CÂMARA DOS DEPUTADOS O SR. GERALDO PUDIM(PMDB/RJ) pronuncia o seguinte discurso: Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Deputados. Ainda só se ouve falar em crise. E a crise não foi inventada por nós brasileiros! É uma crise herdada. Pode-se até considerar uma crise vinda de nossos exploradores, donos dos mercados. É uma crise global, originada nos EUA. A economia dos EUA sofre várias espécies de crise – bancária, creditícia, fiscal, previdenciária etc. E o sistema financeiro norte-americano é composto por grandes grupos, que atuam em diversos mercados internacionais, captando recursos para atender às necessidades de financiamentos (públicos e privados) – para consumo e investimentos. Por isso é que a crise financeira americana afetou o crescimento da economia mundial. Nós – no Brasil – íamos bem! Nosso otimismo era ditado pelo crescimento dos empregos, do aumento da renda e do acesso ao crédito. Parodiando ARTUR HENRIQUE – presidente da Central Única dos Trabalhadores, a CUT, “enquanto os trabalhadores vão perdendo seus empregos numa sociedade sem a proteção social necessária para manutenção da base familiar, a renúncia a CÂMARA DOS DEPUTADOS fiscal do Governo não pode ser o único mecanismo utilizado para a saída da crise!” CÂMARA DOS DEPUTADOS “Nós acreditamos que a intervenção do Estado não pode significar a socialização das perdas do setor financeiro com a sociedade em geral – sendo que no período do crescimento recente, o que se percebeu foi a privatização dos ganhos, expressa nos gigantescos lucros anuais dos bancos, que atingem a casa de dezenas de bilhões de dólares no Brasil.” Fomos atingidos – inesperadamente – pela crise internacional, quando a economia crescia próxima ao ritmo de 7% ao ano. No quarto trimestre de 2008, esta taxa caiu para 2,2%. Choque de crédito, colapso do comércio internacional e a reversão (negativa) no nosso intercâmbio comercial (preços das exportações em comparação ao das importações, reduziram a renda nacional, até então gerada por nossas exportações de commodities, propagando-se na economia, por meio da redução abrupta dos investimentos. E o crédito não deve melhorar, com desemprego e inadimplência crescendo e o mundo ainda em transe... O juro para o mercado interno ficando nas alturas... Há uma quase unanimidade – que vai do Senhor Presidente da República ao mais humilde cidadão – de que a queda das taxas básicas de juros se tornou inevitável. Aliás, na sua campanha à Presidência da República, em 2002, o Presidente do PMDB do Rio, Anthony Garotinho, já alertava para a necessidade desta redução da taxa de juros. CÂMARA DOS DEPUTADOS Deveríamos começar desvinculando a taxa Selic da Dívida Pública, como é feito no mundo inteiro! A taxa básica de juros de um País não pode remunerar título público. Porque, afinal, não se pode quebrar o País para beneficiar especuladores com ganhos monstruosos. Os juros altos sobre os títulos públicos estão insustentáveis. Já em 2002, Garotinho defendia a redução do pagamento destes juros pelo Governo, em nome de maior liquidez para os investimentos sociais. Os fundos lastreados em títulos públicos ganharam cerca de dez bilhões de reais, só este ano! Só no último mês de março a “engorda” foi de R$ 4,61 bilhões (Fonte:BC). O tal superávit primário era atacado por Garotinho, já àquela altura, como a prova de que o País podia obter crescimento maior, reduzindo o ralo aberto para favorecer à remuneração dos especuladores. E superávit é saldo favorável! E é facílimo entender esta preocupação: se o País tem já uma Dívida Interna de mais de um trilhão de reais, o Governo paga por cada um por cento de juros, a bagatela de mais de dez bilhões de reais. E quando estes juros são maiores do que 10%? Resposta: mais de cem bilhões de reais! Mais de cem bilhões de reais retirados dos investimentos públicos e sociais... Em 2008, foram pagos, no Brasil, R$ 134,5 bilhões em spread bancário. O spread, acima da taxa de juros fixada pelo CÂMARA DOS DEPUTADOS COPOM – Comitê de Política Monetária do Banco Central – é justificado como uma espécie de “seguro”, ante o risco de inadimplência. Mas, o Governo, honrando títulos públicos, nunca é inadimplente. Ora, a crise brasileira está, cada vez mais nitidamente, nas altas taxas de juros, “escorchantes” – segundo o próprio exMinistro da Fazenda, Pedro Malan, quando as praticava(19952002). Afinal a crise não é nossa, não nasceu no Brasil, não a criamos, “apenas fomos nela inseridos, de cócoras, na subserviência aos mercados, nesta desastrada globalização, nos imposta como a melhor coisa deste mundo” – parodiando o jornalista NONATO CRUZ, da Tribuna da Imprensa, do Rio, “é chegada a hora de tratarmos do nosso equívoco interno: a subserviência aos bancos, ao capital antropofágico, especulativo e predador”. Há um elemento especulador interno- alavancado pelos bancos – que quer tirar proveito da crise. E o Governo Federal, em certos momentos, titubeia em enfrentar tais oportunistas, até destinando mais dinheiro aos bancos, na esperança de financiar o desenvolvimento e à produção. Vejam o caso atual – da conspiração banqueira contra os aplicadores nas cadernetas de poupança. Historicamente, a caderneta de poupança é o instrumento com o qual a classe-média tenta defender o que amealhou, a tanto CÂMARA DOS DEPUTADOS custo, da corrosão inflacionária... Além disso, a poupança tem uma finalidade social, pois 65% dos recursos depositados são destinados ao Sistema Financeiro da Habitação, o que inclui, além da construção de moradias, financiamento a obras de infraestrutura e saneamento. Porém, ela rende apenas a Taxa Referencial de Juros e mais 0,5% ao mês... Agora, porta-vozes dos bancos, estão alardeando que os ganhos da poupança estão demasiadamente altos (?) e acabarão provocando fuga dos aplicadores em títulos públicos para a poupança! E mais: apavoram o Governo com a falácia de que, “se a rentabilidade da poupança não diminuir, haveria um rombo nas suas contas”, com a mudança das aplicações. Ora, senhores Deputados: nos títulos públicos, recebem a taxa Selic , do Banco Central(que, ao mês, está em 0,95%). E, aí, revelam sua cupidez: a única fórmula alternativa seria aumentar, mais ainda, os juros dos títulos públicos para que os “investidores” não fugissem para as cadernetas de poupança! Verifiquemos os fatos: os depósitos nas cadernetas de poupança somam, no momento, cerca de 270 bilhões de reais! E há, um trilhão e duzentos bilhões de reais em fundos de investimento. Ora, a poupança tem prazo mínimo de um mês! Já o overnight, que remunera os Títulos Públicos, oferece liquidez total! Aí, outra grande diferença. Desde 2002 os rendimentos das cadernetas de poupança CÂMARA DOS DEPUTADOS caíram 27,03%, devido a diversos redutores que foram aplicados à TR – uma perda de R$ 63 bilhões tomados dos aplicadores em cadernetas. Em 2008, a TR aplicada à poupança foi de apenas 1,68% - enquanto a inflação oficial, medida pelo IPCA, foi de 5,9%. Ou seja, a correção das cadernetas de poupança ficou 4,22 pontos, abaixo da inflação... E são as cadernetas de poupança o tradicional instrumento acolhido pela classe-média para se defender da perda do poder aquisitivo! E da inflação! É preciso deter esta gula dos bancos pelo dinheiro da poupança... E como os juros sobre os Títulos Públicos estão insustentáveis, a grande pergunta que atrevemos, neste momento, é porque não os quitar imediatamente. O Tesouro Nacional perde mais de cem bilhões de reais, pagando juros aos bancos. Ora, moeda é confiança! Segundo a lição do ex-Ministro da Economia da Alemanha Federal, depois da 2º Grande Guerra, LUDWIG ERHARD. Braço Direito do Chanceler ADENAUER, que acabou sucedendo. ERHARD avaliou o déficit habitacional alemão. Apurou que havia areia, cimento e pedra, vergalhões etc disponíveis na Alemanha. Não havendo necessidade de importar, não necessitava dívidas (dólares!). Então mandou emitir moeda correspondente à compra dos materiais e pagamento da mão-deobra. Realizou o plano. E, aos poucos, foi retirando (mandando CÂMARA DOS DEPUTADOS incinerar) a quantidade de moeda somada, obtida pelo pagamento das prestações de compra dos imóveis construídos. Até retirar toda a moeda nova emitida... Engenhoso, não? Ora, é cabível a ilação da Dívida Interna do País ser quitada imediatamente, em moeda emitida, exclusivamente,para tal fim. Claro que, depois seria, gradativamente retirada do meiocirculante (agora, base-monetária) tal quantia paga, HOJE, a título de juros/rendimentos etc. Que significa, atualmente, mais de cem bilhões de reais! O que impediria a disparada da inflação! Já imaginaram qual não seria o aumento da liquidez e oferta de dinheiro e empréstimos pelos bancos? E os juros, então? Despencariam a patamares muito mais racionais! Aliás, o professor de economia e ex-Deputado Delfin Neto – que foi o czar da economia, durante o regime autoritário – lembra que, “em abril de 2008, quando iniciamos o movimento de aumento do nosso juro real, praticamente todos os países estavam reduzindo os seus”. “E, ao perder o controle sobre a taxa de câmbio e temendo seus efeitos sobre a inflação, o Banco Central radicalizou. Entre abril e setembro, elevou a taxa Selic em CÂMARA DOS DEPUTADOS 250 pontos, enquanto o mundo reduzia a taxa básica. O que confirmava a tese de que os membros do COPOM consideravam(e sempre acreditaram) que estávamos blindados...” Agora, não adianta ficar brigando com “estimativas” e “suposições”! Falta-nos, na realidade, a solidez de um mercado interno! E com mercado interno robusto, se faz à custa de salários justos, com poder aquisitivo! Quando o Presidente Getúlio Vargas instituiu o saláriomínimo de sobrevivência da classe trabalhadora, jamais poderia supor que a velocidade da industrialização brasileira acabasse conspirando contra ele de forma arrasadora. Mas foi o que aconteceu! O salário-mínimo acabou aviltado! Acabou se transformando – paradoxalmente – no salário-máximo da classe trabalhadora. É que o complexo das grandes corporações transnacionais, transformou o Brasil , apenas, num fornecedor de matérias-primas(que sempre foi) e de mão-de-obra barata (que passou a ser) à medida que se industrializava, sob forte presença do capital internacional. E – ressalvadas as exceções de praxe – o capitalismo brasileiro. Também, louvando-se do mau exemplo, sempre lutou por maiores lucros, aviltando salários. CÂMARA DOS DEPUTADOS Já se disse que o grande desejo do “empresário” brasileiro é que o salário-mínimo brasileiro estivesse nos patamares do chinês(cerca de 20 dólares). Pelo que demonstra, em poder aquisitivo, o atual saláriomínimo brasileiro, não dá tranqüilidade à família do trabalhador que o recebe. Sempre complementado por um “bico” qualquer, alavancado no sub-emprego... É esta ordem que esperamos que seja mudada, em meio às reflexões desta crise. O já prolongado colapso norte-americano levou o presidente do Banco Central da China,ZHOU XIAOCHUAN, a lançar a idéia de criar uma moeda internacional para substituir o dólar! Idéia que já vicejava, nas discussões argentino-brasileiras de criação do latino, moeda interamericana. Tanto que as transações entre Argentina e Brasil já estão começando a ser em moedas dos dois países: peso e real. É uma forma de torpedear o escândalo do momento, o dos bônus dos bancos, ajudados por dinheiro público! Pode ser que em apenas um ano ou dois, o governo americano deixe de ser dono de bancos e seguradoras. Mas, o protecionismo e as guerras de subsídios, iniciadas, dificilmente reverterão. O Congresso norte-americano estimula, através de lei, os americanos a comprar produtos americanos. BUY AMERICAN pode acabar gerando contrapartidas, como “compre alemão”, “compre brasileiro”, “compre francês” etc. E quando chegar o “compre o CÂMARA DOS DEPUTADOS chinês”? Há um exagero, nesta lembrança especulativa em relação à China, mas, quanto aos empregos, estas iniciativas podem fazer estragos em milhares de oportunidades de trabalho que tenderão a desaparecer... Latinos, asiáticos, orientais, em geral, serão rejeitados, como empregados, nos países desenvolvidos, a ponto de se detectar certa onda de racismo! Não é esta nossa esperança. Nem o nosso sonho! Torçamos pelo melhor! Que isto não o aconteça! Que os governos do mundo, sobretudo “os de olhos azuis”, evitem esta catástrofe. Por isso, paro por aqui! Muito obrigado!