1 Aula 11 - Colonialismo, Imperialismo e Políticas de Dominação - Desde meados do século XIX as nações européias retomaram políticas de colonização, implementando políticas de dominação imperial em diversas partes do mundo, sobretudo na Ásia e na África. - No ano de 1905, cerca de 90% do território africano e 56% do território asiático achavamse sob domínio estrangeiro. - A eclosão da Primeira Guerra Mundial em 1914 pode também ser vista como conseqüência direta dessa corrida colonialista. Antecedentes: - Séculos XV a XVII: formação de vastos impérios coloniais por parte das potências européias. Política econômica baseada no mercantilismo, no protecionismo comercial e no exclusivismo. - Entre 1760 e 1850 (Revolução Industrial): a busca de novos mercados, forçada pela produção em larga escala, levou os ingleses a combater o mercantilismo e o exclusivismo colonial, pregando a substituição dos pactos coloniais pelo liberalismo econômico. Com isso, a Inglaterra tornou-se fomentadora dos movimentos de independência das colônias americanas. - Desde meados do XIX: retomada de diretrizes imperialistas e colonialistas, inclusive (e sobretudo) por parte da Inglaterra. Causas: - desenvolvimento do capitalismo industrial à partir de 1830 deu margem ao surgimento de Crises Cíclicas de Superprodução , impulsionando os países industrializados a buscar novos mercados externos para onde pudessem escoar os excedentes; - as levas de superprodução aumentam os riscos de investimentos em negócios industriais, tornando atraentes investimentos em mineração, plantações e serviços nos países anexados; - o surto industrial ocorrido entre 1850 e 1914 (segunda Rev. Industrial) ampliou a procura por matérias primas, acirrando a corridas por produtos provenientes da América Latina, África e Ásia; - o aumento da população européia gerou a necessidade de novas terras para onde pudessem ser escoados os excedentes de mão-de-obra, gerando o maior movimento migratório da história; - as pressões da crescente classe operária faziam com que os países europeus vissem a exploração colonial como uma saída para os latentes conflitos; os frutos dessa expansão de 2 mercados poderiam frear os levantes populares, numa Europa que vivera o século XIX sob guerras, barricadas e conflitos internos e externos de diversas ordens; Buscava-se uma estabilidade social. “O que falta às nossas indústrias, o que lhes falta cada vez mais são mercados” Jules Ferry, primeiro-ministro francês, em 1885. “O mundo está quase todo parcelado, e o que dele resta está sendo dividido, conquistado, colonizado. Penso nas estrelas que vemos à noite, esses vastos mundos que jamais poderemos atingir. Eu anexaria os planetas se pudesse; penso sempre nisso. Entristece-me vê-los claramente e ao mesmo tempo tão distantes”. Cecil Rhodes (1853-1902) Fundador da Rodésia, posteriormente Zâmbia e Zimbabwe. “A idéia que mais me acode ao espírito é a solução do problema social, a saber: nós, os colonizadores, devemos, para salvar os 40 milhões de habitantes do Reino Unido de uma mortpifera guerra civil, conquistar novas terras a fim de aí instalarmos o excedente da nossa população, de aí encontrarmos novos mercados para os produtos das nossas fábricas e das nossas minas. O Império, como sempre tenho dito, é uma questão de estômago. Se quereis evitar a guerra civil, é necessário que vos torneis imperialistas”. Cecil Rhodes – 1895. Características Revolução comercial: - centralizada no continente americano - orientada para a ampliação das riquezas dos Estados, pela acumulação de ouro e prata ou pela administração de plantations. - manutenção do aparato estatal Novo imperialismo: - Ásia e África como principais cenários - em benefício direto das altas burguesias metropolitanas, pelo oferecimento de novos mercados para seus produtos e abrindo novas oportunidades de investimento de seus excedentes. - nova modalidade de imperialismo impulsionada pelo surgimento de uma nova modalidade de capitalismo: financeiro = produção e capital concentrados em grandes monopólios. 3 modalidades: - áreas de domínio econômico: países independentes, controlados apenas do ponto de vista econômico (América Latina, por exemplo). - áreas de protetorado: colônia tratada como aliado, mantendo-se seus quadros dirigentes, mas subordinados a uma autoridade européia presente (Índia, por exemplo) - áreas de colonização: áreas dominadas militar, política e economicamente, com quadros dirigentes europeus (diversas regiões da África: Congo belga, por exemplo). - áreas de influência: mantidos os dirigentes locais, mas tratados garantem vantagens econômicas e jurídicas aos metropolitanos. Europeus residentes ficam sujeitos à leis da metrópole. (China, por exemplo) Penetração na Ásia - transformação no modo de produção: combinação de produção agrícola em pequena escala com indústria doméstica compondo comunidades economicamente auto-suficientes. - Impacto do comércio inglês, destruição da indústria artesanal, tornando-os dependentes exclusivamente da agricultura, além de fornecedores de matérias-primas, víveres e especiarias. Índia - cobiçada pelos europeus desde o século XVI (feitorias portuguesas, por exemplo); - durante as guerras napoleônicas, ingleses se apoderam de seu território, conquistando o Ceilão, estabelecendo um regime de protetorado (intervenção na administração local) e impedindo o surgimento de um poder central. - diversos principados indianos sujeitos à administração das Companhias das Índias Orientais. - conseqüências: substituição dos tecidos indianos (musselinas) pelos tecidos ingleses de algodão, levando diversos principados à inviabilidade econômica. Dacca, princiapl centro têxtil da índia, teve sua população reduzida de 150 mil pata 20 mil habitantes entre 1815 e 1837. 1877 – sagração da rainha Vitória como imperatriz da Índia. 4 China - governo: poder centralizado colocava empecilhos à penetração estrangeira - autoridade do imperador fazia-se sentir nas mais diferentes províncias: unidade política e poder centralizado. - no século XIX, uma relativa e crescente autonomia das províncias favoreceu esta gradual penetração. - ingleses compravam chá chinês, mas não conseguiam vender-lhes outro produto em semelhante proporção. - o ópio, mercadoria de grande aceitação entre os chineses, foi a solução para a balança comercial inglesa. - produzido na Índia e na Birmânia, o ópio era comercializado pela Cia das Índias Orientais sob permissão da coroa britânica. - em 1839 as autoridades chinesas promovem a queima de 20 mil caixas de ópio na província de Cantão, ato considerado como uma afronta pelos britânicos, iniciando-se assim a Guerra do Ópio. 5 - em 1842 é assinado o Tratado de Nanquim estabelecendo a abertura de 5 portos chineses aos ingleses, imunidade e privilégios aos comerciantes ingleses na China e a transferência de Hong Kong à Inglaterra. “Pensamos que essa substância perniciosa é fabricada clandestinamente por artifícios maquinadores que dependem de Vossa nação. Seguramente, Honrada Soberana, Vós não haveis ordenado a cultura e venda dessa planta”. (...) “Se é reconhecido ser tão nocivo, como podereis procurar obter lucros expondo os outros ao seu poder maléfico?” (carta do governo chinês à rainha da Inglaterra). - Ao fim do século XIX, a China via-se dividia sob esferas de influência, entre Inglaterra, França, Alemanha, Rússia, Estados Unidos e Japão. Movimentos de Resistência “Aos vossos olhos, somos selvagens, animais obscuros incapazes de distinguir entre o Bem e o Mal. Não somente vos recusais a tratar-nos em pé de igualdade, como temeis até nossa aproximação, como se fossemos objetos de asco...Nosso coração se enche de tristeza e de vergonha, quando, à noite, repassamos todas as humilhações que sofremos durante o dia. Presos a uma máquina que mina nossa energia, estamos reduzidos à impotência. Por isso é que só os mendigos ousam apresentar-se nos escritórios dos franceses”. (panfleto escrito por Fan Isu Trinh em fins do século XIX na Indochina) 1851 – China – Revolta Taiping – apoiada por populares, espalhou-se desde a comarca do rio Yang-tsé para diversas regiões chinesas. Foi sufocada em 1864. 1857 – Índia - Revolta dos Cipaios – primeiro movimento nacionalista indiano que colocou em xeque o domínio inglês, unindo príncipes, soldados e artesãos arruinados. Sufocada dois anos depois. Partilha da África - à partir de 1870, inicia-se uma verdadeira corrida pelo domínio de vastos territórios no continente africano, que no início do século XX acharia-se totalmente tomado por potências européias; - em 1876 apenas 10% de seu território estava sujeito à políticas colonialistas; em 1900, essa proporção era de 90,4%. - em 1876, o rei belga Leopoldo II apossou-se do rio Congo, região 10 vezes maior que a própria Bélgica, conservando-a como domínio pessoal. 6 - A França conquistou: 1832 – Argélia 1881 – Tunísia e Marrocos 1884 – consolidaria uma seqüência de anexações, formando a África Ocidental Francesa - Inglaterra: 1882 – transforma o Egito em protetorado e apossa-se do Sudão 1902 – tutela sobre a África do Sul - Conferência de Berlim: em 1887, 14 países (entre os quais Rússia e Estados Unidos) celebram um acordo estipulando princípios para o que se convencionou chamar Partilha da África, estimulando uma corrida para conquistar o que restava de territórios livres no continente africano. Sudeste Asiático e Sub-imperialismo japonês - desde o século XV o Japão e o sudeste asiático travaram contatos com o ocidente. - século XVII: comércio com o Japão monopolizado por comerciantes holandeses: isolamento - 1853: a Esquadra Negra do comodoro Perry força a abertura dos portos do Japão ao comércio com os Estados Unidos 7 - em 1860 o Japão inicia relações de “sub-imperialismo” sobre nações da região: China, Coréia e Formosa, alavancando sua industrialização. Inicia-se assim a “Era Meiji” (governo esclarecido), período marcado pelas “modernizações”. - em 1885 a França consolida seu poder sobre a Conchinchina e arranca os territórios do Laos, Camboja e Império Anamita da zona de influência da China. - Holanda mantém sua influência sobre as ilhas que hoje constituem a Indonésia - Estados Unidos apossam-se das Filipinas, vencendo militarmente a Espanha. 8 Conseqüências do imperialismo - direta ou indiretamente, o planeta encontrava-se inteiramente partilhado, submisso às grandes potências européias ou aos Estados Unidos 1905 estavam efetivamente conquistados: 90% da África 56% da Ásia 100% da Austrália 27% da América 98% da Polinésia - sem a possibilidade de novas aquisições, as potências colocavam-se em posição de choque permanente, sob a pressão da necessária expansão comercial e política: “choque de imperialismos”. “Para a Alemanha, a guerra não é apenas inevitável, ela é necessária” – Guilherme II – kaiser alemão – 1905. Joseph Conrad (1857-1924) Heart of Darkness (1899) "darkness of barbarism" X "light of civilization" Marlow: narra suas aventuras no Rio Congo em busca de Kurtz, um comerciante belga de marfim no Congo. Bibliografia Específica: HOBSBAWM, Eric, A Era dos Impérios. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2001. OLIVER, Roland. A Experiência Africana. Rio de Janeiro: Zahar, 1994. SAID, Edward W. Orientalismo: o oriente como invenção do ocidente. São Paulo: Cia das Letras, 1990.