a esses rudimentos fracos e pobres, aos quais de novo quereis servir? Estai pois firmes na liberdade com que Cristo nos libertou, e não torneis a meter-vos debaixo do jugo da servidão" (Gál. 4:9 e 5:1). Cremos ter sido claros dentro do estudo desse capítulo, mas sabemos, outrossim, que muitas interrogações estão sendo feitas em relação às práticas de jejuns que são encontradas no Novo Testamento. Por isso, vamos passar, em seguida, para a segunda parte do nosso estudo, que será feita no Novo Testamento, examinando-se, por conseguinte, cada caso ali encontrado. - 35 - SEGUNDA PARTE DOUTRINA E PRÁTICA DO JEJUM NO NOVO TESTAMENTO CAPÍTULO VI FASES DOUTRINÁRIAS NO NOVO TESTAMENTO Até agora, limitamo-nos a estudar o jejum dentro do Velho Testamento, com exceção do último capítulo em que usamos textos do Novo Testamento, porém com o objetivo de discutir o ministério expiatório de Jesus Cristo e n | o a doutrina do jejum. Pudemos assim constatar que o jejum, como prática religiosa, teve a sua instituição e vigência dentro do período do Velho Testamento, ou mais precisamente, dentro da "Dispensação da Lei". Todavia, não olvidamos a prática do jejum também no Novo Testamento e, por isso, reservamos uma parte neste livro para tratarmos do assunto, em que vamos examinar e discutir todos os casos de jejuns registrados nesta parte da Bíblia Sagrada. Sempre que fazemos um estudo de práticas doutrinárias no Novo Testamento, torna-se necessário estabelecermos algumas divisões na fase doutrinária neotestamentária, sem o que, encontraremos uma série de dificuldades para entendermos o sentido e aplicação de uma determi- 36 - nada doutrina ou prática, correndo até mesmo o perigo de incidirmos em erros doutrinários. Precisamos conceber, e isso é bastante claro, que a história do cristianismo no períodd neotestamentário passou por algumas fases distintas, destacando-se principalmente três delas. E só quando localizamos as matérias doutrinárias dentro dos contextos dessas fases é que teremos capacidade para entendermos e aplicarmos os ensinamentos e práticas das doutrinas cristãs. Portanto, antes de entrarmos no estudo da prática do jejum no Novo Testamento, vamos estabelecer essas divisões e assim prepararmo-nos convenientemente para o estudo propriamente dito da matéria. 1. O Período do Ministério Terreno de Jesus A primeira fase, ou período, é aquele compreendido pelo ministério terreno de Jesus, que vai desde o seu nas* ' cimento até a sua morte na cruz. Embora esta fase da história esteja registrada no Novo Testamento, e não poderia ser de outra forma, ela í;; pertence realmente ao Velho Testamento, isto é, à Disq .<:> pensação da Lei. O ministério da Dispensação da Lei não ^1 ^ terminou com o nascimento de Jesus Cristo e nem com as 0"*i t,' atividades do seu ministério terreno. Em outras palavras, ^ S i a Dispensação da Graça não foi implantada com o nasci~ v.: mento de Jesus. O final da Dispensação da Lei e o início da Dispensação da Graça aconteceram quando da morte e ressurreição de Jesus Cristo. Portanto, até o momento quando Jesus deu o brado de vitória, dizendo: "Está consumado", tudo transcorreu sob a lei, embora em fase de transição. Cristo nasceu e viveu sob a lei, não há dúvida, e não podemos esquecer esse fato sempre que estudarmos as práticas religiosas registradas nos primeiros quatro livros do Novo Testamento. Paulo disse: "Mas vindo a plenitude dos tempos. Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei" (Gál. 4:4). - 37 - Observem a expressão; " . . . nascido sob a lei". Ou seja, nascido embaixo da lei, sob o domínio da lei. Jesus Cristo, expUcando a sua missão, declarou: "Não cuideis que vim destruir a lei ou os profetas; não vim abrogar, mas cumprir" (Mat. 5:17). O apóstolo Paulo, exaltando a pessoa de Jesus Cristo, afirmou: "E, achado em forma de homem, humiIhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte . . ." (Fil. 2:8). Ao instituir a Ceia, Jesus ensinou: "Este cálice é o Novo Testamento no meu sangue, que é derramado por vós" (Luc. 22:20). Esta afirmação de Jesus deixa claro que o Novo Testamento, a Dispensação da Graça, seria instituído com o seu sangue. Jesus Cristo em todo o seu ministério terreno procurou andar e viver de acordo com os preceitos sagrados do Velho Testamento, sem no entanto, é lógico, enveredarse pelos extremos das tradições religiosas da sua época, sendo, por isso, taxado de transgressor da lei. Ele foi obediente a Deus e aos seus estatutos até a morte. Assim é, que vamos encontrar Jesus observando as festas cerimoniais do Velho Testamento, principalmente a Páscoa, vamos encontrá-lo guardando o Sábado, no bom sentido do termo, indo nas sinagogas e observando outros preceitos da lei, bem como ensinando o povo sobre a maneira certa de praticar os preceitos da lei, em contraposição à maneira errada dos fariseus e saduceus. Também encontramos, neste período, homens e mulheres, servos piedosos de Deus, praticando com sinceridade as obras da lei e sendo assim instruídos por Jesus como seus seguidores. 2) O Batismo de Cornélio (At. 11:1-18): Lendo-se este texto, observamos que Deus teve que falar de uma maneira especial com Pedro, para que ele entendesse a extensão da salvação aos gentios, pois do contrário, Cornélio não teria sido bãtizado. Sendo batizado, Pedro precisou com muito jeito explicar o acontecimento ao grupo apostólico, para evitar que Cornélio não fosse aceito como salvo. É que até aquela data, eles, os apóstolos, ainda não tinham entendido que o Evangelho era extensivo a todo o mundo, inclusive aos gentios. Apesar de terem estado tanto tempo com Jesus, aprendendo as doutrinas cristãs, e de ouvirem o seu mandado: "Ide por todo o mundo e pregai o Evagelho a toda a criatura, quem crer e for batizado será salvo", ainda entendiam que o Evangelho de Jesus Cristo era apenas para os judeus. 2. O Período Inicial das Igrejas Primitivas O segundo período, é aquele compreendido pelos prímeiros anos do cristianismo, começando com a ascenção de Jesus. Não temos nos registros do Novo Testamento uma linha divisória nítida do seu término, mas podemos constatar com clareza a existência desse período. Constatamos que os nossos irmãos cristãos, na fase inicial da igreja primitiva, não tinham muita firmeza doutrinária. Isso é bastante admissível, quando consideramos os fatos á luz das diversas circunstancias da época, tais como a falta de uma literatura cristã, pois o Novo Testamento e nenhum outro livro ainda haviam sido escritos, e as dificuldades de comunicação, tudo agravado ainda mais com a falta de firmeza doutrinária do próprio grupo apostólico e das intromissões de outros grupos religiosos que começaram a surgir, principalmente os chamados "judaizantes", que queriam fazer uma mistura de doutrinas cristãs com preceitos judaicos da lei. Os fatos acima são deduzidos facilmente quando fazemos um estudo cuidadoso dos primeiros capítulos de Atos dos Apóstolos e de algumas das epístolas, principalmente as paulinas. Como exemplo, vamos observar alguns fatos que destacamos dentre outros existentes: 1) A Primeira Comunidade Cristã (At. 2:44-47): Percebe-se, por este fato, que os crentes estavam sendo ensi-, nados que Jesus iria voltar por aqueles dias, fruto de uma má interpretação dos ensinos de Jesus Cristo sobre a sua volta, e daí passaram a vender as suas propriedades e tudo o que tinham, passando a viver em conjunto, orando, comendo, estudando sobre as doutrinas e preparando-se, dessa forma, para o reencontro com Cristo por aqueles dias. Hoje praticamente ninguém mais defende uma comunidade assim para os crentes, aqui na terra, mas fizeram isso no começo; está registrado no Novo Testamento. É bíblico, poder-se-ia dizer. 4) Paulo e Pedro (Gál. 2:11-21): Nesse texto, Paulo relata os problemas acontecidos em Antioquia, tendo como principal personagem o apóstolo Pedro, com quem Paulo diz ter discutido e resistido na cara, porque era repreensível. No mesmo texto, Paulo cita outros judeus que também estavam na mesma situação, incluindo Barnabé que, conforme se referiu, " . . . não andavam bem e - 39 - - 40 - 3) Os Problemas com a Igreja de Antioquia (At. 15:1-34): Observamos que a Igreja de Antioquia estava em problemas doutrinários. Uns ensinavam uma coisa, sobre uma determinada doutrina, outros ensinavam outra coisa, e ninguém sabia o que estava realmente certo. Foram para Jerusalém, a fim de consultar o grupo apostólico e resolver o problema, ou problemas doutrinários, todavia observamos que os apóstolos também não estavam muito aptos para dar a solução cabível ao impasse criado, tendo havido até mesmo um certo desentendimento entre eles em relação ao caso. No versículo 7 está registrado que houve uma "grande contenda" entre eles. Precisou Pedro falar, depois Tiago e, então conseguiram chegar a um acordo. direitamente conforme a verdade do Evangelho . . (Gál. 2:14). 5) O Problema da ressurreição em Tessalônica (I Tes. 4:13-18 e II Tes. 2:1-3): Paulo estava enfrentando alguns problemas com respeito à doutrina da ressurreição dos mortos e da vinda de Senhor na Igreja cristã de Tessalônica. Parece-nos que alguns irmãos estavam espalhando algumas doutrinas heréticas sobre o assunto, trazendo dúvidas doutrinárias para aqueles irmãos. O apóstolo procurou mostrar a verdade e doutrinar corretamenle aquela Igreja. Pelos fatos apresentados acima, e outros que encontramos no Novo Testamento, podemos nos aperceber de que o período inicial das igrejas cristãs foi caracterizado por instabilidade e dúvidas doutrinárias, em que o próprio mimigo se aproveitava para espalhar o seu joio, não sendo difícil, por conseguinte, encontrarmos muitos crentes praticando certos costumes e ritos da antiga dispensação, bem como não tendo um conhecimento perfeito e correio de muitas doutrinas e princípios cristãos. 3. O Período da Maturidade Doutrinária A terceira fase, nesse contexto histórico das igrejas primitivas, é aquela em que vamos encontrar as igrejas e os crentes, consequentemente, atingindo a maturidade espiritual e doutrinária na fé cristã. Algum tempo, não sabemos quanto, foi necessário para que isso acontecesse. A conversão de Paulo e a sua chamada para o ministério apostólico, vindo a se tornar um dos maiores teólogos e grande expositor das doutrinas cristãs; não só expositor, mas defensor, também. As suas viagens missionárias, as suas epístolas que até hoje se constituem como grandes depositárias das doutrinas e verdades cristãs, as experiências pessoais dos apóstolos e dos demais crentes e das igrejas são fatores incontestáveis que muito contribuíram para que o cristianismo alcançasse a sua maturidade no conhecimento das doutrinas fundamentais do Evange- lho de Cristo e consequentemente a sua estabilidade espiritual. A partir de então, nós podemos vislumbrar já nas págmas do Novo Testamento a firmeza doutrinária das igrejas e a inexistência de práticas doutrinárias ultrapassadas. Aí podemos ver a simplicidade e a pureza das doutrinas evangélicas, assim como devem ser recebidas e praticadas pelos crentes em Jesus Cristo. Com esses fatos em mente, e sem nunca perdê-los de vista, e que devemos estudar a questão da prática do jejum no Novo Testamento. Só assim estaremos aptos para por as coisas no seu devido lugar, sem o perigo de promovermos uma mistura doutrinária de resultados negativos para a vida cristã. Não basta apenas citar que uma determinada prática está registrada no Novo Testamento para já a incluirmos no corpo doutrinário evangélico. Precisamos saber, antes de tudo, por que e em que circunstancia foi ali registrado. Senão, teremos que incluir em nossas doutrinas não só o jejum, mas muitas outras práticas, tais como o lava-pés, a páscoa com o cordeiro pascoal, a comunidade cristã nos moldes de Atos dos Apóstolos, o uso do véu nas mulheres, e outras que encontramos através do Novo Testamento. - 41 - - 42 - Não poderíamos começar esta parte do estudo da doutrina e prática do jejum de modo melhor a não ser estudando primeiramente a sua relação com Jesus Cristo; com o ministério terreno de Jesus. Ele é o nosso Mestre por excelência e assim o mais autorizado no que diz respeito à ministração das doutrinas evangélicas, pois Ele é particularmente o seu autor. Temos muito mesmo para aprender com o nosso Mestre sobre a prática do jejum no Novo Testamento. O pouco que temos sobre Jesus relacionado com o jejum, é o bastante e suficiente para descobrirmos e entendermos o seu ponto-de-vista e o seu ensino sobre a matéria. Aliás, é bom que se diga de passagem, que no Novo Testamento encontramos muito pouco mesmo sobre a prática do jejum, que não será difícil comentar cada passagem, como vamos passar a fazer, o que não foi possível quando estudamos a matéria no Velho Testamento, dado os muitos casos de jejuns que são lá encontrados. 1. O jejum de Jesus no deserto (Mat. 4:1-11; Mar. 1:12-13; Luc. 4:1-13): Começando com Jesus, vamos começar com o início do seu ministério terreno, examinando o seu jejum no deserto, narrado nos textos acima. Para mim não seria surpresa encontrar Jesus Cristo jejuando, uma vez que Ele cumpriu o seu ministério aqui na terra sob a legis ação religiosa do Velho Testamento, como já demonstramos no capítulo anterior, porém o caso presente de jejum não se trata de uma cerimonia reli- giosa que esteja sendo executada por Jesus Cristo. Trata-se, tão-somente, de um jejum involuntário, ocasionado pelas circunstâncias em que se encontrava Jesus. Observem o início dsiS três«arrações dos evangelistas: "Então foi conduzido Jesus pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo diabo" (Mat. 4:1). "E logo o Espírito o impeliu para o deserto" (Mar. 1:12). "E Jesus, cheio do Espírito Santo, voltou do Jordão e foi levado pelo Espírito ao deserto" (Luc. 4:1). Pelas três narrações dos evangelistas, acima citadas, nos certificamos de que Jesus não havia programado ir para o deserto após o seu batismo. Os tres evangelistas são unânimes em afirmar que Jesus foi "conduzido", "impelido", "levado" ao deserto pelo Espírito. A segunda coisa que temos a observar nessa narração, é a finalidade da ida de Jesus ao deserto: "Para ser tentado pelo diabo" (Mat. 4:1, Luc. 4:2 e Mar. 1:13). O objetivo, a finalidade, a tarefa de Jesus no deserto, segundo o plano de Deus através do Espírito Santo e não de Jesus, era enfrentar o diabo, começando dessa forma as suas lutas contra o inimigo no seu ministério terreno. Então o jejum foi uma decorrência circunstancial da sua estada no deserto. Ele não levou alimentação, no deserto não havia onde adquiri-la, bem como Jesus não iria suspender as suas atividades ali ou pedir uma trégua ao diabo para ir até à cidade comer e depois voltar, pois ele nunca se preocupou com a comida. Daí o jejum involuntário, ocasionado peia falta de alimentação. Mas, repito o que disse de início: Não veria qualquer problema mesmo que fosse um jejum voluntário, pois Jesus estava debaixo da Dispensação da Lei. 2. O caso da expulsão dos demónios (Mat. 17:14-21 e Mar. 9:14-29): Para nossas considerações, vamos transcrever apenas o último versículo do texto de Mateus, pois ambos os textos são praticamente iguais: - 43 - - 44 - CAPITULO y i i JESUS E A PRÁTICA DO JEJUM "Mas esta casta de demónios não se expulsa senão pela Oração e pelo jejum" (Mat. 17:21). Temos duas explicações para o referido texto: a) A primeira diz respeito à autenticidade da expressão: A palavra "jejum" não se encontra nos melhores manuscritos. Teria algum copista, mais tarde, acrescentado esta parte; quem sabe um daqueles judaizantes que não podiam separar a Oração do jejum, por ainda não ter entendido o ensino evangélico. Mas deixemos essa explicação de lado, por ser um tanto controvertida, e vamos para a segunda. b) Este fato está dentro do período ainda sob a lei, na Dispensação da Lei, conforme já explicamos atrás, onde o jejum fazia parte do cerimonial para uma preparação espiritual necessária visando alcançar uma perfeita comunhão com Deus e ter, por conseguinte, o seu poder para tão importante tarefa que era a expulsão de um demónio. Por certo que os discípulos, contando com a ausência do Mestre e de outros colegas, que estavam no monte da transfiguração, já por algum tempo, não deviam estar nada preparados espiritualmente para enfrentar os demónios. Precisavam penitenciar-se diante do i odo-Poderoso Deus, e o jejum era, segundo a lei, um dos meios para isso, dentro da antiga dispensação em que estavam. O "Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo" ainda não havia sido morto; não havia sido sacrificado em expiação pelos pecadores. Ele, Jesus, ao ser inquirido pe os discípulos, não poderia ter dito; Esta casta de demo- • nios só se expulsa com Oração mediante a vossa confissão de pecados, a mim, para que eu vos purifique com o meu sangue derramado na cruz. Não, naquela hora, naquela ocasião, a resposta só poderia ter sido a que Jesus deu. Tudo ainda estava debaixo do cerimonial antigo. A Dispensação da Graça ainda não havia sido instituída. 3. Jesus ensinando o jejum (Mat. 6:16-18): Esta passagem é muito citada pelos jejuadores para argumentar que Jesus ensinou a jejuar. Vamos transcrever o texto: - 45 - "E, quando jejuardes não vos mostreis contristados, como fazem os hipócritas; porque desfiguram os seus rostos para que aos homens pareça que jejuam. Em verdade vos digo que já reccoeram o seu galardão. Porém tu, quando jejuares, unge a tua cabeça, e lava o teu rosto, para que não pareça aos homens que jejuas, mas a teu Pai que está em oculto; e teu Pai, que vê em oculto, te recompensará". À primeira vista, parece mesmo que Jesus está dando um mandamento sobre a prática do jejum. Mas não é realmente isso que estava acontecendo. Ò jejum já era um mandamento, e bem antigo, observado pelo povo de Deus desde o Sinai. Fazia parte do seu cerimonial religioso, como já discutimos anteriormente. Todo o bom judeu devia praticá-lo com sinceridade de coração. O fato aconteceu naquele período do ministério de Jesus, aliás, parece-nos que bem no início, portanto em plena Dispensação da Lei. Naquela altura do seu ministério, Jesus nao estava autorizado a abolir al|um coisa dos preceitos da lei, nem mesmo o jejum. Ele nao veio para abolir ou abrogar, mas para cumprir (Mat. 5:17). O que Jesus estava fazendo, naquela ocasião referida no texto em apreço, não era, repetimos, dando um mandamento para a prática evangélica do jejum, mas sim ensinando aos judeus a maneira certa e correta de se proceder na prática do jejum, em face dos erros que vinham sendo cometidos pelos fariseus hipócritas. Ele não disse: Vós deveis jejuar, mas sim: "Quando jejuardes . .." 4. Jesus e os discípulos de João (Mar. 2:18-22): Esta é a passagem mais importante neste estudo, pois aqui temos realmente mui claro o pensamento e ensino de Jesus sobre a prática do jejum: Leiamos o texto: "Ora os discípulos de João e os fariseus jejuavam; e foram e disseram-lhe: Por que jejuam os - 46 - discípulos de João e os dos fariseus, e não jejuam os teus discípulos? E Jesus disse-lhes: Podem porventura os filhos das bodas jejuar enquanto está com eles o esposo? Enquanto têm consigo o esposo, não podem jejuar; Mas dias virão em que lhes será tirado o esposo, e então jejuarão naqueles dias. Ninguém deita remendo de pano novo em vestido velho: doutra sorte o mesmo remendo novo rompe o velho, e a rotura fica maior; E ninguém deita vinho novo em odres velhos; doutra sorte, o vinho novo rompe os odres e entorna-se o vinho, e os odres estragam-se; o vinho novo deve ser deitado em odres novos". Vamos considerar esse texto em todas as suas minúcias, pois, como dissemos acima, estamos diante de uma das passagens mais importantes sobre a prática do jejum no Novo Testamento. Inicialmente, observemos a pergunta dos discípulos de João, feita a Jesus: "Por que não jejuam os teus discípulos?" Dentro dessa pergunta está implícita uma afirmação: Os teus discípulos não jejuam. Jesus não contrariou essa afirmação, o que torna claro que se tratava de uma verdade. Os discípulos de Jesus não jejuavam. Não podemos aceitar que, se o jejum fosse uma doutrina cristã e importante na vida espiritual, Jesus, que sempre teve o cuidado de ser um exemplo e ensinar todos os preceitos de Deus, o tivesse relegado. Também não aceitamos o fato de que, se Jesus praticava o jejum, os seus discípulos, que acompanhavam o Mestre no seu ministério,não o acompanhassem nesse mister. O certo mesmo é que nem Jesus e nem os seus discípulos praticavam a doutrina antiga do jejum. - 47 - Todavia, o mais importante nesse texto não é a pergunta feita pelos discípulos de João, mas a resposta dada por Jesus Cristo, que é o que vamos considerar em seguida, dividindo-a seguiido as figuras apresentadas pelo Mestre. 1) Osfílhosdas bodas e o Esposo (vs. 19-20): Está claro no próprio texto que "os filhos das bodas" eram os seus discípulos, ou, por extensão, os seus seguidores. O "esposo", não há dúvida, é o próprio Jesus.Não precisamos de muita profundidade teológica para entendermos o que o Mestre queria ensinar. Seria o mesmo que dizer: "Enquanto eu estiver presente, os meus discípulos, meus seguidores, não podem jejuar". Em outras palavras, a presença de Jesus torna sem efeito e desnecessário o jejum. Esta afirmação está perfeitamente enquadrada dentro do escopo do jejum. Ele foi instituído para vigorar dentro de um cerimonial da lei, cujo objetivo era realmente guiar o povo de Deus até Cristo (Gál. 3:24-25). Portanto, para vigorar na ausência de Jesus. Com Ele, consequentemente o jejum perde a sua viabilidade. Então, em última analise, o jejum identifica a ausência de Jesus. Ele afirmou: "Mas dias virão em que o esposo lhes será tirado, então jejuarão naqueles dias" (v. 20). Mas não vamos agora querer entender que essa declaração de Jesus se refira à presente época, em que o esposo foi tirado, voltou para o Céu. Para o verdadeiro crente Jesus nunca está ausente. Ele mesmo afirmou: " . . . e eis que estou convosco todos os dias até a consumação dos séculos" (Mat. 28:20b). A ausência referida por Jesus, nada mais seria do que aquela compreendida entre a sua morte e ressurreição, três dias apenas. Observem que Ele não disse que passariam a jejuar dali para frente, mas "naqueles dias". Seriam apenas dias, e graças a Deus por por isso, pois, pela graça e poder de Deus, temos o "esposo" sempre presente. 2) Remendo de pano novo em vestido velho (v. 21): Cremos que essa declaração de Jesus é o suficiente para - 48 - esclarecer e dar o seu ponto de vista sobre a doutrina levítica do jejum. "Pano novo" é o Evangelho de Jesus Cristo, com o seu corpo doutrinário, com toda a simplicidade e beleza, coberto pelo sangue precioso de Jesus, o sangue da Nova Aliança. "Vestido velho" era a roupagem do cerimonial judaico, já bastante roto, de cuja textura o jejum era parte integrante. Infelizmente, há muita gente por aí tentando remendar e usar o "trapinho velho" da Dispensação da Lei. Mas Cristo ensinou que não há qualquer proveito nisso, pois a rotura só vai ficar maior. Aprendamos a lição com o Mestre. 3) Vinho Novo em Odres Velhos (v. 22): A figura usada por Jesus aqui é igual em parte à anterior, porém existem outras lições importantes para serem salientadas. O "vinho novo", como no caso acima, é o Evagelho, e os "odres velhos" são, igualmente, os componentes do cerimonial judaico, inclusive o jejum que era o de que estava Jesus falando. Jesus apenas quis reafirmar a lição, usando figuras diferentes. Mas observemos a primeira afirmação de Jesus no caso presente: "Ninguém deita vinho novo em odres velhos; o vinho novo rompe os odres e entorna-se o vinho". Jesus estava afirmando que o vinho novo seria perdido, no caso, pois os odres ve hos não teriam capacidade para contê-lo. Realmente, quando as doutrinas cristãs são misturadas com doutrinas antigas, do velho pacto, doutrina alheias ao Evangelho, o que de melhor acorttece é uma perda irreparável para a pureza das doutrinas evangélicas e para a vida cristã do crente, que passa a depositar confiança em outros fatores que não Cristo somente. Isso é o que acontece com Evangelho mais idolatria, Evangelho mais paganismo. Evangelho mais espiritismo. Evangelho mais judaísmo, Evangelho mais socialismo. Mas a mais importante afirmação de Jesus, nesse texto, foi a última: "O vinho novo deve ser deitado em odres novos". Se muitos religiosos de hoje, até mesmo muitos crentes, inclusive pastores, dessem ouvidos a essa afirmação do mestre, não estariam praticando o jejum e cnsi- 49 - nando-o para o povo. O bíblico, o cristão, o neotestamentário, é Evangelho com preceitos evangélicos; "vindo novo em odres novos". Encerrando este capítulo, queremos reafirmar o que dissemos acima: Cada vez que o homem mistura as doutrinas cristãs com preceitos da velha dispensação ou outros alheios ao Evangelho, o que resulta normalmente é um enfraquecimento e até destruição da fé cristã. A fé que crê em Cristo, o único e todo suficiente Salvador. A fé que crê no sangue de Jesus Cristo como tendo poder para nos purificar de todo o pecado. A fé que crê em Jesus Cristo como o único mediador entre Deus e o homem. Quantas roturas espirituais por aí; quantas vidas inúteis e fé praticamente destruídas resultantes de dúvidas doutrinárias contraídas por uma mistura religiosa sem qualquer base ou fundamento na Bíblia Sagrada, Estejamos preparados e precavidos contra essas coisas. - 50 -