escola soka: educação para criação de valores

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IARA BÁRBARA VERDIERI
ESCOLA SOKA: EDUCAÇÃO PARA CRIAÇÃO DE VALORES
CRICIÚMA, MAIO DE 2005
1
IARA BÁRBARA VERDIERI
ESCOLA SOKA: EDUCAÇÃO PARA CRIAÇÃO DE VALORES
Monografia apresentada para a obtenção do
título de Especialista em Didática e
Metodologia
do
Ensino
Superior
da
Universidade do Extremo Sul Catarinense –
UNESC.
Orientadora: Profª. Msc. Giani Rabelo
CRICIÚMA, MAIO DE 2005
DEDICATÓRIA
A meus pais, Raymundo e Dina, sem os quais
eu não teria em mim a primeira semente de
solidariedade, humanismo, humildade e amor;
e nem estaria nesta existência.
3
AGRADECIMENTOS
Não poderia deixar de mencionar os meus
agradecimentos às pessoas que, através de
seus conhecimentos, opiniões, orientações e
incentivos,
enriqueceram
de
maneira
substancial este trabalho consigno os meus
agradecimentos a: Profa. Giani Rabelo, Minha
orientadora;
Patrícia
Medeiros,
minha
sobrinha, digitadora dedicada desse trabalho;
Profa. Idalete Goulart, minha amiga e pessoa
que efetuou a correção ortográfica deste
trabalho de monografia; João Alves meu
marido e companheiro das horas difíceis;
Gustavo George, meu filho querido que me
levou a conhecer o Budismo de Nitiren
Daishonin∗ e ao meu grande mestre da vida
Daisaku Ikeda, presidente da SGI (Soka
Gakkai Internacional) que mesmo distante tem
nos orientado de maneira grandiosa.
∗
Cabe também agradecer a BSGI (Associação Brasil Soka Gakkai Internacional), pela cedência de
documentos para a realização deste trabalho.
4
“A educação não é a venda parcelada de
conhecimento, ou o conhecimento despejado
de um vaso para outro. Educar é auxiliar outros
a
desenvolver
a
habilidade
de
obter
conhecimento por si sós, é presenteá-los com a
chave
do
depósito
do
saber.
Não
é
simplesmente apossar-se das propriedades
intelectuais
que
outros
descobriram,
sem
esforço da própria parte. É um processo de
descoberta e inversão”.
(Tsunessaburo Makiguti – Fundador da Soka
Gakkai)
5
RESUMO
Através deste trabalho de pesquisa conhecemos a história e expansão do budismo
desde o nascimento de Sakyamuni na Índia que deixou no Sutra de Lótus uma
chave importante para a suprema realidade da vida. Expandindo-se para outros
países do oriente o budismo mais tarde alcança o ocidente. Chega ao Brasil em
1960, o Budismo de Nitiren Daishonin (atualmente em 190 países), através do atual
presidente da Soka Gakkai Internacional – SGI, Daisaku Ikeda. É criada então a SGI
Distrito do Brasil, que mais tarde viria a ser a BSGI (Associação Brasil Soka Gakkai
Internacional). Uma organização cujo tema é Paz, Cultura e Educação. Postula
através da fé, prática e estudo do Budismo de Nitiren Daishonin é possível fazer a
própria revolução humana (interior), e em conseqüência natural a mudança de todo
o ambiente que cerca os seres humanos. Vendo na educação o melhor meio para
conduzir o ser humano a essa revolução humana, o Prof. Tsunessaburo Mekiuti,
pedagogo japonês, criou o Sistema Educacional Soka, na década de 30 e que se
expandiu pelo mundo e também chegou ao Brasil. Foi criada, então a Coordenadoria
educacional da BSGI, que fundamenta seus trabalhos na tese desenvolvida pelo
prof. Makiguti, que têm como preocupação maior o desenvolvimento psico-afetivo e
cognitivo do ser humano. Enfatizando que acima de tudo o aluno deve sentir-se feliz
na escola, e que a educação existe com o propósito de desenvolver o ilimitado
potencial e talento bem como cultivar o seu caráter, e assim criar valores que terão
benefícios a si e a toda a sociedade.
Palavras-chave: Budismo; Educação; Sistema Educacional SOKA
6
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Primeiro presidente................................................................................ 45
Figura 2: Segundo presidente............................................................................... 47
Figura 3: Terceiro presidente................................................................................. 49
Figura 4: Organograma da Coordenadoria Educacional da BSGI........................ 60
Figura 5: Foto da Estrutura da escola................................................................... 67
Figura 6: Foto das atividades em sala de aula..................................................... 69
Figura 7: Foto das atividades artísticas................................................................ 69
Figura 8: Foto das aulas de computação.................................................... 70
Figura 9: Foto das hortas da escola...................................................................... 71
Figura 10: Foto das fantasias e fantoches..............................................................71
Figura 11: Foto do cantinho da leitura................................................................... 72
Figura 12: Foto do playground da escola.............................................................. 72
7
LISTA DE ANEXOS
ANEXO 1: MAPA DA PROPAGAÇÃO DO BUDISMO NA ÁSIA...................... 82
ANEXO 2: DESCRIÇÃO E EXPLANAÇÃO DO CAPÍTULO HOBEN (MEIO)..
83
ANEXO 3: FESTIVAL CULTURAL-ESPORTIVO DA SGI................................
95
ANEXO 4: ORQUESTRA FILARMÔNICA BRASILEIRA DE HUMANISMO
IKEDA (OFBHI)..................................................................................................
96
ANEXO 5: CENTRO DE PESQUISAS ECOLÓGICAS DA AMAZÔNIA
(CEPEAM).......................................................................................................... 97
ANEXO 6: PRAÇA DAISAKU IKEDA...............................................................
98
ANEXO 7: CONVENÇÃO CULTURAL COMEMORATIVA AOS 20 ANOS
DO PONTO PRIMORDIAL DO KOSSEN-RUFU DA AMAZÔNIA....................
99
ANEXO 8: APRESENTAÇÃO DA BANDA MASCULINA................................. 101
ANEXO 9: PRAÇA TSUNESSABURO MAKIGUTI – CURITIBA...................... 102
ANEXO 10: BUSTO DO PROFESSOR TSUNESSABURO MAKIGUTI...........
103
ANEXO 11: JOGOS DA AMIZADE...................................................................
104
ANEXO 12: ELEVANDO OS IDEAIS DE PAZ DA BSGI NA SOCIEDADE......
105
ANEXO 13: COORDENADORIA EDUCACIONAL DA BSGI, (SÃO PAULO)..
106
ANEXO 14: PROJETO MAKIGUTI EM AÇÃO.................................................. 107
ANEXO 15: QUADRO COMPARATIVO DAS PROPOSTAS............................ 110
ANEXO 16: PESQUISAS................................................................................... 111
ANEXO 17: DEPOIMENTOS.............................................................................
113
ANEXO 18: FORMATURA DO CURSO DE ALFABETIZAÇÃO....................... 114
ANEXO 19: ENTREVISTA COM A COORDENADORA GERAL DA
COORDENADORIA EDUCACIONAL................................................................ 115
8
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO........................................................................................................10
2 A TRAJETÓRIA HISTÓRICA DO BUDISMO...................................................... 12
2.1 Expansão do Budismo..................................................................................... 22
2.2 Princípios do Budismo.................................................................................... 24
2.3 Correntes Budistas Mais Conhecidas............................................................ 27
2.3.1 Zen Budismo (Meditação)..............................................................................28
2.3.2 Budismo Tibetano (Lamaísmo)………………………………………………… 29
2.3.3 Vajrayana (Budismo Tântrico-Tantrismo)....................................................30
2.3.3 Terra Pura (Campo Puro)...............................................................................30
2.3.4 Theravada (Ensinamento dos Antigos)........................................................31
2.3.5 Kadanpa (Baseado no Ensino da “Mente de Despertar”)......................... 31
2.3.6 O Budismo de Nitiren Daishonin.................................................................. 31
3 BUDISMO DE NITIREN DAISHONIN.................................................................. 33
3.1 A Vida de Nitiren Daishonin............................................................................ 33
3.2 Princípios do Budismo de Nitiren Dashonin.................................................. 36
3.2.1 Kossen-rufu (Paz Mundial)........................................................................... 37
3.2.2 Jikkai (Os Dez Estados da Vida)................................................................. 37
3.2.3 Kyoti Myogo (Fusão da Realidade e Sabedoria)........................................ 38
3.2.4 Shin-gyo-gaku (Fé, Prática e Estudo)...........................................................38
3.2.5 Sansho Shima (Três Obstáculos e Quatro Maldades)............................... 39
2.3.6 Sanrui no Goteki (Três Poderosos Inimigos)............................................. 39
2.3.7 Lei de Causa e Efeito.................................................................................... 41
2.3.8 Itai Doshin..................................................................................................... 41
2.3.9 Hendoku Iyaku (Transformação do Veneno em Remédio)....................... 42
3.2.10 Shitei Funi (Unicidade entre Mestre e Discípulo).................................... 42
3.2.11 Jitai Kensho (A Manifestação da Sabedoria e Individualidade)............. 42
3.2.12 Bonno Soku Bodai (Desejos Mundanos são Iluminação)...................... 43
3.2.13 Tenju Kyoju (Amenizando o Efeito Cármico)........................................... 43
3.2.14 Eisho Funi (Unicidade da Vida e seu Ambiente)..................................... 43
9
3.2.15 Itinen Sanzen (Princípio de Três Mil Mundos num Único Momento
da Vida).................................................................................................................
44
3.2.16 Revolução Humana..................................................................................... 44
3.3 História da Soka Gakkai (Sociedade de Criação de Valores)...................... 45
3.3.1 Primeiro Presidente: Tsunessaburo Makiguti............................................ 45
3.3.2 Segundo Presidente: Jossei Toda.............................................................. 47
3.3.3 Terceiro Presidente: Daisaku Ikeda............................................................ 49
3.4 A História da Associação Brasil Soka Gakkai Internacional – BSGI.......... 51
3.4.1 Principais Atividades Desenvolvidas pela BSGI....................................... 54
3.4.2 Atuação da BSGI na Área Educacional....................................................... 55
4 SISTEMA EDUCACIONAL SOKA....................................................................... 57
4.1 Atuação da Coordenadoria de Educação da BSGI....................................... 58
4.2 Princípios do Sistema Educacional Soka...................................................... 59
4.2.1 Curso de Alfabetização para Jovens e Adultos......................................... 61
4.2.2 Departamento de Pesquisa e Desenvolvimento das Ciências da
Educação............................................................................................................... 63
4.2.3 Projeto Makiguti em Ação............................................................................ 64
4.2.4 Escola Soka................................................................................................... 66
4.3 Atividades Curriculares da Escola Soka........................................................ 68
4.3.1 Ambientes Interativos................................................................................... 70
4.3.2 Depoimentos dos Pais................................................................................. 73
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................. 77
REFERÊNCIAS....................................................................................................... 80
ANEXOS.................................................................................................................. 81
10
1 INTRODUÇÃO
Desde cedo recebi, por meio de minha mãe, que era profundamente
espiritualista, as idéias de caridade e amor ao próximo e de meu pai, que era ateu e
marxista, sendo perseguido e preso pela ditadura militar, a visão de igualdade,
necessidade de uma melhor distribuição de renda, dos porquês das injustiças
sociais, da exploração do homem pelo homem, da importância da organização das
classes e muitas histórias de lutas. Tudo foi fazendo parte da construção do meu
ser.
Esta visão, com suas contradições ajudou a formar minha personalidade e
opinião sobre diversos aspectos da sociedade humana. No entanto, acredito que
muito ainda vou aprender e ensinar durante a minha vida, pois é por meio da
educação que poderemos melhorar a sociedade formando indivíduos conscientes,
que não fechem os olhos diante das injustiças, que sejam críticos, atuantes e lutem
por melhor qualidade de vida e procurem serem felizes.
Desta forma, baseada na educação que tive de meus pais e também por
pertencer ao Budismo de Nitiren Daishonin que tem como princípio Paz, Cultura e
Educação e como missão promover a paz mundial, é que se deu a escolha do tema
“Escola Soka: Educação para a Criação de Valores”. Diante desta escolha definiramse como objetivos: descrever as teorias e ideais humanísticos do professor Makiguti
sobre a educação e estabelecer um paralelo entre a educação em ação deste
professor e a educação nas escolas de hoje em geral.
Conheci o Budismo de Nitiren Daishonin por meio de meu filho Gustavo
George, que já era praticante do Budismo, no dia 13 de outubro de 1999. A partir
deste dia, passei a praticar e a estudar o Budismo de Nitiren Daishonin, vindo a me
tornar membro da BSGI (Associação Brasil Soka Gakkai Internacional) no dia 13 de
janeiro de 2001. Estudando os impressos, revistas e livros comecei a me identificar
cada vez mais com os ideais de paz e humanismo e transformação da sociedade por
meio da revolução humana.
Com certo tempo de prática, pude observar o quanto eu estava mudando
interiormente e em conseqüência o meu ambiente (familiar e profissional) também
mudava. Começava a entender a Lei de Causa e Efeito e outros princípios do
Budismo de Nitiren Daishonin. Depois tive a oportunidade de conhecer as idéias do
11
professor Makiguti, o fundador da Sokka Kyoiku Gakkai (Sociedade Educacional de
Criação de Valores) e pedagogo budista que nos deixou uma obra extensa e
profunda sobre a educação humanística. Esta educação tem como único objetivo
criar valores humanos, acreditando que para o estabelecimento de uma sociedade
mais humanista, que preserve a paz e proporcione o bem estar das pessoas é
essencial que haja um sistema educacional voltado para a valorização do ser
humano.
Esse modelo educacional seria para Makiguti a chave para resolver os
muitos problemas enfrentados pelo mundo atual, pois segundo ele este é o maior de
todos os empreendimentos. Neste sentido, esta pesquisa é aplicada, sendo, no que
se refere à abordagem do problema, bibliográfica, pois busquei materiais de estudos
e pesquisas para poder apresentar aqueles que desejam conhecer os ideais, os
pensamentos e o trabalho desta organização, desde a Educação Infantil até a
universidade. Chamo a atenção para uma mudança no modo de ver a educação,
com um novo paradigma que considera a sociedade como um processo que serve a
educação por toda a vida e não o seu inverso.
O presente trabalho está organizado em três capítulos. No primeiro
apresenta-se a trajetória histórica do Budismo, abordando a sua expansão no
mundo e seus princípios, além das correntes budistas mais conhecidas. Já o
segundo capítulo versa sobre o Budismo de Nitiren Daishonin, relata fatos da vida
do fundador dessa corrente e seus princípios. Por último, o terceiro capítulo, discute
o sistema educacional Soka no Brasil, a partir do relato das experiências
desenvolvidas pela Coordenadoria Educacional da BSGI e pela Escola Soka.
Para a realização deste trabalho, foi de fundamental importância, o apoio
da BSGI na disponibilidade de documentos importantes sobre as experiências
educacionais realizadas aqui no Brasil.
12
2 A TRAJETÓRIA HISTÓRICA DO BUDISMO
Budismo é o nome que se dá aos ensinos do Buda1 Sakyamuni, o
fundador histórico do Budismo. Há uma profunda sabedoria no inesgotável
manancial do Budismo e extrair essa sabedoria significa revitalizar a vida humana.
A história do surgimento da Índia, berço da filosofia budista, remonta aos
3000 a.C. com o desenvolvimento das civilizações Harrape e Morrenjo Daro, às
margens do rio Indo. A invasão desta região, cerca de mil anos depois, por povos
arianos do Cáucaso determinou profundas modificações provocando o aparecimento
de diversos “reinos” independentes, com seus dialetos e etnias próprias.
2
O reino de Sakya era governado pelo rajá Shuddhodana Gautama, casado
com sua prima, Maya-Devi Gautami Shuddhodana. Os Sakyas constituíam
uma pequena comunidade cujo reino localizava-se próximo à fronteira da
Índia, ao sul do Nepal Central. A capital dessa localidade se chamava
Kapilavatsu. É nesse reino, nas colinas ao sopé do Himalaia que nasceu
como príncipe o primeiro Buda, que deriva da raiz sânscrita buddhi e
significa “completa compreensão ou iluminação”. Foi chamado de
Siddharta (desejo satisfeito) Gautama (melhor vaca) que era o nome da
família. Acredita-se que os Sakyas tinham vida politicamente dependente
de Kosala, que fazia parte dos “dezesseis grandes Estados” da Índia
antiga. Ao sul ficava Maghada, também um dos dezesseis grandes
Estados. Consta nas escrituras budistas que Sakyamuni (o desperto, o
sábio dos sakyas) nasceu nos Jardins de Lumbini, onde hoje se situa a
cidade de Paderia, ao sul do Nepal. A localização de Lumbini foi
comprovada historicamente por um dos Editos do Pilar do Rei Asoka,
descoberto nessa área por A. Fürer, em 1986 (SANTOS, 2003, p.10).
Com relação à data de nascimento de Sakyamuni, as opiniões dos
autores divergem e não se chega a uma conclusão definida. As duas opiniões que
prevalecem atualmente são de que Sakyamuni viveu de 560 a 480 a.C. ou de 460 a
380 a.C. Ambas coincidem com a tradição de que o Buda viveu 80 anos. Acredita-se
que Sakyamuni nasceu em algum tempo no século V ou VI a.C. Não existem
registros detalhados do período da vida de Sakyamuni que vai da infância à
juventude. Segundo Santos (2003, p. 10) “conforme a tradição budista, sua mãe
Maya morreu no sétimo dia após seu nascimento e ele foi criado por sua tia
Mahaprajapati Gautama. Ele cresceu e se casou com Jasodhara (respeitável dama),
1
Buda é aquele que percebe a natureza iluminada da vida e que conduzem outros a atingir essa
mesma condição. A natureza de Buda é inerente a todos os seres e é caracterizada pela sabedoria,
coragem, benevolência e energia vital.
2
Rajá significa monarca, soberano, príncipe reinante.
13
com quem teve um filho, Rahula”.
Na juventude, Sakyamuni viveu na riqueza como príncipe. Dotado de
inteligência e de sensibilidade aguçadas, refletia constantemente sobre o significado
da vida e do mundo, procurando a verdade eterna. Possuía uma natureza
profundamente introspectiva e, talvez por isso, tenha renunciado a sua vida luxuosa
para seguir as austeridades religiosas submetendo-se a uma disciplina rigorosa por
acreditar que o caminho da iluminação estaria no desapego aos desejos mundanos
que seriam a causa dos sofrimentos da vida. Pode-se dizer que os motivos que o
levaram a renunciar à vida secular estejam ligados à verdadeira essência do
budismo.
Estes motivos aparecem na história dos Quatro Encontros:
Consta que esses encontros aconteceram em quatro ocasiões diferentes,
quando o jovem príncipe saiu do palácio, em Kapilavatsu, para dar um
passeio. Saindo pelo portão do leste para o primeiro passeio, encontrou um
homem enfraquecido pela idade avançada. Saindo pelo portão sul, num
segundo passeio, viu uma pessoa doente. No terceiro passeio, ao sair pelo
portão do oeste defrontou-se com um cadáver e, finalmente, saindo pelo
portão do norte, encontrou um asceta religioso. Supõe-se que esses
encontros foram decisivos para sua determinação de renunciar ao mundo
secular (SANTOS, 2003, p. 13).
Essa história talvez não passe de lenda, porém mostra que Sakyamuni,
mesmo jovem, interessava-se pelos assuntos que se relacionavam com o mundo
interior do ser humano e a natureza do sofrimento. O homem idoso, o doente, o
cadáver representam os problemas do envelhecimento, da doença e da morte,
que, ao lado do nascimento ou da própria vida, são chamados de quatro
sofrimentos – os problemas fundamentais da existência humana. Esses
sofrimentos são inerentes à própria vida e assim, eternamente estão fora do
alcance da tecnologia e do poder da ciência para solucioná-los, ainda que a
civilização progrida. Em resumo, o motivo que levou Sakyamuni a renunciar ao
mundo foi para solucionar as quatro questões universais do nascimento,
envelhecimento, doença e morte. Sakyamuni abandonou sua posição social de
príncipe, com todas as honras e glórias, e partiu em busca da verdade. Ao iniciar
a vida religiosa:
Viajou em direção ao sul e chegou a Rajagriha, capital do reino de Magadha,
onde encontrou seu primeiro mestre, Alara Kalama. Sakyamuni logo atingiu o
mesmo estágio que seu mestre, porém, não ficou satisfeito. Seguiu um outro
mestre Uddaka Ramaputta, tornando-se mestre na forma de meditação que o
mestre lhe ensinara, mas continuava insatisfeito (SANTOS, 2003, p. 13).
14
Sakyamuni abandonou os dois mestres da meditação e passou para a
prática de austeridades que consistiam na suspensão temporária da respiração,
jejum, controle da mente e outras práticas. Sua finalidade era fortificar a vontade e
atingir emancipação com a mortificação do corpo, chegando ao limite da morte para
finalmente vencer o sofrimento. Ele continuou com as práticas ascéticas durante seis
anos, ultrapassando os outros ascetas, os quais ficaram muito impressionados.
Entretanto, ele rejeitou essas práticas, pois não conseguiu encontrar o que buscava.
Recuperando as energias e o corpo enfraquecido seguiu em direção a uma árvore
Pippala (denominada de Assattha ou Asenvattha), perto de Gaya. Sob essa árvore,
ficou sentado e entrou em meditação e, finalmente, atingiu a iluminação tornando-se
o Buda ou o “Iluminado”. Segundo algumas fontes ele estava com trinta a trinta e
cinco anos nessa ocasião.
Segundo Santos (2003, p. 14) “o local onde Sakyamuni esteve sentado
em meditação passou a se chamar Buddahagaya (agora chamado Bodhgaya) em
homenagem a sua iluminação. A árvore Assattha passou a se chamar árvore Bodhi”.
Cinco semanas após sua iluminação, Sakyamuni permaneceu sentado sob a árvore
Bodhi e outras árvores nas imediações, envoltas pela alegria da emancipação.
Imaginemos por um momento seu íntimo, no momento em que se sentou
sob a árvore Bodhi. Sakyamuni após recuperar a força física, entrou em meditação.
A meditação é uma tentativa de ir além do nível comum da consciência que produz
os dois conceitos opostos do sujeito e do objeto e de entrar nas profundezas do
domínio e da consciência. Sakyamuni provavelmente atingiu os domínios da
inconsciência e, finalmente, deve ter experimentado o momento em que seu próprio
eu fundiu-se com a vida cósmica.
Nas primeiras fases da meditação, conforme registrado, ele estava
consciente de sua mente estar cercada pelas paredes externas de seu corpo e
também por seu ambiente externo. Ele estava ainda consciente da distinção entre o
“eu” e o “objeto”. À medida que sua meditação prosseguia, ele provavelmente atingiu
as profundezas de sua mente. No fim do processo da meditação ele deve ter
entrado no imenso oceano da vida em que todas as diferenças entre o corpo e a
mente, o “eu” e o ambiente, são totalmente eliminadas. Compreendeu então a
verdade eterna de que o ritmo da vida cósmica mantém, em essência, seu próprio
ser e todos os fenômenos. Diante dos olhos iluminados de Sakyamuni, a relação
mútua de todas as coisas havia sido revelada.
15
Apesar do júbilo, sentia-se preocupado com o pensamento de que sua
iluminação à Lei da vida fosse de difícil compreensão e vacilava se deveria ou não
tentar ensinar aos outros os que havia atingido. Nessa hora, o Deus celestial Bonten
(Brahma) apareceu e pediu a Sakyamuni para ensinar sua iluminação às pessoas e
ele finalmente concordou. A história da aparição é considerada como a
representação do conflito íntimo de Sakyamuni quanto a ensinar ou não a Lei.
Depois que atingiu a iluminação acredita-se que Sakyamuni afirmou que
simplesmente despertou para uma Lei que existe desde o infinito passado e que
outros Budas tinham atingido a iluminação para esta mesma verdade antes dele.
Entretanto, uma vez que ele é o primeiro Buda conhecido neste mundo, é
considerado como o fundador histórico do budismo.
Sakyamuni despertou para a Lei da vida que permeia o universo, a
natureza, o ser humano e todos os outros fenômenos. Aqui, “Lei” significa uma
verdade ou princípio eterno. Sakyamuni iluminou-se para verdade de que todo o
universo é uma entidade e que nada existe a parte da Lei da vida.
Segundo Santos (2003) Sakyamuni levantou-se de seu lugar, de
meditação. Pensou, primeiro em empregar a Lei a seus dois primeiros mestres,
porém os dois já haviam morrido. Em seguida pensou em ensinar também aos cinco
monges que com ele haviam praticado ascetismo. Mas eles haviam se afastado
pensando que ele havia desistido de buscar a verdade, e foram para o Parque do
Gamo (Atual Sarnath), perto de Baranasi (Benares), onde continuaram as
austeridades. Esse local era também chamado de Rishi – patana ou “O local onde
os Eremitas se reúnem”.
Sakyamuni seguiu para o parque do Gamo, decidido a ensinar a Lei aos
cinco monges, no entanto quando o viram estes decidiram ignorá-lo. Entretanto,
quando ele se aproximou os monges ficaram impressionados com sua dignidade e
ouviram sua pregação. Este foi o primeiro sermão de Sakyamuni, que é conhecido
como “Colocando em movimento a roda da Lei”. Kaundinya foi o primeiro a
compreender as palavras de Sakyamuni e imediatamente tornou-se seu discípulo.
Os demais monges também compreenderam logo seu ensino e se converteram.
Conforme Santos (2003, p. 15) “nessa época o Samgha ou a Ordem Budista se
16
formou e os Três Tesouros do Buda3, da Lei e da Ordem Budista (Sacerdócio) foram
estabelecidos”.
Depois voltou para Baranasi, onde converteu Yasha, filho de um homem
muito rico e cerca de mais sessenta pessoas também se tornaram discípulas. De lá,
retornou ao local de sua iluminação em Buddhagaya, onde converteu mais três
irmãos que eram líderes entre os ascetas brâmanes. Com a conversão destes três
líderes, seus seguidores já eram mais de mil pessoas. Sakyamuni seguiu para
Rajagriha acompanhado de milhares de seguidores, onde o Rei Bimbisara também
convertido ao budismo construiu o mosteiro Bosque de Bambu e doou-o a
Sakyamuni. Foi neste local que conquistou os seus discípulos mais importantes,
Shariputra (Sharihotsu, em japonês) e Maudgalyayana. Segundo Maria de Lourdes
Santos (2003, p. 16), “foi em Rajagriha que Sharihotsu e o Maudgalyayana, que os
dois converteram-se aos ensinos do Buda”.
Durante os 45 ou 50 anos, desde que atingiu a iluminação até sua morte,
Sakyamuni continuou a viajar pela Índia e a se propagar ativamente seus ensinos.
As cidades em que ele concentrou mais esforços foram Rajagriha onde permaneceu
por períodos mais longos e expôs a maior parte de seus ensinos. Naturalmente
Sakyamuni acabou levando seu ensino para sua terra natal, Kapilavastu.
Depois disso, Sakyamuni seguiu para uma aldeia nos arredores de
Vaishali, onde realizou seu último retiro da temporada de chuva. Durante esse retiro,
Sakyamuni adoeceu seriamente e sofreu dores violentas.
Recuperando a saúde partiu de Vaishali e continuou sua pregação em
muitas aldeias. Em um local denominado Malla, adoeceu novamente. Consta que
sua doença foi acompanhada de diarréia e hemorragia intestinal. Apesar da dor, ele
continuou sua jornada e em Kushinagara (atual Kasia), num bosque de árvores sal,
nos arredores da cidade, Sakyamuni calmamente deitou-se sobre seu lado direito,
com a cabeça voltada para o norte, disse suas últimas palavras e faleceu. Quando
estava próximo de seu fim, no bosque de árvores sal, Sakyamuni deixou aos seus
discípulos as instruções referentes à ordem. Ele disse: “Não devem pensar que as
palavras de seu mestre não existem, nem tampouco que perderam seu mestre. Os
ensinos e preceitos que lhes ensinei serão seu mestre” (Ibidem, p. 19). Dessa forma,
ele explicou que, em vez de depender de uma pessoa específica como líder, seus
3
Três Tesouros do Buda é um dos ensinos mais importantes do Budismo, que se divide em: Tesouro
do Buda, que é o próprio Buda; Tesouro da Lei, que significa os ensinos expostos pelo Buda; Tesouro
do Sacerdote representa um grupo de pessoas que herdam o espírito do Buda.
17
discípulos deveriam confiar na Lei como líder.
Além desta, Sakyamuni ainda proferiu mais uma afirmação famosa para a
ordem budista: “Portanto, vocês devem ser suas próprias lâmpadas. Tomem a si
próprios como refúgio. Não busquem refúgio fora de si mesmos. Segurem firme a Lei
como uma lâmpada e não busquem refúgio em nada além de si próprios [...] As suas
últimas palavras de Sakyamuni foram: A morte é inerente a todas as coisas
compostas. Busquem a salvação com dedicação” (2003, p. 20).
Após a morte de Sakyamuni, seus discípulos se defrontaram inicialmente
com a tarefa de compilar, sem nenhum erro, os ensinos que o Buda havia exposto
pelo período aproximado de 45 a 50 anos de maneira que pudessem ser
transmitidos às gerações futuras. Este trabalho era importante no sentido de manter
o desejo de Sakyamuni de que seus ensinos e preceitos se tornassem o mestre de
cada um, após sua morte.
O Primeiro Conselho para a compilação dos ensinos do Buda aconteceu no
local denominado, Gruta das Sete Folhas, perto de Dafagriha, capital do
estado de Magadha, na Índia Oriental. Esse conselho se realizou três
meses após a morte do Buda e dele participaram 500 monjes.
Mahakashyapa presidiu a conferência. Ananda foi escolhido para reatar os
ensinos do Buda por que ele acompanhou Sakyamuni por um longo
período e, como seu auxiliar pessoal, havia ouvido mais de que qualquer
outro discípulo a respeito de seus ensinos. Upali foi escolhido devido a sua
fama como “o mais notável na disciplina”, denominando a fundo as regras e
os regulamentos, quando interrogado por Mahakashyapa sobre o local e o
que Sakyamuni havia pregado, Ananda costumava dizer, “Assim eu ouvi: O
Buda certa vez em [...]” (SANTOS, 2003, p. 26).
É por este motivo que todos os sutras iniciam-se com a frase “Assim eu
ouvi” e dizem que ela se origina da recitação de Ananda. Sakyamuni despertou para
a Lei da vida eterna que permeia o Universo. Assim, ele se tornou Buda. Por meio
dessa iluminação, ele foi capaz de solucionar a questão sobre o qual meditara por
longo tempo: os quatro sofrimentos do nascimento, envelhecimento, doença e morte.
Ao mesmo tempo, esta solução abriu um caminho para livrar todas as pessoas
desses sofrimentos básicos.
Talvez o budismo seja a única entre todas as grandes religiões que não
clama pela revelação divina. Mais propriamente é o ensino de um ser humano que,
com seu próprio esforço, despertou para a Lei da vida existente dentro de si mesmo,
a palavra “Buda” significa “aquele que despertou” ou um ser que se “iluminou” para a
verdade. Era um nome muito comum usado na Índia nos dias de Sakyamuni. Esse é
18
um ponto muito importante no sentido em que a iluminação não é considerada como
algo exclusivo de uma única pessoa, o budismo reconhece a existência de outros
Budas além de Sakyamuni. Por esta razão, quando se fala de Sakyamuni, ele é
freqüentemente chamado de Buda Gautama, usando o nome de sua família.
Sakyamuni significa o “Sábio dos Sakyas”.
O esforço do Grande Conselho foi de criar uma unidade da doutrina, mas
alguns discípulos não compareceram ao encontro e outros, mesmo participando do
conselho, manifestaram que seguiriam os ensinos tais como eles próprios haviam
ouvido e interpretado por meio do contato direto com Sakyamuni. Assim, desde essa
época o budismo já foi propagado em diferentes vertentes.
Em aproximadamente 300 anos a.C., cem anos depois do primeiro
conselho, a diferença de interpretação dos ensinos já era grande e nem um novo
conselho foi realizado para tentar unificar as opiniões. Mas as divergências não
foram vencidas.
A Ordem Budista dividiu-se em duas vertentes: Theravada ou
“Ensinamentos dos Anciões” e Mahasanghika ou “Membros da Grande
Ordem”. A primeira com princípios conservadores e a segunda como a
vertente progressista onde um número muito maior de monges ingressou.
Essa divisão originou-se das controvérsias em torno dos Dez Preceitos e
as cinco novas opiniões. Nessa época, por volta do século III a.C. a
propagação do budismo experimentou um avanço notável graças ao apoio
de um rei chamado Asoka. Dentre suas medidas, apoiar a Ordem,
construindo mosteiros e financiando seus esforços (SANTOS, 2003, p. 2728).
Entretanto, os ensinos budistas ficaram praticamente confinados a
esses locais e os monges declinavam-se as práticas pessoais e a sistematização
das doutrinas. A interpretação inflexível dos ensinamentos acabou fazendo com
que as pessoas considerassem Sakyamuni o único Buda, cuja iluminação não
estava ao alcance dos mortais comuns.
Quanto às divergências das duas vertentes, a escola Theravada4, acredita
representar o budismo em sua forma original. De acordo com os ensinamentos do
Buda, enfatiza a salvação individual por meio da meditação. Como não existe
nenhum deus para redimir o homem do ciclo dos renascimentos ela ressalta que o
indivíduo deve salvar a si mesmo. Assim podemos dizer que o budismo Theravada é
uma religião de auto-redenção.
4
Theravada: Escolas das antigas.
19
Já o budismo Mahayana5 surgiu em oposição a esse tipo de interpretação
e basicamente como um movimento de leigos budistas e não de monges. Mahayana
seu nome reflete a crença, predominante no Budismo do Norte da Ásia, de que é
possível levar todas as pessoas a redenção. O budismo Theravada é chamado de
Hinayana6, já que levam apenas alguns (os monges) a salvação.
No intuito de restabelecer o espírito original do budismo, os seguidores do
Mahayana produziram uma série de escrituras. Comparados aos áridos textos do
budismo Abhidharma, muitas dessas escrituras mahayanas são extremamente
poéticas e expressam simbolicamente a lei da vida que Sakyamuni compreendeu.
Todas essas escrituras tinham a forma de discursos do Buda dirigidos aos
bodhisattvas e monges.
Considerando que as escolas tradicionais compilaram os princípios e as
regras que o histórico Buda Gautama havia exposto, as escrituras mahayanas
visavam a expressar a verdade eterna ou a Lei da vida que permeava todo o ser do
Buda Gautama. Os adeptos do Mahayana procuraram fazer com que as pessoas
dessa época compreendessem facilmente essas escrituras. É por isso que o Buda
que aparece nas escrituras mahayanas é freqüentemente descrito como um ser
transcendental e ideal. Essas características ideais visavam a simbolizar a grandeza
da verdade que o Buda compreendeu e não descrever o personagem histórico que
ele foi. Sem compreensão deste ponto, podemos perder de vista o verdadeiro
significado das escrituras mahayanas.
Este movimento tomou um grande impulso e seus adeptos chamaram
este novo movimento de Mahayana, esforçando-se para voltar ao espírito original de
Sakyamuni, utilizaram como veículo a produção de uma série de escrituras. O
grande veículo refere-se aos ensinamentos do Buda que conduzem as pessoas do
mundo da ilusão ao mundo da iluminação. Conseqüentemente, a palavra
“Mahayana” significa o ensino que conduz todas as pessoas ao estado de Buda. As
escrituras Mahayana são inúmeras e de diversos tipos.
Sakyamuni não deixou registros de seus ensinos, pois foram transmitidos
oralmente para seus discípulos. Dentre todos os seus ensinos, os Vinte e Oito
capítulos do Sutra de Lótus são os mais importantes. De acordo com estudos
modernos, os ensinamentos do Mahayana foram compilados durante um período de
5
6
Mahayana: O grande veículo.
Hinayana: O pequeno veículo.
20
quase mil anos, desde o primeiro século a.C. até os séculos VIII e IX da era cristã.
O Sutra de Lótus contém a manifestação da iluminação de Sakyamuni em
toda a sua plenitude – a Lei da vida - e harmoniza com êxito as escolas tradicionais
com o Budismo mahayana. Os compiladores do Sutra de Lótus segundo todas as
probabilidades, explicaram a iluminação da forma mais acessível possível para a
compreensão de seus contemporâneos e à luz das condições vigentes no budismo
dessa época.
Este sutra tem sido respeitado desde os tempos antigos como o sutra que
Sakyamuni expôs a fim de realizar a finalidade do seu advento neste mundo e esse
respeito era natural devido ao seu conteúdo. A primeira metade tem a forma de
pregação do Buda histórico que veio realmente a este mundo. A segunda metade é
explanada pelo Buda original que se desfaz de sua identidade transitória como um
Buda histórico e revela sua verdadeira identidade como o Buda que atingiu a
iluminação num passado remoto.
A primeira metade é conhecida como o ensino teórico e a última metade,
como o ensino essencial. O capítulo mais importante do ensino teórico é o segundo
ou o capítulo Hoben7. Neste capítulo, Sakyamuni declara que agora explicará a
verdadeira finalidade dos ensinos provisórios. Mais tarde ele declara que a fé nesse
verdadeiro ensino conduzirá todas as pessoas ao estado de Buda. O ensino teórico
define a Lei da vida teoricamente como princípio da “verdadeira identidade de todos
os fenômenos” ao passo que no ensino essencial ela é representada de forma
dinâmica como a própria vida do Buda do passado remoto. Juntos, os ensinos
teórico e essencial expressam a iluminação de Sakyamuni numa forma quase que
completa. É por essa razão que o Sutra de Lótus é considerado o mais importante
entre os sutras mahayanas. O Sutra de Lótus enfatiza sua propagação nos Últimos
Dias da Lei8, também chamados de “últimos temerosos anos”, são a denominação
da época em que os ensinamentos de Sakyamuni perdem seu poder de salvação e
não podem mais conduzir as pessoas à iluminação. Aqueles que compilaram o Sutra
de Lótus estavam sem dúvida, bem cientes disso, conforme consta em outras
escrituras mahayanas. Todavia, eles continuam enfatizando continuamente a
necessidade de propagar o Sutra de Lótus, os ensinos de Sakyamuni na época em
que perderão sua validade.
7
8
Hoben: significa Meio ou Caminho, que leva a iluminação.
Últimos Dias da Lei significa período de aproximadamente 1000 anos após a morte de Sakyamuni.
21
Essa contradição aparente, passível de ser discutida, é na verdade uma
implicação sutil de que o Sutra de Lótus, ao mesmo tempo em que contém a mais
completa revelação da iluminação de Sakyamuni à Lei da vida, não seja a própria
Lei. Somente quando se torna consciente de algo além da própria limitação é que se
percebe que estas limitações existem.
E neste aspecto os ensinos de Nitiren Daishonin, o qual vamos conhecer
posteriormente, afirmem que o Sutra de Lótus encerra a existência da Lei Última9
que supera o próprio Sutra. E essa é a Lei que fora confiada aos Bodhisattvas da
Terra10, como consta no capítulo Jinriki (Os poderes Místicos do Buda) para que
fosse propagada nos Últimos Dias da Lei. Nesse sentido podemos dizer que o Sutra
de Lótus prediz a necessidade do aparecimento de um budismo novo e poderoso
nos Últimos Dias da Lei.
De qualquer maneira, Nitiren Daishonin apareceu nos Últimos Dias, época
em que os ensinos de Sakyamuni perdem seu poder. E, conforme veremos
posteriormente, Nitiren estabeleceu o budismo para as pessoas dos Últimos Dias na
condição de Buda do Nam-myoho-rengue-kyo, que ele ensinou como a Lei implícita
no Sutra de Lótus. Até aqui resumimos a história do budismo pelo período de uns
cinco ou seis séculos após a morte de Sakyamuni. Vimos que os sutras budistas não
foram anotados pelo próprio Sakyamuni, mas compilados por seus discípulos mais
próximos e registrados por seus seguidores. Os sutras eram o fruto de seus esforços
para revelar a iluminação de Sakyamuni de acordo com as necessidades de sua
respectiva época e sociedade.
Entretanto, não podemos menosprezar os sutras como sem valor por
terem sido escritos por outros budistas e não pelo próprio Sakyamuni. Na realidade a
doutrina de todos os sutras foram originariamente abarcadas pela iluminação de
Sakyamuni e por seus ensinos das escolas Hinayana, do Mahayana Provisório e do
Sutra de Lótus que harmoniza os dois primeiros. O que existe desde o início tomou
forma concreta de acordo com a necessidade da época, da sociedade e das
pessoas. Essas formas e expressões são os sutras. Expressando de uma maneira
um tanto quanto difícil, a verdade absoluta ou Lei da vida que permeia o universo e
os seres vivos manifestou-se, por intermédio dos budistas, nos domínios relativos da
época, da sociedade e dos seres humanos.
9
Lei Última significa Myoho-rengue-Kyo.
Bodhisattvas da Terra são aqueles que recitam e propagam o Nam-Myoho-Rengue-Kyo.
10
22
A doutrina do ensino essencial é baseada no 16º capítulo Juryo11. Este
capítulo, juntamente com o capítulo Hoben (Meios) do ensino teórico, é o mais
importante do Sutra de Lótus. O capítulo Juryo afirma que todas as pessoas pensam
que o Buda Sakyamuni atingiu a iluminação em Buddhagaya; entretanto, na
verdade, ele atingiu o estado de Buda num passado inimaginavelmente distante e
desde então tem sido Buda (Em anexo).
Além disso, ele tem estado nesse mundo e continuado a ensinar as
pessoas, aparecendo como diversos budas. Esse Buda que atingiu a iluminação no
remoto passado é denominado Buda verdadeiro ou original. Ele simboliza a Lei da
vida eterna e universal com base nos ensinos do Buda histórico.
2.1 Expansão do Budismo
O budismo mais conservador, cuja principal escola foi a Theravada,
expandiu-se para o Ceilão (atual Sri Lanka) e depois para o sudeste da
Ásia. Em contrapartida, o Mahayana avançou em direção ao norte. Em
comparação aos áridos textos do abhidharma produzidos pela escola
Theravada, as obras do Mahayana, são poéticas e expressam
simbolicamente a Lei da vida que Sakyamuni compreendeu. Todas essas
escrituras tinham a forma de discursos do Buda dirigidas aos
12
bodhisattvas e monges. As escrituras Mahayana são inúmeras e de
diversos tipos. Seus textos foram confeccionados ao longo de vários
séculos enquanto o budismo propagava-se da Índia para os países da Ásia
Central (China, Japão, Mongólia, Tibet, Coréia e Vietnã) (SANTOS, 2003,
p. 36).
Os ensinos budistas difundiram-se amplamente para os reinos da Ásia
Central, que ocupavam a região que hoje corresponde a países como o Paquistão, o
Afeganistão e o Irã. Seus textos sofreram influências dos dialetos locais, sendo que
muitos termos incorporados aos sutras13 tiveram origem nesses reinos (Anexo 1).
Ao longo de vários séculos, uma corrente budista chegou a Déria e a
Grécia, ao passo que a outra avançou em direção a China. Os dialetos
falados na Índia e nos países da Ásia Central possuíam semelhanças, o
que facilitou a tradução e difusão das obras budistas. No entanto, o Chinês,
era completamente diferente desses idiomas, dificultando muito a
transmissão dos ensinos para esse país, a começar pelo fato de os
primeiros possuírem uma base fonética, enquanto o idioma chinês
baseava-se em ideogramas (MAKIGUTI, 2002, p. 9).
11
Juryo: significa Revelação da Vida Eterna do Buda.
Bodhissattvas: Aquele que devota sua vida para ajudar os outros.
13
Sutras: São escrituras sagradas contendo os ensinamentos de Sakyamuni.
12
23
Além disso, embora decadente, o confucionismo era a principal religião da
China, o que fez com que governo e uma grande parte do povo Chinês mantivesse
restrições à introdução do budismo no país.
Soma-se a isso o fato de que a Índia e a China estavam separadas pelo
Himalaia, a cadeia de montanhas mais alta do mundo, fazendo com que os
ensinos avançassem primeiramente para o noroeste da Índia, chegando à
Ásia Central, e depois retornando o movimento em direção ao leste,
chegando à China e, posteriormente, a Coréia e ao Japão (MAKIGUTI, 2002,
p. 9).
O trajeto obrigava os monges e outras pessoas dispostas a levar o
budismo à China a cruzarem imensas zonas desérticas e muitos sucumbiram à
travessia. Esse percurso coincidia em parte com o chamado “Caminho da Seda”,
pelo qual os mercadores levavam produtos chineses, como a seda, para o Oriente e
de lá traziam jóias e pedras preciosas. No caso dos mercadores, a viagem
compunha-se de idas e vindas, ao passo que para os monges budistas tratava-se de
um caminho sem volta, pois seu objetivo era levar o ensino de Sakyamuni o mais
longe possível, fixando moradia nos novos países.
No início, os esforços anônimos dessas pessoas foram cruciais para que
o budismo chegasse à China. Sem dispor de estudos apropriados, muito menos de
dicionários, provavelmente recorriam a gestos para tentar expressar a profundidade
dos ensinos budistas. Foi um processo que durou séculos e atingiu principalmente o
povo em geral.
Somente entre os séculos V e VI com os esforços de tradutores famosos
como Kumorafiva, Parametha, Hseian-trang e Pu-k’ung, conhecidos como
“os quatro grandes monges tradutores das escrituras”, a tradução das
obras budistas atingiu seu ápice, sendo amplamente divulgadas
(MAKIGUTI, 2002, p. 9).
Tanto o budismo Mahayana quanto o Hinayana chegaram à China,
embora em épocas distintas e por caminhos diferentes. Assim não fica difícil
entender porque existiam tantas escolas nesse país. Diante da diversidade de
escolas e doutrinas, os chineses viram-se obrigadas a estudar e sistematizar tantas
correntes diferentes, ocasionando uma nova evolução do budismo.
Um
dos
principais
responsáveis
por
essa
reinterpretação
dos
ensinamentos foi o monge chinês Tient’ai, cuja obra deu uma nova vida a forma
como a doutrina budista foi exposta. Era o nascimento da escola Tendai, que
influenciou profundamente o budismo de Nitiren Daishonin.
24
O budismo chegou ao Japão no século VI d.C. No início, encontrou
resistência devido à religião tradicional do país, o xintoísmo, mas com o tempo
ganhou aceitação. Diversas escolas instalaram-se no país, dentre elas a Tendai,
trazida por Dengyo no século IX d.C. Entretanto, os ensinamentos budistas foram se
distanciando de sua essência. Algumas escolas isolavam-se do povo e seus ensinos
eram praticados por uma elite. Outras pregavam ensinos místicos e obscuros ou
postulavam a existência da felicidade somente numa terra pós-morte.
2.2 Princípios do Budismo
O budismo tem muitos conceitos como: as doutrinas do renascimento, do
14
carma
e da salvação. Para Buda, um ponto de partida óbvio é que o ser humano é
escravizado por uma série de renascimentos. Como todas as ações tem
conseqüência, o princípio propulsor por traz do ciclo nascimento – morte –
renascimento são os pensamentos, suas palavras e seus atos (carma). Também nós
podemos passar pela experiência de ver que certas coisas que pensamos ou
fizemos em determinada época da vida nos afetam mais tarde. Podemos sentir que
nosso passado nos alcançou. É essa mesma idéia que percorre do budismo. Os
orientais vêem essa relação como algo estritamente regulado e que se estende de
uma vida à outra. O tipo de vida em que o indivíduo vai renascer depende de suas
ações em vidas anteriores. O homem colhe aquilo que plantou, não existe “destino
cego” nem “divina providência”, o resultado é automaticamente das ações. Portanto,
é tão impossível fugir de seu carma quanto escapar de sua própria sombra.
Enquanto o ser humano tiver um carma, ele está fadado a renascer.
Num aspecto importante, os ensinamentos do Buda são diferentes do
consenso indiano em geral. O hinduísmo acredita que o homem tem uma alma
individual eterna (alma), a qual sobrevive de uma existência para outra. Assim como
uma pessoa descarta suas roupas e velhas e gastas, a alma vai revestindo de outros
corpos, sempre renovados. É a alma do homem – seu “eu” mais íntimo – que está
acorrentada a reencarnação. A alma do homem também é considerada idêntica,
14
Carma (Karma) em sânscrito significa literalmente “ação”. O Carma é formado de três maneiras:
pelo pensamento, palavras e ações.
25
total ou parcialmente, ao espírito universal (Brahaman).
Buda sempre rompe radicalmente com essa doutrina ao negar que o ser
humano tenha alma e ao rejeitar a existência de um espírito universal. De acordo
com o budismo, a alma é tão fugaz como tudo o mais neste mundo. O fato de um
homem achar que é um “eu”, ou uma alma, baseia-se na ignorância, e essa
ignorância tem conseqüências graves uma vez que promove o desejo, e é o desejo,
que cria o carma do indivíduo.
O Budismo vê a vida humana como uma série ininterrupta de processos
mentais e físicos que alteram o homem de momento a momento. É como as
imagens numa tela de cinema: movendo-se muito depressa e não conseguimos
perceber que o filme é “artificial”, que não é algo “único”. Na realidade, o filme é a
zona das imagens individuais – ou de uma série de instantes.
De nada mais posso dizer: “Isto é meu’”, ensinava Buda, e de nada posso
dizer: “isto sou eu”. Ambas as coisas são ilusões. Não há um núcleo da
personalidade, não existe ego. Tudo é constituído de fatores existenciais
impessoais que formam combinações fadadas a decair. Tudo é transitório.
(JESTEIN et al, 2000, p. 35).
Quando Buda fez o sermão de Benares, depois de experimentar sua
iluminação debaixo da figueira, apresentou nobres verdades. A primeira verdade
determina que a existência como um todo é manchada pelo sofrimento, pois
tudo é passageiro. A pessoa que não consegue perceber que o mundo, do ponto
de vista do ser humano, é inadequado, é uma pessoa cega. Mas isso não significa
que o budismo negue toda felicidade material e mental. Ele reconhece que existe
alegria tanto na família como no mosteiro. Todavia, tudo aquilo que amamos e a que
nos apegamos simplesmente não vai durar.
Na segunda nobre verdade, Buda afirma que o sofrimento é causado
pelo desejo do ser humano. Como a ausência do desejo nunca pode ser
plenamente saciada, ela sempre irá acarretar um sentimento de desprazer.
Enquanto ele se apegar à vida – e continuar acreditando que tem uma alma – irá
perceber o mundo como sofrimento. O budismo também rejeita o extremo oposto. O
desejo de anulação – ou o desejo de morrer – igualmente amarra o ser humano a
existência. Pois pressupõe que o ser humano tem uma alma que pode ser eliminada
e não leva em consideração o carma, que impõe o nascimento. Tirar a própria vida
não irá libertar a pessoa do eterno ciclo.
26
A terceira é que o sofrimento pode ser levado ao fim, quando o
desejo cessa. E quando o desejo cessa, começa o nirvana. Um pré-requisito
necessário para suprimir o desejo é que a ignorância do homem deve ser
enfrentada, pois ela é causadora do desejo. Assim só o homem que não enxerga
sente desejo. Para que o “círculo vicioso” ou “corrente da causalidade” seja rompido,
o homem deve atacar a raiz do problema: sua própria ignorância.
A quarta nobre verdade afirma que o homem pode ser libertado do
sofrimento e do renascimento, seguindo o caminho das oito vias. Com base em
sua própria experiência, Buda acreditava que o homem deve evitar os extremos da
vida. Não se deve excluir nem o prazer extravagante, nem a autonegação
exagerada. Ambos acorrentam o homem ao mundo e assim, à “roda da vida”. O
caminho para dar fim ao sofrimento é o “caminho do meio, e Buda o descreveu em
oito partes: (1) perfeita compreensão; (2) perfeita aspiração; (3) perfeita fala; (4)
perfeita conduta; (5) perfeito meio de subsistência; (6) perfeito esforço; (7) perfeita
atenção; (8) perfeita contemplação". (Ibidem, p. 57).
Perfeita compreensão e perfeita aspiração: O homem deve construir
sua compreensão sobre como o mundo funciona e compreender as verdades acerca
do sofrimento.
Perfeita fala, perfeita conduta e perfeito meio de subsistência: Esses
pontos estabelecem a ética do budismo, seu código moral. Perfeita fala significa que
o homem deve se abster de contar mentiras, fazer intrigas e ter conversas vazias.
Deve falar de um modo verdadeiro, amigável e carinhoso. Perfeita conduta significa
seguir mandamentos que se aplicam a todos os budistas: Não roubar, não matar
nenhum ser vivo, não mentir, não ser sexualmente promíscuo e outros. Estudar a
doutrina e disseminá-la também faz parte da perfeita conduta. Perfeito meio de
subsistência é que se deve escolher um trabalho que não contrarie os
mandamentos.
Perfeito esforço, perfeita atenção e perfeita contemplação: Esses três
pontos finais se relacionam com a maneira como o ser humano pode melhorar a si
mesmo e purificar sua mente. Perfeita atenção é um precursor do último item. A
autocontemplação é o meio pelo qual o budista alcança pleno controle sobre o corpo
e a mente.
27
2.3 Correntes Budistas Mais Conhecidas
O budismo originou-se na Índia e foi introduzido na China a cerca de 500
anos após a morte de Sakyamuni. Durante esses 500 anos propagou-se pela Índia,
passando por consideráveis processos e mudanças doutrinárias. Após sua
introdução na China, continuou a se expandir na Índia independentemente do
budismo na China.
O grande mestre Tient’ai da China classificou as escrituras budistas
baseando-se na ligação entre o Buda e as pessoas. Tient’ai ao ler as descrições nas
escrituras sobre os diálogos entre o Buda e seus discípulos e ainda sobre as
orientações dadas a eles, pode discernir nessas condições um processo que ele
compreendeu por ter levado 50 anos da luta de pregação de Sakyamuni. Mais
especificamente ele notou que a iluminação do Buda nunca mudou, ao passo em
que as palavras que ele usou para expressá-la mudaram de acordo com a
capacidade das pessoas. As orientações do Buda faziam com que a capacidade de
compreensão das pessoas progredisse e, assim, os ensinos tornaram-se
gradativamente mais profundos. Tient’ai definiu o Sutra de Lótus como o mais
importante entre todos os sutras de Sakyamuni, cerca de 80 mil ao todo. Tient’ai fez
um exame teórico dos ensinos expostos no Sutra de Lótus. No Maka Shikan15 ele
expressou a essência da iluminação de Sakyamuni revelada no Sutra de Lótus como
o princípio de Itinen Sanzen16.
Ele estabeleceu também um método de prática que os mortais comuns
pudessem atingir a mesma iluminação. O Maka Shikan é considerado como o
propósito do advento de Tient’ai neste mundo e a cristalização de seus ensinos
baseados no Sutra de Lótus. Itinen Sanzen significa que cada instante da vida
contêm os três mil mundos. Itinen indica momento da vida e Sanzen, os fenômenos
que se manifestam nesses momentos. O conceito de Três Mil Mundos, apesar de
parecer complicado em sua essência indica que todos os fenômenos estão divididos
em Três Mil categorias, isso representa as infinitas formas e aspectos existentes e
diferentes do universo. A teoria de Itinen Sanzen afirma que todos os fenômenos do
universo estão contidos em um único momento da vida de um mortal comum. Em
15
Maka Shikan significa grande concentração e discernimento. É uma das escrituras mais
importantes do mestre Tient’ai sobre o Sutra de Lótus.
16
Itinen Sanzen significa Três Mil Mundos em um Único Momento da Vida.
28
outras palavras, o universo inteiro está condensado na vida de cada indivíduo e essa
vida exerce sua influência no universo.
Como já vimos a ordem budista dividiu-se em duas vertentes: Theravada
ou ensinamento dos anciões e Mahasanghira ou membros da Grande Ordem. Essa
cisão, juntamente com um conceito budista chamado Zuihobini17 é a origem das
diversas vertentes do budismo que existem hoje e que conheceremos a seguir.
2.3.1 Zen Budismo (Meditação)
Aproximadamente mil anos depois de o budismo ter surgido na Índia,
Bodhidarma18 levou os ensinamentos budistas da Índia para a China. Lá a filosofia
ficou conhecida como Ch’an. O Ch’an foi levado para o Japão no século XII pelo
mestre Eisai (1141-1215) e passou a ser chamando de Zen. Em 1824, Eisai
construiu o primeiro templo Japonês, chamado Shofuku-ji, que existe até hoje. A
partir daí, o Zen19 ficou muito popular entre a classe dos samurais, que já
dominavam o poder.
Eles sentiam necessidade de preparar-se espiritualmente para saber lidar
com os momentos de maior conflito, e assim, buscavam apoio em alguma filosofia
que lhes transmitissem calma e serenidade.
Em 1272, o mestre Dogen chega ao Japão para divulgar a Sato Zen Shu,
uma das escolas do Zen budismo japonês. Dogen era muito admirado
pelos Zen budistas japoneses. Ele escreveu uma verdadeira enciclopédia
sobre o Zen, intitulada Shobogenzo (o verdadeiro olho do Dharma).
(QUALIDADE DE VIDA ESPECIAL BUDISMO, 2004, p. 12).
Seus poemas escritos são lidos e estudados até hoje pelos praticantes do
Zen budismo. O mestre sempre afirmou que tanto mulheres quanto homens eram
igualmente capazes de realizar o caminho de Buda e tem um papel fundamental na
expansão da filosofia Zen entre a população japonesa. Para se ter uma idéia do
quanto à filosofia se tornou popular, o Zen exerce influência até mesmo na cultura
nacional do país, como nos jardins, na caligrafia, na arte do chá e na pintura. O Zen
17
Zuihobini permite que a religião seja adaptada aos costumes da região em que se prega.
Bodhidarma é o 28º patriarca da região da Índia.
19
Zen vem de Dhyana em sânscrito que quer dizer meditação.
18
29
é a forma de budismo mais conhecida e praticada no Japão, e mais que uma religião
ou seita é uma filosofia vivencial e uma das tradições do budismo Mahayana. Nesta
seita, o maior intuito é a libertação da vontade, dos pensamentos que fazem da vida
um martírio maior do que já é, a aceitação dos problemas que não podem ser
mudados, e, sobretudo, a opção para uma vida simples, em que as coisas fluam
naturalmente.
2.3.2 Budismo Tibetano (Lamaísmo)
Há cerca de 2300 anos um povo de tradições militares se fixou num vale
chamado Yarlung, situado na cordilheira do Hymalaya, que se eleva a 3000 metros
do nível do mar.
A reputação do povo de Kangechen (Terra das Neves) foi a de bárbaros
até o século VI, quando o imperador Songzen Gampo promoveu um processo de
transformação cultural, substituindo a civilização militar – imperialista num Tibet mais
pacífico. Em campanhas na China e na Índia, Songzen recebeu as primeiras
informações do budismo. Interessado pela doutrina resolveu enviar estudantes para
a Índia, onde aprenderam sânscrito e traduziram diversas obras budistas para a
língua tibetana. Desde então, a filosofia budista consolidou fortes alicerces na
cultura tibetana, a ponto do preceito de não-violência ser mantido firmemente
mesmo durante a conquista do país pelo imperador Mongol Klubhai Kahn.
Tendzin Gyatso é o 14° Dalai Lama e atual líder do budismo tibetano,
nasceu em seis de julho de 1935, na região de Ambos, no leste do Tibet. Assumiu o
posto em 17 de novembro de 1950 e viveu um dos momentos políticos mais intensos
da história do Tibet: a ocupação chinesa, a partir de 1951.
Algumas características externas mais aparentes do budismo tibetano são
as rodas de oração e as bandeiras de oração - objetos que contém diversas orações
e fórmulas escritas. Quando a roda de oração gira impulsionada ou pela mão de
alguém ou impulsionada pelo vento ou pela correnteza de uma cachoeira ou a
bandeira tremula ao vento, ela põe em movimento a roda do ensinamento20. O
20
Roda do Ensinamento significa por em movimento os ensino do Buda.
30
mantra21 mais comum no budismo tibetano é Om Manipadme Hum, que significa
“Seja louvada a jóia do Lótus”. Essa fórmula é encontrada por toda a parte no Tibet:
nas rodas de oração, nas paredes, nas rochas e naturalmente nos lábios das
pessoas.
Se tivéssemos que definir o budismo Tibetano em uma única frase, essa
seria uma das boas opções. A busca pela paz, harmonia entre mente e espírito e
felicidade absoluta.
2.3.3 Vajrayana (Budismo Tântrico-Tantrismo)
O ensinamento tântrico é capaz de nos instruir sobre as razões e
conseqüências inevitáveis da crise espiritual, esclarecendo os aspectos positivos.
A energia é, na verdade, a palavra mestra do ensino preconizado pelos Tantras.
O Tantrismo propõe-se a despertar essa energia e elevá-la a seu mais
alto grau de intensidade a fim de superá-la e dominá-la. O tantrismo não ignora os
impulsos sexuais, ao contrário, ele os enaltece e os proclama como a mais bela
expressão da energia divina. É a única espiritualidade indispensável a toda liberação
interior da união do homem e da mulher, sem provocar lutas entre os sexos,
rivalidade e grosseria, baseando-se na realização de uma complementaridade
indestrutível, essencial.
Predomina no Tibet, Nepal, Butão, Mongólia e norte da Índia. Suas
práticas enfatizam o uso da visualização, recitação e meditação.
2.3.4 Terra Pura (Campo Puro)
Também está entre as principais tradições do budismo Mahayana e
possui as escolas mais populares do extremo oriente. O foco das suas práticas é a
recitação do nome de Amitaba, o Buda da Vida e Luz Infinitas.
Na China, o budismo Terra Pura se fundiu com a escola Chan. No Japão,
21
Mantra significa fórmula mágica ou enunciação sagrada.
31
está presente com as escolas Jodo e Jodo Shin.
2.3.5 Theravada (Ensinamento dos Antigos)
Tradição budista mais antiga presente nos dias de hoje. Seus
ensinamentos de meditação se baseiam numa grande coleção de textos escritos em
páli22. É predominante nos países do sul e sudeste asiático.
2.3.6 Kadanpa (Baseado no Ensino da “Mente de Despertar”)
Escola budista Mahayana que divulgou amplamente a prática da
meditação no mundo moderno. Baseia-se nos ensinamentos da bodhichitta23, que
enfatizam o treinamento da mente para aceitar as situações difíceis da vida.
Recentemente, surgiu na Grã-Bretanha uma seita denominada “Nova Tradição
Kadanpa”.
2.3.7 O Budismo de Nitiren Daishonin
Entre as inúmeras escrituras Mahayanas o Sutra de Lótus é considerado
como mais importante por revelar a iluminação de Sakyamuni em sua plenitude. A
superioridade do Sutra de Lótus sobre todos os outros sutras encontra-se na
declaração de que todas as pessoas podem tornar-se budas como Sakyamuni, e em
sua filosofia, que proporciona uma explicação teórica para essa possibilidade. (Em
anexo)
Porém, cinco ou seis séculos após a morte de Sakyamuni, esse ensino
perdeu completamente a força. Foi Nitiren Daishonin (1222–1282) quem revitalizou o
22
23
Páli é um antigo idioma indiano.
Bodhichitta significa mente de despertar.
32
ensino do Sutra de Lótus e fez muito mais ainda revelando a sua essência, ou seja,
a Lei universal de Nan-myoho-rengue-kyo24, e inscrevendo o Gohonzon25 como
objeto de devoção. Assim, Daishonin estabeleceu uma forma prática e acessível a
todas as pessoas, de seus dias e do futuro, possibilitando-as atingir a mesma
condição de vida iluminada que ele.
Como no caso de outras religiões, o budismo pregado por Daishonin
dependeu da propagação para ser perpetuado e é sobre esse tipo de vertente
budista que vamos nos aprofundar no próximo capítulo do presente trabalho.
24
Nan-myoho-rengue-kyo é o nome dado à Lei do Universo, a essência de todos os fenômenos.
Gohonzon é o supremo objeto de devoção do Budismo de Nitiren Daishonin. Honzon significa
“objeto de respeito fundamental” e Go “digno de honra”.
25
33
3 BUDISMO DE NITIREN DAISHONIN
Pelo fato de haver uma série bastante extensa de ensinos Budistas é
necessário apresentar alguns aspectos importantes. O Objetivo deste capítulo é
oferecer esse direcionamento pelo qual se pode obter uma compreensão ampla da
expressão máxima dos ensinos Budistas – os ensinos de Nitiren Daishonin.
A essência do Budismo de Nitiren Daishonin, assim como os fundamentos
contidos no Sutra de Lótus, encontram-se no fato de que todas as pessoas podem
indistintamente alcançar a iluminação. Trata-se da mais elevada filosofia
humanística de respeito à dignidade da vida, que considera a existência da natureza
do Buda inerente em todas as pessoas, seja quem for. A Soka Gakkai e a SGI
promovem de forma concreta na sociedade atual as mais diversas atividades
embasadas nessa filosofia humanística, objetivando a felicidade das pessoas e a
paz mundial.
3.1 A Vida de Nitiren Daishonin
Nitiren Daishonin nasceu em 16 de fevereiro de 1222, na vila Kominato,
Província de Awa, na atual Província de Tiba. Ao contrário de Sakiamuni, que foi
filho de rei, os pais de Nitiren Daishonin eram pescadores. Naquela época, os
pescadores e caçadores era desprezados porque sua sobrevivência envolvia tirar a
vida. As circunstâncias de seu nascimento são muito significativas, pois indica o
princípio budista da igualdade máxima de todas as pessoas, independentemente de
sua posição social ou de outros critérios superficiais. Segundo Maria de Lourdes
Santos “Ele recebeu o nome de Zenniti-maro e viveu na vila de pescadores até
1233, quando, aos doze anos26 deixou o lar para estudar os budismo e outros
ensinos seculares em um templo próximo onde morava Seityo” (SANTOS, 2004, p.
17-18). Em seus estudos, percebeu várias contradições entre os ensinos budistas e
como Buda também se determinou a encontrar uma resposta para os problemas da
26
Dose anos: de acordo com o tradicional sistema japonês de cálculo de idade, o bebê, quando
nasce, já tem um ano de idade, acrescentando-se um ano a sua idade a cada dia de Ano-Novo.
Assim quando Nitiren Daishonin entrou para o templo, ele tinha na verdade apenas onze anos.
34
transitoriedade da vida humana, com a qual estava profundamente preocupado.
Nessa época orava diante de uma estatua do Bodhisattiva Kokuzo27
consagrada no templo Seityo para se tornar o homem mais sábio do Japão. Graças
a essas orações, obteve uma “jóia da saberia” que posteriormente possibilitou-lhe
compreender a essência de todos os sutras.
Após muito estudo e contemplação, compreendeu a natureza da
realidade máxima da vida e do Universo, considerando seu despertar como ponto de
partida, determinou prosseguir nos estudos para apresentar suas idéias de forma
sistemática.
Em 1237, tornou-se sacerdote Budista e adotou o nome de Zensho-bo
Rentyo. Em 1242, após ter passado alguns anos em Kamakura28 para dar
prosseguimento aos seus estudos, retornou para o templo Seityo. Sentindo uma
urgente necessidade de continuar os estudos, no mesmo ano partiu para Quioto e
Nara29. Permaneceu ali até 1253, quando sentiu ter descoberto o que buscava havia
tanto tempo: provas documentais irrefutáveis de que as doutrinas de várias seitas
não se baseiam de fato nos ensinos do fundador do budismo e que os verdadeiros
ensinos do budismo são encontrados apenas no Sutra de Lótus.
Retornando ao templo Seityo, convicto de que havia chegado a época de
revelar suas descobertas aos outros, Nitiren recitou o Nam-Myoho-rengue-kyo pela
primeira vez na manhã de 28 de abril de 1253 – e apresentando dessa forma a toda
a humanidade, a todas as gerações vindouras o caminho direto para a iluminação.
Ele declarou então que nenhum dos ensinos pré-Sutra de Lótus revelavam a
iluminação do Buda e que todas as seitas Budistas que se baseavam nesses
ensinos eram desencaminhadoras. Adotou também o nome Nitiren.
Niti, de Nitiren, significa o sol ou a luz lançada pela sabedoria de Nitiren
Daishonin a todo o mundo para eliminar a obscuridão que aflige a
humanidade. Ren significa Lótus e indica que Nitiren Daishonin apareceu
no mundo corrupto e dominado pela discórdia para fazer com que as belas
e puras flores da sabedoria e da cultura desabrochassem no coração
perturbado de todas as pessoas. Ren também significa a Lei de Causa e
30
Efeito que atua nas profundezas da vida. E faz parte do título do Sutra de
Lótus, Myoho-rengue-kyo (SANTOS, 2004, p. 19).
27
Kokuzo: significa Repositório do Espaço.
Kamakura: Cidade centro do governo japonês na época.
29
Quioto e Nara: Os dois centros do Budismo Tradicional no Japão.
30
Lei de Causa e Efeito: toda causa invariavelmente resulta em um efeito e todo efeito é decorrente
de uma causa. A causa e o efeito não residem em outro lugar a não ser em nossa própria vida. As
próprias é que criam as causa por meio dos seus pensamentos, palavras e ações, as quais se
materializam e resultam em uma vida de infelicidade ou felicidade que é o efeito.
28
35
Tendo fundado o verdadeiro ensino do budismo e iniciado sua
propagação, Daishonin encontrou as mais duras perseguições, tanto das seitas
Budistas populares daquela época como das autoridades governamentais, que
protegiam essas seitas e confiavam em suas orações para que findassem os
contínuos desastres naturais que ocorriam naquele período.
Nitiren Daishonin passou mais de duas décadas ensinando às pessoas
sobre o budismo e advertindo o governo para que os líderes levassem a paz à
nação aceitando os verdadeiros ensinos do Budismo.
Por três vezes Daishonin advertiu os governantes, predizendo crises - uma
quando apresentou a Tese Sobre o Estabelecimento do Ensino Correto
para a Paz da Nação, outras quando foi preso e quase executado em
Tatsunokuti, e uma outra quando retornou de Sado. (MIYASHITO;
TAKEUTI, 2001, p. XLV).
Os clérigos que chefiavam os templos fundados por importantes
autoridades que nessa época já haviam falecido despertaram a ira das mulheres
desses governantes, dizendo que Daishonin em suas cartas de advertência, havia
falado desrespeitosamente de seus maridos, como resultado das maquinações
desses clérigos, uma lista de acusações contra Nitiren foi submetida ao governo.
Esse fato marcou o início da primeira fase de perseguições movidas pelas
autoridades.
Hei no Saemom e seus soldados invadiram a morada de Daishonin.
Embora inocente de todas as acusações, ele foi preso e sentenciado ao exílio na
Ilha de Sado.
Em outubro de 1271, Nitiren Dashonin escoltado por soldados, navegou
pelo mar do Japão ate a Ilha de Sado seu local de exílio. A única pessoa
amiga a acompanhá-lo foi seu fiel discípulo Nikko Shonin. Os dois se
alojaram em uma cabana em ruínas em uma região em que cadáveres de
indigentes e criminosos eram abandonados. Eles estavam desprovidos de
roupas e alimentos e não tinham nada para acender uma fogueira e mantêlos aquecidos. Envoltos em mantos de palha, conseguiram sobreviver ao
primeiro inverno. (MIYASHITO; TAKEUTI, 2001, p. XLIII).
Em fevereiro de 1274, o regente Hojo Tokimune revogou o decreto de
exílio e em 26 de marco dois anos e meio após ter sido exilado, Nitiren Daishonin
retornou a Kamakura. Convencidos que os governantes nunca ouviriam suas
advertências ele deixou Kamakura em 12 de maio de 1274.
Nitiren Daishonin estabeleceu-se numa pequena cabana nos pés do
36
Monte Minobu na Província de Kai. As pessoas que haviam sido convertidas nesse
período começaram a serem molestadas por clérigos e leigos de outras seitas que
posteriormente planejaram com um grupo de guerreiros um ataque a vários
camponeses desarmados que eram recém-convertidos, e os prenderam sobre falsa
acusação de roubo. Vinte dos camponeses foram presos e torturados e três foram
decapitados. Esse incidente ficou conhecido como perseguição de Atsuhara.
Contudo, apesar das ameaças das autoridades os camponeses perseveraram em
sua fé.
Daishonin refutou completamente as doutrinas dos outros religiosos e
derrubou seus argumentos. Sua situação começou a melhorar quando começou a
receber oferecimentos de roupas e alimentos dos habitantes locais a quem havia
convertido a seus ensinos. Entretanto, ele constantemente deparava com a
hostilidade dos clérigos e leigos de outras escolas. Seu tempo era devotado à
propagação e a seus escritos. Nitiren Daishonin convenceu-se então de que a fé de
seus discípulos estava forte o suficiente para arriscarem a vida pela Lei Mística. Isso
o levou a escrever o objeto de devoção para a humanidade em 12 de outubro de
1279 – o Daí-Gohonzon. Muitas de suas mais importantes obras, como O Objeto de
Devoção para a Observação da Mente e Abertura dos Olhos, datam desse período.
Por volta de 61 anos a saúde de Dashonin começou a debilitar. Sentindo
que a morte estava próxima ele designou Nikko Shonin como seu legítimo sucessor.
Três anos depois, na manhã do dia 13 de outubro de 1282, Nitiren Daishonin faleceu
pacificamente, onde hoje se localiza a cidade de Tóquio rodeado por seus discípulos
e seguidores recitando respeitosamente o Nam-myoho-renge-kyo.
3.2 Princípios do Budismo de Nitiren Dashonin
O Budismo de Nitiren nos dá um panorama evidente e profundo da vida
humana por meio da teoria dos “Dez Estados”. Ensina a dignidade da vida, provando
a existência do estado de Buda em cada ser vivo, assim como a presença no Nammyoho-rengue-kyo, cuja recitação é o único meio concreto de fazer aparece a vida
de Buda em cada um.
Nossa vida é determinada pelo sofrimento dos nove primeiros estados, e
37
encadeada pelo ciclo da vida e da morte. Quando recitamos o Daimoku diante do
Gohonzon - que é a concretização do Nam-myoho-rengue-kyo, o próprio princípio
fundamental do Universo é a lei da renovação da vida -, o estado de Buda contido
no Gohonzon purifica a nossa vida, fazendo evidenciar a força vigorosa do nosso
próprio estado de Buda. Alguns desses princípios do Budismo de Nitriren Daishonin
são:
3.2.1 Kossen-rufu (Paz Mundial)
Literalmente, Kossen-rufu significa "declarar e propagar amplamente (o
budismo)". Kossen significa ensinar a filosofia budista a todas as pessoas e rufu
indica ser o budismo bem conhecido e praticado com sinceridade pelas pessoas na
sociedade. O Kossen-rufu é um empreendimento audaz e longo contra as forças
maléficas, o qual é conduzido no palco do mundo real. Se as forças da Lei perderem
a força e o vigor, o poder das forças maléficas aumentará consideravelmente.
Portanto, as pessoas têm de mostrar a prova, em todos os campos de atividades, do
princípio “o que importa no budismo é a vitória ou a derrota”. As pessoas não têm
escolha a não ser conquistar a vitória em todo esforço que empreendermos. É por
isso que a felicidade individual, a prosperidade da sociedade e o amplo
desenvolvimento do Kossen-rufu podem ser construídos somente sobre a base do
triunfo.
3.2.2 Jikkai (Os Dez Estados da Vida)
Os Dez Estados da Vida, também conhecidos por Dez Mundos, compõem
a base da filosofia de vida elucidada pelo budismo. É uma teoria profunda e prática
que esclarece, com simplicidade, as complicadas questões da vida.Os diversos
estados da vida, ou reações da vida que se manifestam em resposta às ações
externas, foram
escalonados
em
dez categorias
básicas: Inferno,
Fome,
Animalidade, Ira, Tranqüilidade, Alegria, Erudição, Absorção, Bodhisattva e Buda.
38
Estes estados não são condições fixas em que uma pessoa terá de viver por toda a
sua existência, mas condições fundamentais que existem em forma latente na vida
de todas as pessoas, sejam budistas ou não. Os Dez Estados da Vida não são
sentimentos meramente emocionais, espirituais ou físicos, esses estados estão
latentes na vida e manifestam-se do interior de uma pessoa como uma reação
imediata e diretamente proporcional às influências externas, negativas ou positivas.
3.2.3 Kyoti Myogo (Fusão da Realidade e Sabedoria)
Na
concepção
convencional,
compreender
algo
e
aquilo
que
compreendemos são considerados fatos isolados. O Budismo analisa de forma
diferente. A meta da prática Budista não é somente “entender” a verdade como um
objeto externo a si próprio, mas também se tornar uma pessoa possuidora desta
verdade. De acordo com a terminologia budista isto é denominado “Kyoti Myogo” – a
fusão de realidade e sabedoria. “Kyo” indica a realidade última como objeto, e “ti” a
sabedoria subjetiva ou visão para alcançar esta verdade; “Myogo” é a fusão
completa dos dois.
3.2.4 Shin-gyo-gaku (Fé, Prática e Estudo)
O princípio budista de "fé, prática e estudo" é a diretriz fundamental que
explica a forma correta de praticar o Budismo de Nitiren Daishonin. A "fé” é o ato de
acreditar nos ensinos de Daishonin como a mais elevada religião desta era dos
Últimos Dias da Lei. A "prática" consiste em praticar corretamente o budismo em
exata conformidade com seus ensinamentos. O "estudo" refere-se ao ato de buscar
o aprendizado dos ensinos budistas. Quando se falha em qualquer um desses três
itens, não é possível desenvolver uma prática correta do Verdadeiro Budismo.
39
3.2.5 Sansho Shima (Três Obstáculos e Quatro Maldades)
Uma categorização de diferentes obstáculos que dificultam a prática do
budismo. Eles estão relacionados no Sutra do Nirvana e no Daitido Ron.Os três
obstáculos (Sansho) são:
1 - Bonno-sho: Obstáculo dos desejos mundanos, ou obstáculos que
provêm dos três venenos da avareza, ira e estupidez.
2 - Go-sho: Obstáculo do carma, ou obstáculo proveniente do mau carma
criado por cometer qualquer um dos cinco pecados capitais ou dez maus atos. Esta
categoria também é interpretada como oposição das esposas ou dos filhos.
3 - Ho-sho: Obstáculo da retribuição ou obstáculo devido à dolorosa
retribuição pela ação dos três maus caminhos. Esta categoria também indica os
obstáculos causados por soberanos, pais ou outras pessoas que exercem algum
tipo de autoridade.
As quatro maldades (Shima) são:
1 - On-ma: A maldade dos cinco componentes, isto é, os impedimentos
causados pelas funções físicas e mentais.
2 - Bonno-ma: Impedimentos dos desejos mundanos que surgem dos três
venenos.
3 - Shi-ma: Impedimentos causados pela morte. Devido ao medo e ao
sofrimento que ela vincula, pode obstruir a prática do budismo.
4 - Tenshi-ma: Esta maldade é comumente manifestada na forma de
opressão por homens de poder.
3.2.6 Sanrui no Goteki (Três Poderosos Inimigos)
Ao se propagar o Sutra de Lótus nos Últimos Dias da Lei (Mappo),
surgem três espécies de poderosos inimigos que perseguem os devotos da
Verdadeira Lei. Conhecidos como "Três Poderosos Inimigos", são os seguintes:
1 - Arrogância e presunção de pessoas que desconhecem o budismo
(Zokusho Zojoman): Manifesta-se nas pessoas comuns que embora desconheçam o
40
budismo, menosprezam, maltratam ou perseguem os seguidores do Verdadeiro
Budismo.
2 - Arrogância e presunção de membros do clero budista (Domon
Zojoman): Manifesta-se nos bonzos que embora tenham muito a aprender sobre o
budismo, vangloriam-se de estarem iluminados para a mais alta verdade e afirmam
ser autoridades no budismo.
3 - Arrogância e presunção daqueles que fingem ser sábios e desfrutam o
respeito do público (Sensho Zojoman): Shukyo no Goko (Cinco Princípios de
Propagação)
Os cinco princípios de propagação foram estabelecidos por Nitiren
Daishonin como base para avaliar os diversos ensinos budistas. Estes são:
1. O Ensino: Significa reconhecer as diferenças entre os diversos ensinos
budistas e discernir do ponto de vista filosófico, qual é o profundo e qual é o
superficial.
2. A Capacidade: Significa a importância em compreender qual é o tipo
de ensino que as pessoas estão buscando e posteriormente reconhecer o ensino
mais apropriado de acordo com a época.
3. A Época: Significa reconhecer a mudança dos tempos e apreciar as
necessidades específicas da época. A história nos mostra que o sucesso depende
se a época é claramente compreendida ou não.
4. O País: Isto se refere ao conhecimento do sistema político, estrutura
social e composição racial do país envolvido. Isto é, no sentido de se obter uma
propagação efetiva os fatores essenciais é fundamental compreender a cultura,
história, língua e costumes desta sociedade. Além disso, uma religião superior
jamais força uma instituição ou organização específica sobre os seus adeptos.
5. A Seqüência de Propagação: Os ensinos iniciais devem ser
compreendidos antes que os ensinos posteriores sejam ensinados. Em outras
palavras, os ensinos provisórios devem ser aceitos antes dos ensinos profundos
serem expostos. Este processo não pode ser negligenciado, pois caso contrário, a
propagação de qualquer religião ou filosofia não pode ser bem sucedida.
Nos dias de hoje, e existência da humanidade está em perigo: conflitos,
contaminação, poluição, assim como o uso indiscriminado dos recursos naturais.
Todos estes fatores são sombras que pairam sobre o futuro da humanidade. O
Budismo de Nitiren Daishonin ilumina a vida de cada indivíduo com uma filosofia que
41
capacita evidenciar a sabedoria inovadora para desfrutar nossas existências. Esta é
a época oportuna para que possamos compreender os cinco princípios da
Propagação, e assim agirmos de acordo com as condições externas visando a
melhor forma de propagar os ensinos expostos pelo Buda Nitiren Daishonin.
3.2.7 Lei de Causa e Efeito
O budismo baseia-se no princípio universal de causa e efeito e da
eternidade da vida que abrange o passado, o presente e o futuro. Portanto, a vida no
presente é o efeito das causas cometidas no passado, e o futuro será o efeito das
causas criadas no presente. O Budismo de Nitiren Daishonin, além de esclarecer a
relação entre o passado e o presente, ensina principalmente o ato de criar causas
positivas no presente para transformar o carma negativo do passado e criar efeitos
positivos no futuro.
3.2.8 Itai Doshin
É o princípio da notável harmonia e unicidade vital pela reforma
construtiva ensinada no Budismo de Nitiren Daishonin. Itai significa vários corpos.
Corpo é a entidade do homem e as relações e interações que ele, exclusivamente
mantém com as múltiplas circunstâncias que o rodeiam. Portanto, Itai é a profunda
variedade das diferenças naturais que existem entre as entidades da vida. Doshin
literalmente significa “de mesma mente”. Entretanto, podemos claramente notar que
“mesma mente” não indica que todas as pessoas têm constantemente o mesmo
pensamento. Representa o desejo comum entre toda a Humanidade. Pela
realização dos ideais compartilhados por todos. Doshim representa um estado em
que todas as pessoas trabalham conjuntamente pela realização de um ideal em
comum.
42
3.2.9 Hendoku Iyaku (Transformação do Veneno em Remédio)
No Budismo de Nitiren Daishonin ‘transformar o veneno em remédio’
significa polir nossas vidas e purificá-las. Isto não significa que devemos extinguir os
desejos ou paixões. Em outras palavras, é possível atingir a iluminação enquanto
permanecemos um mortal comum com desejos mundanos. O veneno representa a
infelicidade e outros acontecimentos negativos em nossas vidas, enquanto que o
remédio significa a felicidade e o aperfeiçoamento. Transformar o veneno em
remédio significa que embora possamos enfrentar a perda, a dor ou a derrota,
porque abraçamos o Gohonzon, está em nossas mãos o poder de mudar o
sofrimento em alegria e boa sorte.
3.2.10 Shitei Funi (Unicidade entre Mestre e Discípulo)
O budismo não escraviza seus adeptos com dogmas pré-concebidos. Ao
contrário, é uma filosofia viva e prática que é transmitida de pessoa à pessoa, de
mestre para discípulo. É dito que os ensinos de um mestre somente podem ser
transmitidos para um discípulo munido de um puro espírito de procura. Se não fosse
desta forma, o budismo não poderia ser compreendido, nem a vida e os ensinos de
um mestre podem fluir continuamente para as novas gerações. Assim, unir-se com o
mestre significa criar ondas de paz com o mesmo espírito exibido por ele.
3.2.11 Jitai Kensho (A Manifestação da Sabedoria e Individualidade)
Jitai Kensho significa evidenciar as características individuais e a
sabedoria através da prática budista. Todos os seres humanos possuem o estado de
Buda, isto significa que todos podem evidenciar o mais elevado estado de vida.
Assim, o princípio de Jitai Kensho demonstra que devemos manifestar o estado de
Buda assim como somos, ou seja, não iremos nos tornar um ser diferente. Para isto,
43
é fundamental que possamos compreender a si mesmos de forma correta, assim
como desenvolver ao máximo, as nossas virtudes. Nitiren ensinou que não
importando o que sejamos, iremos atingir o estado de Buda.
3.2.12 Bonno Soku Bodai (Desejos Mundanos são Iluminação)
A iluminação é interpretada como o caminho, a sabedoria e a realização,
isto é, despertar para a verdade e alcançar a felicidade. Em outras palavras, os
desejos mundanos se transformam em iluminação no momento em que
conseguimos controlar e direcionar os nossos impulsos de forma sábia e concreta e
não quando tentamos meramente extinguí-los.
3.2.13 Tenju Kyoju (Amenizando o Efeito Cármico)
Naturalmente, o processo de mudança do carma não é uma tarefa fácil.
Com certeza, requer um tremendo esforço e no ato de modificar uma tendência
negativa, devemos entrar em contato com a nossa impureza interior para que
possamos transformá-la. Desta forma, as dificuldades surgem como um filtro que
nos possibilita erradicar o carma negativo através da prática da fé. Assim,
sobrepujando estas dificuldades, podemos aperfeiçoar como seres humanos e
alcançarmos um estado de vida de real felicidade. Quando confrontamos com
desafios em nossas vidas, devemos ter a absoluta convicção de que cada
circunstância é uma oportunidade de transformar nosso carma e manifestar o
princípio de amenizar o efeito cármico, sendo que esta prática nos conduz para a
revolução humana.
3.2.14 Eisho Funi (Unicidade da Vida e seu Ambiente)
A vida e seu ambiente, ou, em outros termos, os seres sensíveis e
44
insensíveis, são quase sempre considerados como separados e independentes,
mais no nível fundamental da vida eles são unos e inseparáveis. O princípio da
unicidade da vida e seu ambiente vê a vida como uma entidade total que integra o
ser vivo e seu ambiente. Nitiren Daishonin afirma em “Os Presságios”: “As dez
direções são ‘ambiente’ (eho) e os seres sensíveis são ‘vida’ (shoho). O ambiente é
como a sombra e a vida o corpo. Sem o corpo não pode haver sombra. De maneira
semelhante, sem a vida, o ambiente não existe, embora a vida seja mantida por seu
ambiente”.
3.2.15 Itinen Sanzen (Princípio de Três Mil Mundos num Único Momento Da
Vida)
Nome de um sistema de pensamento desenvolvido por Tien’tai com base
nos princípios da vida expostos por Sakiamuni especialmente os do Sutra de Lótus.
Portanto, Itinem Sanzen é à base da filosofia budista. Itinen indica a entidade da
vida, e Sanzen significa os vários aspectos e fases que ela assume.
3.2.16 Revolução Humana
O objetivo fundamental do Budismo de Nitiren Daishonin é fazer
evidenciar o estado de Buda inerente em nossa vida. O Sutra de Lótus ensina que
cada um de nós possui uma vida tão vasta quanto o universo. Nitiren Daishonin
revelou que o nam-myoho-rengue-kyo é a Grande Lei que possibilita evidenciar o
estado de Buda e assim podemos transformar o veneno dos desejos mundanos no
remédio dá iluminação. Dessa forma, podemos estabelecer uma firme base e viver
de forma suficientemente forte para superar os obstáculos em nossa vida. Este é o
verdadeiro significado de Revolução Humana
Do ponto de vista de Nitriren Daishonin, o Buda (o Gohonzon) de nammyoho-rengue-kyo é a lei fundamental que do surgimento a cem, mil, a dez
mil ou a um milhão de Buda. Portanto, ao recitarmos simplesmente o nam-
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myoho-rengue-kyo obtemos mais benefícios do que conseguiríamos
servindo pessoalmente a muitos budas por meios de árduas austeridades.
O benefício desta única prática equivale ao de um número incalculável de
austeridades realizadas por todos os budas (JOSSEI TODA - Segundo
Presidente da SGI)
3.3 História da Soka Gakkai (Sociedade de Criação de Valores)
Desde seu estabelecimento há 751 anos, não houve uma época em que o
budismo de Nitiren Daishonin tenha florescido de forma tão intensa como nesse
século. E esse extraordinário desenvolvimento se deveu ao surgimento da Soka
Gakkai, uma organização que assumiu pra si a missão de levar a filosofia budista a
todas as pessoas e concretizar a paz mundial conforme o desejo do Buda Original
Nitiren Daishonin. Assim o budismo de Nitiren Daishonin, expandiu-se, hoje, para
190 países e territórios do mundo.
Por possuir essa grandiosa missão, inúmeros obstáculos se antepuseram a
esse movimento, na tentativa de impedir seu avanço. “O espírito de Nitiren
Daishonin está na Soka Gakkai. Ela sofre todos os tipos de perseguições e
ataques enquanto propaga o budismo de Nitiren Daishonin e triunfa a cada
vez, assim como os ensinos de Daishonin asseguram. A Soka Gakkai é uma
verdadeira defensora da justiça (ASSOCIAÇÃO BRASIL, 2000, p. 3)”.
Essa história repleta de desafios e triunfos foi constituída sob a liderança
dos eternos mestres do Kossen-rufu: Tsunessaburo Makiguti, Jossei Toda e Daisaku
Ikeda.
3.3.1 Primeiro Presidente: Tsunessaburo Makiguti
Figura 1: Primeiro presidente
46
Tsunessaburo Makiguti nasceu em 6 de julho de 1871, na atual província
de Niiata. Em sua adolescência, mudou-se sozinho para o norte do Japão, em
Hokkaido, onde se empenhou nos estudos ao mesmo tempo em que trabalhava
para seu próprio sustento.
Após formar-se em pedagogia, Makiguti iniciou sua vida como professor
em uma escola primária e atuou sempre na área educacional. Sua principal área de
interesse era a Geografia, e mais tarde, no ano 1903, já na cidade de Tóquio,
publicou sua primeira obra, a “Geografia da Vida Humana”. Em Tóquio, continuou
atuando na área educacional, exercendo a função de diretor em diversas escolas
primárias.
No ano de 1928, Makiguti converteu-se ao budismo de Nitiren Daishonin,
tendo passado por grandes sofrimentos na vida, ele encontrou no budismo as
respostas para as dúvidas que o atormentavam. No mesmo ano, Jossei Toda que
havia se tornado seu discípulo, também abraçou a filosofia budista.
Em 18 de novembro de 1930, Makiguti publicou a obra “A Teoria do
Sistema Educacional de Criação de Valores”, marcando o nascimento da Soka
Kyoiku Gakkai (Sociedade Educacional de Criação de Valores) a predecessora da
Soka Gakkai. Makiguti era seu presidente e Toda, o diretor geral.
A Soka Kyoiku Gakkai desenvolveu-se então através da promoção das
reuniões de palestras31 e das campanhas de chakubuku32 por todo o Japão,
chegando a alcançar cerca de três mil associados.
Em 1939, irrompeu a Segunda Guerra Mundial e um ano após, o Japão
aliou-se à Alemanha e à Itália. O Governo militarista japonês adorava a Deusa do
Sol do xintoísmo. Assim o governo japonês tentou unificar todas as religiões,
chegando a ponto de encorajar todos os cidadãos a adorarem a Deusa do Sol.
Makiguti opôs-se firmemente ao governo, afirmando que a nação seria destruída se
continuasse a adorar a Deusa do Sol.
Devido a sua postura Makiguti e Toda foram presos em 6 de julho de
1943 e encaminhados para o Centro de Detenção de Sugamo. Makiguti, fraco e
desnutrido faleceu na prisão 18 de novembro de 1944, aos 73 anos.
31
Reuniões de Palestras: É a mais importante e tradicional atividade da Soka Gakkai.
Chakubuku: Um dos métodos de propagação do Budismo de Nitiren Daishonin. Ato de ensinar
filosofia Budista para outras pessoas.
32
47
3.3.2 Segundo Presidente: Jossei Toda
Figura 2: Segundo presidente
Jossei Toda, nasceu em 11 de fevereiro de 1900 na atual província de
Ishikawa. Um pouco após seu nascimento a sua família migrou-se para Hokkaido,
vilarejo de Atsuta, em 1902. Nos estudos, Toda trilhou o caminho da área
educacional, tornando-se professor de escola primária.
Em 1920, o jovem professor Jossei Toda partiu do vilarejo de Atsuta rumo
a Tóquio a fim de seguir a carreira educacional. Nos primeiros meses não conseguiu
vaga na área educacional e teve de trabalhar como office-boy e em serviços
temporários. Em meados de agosto, Toda conheceu Tsunessaburo Makiguti, diretor
da escola primária Nishimati e um homem de idéias ímpares e práticas sobre a
educação e que, por isso, não era muito respeitado pelos conservadores da época.
Ele rogou a Makiguti que o empregasse, prometendo: “Transformarei
mesmo as crianças mais atrasadas em excelentes alunos”. Diante de sua
insistência, Makiguti empregou-o como professor substituto.
Toda percebeu a grandiosidade de Makiguti e tomou-o como seu mestre.
Ele estava com 19 anos e Makiguti com 48 a partir desse dia, dedicaram-se ao
mesmo projeto, compartilhando alegrias e tristezas.
Oito anos depois em 1928, seguindo o seu mestre Tsunessaburo
Makiguti, Toda iniciou a Prática do Budismo de Nitiren Daishonin. Em 1930, junto
com o mestre fundou a Soka Kyoiku Gakkai.
Em 6 de julho de 1943, Toda foi preso pelas autoridades militaristas
japonesas, mas, juntamente com seu mestre, manteve-se firme na prática da fé até
o final. Na prisão mesmo sem saber do falecimento do seu mestre, Jossei Toda lutou
48
arduamente empenhando-se na recitação do Daimoku33 e na leitura do Sutra de
Lótus. Por meio dessa luta, Toda chegou a percepção de que “Buda é a própria
vida”. Essa percepção de Jossei Toda na prisão tornou-se o ponto primordial do
progresso da Soka Gakkai do pós-guerra.
Toda foi libertado em 3 de julho de 1945, um mês antes do cessarfogo.Tóquio estava em ruínas e os membros da Soka Kyoiku Gakkai estavam
dispersos.
Toda estava com 45 anos de idade e com menos de 40 quilos. Antes de
ser aprisionado, tinha quase 70 quilos, estava desnutrido, com tuberculose,
asma, cardiopatia, diabetes, hemorróidas e reumatismo. Além disso,
continuava a sofre de diarréia crônica, doença característica dos
desnutridos. Sua forte miopia reduziu terrivelmente a capacidade visual a
ponto de quase perder umas das vistas (MAKIGUTI, 2001, p. 15).
O nome Soka Kyoiku Gakkai, foi alterado para Soka Gakkai, refletindo a
determinação de Toda de que a nova organização deveria transcender os objetivos
puramente educacionais da sociedade engajando-se de forma mais ativa no campo
da cultura e tendo como objetivo básico à promoção da paz mundial.
Em 1947, Toda conheceu o jovem Daisaku Ikeda em uma tradicional
atividade da organização, a reunião de palestra. Daisaku estava com 19 anos e
buscava uma verdadeira filosofia de vida. Impressionado com Toda, decidiu
converter-se ao budismo e tornou-se seu discípulo.
Em três de maio de 1951, Toda se tornou o segundo presidente da Soka
Gakkai. Ele viveu num ritmo alucinante a fim de reconstruir a Soka Gakkai. Edificou
organizações de base, realizou reuniões de palestras por todas as partes do Japão,
orientou os membros, fez visitas as famílias e fundou as Divisões: Feminina,
Feminina de Jovens e Masculina de Jovens. Em 1957 o número de associados
ultrapassou 765 mil famílias.
No dia 8 de setembro daquele ano foi realizado um festival esportivo pela
Divisão dos Jovens denominado “Festival da Juventude”. Nessa ocasião Jossei
Toda proferiu sua famosa “Declaração pela Abolição das Armas Nucleares” para as
50 mil pessoas presentes no Estádio Esportivo de Mitsuzawa e a deixou como
principal testamento para os jovens. Em 16 de março de 1958, ele liderou pela última
vez uma atividade. Essa data ficou conhecida como o “Dia do kossen-rufu”, ocasião
da transmissão da tarefa de realizar a paz mundial à Divisão dos Jovens mais
33
Daimoku: É o nome dado à recitação do Nam-myoho-rengue-kyo.
49
precisamente a Daisaku Ikeda.
Duas semanas depois, no dia 2 de abril de 1958, Jossei Toda encerrou
sua nobre existência aos 58 anos de idade, após concluir todos os seus
empreendimentos.
3.3.3 Terceiro Presidente: Daisaku Ikeda
Figura 3: Terceiro presidente
Daisaku Ikeda nasceu em Tóquio no dia 2 de janeiro de 1928, desde sua
infância vivenciou os horrores da guerra, seja pelos constantes ataques aéreos onde
morava, pela perda de seu irmão em meio às batalhas ou pela tristeza de sua mãe
pela perda do filho. Assim, após o término da guerra leu e estudou inúmeras obras
literárias e filosóficas em busca de uma visão correta da vida.
Em 14 de agosto de 1947, participou pela primeira vez de uma reunião de
palestra de Soka Gakkai onde conheceu Jossei Toda que se tornaria seu mestre da
vida. Impressionado com a personalidade de Toda, Ikeda converteu-se ao Budismo
de Nitiren Daishonin tornando-se membro da Soka Gakkai em 24 de agosto de
1947.
Daisaku Ikeda exerceu diversas funções das mais desafiadoras e da mais
alta responsabilidade em todos os cantos da organização, correspondendo
plenamente às expectativas do seu mestre Jossei Toda.
Em 3 de julho de 1957, chegou a ser preso injustamente durante duas
semanas pela polícia de Osaka sobre a falsa acusação de fraude eleitoral. O
processo judicial referente a este acontecimento, conhecido como Incidente de
50
Osaka, arrastou-se até janeiro de 1962, quando a justiça Japonesa declarou sua
total inocência no caso.
Após o falecimento do segundo presidente Jossei Toda, Ikeda tornou-se,
na prática, o principal líder para a promoção das atividades da Gakkai. Assim, no dia
3 de maio de 1960, tomou a posse como Terceiro Presidente da Soka Gakkai, com
apenas 32 anos de idade.
Em dois de outubro de 1960, logo após a posse, o Presidente Ikeda para
a propagação mundial do Budismo de Nitiren Daishonin, partindo para sua primeira
viagem rumo ao Estados Unidos, ao Brasil e Canadá. Naquela ocasião, no dia 19 de
outubro de 1960, o Presidente Ikeda fundou o Distrito Brasil, o primeiro a ser criado
fora do Japão, e que se tornou à origem da BSGI34 dos dias de hoje.
Como terceiro presidente, ele transpôs inúmeras barreiras, venceu todas
elas e concretizou os desejos de seu mestre, edificando uma organização forte que
se orgulha de sua rica história.
Como organização que promove a Paz, Cultura e Educação com base no
budismo, o presidente Ikeda fundou entre outras, a Associação Musical Mim-On, o
Instituto de Pesquisa de Filosofia Oriental e as Escolas Soka, abrangendo desde a
pré-escola até a universidade.
Em 26 de janeiro de 1975, foi fundada na Ilha de Guam, a Soka Gakkai
Internacional (SGI), com a presença dos representantes de 51 países e territórios do
mundo. Daisaku Ikeda tornou-se então o Presidente da SGI. Assumiu em seu lugar a
presidência da Soka Gakkai no Japão Hirosh Hojo e atualmente Einosuke Akiya
encontra-se a liderança da organização no Japão.
Entre algumas das ações da Soka Gakkai Internacional em conjunto com
a ONU destacam-se auxílio a refugiados, realização de exposições como a mostra
“Armas Nucleares: Uma Ameaça ao Nosso Mundo”, vista por mais de 1,2 milhão de
pessoas em 25 cidades de 16 paises, e a “Mostra Internacional de Livros Didáticos”
que atraiu um público de 2,7 milhões de pessoas em 135 localidades do Japão. Em
1988, a Divisão Educacional da Soka Gakkai promoveu a exposição “Desenhos das
Crianças do Mundo”, com o apoio da Unesco, e reuniu mais de 5 mil trabalhos
artísticos de crianças de 108 países, entre outras atividades conjuntas. Promoveu
também grandes eventos culturais e esportivos em vários paises do mundo (Anexo
3).
34
BSGI: Associação Brasil Soka Gakkai Internacional.
51
3.4 A História da Associação Brasil Soka Gakkai Internacional - BSGI
Em 1960, após tomar posse como terceiro presidente da Soka Gakkai,
Daisaku Ikeda rumou para São Paulo no dia 18 de outubro.
Suas condições de saúde eram precárias e foram agravadas pelo
desgaste causado pelas constantes viagens. Embora aconselhado pelos membros
da comitiva a não prosseguir, o presidente Ikeda manteve a determinação de
concretizar sua visita ao Brasil mesmo ao custo da própria vida. Em seu peito, ardia
o ideal de plantar a semente da Lei Mística em nosso país, alimentando suas
esperanças de ver florescer aqui o centro das atividades na América do sul. Com
esse objetivo, planejou fundar o primeiro distrito em terras brasileiras e fortalecer a
união e a prática da fé entre os companheiros que aqui viviam.
Embora a fundação do primeiro distrito no Brasil tivesse sido realizada no
dia seguinte, o dia 19 de outubro, data da chegada do presidente Ikeda no Brasil, é
considerada a data fundação da BSGI.
Uma reunião com palestra foi o palco para a fundação do primeiro distrito,
no salão do Restaurante Chá Flora, em São Paulo. O presidente Ikeda direcionou a
atividade para que pudesse dialogar com os companheiros, esclarecendo suas
dúvidas e incentivando-os calorosamente.
A BSGI teve início como uma organização em que a maioria de seus
membros era compostas por descendentes de japoneses, muitos deles mal
conhecendo a língua portuguesa. Era natural, portanto, que desconhecessem a
situação política que passava o país. Em 22 de dezembro de 1962, chega ao Brasil
Roberto Saito para assumir a função de coordenador da Divisão Masculina de
Jovens da América do Sul. Em agosto de 1963, a organização amplia-se com a
criação de dois distritos: São Paulo Kita e São Paulo Nishi. Nessa primeira visita do
presidente Ikeda ao Brasil, o país encontrava-se no final do mandato de Juscelino
Kubitscheck (1956-1961), tido como um presidente desenvolvimentista e inovador.
Mais a política de JK cobrou alto preço da nação brasileira: começam a se agravar
os problemas de concentração de renda e inflação e a dependência do capital
externo gera déficits na balança de pagamento.
O ano de 1966, em que se realizou a segunda visita do presidente Ikeda
foi marcado por um grande desenvolvimento da BSGI mais de 8 mil famílias se
52
converteram ao Budismo Nitiren e, por isso, como forma de comemoração, foi
programado um grande festival cultural com a presença do presidente Ikeda
Embora fisicamente esgotado e febril estava decidido a alicerçar as bases
do Kossen-rufo no Brasil.
Porém, espessas nuvens surgiram anunciando um período tempestuoso.
O rápido crescimento da Soka Gakkai no Japão e no mundo começou a atrair a
atenção de pessoas inescrupulosas que tentaram manchar a imagem da Sokka
Gakkai. Os comentários de que a organização era ligada a políticos de esquerda e
tencionavam dominar o mundo chegam ao Brasil, gerando um clima de desconfiança
das autoridades.
O país vivia uma ditadura militar e para fazer frente aos adversários que
insurgiam do povo, o governo militar instalou a censura, proibiu greves, cassou
direitos políticos, fechou associações civis invadiu universidades, treinou soldados,
infiltrou agentes, interviu em sindicatos, travou guerrilhas, dissolveu partidos políticos
e cercou-se de uma série de aparelhos opressores, como o Dói-Cod, o Dops, a
Obam, o SNI e outros.
Apesar disso, a programação do presidente Ikeda e de sua comitiva no
país não foi alterada. No dia 13 de março, foi realizado o tão esperado Festival
Cultural da América do Sul. Sob intensa vigilância policial, sua comitiva foi seguida
até o Teatro Municipal de São Paulo. Com uma postura serena e tranqüila, ele
demonstrou sua firme decisão de jamais se curvar diante das adversidades.
Até o momento de sua partida ele foi alvo de vigilância. Apesar de
inúmeras dificuldades que iriam enfrentar, a nova decisão surgiu no coração dos
membros do Brasil: tornar a BSGI o modelo do Kossen-rufu mundial.
Em 30 de maio de 1970, Roberto Saito foi nomeado diretor-geral da SGI
da América do Sul. Sintetizando a história da BSGI nessa década, ela pode ser
caracterizada por seu notável crescimento interno. A BSGI nunca se desenvolveu
numericamente tanto quanto no final da década de 60 até meados da década de 80.
Apenas treze anos após a fundação, a BSGI já era constituída de sete regiões e
mantinha organizações em todas as partes do país. E as condições políticas da
época explicam o motivo desse crescimento ter sido apenas interno.
No país, muitos optaram pela luta armada como forma de resistência à
ditadura. Os movimentos armados intensificaram-se a partir do final da década de 60
e início da de 70. Em 1973 veio a crise do petróleo, o fracasso do plano econômico
53
brasileiro e com isso aumentam o desemprego e a recessão. No ano de 1974, os
membros brasileiros tinham como objetivo maior à terceira visita do presidente Ikeda
no país. Todavia, devido às condições políticas ele foi impedido de entrar no Brasil.
Surgem em 1980 o Partido dos Trabalhadores e o Partido Democrata Trabalhista.
Em 1984, ocorre uma das manifestações populares e toda a historia da nação por
eleições diretas. Em 1984, dezoito anos após a segunda visita os membros da BSGI
encontram-se novamente com o presidente Ikeda. O primeiro festival cultural
esportivo da BSGI, realizado no Ginásio de Esporte Ibirapuera, em São Paulo, em
comemoração do 25° aniversário da organização no Brasil, foi considerado como o
melhor festival do mundo.
Em sua permanência no Brasil, o líder da SGI também se encontrou com
importantes autoridades brasileiras da época refletindo a drástica mudança em
relação a sua segunda visita e também em relação a 1974, quando não conseguiu
obter o visto de entrada no país.
Em Brasília, teve uma audiência com o então Presidente da República
João Baptista de Oliveira Figueiredo, quando dialogaram pelo futuro do mundo,
sobre a cultura e a educação.
Antes de partir no dia 29 de fevereiro, o presidente Ikeda estabeleceu a
Divisão dos Jovens no Brasil, cuja cerimônia de fundação foi realizada no dia 11 de
março. Em 1987, tem início na BSGI um período de reestruturação organizacional
visando a adequar as organizações às novas condições sociais. Surge nesse ano o
nível de comunidade.
Em 1991, na BSGI, é formalizado o Convênio de Intercâmbio e
Cooperação Cultural entre a Universidade de São Paulo e a Universidade Sokka. A
partir de 1992, diversas exposições são organizadas em várias capitais e cidades
brasileiras. Em 9 de fevereiro de 1993, o presidente da SGI realiza sua quarta visita
ao Brasil, ocasião em que se torna sócio correspondente da Academia Brasileira de
Letras (ABL).
Uma característica dominante dessa quarta visita foi o número expressivo
de homenagens recebidas de autoridades estaduais e entidades educacionais.
Essas homenagens fornecem uma clara mostra da grande repercussão que as
atividades promovidas pela BSGI em prol da paz, cultura e educação alcançaram na
sociedade brasileira, sobretudo a partir da terceira visita, em 1984. Nessa quarta
visita, o presidente Ikeda encontrou uma BSGI desenvolvida e atuante na sociedade,
54
fruto dos esforços dos pioneiros da organização. Nessas mais de quatro décadas a
BSGI teve um extraordinário desenvolvimento que pode ser medido pelo número de
centros culturais e de sedes regionais e comunitárias existentes.
3.4.1 Principais Atividades Desenvolvidas pela BSGI
Nesses 44 anos de existência, exposições, convênios com universidades
e museus e outras atividades nas áreas de cultura e educação vem marcando a
atuação da organização no país. Desde 1991, a BSGI proporciona a aproximação da
Universidade Soka do Japão, com instituições educacionais do país com o objetivo
de estimular o intercâmbio acadêmico entre seus alunos. Além disso, a organização
vem dando sua contribuição no campo educacional por meio de doações de livro a
Universidades brasileiras, das promoções de encontros de acadêmicos e reitores, e
do desenvolvimento de pesquisas ecológicas voltadas para a preservação do meio
ambiente. Outro exemplo é a implantação do projeto “Makiguti em Ação”, voltada à
melhoria da educação – tendo como base a teoria educacional do presidente
Makiguti de que a criança deve ser feliz enquanto estuda, numa parceria da
sociedade com a escola e a família - em escolas públicas de São Paulo, alcançando
resultados extremamente positivos.
No campo das artes, foi a principal responsável pela realização, em 1990,
da mostra “Eterno Tesouros do Japão” no museu de artes de São Paulo (Masp), que
atraiu um público de mais de 50 mil pessoas. Também foi realizada a exposição
“Diálogo com a Natureza – Fotografias de Daisaku Ikeda”, que reunião mais de 20
mil pessoas. Em 1992, foi organizada a “Exposição Sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento” apresentada como parte integrante do calendário oficial Rio’92.
Cerca de 360 mil pessoas visitaram a mostra. Por sua vez, a exposição “Desenhos
das Crianças do Brasil e do Mundo” vem percorrendo várias cidades brasileiras.
No âmbito individual, a BSGI promove atividades entre seus associados a
fim de traçarem conhecimentos, inclusive com visitas familiares objetivando um
mútuo incentivo para que cada um possa vencer suas circunstâncias diárias.
Todo esse trabalho é promovido por voluntários que se converteram ao
Budismo de Nitiren Daishonin e se tornaram membros da BSGI ou que, mesmo não
55
sendo filiados nem convertidos são simpatizante que compartilham de seus ideais
humanísticos. A BSGI tem grupo de criação de valores, somente para membros
convertidos que desenvolvem atividades de diferentes áreas de acordo com a
habilidade de seus integrantes. Além desses grupos, a BSGI possui: a
Coordenadoria Educacional, que desenvolve atividades em escolas públicas e um
projeto de alfabetização para jovens e adultos, e a Coordenadoria Cultural,
compostas pelos departamentos Artísticos, de Saúde, de Comunicação, de Juristas,
de Cientistas, de Executivos e Orquestra Filarmônica Brasileira de Humanismo Ikeda
(OFBHI) (Anexo 4). Suas atividades são desenvolvidas por etapas mensais com
diversos eventos.
O Centro de Pesquisas Ecológicas da Amazônia, CEPEAM, construído
em uma área de 55 hectares desenvolve um projeto pioneiro visando à conservação
e o uso racional dos recursos da Amazônia para as futuras gerações. Desde janeiro
de 1996 a área do CEPEAM mantém o título de "Reserva Particular do Patrimônio
Natural - RPPN", outorgado pelo IBAMA. Erguida no centro da maior floresta tropical
do planeta, o CEPEAM foi idealizado no início da década de 90 pelo presidente da
SGI, o filósofo e poeta laureado Daisaku Ikeda, com o objetivo de desenvolver
estudos do ecossistema amazônico e suas aptidões para o desenvolvimento
regional sustentável, tendo em primeiro plano a qualidade de vida do homem
amazônico (Anexo 5).
3.4.2 Atuação da BSGI na Área Educacional
Até o ano de 2000 a atuação da BSGI na área de educação era
promovida por um dos departamentos da Coordenadoria Cultural, que congrega
profissionais associados a BSGI, das diversas áreas com a finalidade de
desenvolver o potencial de cada um em empreendimentos humanísticos e sociais
(Anexos 6 a 11). Por atribuir a máxima importância à educação na tarefa de
desenvolver valores humanos para a sociedade, a BSGI criou, no início do ano
2000, a Coordenadoria Educacional. Na mesma época foi inaugurando o Centro
Educacional Soka, localizado nas imediações do Centro Cultural a BSGI – que
passou a coordenar as atividades educacionais promovidas pela Coordenadoria.
56
Essa atuação foi ao encontro do ideal da SGI exposto pelo seu presidente:
A paz começa na mente dos homens – esse é um conceito fundamentado
na convicção budista de que a vida humana possui a habilidade inerente
para criar valor e promover a harmonia, tanto na sociedade como entre os
seres humanos e seu ambiente. A cultura é a expressão viva dessa
capacidade humana e a educação é um veículo para o aprimoramento para
o potencial criativo do indivíduo. Assim, educação e cultura são
ingredientes chaves para a realização da paz (MAKIGUTI, 2001, p. 18).
A Coordenadoria Educacional desenvolve projetos sociais visando à
solução de alguns problemas na área educacional tendo como base os princípios
pedagógicos propostos pelo Tsunessaburo Makiguti, fundador e primeiro presidente
da Soka Gakkai (Anexo 12). Os projetos são basicamente dois: “Makiguti em Ação”
(Anexos 13 e 14), “Curso de Alfabetização para Jovens e Adultos” (Anexos 15 e 16).
O Livro Makiguti em Ação – Educando Para a Paz, primeiro livro produzido pela
Coordenadoria foi lançado em abril de 2001 e registra o histórico das atividades
realizadas pela BSGI na área educacional, além de descrever e especificar a
metodologia aplicada por meio de relatos e depoimentos de alunos que obtiveram
resultados significativos em sua vida, com a participação em projetos da
Coordenadoria (Anexo 17).
Com a inauguração do Centro de Convivência Infantil Soka no início do
mês de junho de 2001, um decisivo passo foi dado para a concretização das metas
da Coordenadoria Educacional. O centro é a primeira escola “Soka” da América
Latina - Realização de um sonho acalentado há décadas pelos vários educadores
associados a BSGI. Toda a linha pedagógica do curso tem como base a teoria
proposta por Makiguti, e visa à felicidade do aluno e à criação de valores humanos
para a sociedade por meio de uma educação humanística.
57
4 SISTEMA EDUCACIONAL SOKA
A educação está passando por uma crise generalizada. Isto é fato,
principalmente, em alguns países desenvolvidos economicamente, onde comissões
dos setores particular e público, bem como grupos de trabalhos, estão empenhados
em intensos debates sobres as causas do caos em que se encontra a educação e
buscam soluções para os problemas educacionais. Em meio à confusão criada por
opiniões, argumentos e contra-argumentos conflitantes, as criteriosas idéias e
orientações de Makiguti relativas à reforma educacional, oferecem uma estrutura
animadora, por sua clareza e utilidade, para examinarmos o atual dilema
educacional. Em sua obra Educação para uma Vida Criativa, Makiguti nos convida a
refletir sobre seus escritos relativos ao renascimento de uma nova ciência empírica
da educação intima e integralmente relacionada às realidades da aprendizagem.
São algumas idéias defendidas por Makiguti sobre a Educação publicadas no livro
(1995, p. 22-27):
Felicidade
Para Makiguti (1995), a felicidade é mais do que uma preocupação com a
satisfação imediata do indivíduo, por ter como pré-requisito o desenvolvimento da
consciência social de cada pessoa para compreender e avaliar o dever que todo ser
humano tem para com a sociedade, ‘não só para suas necessidades básicas e
segurança, mas para tudo o que constitui felicidade.
Criação de valores
O ser humano é criativo por natureza. A criatividade é a essência
humana, e o homem a expressará em seu comportamento, a não ser que esse
potencial seja reprimido ou destruído. Resumindo suas opiniões sobre educação,
escreveu em 1930: ‘Começamos reconhecendo que o ser humano não pode criar
matéria. Pode, no entanto, criar valores. A criação de valores é, na realidade, a
essência da natureza humana. Quando elogiamos as pessoas por sua ‘força de
caráter’ estamos, na verdade, reconhecendo sua capacidade superior de criar
valores.
A questão fundamental, portanto, é resolver para que fins, e no interesse
de que valores, a criatividade humana deve ser direcionada. Makiguti (1995)
sustenta que, com educação adequada, o ser humano optará por utilizar sua
58
criatividade para melhorar a própria vida e beneficiar sua comunidade. É isto que
significa criação de valores.
No pensamento de Makiguti, uma pessoa plenamente ativa, feliz e
realizada tem sua existência centrada na criação de valores, o que intensifica ao
máximo a vida pessoal e a rede de relações de interdependência que constitui a vida
comunitária do indivíduo. A educação criadora de valores é aquela que orienta para
este fim.
A natureza do processo de aprendizagem e o treinamento de
professores
A transferência de conhecimento não é, e nunca poderá ser, o objetivo da
educação, de acordo com Makiguti (1995). Na verdade, o objetivo da educação é
orientar o processo de aprendizagem, colocando a responsabilidade nas mãos do
próprio estudante. A educação como processo de orientação da aprendizagem do
estudante é a base da pedagogia de Makiguti.
Segundo ele, o professor deve deixar a descoberta de fatos para os livros,
e assumir o papel de apoiar a experiência de aprendizagem desenvolvida pelo
educando; deve decidir se quer impor ao aluno a aprendizagem, ou orientá-lo em
seus esforços no caminho do autoconhecimento; deseja-se organizar informações,
ou provocar o interesse e a curiosidade natural do estudante.
O papel educacional da escola, do lar e da comunidade
Makiguti (1995) defendia que uma educação eficaz só pode ser alcançada
se houver uma tripla parceria entre escola, lar e comunidade. Era fundamental em
seu programa de reforma educacional, portanto, a proposta de criação de um
sistema educacional inteiramente novo, no qual cada setor – escola, lar e
comunidade – seriam responsáveis por uma parte específica da tarefa educacional.
O elemento-chave dessa proposta é a redução do tempo da criança na escola para
um único período, reservando parte de seu tempo para atividades de aprendizagem
na comunidade e em casa, incluindo o aprendizado de artes e ofícios, e outros tipos
de atividades adequadas à natureza e às necessidades de cada criança.
4.1 Atuação da Coordenadoria de Educação da BSGI
A ação educativa da BSGI melhor se expressa pelo trabalho voluntário
59
dos educadores que se encontram espalhados em várias localidades do país. A
BSGI mantém em sua estrutura de atuação uma Coordenadoria Cultural que
congregava até o início do ano 2000, oito departamentos – o Educacional, o
Artístico, de Cientistas, Saúde, Executivos, Juristas, Comunicação e Orquestra –
cada um dos quais procurando aproveitar os talentos e especialidades técnicas
individuais de seus membros afiliados, visando a ações humanísticas e sociais
totalmente voluntárias.
Uma nova estrutura para esses setores de ação social foi pensada a partir
da verificação do crescimento de suas atividades. Em especial, o antigo
Departamento Educacional passou a constituir uma Coordenadoria Educacional,
passando a ter inclusive, uma sede própria para a centralização de suas atividades –
o Centro Educacional Soka da BSGI, situado na capital paulista.
Com base nos princípios educacionais propostos pelo professor Makiguti,
a Coordenadoria Educacional da BSGI desenvolve dois projetos com o intuito de
contribuir para a diminuição dos problemas educacionais da sociedade brasileira.
São eles: o projeto Makiguti em Ação e o Curso de Alfabetização para Adultos
(Anexo – Entrevista com a Coordenadora-geral da Coordenadoria Educacional).
4.2 Princípios do Sistema Educacional Soka
O seu idealizador foi o fundador da Soka Gakkai, Tsunessaburo Makiguti.
Ele dizia que a “felicidade é mais do que uma preocupação com a satisfação
imediata do indivíduo, por ter como pré-requisito o desenvolvimento da consciência
social de cada pessoa para compreender e avaliar o dever que todo o ser humano
tem para a sociedade, não só para suas necessidades básicas e segurança, mais
para tudo o que constitui felicidade”.
Ele também prega que a educação só pode ser alcançada se houver uma
tripla parceria entre a escola, lar e comunidade. Ele propôs a criação de um sistema
inteiramente novo, no qual cada setor - escola, lar e comunidade – é responsável
por uma parte específica da tarefa educacional.
O ideal de Makiguti de realizar uma ampla reforma educacional foi
concretizada pelo presidente da SGI, Daisaku Ikeda, fundador das escolas Soka que
60
no Japão, abrangem desde o jardim de infância até a universidade.
No Brasil, a escola Soka foi fundada em junho de 2001 e atende crianças
desde a educação infantil até o ensino fundamental. Sua proposta é formar valores
humanos, por meio de uma educação humanística, respeitando a individualidade
das crianças e tem como lema: “Ser forte, ser correto e crescer à vontade”.
Educadores voluntários de todo o país unem-se em torno dos projetos
que vêm sendo desenvolvidos pela Coordenadoria Educacional da BSGI,
embasados na educação humanística. Os fundamentos estão alicerçados nas
propostas filosóficas do Sistema Educacional Soka.
A filosofia básica está centrada na "revolução humana", conceito que
prega a necessidade de uma reforma interior do ser humano, que permita
desenvolver a sabedoria para viver com confiança, criar valor em qualquer
circunstância e descobrir o real caminho como ser humano. Sua atuação divide-se
em três departamentos, contando com mais de 500 voluntários envolvidos.
COORDENAÇÃO
SECRETARIA
DEPARTAMENTO DE
ALFABETIZAÇÃO
PARA JOVENS E
ADULTOS
DEPARTAMENTO DE
PESQUISA E
DESENVOLVIMENTO
DAS CIÊNCIAS DA
EDUCAÇÃO
DEPARTAMENTO
DO MAKIGUTI EM
AÇÃO
Figura 4: Organograma da Coordenadoria Educacional da BSGI
Fonte: IESB (2005).
Alfabetização para jovens e adultos. Projeto pioneiro para alfabetizar
em 40 horas-aula;
Pesquisa e Desenvolvimento das Ciências da Educação. Resgate do
papel de cada indivíduo e seu potencial de realização;
Projeto Makiguti em Ação Revolucionária metodologia pedagógica
aplicada com sucesso em cerca de 150 escolas brasileiras.
61
4.2.1 Curso de Alfabetização para Jovens e Adultos
O Curso de Alfabetização para Jovens e Adultos em 40 horas da BSGI
começou a ser concebido no início da Década de 80, quando a Coordenadoria
Educacional tinha o status apenas como Grupo de Educadores. Após estudar várias
teorias pedagógicas e psicopedagógicas e compará-las à Teoria de Criação de Valor
do professor Tsunessaburo Makiguti, esse grupo de professores criou um projetopiloto do curso, que foi aplicado na E.E. Caetano de Campos na capital paulista. O
sucesso da experiência levou à implementação do curso em outras escolas de São
Paulo e, posteriormente, em outras cidades.
Assim, desde 1987 a BSGI vem aplicando um curso de alfabetização de
jovens e adultos de 40 horas, já tendo alfabetizado cerca de 1.800 alunos até 1996,
conforme informação publicada no informativo BSGI News de maio de 1996. No
momento a entidade conta com cerca de 4.019 alunos matriculados em seu curso de
pólos de alfabetização nas seguintes cidades: São Paulo, Guarulhos, Carapicuíba,
Taboão da Serra, Campinas e São Vicente (SP); Angra dos Reis, Duque de Caxias e
São Gonçalo (RJ); Brasília (DFl); Recife (PE) e Salvador (BA).
Os participantes do curso compõem-se de pessoas de mais de 15 anos
totalmente analfabetos ou semi-analfabetos. São geralmente pessoas analfabetas,
de baixa renda, desempregados ou subempregados e, via de regra, desprovidos de
formação profissional, ou seja, cidadãos à margem do exercício de sua cidadania.
Muitos até chegaram a entender a necessidade do estudo em sua vida como
elemento transformador, mas devido a todos os estigmas sociais, jamais
conseguiram visualizar em si mesmos a capacidade de aprender, força essa
criadora de conhecimento, cultura e valor.
Os alunos não escolarizados são atendidos em pólos de alfabetização,
distribuídos em diferentes localidades de São Paulo e também em alguns Estados
do Brasil. Geralmente funcionam nas sedes regionais da BSGI ou em salas
oferecidas pelas escolas públicas.
O método, pioneiro, é resultado de experimentações realizadas durante
cinco anos (1983-1987) pelo Departamento de Alfabetização para Jovens e Adultos,
consolidado na proposta de alfabetização em 40 horas por série, totalizando 160
horas. A chave do sucesso é o trabalho de estímulo e afetividade: nas salas, com
62
não mais de 20 pessoas, os alunos contam com professor e vários monitores, que
acompanham integralmente o aprendizado. A equipe do curso (professores,
monitores e pessoal de apoio) é formada por membros da BSGI, que doam seu
tempo livre para a atuação voluntária no projeto, como forma efetiva de contribuir,
enquanto cidadãos, para um dos vários projetos de responsabilidade social que vem
sendo executados pela BSGI.
Objetivos do Projeto:
Dominar instrumentos básicos da cultura letrada, para melhor
compreender e atuar no mundo em que vive.
Incorporar-se ao mercado de trabalho com melhores condições de
desempenho.
Aumentar a auto-estima, fortalecer a confiança na sua capacidade de
aprendizagem, valorizando a educação como meio de desenvolvimento pessoal e
social.
Desenvolver atitudes participativas, conhecendo seus direito e deveres.
Exercer plenamente seu papel de cidadão.
Em vista destes objetivos, delineiam-se também os seguintes princípios
norteadores:
Racionalização do tempo de curso, realizando cada série em 40horas
de efetivo trabalho com o aluno.
Facilitação da aprendizagem por meio da busca e aplicação de
alternativas técnicas e procedimentos que respondam adequadamente às
necessidades individuais dos alunos.
Ausência de repetição desnecessária de conteúdos e de exercícios a
respeito de conceitos que os alunos já conhecem.
Planejamento prévio das aulas e exercícios, de forma a não haver
improvisação de material ou recursos didáticos.
Respeito a falas individuais do aluno, mostrando-lhe a legitimidade do
seu meio social e, ao mesmo tempo, conscientizando-o da existência e da
importância da norma prescritiva.
Respeito do ritmo de aprendizagem individual do aluno.
São utilizados diferentes materiais e recursos: cadernos de avaliação,
jornais, revistas, materiais audiovisuais, panfletos, receitas, letras de música e tudo o
que faz parte do cotidiano do aluno, conforme seus interesses e necessidades. Os
63
profissionais envolvidos também recebem aperfeiçoamento constante para a
consecução das metas do projeto.
Na conclusão do curso, os alunos recebem certificado e podem dar
continuidade aos estudos. A formatura é sempre uma festa, marcada não só pela
emoção do aluno por esta conquista, mas pela alegria dos familiares e amigos, que
também são convidados para o dia (Anexo 18).
Para isso são desenvolvidas palestras e atividades com os professores,
que são reproduzidas em sala de aula. A capacitação dos professores pela equipe
ocorre no horário pedagógico, com duração de 2 horas, uma vez por mês na própria
escola. Os alunos têm a chance de vivenciar experiências nas áreas de meio
ambiente, artes cênicas e outras atividades lúdicas.
O educador também recebe estímulo para superar as dificuldades e
elevar sua auto-estima no dia-a-dia, já que é visto como um ser humano, construtor
de si mesmo e de sua história, e com papel fundamental no processo da educação
criativa. Aos pais estão reservadas palestras, convívios e oficinas diversas,
integrando-os na proposta educacional do projeto.
A equipe é formada por profissionais, técnicos e especialistas de várias
áreas da educação, que transmitem seus conhecimentos sem vínculo político,
religioso e financeiro.
4.2.2 Departamento de Pesquisa e Desenvolvimento das Ciências da Educação
A proposta do Departamento de Pesquisa e Desenvolvimento das
Ciências da Educação é despertar a consciência humana e cultivar o eu criativo,
flexível, intuitivo e racional integrados, a fim de resgatar o potencial de realização. O
trabalho é dirigido aos professores, pais e estudantes, por meio de palestras,
workshops e atividades lúdicas.
Com os professores, é desenvolvido um trabalho de sensibilização quanto
à importância do papel que exercem na Educação, reforçando a missão do educador
e o comprometimento contínuo deste e dos pais para com o desenvolvimento
saudável das crianças e jovens sob sua responsabilidade. A proposta é fazer com
que os professores vivenciem os diferentes recursos internos positivos, facilitando o
64
contato e a troca de experiências e permitindo alterações, igualmente positivas, de
comportamento e atitudes. Eles também recebem o estímulo necessário para
superar as dificuldades que enfrentam no cotidiano, por meio de atividades de
resgate à auto-estima.
O Departamento atua em todos os projetos da Coordenadoria
Educacional, dando subsídios aos professores e monitores das escolas participantes
do Makiguti em Ação, na motivação e conscientização da cidadania aos integrantes
do Curso de Alfabetização de Jovens e Adultos e ainda no aperfeiçoamento interno
dos membros da Coordenadoria Educacional, que somam hoje cerca de três mil
voluntários em todo o país.
Entre os projetos próprios, destaque para o PAS, Plano de Ação Soka,
que envolve palestras para famílias associadas a BSGI, escolas, curso de
aprimoramento para educadores e alunos. O mais recente é o Programa de
Orientação para Estudantes (Pope), que se propõe a criar um ambiente de diálogo
para jovens com idade entre 10 e 15 anos, no sentido de apoiá-los, propiciando
insights para solução dos próprios problemas, escolha vocacional, incertezas e
angústias. Nesta primeira fase, estão envolvidos apenas os estudantes da BSGI.
As atividades são realizadas em forma de workshops, palestras, grupos
operantes vivenciando e experimentando recursos internos (o pensar, o sentir e o
agir) e utilizando estratégias que visam à mudanças comportamentais. São também
oferecidos jogos, dinâmicas, música, vivências e vídeos relacionados aos módulos
elaborados pelo departamento.
4.2.3 Projeto Makiguti em Ação
O projeto Makiguti em Ação teve início em setembro de 1994, com uma
classe de segunda serie do Ensino Fundamental na Escola Estadual de 1° e 2°
Graus Caetano de Campos em São Paulo, após a realização de um seminário sobre
o ideal pedagógico de Makiguti, resultante da Tradução do livro “Educação para uma
vida criativa”. O programa levou o nome de Projeto Primavera e estava centralizado
nas aulas de horta e trabalhos manuais (confecção de flores artificiais, embalagens,
etc) com total envolvimento dos alunos da classe e participação dos pais dos alunos.
65
Os alunos apresentaram mudanças comportamentais positivas, não
faltando às aulas, tendo uma melhor atitude em relação aos estudos e interagindo
com os colegas e demais pessoas envolvidas no projeto.
Em 1995, o Projeto Primavera transformou-se no projeto Makiguti em
Ação, sendo então implantado em mais quatro escolas da rede pública estadual e
municipal de São Paulo. Ampliaram-se as atividades oferecidas: origami (dobradura
de papel), dramatização de contos infantis, confecção de flores de papel, coral e
canto orfeônico.
Nos anos seguintes, a expansão deu-se a passos largos, muitas vezes
devido à transferência de um professor ou diretor de uma escola para outra que
então solicitava o projeto para o novo estabelecimento de ensino. Esse fator resultou
na ampliação à divulgação espontânea feita pelos responsáveis das escolas em
reuniões de supervisores e diretores durante as quais narravam as experiências
bem-sucedidas. Outro fator de disseminação deu-se a partir das exposições e
mostras culturais, nas quais os alunos apresentavam os resultados das oficinas
referenciando-os pela denominação “Makiguti em Ação”.
Devido a essa divulgação, a Zona Leste do município de São Paulo
passou a concentrar o maior numero de escolas com o projeto implantado. O projeto
envolveu 60 escolas publicas e municipais e estaduais e entidades particulares,
distribuídas pela cidade e estado de São Paulo, e uma escola em Curitiba, Estado
do Paraná, até agosto de 2000. Participaram, do projeto 1.196 professores e 35.666
alunos. Atualmente cerca de 150 escolas da rede pública estadual e municipal do
país participam do revolucionário modelo pedagógico que defende a felicidade
integral da criança. É uma prática pedagógica voltada para despertar e resgatar
potenciais e habilidades dos educadores, para que possam desenvolver uma
educação humanística e de criação de valores.
O projeto tem como base as propostas que norteiam a Soka Gakkai
Internacional (SGI) e a teoria da Criação de Valores Humanos do educador japonês
Tsunessaburo Makiguti (1871-1944), encontrada em seu livro “Educação para uma
Vida Criativa”. Ele revela a necessidade de o aluno sentir-se feliz na escola e
defende que a educação não é uma simples transmissão de conhecimento, mas
deve ter o propósito de desenvolver o ilimitado potencial e talento, bem como cultivar
o caráter das crianças.
A metodologia envolve escola, lar e sociedade no compromisso pela
66
felicidade da criança. A proposta é que a sala de aula seja um local onde brote uma
ação criativa de professores e alunos envolvidos num clima de alegria e gosto pela
aprendizagem.
4.2.4 Escola Soka
A Escola Soka foi inaugurada no Brasil em junho de 2001, na capital
paulista. Fora do Japão, só existem quatro unidades em operação no mundo,
representando uma pedagogia que tem como filosofia a criação de valores
humanos. Com base neste princípio, a criança tem a oportunidade de desenvolver
seu ilimitado potencial e viver de forma plena.
A pedagogia Soka não é nova. Foi estabelecida na década de 30 pelo
educador japonês Tsunessaburo Makiguti, que acreditava ser a educação muito
mais que uma simples transmissão de conhecimentos. Seu objetivo era desenvolver
estudantes com espiritualidade e rico senso de humanismo e, assim, contribuir para
a sociedade.
Hoje, à frente do conceito de prezar a individualidade das crianças e criar
pessoas de valor, está o educador e pacifista Daisaku Ikeda. O investimento e apoio
à educação humanística consolidaram-se ao longo dos anos de sua atuação,
garantindo ao Sistema Soka prestígio e reconhecimento internacionais. No Japão,
as atividades vão da educação infantil à universidade e nos Estados Unidos foi
inaugurado um campus universitário.
Localizada no bairro da Vila Mariana, em São Paulo, a escola possui
segurança 24 horas e estrutura para atender os alunos nos períodos da manhã,
tarde e integral. Os ambientes são adequadamente estruturados para atender cada
faixa de idade, incluindo banheiro anexo à sala. As refeições são preparadas em
cozinha própria, com cardápio aprovado semanalmente pela nutricionista.
67
Refeitório
Sala de Aula
Escola Soka do Brasil (SP)
Figura 5: Foto da estrutura da escola
Fonte: http://www.escolasoka.org.br
A Filosofia aplicada é ser feliz enquanto estuda. Esta é a receita da
pedagogia aplicada na Escola Soka do Brasil, que reúne ingredientes essenciais no
desenvolvimento de cada criança. O foco é o estímulo do saber, e não a simples
transmissão do conhecimento. Tudo com fartas doses de afetividade, carinho,
valorização da natureza, descobertas artísticas, amizade e resgate à auto-estima.
Como lema, as crianças apóiam-se nas três diretrizes estabelecidas:
• Ser forte
• Ser correto
68
• Crescer à vontade
A Escola oferece o ambiente social para uma educação que forme
crianças de mente e corpo saudáveis. Em espaços próprios, desde a educação
infantil até a fundamental, elas são estimuladas a interagir com todas as
manifestações do conhecimento.
Com um grupo de professores especializados, a Escola Soka desenvolve
competências educacionais, artísticas e culturais em sua matriz curricular,
destacando o diferencial do ensino Soka. As disciplinas são trabalhadas de forma
integrada, criando um rico aprendizado.
Desde a educação infantil até a fundamental, elas são estimuladas a
interagir com todas as manifestações do conhecimento. Do globo terrestre elas
retiram sabedoria que vão além da geografia, criam relações com a matemática e
principalmente como cidadãos do mundo.
4.3 Atividades Curriculares da Escola Soka
Educação integral – Linguagem, Matemática, Sociedade e Natureza e
Movimento são as disciplinas básicas da Educação Infantil. No ensino
Fundamental, fazem parte as disciplinas: Língua Portuguesa, Matemática,
História, Geografia, Ciências e Educação Física, entre outras. Nas Artes, as
crianças são estimuladas a dar asas à imaginação: pintam, colam, desenham,
dançam, interpretam. O que parece simples arte de criança contém o aprimoramento
criativo, a noção espacial das formas, atividade psicomotora e os fundamentos
básicos da própria Arte, que integra todos os eixos temáticos. Dentro da proposta de
garantir ao educando o domínio de idiomas estrangeiros, em salas ambientadas os
alunos aprendem Inglês e Japonês de forma lúdica e vivenciam situações do dia-adia.
69
Atividades em sala de aula
Figura 6: Fotos das atividades em sala de aula
Fonte: http://www.escolasoka.org.br
A experiência ganha vida prática também nas aulas de música. Utilizando
diferentes instrumentos as crianças iniciam seu contato com as notas musicais,
reconhecendo-as e reproduzindo seus diferentes sons.
Atividades artísticas – Música.
Figura 7: Foto das atividades artísticas
Fonte: http://www.escolasoka.org.br
70
Na sala de computadores, os equipamentos são acionados para garantir
às crianças o acesso direto a esta importante ferramenta. Aos pequenos são
reservados joguinhos e programas educativos, enquanto os alunos do fundamental
iniciam o aprendizado dos aplicativos principais.
Aulas de Computação
Figura 8: Fotos das aulas de computação
Fonte: http://www.escolasoka.org.br
4.3.1 Ambientes Interativos
O contato com a natureza e o cultivo à vida são vivenciados na horta
instalada no terraço, onde cada classe tem seu canteiro e os alunos acompanham
todas as fases do crescimento. Mais que isso, descobrem de forma natural às
relações com a Matemática, com a Geografia, com as Ciências, exercício prático da
interdisciplinaridade proporcionada pela pedagogia. A colheita é uma festa à parte,
bem como a experiência de levar para casa e provar, muitos pela primeira vez, o
sabor de uma verdura ou legume.
71
Hortas
Figura 9: Foto das hortas da escola
Fonte: http://www.escolasoka.org.br
Jogos educativos, teatro de fantoches, casa de bonecas e uma coleção
de fantasias ficam à disposição das crianças, que se divertem no ambiente de magia
e aconchego proporcionado pelo espaço.
Fantasias e fantoches
Figura 10: Foto das fantasias e fantoches
Fonte: http://www.escolasoka.org.br
Uma sala especial oferece livros e revistas, nacionais e internacionais,
dispostos em altura adequada ao manuseio e por faixa etária, facilitando o acesso e
aguçando a curiosidade dos alunos. O hábito pela leitura é também estimulado pelo
72
Cantinho da Leitura, montado em salas de aula, e pela parceria que a Escola
mantém com a Biblioteca Municipal Chácara do Castelo, onde são realizadas visitas
monitoradas.
Cantinho da Leitura
Figura 11: Foto do cantinho da leitura
Fonte: http://www.escolasoka.org.br
Integração e socialização das crianças são exercitados no Playground,
instalado no pátio coberto. Energia e muita alegria na recreação merecida
Playground
Figura 12: Foto do playground da escola
Fonte: http://www.escolasoka.org.br
A Soka mantém convênio com uma Escola de natação próxima ao prédio,
que oferece descontos e atendimento especial aos alunos.
Para garantir o pleno desenvolvimento de cada criança, a Escola Soka
conta com uma equipe multidisciplinar sempre atenta às modificações das fases de
crescimento. Profissionais de Odontologia, Fonoaudiologia e Psicologia dividemse na tarefa de auxiliar os pais no acompanhamento. Isso significa que a criança tem
73
reforço em todas as áreas que comprometem seu desenvolvimento psíquico-físicomotor. O resultado é maior desenvolvimento e aproveitamento de todas as
potencialidades nesta fase importante do aprendizado.
Odontologia:
De maneira lúdica, a equipe odontológica desenvolve vários trabalhos na
prevenção de cáries e higiene bucal, com crianças na faixa etária de 3 a 8 anos.
Fonoaudiologia:
Os alunos são avaliados pelo profissional e depois encaminhados a realizar
exercícios específicos para cada caso.
4.3.2 Depoimentos dos Pais
Na hora de optar por uma escola para nossos preciosos filhos, certamente
vários fatores influenciam na escolha. Distância, metodologia, grade curricular,
segurança, equipe de apoio... Conheça a opinião de alguns pais que escolheram a
Escola Soka, onde a criança é feliz enquanto estuda.
Como todo pai e mãe, nossa preocupação é oferecer uma boa educação a
nossos filhos e que elas sejam felizes. Estávamos satisfeitos com a escola
que nossas filhas Maryana e Nathália estudavam. Era de qualidade e
próxima de nossa residência. Quando a escola Soka foi inaugurada em São
Paulo, o diferencial para nós foi o método, a filosofia humanista que permite
que a criança seja feliz enquanto estuda. Mesmo a distância (morando na
região de Pirituba) sendo um fator de avaliação na decisão da mudança de
escola, com certeza escolhemos o melhor para nossas filhas (José Eduardo
e Alice Michelin Roman, pais das gêmeas Maryana e Nathália)
(http://www.escolasoka.org.br).
Escolhi a Escola Soka porque a proposta de educação humanística da
Instituição veio exatamente ao encontro do que desejávamos para a (in)
formação de nossa filha. Acreditamos que educar uma criança para torná-la
capaz de se relacionar e interferir de maneira positiva no meio em que vive
é um forte compromisso de nossa função como pais, bem como nossa
maior contribuição para o mundo como cidadãos. Então, precisávamos de
uma escola que, junto ao seu programa curricular, estivesse voltada à
formação de valores que são imprescindíveis a uma sociedade justa e
pacífica, tais como: respeito (a si, aos outros e ao meio ambiente), justiça,
generosidade, lealdade, solidariedade e amizade. Desde que nossa filha
começou a freqüentar a Escola Soka, pudemos perceber tanto pelo retorno
que ela nos dá quanto pela nossa convivência com toda a equipe de
profissionais da Instituição, inclusive os voluntários (dentistas e
fonoaudióloga), que há sempre uma coerência entre a teoria e a prática dos
valores citados acima. Além disso, é uma Escola que está sempre de portas
74
abertas aos pais que querem expor suas dúvidas, dificuldades e sugestões
(Cláudio Vieira, pai da Anna Cláudia) (http://www.escolasoka.org.br).
Nossa escolha foi motivada por ser uma instituição com objetivos
determinados, desde a sua fundação e com planos futuros de alcançar a
realização para uma universidade. Já conhecia a tradição do Sistema Soka
de ensino, no Japão e Estados Unidos, e consideramos ser o melhor dos
ensinos fundamentais “comprovados". Com o desenvolvimento de nossa
filha, só confirmamos os propósitos da Escola, da direção e seu corpo
docente compromissados com a motivação ao saber (Cesar Sussumu e
Adriana Kavassaki, pais da Harumi) (http://www.escolasoka.org.br).
Procuramos uma escola próxima de nossa casa, com qualidade e
principalmente que nosso filho se identificasse com ela. Hoje estamos
felizes com a nossa escolha, pois a Escola Soka é uma instituição de ensino
organizado, com excelentes educadores e funcionários (Vagner Cesar e
Rejane Boaventura, pais do César) (http://www.escolasoka.org.br).
Procuramos uma escola próxima de nossa casa, com qualidade e
principalmente que nosso filho se identificasse com ela. Hoje estamos
felizes com a nossa escolha, pois a Escola Soka é uma instituição de ensino
organizada, com excelentes educadores e funcionários (Vagner Cesar e
Rejane Boaventura, pais do César) (http://www.escolasoka.org.br).
Primeiramente escolhemos a Soka por ser mais próxima de casa, mais
depois percebemos que era uma escola com ótima proposta de ensino. A
sala de aula é diferenciada das outras, pois são poucos alunos e duas
professoras, e com isso o aprendizado torna-se mais eficaz. O diferencial
desta escola é enfatizar que a criança não é mais uma na sociedade, mas
sim que ela é importante, única. O que importa é a felicidade dela e não a
competitividade com outras crianças. Além disso, é uma escola completa,
onde se pode aprender inglês, japonês, música e brincadeiras sem
diferenciar o poder aquisitivo das crianças e familiares (Elizabete e Agnaldo
Freires, pais do Victor Hugo) (http://www.escolasoka.org.br).
Há alguns anos fui ao Japão, quando tive a oportunidade de conhecer o
Sistema Educacional Soka. Achei fantástica a pedagogia, baseada no
respeito à individualidade e no prazer do estudo. De ensinar à criança
desde cedo questões humanísticas... Na época não tinha filhos, mas
imaginei que se tivesse um gostaria que estudasse ali... Os anos se
passaram, tive um filho e quando soube que havia sido inaugurada uma
unidade aqui no Brasil não pensei duas vezes. Hoje ele tem a oportunidade
de se desenvolver em meio a esta instituição, falando japonês, inglês, e a
cada dia que passa sinto ele mais seguro e otimista. Já sabendo seus
limites e cultivando o amor e o respeito, automaticamente eu também
consigo administrar nossa vida com mais tranqüilidade (Silvia Malanzuk,
mãe do Gabriel) (http://www.escolasoka.org.br).
Através dos estudos que realizamos encontramos evidencias de uma
escola prazerosa, onde é possível criar condições para que os estudantes possam
experimentar a felicidade na escola que a mesma seja altamente relevante em sua
vida. A educação deve ser uma preparação para a vida no mundo e, principalmente
para se viver bem. É preciso viver bem no presente, pois um treinamento que adia a
75
felicidade para um futuro indefinido é um treinamento do adiamento da felicidade.
A escola que sacrifica o bem estar presente da criança e fazem da
felicidade futura seu objetivo, viola a personalidade infantil e o próprio processo de
aprendizagem.
O objetivo maior da educação deve ser o de preparar as crianças para se
tornarem células responsáveis e saudáveis no organismo social, a fim de
contribuírem para o bem da sociedade, e, com isto encontrarem sentido e propósito
em suas vidas. Neste sentido, o que passa a ser o ponto principal das mudanças
propostas não é o melhor orçamento dos programas escolares, mas introdução e o
gosto pelo trabalho. Uma educação eficaz só pode ser alcançada se houver uma
tripla parceria entre a escola à família e a comunidade.
É fundamental que se faça uma reforma educacional uma proposta da
criação de um sistema educacional inteiramente novo, no qual cada setor: escola,
família e comunidade sejam responsáveis por uma parte especifica da tarefa
educacional.
Entendemos que a paz não é apenas a ausência de guerras e conflitos,
mas representa uma condição da sociedade na qual a dignidade e os direitos do
indivíduo são respeitados plenamente. E a paz começa no coração das pessoas,
sendo que um conceito fundamental na convicção budista é que o ser humano
contém a habilidade inerente para criar valor e promover a harmonia entre os seres
humanos e seu ambiente.
A cultura é a expressão viva dessa capacidade singular do ser humano,
para sua realização plena, propiciando o florescimento de todo o seu potencial,
sendo na sua meta cultivar o sentimento humanístico existente em cada um, e um
veículo de caráter fundamental para o aprimoramento deste potencial criativo do
indivíduo. Educação e cultura são, nesse sentido, os principais ingredientes para a
concretização da paz. E essa relação humana dinâmica e aberta, cultiva uma
consciência crítica dos muitos contextos da vida da aprendizagem moral, cultural,
ecológico, tecnológico e político. Essa é a educação que Makiguti expressa em seus
livros e projetos, que não foge da educação que se busca hoje no Brasil e no
mundo, uma educação de felicidade e paz mundial. Nosso estudo comprova que a
abordagem humanística integrada aos sentimentos afetivos sobrepuja, e sempre o
farão, as abordagens simplesmente cognitivas.
Mais do que surgir uma solução educacional à sociedade, o sistema
76
Educacional Soka oferece uma nova dimensão ao papel de educador, que extraindo
seus valores pessoais orientam seus alunos na criação de valor. E que a educação
verdadeira não é acidental. O ensinamento consciente origina o comportamento
intencionalmente racional. Ele encoraja o tipo de vida que não apenas produz valor
para alguns poucos indivíduos em tempo e local específicos, mas também procura
reconhecer as leis universais para a vida. A educação, portanto, como forma de
orientação para a vida real, deve procurar levar o educando a experimentar o valor
no dia-a-dia de sua vida, desafiando aqueles que se importam com o futuro de
nossa sociedade e de nossas crianças a apoiarem os esforços racionais no sentido
de se promover um reforma educacional unificada.
77
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Atuando na área de educação e com a preocupação com as crianças
deste novo milênio, tomei a decisão de realizar o presente trabalho de pesquisa e
estudo do budismo de Nitiren Daishonin, do Sistema Educacional Soka e das idéias
do seu fundador prof. Tsunessaburo Makiguti, um pedagogo japonês que na década
de 30 criou um sistema educacional além do seu tempo.
Tentei, então, demonstrar como a reflexão filosófica pode comprovar
mudanças globais, e que uma ação inovadora requer um diálogo profundo e
universal, fruto de um esforço reflexivo.
Conhecendo e praticando o Budismo de Nitiren Daishonin há 5 anos, tive
a oportunidade de estudar sua filosofia, princípios e conceitos, vindo a reconhecer
que a educação humana e o budismo são dois aspectos da mesma realidade. Eis
porquê a busca do prof. Makiguti na esfera da educação o levou ao budismo e ao
Sutra de Lótus, e porquê o Presidente da Soka Gakkai Internacional, Daisaku Ikeda,
têm promovido ativamente um movimento pela educação e cultura.
É de suma importância que essas experiências que aqui foram mostradas
sejam conhecidas por educadores que trabalham numa perspectiva mais ocidental
as quais poderão encontrar grandes contribuições propostas pelo Sistema
Educacional Soka, pois esse sistema visa acima de tudo à valorização do ser
humano.
Nossos estudos comprovam que a abordagem humanística, empregada
pelo Sistema Educacional Soka, integra os sentimentos afetivos, sobrepujam, e
sempre o farão, as abordagens simplesmente cognitivas. Nessa proposta um
requisito fundamental à melhoria no ensino são os vínculos de amor que possam
nortear as relações de educadores e educandos, revelando neste, potenciais nunca
antes imaginados.
O Sistema Educacional Soka, não é apenas uma nova proposta para a
uma solução educacional, mas um novo conceito de educação que prima pela
experiência de vida, busca a qualidade na atuação e procura conduzir o ser humano
ao seu desenvolvimento de forma plena.
Constatou-se, então que a criatividade é expressa pelo homem desde que
seu potencial não seja reprimido ou destruído. Que a educação tem o papel de
78
incentivar esse potencial, e, conduzir o homem a utilizar sua criatividade para
melhorar a própria vida e beneficiar a comunidade.
O objetivo de educação não deve ser a preparação para uma vida adulta,
mais a criação de valores para ser feliz no presente, concretizando ações de acordo
com o estagio de vida do indivíduo.
As pesquisas e estudos possibilitaram uma compreensão holística do que
é felicidade: não apenas satisfazer as necessidades básicas e de segurança
individual (egocentrismo), mas assumir o comprometimento total com a vida na
sociedade. Compreendemos que aquilo que o indivíduo considera felicidade
corresponde a seus valores. E o legítimo objetivo da educação é a criação de valor,
é ajudar o ser humano a aprender a viver como criador de valor, esta seria, na
verdade, a própria essência do ser humano.
Podemos identificar algumas deficiências no sistema educacional atual: o
sistema de ensino como um todo é estruturado segundo o nível de conhecimentos
factuais adquiridos, avaliado por exames. O sentimento de amor pela aprendizagem
inerente às crianças de modo geral se extingue antes de se chegar à adolescência,
como resultado da aprendizagem forçada. Muitas das dificuldades de aprendizagem
são produzidas pela educação inadequada. A prática educacional desenvolve-se na
uniformidade ou permissividade excessiva. Presta desserviço de ideal de educação
permanente, fazendo crer que a aprendizagem do indivíduo termina com o diploma
ou o nível alcançado.
Alguns educadores se contentam em cobrir determinado volume de
matéria dentro de um período certo, sem levar em conta da capacidade de
construção de novos conhecimentos dos alunos. Perdem de vista os elementos mais
fundamentais de seu papel. Tentam desesperadamente manter-se a par dos
estonteantes progressos da tecnologia e do aumento igualmente desnorteante das
informações associadas a esses progressos.
Em contra partida, o Sistema Educacional Soka desperta a consciência
humanística e cultiva o eu criativo, flexível, intuitivo e racional integrados, resgatando
o potencial de realização. As atividades com os professores busca sensibilizá-los
quanto à importância do papel que exercem na Educação, reforçando a importância
da missão do educador e o comportamento contínuo deles e dos pais para com o
desenvolvimento saudável das crianças e jovens sob sua responsabilidade. O
Sistema Educacional Soka integra a sala de aula e o mundo e recupera para a
79
comunidade e o lar, sua plena parceria no trabalho da educação passando a
considerar a pessoa integral, assumindo a responsabilidade de desenvolver o bom
caráter moral. Atua com base na premissa de que o fazer gera uma oportunidade
para trabalhar tanto a razão, quanto a emoção do aluno equilibrando o raciocínio
lógico com a intuição e a criatividade e cria condições para que os estudantes
possam experimentar a felicidade na escola, e que e escola seja altamente relevante
em sua vida. Desenvolve o ilimitado potencial inerente a cada indivíduo através da
emoção, da criatividade e da participação. Cultiva o humanismo que desenvolve a
motivação interna dos indivíduos, no sentido de capacitá-los a criar valores na suas
vidas e na sociedade. Enriquece a personalidade do indivíduo pelo estabelecimento
de uma mente ampla e flexível, cultivando um espírito capaz de transcender as
dificuldades.
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REFERÊNCIAS
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educando para a paz. Coordenadoria Educacional. São Paulo: Brasil Seikyo, 2001.
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