Redalyc.Imunoprofilaxia do vírus sincicial respiratório com

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Sáfadi, Marco Aurélio P.
Imunoprofilaxia do vírus sincicial respiratório com palivizumabe: o que há de novo?
Revista Paulista de Pediatria, vol. 32, núm. 2, junio, 2014, pp. 150-151
Sociedade de Pediatria de São Paulo
São Paulo, Brasil
Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=406034050001
Revista Paulista de Pediatria,
ISSN (Versão impressa): 0103-0582
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Projeto acadêmico não lucrativo, desenvolvido pela iniciativa Acesso Aberto
Editorial
DOI: 10.1590/0103-05822014322
Imunoprofilaxia do vírus sincicial respiratório com palivizumabe:
o que há de novo?
Immunoprophylaxis against respiratory syncytial virus with palvizumab: what is new?
Marco Aurélio P. Sáfadi1
A infecção pelo vírus sincicial respiratório (VSR) é reconhecida como a mais importante causa de infecção do trato
respiratório em lactentes e crianças pequenas no mundo,
sendo a principal responsável por hospitalizações durante
o inverno no primeiro ano de vida(1). Entretanto, a despeito
da importância do VSR como causa de morbidade e mortalidade em crianças, ainda não dispomos de uma vacina
ou de drogas antivirais eficazes para prevenir e tratar essa
infecção. A desastrosa experiência com uma vacina candidata inativada feita com o vírus inteiro, desenvolvida nos
anos 1960, até hoje inquieta a comunidade médica na busca
por uma vacina segura e eficaz contra a infecção pelo VSR(2).
A possibilidade de poder prevenir a infecção pelo VSR ganhou ainda mais importância nos últimos dez anos, a partir
do acúmulo de evidências demonstrando que lactentes
hospitalizados com infecção do trato respiratório inferior
(especialmente as causadas pelo VSR e pelo rinovírus) têm
maior risco de desenvolver episódios recorrentes de sibilância e asma, quando comparados a crianças que não tiveram
quadros severos de bronquiolite(3-5).
A imunização passiva com o palivizumabe, um anticorpo monoclonal humanizado, é hoje a principal ferramenta
disponível para a profilaxia da infecção pelo VSR. Sua utilização é indicada para grupos de risco específicos: lactentes
prematuros e crianças menores de dois anos portadoras de
cardiopatia congênita com repercussão hemodinâmica ou
com doença pulmonar crônica, que necessitaram de tratamento nos seis meses anteriores ao período da sazonalidade
do VSR(6). Entretanto, o impacto dessa intervenção na carga da doença atribuída ao VSR é mínimo, uma vez que a
maioria das hospitalizações pelo vírus ocorre em lactentes
saudáveis, não incluídos nos programas de prevenção.
Nesta edição da Revista, Monteiro et al(7) apresentam os
resultados de um estudo que incluiu uma coorte de 198
lactentes que receberam palivizumabe, segundo as recomendações vigentes no Estado de São Paulo. Os lactentes
foram acompanhados prospectivamente, durante um ano,
para avaliar o impacto do palivizumabe na etiologia viral das
infecções agudas do trato respiratório e nas taxas de internação e óbito em crianças submetidas a essa imunoprofilaxia.
Merece destaque, entre os vários importantes achados, a
taxa de apenas 0,7% de hospitalização por VSR nos lactentes
submetidos à imunoprofilaxia (uma única internação por VSR
entre os 198 lactentes seguidos). Uma das limitações do estudo,
apontada pelos autores, foi a ausência da inclusão, por razões
éticas, de um grupo controle, o que impossibilitou avaliar a eficácia da intervenção com a imunoprofilaxia no grupo estudado.
Existe hoje um debate crescente quanto à abrangência das
indicações do uso do palivizumabe, motivado não só pelo elevado custo do produto, mas também por recentes evidências
surgidas na literatura. O licenciamento do palivizumabe, no
final dos anos 1990, baseou-se no resultado de um estudo
randomizado, controlado com placebo, com 1.500 lactentes
prematuros, que mostrou que a imunoprofilaxia reduziu em
aproximadamente 55% as taxas de hospitalização por VSR
(10,6% no Grupo Placebo contra 4,8% entre os lactentes de
alto risco que receberam palivizumabe)(8). Entretanto, dados
mais recentes(9-11) sugerem que as taxas de hospitalização
por VSR em lactentes prematuros pertencentes aos grupos
de risco apresentam tendência de redução em relação às
taxas encontradas nos estudos realizados nos anos 1990, em
consonância com os resultados de Monteiro et al no Brasil.
A confirmação de menores taxas de hospitalização por VSR
nos lactentes prematuros atualmente traz, portanto, um novo
Instituição: Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo
(FCMSCSP), São Paulo, SP, Brasil
Endereço para correspondência:
Marco Aurélio P. Sáfadi
Rua Afonso Braz, 579, cj. 45
CEP 04511-011 – São Paulo/SP
E-mail: [email protected]
FCMSCSP, São Paulo, SP, Brasil
1
Conflito de interesse: nada a declarar
Recebido em: 7/3/2014
Rev Paul Pediatr 2014;32(2):150-1.
Marco Aurélio P. Sáfadi
desafio para as análises de demonstração de custo-efetividade
dessa intervenção, fazendo com que seja necessário um número ainda maior de lactentes contemplados com a imunoprofilaxia para possibilitar a prevenção de uma internação
por VSR. Por outro lado, acumulam-se evidências sugerindo
que o uso do palivizumabe em crianças reduz a incidência
futura de episódios e dias de sibilância(12,13), antecipando
a possibilidade de benefícios adicionais, não incorporados
em análises de custo-efetividade e que, se confirmados em
outras populações, podem mudar o cenário da prevenção da
infecção pelo VSR.
Finalmente, destacamos que não há, até o momento, evidências na literatura que suportem a ampliação do uso do
palivizumabe a outros grupos, como pacientes com fibrose
cística, imunocomprometidos e portadores de síndrome de
Down, assim como a sua utilização no controle de surtos
em Unidades de Terapia Intensiva Neonatal, não existindo,
portanto, indicação rotineira para seu uso nessas situações(14).
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