ADRIANA BRAGA ALVES PORTUGUÊS E ESPANHOL, LÍNGUAS

Propaganda
ADRIANA BRAGA ALVES
PORTUGUÊS E ESPANHOL, LÍNGUAS IRMÃS SEPARADAS NO NASCIMENTO
Canoas, 2009.
ADRIANA BRAGA ALVES
PORTUGUÊS E ESPANHOL, LÍNGUAS IRMÃS SEPARADAS NO
NASCIMENTO
Trabalho de conclusão do Curso de Letras do
Centro Universitário La Salle, como exigência
parcial para obtenção do grau de licenciado em
Letras,
sob
orientação
da
Profª.
Ms.
Hilaine.Gregis.
Canoas, 2009.
TERMO DE APROVAÇÃO
ADRIANA BRAGA ALVES
PORTUGUÊS E ESPANHOL, LÍNGUAS IRMÃS SEPARADAS NO
NASCIMENTO
Trabalho de conclusão aprovado como requisito parcial para obtenção do grau de
licenciatura do Curso de Letras do Centro Universitário La Salle, pelo avaliador:
Profª. Ms. Hilaine Gregis
Canoas, 3 de julho de 2009.
Dedico este trabalho a minha filha Camila,
a razão da minha vida.
AGRADECIMENTOS
Durante o caminho percorrido para chegar até esta monografia, muitos foram
os que me ajudaram e apoiaram, por isso agradecer pode não ser uma tarefa justa
por deixar de fora pessoas que mereçam ser agradecidas. Dessa maneira agradeço
a todos que direta ou indiretamente colaboraram para a realização desse sonho.
Agradeço particularmente as pessoas abaixo.
Em primeiro lugar, agradeço a Deus, por ter me dado a oportunidade de
realizar meu sonho e forças para continuar quando tudo parecia muito difícil.
Ao Marcelo, à minha filha Camila, aos meus pais e irmãos que, com muito
carinho e apoio, não mediram esforços para que eu chegasse até esta etapa de
minha vida.
Aos meus sogros, pelo carinho e cuidados dedicados à Camila durante minha
ausência.
Aos meus queridos amigos e colegas do curso Letras e de trabalho pelo
incentivo e apoio.
À professora Hilaine, pela paciência na orientação e incentivo na construção e
conclusão desta monografia.
A todos os professores do Unilasalle, em especial, ao professor Cícero
Galeno Lopes que foi muito importante na minha formação acadêmica.
RESUMO
A língua latina se difundiu juntamente com as conquistas do Império Romano e foi
imposta como língua oficial aos povos vencidos. No início, era um único idioma; no
entanto, à medida que se espalhava pelo mundo, começou a apresentar alterações
até haver uma distinção entre a língua literária, denominada de clássica, e a língua
falada, chamada de vulgar. Recebendo influências de substratos, de superestratos e
de adstratos, com o declínio do Império Romano, foi o latim vulgar que se modificou
até formar as línguas românicas. Na Península Ibérica, foi o movimento de
Reconquista Cristã, que tinha por interesse expulsar os povos árabes das terras
ibéricas, o responsável pela formação das línguas irmãs: o português e o espanhol.
Esses idiomas têm origem e história muito semelhantes, mas apresentam várias
distinções em todos os níveis: fonético, lexical, morfológico e sintático. Essas
diferenças podem ser explicadas por questões político-sociais e geográficas.
Palavras-chaves: Língua. Língua latina. Línguas românicas. Língua portuguesa.
Língua espanhola.
RESUMEN
La lengua latina se difundió juntamente con las conquistas del Imperio Romano y fue
impuesta como lengua oficial a los pueblos vencidos. En el inicio, era un solo idioma;
pero, en la medida que se difundía por el mundo, empezó a mostrar alteraciones
hasta haber una distinción entre la lengua literaria, denominada clásica, y la lengua
hablada, llamada vulgar. Recibiendo influencias de los substratos, de superestratos
e adstratos, con la declinación del Imperio Romano, fue el latín vulgar que se
modificó hasta formar las lenguas románicas. En Península Ibérica, fue el
movimiento de Reconquista Cristiana, que tenía el interés de expulsar los pueblos
árabes de las tierras ibéricas, el responsable por la formación de las lenguas
hermanas: el portugués y el español. Esos idiomas tienen origen e historia muy
semejantes, pero presentan muchas distinciones en todos los niveles: fonético,
lexical, morfológico y sintáctico. Esas diferencias pueden ser explicadas por
cuestiones político-sociales y geográficas.
Palabras llaves: Lengua. Lengua latina. Lenguas románicas. Lengua portuguesa.
Lengua española.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 7
2 LINGUAGEM, LÍNGUA E DIALETO ........................................................................ 8
3 A LÍNGUA LATINA ................................................................................................ 12
3.1 Origem da língua latina ..................................................................................... 12
3.2 Evolução do latim .............................................................................................. 14
3.3 Latim culto “versus” Latim vulgar ................................................................... 16
3.4 A formação das línguas românicas ................................................................. 20
4 AS LÍNGUAS IRMÃS PORTUGUÊS E ESPANHOL ............................................. 25
4.1 História da Língua Portuguesa ........................................................................ 25
4.2 História da Língua Espanhola .......................................................................... 29
4.3 Análise comparativa das Línguas Portuguesa e Espanhola ......................... 31
4.4 A separação das línguas irmãs portuguesa e espanhola .............................. 38
5 CONCLUSÃO ........................................................................................................ 43
REFERÊNCIAS......................................................................................................... 44
Anexo 1 – Fotografia do diagrama As grandes famílias linguísticas ................. 46
Anexo 2 – As línguas portuguesa e espanhola .................................................... 47
1 INTRODUÇÃO
A partir das últimas décadas, os estudos diacrônicos voltaram a ser
enfocados por numerosas estudiosos da área de Linguística – mais especificamente
de Linguística Histórica. Tendo em vista a grande parte de pessoas que consideram
o latim uma “língua morta”, trazemos um estudo comparativo entre as línguas
portuguesa e espanhola, mostrando como foi o processo de dialetação do latim que
deu origem as línguas românicas, entre elas, a portuguesa e espanhola.
O objetivo do presente estudo é conhecer com maior profundidade os idiomas
português e espanhol a partir da evolução do latim até os dias atuais e mostrar quais
foram os fatores linguísticos e extralinguísticos que influenciaram os diferentes
rumos tomados por essas línguas, além de apontar as principais diferenças e
semelhanças que são mantidas por esses idiomas de povos distintos. É possível
que os dados acerca da procedência das línguas portuguesa e espanhola possam
ser importantes para entendermos como permanecem muitas semelhanças até
nossos dias entre tais línguas e como ocorreram e ocorrem as mudanças
linguísticas.
O desenvolvimento desse estudo foi estruturado a partir de leituras e
fichamentos de obras e textos que envolvem o tema. Entre os principais autores
citados estão: Rodolfo Ilari, Sílvio Elia, Celia Siqueira Marrone, Ismael da Lima
Coutinho, Mattoso Câmara Júnior, Carlos Alberto Faraco, Zélia de Almeida Cardoso
e Francisco da Silveira Bueno.
2 LINGUAGEM, LÍNGUA E DIALETO
O ser humano tem a necessidade de comunicar-se com o mundo exterior e
para isso cria formas, ou seja, códigos. É tão importante a comunicação para o
homem que, por exemplo, se isolássemos um grupo de pessoas que falam línguas
distintas em um ambiente, eles, certamente, criariam formas de se comunicarem,
seja por gestos, mímicas ou palavras. Depois de um tempo, se analisarmos essas
pessoas, chegaremos à conclusão de que elas construíram um código comum, no
qual se expressam de maneira que se entendam. Para ilustrar, podemos mencionar
aqui as pessoas surdas, que por não ouvirem, hipoteticamente, não poderiam se
comunicar com as demais pessoas, mas não é isso que ocorre, elas construíram sua
próprio língua. Hoje, diversos países têm oficialmente uma língua de sinais para
surdos. No Brasil, temos a LIBRAS, Língua Brasileira de Sinais, que é reconhecida
pelo Estado desde 2002.
Por ser a linguagem algo tão importante e interessante para o ser humano,
desde a Antiguidade, muitos estudiosos e pesquisadores têm tentado responder
questões sobre a origem dessa capacidade humana, porém, até nossos dias, não
chegaram a um consenso. Essa preocupação deve-se ao fato da linguagem ter um
papel fundamental na vida social, pois é por meio dela que o indivíduo pode
comunicar seus pensamentos, desejos, sentimentos, etc.
É importante para nosso estudo, primeiramente, verificarmos os conceitos dos
vocábulos língua, linguagem e dialeto, que, muitas vezes, são confundidos,
causando uma má interpretação do sentido dessas palavras. Sabemos que tais
termos estão relacionados com a comunicação, mas possuem significados distintos.
Linguagem é o conjunto de sinais utilizado pelo homem para comunicar-se com o
mundo exterior; língua é a linguagem de uma comunidade e dialeto é variação de
uma língua, que pode ser originário de diversos fatores, como classe social, região,
9
escolaridade, etc. Não devemos estigmatizar nenhuma variante de uma língua, pois
todo novo idioma é originário de um dialeto.
Existem inúmeras definições, semelhantes em muitos pontos e divergentes
em alguns aspectos relevantes considerados por cada autor, para língua, linguagem
e dialeto, pois com o avanço dos estudos linguísticos muitos estudiosos
preocuparam-se em conceituá-los. Vejamos abaixo algumas dessas definições, que
servirão para termos noções essenciais e ajudar no desenvolvimento desse estudo.
De acordo com Petter (2006, p.11), o deslumbre que a linguagem exerce
sobre o homem vem do poder que permite nomear, criar e transformar o universo
real e também a possibilidade de trocar experiências, falar do passado, do futuro e
imaginar. A linguagem verbal é o objeto do pensamento e o meio de comunicação
social. Assim como não é possível existir uma sociedade sem linguagem, também
não há sociedade sem comunicação.
Saussure (2006, p.17) explica que a língua não se confunde com a
linguagem, é uma parte dela, é um produto social, é um conjunto de convenções. A
linguagem é multiforme e heteróclita, pertence ao domínio individual e social.
Segundo Joaquim Mattoso Câmara Jr. (1990, p. 9), a linguagem é algo
comum no cotidiano das sociedades, é um ato tão natural quanto caminhar, embora,
a linguagem não seja um fenômeno biológico como caminhar, mas uma invenção da
sociedade, baseada nas capacidades biológicas.
Coutinho (2005, p. 21; 22) diz que linguagem é o conjunto de sinais utilizados,
intencionalmente, pelos homens para transmitir ideias e pensamentos. Para o
pesquisador (2005, p. 29), a língua é uma linguagem peculiar de um povo e dialeto é
uma variação regional de uma língua. Ele segue dizendo que o dialeto não deve ser
considerado uma corrupção de uma língua, mas uma transformação que é devida a
diversos fatores que podem ser: sociais, étnicos, geográficos, etc. Lembra que toda
língua, originalmente, é um dialeto, por isso língua e dialeto são termos relativos. Por
exemplo, as línguas espanhola e portuguesa em relação ao Latim não passam de
simples dialetos.
Para os autores Dolores Carvalho e Manoel Nascimento (1974, p. 9),
linguagem em seu sentido lato é todo sistema de sinais que podem ser utilizados
pelas pessoas para se comunicarem. Dessa forma, podemos falar em linguagem
dos animais ou em diversos sistemas de linguagem humana, como a gesticulada, a
mímica, a simbólica (bandeiras, sinais de trânsito, brasões) e a que se faz por meio
10
dos sentidos (olfato, tato). No entanto, no sentido escrito a linguagem é aquela que
fundamenta o objeto da linguística e restringe-se à linguagem humana articulada. A
linguagem é uma característica própria do ser humano e serve de instrumento para
a intercomunicação social, não podendo haver sociedade sem linguagem. Sendo
língua, a linguagem particularmente usada por um povo.
Sílvio Elia (1998, p.10 -15) explica que dialeto é uma palavra de origem grega
diálektos, que significava “conversação, maneira de falar”, “maneira de falar própria
de determinada região”. Hoje, no ponto de vista popular, o termo dialeto é usado
para definir uma forma corrompida da língua culta. Porém, acrescenta o autor, o
dialeto tem uma equivalência em relação à língua, isto é, não apresenta qualquer
tipo de inferioridade estrutural. A língua é o falar de um povo, reconhecido
oficialmente pelo Estado, por esse motivo é que possui um maior prestígio social do
que o dialeto, que não é reconhecido com língua oficial pelo Estado e é utilizado,
normalmente, em sua forma oral.
Serafim da Silva Neto (1977, p. 26) diz que “a língua é realidade viva,
espontânea, nunca rijo catálogo de formas”. A partir disso, podemos afirmar que a
língua, como algo vivo, se modifica, se transforma, evolui, acompanha a realidade
de seus falantes e consecutivamente cria-se novos falares, isto é, novos dialetos.
Partindo do fato que as línguas se modificam com o passar do tempo, criando
novos dialetos que, posteriormente, serão considerados novas línguas, é necessário
sabermos como ocorre esse fenômeno linguístico.
As línguas variam, e para entendermos isso é interessante observamos que
dentro do nosso país há diferenças no português falado por nós do Rio Grande Sul e
pelo português falado em outros estados, como São Paulo, Bahia e Mato Grosso,
mas mesmo com algumas diferenças, sejam elas lexicais, sintáticas ou fonéticas,
conseguimos nos comunicar em qualquer estado brasileiro. Podemos citar como
exemplo de variante lexical a palavra mexerica, usada em São Paulo, que
corresponde a bergamota, palavra mais comum para nós no Rio Grande do Sul.
As línguas apresentam variações de acordo com a região, como no exemplo
acima, e também de acordo com a situação em que se fala, com o nível de
escolaridade, com a classe social, etc.
Segundo Faraco (1998, p. 9), os falantes de uma língua, geralmente, não se
atêm ao fato de que sua língua está em constante processo de mudança. Esse
processo esse que acontece de maneira contínua e lenta e que atinge sempre
11
partes de uma língua, ou seja, a evolução das línguas ocorre alternando, em
espaços de tempo, a mudança e a permanência, o que explica o fato dos falantes
acreditarem que a língua é estática e não dinâmica.
Em controvérsia, Faraco afirma (1998, p. 10) que há determinadas situações
em que os falantes percebem a existência de algumas alterações, por exemplo,
quando os falantes têm contato com textos arcaicos de sua língua; quando convivem
com pessoas de faixa etária, classe social e escolaridade diferente da sua; quando
têm dificuldades de escrever em língua padrão. É nessas situações que fica
evidente a diferença que existe entre a ideia que se tem de língua e o que realmente
ocorre, isto é, a língua está sempre em processo de mudança.
Para compreender melhor porque as línguas mudam, vejamos na citação
abaixo os esclarecimentos do autor Paulo Chagas.
Dentro de uma perspectiva variacionista se tem como certo que toda
mudança pressupõe variação, ou seja, para que a mudança ocorra a língua
tem necessariamente de passar por um período em que há variação, em
que coexistem duas ou mais variantes. Tomando como exemplo, para
simplificar a exposição, o caso em que há apenas duas variantes, uma mais
antiga e outra mais nova, poderemos constatar que gradativamente a
distribuição das variantes passa de um predomínio da variante mais antiga
para um predomínio da variante mais nova, até que haja a substituição
completa. Retomando o exemplo das formas você e tu, tínhamos
inicialmente apenas a forma tu, depois as duas em concorrência. Em muitas
regiões do Brasil, já se completou a mudança, resultando em uma
substituição completa do pronome sujeito tu por você. Em outras temos
ainda a variação entre as duas. É importante perceber que não passamos
de uma fase em que só se usava a forma tu para outra em que só se usava
a forma você, sem uma fase intermediária de variação (2006, p.152).
A partir das explicações acima, podemos concluir que todas as línguas
passam por modificações e através do tempo transformam-se em dialetos que
podem formar novas línguas. Veremos nos próximos capítulos, que desde o indoeuropeu, houve uma série de alterações na língua indo-européia, provocadas por
diversos fatores que mais tarde deram origem a diversas línguas, até chegar às
línguas do presente estudo: portuguesa e espanhola.
3 A LÍNGUA LATINA
Se queremos conhecer com profundidade algo existente no presente,
devemos olhar para suas raízes no passado, por isso é importante conhecermos a
Língua Latina e sua origem, pois a partir dessa análise e estudo poderemos
conhecer melhor nossa própria língua e sua estrutura e, muitas vezes, encontrarmos
respostas para questões linguísticas e etimológicas das palavras utilizadas por nós
nos dias atuais.
3.1 Origem da língua latina
A língua latina pertence à família das línguas indo-européias e era,
inicialmente, o idioma dos povos que viviam na região central da Itália, chamada de
Lácio, hoje, a cidade de Roma. O indo-europeu, que deu origem ao latim, é um
conjunto hipotético de línguas, cerca de 60 línguas distintas, que eram apenas
faladas por seus usuários, pois não havia uma escrita. Como não existia registro da
língua indo-européia, os linguistas chegaram a ela comparando e estudando suas
línguas-filhas, entre elas o latim, que foi introduzido pelo povo romano, durante o
processo de conquista, na Península Ibérica no século III antes de Cristo.
De acordo com os autores Dolores Carvalho e Manoel Nascimento (1974,
p.12 -13), devido às afinidades percebidas entre as línguas da Ásia e da Europa, e
suas derivadas, conclui-se que existiu um idioma comum que deu origem a essas
línguas, a qual foi chamada de indo-europeu. A essa família linguística pertenceu o
ramo itálico, que teve como línguas o osco, o úmbrio e o latim. O início do idioma
latino alude ao século VIII a.C. e seu período final chega ao século V d.C.
13
Historicamente, a permanência da língua latina como língua falada vai da
fundação de Roma até a queda do Império Romano.
Segundo Frederick Bodmer (1960, p.171; 175), devido a várias afinidades
fonéticas, morfológicas e vocabulares, os franceses chamaram de indo-européia a
família de línguas formadas pelos grupos românico, céltico, eslavo, teutônico,
juntamente com as línguas indo-iranianas faladas pelos habitantes da Pérsia e da
Índia e ainda o lituano, o grego, o albanês e o armênio são membros isolados dessa
família. As evidentes semelhanças que há entre essas línguas nos levam a crer que
são todas descendentes de uma única língua primitiva utilizada por alguma
comunidade em algum lugar e num determinado tempo da pré-história. A língua
falada pelo grande Império Romano teve início como rústico dialeto da província do
Lácio.
Frederick Bodmer (1960, p. 283) afirma que o latim foi o idioma vernáculo de
uma simples cidade-estado sobre o Tibre, na Itália Central. Foi a conquista militar
que o impôs ao Lácio e ao restante da Itália. Os romanos por meio de suas
conquistas disseminaram o latim através do norte da África à Península Ibérica,
atravessando a Gália de sul a norte, ao Reno e a leste do Danúbio.
Segundo Serafim da Silva Neto (1977, p.16), os primeiros escritos em latim
apareceram no século VII antes de Cristo. O latim, nessa época, era uma língua
pobre e simples, falada por pastores e agricultores, totalmente desprovido das
belezas literárias. Porém, vagarosamente, com o crescimento da sociedade romana,
a língua foi aperfeiçoando-se. No ano 272 antes de Cristo, a Língua Latina não era
mais somente o idioma da pequena região do Lácio, mas a língua de toda
Península.
Conforme Silvio Elia (1998, p. 11), existia no Lácio muitos idiomas: o latim, o
falisco, o prenestino. Porém foi o latim, a língua de Roma, que se transformou na
língua oficial de todo império. Além da sua língua, o povo romano reconhecia como
língua apenas o grego. As outras línguas eram consideradas por eles como línguas
bárbaras, palavra derivada do grego, na qual a repetição de sílabas significava
gaguejar. O termo também se aproximava do latim balbus, que significava gago.
Mas o que mais incomodava os ouvidos romanos eram as diferenças socioletais.
Consideravam como boa linguagem a língua utilizada pelas pessoas cultas de
Roma, denominada urbanitas. A urbanitas opunha-se ao falar do povo menos
14
favorecido, a rusticitas. Evitavam também os falares estrangeiros, denominada
peregritas, pois temiam que denegrissem a pureza do sermo latinus.
A escritora Zelia de Almeida Cardoso (1999, p. 9; 10) fala da importância do
latim, dizendo que ele teve seu valor no passado durante o prestígio de Roma.
Durante o Império Romano, o latim era a língua de comunicação, que foi implantado
sem grandes dificuldades nos locais culturalmente menos desenvolvidos, espalhado
pelos soldados e ensinado nas escolas. Mesmo não sendo a língua oficial do
Império, foi a língua que a Igreja tratou de impor. Durante a Idade Média e o início
da Modernidade, o latim foi considerado o idioma universal da política, da religião,
da cultura e da ciência. Hoje, existem dois aspectos relevantes em relação a Língua
Latina que devem ser considerados. Um deles é a rica literatura deixada pelos
romanos, que nos dá acesso a belas obras de arte, como também contribui para
diversas áreas do conhecimento: história, filosofia, antropologia, literatura, ciência e
teatro. Outro aspecto é o interesse linguístico, pois é uma das línguas mais antigas
indo-européias. Por meio dela podemos ter respostas para numerosas indagações
que se referem ao conhecimento das línguas, sendo a língua-mãe dos idiomas
neolatinos, nos fornece esclarecimentos em torno de fenômenos de nossa Língua
Portuguesa, bem como das línguas irmãs.
3.2 Evolução do latim
Para começarmos a estudar a evolução do latim, é pertinente observarmos as
explicações abaixo da autora Zélia Cardoso em sua obra Iniciação ao latim:
Supõe-se que o indo-europeu foi falado por um povo que se dispersou, por
razões até hoje desconhecidas, alguns milênios antes de Cristo,
espalhando-se pela Europa e pela Ásia.
A dispersão do povo acarretou profundas modificações linguísticas no
idioma, inicialmente uno. O indo-europeu dividiu-se em numerosas línguas,
cada uma das quais gerou posteriormente outros tantos idiomas. Essas
línguas foram agrupadas, pela proximidade linguística, em diversos ramos:
itálico, helênico, céltico, germânico, báltico, eslavo, indo-irânico e outros.
Muitas dessas línguas acham-se hoje extintas ou mortas. As
remanescentes são faladas em grande parte do mundo ocidental e em
algumas regiões do Oriente. (1999, p.6).
É possível percebemos no trecho acima que desde os tempos mais remotos
as línguas passam por profundas modificações por diversas razões, que podem ser
ligadas a fatos, como já foi dito anteriormente, geográficos, culturais, sociais, etc.
15
Essas alterações levam ao surgimento de novos idiomas, que com o passar do
tempo também vão originar novos dialetos, que se transformarão em novas línguas.
Com a Língua Latina não foi diferente, ela passou por diversas
transformações, que originaram muitos dialetos, os quais deram origem a várias
novas línguas.
A autora Zelia de Almeida Cardoso (1999, p.7) diz que se costuma
caracterizar o latim conforme a época e as situações em que foi utilizado, dividindo a
evolução do idioma em várias etapas: latim pré-histórico, apenas falado pelo povo
primitivo da terra do Lácio, sem registro de escrita; latim proto-histórico, quando
surgem os primeiros documentos escritos; latim arcaico, aquele que aparece em
textos literários remotos, com vocabulário precário que é enriquecido por influências
da língua grega; latim clássico era a língua culta escrita, caracterizada por um
vocabulário fino, sem erros gramaticais, por um alinhado estilo e era usada pelos
grandes escritores da época, foi conservado graças a várias obras literárias, das
quais foi possível depreender os fenômenos gramaticais do idioma; latim vulgar era
a comunicação oral utilizada pela camada pobre da sociedade romana e possuía
uma grande diferença do latim clássico; latim pós-clássico foi o último idioma
considerado latino, com modificações profundas, já não havia uma distância tão
grande entre a língua escrita e a falada e se pressagia a grande dialetação da qual
se originaram as diversas línguas românicas. Mesmo após a dialetação, durante
muito tempo, as classes cultas tentaram manter o uso do latim. Os tabeliões o
utilizavam até o século XII em seus documentos; a Igreja tornou o latim sua língua
oficial e obrigatória em seus documentos e nas celebrações religiosas até o ano de
1961; por fim, a ciência utilizou o latim, até o início do século XX, como uma espécie
de língua universal.
Conforme H. Bradley (1992, p. 389; 398), o latim falado pela Europa, no seu
último período de desenvolvimento, não era língua mais inicial dos romanos, mas o
idioma dos alemães, dos celtas, dos ibéricos romanizados e de comunidades de
outras raças cujos antepassados haviam aprendido o latim vulgar, por meio da
comunicação oral com seus vizinhos, transmitindo-o com muitos elementos de sua
língua latina aos seus descendentes. E assim, sucessivamente, o latim foi exposto a
influências linguísticas de invasores estrangeiros e da população do território
romano que não havia sido totalmente romanizado. O latim popular, o qual deu
origem a várias línguas românicas, diferenciou-se muito do clássico, não só na
16
gramática e na fonética, mas também em seu vocabulário muito distinto. Se um
falante da língua clássica fosse apresentado a um documento completo com as
palavras e suas denotações do latim vulgar, certamente não conheceria e se
surpreenderia com muitas dessas palavras. Ele perceberia que muitos termos
indispensáveis e utilizados pela língua antiga sumiram do vocabulário e que os
vocábulos, que permaneceram, sofreram muitas alterações; constaria também que
apareceram muitas palavras novas, algumas de derivação latina e outras
completamente estranhas.
3.3 Latim culto “versus” Latim vulgar
A partir de várias leituras sobre o latim, podemos afirmar que durante o
Império Romano duas línguas conviveram, uma chamada de latim vulgar, e outra, de
latim clássico.
Designamos o termo de latim culto à modalidade escrita do latim
documentado na literatura latina; foi a língua usada por Cícero, Horácio, Sêneca e
outros. Consequentemente, ficou conhecida pela elegância de seu estilo, por um
acurado vocabulário e uma severidade gramatical.
Com a queda do Império
Romano, foi esse o latim que continuou sendo utilizado pela Igreja, pela filosofia e
pela ciência. O latim culto, que recebeu a denominação de sermo urbanus pelos
romanos, é definido por Coutinho (2005, p. 29) como uma língua artificial, rígida,
imota e que não refletia a vida trepidante e mudável do povo.
O latim vulgar, que foi chamado pelos romanos de sermo vulgaris, era uma
língua essencialmente oral, utilizada pelas camadas mais simples da população
romana, e foi esse, o latim, que deu origem às diversas línguas românicas. Coutinho
(2005, p. 30) definiu o latim vulgar como o idioma das classes inferiores, que
representava a soma de todos os falares dos povos mais humildes.
A fim de exemplificar as diferenças entre o latim clássico e o latim vulgar,
podemos verificar uma lista de palavras de um documento chamado Appendix Probi
do gramático Probus, que tinha por intenção mostrar a forma correta que deveriam
ser escritas e pronunciadas as palavras. Vejamos abaixo uma parte do documento:
Documento: As primeiras 50 glosas do Appendix Probi.
porphireticum marmor non purpureticum marmor
tolonium non toloneum
17
speculum non speclum
masculus nom masclus
vetulus non veclus
vitulus non viclus
vernaculus non vernaclus
articulus non articlus
baculus non vaclus
angulus non anglus
iugulis non iuglus
calcostegis non calcosteis
septizonium non septizodium
vacua non vaqua
vacui non vaqui
cultellum non cuntellum
Marsias non Marsuas
+ cannlam non canianus
Hercules non Herculens
columna non colomna
pectin non pectinis
aquaeductus non aquiductus
cithara non crystal
formica non furmica
musivum nom nus(e)um
exequiae nom execiae
gyrus non girus
avus non aus
miles nom milex
sobrius non suber
figulus non figel
musculus non mascel
lanius non laneo
iuvencus non iuvenclus
barbarus non barbar
equs non ecus
18
coqus non cocus
coquens non cocens
coqui non coci
acre non acrum
pauper mulier non paupera mulier
carcer non car<car>
bravium non brabium
pancarpus nom parcarpus
Theophilus non Izophilus
homofagium non monofagium
Byzacenus non Bizacinus
Capse(n)sis non Capsessis
Catulus non Catellus
Fonte: Ilari, 1997, p. 71.
Nos vocábulos acima, é possível observar algumas mudanças pelas quais a
língua clássica já estava passando, entre elas alterações vocálicas e perdas
consonantais. A partir de pesquisas em diversas gramáticas históricas podemos
apontar, de forma resumida, algumas das principais características do latim vulgar
em relação ao latim clássico.
A pronúncia do latim vulgar afastava-se em muitos aspectos da pronúncia do
latim clássico. Há no latim popular uma tendência a evitar vocábulos proparoxítonos,
transformando-os em paroxítonos: álacrem – alacre.
Na pronúncia das consoantes, a letra h perdeu sua aspiração e passou a não
ter som, permanecendo até hoje na escrita das línguas românicas por questões
diacríticas. O b, entre vogais, soava como v. As palavras iniciadas pela letra s,
seguida de uma consoante, receberam, antes dela, a vogal i, que passou a e
(scribere – iscribere). O som n antes de s desaparece (mensa – mesa). O m final,
exceto nos monossílabos, é suprimido (mecum – mecu).
A pronúncia das vogais, no latim clássico, era feita de maneira mais longa e
aberta. Os ditongos e hiatos foram reduzidos a uma única vogal (praeda – preda,
aurum – orum, mortuus - mortus).
No que diz respeito ao léxico do latim vulgar, podemos dizer que surgiram
uma enorme quantidade de novas palavras, outras caíram em desuso e as restantes
19
sofreram alterações significativas. Houve uma preferência por palavras populares e
no diminutivo: o termo auris (orelha) foi substituído por aurícula.
Na morfologia, ocorreu uma redução dos casos do latim clássico. Conforme
Dolores Carvalho e Manoel Nascimento (p.77; 78), o latim era um idioma sintético,
que exprimia as funções sintáticas dos vocábulos por meio de flexões; no entanto, o
latim vulgar e as línguas românicas são analíticas, pois exprimem as funções
sintáticas dos vocábulos por artigos e preposições (latim clássico – liber Petri; latim
vulgar – libru de Petru; português – livro de Pedro). Por isso no latim clássico havia
muitas flexões ou desinências. As diversas funções dessas desinências receberam o
nome de casos. Abaixo podemos verificar os casos existentes no latim literário:
Nominativo – caso do sujeito (discipulus);
Genitivo – caso do complemento restritivo (discipuli);
Dativo – caso do objetivo indireto (discipulo);
Acusativo – caso do objetivo direto (discipulum);
Vocativo – caso do vocativo (disciule);
Ablativo – caso dos adjuntos adverbiais (discipulo);
Aos poucos, o sistema de casos foi diminuindo, ao passo que o uso das
preposições e artigos aumentava. O latim literário não contava com artigos e
preposições, necessidade que foi suprida pelo latim popular. O escritor Antenor
Nascentes também faz suas explicações em relação à redução de casos e
declinações do latim.
Os casos foram desaparecendo, substituindo-se por perífrases por meio de
preposições. O nominativo e o acusativo, casos muito empregados,
mantiveram-se. O genitivo foi substituído pela preposição de, o dativo sofria
a concorrência da preposição ad. O ablativo confundiu-se com o acusativo.
O vocativo igualou-se completamente com o nominativo. As declinações
reduziram-se a três. A quarta se confundiu com a segunda, havendo já no
latim clássico aproximações como senatus, senati, domus, domi. A quinta,
cm a primeira, havendo já no latim clássico dualidades como materiesmateria, luxuries-luxuria, passando algumas palavras para a terceira (fácies,
species, fides). Desapareceu o gênero neutro. Os neutros em –u
confundiram-se com os masculinos da segunda declinações; os plurais e –
a, com os femrininos da primeira. Os –u, -a, para masculino e feminino, e epara ambos os gêneros: bonu, bona, forte. O comparativo e o superlativo
passaram ser geralmente expressos por formações analíticas (plus, magis,
multum), já usadas no latim clássico. (1954, p. 27).
Para Frederick Bodmer (1960, p. 291), a grande distinção entre o latim
clássico e o latim vulgar está na extensão em que as preposições eram utilizadas.
Enquanto o latim popular fazia amplo uso delas, o latim literário fazia um uso muito
20
discreto das preposições. Com o passar do tempo, o emprego das preposições
eliminou as características dos casos latinos.
Apesar dos esforços de alguns eruditos para que não ocorresse a evolução
da língua, foi o latim vulgar, falado pelos soldados e pelos camponeses, que
gradualmente se transformou no tempo e no espaço e deu origem a novas línguas, e
são elas a fonte mais próxima que temos acerca do latim vulgar, que não morreu,
mas modificou-se. Foi dessa estrutura linguística que as línguas românicas
nasceram, sendo elas fruto do desenvolvimento do latim vulgar em contato com
elementos pré-românicos e de influências de outros povos que chegaram mais
tarde.
3.4 A formação das línguas românicas
Por que línguas românicas? Para responder a essa pergunta vamos recorrer
às explicações de Rodolfo Ilari:
România deriva de romanus, e este foi o termo a que naturalmente
recorreram os povos latinizados, para distinguir-se das culturas barbáricas
circunstantes: assim, os habitantes da Dácia, isolados entre povos eslavos,
autodenominaram-se romîni e os réticos se autodenominaram Romauntsch,
para distinguir-se dos povos germânicos que os haviam empurrado contra a
vertente norte dos Alpes suíços.
Sobre romanus formou-se o advébio romanice, “à maneira romana” (2004,
p. 50).
A partir da leitura do trecho acima, podemos afirmar que a palavra românica
tem origem no termo romance, que é derivado do vocábulo romance, usado para
identificar as línguas vulgares, que, atualmente, chamamos de línguas românicas ou
neolatinas. Hoje, usamos o termo România para identificar o lugar ocupado por
essas línguas, pois România era o nome do conjunto de terras que pertenceram ao
Império Romano.
Para o professor Silveira Bueno (1963, p. 23), qualquer pessoa leiga no
assunto pode suspeitar que as línguas denominadas românicas têm uma origem
comum por apresentarem muitas semelhanças. A origem comum a que o professor
refere-se é a língua latina, que se expandiu pelo mundo, levada pelo Império
Romano.
O autor Bradley (1999, p. 387) afirma que não é necessário erudição para
perceber que, no domínio da língua, a herança deixada pelo povo romano é ampla,
pois se Roma, nas primeiras batalhas por conquistas territoriais, tivesse fraquejado,
21
as línguas conhecidas por nós, como o italiano, o português, o espanhol, o
provençal, o francês e outras línguas similares não teriam existido. Sabemos que a
pequena cidade-estado, por meio de suas conquistas, tornou-se poderosa
mundialmente e que na maior parte da Europa Ocidental os povos vencidos
aprenderam a falar a língua dos vencedores e acabaram esquecendo suas línguas
maternas, de forma que, hoje, o que um dia foi apenas um dialeto do pequeno
distrito de Lácio é falado, com algumas mudanças, como idioma materno por metade
dos países civilizados.
Desde o século IV a.C., Roma iniciou o processo de expansão territorial,
primeiro, por toda Península Itálica e, depois, no ano de 218 a. C., na Península
Ibérica. A absorção das terras ibéricas pelo Império Roma foi lenta, por isso a
romanização não aconteceu com a mesma intensidade em todas as regiões. Os
povos vencidos foram abandonando aos poucos suas culturas e línguas maternas e
adotando a cultura e a língua latina. De acordo com Silveira Bueno (1963, p. 27), o
idioma latino pôde se impor sobre as demais línguas locais por ter uma estrutura
perfeita e, principalmente, por ser a língua dos vencedores imposta a burocracia
administrativa e tribunal, mas foi com o culto e as pregações cristãs realizadas em
latim que o idioma latino se sobrepôs as línguas maternas regionais. Apesar disso,
as línguas próprias de cada lugar continuaram a coexistir com o latim.
Por volta do século III, o Império Romano passava por uma enorme crise
econômica, política e moral. A corrupção dentro do governo, os altos gastos, a falta
de investimentos no exército romano, a diminuição de conquistas territoriais, o
número reduzido de escravos geraram um enfraquecimento do grande império.
Nesse contexto, iniciaram as invasões no Império Romano que se encontrava com o
exército fraco e com as fronteiras desprotegidas. Em 476, diversos povos
estrangeiros, entre eles visigodos, vândalos, suevos e saxões, penetram as
fronteiras do Império Romano e encontram um exército enfraquecido e com as
fronteiras desprotegidas. Esses povos invadiram a Península Ibérica, porém não
impuseram uma nova língua e continuaram falando o idioma dos derrotados. Foi,
então, que começaram a ocorrer influências dos substratos e dos superestratos para
a modificação do latim falado, que já se encontrava com sua unidade lexical
bastante comprometida.
Inicialmente, o latim falado, durante o processo de expansão territorial, era
homogêneo, no entanto, à medida que foi se expandindo juntamente com as
22
conquistas romanas, passou a apresentar alterações que foram gerando variedade
dialetal. Com a decadência do Império Romano, somada a essas alterações
dialetais, às invasões e à construção de escolas nacionais, surgem os romances,
dialetos locais que foram tomando força e transformando-se aos poucos em línguas.
Silveira Bueno (1963, p. 29) relata que no momento em que os dialetos locais
começaram a ser ininteligíveis de uma província a outra, o latim vulgar desapareceu
e começou a romanização. O escritor afirma que não há como precisar o período em
que esse fato ocorreu, mas cita a opinião de Grandgent, que diz que tal fato
aconteceu entre o sexto e o sétimo século da era cristã e que o latim vulgar existiu
durante o período do II século a.C. até o VI d.C, ou seja, oitocentos anos.
São consideradas línguas originárias do latim aquelas que mantêm vestígios
dessa língua no seu vocabulário e na sua estrutura. As línguas portuguesa e
espanhola, entre outras, são línguas românicas, também chamadas de neolatinas,
que têm sua origem no Latim, língua da cidade de Roma. Além dessas, podemos
citar outras línguas românicas: o francês, na França; o romeno, da Romênia; o
italiano, da Itália, o catalão, da Catalunha, na Espanha; o galego, da Galícia, na
Espanha.
Silvio Elia (1988, p. 136; 137) explica que as línguas românicas podem ser
agrupadas em duas grandes divisões: línguas da România Ocidental (Portugal,
Espanha, França e Norte da Itália) e línguas da România Oriental (Itália Peninsular,
Romênia e a o antigo dalmático). O autor acrescenta que além dessa bipartição, há
como reunir as línguas românicas em alguns grupos, citando a distribuição, a seguir,
de A. Monteverdi:
Daco-România: 1 – romeno, 2 – dalmático;
Ítalo-România: 3 – ladino, 4 – alto-italiano, 5- italiano, 6 – sardo;
Galo-România: 7 – francês, 8 – franco-provençal, 9 – provençal;
Ibero-România: 10 – catalão, 11 – espanhol, 12 – português.
Várias são as causas para a diferenciação das línguas romanas: o substrato
encontrado pelo latim (distintas línguas encontradas pelo domínio do Império
Romano), pois com a variação do substrato, o latim também variou; a recepção do
latim em épocas distintas, pois as regiões mais isoladas não foram totalmente
romanizadas, mantendo sua língua original e, posteriormente, afetando as novas
línguas; a proveniência dos romanos de lugares distintos (sul, centro, norte); as
relações comerciais, políticas e religiosas e o superestrato.
23
Para ilustrar, podemos ver a seguir um quadro retirado da obra Linguística
Românica, de Rodolfo Ilari, que apresenta algumas palavras no latim clássico e
como elas são hoje nos idiomas português, espanhol, francês e italiano.
Quadro 1 – Comparação das línguas românicas
latim
português
espanhol
francês
Italiano
novu
novo
nuevo
neuf
nuovo
movet
move
mueve
meut
muove
mordit
morde
muerde
mord
morde
porta
porta
puerta
porte
porta
populu
povo
pueblo
peuple
popolo
flore
flor
flor
fleur
fiore
hora
hora
hora
heure
hora
solu
só
solo
seul
solo
famosu
famoso
famoso
fameux
famoso
cohorte
corte
corte
cour
corte
prorsa
prosa
prosa
prose
prosa
gula
gola
gola
gueule
gola
juvene
jovem
joven
jeune
giovane
ulmu
olmo
olmo
orme
olmo
unda
onda
onda
onde
onda
bucca
boca
boca
bouche
bocca
furnu
forno
horno
four
forno
musca
mosca
mosca
mouche
mosca
luna
lua
luna
lune
luna
virtude
virtude
virtud
vertu
virtú
mutare
mudar
mudar
muer
mutare
Fonte: Ilari, 1997, p. 23.
O quadro de Ilari nos permite compararmos as línguas românicas entre elas e
em relação ao latim. Como podemos perceber, o italiano é a língua mais próxima do
latim em relação às outras línguas. Já o francês é o mais distantes de suas línguas
irmãs. Mantêm grandes semelhanças o português, o espanhol e o italiano, porém as
afinidades são maiores nas línguas portuguesa e espanhola. Serão essas duas
línguas o objeto principal de nosso estudo.
24
Hoje as línguas românicas estão espalhadas por todo o mundo, visto que
foram levadas de seus países de origem, por meio das explorações marítimas. No
mapa abaixo, podemos observar os atuais locais onde são falados os idiomas
português, espanhol, francês e italiano.
Figura 1 – Mapa das línguas românicas no mundo
Fonte: Ilari, 2004, p. 53.
4 AS LÍNGUAS IRMÃS PORTUGUÊS E ESPANHOL
Como vimos nos capítulos anteriores, o latim, como todas as outras línguas,
passou por um processo evolutivo. No início era uma língua única, mas, com o
passar do tempo, havia duas formas: o latim clássico e o latim vulgar. Enquanto o
latim clássico, língua dos eruditos e da literatura clássica, permanecia estático, o
latim vulgar, língua oral usada pelas classes populares, evoluía até formar as línguas
românicas, entre as quais estão as línguas portuguesa e espanhola. Por isso, essas
línguas possuem muitas afinidades que vão além da proximidade geográfica e da
origem.
4.1 História da Língua Portuguesa
A língua portuguesa tem origem no idioma latino, mais precisamente, no latim
vulgar, introduzido na Península Ibérica, no século III a.C. pelo povo Romano
durante o processo de expansão do Império Romano.
Depois do processo de romanização, com a queda do Império Romano, no
século V, a Península Ibérica sofreu invasões de diversos povos estrangeiros:
vândalos, suevos, visigodos, cada um com o seu dialeto que deixou influências na
língua romana, mas que não foram impostos como idioma aos povos subjugados.
No século VIII, o povo árabe invade a Península pela região sul, dominando-a
e impondo sua cultura e língua, porém grande parte do povo dominado não adotou a
língua mulçumana e continuou a falar o latim, que já estava bastante modificado,
mas uma outra parte dos habitantes locais, que foram chamados de moçárabes, é
seduzida pelos costumes e pela língua árabe.
26
O grupo de habitantes peninsular, que estava disposto a manter a integridade
cultural e linguística da Península, refugia-se ao norte, nas montanhas Astúrias e,
com a finalidade de libertar o território ibérico do poder árabe, começa movimento de
Reconquista cristã, guerra militar e santa, na qual várias batalhas foram travadas
para a expulsão dos mulçumanos e recuperação dos territórios perdidos. A partir de
então, formaram-se os reinos de Leão, Aragão, Navara e Castela. Foi longo o
período de guerras de reconquista que durou cerca de oito séculos e teve fim no
reinado dos reis católicos Fernando e Isabel em 1492.
Por seus méritos durante as batalhas de reconquista, o fidalgo D. Henrique,
conde de Borgonha, recebeu do rei de Leão e Castela, D. Afonso, o Condado
Portucalense, território desmembrado de Galiza, e a mão de D. Tareja, filha de D.
Afonso. Com a morte de D. Henrique, seu filho Afonso Henrique proclama-se rei de
Portugal em 1143, criando uma nacionalidade portuguesa, que falava o romanço
galego-português. Foi com a expansão do reino português que apareceram as
diferenças linguísticas entre os povos galegos e portugueses até que o galegoportuguês transformou-se em duas línguas: o português e o galego. De acordo com
Silveira Bueno (1963, p. 52), ao passo que Portugal consolidava seus direitos de
território independente e se transformava numa importante nação, o seu dialeto foi
afastando-se do galego até ser reconhecido como língua nacional e continuar sua
evolução até se tornar tronco de outros dialetos e estender-se pelo mundo.
Foi no ano de 1279 que o rei D. Diniz tornou obrigatório o uso da língua
portuguesa, tornando-a língua oficial e, em 1290, fundou, em Lisboa, a primeira
universidade, com a finalidade de estudar a língua, defendê-la e disseminá-la.
Os autores Dolores Carvalho e Manoel Nascimento (1974, p. 25) citam as três
fases da evolução da Língua Portuguesa, divididas pelo estudioso Leite de
Vasconcelos: pré-histórica, proto-histórica e histórica. A fase pré-histórica inicia com
as origens da língua e termina no século IX, surgem os primeiros documentos latinoportugueses. A fase proto-histórica começa no século IX e vai até o século XII,
nessa fase, aparecem, nos documentos escritos em latim bárbaro palavras
portuguesas. A fase histórica, que inicia no século XII e vai até os dias atuais, está
dividida em dois períodos: período do português arcaico (do século XII até XVI) e
período do português moderno (do século XVI até nossos dias).
É no período do Português Arcaico que aparece o primeiro texto literário
escrito em português: a cantiga A Ribeirinha, escrita em 1198, por Paio Soares,
27
inspirado em Maria Paes Ribeiro. Abaixo o poema e a tradução retirados da obra A
aventura das línguas, de Hans Joachin Storig (2006, p. 115).
No mundo nom me sei parelha,
mentre me for’como me vai
ca já moiro por vos – e ai!
mia senhor branca e vermelha,
queredes que vos retraia,
quando eu vos vi em saia!
Mau dia me levantei,
que vos enton não vi feia!
E, mia Senhor, dês aquel’dia, ai!
me foi a mim mui mal:
e vós, filha de Dom Paay
Moniz, e bem vos semelha
d’haver eu por vós guarvaia,
pois eu, mia Senhor, d’alfaia
nunca de vós houve, nem hei
valia d’ua correia...
Tradução em português contemporâneo
No mundo, ninguém me assemelha,
enquanto eu for com sou,
pois morro por (ter) vosso amor – mas ai!
minha Senhora (vestida) de branco e de rubor,
queirais que vos reveja
Como vos vi (envolta) em vosso manto!
Mau foi aquele dia em que me exaltei
ao vos ver em formosura!
Pois, Senhora minha, desde aquele dia – ai!
tudo me correu muito mal;
pois a vós, filha de dom Paio
Muniz, parece justo
28
que eu, posto ao vosso serviço,
receba valiosa veste de cortesão,
se de vós, Senhora minha, nunca recebi
nem receberei qualquer coisa ainda que sem valor...
Analisando o poema, o autor Hernani Donato faz a seguinte análise sobre o
português da época:
Certo é que a qualidade emocional da cantiga e o jeitoso amoldar da língua
ao louvor poético revelam intimidade cultivada entre o instrumento e o
artista. O que faz lícito admitir que pela segunda metade do séc. XVII o
português estava estruturado, fluente e literariamente manejável (2006,
p.116).
No período do português moderno, surgem as primeiras gramáticas da língua
portuguesa. Em 1536, Pe. Fernão de Oliveira escreve a primeira, seguido de João
de Barros que escreve a segunda em 1540. No ano de 1572, aparece a obra
grandiosa de Camões, Os Lusíadas, uma epopéia nacional portuguesa.
A partir do século XV, os portugueses, por meio de suas expedições
marítimas, descobriram e colonizaram novas terras espalhadas pelo mundo, levando
a língua portuguesa aos países conquistados. Atualmente, o português é falado por
habitantes de quatro continentes: em Portugal, Brasil, Angola, Cabo Verde, GuinéBissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe, Macau e Timor Leste.
Figura 2 – Mapa da Língua Portuguesa no mundo
Fonte: Centro Virtual Camões, 2009.
29
Para finalizar este capítulo, é interessante a leitura da citação abaixo do autor
Hernani Donato.
Causa pasmo constatar quão longe foram e por quanto tempo ficaram os
portugueses. Do seu pequeno, estreito país “à beira-mar plantado”, com
escassa população, que mal chegou a 1 milhão no auge da epopéia
descobridora, eles aportaram às Américas, rodearam a África, superaram a
China, atingiram o Japão, situaram-se na Índia e, mesmo, teriam mapeado
a Austrália e tateado o pólo Sul.
A todos esses pontos levaram o seu falar, e o enriqueceram com
expressividades locais. Do árabe índico, recolheram, exemplificando,
“monção”, “almadia”; do dravídico, “pagode”; do malaio, “jangada”,
“zumbaia”; do chinês, “junco”. Deixaram, ao redor da Terra, um pouco de
seu modo de ser e, ainda onde acabou o seu domínio, rastos do seu idioma
(2006, p.116).
4.2 História da Língua Espanhola
A história da língua espanhola é muito parecida com a história da língua
portuguesa vista no capítulo anterior. Ela inicia com a romanização da Península
Ibérica e tem influências, assim como o português, das invasões bárbaras. O latim
foi introduzido na Península Ibérica no século III a.C. pelos romanos. Antes do latim,
havia na Península vários idiomas pré-românicos, que desapareceram, deixando
suas influências, quando os romanos impuseram sua cultura e o idioma latino como
língua oficial. A única língua que se manteve em sua região foi o idioma basco,
incorporando vários termos latinos.
Como já sabemos, havia, no idioma romano, duas variantes: o latim clássico e
o latim vulgar. Foi do latim vulgar, língua falada pelos soldados, camponeses e
funcionários do império, que a língua espanhola se originou.
Com o declínio do Império Romano, no século V, a Península Ibérica é
invadida por distintos povos bárbaros, entre eles, vândalos, suevos e visigodos.
Esses povos não impuseram sua língua ao povo vencido, porém deixaram muitas
palavras que foram acrescentadas no idioma latino. Todas essas invasões
provocaram uma desmembração do Império que aos poucos foi entrando em uma
decadência cultural e perdendo sua unidade linguística. Dessa forma, o latim entra
em um processo de evolução, que mais tarde dará origem aos idiomas românicos.
No ano 711, é a vez do povo árabe penetrar as fronteiras da Península
Ibérica, com exceção das zonas montanhosas do norte. A população derrotada
permanece falando o latim, já bastante modificado, e passa a incluir no idioma
muitos vocábulos mulçumanos. Com a intenção de expulsar os mouros do território
30
peninsular, inicia-se o processo de Reconquista, período que dura quase oito
séculos e é marcado por diversos enfrentamentos entre cristãos e mulçumanos que
chega ao fim com a conquista de Granada pelos reis católicos Fernando e Isabel em
1492.
Em Castela se forma um novo dialeto, o Castelhano, que se propagou por
toda a Espanha até se tornar o idioma nacional. Segundo Ilari (2004, p. 218), o
movimento de reconquista levou o castelhano para o sul, territórios retomados dos
árabes, e para o leste e oeste, territórios leonês e aragonês. O matrimônio de Isabel
de Castela e Fernando de Aragão tornou Aragão e Castela um único estado. Foi
essa unificação que permitiu a criação de um único reino que, posteriormente,
recebeu o nome de Espanha e propagou o idioma castelhano.
A primeira obra escrita em castelhano foi o poema El cantar de Mio Cid, que
aparece no ano de 1140. Essa obra narra as andanças do cavaleiro Rodrigo Diaz de
Vivar, que foi expulso de Castila pelo rei Afonso VI, acusado de traição. Para provar
sua lealdade ao rei, o cavaleiro luta contra os mouros e conquista grandes territórios.
Abaixo podemos ver um fragmento da obra.
Figura 3 – Fragmento do poema El cantar de Mío Cid
Fonte: Biblioteca Virtual Miguel de Cervantes, 2009.
31
No final do século XV, em 1492, surge a Gramática Castelhana, de Elio
Antônio Nebrija. Atualmente, o espanhol é a língua oficial da Espanha, juntamente
com o galego, o catalão e o basco. Além da Espanha, o espanhol está espalhado
por quatro continentes do mundo, nos seguintes países: México, Guatemala, El
salvador, Honduras, Nicarágua, Costa Rica, Panamá, Cuba, Porto Rico, República
Dominicana, Venezuela, Colômbia, Ecuador, Peru, Chile, Bolívia, Paraguaia,
Argentina e Uruguai.
Figura 4 – Mapa da Língua Espanhola no mundo
Fonte: LYCÉE JACQUES DE VAUCANSON, 2009.
4.3 Análise comparativa das Línguas Portuguesa e Espanhola
Nesse capítulo, faremos uma comparação fonética, morfológica, sintática e
lexical em alguns aspectos relevantes entre as línguas portuguesa e espanhola.
A representação gráfica do sistema vocálico em português e espanhol é igual,
porém no nível fonético há algumas divergências.
Segundo a escritora Nair
Andrade, em seu artigo Aprender español es fácil porque hablo português, o sistema
vocálico português é mais complexo que o espanhol.
A língua espanhola possui cinco vogais, todas orais, contrastando com o
português, que possui doze fonemas vocálicos, sendo sete orais e cinco nasais. Na
língua portuguesa, há vogais abertas e fechadas, bem como orais e nasais. No
32
português do Brasil temos sete vogais orais e cinco nasais, somando doze fonemas
vocálicos. O sistema vocálico espanhol é bem mais simples, pois conta com apenas
cinco fonemas. Não há na língua espanhola distinção fonológica de vogais abertas e
nasalização das vogais.
Segundo Marrone (1990, p.17), em latim havia três ditongos: au – ae – oe.
Após a formação das línguas românicas ocorreu a formação de novos ditongos. O
ditongo mais importante do latim au transformou-se em ou, oi e o em português. As
causas de formação de ditongo no português foram resultados de certos processos:
como perda de fonema medial (malu – mau); troca da primeira consoante por uma
vogal em um grupo consonantal (conceptu – conceito); transposição de fonemas
(primariu – primeiro). Em espanhol não ocorreu a formação de ditongos nesses
casos (malo, concepto, primero). No entanto, as vogais latinas e e o breves, abertas
transformaram-se em ditongos ie e eu (pede – pie, novu – nuevo), processo que não
ocorreu em português (pé, novo). O ditongo ão não existe na língua espanhola e é
característico da língua portuguesa, essa formação aconteceu em virtude das
alterações feitas nas formas latinas –anu, -ane, -one, -ine, -unt, -on, -ant (veranu –
verão, pane – pão, multitudine – multidão, sunt – são, non – não, stant – estão).
Quanto ao som dos fonemas do sistema consonantal, podemos afirmar que
há muitas semelhanças entre as duas línguas, pois elas possuem fonemas comuns,
porém a língua portuguesa é mais complexa. A seguir podemos verificar algumas
diferenças fonológicas significativas do sistema consonantal.
Em português há diferença entre os sons das letras v e b, enquanto no
espanhol não existe o fonema [V] do português, pois tanto b como v tem o mesmo
fonema [b], permanecendo a grafia das letras por critérios etimológicos. Conforme
Marrone (1990, p.31; 32), essa confusão entre b e v já existia no latim clássico e
talvez devido a influência erudita tenha ocasionado no espanhol a anulação de um
som como fonema, havendo uma tendência articulatória que suprime traços distintos
entre os dois fonemas, isto é, ocorreu no espanhol a perda do fonema [V] como
fonema distinto do [b], transformando-se em articulação bilabial.
Os caracteres d e t sempre terão sons dentais oclusivos na língua espanhola,
entretanto, na língua portuguesa, em algumas regiões, essas letras apresentam
sons palatais. Em espanhol, as letras j em qualquer posição e o g antes das vogais e
e i têm o fonema [x], já em português, são pronunciadas como palatais, sonoras,
fricativas. A letra l tem o mesmo fonema [l] do início das sílabas do português em
33
espanhol, porém nunca soará como u como ocorre em português no final das
palavras. Na língua espanhola, a letra s tem som alveolar fricativo surdo, que se
assemelha ao som do dígrafo ss y do ç do português.
No idioma castelhano, a letra z tem pronúncia interdental fricativa surda;
porém, no idioma lusitano, tem pronúncia fricativa alveolar sonora, som inexistente
no idioma espanhol. Além dessas diferenças fonéticas, sabemos que as línguas
portuguesa e espanhola possuem entre elas e nelas mesmas uma gama de variação
fonética, provocadas, principalmente, por questões geográficas.
O léxico do português e do espanhol é bastante parecido. Um falante de
português poderá reconhecer vocábulos em espanhol apenas olhando para eles, no
entanto, há palavras que não apresentam uma exata correspondência entre as
línguas, é o caso das palavras heterotônicas, heterogenéricas e heterossemânticas.
Essas palavras apresentam semelhanças, porém afastam-se por distinções gráficas,
fonológicas e semânticas. A autora do artigo Aprender español es fácil porque hablo
português, Nair Andrade, adverte para as supostas semelhanças lexicais entre as
línguas. Ela diz que essa expressiva semelhança entre as duas línguas é uma arma
de dois fios. Por um lado, faz que os luso-falantes tenham maior facilidade e rapidez
para aprender o espanhol. No entanto, as falsas semelhanças lexicais podem
provocar desde insignificantes interferências na comunicação até uma mudança total
de significado entre o que se disse e o que se quer dizer.
As palavras heterotônicas apresentam em ambas as línguas a mesma forma
gráfica, fonológica e semântica, porém apresentam acento tônico em sílabas
distintas. Abaixo segue, para exemplo, uma lista de palavras heterotônicas, a sílaba
tônica está destacada.
Quadro 2 – Palavras heterotônicas
Português
Espanhol
alergia
alergia
anemia
anemia
bigamia
bigamia
demagogia
demagogia
ímpar
impar
hemorragia
hemorragia
nostalgia
nostalgia
34
oceano
océano
rubrica
rúbrica
telefone
teléfono
Fonte: autoria própria, 2009.
Os nomes das letras em português são masculinos e femininos em espanhol
(o a – la a, o bê – la be, o cê – la ce). Os dias da semana em espanhol, com
exceção do sábado e domingo, têm nomes distintos do português e são masculinos.
Quadro 3 – Dias da semana
Português
Espanhol
a segunda-feira
el lunes
a terça-feira
el martes
a quarta-feira
el miércoles
a quinta-feira
el jueves
a sexta-feira
el viernes
o sábado
el sábado
o domingo
el domingo
Fonte: autoria própria, 2009.
Há
palavras
que
são
idênticas
ou
semelhantes
graficamente
e
semanticamente, porém não correspondem ao mesmo gênero nas línguas
portuguesa e espanhola. Esses vocábulos são chamamos de heterogenéricos.
Quadro 4 – Palavras heterogenéricas
Português
Espanhol
a árvore
el árbol
a dor
el dolor
o leite
la leche
o mel
la miel
o nariz
la nariz
a origem
el origem
a ponte
el puente
o sal
la sal
o sangue
la sangre
o sorriso
la sonrisa
Fonte: autoria própria, 2009.
35
As palavras heterossemânticas, também chamadas de falsos amigos ou
falsos cognatos, são muitas e podem provocar uma divergência muito grande de
sentido, pois são termos idênticos ou semelhantes na forma gráfica e fônica, mas
têm sentidos parciais ou totalmente diferentes.
Quadro 5 – Palavras heterossemânticas
Português
Espanhol
agrião
berro
berro
grito
coelho
conejo
pescoço
cuello
escritório
oficina
oficina
taller
molho
salsa
salsa
perejil
momento
rato
rato
ratón
Fonte: autoria própria, 2009.
Ao compararmos morfossintaticamente as línguas portuguesa e espanhola,
encontramos
muitas
semelhanças,
principalmente,
na
linguagem
escrita.
Começaremos analisando os artigos de ambas as línguas. Assim como o português,
a língua espanhola apresenta artigos determinados e indeterminados.
Quadro 6 – Artigos
Artigos determinados
Artigos indeterminados
Feminino singular
Feminino plural
Feminino singular
Feminino plural
a – la
a - las
uma - una
umas - unas
Masculino singular
Masculino plural
Masculino singular
Masculino plural
o – el
os - los
um - un
uns - unos
Fonte: autoria própria, 2009.
Vejamos o diz o autor Bradley sobre os artigos determinados e
indeterminados:
Ademais, o latim antigo, como as fases mais antiga de qualquer língua,
tanto quanto saibamos (como o russo atual), não tinha artigos. O latim
popular tardio supriu a necessidade de um artigo definido (como o grego
fizera antes e as línguas germânicas depois) ao utilizar o demonstrativo
‘aquele’ nesta função. Daí, em todas as línguas neolatinas o artigo definido
descende do latim ille (illa, etc.). Isto é óbvio em todas as línguas, exceto
36
em português, onde a inicial l caiu, de forma que o artigo é o (feminino a;
plural os, as). [...] A necessidade de um artigo indefinido foi suprida no latim
vulgar (como posteriormente nas línguas germânicas e no grego moderno)
pelo numeral ‘um’ (unus), pronunciado com menor ênfase do que quando
usado em seu sentido original. (1999, p. 391).
Podemos verificar no trecho acima que o espanhol, apesar de outras
alterações, manteve o l inicial em seus artigos determinados, enquanto o português
eliminou-o, afastando-se um pouco mais do que o espanhol, nesse aspecto, da
língua de origem.
Em relação aos artigos, a principal diferença entre as línguas portuguesa e
espanhola é a existência de um artigo neutro (lo) específico do espanhol. É um
artigo invariável, usado para substantivar ou intensificar adjetivos, advérbios e
oração com o pronome relativo que. O artigo neutro tem uma equivalência no
português com a expressão aquilo que. Espanhol: Lo más difícil es el portugués.
Português: O mais difícil é o português.
Quanto ao emprego dos artigos, em espanhol, é obrigatório o uso do artigo
determinado para indicar as horas, porém, em português não se costuma empregar
o artigo. Espanhol: Son las quatro horas. Português: São quatro horas. O uso do
artigo antes de pronomes possessivos, em português, é facultativo, mas, em
espanhol, nunca há artigo antes de possessivos. Português: a minha casa é
amarela. Espanhol: mi casa es amarilla. A fim de evitar a cacofonia, en espanhol,
troca-se os artigos femininos singulares pelos artigos masculinos, quando a palavra
seguinte começar por a ou ha tônicas: Un alma buena tenia el hombre; el agua hace
bien a la salud. En espanhol, não se emprega artigo diante de nome próprio, ao
contrário do português. Espanhol: no conozco España. Português: não conheço a
Espanha.
Na língua castelhana existem apenas duas contrações obrigatórias (al = a +
el; del = de + el), no entanto, em português existem várias contrações, porém o uso
das contrações não é obrigatório.
Nos adjetivos, ocorre em espanhol o uso muito comum da apócope, o que
não acontece em português. Antes do substantivo masculino singular, os adjetivos
bueno, malo, grande e santo se apocopam em buen, mal, gran y san. Cícero es un
buen profesor.
37
Nos pronomes pessoais, existe uma diferença quanto à forma, pois, em
espanhol, há flexão de gênero para os pronomes de primeira e segunda pessoa do
plural: vosotros, vosotras (vós) e nosotros, nosotras (nós).
Em português, no discurso, os pronomes de tratamento são o senhor e a
senhora. Você é familiar, corresponde ao tú do espanhol e não é cerimonioso como
usted, embora possuam a mesma origem no pronome de tratamento arcaico vossa
mercê.
Nas duas línguas estudadas, as conjugações verbais são as mesmas (ar, er,
ir), ambas têm verbos de conjugação regular e irregular, verbos auxiliares, defectivos
e impessoais. Tanto em português como em espanhol, existem três modos verbais
(indicativo,
subjuntivo
e
imperativo).
Há
algumas
divergências
quanto
à
nomenclatura de alguns tempos verbais entre o português e espanhol, que podemos
ver no quadro abaixo.
Quadro 7 – Tempos e modos
ESPANHOL
PORTUGUÊS
Pretérito indefinido de indicativo
Pretérito perfeito simples do indicativo
canté
cantei
Pretérito perfecto de indicativo
Pretérito perfeito composto do indicativo
he cantado
tenho cantado
Pretérito mais que perfeito comp. do ind.
Pretérito pluscuamperfecto de indicativo
tinha cantado
había cantado
Pretérito mais que perfeito do indicativo
cantara
Pretérito imperfecto de subjuntivo
Pretérito imperfeito do subjuntivo
cantase ou cantara
cantasse
Condicional imperfecto de indicativo
Futuro do pretérito do indicativo
cantaría
cantaria
Condicional perfecto de indicativo
Futuro do pretérito composto do ind.
habría cantado
teria cantado
Futuro imperfecto de subjuntivo
Futuro do subjuntivo
cantare, cantares...
cantar, cantares...
Futuro pluscuamperfecto comp. de subj.
Pret. mais-que-perfeito comp. do subj.
hubiese ou hubiera cantado
tivesse cantado
38
Futuro perfecto composto de subjuntivo
Futuro composto do subjuntivo
hubiere cantado
tiver cantado
Fonte: Freire, 1999, p.83.
Quanto ao nível gráfico e ortográfico, podemos fazer as seguintes
considerações: a representação gráfica ç e os dígrafos nh, lh, ss do português não
existem na língua espanhola. Em espanhol há apenas um acento gráfico (´) e não
existe a crase do português. Em espanhol: voy a la playa. Em português: vou à
praia.
Na divisão silábica, as letras rr e ll ficam na mesma sílaba no idioma
espanhol.
Esse capítulo está longe de apresentar todas as diferenças e semelhanças
existentes entre os idiomas estudados, porém traz um apanhado geral dos aspectos
mais relevantes, que, ao serem analisados, nos permitem constatar que embora o
português e espanhol tenham uma origem comum, o latim vulgar, e apesar das
semelhanças serem grandes, nos deparamos com diferenças em todos os níveis
observados.
4.4 A separação das línguas irmãs portuguesa e espanhola
Vimos nos capítulos anteriores que as línguas espanhola e portuguesa são
línguas românicas, isto é, derivadas do latim, e apresentam uma proximidade muito
grande devido a fatores geográficos e históricos. Com a finalidade de apresentar o
caminho percorrido pelas línguas irmãs portuguesa e espanhola até a efetiva
separação, segue abaixo, para observação, um diagrama baseado em uma
fotografia do diagrama As grandes famílias linguísticas do mundo, feita durante uma
visita ao Museu da Língua Portuguesa, realizada em fevereiro de 2009 (ver anexo
1).
39
Indoeuropeu
Grupo
itálico
Oscoumbro
Latim
Latim
arcaico
Latim
culto
Latim
vulgar
Romance
Romance
oriental
Romance
ocidental
Sardo
Francês
Catalão
Provençal
Castelhano
Romeno
Italiano
Português
Figura 5 – Evolução das línguas portuguesa e espanhola
Fonte: adaptação do diagrama As grandes famílias linguísticas do Museu da Língua Portuguesa.
Ao analisarmos o diagrama, podemos verificar que o português e o espanhol
têm a mesma genealogia. Primeiro era o indo-europeu que se ramificou em diversos
grupos linguísticos, mas a ramificação que aqui nos interessa é o grupo itálico que
40
deu origem ao latim. O latim, idioma falado em uma pequena região da Itália Central,
o Lácio. Depois, a língua latina arcaica dividiu-se em duas: o latim clássico e o latim
vulgar. Sob as influências do substrato, influências deixadas pela língua do povo
vencido na língua do povo vendedor, superestrato, influências da língua
desaparecida do povo invasor, e do adstrato, influência entre duas línguas que
convivem em territórios vizinhos, a língua romana deu origem a vários dialetos
chamados de romances. Os romances também se modificaram e dividiram-se em
romance ocidental e oriental. O romance ocidental, na Península Ibérica, após o
processo de reconquista das terras tomadas pelos árabes, deu origem às línguas
ibéricas, entre elas o português e o castelhano.
Explicar as reais causas de separação do português e do espanhol não é uma
tarefa muito fácil, há muitas hipóteses para justificar tal acontecimento. Para Rodolfo
Ilari (2004, p.135), a dialetação do latim vulgar pode ser explicada, de maneira geral,
dizendo-se que a variação no tempo e no espaço é uma característica própria das
línguas. Então, sabemos que as línguas variam com o tempo, porém queremos
saber quais foram os fatores externos que provocaram o afastamento do português
e do espanhol. Dois acontecimentos tiveram grande importância para a formação e
separação desses idiomas: o processo de conquista da Península Ibérica pelos
romanos e as invasões dos povos germanos e dos árabes.
Quando o povo romano chegou à Península Ibérica, encontrou povos que
tinham suas próprias línguas. Apesar dos povos vencidos terem abandonado suas
línguas maternas e terem adotado o latim como idioma, com exceção do povo
basco, o latim recebeu muitos elementos dessas línguas desaparecidas, os
substratos. Vejamos o que diz Ilari sobre essas influências.
Tem portanto plausibilidade a tese de que as línguas dos povos
romanizados não desapareceram por completo com a implantação do latim,
mas se mantiveram determinando tendências à dialetação: é plausível
admitir que tais tendências foram contidas enquanto tais regiões se
mantiveram em contato entre si e com a metrópole, e ganharam força com a
divisão política do Império, quando as invasões barbáricas bloquearam os
contatos entre várias regiões da România. (2004, p.140).
Para o professor Silveira Bueno (1963, p.41), de todos os substratos, foi o
celta o de maior relevância, porque era o que mais se aproximava da língua romana,
pois tinham origem no mesmo ramo indo-europeu. Foi Portugal que recebeu as
maiores influências celtas, fato que pode explicar a diferenciação entre o português
e o espanhol.
41
Vários foram os fatores político-sociais para a dialetação das línguas ibéricas,
como já foi dito anteriormente, um dos fatos de maior relevância foram as invasões
bárbaras.
As invasões ocorrem em tempos e regiões distintas da Península,
levando para cada região invadida um latim heterogêneo. Depois, as expedições de
reconquista das regiões tomadas pelos mouros partiram de regiões distintas em
diferentes épocas. Todos esses acontecimentos permitiram as variações dialetais da
Península Ibérica. No entanto, foi a fragmentação do Império em novos estados e
nacionalidades a causa externa da dialetação.
Silveira Bueno (1963, p.43 - 47) cita várias causas para a separação do
castelhano e do português: a penetração de Roma na Espanha ocorreu muito tempo
antes do contato com os lusitanos; um povo nunca aprende uma outra língua de
forma perfeita, apresentando inclusive impossibilidades fonéticas; situações
geográficas, limitações naturais provocadas pelas montanhas e pelos rios;
destruição da unidade política do império; a fundação da monarquia portuguesa pelo
fidalgo Henrique Borgonha fará com que o dialeto local se transforme em língua
nacional; assim como a independência política de Castela que torna o dialeto
castelhano em língua oficial da Espanha.
Para Celia Marrone (1990, p.13), durante o período em que o latim estava
modificando-se, talvez a evolução fonética tenha sido a responsável pelas primeiras
diferenças lexicais entre o português e o espanhol, pois a língua estava submissa à
influência da região onde ela se alastrava. Além disso, houve as influências do
espaço físico. Algumas divergências vêm do fato de as regiões terem sido
conquistadas em épocas distantes, recebendo o latim em estados linguísticos
distintos. Por essa razão, o latim teve que incorporar os costumes antigos de
pronúncia dos povos que o adotaram, sendo que esses costumes eram diferentes
entre as diversas regiões conquistadas. As diferenças fonéticas ocorriam porque o
aparelho fonador apresentava dificuldades em reproduzir sons estranhos, o ouvido
recebia mal certos fonemas desconhecidos e o sujeito os transformava no momento
da fala. A autora ainda faz as considerações abaixo, que são de grande importância.
Além de originadas da diversidade do meio, da extensão territorial e da
topografia irregular dos diversos domínios romanos, essas mutações podem
ter sido provocadas por razões etnológicas e históricas. Alguns lingüistas
explicam as divergências entre o português e o espanhol como
conseqüência de diferenças etnológicas, embora sejam entre as línguas
românicas, as que têm maior afinidade. Por outro lado, o fator histórico
poderá explicar a diferenciação do latim, difícil seria, no entanto explicar a
diferenciação das línguas românicas entre si (MARRONE, 1990, p.13).
42
Todos os fatos aqui apresentados devem ser considerados para a explicação
da separação linguística das línguas ibéricas. Uns terão tido maior influência, outros
nem tanto, mas, no conjunto, todos eles foram os reais motivos para a separação
das línguas irmãs estudadas nesse trabalho.
5 CONCLUSÃO
Ao término do presente estudo, podemos concluir que a grande família das
línguas românicas, na qual estão as línguas portuguesa e espanhola, é o resultado
das várias alterações da evolução da língua do vasto Império Romano. Como foi
possível verificar o português e o espanhol têm uma origem comum e uma história
muito parecida. Porém alguns fatos político-sociais e geográficos fizeram com que
essas línguas irmãs, após o movimento de Reconquista das terras ibéricas,
seguissem caminhos diferentes, ocasionando a separação desses idiomas que se
tornaram línguas de nacionalidades distintas.
Também verificamos que embora o português e o espanhol tenham um tronco
comum e muitas semelhanças, esses idiomas apresentam diferenças fonéticas,
lexicais, morfológicas e sintáticas, devidas a dialetação do latim até tornarem-se
línguas distintas. Não há como apontar um único fato como a causa principal de tal
dialetação, pois esse processo ocorreu em virtude de muitos acontecimentos que
foram apresentados no presente trabalho.
Finalmente, concluímos que a análise sobre como ocorreu a formação e o
afastamento das línguas portuguesa e espanhola são de fundamental importância
para que possamos compreender porque tais línguas conservam até nossos dias
muitas semelhanças, bem como várias divergências. Ainda com base nesse estudo,
podemos observar como acontecem as variações linguísticas.
REFERÊNCIAS
ANDRADE NETA, Nair Floresta. Aprender español es fácil porque hablo
português: Ventajas y desventajas de los brasileños para aprender español. In:
Cuardernos Cervantes. Disponível em: <http://www.cuadernoscervantes.com/
lc_portugues.html>. Acesso em 7 jan. 2008.
BIBLIOTECA VIRTUAL MIGUEL DE CERVANTES. El cantar de Mío Cid.
Disponível em: <http://www.Cervantesvirtualcom/servlet/SirveObras/cid/802838528
78795052754491/ index.htm>. Acesso em: 2 jun. 2009.
BRADLEY, H. Língua. In: BAILEY, Cyril. O legado de Roma. Rio de Janeiro: Imago,
1992.
BUENO, Francisco da Silveira. Estudos de filologia portuguesa. 4.ed. São Paulo:
Saraiva, 1963.
BODMER, Frederick. O homem e as línguas: guia para o estudioso de idiomas.
Porto Alegre: Globo, 1960.
CÂMARA JÚNIOR, J. Mattoso. História e estrutura da língua portuguesa. 3. ed.
Rio de Janeiro: Padrão, 1979.
CÂMARA JÚNIOR, J. Mattoso. História da linguística. 5. ed. Petrópolis, RJ: Vozes,
1990.
CARDOSO, Zelia de Almeida. Iniciação ao latim. 4. ed. São Paulo: Ática, 1999.
CARVALHO, Dolores Garcia; NASCIMENTO, Manoel. Gramática Histórica: para o
2º grau e vestibulares. 10.ed. São Paulo: Ática, 1974.
CENTRO VIRTUAL CAMÕES. Tempo da Língua. Disponível em:
<http://cvc.instituto-camoes.pt/tempolingua/02.html>. Acesso em: 25 maio 2009.
COUTINHO, Ismal de Lima. Gramática Histórica. 19. ed. Rio de Janeiro: Ao Livro
Técnico, 2005.
DONATO, Hernâni. Onde participamos da aventura: a lingual portuguesa. In:
STÖRIG, Hans Joachim. A aventura das línguas: uma história dos idiomas do
mundo. 3.ed. São Paulo: Melhoramentos, 2006.
ELIA, Silvio. A língua portuguesa no mundo. 2. ed. São Paulo: Ática, 1998.
_ Preparação à linguística românica. 2.ed. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1979.
45
FARACO, Carlos Alberto. Linguística histórica: uma introdução ao estudo das
línguas. 2. ed. São Paulo: Ática, 1998.
FIORIN, José Luiz (Org.) Introdução à linguística. 5. ed. São Paulo: Contexto,
2006.
FREIRE, M. Teodora Rodríguez Monzú. Sínteses gramatical de la lengua
española: una gramática contrastiva Español-Portugués. 5.ed. São Paulo:
Enterprise Idiomas, 1999.
ILARI, Rodolfo. Linguística românica. 3.ed. São Paulo: Ática, 2004.
LYONS, John. Linguagem e linguística: uma introdução. Rio de Janeiro: LTC,
1987.
MARRONE, Celia Siqueira. Português-Espanhol: aspectos comparativos. São
Paulo: Editora do Brasil, 1990.
NASCENTES, Antenor. Elementos de filologia românica. Rio de Janeiro:
Organização Simões, 1954.
SAUSSURE, Ferdinand de. Curso de linguística geral. 33. ed. São Paulo: Cultrix,
2006.
SILVA NETO, Serafim da. História do latim vulgar. Rio de Janeiro: Ao Livro
Técnico, 1977.
STÖRIG, Hans Joachim. A aventura das línguas: uma história dos idiomas do
mundo. 3.ed. São Paulo: Melhoramentos, 2006.
LYCÉE JACQUES DE VAUCANSON. El español en el mundo. Disponível em:
<www.vaucanson.org/espagnol/linguistique/lenguas_mundo.htm>. Acesso em: 2 jun.
2009.
46
Anexo 1 – Fotografia do diagrama As grandes famílias linguísticas
Fonte: Museu da Língua Portuguesa
47
Anexo 2 – As línguas portuguesa e espanhola
Fonte: Museu da Língua Portuguesa
Download