NetProf Dossiers Temáticos O Mundo Muçulmano O dossier temático “Mundo Muçulmano” encontra-se subdividido em vários assuntos. Inicia-se por uma breve resenha histórica do nascimento e evolução da Civilização Muçulmana. A religião é o segundo subtema tratado, apresentando os princípos doutrinários desta religião e um breve dicionário do Islamismo. Seguem-se outros subtemas: “Figuras históricas do Mundo Islâmico”; “Nações Árabes”; “Notícias do Mundo Islâmico, “Arte Muçulmana” e outros. ÍNDICE História da Civilização Muçulmana Origens O nascimento do Islamismo A expansão militar e comercial dos Muçulmanos Os três califados A Península Ibérica e a Civilização Muçulmana Islamismo Princípios doutrinários do Islamismo Breve dicionário do Islamismo O Islamismo na actualidade Figuras históricas do mundo islâmico Maomé Avicena Averróis Nações árabes Afeganistão Irão A Mulher no Mundo Muçulmano Notícias do Mundo Muçulmano Arte Muçulmana Arquitectura Viver segundo a Lei Islâmica Os Contos das Mil e Uma Noites ______________________________________________________________ www.netprof.pt 1/57 NetProf Dossiers Temáticos Património Cultural do Mundo Muçulmano A Matemática que herdamos dos Árabes Dias santos e festas Links Ideias para serem desfeitas História da Civilização Muçulmana Origens A Civilização Muçulmana tem a sua origem na península da Arábia. Este território era habitado por tribos nómadas e independentes. As suas principais formas de subsistência eram a pastorícia e o comércio. As travessias pelo deserto em grandes caravanas eram muito comuns no dia-a-dia dos Árabes. Havia fortes rivalidades entre as tribos árabes. O assalto às caravanas de tribos rivais é um bom exemplo da falta de união entre este povo. A actividade comercial possibilitou o desenvolvimento de cidades, pontos de chegada e partida de rotas caravaneiras. A Península Arábica era um ponto de passagem no comércio entre a Ásia e a Europa, principalmente, a zona mediterrânica. O deserto era o seu principal meio ambiente, local de difícil deslocação e orientação. As suas viagens eram feitas a camelo e desenvolveram técnicas de orientação pelos astros. Até ao século VII, os Árabes eram politeístas, tendo cada tribo os seus deuses. O Mundo Árabe deste período não tinha unidade política, nem unidade religiosa. ______________________________________________________________ www.netprof.pt 2/57 NetProf Dossiers Temáticos O nascimento do Islamismo No século VII, Maomé, um caravaneiro que já conhecia religiões monoteístas, o Cristianismo e o Judaísmo, fundou uma nova religião monoteísta, o Islamismo. Dizia-se enviado de Alá, ou seja, o deus único, começando a pregar esta nova religião na sua terra natal, Meca, por volta de 610. No entanto, esta nova religião não foi bem aceite pelos ricos mercadores da cidade, facto que provocou a sua fuga (hégira) para Medina, em 622. Este acontecimento marca o início da era muçulmana (ano 622). O Islamismo conquistou progressivamente mais crentes e Maomé regressou a Meca, em 630, depois de ter reunido um grupo de seguidores. Meca tornou-se, então, o centro da nova religião e Medina a capital do Islão. (Ver princípios do Islamismo no ponto 1.2. - Islamismo) ______________________________________________________________ www.netprof.pt 3/57 NetProf Dossiers Temáticos A expansão militar e comercial dos Muçulmanos Após a morte de Maomé, os Muçulmanos desenvolveram uma expansão militar entre os séculos VII e VIII, em nome do Islamismo. Em cerca de um século, os sucessores de Maomé, os califas, empreenderam a Guerra Santa. Os Muçulmanos eram obrigados a difundir o Islamismo e a lutar contra os seus inimigos. Foi na sequência destas ideais que os Muçulmanos formaram um verdadeiro império com conquistas de territórios desde o Indo a Gibraltar e à Península Ibérica, desde o mar Cáspio até ao deserto do Sara. Acompanhando a expansão militar, os Muçulmanos também criaram um verdadeiro império comercial. Estabeleciam rotas comerciais entre o Mediterrâneo e o Oriente. Rotas como a rota da seda, que culminava na China e a rota das especiarias que atingia a Índia e o Extremo Oriente pelo mar Vermelho e Golfo Pérsico. Eram rotas terrestres e marítimas que trocavam uma grande variedade de produtos. O dinar era o principal meio de pagamento. O Mundo islâmico dominou as principais rotas comerciais mundiais até ao século XV com as rotas caravaneiras da Ásia Central, as rotas marítimas do mar Vermelho e Golfo Pérsico, a rota fluvial do Nilo e a rota mediterrânea. Desta forma, a expansão muçulmana revestiu-se de características militares com a Guerra Santa e económicas com a expansão comercial. Os povos conquistados pelos Árabes foram sendo progressivamente islamizados, embora os primeiros califas não tenham obrigado à conversão dos povos conquistados ao Islamismo. Contudo, a conversão ao Islamismo tornou-se cada vez ______________________________________________________________ www.netprof.pt 4/57 NetProf Dossiers Temáticos maior e os povos convertidos irão participar do movimento expansionista muçulmano. Este império transferiu a sua capital para Damasco, em 661, na Síria e em 762, uma nova transferência para Bagdade, com uma nova dinastia de califas. A partir do século IX, a unidade política do Império é abalada com a independência de muitas províncias em relação à capital. O Império era demasiado amplo para poder conservar a sua unidade política. O Império encontrou-se dividido em três califados, o califado de Córdova, o califado do Egipto e o califado de Bagdade. Os três califados “Ao longo do século X, a unidade religiosa sob as ordens de um califa virá a quebrarse; lugares-tenentes do Profeta reinam em Bagdade, Cairo e Córdova. Seitas diversas atraem a energia espiritual e justificam as revoltas sociais. Graves tensões desequilibram a sociedade; a mesma cultura, ao aceitar de modo crescente as contribuições originais de cada região, configura-se de modo diverso de um extremo ao outro do Islão. (...) Separados por milhares de quilómetros, num esforço quase simultâneo, seljúcidas e almorávidas não chegam a tomar consciência da sua similitude. E ao ignorarem-se mutuamente, Oriente e Ocidente muçulmanos separam-se cada vez mais. (...) Movendo-se em esferas diferentes e cada vez mais particularistas, cada um deles, abbássidas de Bagdade, fatimidas do Cairo e omíadas de Córdova são em si próprios Estados de respeitável extensão, sólida economia e brilhante civilização. A vinculação minimamente colectiva a um conjunto de condições históricas permite, todavia, a existência de traços comuns, perante a crescente penetração de tendências originais, díspares. Os elementos comuns tem na base de todos eles a adesão a uma mesma fé. A crença expressa e transmitida num idioma concreto, o Árabe, favorece a sua expansão e aperfeiçoamento. (...) Também a mesquita, que conhece uma situação semelhante por todo o espaço geográfico por onde se propaga. (...) Os seus traços essenciais realçamos mais uma vez: comércio de nível transcontinental, capaz de pôr em contacto áreas de produção afastadíssimas e estranhas, com toda a sua troca e transferência de produtos, matérias-primas e produtos manufacturados; civilização de núcleos urbanos e encruzilhadas de transacções mercantis, filosóficas, religiosas e artísticas; isto é, de comércio e vida urbana. Juntamente com estes, ______________________________________________________________ www.netprof.pt 5/57 NetProf Dossiers Temáticos podem-se assinalar outros elementos, também comuns ao Islão medieval, cujo conhecimento nos chega através da arte e da literatura.” Adaptado de Grande História Universal, vol. XII, Ediclube. O califado do Cairo tem a sua origem no ano 969, depois do triunfo de um exército berbere saído de Cairuã, onde se encontravam ismaelitas que vinham a minar as bases do califado abbássida desde finais do século IX. Apoderam-se da Palestina e de Damasco, formando o califado fatimida. “Doutrina, proselitismo e êxitos militares, mas também administração política sagaz, sólida propseridade económica e alto nível intelectual e artístico. Tudo isto é obra dos fatimidas, quando, despojados das suas veleidades revolucionárias e zelo messiânico, se empenham em conferir viabilidade política ao seu Estado, instalado sem disputas no Egipto, Palestina e em parte da Arábia. O Cairo converte-se então numa encruzilhada económica do mundo mediterrâneo e oriental (...). Cosmopolita e acolhedor, o califado usa de uma tolerância não discriminatória para com Judeus e Cristãos, o que não exclui temporárias e brutais perseguições, como as experimentadas entre 1007 e 1014, que conduzem à destruição da igreja do Santo Sepulcro de Jerusalém.” Adaptado de Grande História Universal, vol. XII, Ediclube. Progressivamente, os califas fatimidas foram perdendo a sua autoridade e viveram revoltas palacianas, que geraram um movimento de descontentamento e separatismo. A acrescer a tudo isto, depois de 1050, bandos de beduínos selvagens do Alto Egipto invadem o Egipto e desvastam-no numa grande violência. Campos devastados, cidades dispersas acabou por resultar na fragmentação do território em pequenos principados. O Califado de Córdova foi criado por Abd al-Rahman III, em 929. Apresentou uma grande tolerância interna; desenvolvida rede comercial assente em florescentes cidades; actividade intelectual e artística notável e sólida administração política. O sucessor do 1º califa omíada foi Almansor que realizou fortes investidas contra os cristãos. Após a morte de Almansor, em 1002, rapidamente a unidade do califado desmoronou-se devido à crise política entre os berberes e os eslavos, grupos que haviam participado nos exércitos de Almansor. Em 1031 foi o fim do califado de Córdova com a fragmentação do Al-Andaluz em pequenos estados, os chamados reinos das taifas, uns berberes, outros eslavos e outros ainda andaluzes. ______________________________________________________________ www.netprof.pt 6/57 NetProf Dossiers Temáticos Pretendiam cada um destes grupos renascer a unidade califal e, para isso, reconheciam a dinastia abbássida. O Califado de Bagdade, abbássida foi perdendo autoridade. “Símbolo puramente religiosos, o califa, desde 945, que não conseguia tornar efectiva a mais pequena sombra de autoridade. (...) Os Turcos apoderam-se de Bagdade em 1055. A família persa dos buyies passou a exercer a autoridade; bem depressa ao califa não restará senão o direito de cunhar moeda e o prazer de ouvir o seu nome na oração solene das Sextas-feiras. (...) Os verdadeiros governantes, os buyies, assumem o título de sultões, sinal de soberania secular. Quanto à religiosa, continua nas mãos dosa califas, mas tão precária que os seus ministros nem sequer são ortodoxos, mas xiitas. (...) A própria economia irá ressentir-se, no decurso do século XI, da falta de uma organização central do Império. O tráfico de longa distância começa a diminuir, quando não a desaparecer; a escassez de metais preciosos asfixia a vida económica de um império cuja natureza comercial se vai perdendo. (...)” Adaptado de Grande História Universal, vol. XII, Ediclube. A desconfiança dos califas para com as suas guardas pessoais, assente até então nos Árabes e Persas, provocou o recrutamento de turcos nómadas oirundas do Oriente, sendo a mais numerosa a dos seljúcidas. Receberam a conversão sunita dos missionários de Bagdade e desenvolveram uma guerra santa contra os heréticos xiitas, ou seja, os fatimidas do Cairo e os buyies de Bagdade. A pesar do califa ser o governante religioso e os seljúcidas governam desde 1055. Foi nesta data que se apoderaram de Bagdade. ______________________________________________________________ www.netprof.pt 7/57 NetProf Dossiers Temáticos A Península Ibérica e a Civilização Muçulmana “Tendo entrado no ano 711 pelo estreito de Gibraltar, os Muçulmanos subjugaram a reino visigótico e, em poucos anos, conquistaram toda a Península Ibérica, com excepção da região das Astúrias, onde os Cristãos organizaram a resistência. Os Muçulmanos ainda tentaram conquistar o reino franco. Passando os Pirinéus no ano 732, chegaram a Poitiers, mas aí foram derrotados por Carlos Martel e obrigados a recuar para Península Ibérica. A resistência dos cristãos à ocupação muçulmana transformou-se no movimento da Reconquista. Iniciando-se nas Astúrias, com o lendário rei Pelágio, a Reconquista foi simultaneamente um movimento militar e religioso de luta entre Cristãos e Muçulmanos. Apoiado pela Santa Sé e pelos reinos cristãos da Europa, a partir do século XI integrou-se no movimento das cruzadas.” Fonte: Pedro Almiro Neves, Cristina Maia, Dalila Baptista – Clube de História 7, Porto Editora. ______________________________________________________________ www.netprof.pt 8/57 NetProf Dossiers Temáticos Islamismo: Princípios doutrinários do Islamismo A doutrina islâmica assenta em dogmas muito simples, facto que possibilitou a sua rápida difusão. Os princípios doutrinários desta religião encontram-se definidos no Corão ou Alcorão, o livro sagrado dos Muçulmanos. Os pilares do Corão são os seguintes: crença em Alá, deus único, e em Maomé, seu profeta; Oração cinco vezes ao dia, e segundo certos rituais; o jejum nos 40 dias do Ramadão (9º mês lunar árabe); a esmola aos pobres e a peregrinação a Meca, pelo menos uma vez na vida. O Corão para além de definir os mandamentos religiosos, também define regras sociais, de comportamento e de costumes. Actualmente, existem grupos de fundamentalistas islâmicos que interpretam o Corão como um código ou uma constituição política. ______________________________________________________________ www.netprof.pt 9/57 NetProf Dossiers Temáticos Breve dicionário do Islamismo "abd" (plural "ibad" ou "abid") — Palavra que significa escravo, servo (de Deus). No plural, "abid", é frequentemente usado para designar "escravos", enquanto "ibad" é usado para servos (de Deus). "Al-Ibad" significa "humanidade", embora o Corão use o plural "ibad" para escravos. "Abd" é também usado nos nomes próprios. Exemplo: Abd al-Rahman (Servo de Deus Misericordioso). Aga Khan — A palavra "Agha" foi usada em turco para designar "chefe"; mas também era usada para indicar eunucos ao serviço do governo. A palavra era ainda utilizada em persa com significado semelhante, mas frequentemente soletrada como "Aqa". "Khan" era uma palavra turca e persa que significava "chefe" ou "senhor". A combinação das duas num único título foi adoptada pelos imãs dos nizaris, uma seita dos ismailitas. O título foi instaurado pelo Xá da Pérsia em 1818. Ahmadiyya — Um movimento religioso (com representação em Portugal) fundado em 1889 por Mirza Ghulam Ahmad Qadiyan (18351908). O Ahmadiyya tem sido frequentemente perseguido por outros muçulmanos desde que Ghulam Ahmad alegou ser o Mahdi, ou o Prometido Messias. Os ahmadis acreditam que Jesus ressuscitou da morte na cruz e foi para Srinagar (Índia) onde morreu e foi enterrado. O Ahmadiyya dividiu-se em dois grupos: os qadiyanis, que acreditavam em Ghulam Ahmad como um Nabi (Profeta), e os lahoris, que acreditavam ser o seu fundador um Mujadid (Renovador). A sede do Ahmadiyya funciona em Rabwah (Paquistão). Alá — Esta palavra é formada do árabe "al-Ilah" que significa, literalmente, "Deus". alauitas e alevitas — Membros de um grupo também designado nusayris, ou aqueles que seguem Ali Abu Talib. O nome nusayris deriva de um dos seus primeiros líderes, Muhammad Nusayr (século XIX). As suas crenças têm muito em comum com as dos ismailitas. Há nusayris na Síria, na Turquia e no Líbano. Na Turquia são também conhecidos como alevitas. ______________________________________________________________ www.netprof.pt 10/57 NetProf Dossiers Temáticos Al-Azhar — Literalmente "O Brilhante" ou "O Radiante". O nome completo é al-Jami al-Azhar (A Mesquita Radiante). É o título da mais famosa universidade e mesquita, fundada pela dinastia xiita dos fatimidas no Cairo depois de conquistar o Egipto em 969. Foi criada inicialmente como um bastião da doutrina ismailita, mas tornou-se um reduto da ortodoxia sunita com os ayúbidas (dinastia que precedeu os mamelucos e cujo nome deriva do curdo Ayyub, pai do famoso Saladino). "Allahu Akbar" — Deus é grande (declaração ou expressão de elogio e glorificação). Al-Quds — Nome árabe de Jerusalém, que significa "A Sagrada". É venerada como a terceira cidade santa do islão, depois de Meca e Medina (na Arábia Saudita), porque o profeta Maomé, acreditam os muçulmanos, ascendeu daqui aos Sete Céus. Amal — Significa Esperança e é também o nome adoptado por um grupo xiita no Líbano, fundado em 1974 pelo imã Musa al-Sadr, que desapareceu em 1978, na Líbia. Ashura — O décimo dia do mês muçulmano de al-Muharram. O profeta Maomé costumava jejuar neste dia e por isso ainda hoje é considerado um dia santo e de jejum pelos muçulmanos sunitas. Para os xiitas é particularmente sagrado por ser o aniversário do martírio de al-Hussein Ali na Batalha de Kerbala. Assassinos — Seita medieval extremista dos nizaris, um ramo dos ismailitas, que aprovava os assassínios políticos. Fundada por Hasani-Sabbah, tinha o seu quartel-general na fortaleza de Alamut. O nome árabe de onde derivou a palavra Assassino é "hashishiyyin" (literalmente, os "consumidores de haxixe"), talvez um insulto dirigido ao grupo, mais do que uma reflexão dos seus verdadeiros hábitos. "ayatollah" — Literalmente, "O Sinal de Deus". É um título atribuído no século XX por aclamação popular e pelos seus pares aos académicos xiitas que alcançaram eminência, geralmente no campo da jurisprudência ou da teologia islâmica. Depois da revolução iraniana de 1979 aumentou o número dos que se consideram ______________________________________________________________ www.netprof.pt 11/57 NetProf Dossiers Temáticos "ayatollahs". No entanto, um pequeno número — talvez menos do que dez — também ostenta o título de Ayatollah al-Uzma (O Maior Sinal de Deus). Destes, o mais conhecido era o "ayatollah "Khomeini, que também detinha o título de Maraji al-Taqlid (Fonte de Imitação). O grau abaixo de um vulgar "ayatollah" é Hujjat I-Islam. babismo — Movimento que deriva de "Bab" (literalmente "Porta" para o Imã Oculto), título assumido em 1844 por Mirza Alu Muhammad (1819-1850), de Shiraz (Irão), que acabou executado pelos seus fiéis. Da seita babi nasceram posteriormente os "baha’is". "baha’is" — Membros de uma nova religião que deriva do babismo, fundado por Baha’ullah (nascido de uma família aristocrática de Teerão) e propagada pelo seu filho Abd al-Baha. Acreditam num deus transcendente que se manifestou através de uma cadeia de profetas, alguns dos quais familiares ao judaísmo, cristianismo e islamismo, e com poderes de verdade intrínseca. São um ramo de um ramo de um ramo dos Ithna ’Asharis (xiitas), e por isso têm sido considerados hereges pelos muçulmanos, sujeitos a perseguições e execuções. "burqu’", em árabe (plural "baraqi"); "burqa’" (em persa) — O longo véu que cobre a maior parte do corpo das mulheres muçulmanas, excepto os olhos. califa (em árabe "khalifa"; plural "khulufa") — Chefe da comunidade dos crentes. A palavra árabe nos primórdios da história islâmica significa, literalmente, "sucessor" ou "adjunto" (do profeta Maomé). Este cargo (do islão sunita) combinava, teoricamente, uma função espiritual e secular, embora, na prática, sob dinastias como a dos Omíadas, a função secular suplantasse a espiritual. "chador" — Vocábulo persa que designa a longa túnica e o véu negros que cobrem todo o corpo feminino. É usado no Irão e em vários países árabes. Corão (em árabe Qur’an) — Significa literalmente "Recitação". É o livro mais sagrado do islão, considerado pelos muçulmanos a palavra de Deus revelada pelo anjo Gabriel ao profeta Maomé. O texto consiste em 114 capítulos, cada um designado "sura" (em árabe). Cada "sura" é classificado segundo a proveniência — Meca ou de ______________________________________________________________ www.netprof.pt 12/57 NetProf Dossiers Temáticos Medina, as cidades onde Maomé recebeu as revelações divinas — e cada uma está dividida em versículos. Dar al-Harb — Significa, literalmente, a Casa da Guerra. É uma expressão usada na lei islâmica para designar regiões ou países não muçulmanos. Dar al-Islam — Literalmente, a Casa do Islão. É um termo usado na jurisprudência islâmica para indicar a totalidade das regiões ou países sujeitos às leis muçulmanas. Contrasta com Dar al-Harb, mas há uma terceira área chamada Dar al-Aman (Casa da Segurança). druso (em árabe "durzi" — plural "duruz") — Seguidor de uma seita religiosa dissidente dos ismailitas, que apareceu no século XI, no Egipto. A palavra druso deriva do último elemento do nome próprio de Muhammad Ismail a-Darazi. Este, considerado um dos fundadores dos drusos, pregava que o sexto califa fatimida, al-Hakim Bi-Amr Allah, era divino. Al-Hakim desapareceu em circunstâncias misteriosas em 1021 e os drusos acreditam que não morreu. A sua doutrina é muito complexa e secreta. É também elitista na organização, dividindo os crentes em "’uqqal", ou inteligentes, e "juhhal", ou ignorantes. Os drusos estão concentrados no Líbano, Síria e Israel. "fatwa" (plural "fatawa") — Termo técnico usado na lei islâmica para indicar um julgamento ou uma deliberação legal formal. "fiqh" — No seu sentido técnico, a palavra significa "jurisprudência islâmica". Originalmente, era sinónimo de "compreensão" ou "conhecimento". A jurisprudência islâmica baseia-se ou divide-se em quatro principais escolas: hanafita, hanbalita, maliquita e shafita. Os kharijitas e os xiitas têm os seus próprios sistemas de jurisprudência. fundamentalismo (islâmico) — Na sua essência, esta expressão parece indicar o desejo de regresso a um islão "ideal", talvez o da era de Rashidun (epíteto aplicado aos quatro "Califas Correctamente Guiados" — al-Khulufa al-Rashidun, que governaram a comunidade dos crentes após a morte do profeta Maomé, ou seja, Abu Bakr, Umar al-Khattan, Uthman Affan e Ali Abi Talib. Muitos fundamentalistas islâmicos acreditam que o islão da era moderna e os chamados ______________________________________________________________ www.netprof.pt 13/57 NetProf Dossiers Temáticos "Estados islâmicos" foram corrompidos. Desejam regressar ao "verdadeiro" islão, sem qualquer compromissos com o secularismo, o que frequentemente gera hostilidade em relação ao Ocidente. "hajj" (plural "hajjat") — Peregrinação. Este é um dos cinco "arkan" (pilares) do islão. Todos os muçulmanos, desde que satisfeitas as condições de boa saúde e capacidade financeira, são obrigados a fazer a peregrinação a Meca pelo menos uma vez na vida. O "hajj" deve ser efectuado no Mês da Peregrinação (Dhu ’lHijja), ou seja, no último mês do calendário lunar muçulmano, entre o oitavo e o 12º ou 13º dia. "hijab" — Véu usado por muitas mulheres muçulmanas. Nem sempre é símbolo de adesão ao fundamentalismo islâmico, mas apenas sinal de respeito por uma tradição de modéstia feminina. Hezbollah (em árabe Hizb Allah) — Nome que tem origem em duas "suras" do Corão e significa Partido de Deus. Foi adoptado por um movimento xiita fundado em 1982, no Líbano, pelos Guardas Revolucionários iranianos. "hojatoleslam" (em árabe e persa "hujjat ’l-Islam") — Grau de um futuro "mujtahid" (teólogo), abaixo de "ayatollah", no Irão. A designação significa, literalmente, "A Prova do Islão". ibaditas — Membros da seita dos kharijitas, devem o seu nome ao seu alegado fundador Abd Allah Ibad, um líder kharijita do século VII. Os ibaditas, que representam uma facção moderada do islão, vivem actualmente no sultanato de Omã (Golfo Pérsico), na África Oriental e do Norte. imã (em árabe "imam"; plural "a’imma") — Palavra que designa uma variedade de conotações, cada uma delas necessitando de ser cuidadosamente distinguida: 1) Derivando do vocábulo árabe que quer dizer "chefiar" ou "conduzir a oração", imã tem o primeiro significado de líder da prece. O islão não tem padres e, por isso, o imã responsável da mesquita não é ordenado. No entanto, qualquer homem muçulmano pode dirigir a oração na ausência do imã da mesquita; 2) Os primeiros doze líderes dos Ithna ’Asharis, ou Doze Xiitas, são referidos como Doze Imãs; 3) Os ismailitas reconhecem os ______________________________________________________________ www.netprof.pt 14/57 NetProf Dossiers Temáticos sete primeiros imãs e o conceito de imã desempenha um papel-chave nas complexas doutrinas do ismailismo; 4) Nos primórdios da história islâmica, o título imã estava associado ao de califa; 5) Tem sido usado simplesmente como título de respeito, por exemplo, pelo falecido Khomeini, que preferia ser tratado por imã e não por "ayatollah". Nesse caso refere-se o Imã Khomeini. "In Sha’a Allah" — Expressão corrente árabe que significa "Se Deus quiser"; deu origem ao português "oxalá". Irmandade Muçulmana ou Irmãos Muçulmanos (em árabe alIkhwan al-Muslimun) — Organização fundada por Hassan al-Banna, em 1928, no Egipto. Advoga o regresso ao verdadeiro islão, opõe-se veementemente ao "imperialismo ocidental" e tem como objectivo o estabelecimento de um Estado islâmico puro. A Irmandade foi proibida pelo Governo egípcio em 1954, mas tem desde então funcionado na clandestinidade, com ramos espalhados por vários países árabes. O principal ideólogo da Irmandade, defensor da luta armada para derrubar "regimes ímpios", foi Sayyid Qutb, executado pelo Presidente Gamal Abdel Nasser em 1966. A sua obra mais notável, referência para os fundamentalistas, é "Sinais na Estrada", publicada nos anos 50, onde a sociedade é dividida em "ordem ignorante" e "ordem islâmica". islão — Palavra que significa literalmente "submissão" (à vontade de Deus). É o nome de uma das grandes religiões monoteístas, fundada pelo profeta Maomé no século VII d.C. ismailitas (Isma’iliyya) — Seguidores de um ramo do islão que deve o seu nome a Ismail, o filho mais velho de Ja’far al-Sadiq. Os membros desta seita também se designam sétimos (porque reconhecem os sete principais imãs depois da morte do profeta Maomé) e "batiniyya" (devido à sua ênfase na exegese de "batin" ou interpretação). A teologia dos ismailitas caracteriza-se por uma teoria cíclica da história centrada no número sete, número que assume um importante significado na crença de Ismail e na cosmologia. Hoje, os ismailitas estão espalhados pelo mundo inteiro (incluindo Portugal), mas concentram-se sobretudo no subcontinente indiano e na África Oriental. ______________________________________________________________ www.netprof.pt 15/57 NetProf Dossiers Temáticos "jihad" — Vulgarmente traduzida como "guerra santa". O vocábulo tem o significado original, em árabe, de "combater". Alguns grupos consideram-na o sexto pilar do islão, por exemplo, os kharijitas e os ibaditas. A explicação mais aceitável é a de que todos os muçulmanos são obrigados a travar uma "jihad" espiritual contra os seus próprios pecados. kharijitas — Membros de uma primeira seita islâmica, com origens obscuras mas que pode ser reconstruída do seguinte modo: o nome, em árabe "khawarij", significa "os que cindiram" (do grupo de Ali Abu Talib); deriva do verbo árabe "kharaja" (sair ou cindir). A primeira secessão foi a de um grupo de soldados de Ali na Batalha de Siffin, que rejeitavam qualquer forma de arbitragem alegando que o juízo final pertence a Deus. A eles juntaram-se mais tarde outros dissidentes e foram este que deram aos kharijitas o seu nome. O kharijismo, cujas crenças não são uniformes, dividem-se em várias subseitas, algumas fanáticas e exclusivistas. Os descendentes modernos dos kharijitas são os ibaditas. Khomeini (Aytollah Ruhollah, 1902-1989) — Líder espiritual do Irão depois da revolução de 1978-79 e principal obreiro da doutrina do "governo do jurista" ("vilayat-i faqih", em persa; "velayat-l-faqih", em árabe) ou "líder supremo" — poder temporal e espiritual. É esta doutrina que legitima o poder temporal dos religiosos em Teerão. "madrasa" (plural "madaris") — Escola ou lugar de ensino, frequentemente ligada ou associada a uma mesquita. (al-) Mahdi — Literalmente, "aquele que é correctamente guiado". O Mahdi é uma figura de profundo significado escatológico no islão e um título frequentemente reclamado por vários líderes na história islâmica. O seu poder justo é prenúncio da aproximação do fim dos tempos. Sunitas e xiitas aderem à crença no Mahdi, embora o xiismo tenha desenvolvido uma doutrina mais profunda. "majlis" (plural "majalis") — Lugar de encontro ou assembleia. A palavra sofreu consideráveis desenvolvimentos sócio-históricos e hoje é usada para designar a espécie de "parlamentos" existentes em ______________________________________________________________ www.netprof.pt 16/57 NetProf Dossiers Temáticos alguns países árabes e no Irão. Referido ao Irão deve escrever-se em caixa alta, pois faz parte do nome do parlamento. Maraji al-Taqlid (singular Marji’ al-Taqlid) — Fontes de Imitação. Este é um epíteto que caracteriza os "ayatollahs" com a patente de Ayatollah al-Uzma. Um único ou supremo Marji’ chama-se Marji’ alTaqlid al-Mutlaq. Este título era usado por Khomeini no Irão, mas o seu sucessor, Ali Khamenei, ainda não conseguiu ser aclamado como tal. Meca (em árabe Makka) — É a cidade mais sagrada do islão, cuja história está intrinsecamente ligada ao profeta Maomé. Situa-se na Arábia Saudita. Medina (em árabe al-Madina) — Significa "A Cidade". É também frequentemente caracterizada pelo epíteto al-Munawwara (A Radiante). É o segundo santuário do islão e situa-se, tal como Meca, na Arábia Saudita. muezim (em árabe "mu’adhdhin") — A pessoa que chama os fiéis para a oração ("adhan") a partir do minarete de uma mesquita. O primeiro "mu’adhdhin" foi Bilal Rabah, nomeado pelo profeta Maomé. mufti — Aquele que emite ou está qualificado para emitir uma "fatwa". Pode ou não ter o título de "qadi" (juiz). O mufti serve de ponte entre a pura jurisprudência e o islão actual. "mullah" — Palavra derivada do árabe "mawla", que significa "mestre". É usada como título de respeito por figuras religiosas e juristas, no Irão e noutras partes da Ásia. nizaris — Membros da seita dos ismailitas, que consideram Nizar, o filho mais velho do califa fatimida al-Mustansir, o seu sucessor. nusayritas — Membros de um grupo também designado alauitas, que seguem Ali Abu Talib. O nome nusayritas deriva de Muhammad Nusayr, líder muçulmano do século XIX. As suas crenças têm muito em comum com os ismailitas. Há nusayritas na Síria, Turquia e Líbano. Na Turquia são conhecidos como alevitas. ______________________________________________________________ www.netprof.pt 17/57 NetProf Dossiers Temáticos Ramadão — O nono mês do calendário lunar islâmico e também mês de jejum, do nascer ao pôr do sol. "shura" — Palavra árabe que significa consulta, conselho, órgão consultivo. Em alguns países é o equivalente a um "parlamento" sem poderes. Escreve-se am caixa alta quando faz parte do nome. "suna"— Literalmente, este termo significa "caminho percorrido", mas de "prática habitual" passou a indicar palavras e actos específicos do profeta Maomé. sunita — Aquele que adere à "suna" ou às acções do profeta Maomé. A palavra é usada para designar o ramo maioritário do islão. "sura" (plural "suwar") — Capítulo do Corão, cada um dividido em vários versículos. "ulema" (singular "‘alim") — Professores religiosos, juristas, sábios, imãs, juízes, "ayatollahs"... São geralmente referidos como um grupo monolítico de intelectuais e académicos, guardiões da "ortodoxia". A palavra nunca deve ser traduzida por clero, porque essa categoria não existe no islão. "umma" — Comunidade (dos crentes muçulmanos), povo, nação. wahhabitas (em árabe "wahhabiyya") — Seguidores da doutrina rigidamente puritana de Ibn Abd al-Wahhab, que rege o reino da Arábia Saudita. xiita (em árabe "shi’a")— Partidário de Ali Abu Talib. Os xiitas escolheram Ali, o genro de Maomé, como sucessor do profeta, enquanto os sunitas preferiram Abu Bakr, um dos seus primeiros companheiros e convertidos. Para os xiitas, o imã é mais poderoso do que o califa sunita. Os dois ramos distinguem-se ainda em questões jurídicas e nos rituais. [Dados extraídos e adaptados de "A Popular Dictionary of Islam", de Ian Richardson Netton, Ed. Curzon Press, Londres, 1992, pelo Jornal Público, Novembro de 2001] ______________________________________________________________ www.netprof.pt 18/57 NetProf Dossiers Temáticos O Islamismo na actualidade “O Islamismo é uma religião com cerca de 1 bilião de seguidores no mundo, com populações estabelecidas em todos os continentes habitados do planeta. Um século após o seu aparecimento na Península Arábica, no século VII da era cristã, podiam encontrar-se comunidades muçulmanas a viver na Ásia, na África e na Europa. Foi através dos centros de estudo islâmicos e do trabalho dos eruditos muçulmanos que muito do pensamento grego chegou à Europa cristã. Os cientistas muçulmanos contribuíram grandemente para o avanço da ciência, por exemplo, através da introdução do sistema algébrico, do número zero, e das órbitas elípticas na astronomia. A importância dos muçulmanos no desenvolvimento da cultura mediterrânica ocidental pode detectar-se em algumas palavras de origem árabe que fazem parte do inglês actual (e de que existem bastante mais exemplos em espanhol e português): álgebra, arroz, almirante... Uma característica notável da história islâmica é o facto de que, com apenas uma única excepção significativa, todas as terras onde o Islamismo se espalhou permaneceram muçulmanas até aos dias de hoje. A excepção são Espanha e Portugal, onde o longo processo da reconquista cristã. a que se seguiu a Inquisição, levou à erradicação sistemática da população muçulmana da região. Mesmo assim. quando o édito para a expulsão final dos muçulmanos e dos judeus foi decretado, em 1619 (127 anos após o final da Reconquista, em 1492), cerca de dois milhões de muçulmanos fugiram do reino de Castela, o que revela até que ponto o Islamismo se tinha integrado na vida espanhola. O Islamismo continua a ser a religião maioritária em países tão diversos como Marrocos, a ocidente, a Indonésia, a oriente, e do Senegal, no sul, ao Cazaquistão, no norte. Em cada um destes países o Islamismo é praticado de uma forma diferente, sendo estas diferenças particularmente evidentes no modo como as pessoas se vestem e nos costumes que rodeiam acontecimentos da vida como o nascimento e o casamento. É assim que os muçulmanos bósnios vivem a sua vida com costumes que têm mais a ver com os dos seus vizinhos cristãos do que com os dos muçulmanos do Paquistão, e que os muçulmanos da Indonésia incorporaram muitos elementos da mitologia hindu na sua vida ______________________________________________________________ www.netprof.pt 19/57 NetProf Dossiers Temáticos religiosa. Noutras partes do mundo, os costumes muçulmanos locais reflectem a necessidade que os muçulmanos sentem de se diferenciarem dos seus vizinhos não-muçulmanos. Por exemplo, os muçulmanos indianos comem determinados alimentos e evitam usar certas cores e flores durante os seus casamentos com o fim específico de manterem as diferenças que os distinguem da maioria hindu. É, portanto, possível falar em numerosas «linhas de fractura» de identidade ao longo das quais se podem diferenciar os muçulmanos, sendo estas linhas a língua, a etnia, a raça, a nacionalidade, o sexo, as atitudes em relação ao mundo moderno, a experiência com o colonialismo, a idade, o estatuto económico, a classe social, a identidade sectária, etc. Qualquer afirmação acerca das crenças muçulmanas que se reivindique universal acabará inevitavelmente por ser refutada pela existência de excepções algures no mundo muçulmano.” Fonte: ELIAS, Jamal J. – Islamismo, Ed. 70, 1999. ______________________________________________________________ www.netprof.pt 20/57 NetProf Dossiers Temáticos Figuras históricas do mundo islâmico Maomé (570?-632) Profeta islâmico, Maomé sentiu-se chamado por Alá a pregar a sua revelação em Meca, onde encontrou fortes obstáculos. Deslocou-se, com alguns companheiros, para a cidade vizinha de Medina, onde conseguiu impor-se aos seus adversários. Desta forma, conseguiu entrar vitorioso em Meca, dois anos antes da sua morte. A herança político-religiosa de Maomé foi recolhida pelos Califas e a sua vida tornada legendária e apresentada como modelo e exemplo. O nome de Maomé é invocado na profissão de fé dos muçulmanos, que diz: "não há outro deus senão Alá e Maomé é o seu profeta". Avicena (980-1037) Médico e filósofo muçulmano, Abu ' Alí al-Husayn ibn Sínã, era filho de uma família de altos funcionários iranianos de origem turca, tendo recebido uma educação baseada no enciclopedismo. Foi autor de uma obra enciclopédica, sendo considerado um intelectual medieval, em que as suas ideias tiveram uma enorme autoridade na medicina até aos tempos modernos. A sua principal obra foi Canône de Medicina, escrita a partir do legado de Galeno, um médico grego do século I d. C., foi traduzida para latim no século XII e reeditada em várias ocasiões, sendo mesmo uma das bases do ensino da medicina até ao século XVII. Era intitulado como sendo autor de duzentas e cinquenta obras, em árabe e persa. Como filósofo, no mundo muçulmano, procurou um conhecimento intelectual e intuitivo, tratando de conciliar o dogma do Corão com o racionalismo aristotélico matizado de neoplatonismo. Desempenhou um papel bastante importante, tanto na Medicina como na Filosofia, na cultura ocidental, podendo mesmo falar-se de um "avicenismo latino", com influência na obra de alguns pensadores cristãos, como S. Alberto Magno, S. Tomás de Aquino*, Roger Bacon e Duns Escoto Averróis (1126-1198) Filósofo árabe, nasceu em Córdova e viveu durante o período da ocupação muçulmana na Península Ibérica. A sua actividade intelectual foi ______________________________________________________________ www.netprof.pt 21/57 NetProf Dossiers Temáticos plurifacetada, tendo reflectidos obre diversas áreas do conhecimento humano: Filosofia, Matemática, Teologia, Direito e Medicina. Grande parte da sua produção teórica reside no comentário dos textos aristotélicos, o que originou um confronto intelectual com Avicena, outro filósofo árabe, de formação neoplatónica. A sua principal preocupação foi a de demonstrar a eventual identidade existente entre a obra aristotélica e o Corão. Dicionário de Biografias, col. Dicionários Temáticos, Porto Editora, 2001. Ruhollah Khomeini (1900-1989) “Dirigente iraniano, religioso muçulmano xiita, após ter denunciado a política de reforma agrária do xá Muhammad Reza Pahlevi, viu-se obrigado a exilar-se no Iraque, França e Turquia, locais onde desenvolveu actividades conspirativas contra o governo do Xá. Regressou ao Irão em 1979; teve uma grande recepção popular e desencadeou a revolução islâmica. Tornou-se chefe de Estado, formando um novo Go verno, com n ovos ministros e elaborou uma nova Constituição, que lhe atribuía amplos poderes e que instituía o Estado islâmico. A nível externo desenvolveu uma política de terrorismo e agressão, apoiando revolucionários islâmicos noutros países do Médio Oriente. Empreendeu uma política de banir toda a ocidentalização do Irão, proibindo as bebidas alcoólicas e a música ocidental, reintroduziu as penas islâmicas, a submissão das mulheres, nomeadamente obrigadas a usar véu. Em 1989, condenou à morte o autor britânico Salman Rushdie, pela sua obra Versículos Satãnicos, considerados blasfemos.” Fonte: Dicionário de Biografias, Porto Editora, 2001. Abd El-Kader (1808-1883) Chefe militar e poeta sufi, autoproclamou-se “emir dos crentes” em 1832, declarando guerra santa contra os franceses, que tinham invadido a Argélia em 1830. Depois de ter obtido a adesão, forçada e espontânea, de muitas tribos argelinas, conseguiu infligir vários reveses aos invasores. Porém, veio a refugiar-se em Marrocos depois de ver as suas praças fortes tomadas pelos franceses. Em 1847 entregou-se aos franceses e permaneceu exilado durante três antes no castelo de Amboise e em Bursa, na Turquia, até que foi indultado por Napoleão III. A partir daí tornou-se ______________________________________________________________ www.netprof.pt 22/57 NetProf Dossiers Temáticos partidário de França e passou a residir em Damasco. Conhecido como um forte combatente anti-colonialista, também foi um poeta místico. Abentofail (1105-1185) Pensador hispanoárabe Ab~u Bakr ibn Tufayl, conhecido na Europa pelo nome de Abentofail ou por Abubacer, foi médico do califa almóada Y~usuf I (1163-1184) e amigo de Averróis. Escreveu um dos textos utópicos mais singulares medievais, a novela filosófica Relato de Hayy ibn Yaqzãn, a qual veio a ser traduzida para latim em 1671 pelo orientalista inglês Edward Pococke. Alí Ahmad As’id Esber (1930) Poeta libanês, conhecido pelo pseudónimo de Adonis, que se refere ao deus fenício, símbolo da renovação cíclica. Considerado o maior poeta árabe vivo, pois desempenhou um importante papel na nova valorização crítica da tradição poética árabe frente às pressões intelectuais, políticas e religiosas do actual mundo islâmico. Foi um dos fundadores da revista Poesia em Beirute, nos anos 60, testemunho de uma liberalização total da tradição e de abertura à poesia estrangeira. Em 1968, fundou e dirigiu a mais importante revista literária árabe, Mawãqif, um espaço de liberdade e laboratório de renovação “desestruturante” da poesia, que foi imediatamente proibida no mundo árabe. ______________________________________________________________ www.netprof.pt 23/57 NetProf Dossiers Temáticos Nações árabes ! Afeganistão Breve resenha histórica “Conquistado pelos árabes em 698-700, o Afeganistão ficou sob o domínio da brilhante dinastia iraniana dos samanies (875-1005), antes de encontrarse, durante a dinastia dos gaznawíes turcos (977-1186), à frente de um império imenso ao que o grande conquistador Mahmud de Gazna conseguiu conquistar ao norte da Índia. Os sucessores dos gaznawíes no Afeganistão, os guries afegãos (c.10001215), implantaram em Déli o primeiro estado muçulmano da Índia, que foi assolado no século XIII pelos mongóis e depois, no século XIV, por Tamerlán. Os seus sucessores, os timuríes, converteram Harãt num brilhante centro de cultura iraniana, e foi um deles, Bãber, quem a a partir de Cabul fundou a dinastia dos mongóis da Índia. O Afeganistão foi objecto de disputa permanente entre a Pérsia e o império mongol até à dinastia dos durraníes (1747-1843), cujo o império englobou durante algum tempo o actual Paquistão junto com Lahore. Apesar da pressão exercida pela penetração russa na Ásia Central e depois de duas guerras contra os ingleses, donos da Índia no século XIX, o país, sob o governo da dinastia dos barakzay (18191973), (...) transformou-se numa entidade geográfica e política coerente, internacionalmente reconhecida em 1921. Um golpe de Estado militar aboliu a monarquia em 1973 e um golpe comunista em 1978 abriu o caminho à invasão soviética (1979-1992). “ Adaptado e traduzido de Diccionario de Civilización Musulmana, col. Referencias Larousse Humanidades, Larousse Planeta, Barcelona, 1996. “B.I.” do Afeganistão Superfície: 652 090km2 Situação geográfica: situado na Ásia Central, limitado a Norte pela Turquemenistão, Uzbequistão e Tajiquistão, ao Oeste pelo Irão, a Sul e a Este pelo Paquistão, a Nordeste pela China. ______________________________________________________________ www.netprof.pt 24/57 NetProf Dossiers Temáticos População: cerca de 22 milhões de habitantes Público, Novembro de 2001 Capital: Cabul Outras cidades importantes: Kandahar e Herat Forma de Estado: Emirado islâmico Governo: Aliança Democrática Moeda: afegani=100puls Língua: pushtu, dari (persa) Religião: islâmica Clima: continental; as temperaturas médias em Cabul variam entre 8 a 2ºC em Janeiro a 16-33ºC em Julho. Economia: agricultura, produções artesanais de têxteis, tapetes, produtos de pele e couro, vidraria, bicicletas. ______________________________________________________________ www.netprof.pt 25/57 NetProf Dossiers Temáticos Principais produções: ferro, cobre, gás natural, pastorícia (carneiros e cabras), fruta, trigo, nozes, legumes e algodão. Crescimento anual entre 1995/2000: 2,9% Inflação: 14% Mortalidade Infantil: 151/1000 Esperança de vida: 45 anos Analfabetismo: 49% para o sexo masculino; 79,6% para o sexo feminino. ______________________________________________________________ www.netprof.pt 26/57 NetProf Dossiers Temáticos Algumas descrições geográficas do Afeganistão “O Afeganistão é um país de contornos bravios, ocultos vales verdes e aldeias de casas de adobe. Uma pequena parte do território situa-se abaixo de 1200m e a maior parte permanece inexplorada. As montanhas do Hindu Cuxe, conhecidas localmente por Teatro do Céu, formam uma gigantesca barreira que atravessa o centro do país. Segundo sistema montanhoso mais alto do Mundo, os seus picos serrilhados elevam-se a 7690m no Leste, formando uma paisagem lunar cujas elevações estéreis e planícies varridas pelos ventos sempre fascinaram os viajantes. No Norte, ao longo das margens do Amudária, (...) fica a região agrícola mais produtiva do país. Grande parte do Sul e Sudoeste é desértica. O clima é de extremos. As temperaturas de Verão podem subir a 49ºC no Sul; as temperaturas de Inverno chegam a atingir –26ºC nas montanhas. A amplitude térmica pode ser de 30ºC num só dia, e ventos impetuosos provocam terríveis tempestades de poeira. (...) Os Pashtuns constituem o maior grupo étnico, que representa metade da população. Com os outros grupos – Tajiques, Hazaras, Turcomanos, Usbeques, Nuristanis e Baluchis – formam uma lista que lembra os sucessivos exércitos invasores que passaram pelo país, deixando cada um os seus próprios colonos. As rivalidades tribais dificultaram sempre a tarefa de governar o país. Cada grupo mantém o seu individualismo próprio, mostrando-se pronto a contender com os vizinhos e pouco disposto a submeter-se a qualquer governo central, pelo menos não sem constantes protestos.” Adaptado de Enciclopédia Geográfica, Selecções do Reader’s Digest. ______________________________________________________________ www.netprof.pt 27/57 NetProf Dossiers Temáticos ! Irão Breve resenha histórica: Ao longo do 2º milénio , tribos indo-europeias provenientes da zona da actual Rússia meridional e da Transcaucasia, colonizaram as mesetas iranianas suplantando a civilização assíria e babilónica e constituindo vastos impérios como o Império Medo que esteve em guerra contra Atenas e o Império Aqueménida ou Persa (559-331 a. C.), o mais glorioso que chegou a dominar territórios que se estenderam desde o Indo ao Bósforo e do Cáucaso à Líbia.. A conquista de Alexandre Magno pôs fim ao poder da dinastia aqueménida em 331 a. C. e provocou uma helenização superficial do território. A dinastia sasánida (224-651) restaurou a grandeza da civilização aqueménida e os valores iranianos. Este dinastia teve de enfrentar a penetração de nómadas turcos e de outros povos procedentes do este e da Ásia central. Nos séculos seguintes, anteriores ao nascimento do islão, a Pérsia sasánida e o Império Bizantino, sucessor do Império Romano, desenvolveram uma série de guerras procurando o domínio do Próximo Oriente. Tanto persas como bizantinos rodearamse de Estados vassalos (Mesopotâmia e Síria) que vigiavam as suas respectivas fronteiras. Com o nascimento do Islamismo e a expansão muçulmana, o Império Persa foi submetido aos muçulmanos depois das derrotas nas batalhas de Qãdisiyya (637) e a de Nehavend (642). A adesão e conversão ao Islamismo permitiu que os proprietários de terras pudessem conservar as suas propriedades. Os turcos seljúcidas entraram em Bagdade em 1055 e o seu chefe adquiriu o título de sultão, tendo organizado ao longo do século XI um poderoso Estado com capital em Isfahãn que se estendia desde Kashgar até à Síria. Os turcos assimilaram a cultura e o sistema de governo iranianos. Os mongóis invadiram o Irão em 1231 e destruíram a instituição do califado, bem como Bagdade (1258). Grande parte do país foi devastada, as povoações foram massacradas e regiões inteiras regressaram ao nomadismo. No entanto, o sultão mongol da Pérsia converteu-se ao islão em 1295, marcando, de certa forma, uma reconciliação entre os conquistadores e os iranianos. No século XIV sofreram novas invasões de turcomongóis, fundando a dinastia dos timuríes (1370-1506), os quais actuaram como faustosos mecenas, desenvolvendo a literatura e as ciências na sua brilhante corte de Harãt. Estes foram a última das grandes dinastias muçulmanas originárias das estepes. No século XVI tribos turcomanas xiitas inauguram a nova ______________________________________________________________ www.netprof.pt 28/57 NetProf Dossiers Temáticos dinastia safaví, os quais levaram o Império Persa ao seu apogeu, sobretudo durante o reinado do xá Abbãs I (1587-1629), conseguindo fazer da capital uma “jóia” urbana e dotaram o Irão de fronteiras coerentes, as quais são quase as mesmas do actual Irão. Durante a dinastia qayarí (1779-1924), de origem turcomano, o Irão conheceu uma breve revolução constitucional e liberal, impulsionada pelos grandes comerciantes. Porém, o xá recuperou o poder graças ao apoio da Rússia czarista. Ridã Kan, um oficial de uma brigada persa, formada segundo o modelo russo, liderou um golpe militar que destronou esta dinastia em 1924 e proclamou-se xá com o nome de Ridã Sha Pahlaví, inaugurando uma dinastia que se prolongou até 1979. Este golpe militar pretendeu acabar com uma monarquia feudal, corrupta e sob a influência estrangeira da Grã-Bretanha e da URSS. O novo Estado iraniano passou a designar-se por Irão em vez de Pérsia. Estamos na época do nascimento do Irão moderno. Foram promulgadas códigos de leis civis e penais; combateu as tendências autonomistas de várias tribos; constituiu um exército; mandou construir as primeiras linhas férreas do país. O Irão foi ocupado militarmente durante a 2ª Guerra Mundial pela Inglaterra e URSS, temendo a simpatia iraniana pela Alemanha nazi, obrigando o xá a abdicar a favor do seu filho, Mohammed Reza. No pós 2ª Guerra Mundial, o jovem imperador aliou-se ao bloco ocidental e no país crescia uma tendência reformista de continuar a revolução nacional iniciada pelo anterior imperador. Em inícios da década de 50, o governo de Mosaddeq aprovou uma lei que nacionalizava os campos petrolíferos explorados pela companhia britânica Anglo-Iranian Oil Company, a qual detinha a concessão da extracção e da comercialização de praticamente a totalidade do petróleo iraniano. O xá procurou defender os interesses britânicos, facto que o levou ao exílio em Roma. Porém, um golpe de estado, com a ajuda dos EUA, em 1953, depôs o governo e restituiu o poder ao xá. Desta feita, o EUA começaram a ter um forte poder no Irão. Foi estabelecida uma concessão por 25 anos a um consórcio que reunia as maiores companhias ocidentais, com predomínio das americanas. Houve o restabelecimento do poder monárquico e reforço da aliança com os EUA. No década de 60 o xá promoveu a “revolução do xá e do povo”, através de uma grande modernização do país. A reforma agrária, a industrialização do país, a difusão da educação e de cuidados sanitários foram os principais aspectos desenvolvidos com a intenção de tornar o Irão numa das principais potências mundiais. Contudo, estes objectivos não foram alcançados e em 1978, a situação de crise interna do país conduziu a uma série de sublevações lideradas por forças ______________________________________________________________ www.netprof.pt 29/57 NetProf Dossiers Temáticos democráticas e pelo islamismo xiita, com destaque para ayatollah Khomeini. Em 1979, Khomeini regressou do exílio, convocando um referendo popular que decidiu a destituição do xá e a supressão da Constituição monárquica de 1906. Era o início da revolução islâmica. O novo regime procedeu à nacionalização de companhias estrangeiras e desenvolveu um programa de recuperação económica, interrompido pelo conflito que se estalou com o Iraque em 1980. O Iraque atacou o Irão nas suas fronteiras, provocando uma guerra entre estas duas nações. A nova Constituição da república islâmica iraniana tem a peculiaridade de que todos os órgãos políticos estão submetidos ao controlo do “líder religioso islâmico” e de um “Conselho para a Protecção da Constituição” formado por 12 membros, seis religiosos e seis magistrados. Texto elaborado com base na informação das seguintes obras: Diccionario de Civilización Musulmana, Larousse; Enciclopedia Geográfica, ediciones Garzanti. “A população do Irão era constituída, na sua maioria, por xiitas, seguidores do ramo xia do islão. Crentes resolutos na justiça e na luta do islão, denunciavam as influências ocidentais, que ameaçavam o seu modo islâmico de viver e ofendiam o seu nacionalismo religioso. O amplamente respeitado clérigo Ruhollah Khomeini já muito antes tinha criticado o pai do xá por abandonar os costumes tradicionais do islão e agora criticava a governação do filho. Em sermões e publicações contra o governo, Khomeini e os seus sequazes no seio da influente comunidade e clero islâmicos começaram a incitar o povo contra o xá, que recorria à polícia secreta, a Savak, para suprimir toda e qualquer oposição. A prisão de Khomeini em 1963 desencadeou uma onda de protestos. (...) No ano seguinte Khomeini foi obrigado a fugir do país. Alimentada pelo aprofundamento das disparidades sociais e económicas e pela repressão governamental, a determinação de extirpar os alegados costumes corruptos e decadentes do Ocidente tornou-se um tema constante da revitalização do islão. (...) Apesar de estar no exílio, Khomeini, que atingira o estatuto de ayatollah – chefe religioso de nível mais elevado -, continuava a ter um considerável número de seguidores entre a população muçulmana do Irão. Tinha instalado uma base do outro lado da fronteira, no vizinho Iraque, na cidade santa de Najaf, donde trabalhava na congregação dos esforços de oposição ao xá.” O Século do Povo, vol. 2, Gradiva. ______________________________________________________________ www.netprof.pt 30/57 NetProf Dossiers Temáticos “Regresso ao Fundamentalismo Islâmico” “A noite de 31 de Janeiro, nos arredores de Paris, Hadi Gaffari fazia parte de um grupo que se preparava para uma muito esperada viagem de regresso a casa. «A meia-noite aqueles que iam regressar a Teerão com o imã começaram a reunir-se no pátio», diz ele. Na manhã seguinte embarcaram num jacto 747 da Air France. “Estávamos muito felizes por regressarmos ao Irão. Unia-nos a todos um sentimento comum (...) Reparei que o imã tinha a cabeça encostada à janela e estava envolvido na capa preta”, recorda Hadi Gaiari. “Quando o piloto anunciou que tínhamos passado as montanhas de Elburz, toda a gente explodiu em lágrimas (...) toda a gente começou a entoar Allah ho akha! (Deus é grande!)”. A figura de preto que estava no centro de toda aquela actividade era o ayatollah Ruhollah Khomcini, venerado ancião líder da fé muçulmana xiita, que há muitos anos se encontrava exilado. Regressava agora. Três milhões de pessoas invadiram as ruas de Teerão para lhe darem as boas-vindas de regresso a casa. Shakoor Lotvi era uma dessas pessoas. “A multidão era tão grande que não havia espaço para toda a gente. As pessoas subiam às árvores, a qualquer ponto donde pudessem ver o imã.” Moshen Raíìgdoost conduziu o imã desde o aeroporto. Estava tão emocionado que as mãos lhe tremiam agarradas ao volante. “As pessoas sentavam-se em cima do carro, o carro andava e arrastava as pessoas (...) Aquelas horas são a melhor recordação da minha vida.” Khomeini e os seus seguidores tinham o propósito de levarem a .cabo uma revolução islâmica que iria transformar radicalmente a vida das pessoas. Mas a verdade é que estava em causa muito mais do que o destino do Irão. Em grande parte do mundo a religião estava em ascensão, fruto do crescente número de pessoas que começavam a pôr em causa as ideias e valores do Ocidente, rejeitando a modernidade e voltando-se, em sua substituição, para as alternativas que a fé lhes oferecia. Com o apoio popular das massas, movimentos religiosos cada vez mais politizados iam desafiar os poderes estabelecidos. Depois de um século em que o progresso e a modernização tinham sido identificados com a ciência e com a rejeição da religião, Deus, corno se dizia, contra-atacava.” HODGSON, Godfrey - O Século do Povo, vol. 2, Gradiva. Nota: Este texto encontra-se no painel da especialidade do 12º ano. ______________________________________________________________ www.netprof.pt 31/57 NetProf Dossiers Temáticos B.I. do Irão Diciopédia 2002 Situação geográfica: situado no centro da Ásia ocidental, é banhado a Norte pelo mar Cáspio e a Sul pelo oceano Índico (golfo Pérsico e golfo de Omán). A Norte é limitado com a Arménia e Azerbaijão, a Este com o Afeganistão e Paquistão e a Oeste com a Turquia e o Iraque. Superfície: 1 648 00 km2 População: 46 500 000 Capital: Teerão Governo: república islâmica Moeda: rial=100dinares Línguas: farsi ou persa (oficial); curdo, baluqui e turco Religiões: muçulmana (99%); minorias cristã, judaica e zoroástrica Clima: continental; as temperaturas médias em Teerão variam de –3 a 7ºC em Janeiro a 22-37ºC em Julho. ______________________________________________________________ www.netprof.pt 32/57 NetProf Dossiers Temáticos Produções: gado ovino, bovino e caprino, trigo, beterraba, cevada, arroz, algodão, chá, tabaco, madeira, peixe, petróleo bruto e gás natural, carvão, sal, crómio, chumbo, cobre e ferro. Actividades económicas: refinação de petróleo e gás, aço, equipamento eléctrico, cimento, têxteis, açúcar, farinha, mobiliário, materiais de construção, pesca. Exportações: petróleo bruto, produtos refinados, tapetes, têxteis, algodão em rama, fruta, artigos de couro. Fonte: Enciclopédia Geográfica, Selecções do Reader’s Digest. ______________________________________________________________ www.netprof.pt 33/57 NetProf Dossiers Temáticos A Mulher no Mundo Muçulmano Clube de História 7, Porto Editora “A mulher ocupa uma posição de inferioridade na sociedade muçulmana. Quando falamos na mulher muçulmana, dois símbolos logo nos ocorrem: o harém e o véu. Estes sinais distintivos das mulheres muçulmanas sugerem a sua subordinação ao homem, apesar da igualdade espiritual das mulheres estar expressa no Corão: “...e os homens que se lembram constantemente de Deus, tal como as mulheres que o fazem, para todos eles Deus preparou o perdão e uma enorme recompensa” (33:35) A subordinação da mulher é demonstrada e justificada pela lei, costumes e tradições da Civilização Muçulmana, dizendo mesmo que há apenas um reconhecimento dos diferentes papéis dos dois sexos e não uma inferioridade efectiva. Assim, as marcas jurídicas da inferioridade da mulher são as seguintes: - a mulher só pode ter um marido, ao contrário do homem, que pode ter quatro mulheres ao mesmo tempo; - a mulher só pode casar com um muçulmano, ao contrário do homem, que pode casar com uma mulher de outra religião; - a mulher apenas pode pedir o divórcio em casos extremos, ficando a custódia dos seus filhos para o pai, e o testemunho do homem tem o dobro do valor do da mulher; - a herança da mulher é duas vezes inferior à do homem. ______________________________________________________________ www.netprof.pt 34/57 NetProf - Dossiers Temáticos A maioria das mulheres vive na reclusão, poucas foram as que tiveram papéis activos em questões públicas, embora actualmente haja uma crescente liberalização do papel das mulheres fora de casa que começou sob a influência ocidental. Em alguns países, porém, verifica-se um retrocesso aos valores islâmicos, através do fundamentalismo islâmico.” ______________________________________________________________ www.netprof.pt 35/57 NetProf Dossiers Temáticos “Nações Unidas rendem-se às afegãs” “O secretário-geral do ONU, Kofi Annan, quer que a sessão que hoje assinala o Dia da Mulher na Assembleia Geral das Nações Unidas seja “uma celebração do espírito indomável, heroísmo e resistência da mulher afegã”. A sessão vai dedicar especial atenção às necessidades das mulheres e raparigas do Afeganistão e à forma como podem contribuir para a reconstrução do país. Antes da guerra civil que se seguiu à retirada soviética do Afeganistão, as mulheres tinham um papel um papel predominante, não somente na administração pública, mas também no ensino e na assistência sanitária. Esse papel foi completamente eliminado com a subida ao poder dos talibãs, que proibiram às mulheres qualquer papel activo na sociedade, até mesmo o de poderem trabalhar para garantirem a sua subsistência.” Fonte: Diário de Notícias, 8 de Março 2002 ______________________________________________________________ www.netprof.pt 36/57 NetProf Dossiers Temáticos “Vários versículos do Alcorão ensinam-nos claramente que os homens e as mulheres têm responsabilidades e direitos religiosos iguais: Quanto aos muçulmanos e às muçulmanas, ao fiéis e às fiéis, aos consagrados e às consagradas, aos verazes e às verazes, aos perseverantes e às perseverantes, aos humildes e às humildes, aos caritativos e às caritativas, aos jejuadores e às jejuadoras, aos recatados e às recatadas, aos que se recordam muito de Deus e às que se recordam d'Ele, saibam que Deus lhes tem destinado a indulgência e uma magnífica recompensa. (33:35) Outros versículos dão a entender que existe uma igualdade biológica entre os sexos - «Entre os Seus sinais está o de haver-vos criado companheiras da vossa mesma espécie...» (30:21). O Alcorão sublinha também a importância dos laços de afecto ( «...e colocou amor e piedade entre vós.» (30:21) e a entreajuda («Os fiéis e as fiéis são protectores uns dos outros...») (9:71). Noutras passagens do Alcorão, no entanto, os homens são claramente descritos como superiores às mulheres: Os homens são os protectores das mulheres, porque Deus dotou uns com mais (força) do que as outras, e pelo o seu sustento do seu pecúlio. As boas esposas são as devotas, que guardam, na ausência (do marido), o segredo que Deus ordenou que fosse guardado. Quanto àquelas, de quem suspeitais deslealdade, admoestaias (na primeira vez), abandonai os seus leitos (na segunda vez) e castigai-as (na terceira vez); porém, se vos obedecerem, não procureis meios contra elas. Sabei que Deus é Excelso, Magnânimo. (4:34) Fonte: ELIAS, Jamal J. – Islamismo , Ed. 70, 1999. ______________________________________________________________ www.netprof.pt 37/57 NetProf Dossiers Temáticos Notícias do Mundo Muçulmano “São milhões de pessoas que anualmente partem de todos os cantos do Mundo, do Afeganistão ao Uganda, para cumprir o último dos cinco mandamentos do Islão: a peregrinação (“Haj” em árabe) a Meca, pelo menos uma vez na vida. Dizem os estudiosos que, ao orar em Meca, os Muçulmanos prestam homenagem às provações do profeta Abraão, de Hagar e do seu filho Ismael, nascido da união com aquela escrava egípcia. Na cidade santa saudita, os peregrinos cumprem uma série de complexos rituais de sacrifício e oração. Antes obedeceram já a escrupulosas regras de conduta. Ninguém pode pôr em risco o sustento da família para fazer peregrinação. É preciso ter dinheiro suficiente e evitar contrair empréstimos. Convém também pagar primeiro todas as dívidas e usar em Meca só o dinheiro que foi ganho “legitimamente”. “Antes de pisar o solo sagrado de Meca – proibido aos não crentes – os Muçulmanos devem também pedir perdão a Alá, não só pelos seus pecados, mas também pelas faltas dos seus familiares, amigos e até dos vizinhos.” Jornal Público, de 23 Junho 1993, artigo de Margarida Santos Lopes. “Homens-bomba são munição barata e altamente rentável” “As organizações islâmicas palestinianas mais radicais, como o Hamas ou a Jihad Islâmica, souberam rentabilizar a frustração da sociedade palestiniana para manter acesa a chama do combate contra Israel. A Jihad (guerra santa) nasce nos territórios como resposta à ocupação, como reflexo paralelo à luta – desprovida desse carácter religioso – da OLP. Os atentados suicidas têm uma componente dupla. É inegável o carácter religioso das acções, mas talvez seja mais importante o factor táctico. Os homens-bomba representam um problema difícil de controlar. (...) Em última análise, há que entender que o conflito israelo-palestiniano é um combate desigual. Os palestinianos não dispõem do sofisticado material bélico que o exército hebreu ostenta. (...)” Fonte: Diário de Notícias, 28 Abril 2002 ______________________________________________________________ www.netprof.pt 38/57 NetProf Dossiers Temáticos “O homem que está em todas as paredes” “Omã não pode deixar de fascinar quem goste de histórias e contos das mil e uma noites. Vizinho da Arábia Saudita e do Yemen, nos anos sessenta era governado pelo sultão Said bin Taimur, um homem aterrorizado com as diabólicas influências ocidentais. Contra elas fechou todas as fronteiras, proibiu as importações, inclusivamente de óculos, correu com aqueles que se lhe opunham. Mas cometeu um “erro” – mandou o seu único filho, Sua Alteza Real, o sultão Qaboos bin Said, estudar em Inglaterra. Quando deixou as areias do deserto, o sultãozinho tinha 16 anos e o Corão bem sabido, para regressar sete anos depois e uma volta ao mundo dada. Said, cada vez mais fechado sobre si mesmo, vive então isolado num palácio do sul de Omã e é ali que aprisiona durante seis longos anos o seu filho. Corre o ano de 1970 e Qaboos tem já 30 anos quando, com o apoio discreto de britânicos, depõe o pai. E inicia o “Renascimento Brilhante”, nome orgulhosamente dado à época que então se iniciou. Desde aí transforma absolutamente o seu sultanato, perante um povo que o venera, por obrigação, sempre, mas agora também por sincera devoção.” Fonte: Notícias Magazine, 10 Março de 2002 “Iranianos contra George Bush” “No 23º aniversário da Revolução Islâmica, o Presidente Mohammad Khatami lançou um apelo aos Estados Unidos para que “despertem e mudem de política e de abordagem em relação ao Irão. Centenas de milhares de pessoas participaram ontem em Teerão numa manifestação destinada a assinalar o 23º aniversário da Revolução Islâmica, mas que acabou por se transformar numa manifestação anti norte-americana e por aproximar posições entre reformistas e os conservadores iranianos. Repórteres no local calcularam entre 300 mil e 400 mil o número de manifestantes. Homens, mulheres, crianças, soldados, políticos, religiosos e até bassidjis (milícias islamitas) envoltos em mortalhas para simbolizar a disposição para morrer como mártires protestaram contra as “ameaças de agressão” americana.” Fonte: Diário de Notícias, 12 de Fevereiro 2002 ______________________________________________________________ www.netprof.pt 39/57 NetProf Dossiers Temáticos Arte Muçulmana Arquitectura “Os Árabes são construtores de mesquitas. O templo em que prestam adoração a Alá é, na verdade, o espaço principal da sua Arte. Efectivamente, os palácios e outras obras que ergueram com magnificência não conseguem atingir a primazia que alcança, por toda a parte, a casa de oração. Abóbadas e minaretes são a glória do talento arquitectónico que o Islão patenteia. Os pórticos, as salas, as colunas, os arcos são o Belo materializado em que se estrutura o edifício sagrado, com um sentido de profusão que impressiona o discípulo de Maomé por imponência de grandeza.” A. do Carmo Reis – História da Arte, 11º ano, Porto Editora. Na arquitectura, as mesquitas são os mais típicos exemplos de arte requintada muçulmana. Observemos algumas imagens: Mesquita de Córdova (séculos VIII/IX), Espanha. ______________________________________________________________ www.netprof.pt 40/57 NetProf Dossiers Temáticos Interior da Igreja de Mértola (Portugal), antiga mesquita muçulmana. ______________________________________________________________ www.netprof.pt 41/57 NetProf Dossiers Temáticos A mesquita de Omar (Jerusalém) ______________________________________________________________ www.netprof.pt 42/57 NetProf Dossiers Temáticos “Não existe sem dúvida um tipo único de mesquita. Desde as origens, há as de planta central, como a do Rochedo, em Jerusalém, que são mais propriamente monumentos comemorativos do que lugares de oração (...). Todavia, o tipo mais usual – e o mais específico – é o seguinte: uma sala com apoios muitíssimo numerosos – pilares ou colunas – que formam uma séria de naves paralelas entre si e geralmente perpendiculares à parede da Kibla.” Adaptado de Pierre du Colombier, História da Arte, Porto, Liv. Tavares Martins, 1956. ______________________________________________________________ www.netprof.pt 43/57 NetProf Dossiers Temáticos Viver segundo a Lei Islâmica Os princípios doutrinários do Islamismo (ver ponto 1.2. Islamismo) influenciam todo o quotidiano e princípios de vida dos muçulmanos como por exemplo, a oração cinco vezes ao dia, na mesquita ou em casa, virados para Meca. Muitos escritórios, empresas e aeroportos têm locais próprios de oração. Todos dão um montante anual de esmolas a pobres e necessitados, o qual é determinado por uma percentagem fixa da riqueza e bens de cada um. Uma vez na vida o muçulmano tem de fazer uma viagem de peregrinação a Meca. Durante o mês do Ramadão, apenas as crianças, pequenas, mulheres mestruadas, velhos, doentes e viajantes é que não são obrigadas ao jejum entre o nascer e o pôr do Sol. Neste jejum é incluído não fumar, não beber nem ter relações sexuais. Para além destes pilares do islão, existentes outras leis islâmicas que constituem a sharia. Algumas nem sempre são postas em prática, como por exemplo algumas das seguintes punições. O consumo de álcool é punido com chicotadas; o adultério com o apedrejamento; o roubo com a amputação de mãos ou pés. Quanto às leis económicas, a usura e a cobrança de juros bancários são proibidas. O divórcio é permitido, embora apenas quando o marido o consente e a mulher fica sujeita à perda da custódia dos filhos. Os casamentos são negociados sem o consentimento da mulher. O vestuário deve ser simples e as mulheres devem ser incentivadas a usar véu. A matança dos animais deve ser feita de acordo com os métodos tradicionais, sendo proibido o consumo de carne de porco. Resumo a partir de O Século do Povo, vol. 2, Gradiva. ______________________________________________________________ www.netprof.pt 44/57 NetProf Dossiers Temáticos Os Contos das Mil e Uma Noites “O texto árabe de As Mil e Uma Noites só foi impresso muito tardiamente em Calcutá, em 1814, e posteriormente em Boulaq, em 1835, nas tipografias reinstaladas por Mohammed Aly. A origem destes contos, muito antiga, levanta problemas que ainda estão longe de estarem ultrapassados de maneira segura. Se se acreditar na tradição árabe, a sua fonte seria persa. (...) Os árabes transpõem esta literatura para a sua língua, os seus mais puros e eloquentes escritores aperfeiçoam-se e dão-lhe uma feição elegante (...). O primeiro livro composto desta maneira foi o Hezar Efeane, quer dizer Mil Contos. (...) Qualquer que seja a sua origem longínqua, As Mil e Uma Noites contêm a marca profunda da civilização muçulmana da Idade Média. Os contos são narrados numa prosa que se aproxima do árabe popular, mais do que a língua clássica. As variantes que os manuscritos comuns apresentam, especialmente nas histórias e na sua distribuição por “noites” (o termo “mil e uma noites” não deve ser tomado à letra; originariamente significa apenas “um grande número”; os diversos redactores, e depois os tradutores, procuram, mais ou menos artificialmente, obter um recorte das histórias em mil fragmentos) provam que esses manuscritos devem ser uma ajuda à memória dos narradores públicos. Sob a forma que apresenta a maioria dos manuscritos, As Mil e Uma Noites parecem ter origem no século XII, sem que mais nada se possa garantir. (...) Ao lado desta fantasmagoria do absurdo, As Mil e Uma Noites, por um contraste curiosos dão-nos uma evocação realista do pequeno povo do Oriente: o pobre pescador à beira rio, o carregador e o seu cesto na feira, o comerciante prudente, toda uma humanidade simples, sóbria, hospitaleira e sensível. Sobre as ruas nas grandes cidades árabes, sobre os costumes dos mercadores, sobre a vida social, sobre a religião muçulmana, esses contos trazem-nos uma documentação de uma riqueza e de um precisão incomparáveis. As coisas vistas surgem com todo o seu relevo e as personagens na sua típica singularidade.” Fonte: Os Mais Belos Contos das Mil e Uma Noites, Livros de bolso Europa-América. ______________________________________________________________ www.netprof.pt 45/57 NetProf Dossiers Temáticos Património Cultural do Mundo Muçulmano Património classificado pela UNESCO Irão: Ruínas de Persépolis Data da classificação: 1979 Relevância: Um testemunho único de uma civilização antiga na área do Médio Oriente, a dinastia dos Aqueménidas, anterior à conquista de Alexandre Magno. Património Cultural: Centro cerimonial erigido ao longo de 58 anos; construções representativas edificadas sobre um terraço artificial tais como: a sala do trono (apadana); a escada meridional da “apadana”, com relevos representando o cortejo dos delegados dos vários grupos étnicos que constituíam o “grande-reino” persa; a “Sala das Cem Colunas”, começada durante o reinado de Xerxes I e concluída no tempo do seu filho Ataxerxes I; também os palácios de Dario e de Xerxes. Cronologia: 520/19 a. C.: Durante a regência do “grande-rei” Dario I, edificação da “maravilha do mundo de Persépolis”. 486-565 a. C. : Batalha de Issos (333) e subsequente conquista do “grande-reino” Persa pelo exército de Alexandre, o Grande. 330 a. C.: Incêndio de Persépolis e assassínio de Dario III. 1931: Escavações com a supervisão científica de Ernst Emil Herzfeld. 1933: Descoberta, por Friedrich Krefter, de duas placas documentando a criação da sala de trono. 1971: Criação de uma “cidade de tendas” por ocasião das comemorações dos 2 500 anos do império Persa. Meidan-e schah (Praça Real) de Isfahan Data da classificação: 1979 Relevância: Símbolo em pedra da civilização persa do século XV ao século XVII. Património Cultural: Meidan-e schah, a chamada Praça Real ou Praça do Xá, englobando a Mesquitra do Xá (rebaptizada, em 1979, com o nome de Masdjed-e Iman) construída com 18 milhões de tijolos, meio milhão de azulejos em faiança; a Masdjed-e Lotfollah, origianriamente uma mesquita privada da corte destinada ao sogro de Abas I; o portal do bazar (Sar dar-e Qaisarieh) com cenas festivas e guerreiras do tempo de ______________________________________________________________ www.netprof.pt 46/57 NetProf Dossiers Temáticos Abas I; a Masdjed-e Djomed (Mesquita de Sexta-deira), um complexo arquitectónico integrado com uma área total de 170 m x 140 m e a Ponte Sublime, Ali Qapu. Cronologia: À volta de 900: Edificação da Masdjed-e Djomeh 1088/89: Obras de ampliação na mesquita de Sexta-feira. 1092: Construção do portal-sul e do mirabe na Mesquita de Sexta-feira. 1598: Isfaham passa a ser a capital da Pérsia. 1612-16: Construção da Masdjed-e Lotfollah. 1619: Instalação do bazar. 1638: Conclusão da Masdjed-e Imam. 1803: Restauro da Mesquita de Sexta-feira. Adaptado de Tesouros da Humanidade e da Natureza, Público ______________________________________________________________ www.netprof.pt 47/57 NetProf Dossiers Temáticos A Matemática que herdamos dos Árabes O povo muçulmano deixou-nos vários legados importantes para a evolução da Matemática. Um dos mais conhecidos, são Os Números. O sistema de numeração, que hoje utilizamos, foi divulgado pelos povos árabes aquando da expansão da civilização islâmica. Apesar de serem conhecidos por algarismos árabes, os dígitos que hoje usamos são de origem hindu, mas como foram os árabes os responsáveis pela sua divulgação ficaram conhecidos dessa forma. De entre os algarismos, pensamos que o mais importante é o Zero. O nome indiano para o zero, era Sunya, que significa vazio. Os árabes chamaram-lhe sifr. Alguns eruditos ocidentais deram-lhe o nome de zephirus, raiz latina da nossa palavra zero, e outros de cifra. Por questões religiosas o zero foi durante séculos rejeitado pela civilização ocidental, o que provocou grandes atrasos no desenvolvimento de alguns conceitos matemáticos muito importantes, como por exemplo, os conceitos de infinito e de derivada. Um dos matemáticos árabes mais famoso foi Maomé ibn-Musa al-Kowarizmi. Escreveu diversos livros, sendo um deles o Al-jabr wa`l muqabala, que tratava da resolução de equações elementares. O Al-jabr do título deu origem à nossa palavra Álgebra. Escreveu também livros que explicavam formas de realizar alguns cálculos complexos, tal como efectuado pelos povos hindus. Em linguagem dos nossos dias, podemos dizer que ele apresentou um conjunto de Algoritmos, palavra esta que teve origem no seu nome – al-Kowarizmi. Também na Astronomia o povo árabe se distinguiu pelas análises matemáticas e geométricas efectuadas. Cinco séculos antes de Copérnico ter afirmado que a Terra gira em volta do Sol, já o matemático árabe Al Biruni sugeriu essa hipótese. Também Al-Battani e Abul Waffa se tornaram célebres pelos seus estudos astronómicos. Desenvolveram também instrumentos para medir a altura dos astros acima do horizonte, como é o caso do Astrolábio. Os conhecimentos matemáticos adquiridos eram utilizados na prática. Foram a base para, por exemplo, a construção da mesquita de Córdova ou o palácios La Alhambra (ambos em Espanha), e para descobertas tecnológicas como por exemplo a Nora, utilizada na agricultura. ______________________________________________________________ www.netprof.pt 48/57 NetProf Dossiers Temáticos Para mais informações pode consultar os sítios: http://www.gap-system.org/~history/Indexes/Arabs.html http://www.educ.fc.ul.pt/icm/icm99/icm22/frame4.htm http://www.matemusic.hpg.ig.com.br/html/historias_matematicas.htm http://www.hottopos.com/collat6/roshdi2.htm Imagens recolhidas nos sítios: http://www.alhambra-patronato.es/espanol/restaura/restauramain.htm http://www.educom.pt/cc-nonio/leon/palavras_de_origem_arabe-gina.htm em Abril de 2003. ______________________________________________________________ www.netprof.pt 49/57 NetProf Dossiers Temáticos Dias Santos e Festas Ashura (10 de Muharram, o primeiro mês): o Dia da Expiação muçulmano, assinalado pelos sunitas com um jejum voluntário. É também o mais importante dia santo xiita, que celebra o martírio de Hussein, neto do Profeta. Eid milad ai-nabi (12 de Rubi al-awwal, o terceiro mês): Comemoração do nascimento do Profeta. Laylat ai-micraj (27 de Rajub, o sétimo mês): comemora a ascensão de Maomé ao Céu. Também chamado Shab-e mi'raj e Miraj gejesi nas sociedades asiáticas nãoárabes. Laylat ai-bara'a (14." noite de Sha'ban, o oitavo mês): a noite em que, segundo a crença comum" o destino de cada ser humano para o próximo ano é registado no Paraíso. É marcado por vigílias de oração e festas e iluminações de ruas. No Sul e Sueste Asiático é também o dia muçulmano dos mortos, em que são feitas oblações em nome dos antepassados falecidos. É também a véspera do aniversário do décimo segundo imã dos xiitas dos Doze Imãs. Esta noite é também chamada Shabe barat. Ramadão: Nome do nono mês do calendário islâmico, assinalado por um jejum durante todo o mês, que se inicia antes do nascer do sol e termina a seguir ao pôr do sol de cada dia. Laylat ai qadr (a noite entre os dias 26 e 27 do Ramadão, o nono mês): a Noite do Poder. Aniversário da noite em que o Alcorão foi pela primeira vez revelado a Maomé. Segundo a tradição, os pedidos feitos a Deus durante esta noite são concedidos. Também chamada Shab-e qadr e Kadar gejesi nas sociedades asiáticas não-árabes. Eid ai-Fitr (1 de Shawwal, o décimo mês): a festa que assinala o fim do Ramadão. O segundo feriado mais celebrado do ano islâmico e que é marcado por muitas festividades. Também chamado o Pequeno Eid ou o Eid de Açúcar. Hajj (7 a 10 de Dhu al-hijja, o décimo segundo mês): a peregrinação ritual obrigatória a Meca e aos seus arredores, que constitui um dos Pilares da Prática do Islamismo. Só os peregrinos participam directamente nestes dias santos. Eid ai-Adha (10 de Dhu al-hijja, o décimo segundo mês): comemoração do sacrifício por Abraão do seu filho Ismael (Ismacil em árabe), o qual marca o final do Ha.ii. É o feriado mais importante do calendário islâmico. Também chamado o Grande Eid ou o Eid do Sacrifício. Fonte: ELIAS, Jamal J. – Islamismo, Ed. 70, Lisboa, 1999. ______________________________________________________________ www.netprof.pt 50/57 NetProf Dossiers Temáticos Links The Basis of Muslim Belief http://wings.buffalo.edu/sa/muslim/library/basics Al-Maqasid: Imam Nawawi's Manual of Islam http://www.nbic.org/isru/Resources/Maqasid/index.html Fundamentos da fé islâmica, rituais de purificação e oração. Islamic & Arabic Arts and Architectures http://www.islamicart.com/ Extenso site sobre a arquitectura árabe, escrita e caligrafia árabe, moedas e história. Al-Madinah Al-Munawwarah http://www.al-muslim.org/madinah/m_top.htm Informações sobre Madinah. Isfahan Home Page http://www.anglia.ac.uk/~trochford/isfahan.html Arquitectura de Isfahan e arquitectura persa. Mosques Around the World http://www.uah.edu/msa/mosques.html Pinturas de várias mesquitas de todo o Mundo. Al-Andalus Architecture Image Gallery http://www.islamzine.com/art/gallery.html Islamic Art http://ourworld.compuserve.com/homepages/eco/ DIA: Galleries: Ancient Art - Islamic Art http://www.dia.org/galleries/ancient/islamicart/islamicart.html Página de The Detroit Institute of Arts sobre a arte islâmica. Islamic Art Home Page http://www.eldarco.com/isart/ ______________________________________________________________ www.netprof.pt 51/57 NetProf Dossiers Temáticos Architecture of Islam http://www.utexas.edu/students/msa/pictures/arch/arch. IMAN - International Muslimah Artists Net http://www.hammoude.com/ Sakkal Design Arabic Islamic Graphics http://www.sakkal.com/ Calligraphy and Art http://www.islam1.org/art/art1.htm Islamic Art & Culture http://islam.org/culture/default.htm LotusArt http://www.lotusart.com/ Caligrafia árabe em madeira. Islamic Pictures & Arts http://www.ummah.net/islamloads/pictures.htm Arte islâmica. Qur'anic Art in Arabic http://www.islam101.com/quran/quran_art.html "Art for God's Sake?" http://www.amrnet.demon.co.uk/events/art99.html Islamic Icons http://members.xoom.com/_XOOM/msa_msu/icons.htm Página Montclair State University MSA. Some Characteristics of Islamic Arts http://www.islam-online.net/iol-arabic/dowalia/fan-14/alrawe.asp ______________________________________________________________ www.netprof.pt 52/57 NetProf Dossiers Temáticos Islam and the Arts http://www.ifna.net/magazine/article_2.htm Islamic Architect -- Mehrab http://www.mehrab.com/ Islamic Art http://www.missionislam.com/islam/art/default.htm A colecção de arte gráfica islâmica da Mission Islam [Australia]. Islamic Banking http://www.unn.ac.uk/societies/islamic/about/banking1.htm Islamic Banking http://www.uio.no/~stvhoy11/islbank.html Islamic Banking and Finance Network http://islamic-finance.net/ Centro de recursos da banca e finança islâmica. O site contém uma grande variedade de artigos on-line sobre o Islão, a economia e a finança. International Conference on Islamic Banking and Finance http://www.isna.net/bankc.htm Science and Technology http://www.bangor.ac.uk/nus/islam/pages/sci_tech/ Al-Eijaz http://www.aleijaz.org/ Extenso site com artigos e sobre o Islão e a ciência. International Institute of Islamic Medicine (IIIM) http://www.iiim.org/ O site inclui artigos sobre a medicina islâmica. Fasting and the Patient: Some Guidelines http://www.ima.org.za/FASTING1.HTML ______________________________________________________________ www.netprof.pt 53/57 NetProf Dossiers Temáticos Site do Islamic Medical Association of South Africa. Why Have Muslim Scholars Been Undervalued Throughout Western History? http://www.muslim.index.com.jo:/muslim/turath.htm Harun Yahya Series http://www.harunyahya.org/Eng/homeeng.html Why Did They Become Muslims? http://www.hizmetbooks.org/Why_Become_Muslims/ Becoming Muslim http://ds.dial.pipex.com/masud/ISLAM/nuh/bmuslim.htm Returning to Islam http://www.ianaradionet.com/prog08_return.html Arquivos de um programa semanal da IANA Radionet sobre experiências de conversão ao Islamismo. Stories of New Muslims http://www.usc.edu/dept/MSA/newmuslims/ Stories of New Muslims http://www.hijau.com.my/Info/Islam/nmuslim.htm Histórias do livro Islam Our Choice. Why We Came to Islam http://www.viewislam.com/muslims/index.html Stories of New Muslims http://www.isgkc.org/stories_toc.htm Stories of New Muslims http://members.aol.com/askgive/stories.htm Histórias de novos Muslims. ______________________________________________________________ www.netprof.pt 54/57 NetProf Dossiers Temáticos Some American Scientists who embraced Islam http://www.mosque.com/alicamp.html Muhammad Alexander Russel Webb http://www.erols.com/ameen/biowebb.htm Sisters Who Share http://www.geocities.com/Wellesley/3565/shahadastories.htm River Garden Arts http://members.aol.com/RvrGdnArts/islam1.htm "Coming to Islam: A Muslim Anthology" com detalhes sobre a viagem de Muslims para e no Islão. Converts to Islam http://www.convertstoislam.org/ Extenso site para prestar ajuda a novos Muslims para aprenderem mais sobre a sua nova fé. O site foi construído por convertidos ao Islamismo. ______________________________________________________________ www.netprof.pt 55/57 NetProf Dossiers Temáticos Ideias para serem desfeitas O islão esteve sempre em guerra com o Ocidente? Não, embora a história comum esteja marcada por sangrentos mal-entendidos, religiosos e políticos, como as Cruzadas ou os atentados terroristas de 11 de Setembro de 2001 nos EUA. E todos os muçulmanos são árabes? Não. Os turcos e os iranianos são muçulmanos mas não são árabes; e também há libaneses e palestinianos que, sendo árabes, são cristãos. É verdade que o Corão obriga a mulher a ficar em casa ou a usar o véu? Este é um tema com várias interpretações. Mas, sabiam que entre as mulheres de Maomé, o Mensageiro de Alá, havia combatentes? A sua esposa predilecta, Aisha, defrontou o califa Ali na batalha do Camelo em 636. E sabiam que a questão do véu precede o islão e já existia 2000 anos antes de Jesus Cristo, referindo-se-lhe um texto assírio como "marca distintiva das mulheres honradas"? Laicidade e modernidade são compatíveis com a religião propagada por Maomé? Sim, e o laicismo, já imposto como modelo político na Turquia (e, com menos rigidez, também na Tunísia e na Síria), será cada vez mais um desafio para o mundo muçulmano. Assim como a globalização vai obrigar os muçulmanos a modernizarem-se para não ficarem marginalizados. As respostas a todas as dúvidas e inverdades sobre o islamismo são dadas, com precisão histórica, pelo francês Paul Balta, actual director do Centro de Estudos do Oriente Contemporâneo, na Sorbonne (Paris), num pequenino livro, "O Islão", que a Editorial Inquérito incluiu na colecção "Ideias Feitas". É apenas lamentável que o tradutor tenha confundido "islamitas" (os crentes) com "islamistas" (os activistas de uma corrente política islâmica). Os dois termos são diferenciados pelos próprios muçulmanos, para evitar a promiscuidade entre religião e fanatismo, e para não cair no erro de tornar semelhantes "fundamentalismo" (apego aos valores da fé) e "integrismo" (acção política geralmente violenta). Se Balta é um brilhante professor, extraordinariamente didácticos são também Victor Kuperminc, autor de vários artigos sobre o judaísmo, em "Os Judeus", e Dimitri ______________________________________________________________ www.netprof.pt 56/57 NetProf Dossiers Temáticos Laboury, investigador do Fundo Nacional de Investigação Científica da Bélgica, ligado à Universidade de Liège, em "O Egipto Faraónico". Sobre a obra de Kuperminc, realce para a explicação de terríveis ideias feitas, como a de que "os judeus crucificaram Jesus", que conduziram a incomensuráveis tragédias, como o Holocausto. Nos seus esclarecimentos, o autor consegue ser sério e simultaneamente divertido. Cita, por exemplo, em alguns capítulos, anedotas que os judeus gostam de contar sobre si próprios - como aquela em que se pergunta "Qual a diferença entre o Messias e o canalizador?", e se responde: "O Messias háde vir um dia". Quanto aos faraós, Laboury também descodifica fantasias várias, designadamente a de que "Cleópatra foi uma ambiciosa e maléfica sedutora". É particularmente interessante o que ele escreve sobre aquela de quem Pascal disse que fosse o seu nariz mais pequeno "toda a face da Terra teria mudado". Também vale a pena ler a parte dedicada a Akhenaton, que começa com uma citação de Freud estabelecendo "uma relação de filiação entre a religião politeísta do soberano egípcio e o fundador do monoteísmo". Com breves explicações etimológicas, no início, e conselhos bibliográficos, no final, parece, assim, atingido o objectivo desta colecção: a "procura de um esclarecimento distanciado e mais aprofundado sobre o que sabemos ou pensamos saber". O Islão Autor: Paul Balta Editor: Editorial Inquérito 140 págs. Os Judeus Autor: Victor Kuperminc Editor: Editorial Inquérito 139 págs. O Egipto Faraónico Dimitri Laboury Editor: Editorial Inquérito 143 págs. ______________________________________________________________ www.netprof.pt 57/57