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Leitura Semanal – 18.05.10
“Perder e encontrar” - Laurence Freeman OSB in “Jesus, o Mestre Interior”
Assim, para encontrar Deus, necessitamos perder Deus – pelo menos as nossas ideias e imagens
primitivas de Deus. Afastar-nos destas imagens familiares será doloroso, individualmente e para a
comunidade da qual fazemos parte. É um nível profundo da nossa psique que está a ser mudado. Até para
uma pessoa não religiosa, lá estará a dor de sentir que está a perder uma certa forma familiar e
reconfortante de Deus. Tanto a dor como o júbilo acompanham a descoberta do mistério vivo porque os
ídolos que temos de quebrar estão densamente enredados nas nossas próprias imagens de nós mesmos.
A sensação de separação de Deus, no entanto, é necessária para a individuação ou diferenciação
espiritual. É particularmente dolorosa e perturbadora para as pessoas religiosas. A sua primeira lufada de
ar do Reino pode ser percebida menos com uma descoberta de Deus e mais com uma perda ou até uma
rejeição sacrílega do Deus que antes lhes havia sido servido de forma tão segura. Mas através do terrível
vazio da ausência, Deus é encontrado… Lentamente, emerge a ideia de que perder a imagem é o prérequisito para encontrar o original. Perder-se no caminho é o melhor caminho para buscar Deus. Esta
verdade sobre a visão de Deus revela outra lei à qual podemos nem sequer nos aperceber que estamos
obedecendo: para encontramos o nosso próprio ser temos de perder os seres do nosso ego. Para
aprofundarmos a nossa relação, temos que largar e deixar ir o outro. A ausência, então, transforma-se,
imperceptivelmente, no mistério da presença. Por fim, damo-nos conta de que a ausência de Deus não é
mais do que o fracasso dos nossos poderes de compreensão para captarmos a presença real de Deus.
Tudo o que podemos dizer, com exactidão, sobre Deus, segundo S. Tomás de Aquino, é que Deus é, não
o que Deus é. A nossa relação com Deus é, portanto, de natureza semelhante ao mistério que nós somos
para nós mesmos. Se é verdade que Deus permanece sempre um mistério para nós, também é verdade
que nós somos um mistério para nós próprios. O mistério é, no fim de contas, o facto de sequer
existirmos, de existir alguma coisa. Esta perplexidade é uma qualidade humana fundamental e, segundo
Aristóteles, é a chave da Filosofia. Este espanto de ser humano é condicionado pelo deslumbramento pelo
mistério de Deus. Esta misteriosidade de Deus é a afirmação bíblica primordial sobre Deus. Apesar de todo
o pensamento e de todos os rituais que vem acumulando, a incognoscibilidade conhecível de Deus ainda é
o pivô de Teologia Cristã.
“Se o podes compreender”, diz Santo Agostinho, “então não é Deus. Se foste capaz de compreender
então compreendeste algo que não é Deus. Se foste capaz de compreender, mesmo parcialmente, então
enganaste-te a ti mesmo com os teus próprios pensamentos.” Esta humildade (e humor) radical face ao
inefável mistério de Deus é o fundamento da Tradição Cristã. Do coração dessa tradição emana uma
autoridade que liberta. Os seus mestres indicam o caminho, com um sábio desconhecimento, uma
ignorância aprendida e humilde, que acede ao Reino.
“O Nível das Palavras”
in “A Alma de Rumi”
Deus disse: “ As imagens que surgem da linguagem humana
Não correspondem ao que sou,
Mas os que amam as palavras devem usá-las para se aproximarem”
Recordem simplesmente: é
Como se dissermos do rei: “Ele não é um tecelão.” Será isso
Um louvor? Seja esta afirmação
O que for, as palavras estão no nível do conhecimento de Deus.
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