negociação por Richard Hessler Furck* O medo do preço Um dos principais fantasmas dos vendedores sempre foi o preço. Quem cria este antológico monstro da venda são os próprios vendedores, muito mais que os clientes. Uma pesquisa nos EUA sobre sensibilidade do consumidor a preço em diversos produtos demonstrou que quando consultados sobre quais seriam os principais quesitos a serem analisados no processo de decisão de compra de diversos produtos, os vendedores sempre afirmavam categoricamente que o cliente colocaria o fator preço em primeiro lugar. Curiosamente, quando esta mesma pergunta era feita aos consumidores daqueles produtos, o fator preço era citado em apenas quarto lugar, depois de quesitos como qualidade, conveniência e durabilidade. Os primeiros passos para um profissional de vendas entender como a batalha contra a argumentação focada em preço pode ser vencida remontam de 1990, quando Robert Lauterborn desenvolveu uma nova visão para o Marketing Mix, proposto em 1960, por Jerome McCarthy. Os 4 P’s, pontos de interesse para que as organizações atingissem seus objetivos de marketing eram Produto, Preço, Praça e Promoção, e foram substituídos por Lauterborn por 4 C’s, ou seja, Costumers Wants and Needs, (Desejos e Necessidades dos Clientes, ou somente, Clientes), Cost to Satisfy (Custo-benefício), Convenience to buy (Conveniência) e Communication (Comunicação). Observe o que acontece nos processos de vendas quando migramos os 4 P’s para os 4 C’s: PRODUTO PARA CLIENTE: Ao migrar do produto para as necessidades e desejos do cliente começa-se a reverter um processo no qual, antes, as empresas usavam o marketing para despertar o desejo de seus produtos no consumidor, relegando este a segundo plano. O vendedor tinha então a função de “fazer o cliente querer o produto”. Hoje, ao invés de focar no produto, a empresa que não estiver atenta ao dia a dia do consumidor e que não desenvolver seus produtos e serviços para atender às suas demandas torna-se obsoleta. O bom vendedor deve estar sempre atento aos hábitos e comportamentos do consumidor, pois o cliente não deseja mais um especialista em produto, mas sim um especialista em pessoas. PREÇO PARA CUSTO-BENEFÍCIO: As pessoas estão acumulando experiências de consumo e aprendendo que o barato sai caro. O que vende um produto agora é a experiência que ele proporciona. Qualquer preço é caro para uma expectativa não atendida. Exemplo disso é um estudo que levantou que as classes C e D entraram no mercado de consumo já adquirindo alguns produtos considerados de “primeira linha’’, ao invés de começar pelos produtos mais baratos. Este fenômeno ocorre notadamente em produtos ligados a experiências do dia a dia das famílias, como fogões, farinhas, laticínios, sabonetes e xampus. PRAÇA PARA CONVENIÊNCIA: Antes a estratégia das empresas baseava-se em escolher bem os pontos de vendas de seus produtos, o que gerava custos altos de implantação e locação. Com a drástica diminuição no tempo e na atenção disponíveis pelo consumidor, as empresas estão ofertando cada vez mais comodidade, proximidade, capilaridade e conveniência. Não é a toa que as grandes redes de supermercados perceberam que as pessoas estão migrando de grandes compras nos “hipermercados” para compras menores em supermercados de bairro. O comércio eletrônico torna-se uma tendência irrefreável. O vendedor de sucesso entendeu que as pessoas irão pagar cada vez mais para ganhar tempo e economizar trabalho. PROMOÇÃO PARA COMUNICAÇÃO: O relacionamento das empresas com os clientes sofreu uma reviravolta. Com o advento das redes sociais, o cliente ganhou poder, os canais de comunicação estão cada vez mais sofisticados e disponíveis a todos. A qualidade da comunicação de uma rede de clientes na internet pode superar, às vezes, uma brilhante e caríssima campanha desenvolvida por uma agência da moda. O vendedor tem que falar esta língua e usar estas novas ferramentas para poder estar junto ao consumidor. Como se vê é preciso uma reversão de valores ancestrais, uma verdadeira mudança de modelos mentais e de hábitos arraigados para que o vendedor moderno possa vencer o dragão da briga pelo menor preço. O caminho é esse. * Richard Hessler Furck é corretor de seguros, palestrante e consultor de empresas, e atua como professor de Pós-Graduação nos cursos de Negociação Estratégica e Venda Consultiva. 48