In: http://pt.wikipedia.org/wiki/Neocolonialismo Neocolonialismo é o processo de dominação política e econômica estabelecido pelas potências capitalistas emergentes ao longo do século XIX e início do século XX, que culmina com a Partilha da África e da Ásia, (colonização da África e da Ásia). A disputa por novas terras envolve Reino Unido, França e Bélgica, primeiras potências industrializadas; Alemanha e Estados Unidos, que conhecem o apogeu industrial e econômico a partir de 1870; e Itália, Rússia e Japão, que ingressavam na via da industrialização. A industrialização do continente europeu marcou um intenso processo de expansão econômica. O crescimento dos parques industriais e o acúmulo de capitais fizeram com que as grandes potências econômicas da Europa buscassem a ampliação de seus mercados e procurassem maiores quantidades de matéria-prima disponíveis a baixo custo. Foi nesse contexto que, a partir do século XIX, essas nações buscaram explorar regiões na África e Ásia e da oceania. Gradativamente, os governos europeus intervieram politicamente nessas regiões com o interesse de atender a demanda de seus grandes conglomerados industriais. Distinto do colonialismo do século XVI, essa nova modalidade de exploração pretendia fazer das áreas dominadas grandes mercados de consumo de seus bens industrializados e, ao mesmo tempo, pólos de fornecimento de matéria-prima. Além disso, o grande crescimento da população européia fez da dominação afro-asiática uma alternativa frente ao excedente populacional da Europa que, no século XIX, abrigava mais de 400 milhões de pessoas. Apesar de contarem com grandes espaços de dominação, o controle das regiões alvo da prática neocolonial impulsionou um forte acirramento político entre as potências européias. Os monopólios comerciais almejados pelas grandes potências industriais fizeram do século XIX um período marcado por fortes tensões políticas. Em conseqüência à intensa disputa dos países europeus, o século XX abriu suas portas para o primeiro conflito mundial da era contemporânea. Somado aos interesses de ordem político-econômica, a prática imperialista também buscou suas bases de sustentação ideológica. A teoria do darwinismo social, de Hebert Spencer, pregava que a Europa representava o ápice do desenvolvimento das sociedades humanas. Em contrapartida, a África e a Ásia eram consideradas como sociedades primitivas, ainda em um estágio "infantil". Influenciado por esse mesmo conceito, o escritor britânico Rudyard Kipling defendia que o repasse dos "desenvolvidos" conceitos da cultura européia aos afro-asiáticos representava "o fardo do homem branco" no mundo. Com relação à África, podemos destacar a realização da Conferência de Berlim (1884 – 1885), na qual várias potências européias reuniram-se com o objetivo de dividir os territórios coloniais no continente africano, destacando-se o marcante processo de dominação britânica, que garantiu monopólio sobre o Canal de Suez (Norte da África). Fazendo ligação entre o Mediterrâneo e o mar Vermelho, o canal foi de grande importância para as demandas econômicas do Império Britânico. Na sul da África, os britânicos empreenderam a formação da União Sul-Africana, graças às conquistas militares obtidas na Guerra dos Bôeres (1899 – 1902). Na Índia, a presença britânica também figurava como uma das maiores potências coloniais da região. Após a vitória na Guerra dos Sete Anos (1756 – 1763), a Inglaterra conseguiu formar um vasto império marcado por uma pesada imposição de sua estrutura político-administrativa. A opressão inglesa foi alvo de uma revolta nativa que se deflagrou na Guerra dos Sipaios, ocorrida entre 1735 e 1741. Para contornar a situação, a Coroa Britânica transformou a colônia indiana em parte do seu Império. Resistindo historicamente ao processo de ocupação, desde o século XVI, o Japão conseguiu impedir por séculos a dominação de seus territórios. Somente na segunda metade do século XIX, as tropas militares estadunidenses conseguiram forçar a abertura econômica japonesa. Com a entrada dos valores e conceitos da cultura ocidental no Japão, ocorreu uma reforma político-econômica que industrializou a economia e as instituições do país. Tal fato ficou conhecido como a Revolução Meiji. Com tais reformas, o Japão saiu de sua condição econômica feudal para inserir-se nas disputas imperialistas. Em 1894, os japoneses declararam guerra à China e passaram a controlar a região da Manchúria. Interessados na exploração da mesma região, os russos disputaram a região chinesa na Guerra RussoJaponesa, de 1904. Após confirmar a dominação sob a Manchúria, os japoneses também disputaram regiões do Pacífico com os EUA, o que acarretou em conflitos entre essas potências, entre as décadas de 1930 (destacando-se o incidente de Mukden) e 1940 (com o embargo imposto ao Japão pelo Export Control Act, de 1940, seguido do ataque a Pearl Harbor, em 1941). Outros conflitos foram frutos do neocolonialismo, incluindo a Primeira e a Segunda Guerra Mundial, observando-se que a solução aplicada pelas nações industrializadas frente às disputas de hegemonia geopolítica para expansão dos seus mercados teve conseqüências desastrosas. Além de promover a desestruturação das culturas africanas e asiáticas, muitas das guerras civis contemporâneas e grande parte dos problemas sócio-econômicos que afligem países que integravam os antigos impérios coloniais têm íntima relação com a ação imperialista. A Difusão da Indústria No início do século XIX, a industrialização que havia se iniciado na Inglaterra começou a expandirse para outras regiões. A Bélgica iniciou sua industrialização precocemente graças aos investimentos ingleses e à abundância de carvão e ferro na região. Na França, a estrutura do Antigo Regime dificultava o desenvolvimento industrial. Com a revolução de 1789, a burguesia capitalista assumiu o poder, mas foi a partir de 1830, no governo de Luís Felipe, que a revolução industrial francesa tomou corpo, desenvolvendo-se efetivamente com Napoleão III durante o Segundo Império. Entretanto, a ausência de carvão e a perda de ricas jazidas de ferro da Alsácia-Lorena para a Alemanha dificultaram o processo. A Alemanha e a Itália encontraram condições favoráveis para o desenvolvimento de seu parque industrial somente a partir da unificação política, concretizada em 1870. Fora da Europa, os Estados Unidos foi o único país da América que encontrou condições de industrializar-se, graças à descoberta de ouro na Califórnia, à Guerra de Secessão e ao investimento de capitais ingleses. No final do século XIX, a produção industrial norte-americana já superava a Inglaterra e a Alemanha. Além disso, o expansionismo dos Estados Unidos chegou ao Japão, cuja modernização provocada pela Revolução Meiji (Era das Luzes), em 1868, assimilou a tecnologia norte-americana, partindo daí para um programa sistemático de industrialização. Os Monopólios e as Invenções Tecnológicas A industrialização inglesa, no século XVIII, provocou a formação de grandes empresas que passaram a monopolizar a produção, substituindo o capitalismo concorrencial. A partir de 1860, iniciou-se uma segunda etapa da Revolução Industrial. Nessa nova fase, o aço substituiu o ferro como material industrial básico, o vapor deu lugar à eletricidade, e o petróleo passou a ser utilizado como força motriz em lugar do carvão. Destacou-se, também, a introdução de uma maquinaria automática, o crescimento da produção, a extrema divisão do trabalho e uma verdadeira revolução nos meios de transporte e comunicação. Nesse momento, o capitalismo industrial foi sobrepujado pelo capitalismo financeiro, originando a concentração de empresas e enormes complexos industriais. Com isso, surgiram grandes conglomerados econômicos, como os trustes, cartéis e holdings. O crescimento desenfreado da indústria gerou um grande excedente de produção, que entrou em choque com o desemprego provocado pela larga utilização de máquinas no processo industrial. As grandes potências, visando manter o ritmo de desenvolvimento, necessitavam de mercados. Surgiu, assim, uma expansão imperialista que atingiu principalmente a África e a Ásia, que se tornaram palco de disputas e rivalidades na divisão do mercado mundial. A Corrida Colonialista A razão básica da colonização era econômica. A Europa tinha vários países passando pela Revolução Industrial, que necessitavam de matérias-primas essenciais para a industrialização, tais como carvão, ferro e petróleo; produtos alimentícios, normalmente carentes na Europa; mercados consumidores para os excedentes industriais; e locais para o investimento de capitais disponíveis na Europa, principalmente na construção de estradas de ferro e exploração de minas. Em termos sociais, a colonização era uma válvula de escape para a pressão demográfica. No plano político, o motivo essencial era a preocupação dos Estados europeus em aumentar seus contingentes militares. O processo da partilha colonial Em 1830, a França deu o primeiro passo na conquista da África. Seus exércitos iniciaram a conquista da Argélia, processo que somente foi completado em 1857. Leopoldo I da Bélgica, deu novo impulso ao colonialismo, em 1876, reunindo, em Bruxelas, um congresso de presidentes com o objetivo de, segundo ele, difundir a civilização ocidental. Os países europeus lançaram-se rapidamente à aventura africana. A França conquistou a Argélia, Tunísia, África Equatorial, Costa da Somália, Madagascar; os ingleses anexaram a Rodésia, União SulAfricana, Nigéria, Costa do Ouro, e Serra Leoa; a Alemanha, que entrou tardiamente na corrida colonial, adquiriu apenas Camarões, Sudoeste Africano e África Oriental; a Itália anexou o litoral da Líbia, Eritreia e Somália. Os antigos países colonizadores da Europa, Portugal e Espanha, ficaram com porções reduzidas: a Espanha, com o Marrocos Espanhol, Rio do Ouro e Guiné Espanhola; Portugal, com Moçambique, Angola e Guiné Portuguesa. A Conferência de Berlim, convocada por Bismarck, primeiro-ministro da Alemanha, foi o marco mais importante na corrida colonialista. Sua primeira finalidade foi legalizar a propriedade pessoal do rei Leopoldo II, da Bélgica, sobre o Estado Livre do Congo e estabelecer as regras da partilha da África entre as principais potências imperialistas. A corrida colonial africana produziu inúmeros atritos entre os países colonialistas, constituindo-se mesmo num dos fatores básicos do desequilíbrio europeu, responsável pela eclosão da Primeira Guerra Mundial. A Penetração Européia na Ásia A Ásia mantivera-se isolada até o século XIX. Apenas alguns portos estavam abertos aos comerciantes ocidentais que aí recebiam os produtos orientais para comercialização no Ocidente, permanecendo, assim, quase que imune às influências ocidentais. Essa situação modificou-se radicalmente, no transcorrer do século XIX. Os países ocidentais passaram do simples comércio portuário para a política de esfera de influência, promovendo uma verdadeira partilha. A Rússia era o país mais interessado na expansão territorial da Ásia, devido à proximidade com seu território. Os ingleses haviam tomado a Índia dos franceses em 1763, ficando uma companhia inglesa encarregada da exploração. Em 1858, com a revolta dos cipaios (nativos que serviam nos exércitos coloniais) prontamente reprimida, a Índia passou a integrar o Império Britânico. Na China, a Guerra do Ópio, motivada pela destruição de carregamentos de ópio pertencentes a súditos ingleses, pelos chineses, permitiu a conquista de Hong-Kong, Xangai, Nanquim. A reação contra a invasão da China partiu de uma sociedade secreta conhecida como boxers, que promoviam atentados contra os estrangeiros residentes na China. As nações européias organizaram uma expedição conjunta para punir a sociedade e o governo chinês que a apoiava, surgindo daí a Guerra dos Boxers, que completou a dominação da China pelas potências européias. Por outro lado, os japoneses ocuparam a Coréia, e os alemães, a península Chantung, enquanto a França dominava a Indochina. Na área de dominação francesa, foram dois os tipos básicos de colonização: colônias e protetorados (situação de um Estado posto sob a autoridade de outro). As colônias ficavam sob direta supervisão do Ministério das Colônias, sendo governadas localmente por um governador geral, responsável pela atividade local. Os protetorados, por sua vez, mantinham elevado grau de autonomia. Praticamente todas as decisões eram tomadas por elementos locais, com a supervisão de um representante da metrópole. Entre as colônias inglesas, a variedade era muito grande: as colônias da Coroa, que dependiam diretamente da metrópole; as colônias com certo grau de autonomia, com um parlamento eleito localmente; e os domínios, que eram praticamente independentes. A forma de organização administrativa nas demais colônias, pertencentes aos outros países europeus, não variava muito em relação aos dois tipos apresentados, isto é, colônias propriamente ditas e dependências semi-autônomas. De uma maneira geral, os países colonialistas da Europa procederam de maneira empírica (sem caráter científico, baseando-se na experiência) na organização do sistema de exploração colonial. Os ingleses se constituíram em exceção, porque possuíam um imenso império colonial que lhes permitia uma variedade extraordinária de recursos materiais e humanos. A política livre-cambista, adotada na Inglaterra após 1850, estendeu-se às colônias, uniformizando as relações econômicas. A França, por sua vez, adotou uma política tarifária variante. Dependia da colônia e dos tipos de produtos que produzia e consumia. A exploração econômica das terras foi concedida a particulares, uma vez que somente as grandes companhias capitalistas tinham condições de empreender a exploração, que necessitava de uma vultosa soma de capitais. Não-violência e desobediência civil de Ghandi In: http://educacao.uol.com.br/historia/independencia-da-india-nao-violencia-e-desobediencia-civil-de-ghandi.jhtm Entre as conseqüências da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), pode-se apontar a descolonização e o surgimento de várias novas nações na África e na Ásia. São países que se libertaram do jugo das velhas potências colonialistas, como a Argélia e o Congo, continente africano, e o Laos, a Tailândia, o Camboja e a Indonésia, no asiático. Contudo, um dos momentos mais importantes desse processo foi a independência da Índia. País de dimensões continentais, com cerca de 3,3 milhões de km², o país - dividido em vários principados - era dominado pela Inglaterra desde o século 18 e constituía uma das mais importantes colônias britânicas sob o aspecto econômico. Em 1885, surgiu o primeiro movimento nacionalista na região, encabeçado por intelectuais indianos. Entretanto, até o fim da Primeira Guerra Mundial (1914-1918) o movimento nada conseguiu. A partir daí, passou a enfrentar uma Inglaterra enfraquecida economicamente e com dificuldades para manter seu extenso império, construído ao longo dos séculos 18 e 19. Por outro lado, a Índia estava marcada há cinco séculos pela divisão religiosa entre hindus e muçulmanos, grupos religiosos que criaram suas próprias organizações políticas em prol da independência. "Mahatma" Gandhi O grupo que se destacou foi o Partido do Congresso, que reunia os hindus. Contava com um líder extraordinário, o advogado Mohandas Gandhi, chamado de "Mahatma" ou "Grande Alma", nome que ele mesmo rejeitava. Gandhi pregava a resistência à dominação e a luta contra os britânicos por meio da nãoviolência e da desobediência civil, métodos que já havia empregado contra o Apartheid, na África do Sul, onde vivera. A ação de Gandhi consistia em desobedecer as leis inglesas sem se importar em sofrer as conseqüências do ato, em boicotar os produtos ingleses, em fazer greves de fome para que hindus e muçulmanos deixassem de lado as divergências religiosas e se unissem em favor da causa comum: a independência. Sua figura acabou por conquistar admiradores no mundo todo, inclusive na Inglaterra e o gandhismo inspira até hoje os movimentos pacifistas. Ainda assim, os adeptos do islamismo na Índia se uniram na Liga Muçulmana, sob o comando de Mohamed Ali Jinnah, decididos a agir por conta própria o que os levava a freqüentes choques com os hindus. Os governantes ingleses se aproveitavam dessas realidades e as insuflavam, como forma de retardar o processo de independência. Concessão da Independência e conflito com o Paquistão A Segunda Guerra Mundial, porém, enfraqueceu ainda mais a Inglaterra, de modo que, ao fim do conflito, não consegui mais manter o domínio sobre a Índia. Em 15 de agosto de 1947, a independência da Índia foi concedida. O país, porém, ainda enfrentava forte tensão entre os grupos religiosos rivais e se fragmentou em dois, a Índia propriamente dita e o Paquistão, sendo que este estava geograficamente dividido em Oriental e Ocidental, com um enclave indiano entre ambos. Portanto, a violência religiosa e a disputa por terras prevaleciam. Gandhi que pregava a paz e a união de hindus e muçulmanos foi assassinado em 1948 por um radical hindu. No mesmo ano, a ilha do Ceilão, a sudeste do subcontinente indiano, tornou-se um Estado independente, com o nome de Sri Lanka. Do mesmo modo, o Paquistão oriental formaria um novo país, Bangladesh, em 1971. Hoje, na República da Índia, os conflitos entre hindus e muçulmanos são menores, embora persistam. Outros dois grupos religiosos também têm força no país, os budistas e os sikhs, uma seita hinduísta com características próprias. As relações com o Paquistão ainda são conflituosas, em especial no que se refere à província indiana da Caxemira, no norte do país. Walt Disney e Karl Marx: interpretações sobre Imperialismo (1870-1918) Prof. Dr. Dennison de Oliveira (DEHIS/SCHLA/UFPR) 2. Os monopólios da indústria cultural, a ditadura militar brasileira e a divulgação junto ao público infantil das interpretações marxistas sobre a origem do imperialismo: o caso da Enciclopédia Disney (1973). As principais componentes da conjuntura histórica vivida pelo Brasil durante a Ditadura Militar são relativamente bem conhecidas e legaram extensa literatura. Aqui seria importante, em se tratando de exemplificar o caráter destacar dois dos seus aspectos: a extraordinária expansão da indústria cultural e a radicalização da ação repressiva do governo central. Parece haver um relativo consenso sobre o estágio de desenvolvimento da indústria cultural brasileira à época da ditadura militar (1964-85). Seguindo um autor como Ortiz (1988) percebemos que aquela conjuntura foi marcada pela consolidação de um expressivo mercado de bens simbólicos. Essa consolidação se manifesta nos indicadores relativos ao mercado editorial, televisivo, cinematográfico e teatral, só para citar alguns dos mais importantes. Destes nos interessa de perto o mercado editorial. Entre 1966 e 1980 o número de livros publicados no país saltou de 43,6 milhões/ano para 245,4 milhões ano. Tal evolução – impressionante para um país com tão baixos índices de renda e alfabetização – foi possível tanto devido às políticas públicas do regime militar, quando à evolução da tecnologia disponível aplicada às artes gráficas. Os incentivos governamentais à produção de papel para livros e jornais fez com que o país se tornasse auto- suficiente na obtenção deste produto já antes do fim da década de 1960. A disseminação de novas tecnologias de impressão como o off-set – igualmente estimuladas pelas iniciativas governamentais – levou à expansão não só das tiragens de livros e revistas, mas também à sua diversificação, sempre visando atingir públicos mais amplos e variados. Igualmente relevante é destacar aqui o crescimento do mercado de revistas entre 1960 e 1985 que, de uma tiragem de 104 milhões de exemplares/ano passa para 500 milhões de exemplares/ano. Tal mercado era dominado – como em boa medida ainda o é hoje – pela Editora Abril de São Paulo/SP. Tal editora também foi pioneira na divulgação entre nós dos produtos daquele que é o grande monopólio da diversão e entretenimento dos EUA, o grupo fundado por Walt Disney. De fato, em 1950 a Editora Abril compra os direitos de imprimir no Brasil a revista o Pato Donald, responsável por uma tiragem de 83 mil exemplares/ano. Desde então o número de títulos dedicado ao mercado infantil subiu para setenta, somando em 1986 uma tiragem de 90 milhões de exemplares/ano. Além do Pato Donald, personagens Disney como Zé Carioca (criado precisamente durante a Segunda Guerra Mundial, no contexto da campanha ideológica dos EUA junto dos países da América Latina para forjar a “defesa hemisférica” contra os países do Eixo), Tio Patinhas, Mickey Mouse, também ganham suas próprias revistas, além de participarem de outros produtos destinados ao público infantil como a Enciclopédia Disney (1973) que engloba disciplinas como geologia, história, astronomia, botânica, etc. Ao mesmo tempo em que a indústria cultural se expandia, modernizava e diversificava, o Regime Militar implementava com uma radicalização cada vez maior todo um conjunto de medidas repressivas e de publicidade, destinadas – nos quadros da então vigente “Doutrina de Segurança Nacional” – a impedir a subversão da ordem interna e garantir a adesão da população aos objetivos e metas do governo central. No dizer de autores como CRUZ & MARTINS (1983: p. 43): “.... desenvolvia-se um exercício sistemático de intimidação... ao terrorismo branco de oficiais paranóicos que enchiam as páginas dos jornais mais importantes do país com proclamações fantásticas onde a liberdade sexual, o consumo de drogas e as opiniões políticas menos ortodoxas se fundiam como facetas da estratégia bolchevista para destruir a família, a harmonia social e a paz política... nunca, como nestes anos o país esteve tão próximo da imagem ideal que dele fazia a extrema-direita”. Nesta conjuntura dominada por aquele que talvez tenha sido o mais cruel e repressivo regime político brasileiro (a ditadura varguista – 1937/45 – também disputa essa duvidosa honraria), marcado por um anti-comunismo que beirava a histeria e, por vezes, ia além dela, uma indústria cultural monopolista, internacionalizada, censurada e convergente com o governo em “despolitizar” os seus conteúdos, é que achamos relevante examinar que interpretação sobre o imperialismo as crianças leitoras da Enciclopédia Disney podiam ali encontrar. O exame dos conteúdos Disney publicados no Brasil desta conjuntura se torna ainda mais relevante se levarmos em conta o seu histórico de portadores – senão defensores explícitos - dos valores do capitalismo monopolista, como se pode perceber de forma enfática e geralmente correta no clássico “Para ler o Pato Donald” (DORFMAN, A & MATTELART, A. 1971). Tentando resumir ao máximo a “ideologia Disney” divulgada nas estórias em quadrinhos e denunciada pelos autores neste livro, seria indispensável mencionar a ênfase obsessiva e explícita em valores como o conformismo, autoritarismo, consumismo, moralismo, conservadorismo, puritanismo e subliminarmente, a defesa do capitalismo à época do imperialismo. Dito isto é o caso de se recolocar a pergunta: que interpretação sobre o imperialismo as crianças leitoras da Enciclopédia Disney podiam ali encontrar? A resposta exige a transcrição de extensos trechos do volume em questão. Nele tomam parte sete dos patos criados por Disney: o multimilionário e mesquinho Tio Patinhas, o sábio e idoso professor Ludovico, o Pato Donald, sua namorada Margarida, e seus sobrinhos Huguinho, Zezinho e Luizinho. No episódio todos foram à França, buscar num abandonado campo de batalha da Primeira Guerra Mundial um esquecido vidrinho que contém a fórmula de um inseticida infalível que permitirá ao Tio Patinhas vencer seus concorrentes neste mercado. Evidentemente a conversa então recai sobre as origens da Primeira Guerra Mundial. O personagem que instruiu os demais é o sábio professor Ludovico que assim introduz o tema: Ludovico, animado, continuava: – Por volta de 1870, no Ocidente, com a utilização do petróleo e da energia elétrica, a indústria desenvolveu-se como nunca até então. Foi a chamada Segunda Revolução Industrial. Os países adiantados passaram a produzir muito mais mercadorias do que podiam consumir. – E aí, então... – ajudou Margarida. – Aí, os industriais pensaram em vender seus produtos excedentes para outros países civilizados, como vinham fazendo desde o começo da Revolução Industrial. Só que agora a situação era outra. As indústrias haviam se expandido muito em toda Europa e nos Estados Unidos. Cada um daqueles países tinha suas próprias fábricas, e seus estoquezinhos encalhados. Nações como a Alemanha e os Estados Unidos lançavam impostos pesados sobre a importação de produtos estrangeiros, para vender melhor os seus próprios. E havia ainda outro excedente, outra coisa sobrando. Imaginem só o que era? – O... o... – gaguejou Margarida apanhada de surpresa... – Capital! Dinheiro! – exclamou Ludovico entusiasmado. – Havia dinheiro sobrando na Europa, graças ao aumento da produção das empresas Os lucros eram enormes. E este capital precisava ser aplicado, senão iria perdendo o valor.(p. 1765) ‘Desconcertante e paradoxal como possa parecer, o pesonagem em questão adota um ponto de vista inequivocadamente marxista ou, se preferirem anti-liberal. É o nexo entre a Revolução Industrial, os estoques excedentes e a necessidade de reinvestir o capital para que este não se perca que o personagem enfatiza. Isto é, o foco da conversa recai sobre aquilo que qualquer militante dos partidos comunistas denominaria de “contradições do capitalismo”. Mais ainda, na interpretação do prof. Ludovico existe um nexo evidente entre estas contradições e o imperialismo: – Então era isso? – admirou-se Zezinho. – Mas não havia escolas a construir, hospitais, estradas? Não podiam aumentar os salários? – É claro que havia muita coisa a fazer pelo bem de todos. Mas não eram investimentos rentáveis. Que empresário ia querer se arruinar. Por mais bem intencionado que fosse? – E que fizeram, então? – Tanto para vender excedentes, como para investir os capitais a solução foi obter mais territórios na África e na Ásia. Conquistar colônias trazia duas vantagens: elas possuíam ferro, cobre, petróleo, manganês, borracha, açúcar, algodão, tudo que a indústria precisava, nos países adiantados, para manter a produção em larga escala. Por outro lado, aquelas regiões atrasadas poderiam ser obrigadas a comprar todos os excedentes da produção européia; era só forçá-las um pouquinho, submetendo-as à administração européia. Ai elas teriam que comprar, por bem ou por mal. Quem é que resistia ao poder dos europeus, naquela época? – Interessantíssimo! – exclamou Margarida... – E o capital a investir? – perguntou Luisinho. – Como é que as colônias entravam nisto? – Pois esta era a peça mais importante deste novo sistema colonial, que passou a ser conhecido como "imperialismo”. Em primeiro lugar, a própria exploração de minas e plantações nas colônias exigia que fossem construídas estradas de ferro para transportar as mercadorias, e eletricidade, gás, rodovias, etc. E depois, à medida que iam comprando produtos da indústria européia os países coloniais precisavam criar serviços básicos para poder usar esses artigos. - Quem comprou uma lâmpada elétrica precisa de eletricidade para acendê-la não é isso? - sugeriu Zezinho. - Exatamente. Aí vinha o industrial europeu, oferecia-se para construir a usina de eletricidade, construía, cobrava a eletricidade e levava o lucro para casa. Temos ai, portanto, uma adoção quase que integral das teses marxistas, tanto, no que se refere à função das colônias na absorção de excedentes não absorvíveis (Rosa Luxemburgo), quanto como resposta ao acirramento da concorrência (Lênin) e a necessidade de reinvestimento do lucro nos quadros co ciclo de acumulação de capital (Marx). Resta saber de que forma o texto interpreta o nexo entre a corrida imperialista e a eclosão da Primeira Guerra Mundial. Nesse sentido a fala do personagem não poderia ser mais explícita: – E os japoneses se tornaram imperialistas também. Tomaram da China a Coréia, a Manchúria, Formosa, venceram uma guerra contra os russos, que estavam incomodando com seus avanços na Manchúria, puseram o olho nas possessões alemãs e colidiram com os americanos em sua expansão pelo oceano Pacífico. Tudo isso meus caros, em apenas trinta anos! – E esta loucura toda – perguntaram os patinhos impressionados -, povos correndo para vender encalhes e ganhar mais dinheiro que o vizinho? Em que deu isto tudo? – NAQUILO! – exclamou Ludovico apontando para o antigo campo de trincheiras onde haviam chegado finalmente. – A Primeira Guerra Mundial! Os textos aqui transcritos falam por si. Neles estão presentes, ainda que de forma resumida, as principais componentes das interpretações marxistas sobre o fenômeno do imperialismo à época da Segunda Revolução Industrial. Contudo, além de enfatizar o caráter explícito da presença destas componentes, vale a pena chamar a atenção para a completa ausência de elementos da teoria liberal do imperialismo. Afinal de contas seria lícito se prever que os personagens Disney, com sua defesa do conformismo, autoritarismo, consumismo, moralismo, conservadorismo, puritanismo, imperialismo, etc. deveriam se filiar à corrente liberal de interpretação do imperialismo. Contudo, não existe no texto a mais remota menção à natureza inerentemente pacífica e liberal do capitalismo; inexiste qualquer menção ao domínio das antigas classe dominantes de origem feudal e nobiliárquica, que teriam usado do imperialismo e da guerra para frear seu declínio econômico e político. Enfim, existe uma opção clara e inequívoca dos autores do texto pela adoção das teorias marxistas sobre a guerra e o imperialismo. E é ao esforço de entendimento desta constatação que dedicamos nossas considerações finais. Apartheid http://pt.wikipedia.org/wiki/Apartheid O apartheid (Pronúncia em africâner: [ɐpɐrtɦəit], separação) foi um regime de segregação racial adotado de 1948 a 1994 pelos sucessivos governos do Partido Nacional na África do Sul, no qual os direitos da grande maioria dos habitantes foram cerceados pelo governo formado pela minoria branca. A segregação racial na África do Sul teve início ainda no período colonial, mas o apartheid foi introduzido como política oficial após as eleições gerais de 1948. A nova legislação dividia os habitantes em grupos raciais ("negros", "brancos", "de cor", e "indianos")[1], segregando as áreas residenciais, muitas vezes através de remoções forçadas. A partir de finais da década de 1970, os negros foram privados de sua cidadania, tornando-se legalmente cidadãos de uma das dez pátrias tribais autônomas chamadas de bantustões. Nessa altura, o governo já havia segregado a saúde, a educação e outros serviços públicos, fornecendo aos negros serviços inferiores aos dos brancos.[2] O apartheid trouxe violência e um significativo movimento de resistência interna, bem como um longo embargo comercial contra a África do Sul.[3] Uma série de revoltas populares e protestos causaram o banimento da oposição e a detenção de líderes anti-apartheid. Conforme a desordem se espalhava e se tornava mais violenta, as organizações estatais respondiam com o aumento da repressão e da violência. Reformas no regime durante a década de 1980 não conseguiram conter a crescente oposição, e em 1990, o presidente Frederik Willem de Klerk iniciou negociações para acabar com o apartheid[4], o que culminou com a realização de eleições multirraciais e democráticas em 1994, que foram vencidas pelo Congresso Nacional Africano, sob a liderança de Nelson Mandela.