ASPECTOS MORFOLÓGICOS DAS FIBRAS NATURAIS DE PLANTAS BRASILEIRAS – PAINA (Chorisia speciosa) Laís Q.Gomes1*, Beatriz S. Chagas1, Eloisa B. Mano1 1 Instituto de Macromoléculas Professora Eloisa Mano - Universidade Federal do Rio de Janeiro – IMA -UFRJ, Campus da Ilha do Fundão, Rio de Janeiro - RJ – [email protected] Segundo a Food and Agriculture Organization – FAO, são produzidas no mundo anualmente em torno de 30 milhões de toneladas de fibras naturais. Estes materiais são importantes em indústrias têxteis e em diversas outras, como na automobilística e de embalagens. Estas fibras podem também ser usadas como carga na formação de compósitos, visando a melhoria das propriedades mecânicas. Em muitos países em vias de desenvolvimento, o lucro da venda e exportação das fibras naturais aumentou consideravelmente. É importante o reconhecimento da fibra e suas propriedades para possíveis aplicações industriais. No presente trabalho, são apresentados os resultados do estudo morfológico das fibras de paina (Chorisia speciosa), da família das bombacáceas. Como fonte de fibras, foram utilizadas diferentes partes da planta. Microscópio óptico e com dispositivo zoom stereo, acoplados a câmara digital, foram empregados para a obtenção das fotomicrografias. Palavras-chave: Fibras naturais, Paina, Morfologia ,plantas e Microscopia óptica. Morphological aspects of natural fibers from Brazilian plants – Kapok (Chorisia speciosa) According to Food and Agriculture Organization – FAO, annually are produced about 30 million ton of natural fibers in the world. These materials are important not only in textile industries but also in the car and package ones. These fibers can be used as fillers in composites, looking for better mechanical properties. In some developing countries, the gain of selling and exportation of natural fibers is increasing considerably. It is important to identify the fibers and their properties for possible industrial applications. In present work, the results of the morphological study on kapok fibers are presented. An optical microscope and a stereo zoom optical microscope, both connected to the digital camera, were used to obtain the photomicrographies. Keywords: Natural fibers, Kapok, Morphology, plants and Optical microscopy. Introdução A bibliografia sobre fibras vegetais encontradas no território brasileiro é muito vasta, tendo como base a famosa obra em seis volumes de Manoel Pio Corrêa, botânico português, publicada em 1926: ”Dicionário das Plantas Úteis do Brasil e das Exóticas Cultivadas”. O presente trabalho se refere aos estudos sobre uma planta facilmente encontrada no Rio de Janeiro: a paineira. Esta palavra nomeia duas plantas da família das bombacáceas: a Ceiba burchelli, de Mato Grosso, e a Chorisia speciosa, do Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo; esta última foi a espécie escolhida para o presente trabalho. A Chorisia speciosa é uma árvore grande, dotada de fortes espinhos partindo do tronco. É muito ornamental pelo seu porte majestoso e belíssima florada. As folhas são alternas, digitadas, de 4 a 7 folíolos lanceolados, denteados, de superfície lisa e pecíolos longos. As flores são vermelhas ou róseas, grandes, com pétalas em forma de espátulas. O fruto é uma cápsula Anais do 10o Congresso Brasileiro de Polímeros – Foz do Iguaçu, PR – Outubro/2009 1 alongada, com cerca de 20 cm de comprimento por 5 cm de diâmetro. Ao abrir-se, revela as sementes, como uma interessante estrutura semelhante aos dedos da mão, onde se prendem os filamentos brancos, sedosos, que constituem a paina. As fibras se assemelham a um algodão rústico. Servem para enchimentos de almofadas e travesseiros, e podem ser empregada na fabricação de papel. A madeira, branca e leve, é extremamente fibrosa e útil na feitura de canoas. As sementes podem ser aproveitadas para a produção de óleo industrial e comestível. O bagaço encontra aplicação como forragem para o gado. A identificação das plantas é geralmente possível através do estudo de suas características microscópicas. Neste trabalho, as fibras vegetais, celulósicas, foram colhidas de diferentes partes da planta. As fibras mais puras são obtidas dos fios que recobrem a casca das sementes, tal como no algodão (Gossypium herbaceum), da família das malváceas. A microscopia ótica é um procedimento simples para o reconhecimento da morfologia da fibra, podendo ainda fornecer uma indicação sobre as suas características de flexibilidade e potencial de aplicação. Parte experimental Para a obtenção das imagens das fibras coletadas da planta estudada, foi utilizada uma câmera digital marca NIKON, modelo COOLPIX 5400, que foi acoplada a um microscópio com aparato estéreo marca OLYMPUS, modelo SZH10, usando lente objetiva. Também foi utilizado o microscópio óptico marca OLYMPUS, modelo BX50, com a câmera digital acoplada e lente objetiva. As fibras isoladas da paina, no seu estado natural, foram examinadas entre lamínulas, no sentido longitudinal, ao microscópio óptico. O corte transversal destas fibras foi observado utilizando um suporte metálico, que sustenta a fibra na posição vertical em relação à lente. Não foram utilizadas lamínulas para esta vista. Para a observação transversal e longitudinal das fibras de algodão, foi adotado o mesmo procedimento utilizado para a observação das fibras de paina. A captura das imagens que representam as fibras presas às sementes foi feita no microscópio com aparato estéreo, sem auxílio do suporte metálico ou das lamínulas. Resultados e Discussão Os estudos realizados estão apresentados nas Figuras I a XIII, com legendas explicativas. Na Figura II, uma paineira em plena floração é mostrada. Na Figura III, podem-se observar os fortes espinhos de proteção, emergindo do tronco da árvore, bem como as folhas alternas. Na Figura IV, além das flores róseas, notam-se alguns frutos, como pequenas cápsulas, de onde emergirão, após a maturação, as sementes e, presa a elas, a penugem celulósica branca que constitui a paina (Figura V). Após a abertura da cápsula, na Figura VI, verifica-se a característica pentâmera da flor da Anais do 10o Congresso Brasileiro de Polímeros – Foz do Iguaçu, PR – Outubro/2009 2 paineira e sua semelhança com a mão espalmada. Na Figura VII, é possível uma melhor visão dos filamentos de paina presos às sementes, com detalhes na Figura IX. Na Figura XI, o aspecto longitudinal e na Figura XIII, o aspecto transversal, ambas referentes à fibra da paina. Para fins de comparação, foi escolhido o representante típico das fibras celulósicas, isto é, o algodão (Figura VIII), que é um polissacarídeo de nome Poli[1,4-β-D-glucose] (Figura I), mostrando-se longitudinalmente como um cadarço torcido (Figura X), e transversalmente, com a forma de tubos achatados (Figura XII), expondo no seu interior o lúmen, orifício central, em forma de “C“. Figura I - Molécula da celulose. [8] Figura II – Paineira, Chorisia speciosa, família das bombacáceas. [6] Figura III –Paineira: espinhos no tronco e folhas alternas. [6] Figura IV – Flor da paineira e cápsulas no estágio inicial. [6] Figura V – Paina após o rompimento da cápsula. [6] Anais do 10o Congresso Brasileiro de Polímeros – Foz do Iguaçu, PR – Outubro/2009 3 Figura VI– Cápsula aberta, com as sementes e a paina Figura VII – Filamentos de paina presos às sementes Figura VIII - Algodão preso à semente. [7] Figura IX – Filamentos de paina presos à casca da semente. Figura X – Fibra de algodão, vista longitudinal. Figura XI – Aspecto longitudinal da fibra da paina. Figura XII – Fibra de algodão vista transversal, com lúmen em “C”. Figura XIII – Aspecto transversal da fibra da paina, com lúmen oval. Anais do 10o Congresso Brasileiro de Polímeros – Foz do Iguaçu, PR – Outubro/2009 4 Conclusões O aspecto macromolecular da paina assemelha-se ao do algodão, conforme observado nas Figuras V, VI e VII. Porém, quando é feita a microscopia óptica, pode-se perceber pela morfologia de ambas as fibras, que a do algodão (Gossypium herbaceum) é mais flexível. Seu aspecto de cadarço torcido e lúmen em forma de C confirmam a sua mobilidade enquanto as fibras de paina (Chorisia speciosa), aparentam morfologia retilínea e o seu lúmen oval que são indicativos de sua maior rigidez se comparadas às fibras do algodão. Agradecimentos As autoras agradecem ao CNPq e a CAPES pelo apoio recebido. Referências Bibliográficas 1. G.A.A.P. Lopes; E.B. Mano; L.C. Mendes, E. Braga; B.S.Chagas Textilia 2000, 35, 30-38. 2. M.P. Corrêa; L.A. Penna, Dicionário das plantas úteis do Brasil e das exóticas cultivadas, Ed.; Imprensa nacional, Rio de Janeiro, 1974. 6 vols 3. D.M. Catling, J.E. Grayson, Identification of Vegetable Fibers, Chapman & Hall in association with Methuen, Inc., New York, 1982. 4. K.G. Satyanarayana, J.L. Guimarães, F. Wypych Science Direct 2007, 38, 1694-1709 5. Food and Agriculture Organization - FAO. Disponível em: www.naturalfibres2009.org. Acessado em Abril 2009. 6. O guia legal. Disponível em: www.oguialegal.com/paineira.htm. Acessado em abril 2009 7. Instituto Agronômico do Paraná – IAPAR. Disponível em: www.iapar.com.br. Acessado em abril 2009 8. Universidade Santa Cecília. Disponível em: http://professores.unisanta.br/maramagenta/celulavegetal.asp. Acessado em maio 2009 Anais do 10o Congresso Brasileiro de Polímeros – Foz do Iguaçu, PR – Outubro/2009 5