Trigésima segunda aula – A teologia paulina (2) Este texto baseia-se nas ideias de Herman Ridderbos, teólogo reformado, expressas em seu livro A teologia do apóstolo Paulo (Editora Cultura Cristã, 608 p., 2004) Estruturas fundamentais Todo o conteúdo da pregação de Paulo pode ser resumido como sendo a proclamação e explicação do tempo escatológico da salvação, que teve início com o advento, a morte e a ressurreição de Cristo. A estrutura fundamental do pensamento de Paulo fundamenta-se em oito pontos. 1.A plenitude do tempo e a revelação do mistério. A plenitude do tempo é o cumprimento do tempo do mundo, o dia da salvação (Gl 4.4; Ef 1.9,10; 2Co 6.2). É o tempo em que as coisas se fizeram novas, isto é, o tempo da salvação e da recriação chegaram com a ressureição (2Co 5.17). A revelação do mistério é a manisfestação do plano de Deus, que foi ocultado no passado e revelado em sua plenitude em Cristo (Rm 16.25,26; Cl 1.26;2.2,3; Ef 1.9,10;3.4,5; 1Co 2.7; 2 Tm 1.9,10; Tt 1.2,3) 2.O mistério de Cristo. Escatologia e cristologia. É o advento de Cristo, o envio do Filho de Deus, que traz à luz a plenitude do tempo (Gl 4.4). Assim, o mistério de Cristo foi revelado (Ef 3.4). O mistério que Deus ocultou é o próprio Cristo (Cl 2.3). Um dos temas principais da pregação de Paulo é que seu evangelho está de acordo com as Escrituras (Rm 1.17;3.28; Gl 3.6; 1Co 10.1-10; 2Tm 3.16), que anunciaram os acontecimentos “do fim dos tempos” – a vinda de Cristo. 3.O primogênito dos mortos. O último Adão. Em Rm 8.29, 1Co 15.20 e Cl 1.18, Paulo se refere a Cristo como o primogênito, ou as primícias, de uma nova criação. Sua ressurreição inaugura uma nova humanidade, da qual ele é o primeiro representante. Ele, que havia sido o último Adão, agora, ressurreto, é o primeiro glorificado, o segundo homem (1Co 15.21,22,45). Cristo e Adão encontram-se em contraste um com o outro como os representantes de duas eras: a da vida e a da morte. 4.Em Cristo, com Cristo. O Velho e o Novo homem. Em 2Co 5.14.17 Paulo fala da transição ocorrida – do “Cristo por nós” para o “nós com (ou em) Cristo”. A partir disso, pode-se concluir que “ter morrido”, “estar em Cristo”, “ser nova criação” foram concedidos e efetuados com a morte de Cristo. O paralelo entre Adão e Cristo é explicado por Paulo com a figura do velho homem que, em Cristo, deu lugar ao novo homem (Rm 6.6; Gl 5.24; Cl 2.11; Ef 4.22; Cl 3.9). 5.Revelado na carne. Carne e Espírito. Jesus veio “na carne” ou “segundo a carne” (Rm 1.3; 8.3; 9.5; 2Co 5.16; Ef 2.14; Cl 1.22; 1Tm 3.16) e foi nessa mesma carne enviado para a morte de cruz. Mas Jesus morreu para a carne e ressuscitou para viver em Espírito (Rm 1.3,4; 1Tm 3.16; Rm 8.10). A cruz é o marco divisório não só da vida de Cristo, mas de toda a Criação. 6.Cristo, o filho de Deus e a imagem de Deus. Assim como Adão foi criado à imagem de Deus, Cristo é a própria imagem de Deus – é o próprio Deus (2Co 4.4; Cl 1.15; Fp 2.6). Jesus, a imagem de Deus, é o primogênito dentre muitos irmãos, a levar outros a serem co-participantes dessa imagem (Rm 8.29; 1Co 15.49; 2Co 3.18). 7.O primogênito de toda Criação. Por meio de Cristo toda a Criação foi feita e ele é o primogênito dela (1Co 8.6; Ef 1.10; Cl 1.15-20). O texto de Cl 1.15-20 pode ser chamado de a pedra fundamental da cristologia de Paulo. 8.Cristo, o exaltado, e o kyrios vindouro. Cristo e o Espírito são colocados num certo relacionamento de identidade um com o outro (2Co 3.17; 1Co 12.4,5; Ef 4.4,5). Nessas passagens fica aparente o quanto o Espírito é aquele no qual o Cristo exaltado mantém comunhão com a Igreja e que a Igreja compartilha exclusivamente por meio do Espírito os dons de seu Senhor (kyrios). Um dia a revelação do senhorio absoluto de Cristo se completará e toda a Criação será redimida (Cl 3.4)