criando mecanismos de participação direta da população nas decisões políticas por meio de consultas populares: referendos e plebiscitos (art. 14 da CF); 2 Coleção Orientação da CNBB 1, Eleições 2006. 1 ª edição - abril de 2006. Edições CNBB. - constituindo comitês populares de acompanhamento e de fiscalização da execução orçamentária das várias obras e ações dos Órgãos do Estado. b. Rever o modelo econômico e o processo de mercantilização da vida - regular o mercado e zelar pela qualidade de vida de todas as pessoas. Os direitos da população estão acima dos interesses do mercado financeiro nacional e internacional; - priorizar a economia solidária e a geração de renda, através das iniciativas diretas da população e de incentivos públicos; - promover uma auditoria das dívidas externa e interna, cumprindo o mandato constitucional (cf. Disposições Constitucionais Transitórias, art. 26). c. Ampliar as oportunidades de trabalho - está ocorrendo a flexibilização dos direitos do trabalhador e a presença de empresas de iniciativa privada, sem uma devida responsabilidade social: - buscar formas criativas de aumento substancial de oportunidades de emprego e salário justo, tanto no campo quanto na cidade; - implementar uma política de emprego para a juventude, assegurando o direito ao estudo e à capacitação profissional; - valorizar a economia solidária; multiplicar oportunidades de trabalho e renda, aumentar a rede produtiva nos moldes de cooperativas solidárias. d. Fortalecer exigências éticas em defesa da vida - todos brasileiros devem viver dignamente, desde a concepção até ao final de seus dias; - recusa de projetos que atentem contra a família ou contra a dignidade da vida humana (aborto e eutanásia). Cabe aos serviços de saúde pública garantir as devidas condições de saúde à mulher e à criança. e. Reforçar a soberania da nação - garantir a água como um bem público e patrimônio da humanidade; - proteger a biodiversidade brasileira (flora e fauna) para o povo brasileiro, solidário com os demais povos; - assegurar o uso dos solos agricultáveis para o povo brasileiro (principalmente pequenos agricultores, comunidades tradicionais, indígenas e quilombolas); - garantir a legalização e a posse das terras dos povos indígenas e quilombolas. f. Democratizar o acesso à terra e ao solo urbano - a terra de negócio não deve ter a primazia sobre a terra de trabalho; - a realização de uma verdadeira reforma agrária, acompanhada de uma adequada política agrícola e hídrica; - o tamanho do imóvel rural deve ser incluído entre as justificativas de desapropriação por meio de projeto de lei; - o estabelecimento de diretrizes para planos de desenvolvimento urbano, possibilitando direito e garantia do espaço na cidade para a população urbanizada, com áreas destinadas à moradia, parques e áreas de esporte e lazer para uso de todos. g. Proteger o meio ambiente e a Amazônia - valorizar e construir modelos de desenvolvimento econômico, cultural e social, levando em conta os ecossistemas diferenciados de cada região brasileira; - desconfiar e inibir as políticas predatórias dos grandes projetos; - defender um projeto de desenvolvimento da Amazônia para os povos amazônicos, com a sua participação e em benefício de todo o país e do mundo; - implementar políticas de relações produtivas, defendendo os povos e as riquezas daquela região, bem como implementar ações de combate à biopirataria e à apropriação indevida do conhecimento tradicional. 2.2 - CRITÉRIOS PARA ESCOLHA DOS CANDIDATOS "Voto não tem preço, tem conseqüências". Deve-se considerar: - a honestidade pessoal; - a trajetória voltada aos interesses da coletividade, - os compromissos honrados, em estreita ligação com as necessidades reais da população. 2.2.1 - CUIDADO: - com candidatos despreparados, com plataformas que camuflam interesses particulares, com políticas de compensação. - com os candidatos oportunistas, sem compromisso com partidos, com prática de compra de votos, sem escrúpulos, reproduzindo o esquema da corrupção eleitoral, com promessa de favores, enganando os eleitores, faz do povo refém, dependentes de esmolas e promessa de benefícios imediatos. - com candidatos sustentados por campanhas financeiras vultosas que facilitam a compra de votos, pois irão tentar recuperar o investimento realizado, utilizando-se dos privilégios adquiridos no exercício da função pública. 2.2.2 SINAIS INDICADORES DE VERDADEIRAS MOTIVAÇÕES DOS CANDIDATOS: - honestidade e competência (demonstradas pelos serviços prestados com transparência administrativa e financeira). 2.2.3 - AS PROPOSTAS DE POLÍTICAS PÚBLICAS DEVEM: - defender e promover a dignidade da vida e do convívio humano, - defender sempre o bem comum, - promover a inclusão social. 3. COMO AGIR COMO ELEITORES Os eleitores, também, têm papel fundamental no desenvolvimento sóciopolítico-econômico do país, devendo participar ativamente para que os poderes constituídos possam assumir com lisura e dignidade seus deveres e compromissos assumidos com a coletividade, desenvolvendo os planos de governo propagados na época da campanha eleitoral. Só o envolvimento do eleitor consciente no desenvolvimento político do país é que poderá alterar todo o panorama, revertendo os benefícios públicos para o bem comum. Daí, torna-se necessário que o eleitor adote as providências abaixo para ter autoridade na ação fiscalizatória e de cobrança: 3.1 - Conhecer a realidade eleitoral (VER) - conhecendo os candidatos, os partidos e as coligações; - divulgando a pesquisa; - buscando informações junto aos comitês eleitorais; - assistindo programas de propaganda eleitoral; - elaborando um resumo das plataformas eleitorais, idéias, projetos, promessas e intenções. 3.2 - Analisar a realidade eleitoral (JULGAR) - analisando os partidos, as coligações, as legendas e os candidatos sintonizados com o pensamento do grupo ou que têm pensamentos mais distantes aos do grupo; - elaborar documento com as opiniões e os principais questionamentos do grupo para a próxima etapa. 3.3 - Trabalhar para a conquista do voto cidadão (AGIR) - promover debates com candidatos a partir de documentos lidos e produzidos pelo grupo ou assisti-los na mídia e discutir com o grupo; - identificar os principais problemas e necessidades regionais e a disposição dos candidatos por suas propostas para implementar ações que atendam a estas necessidades; - divulgar o resultado dos debates; - estimular que momentos de encontro coletivo contemplem o momento cidadão; - fiscalizar e denunciar a corrupção eleitoral: compra de votos, promessas de vantagens financeiras ou materiais, boca de urna, entre outros. 3.4 - Valorizar o voto cidadão (REVER) - reunir o grupo após a divulgação dos resultados do pleito; - divulgar os candidatos eleitos e suas plataformas políticas; - constituir grupo permanente para acompanhar o mandato cidadão, com 4 (quatro) anos para acompanhar, intervir, cobrar e mudar os destinos da nação.