Protocolo Anestésico em um NOME CIENTIFICO JABUTS

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PROTOCOLO ANESTÉSICO EM QUELÔNIOS
MOREIRA, Allana Valau1; SILVA, Aline Alves da2.
Palavras – Chave: Analgesia. Anestesia. Epidural. Jabuti.
Introdução
Os répteis são vertebrados gnatostomados, terrestres ou aquáticos. A ordem
Testudinata, da qual fazem parte tartarugas, jabutis e cágados, pode ser encontrada em
diversos habitats (SANTOS et al., 2009). Estudos mostram que o tratamento cirúrgico de
quelônios em cativeiro fez avanços consideráveis nos últimos anos (SCHUMACHER, 2007).
Na década de 70 e inicio da década de 80 esses animais eram submetidos à imobilização e
anestesia através da hipotermia e inalação de éter, sendo que atualmente essas técnicas são
consideradas ineficazes, de alto risco e para muitos desumanas (ROSA, 2011). A escolha de
um protocolo anestésico, com a seleção de fármacos e suas respectivas doses muitas vezes é
difícil, pois esses animais possuem anatomia e fisiologia diferenciadas (SCHUMACHER,
2007). Este trabalho tem por objetivo descrever o protocolo anestésico utilizado em um Jabuti
para manutenção da anestesia geral.
Materiais e Métodos
Um Jabuti, seis anos, pesando cerca de 0,7 kg, macho, do projeto PRESERVAS da
UFRGS foi encaminhado para uma penectomia, pois passou por uma castração experimental
através de vídeocirurgia e, desde então, apresentou exposição permanente do pênis
(priapismo). Devido à falta de exames complementares e do paciente pertencer a uma espécie
silvestre foi classificado como ASA II.
A MPA administrada foi a associação de cloridrato de cetamina 3mg/kg e sulfato de
morfina 0,7 mg/kg, IM, ambos na mesma seringa. Após o animal foi induzido e mantido, ao
efeito, com isofluorano através de uma máscara, sendo a manutenção também com
isofluorano. Foram feitas duas técnicas de anestesia local para suplementar a analgesia que foi
iniciada preventiva através da morfina na MPA. Uma delas a anestesia epidural e a outra
através de bloqueio infiltrativo próximo ao nervo pudendo, ambas com lidocaína 4mg/kg.
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Médica Veterinária autônoma. [email protected]
Professora Dr, UNICRUZ, RS. [email protected].
O animal teve sua frequência cardíaca monitorada através do Doppler Vascular, a
qual manteve-se entre 55 a 62 batimentos por minuto. Para avaliar a profundidade anestésica
foram observados a perda dos movimentos dos membros torácicos e pélvicos. Durante todo o
procedimento o animal foi mantido em aquecimento, com bolsas térmicas, conduta importante
na anestesia de répteis fim de evitar hipotermia.
O transoperatório transcorreu sem alterações, com baixo risco anestésico. Por
pertencer a um projeto voltado para animais silvestres o réptil permaneceu no hospital de
clínicas veterinárias recebendo como medicação pós cirúrgica sulfato de morfina 0,7 mg/kg,
IM, dose única e meloxican 0,1 mg/kg, SID, durante três dias por via IM.
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Discussão e Revisão Bibliográfica
Os répteis são animais ectotérmicos, ou seja, são animais incapazes de manter uma
temperatura corporal constante por mecanismos fisiológicos intrínsecos. Quando mantidos a
temperaturas mais baixas que a temperatura mínima da espécie, sendo esta de 20 Cº, os
tempos de indução e de recuperação anestésica se tornam consideravelmente maiores, sendo
indicado aquecer o animal antes, durante e após submetê-lo à anestesia (CORREA, s.d). O
paciente foi aquecido antes e durante o procedimento, com bolsas térmicas, o que, em alguns
casos, não é necessário quando se trata da anestesia de cães e gatos, essas diferenças mostram
a importância do conhecimento das particularidades fisiológicas pelos anestesistas.
A história completa, exame visual e físico são essenciais para selecionar o protocolo
mais adequado. O principal parâmetro a ser aferido é a frequência cardíaca, porém o coração
tricavitário da maioria dos répteis é muito pouco audível com estetoscópio. Uma alternativa é
o uso de estetoscópio esofágico. Entretanto, métodos como eletrocardiograma e a avaliação
com doppler tem sido ferramentas fundamentais para o acompanhamento do paciente
(FLÔRES, 2008).
Os anestésicos dissociativos, como a quetamina, são comumente empregados em
répteis, apresentando vantagens como a margem de segurança nessa espécie, uniformidade do
comportamento anestésico, podendo ser empregado por vias não invasivas como a intra
venosas, evitando maiores complicações (ROSA, 2011). A quetamina é um derivado da
fenciclidina, que induz a um estado cataléptico caracterizado por excitação do SNC (maior
que a depressão), analgesia, imobilidade, e amnésia, sem perda real da consciência, ocorrendo
intensa sensação de dissociação do meio. Ela parece ser um inibidor potente da ligação do
GABA (acido Gama Amino Butírico) no SNC e sugere que exacerbe os mecanismos
inibitórios do SNC mediante a ação do GABA (NATALINI, 2007). Sua dose efetiva depende
da temperatura corporal dos quelônios, sendo que, baixa temperatura requer baixa dose e
maior tempo de indução e recuperação (SCHUMACHER, 2007).
No caso dos quelônios, pouco se conhece sobre os mecanismos nociceptivos, eficácia
farmacológica dos analgésicos e seus efeitos colaterais. Essa carência não deve impedir o uso
de fármacos antinociceptivos (FERRAZ, 2010). Os opióides agem modulando a nocicepção
na periferia, medula e em áreas supraespinhais do SNC. No entanto, devido ao fato dos répteis
possuírem um SNC primitivo, a ação antinociceptiva central desses fármacos precisa ser mais
estudada. O opióide mais usado em répteis é o butorfanol, porém a morfina pode ser uma
escolha mais apropriada, possivelmente devido à predominância de receptores μ nesses
animais. A morfina pode fornecer antinocicepção em algumas espécies de répteis por um
período de até 24 horas (FERRAZ, 2010). O paciente apresentou boa sedação, onde o uso da
morfina mostrou-se eficaz, pois não houve alterações no trans operatório que indicassem
sinais de algia.
A anestesia inalatória oferece muitas vantagens sobre os anestésicos injetáveis
quando utilizados em répteis, segundo RIBEIRO, 2011 as mais importantes são o melhor
controle da depressão anestésica e indução e recuperação mais rápidas. A intubação traqueal
em geral é obtida com facilidade, mas pode-se manter a anestesia com máscara (NATALINI,
2007). O isofluorano é o agente anestésico de preferência para o grupo dos répteis
principalmente para os que se apresentam debilitados (RIBEIRO, 2011). A anestesia epidural
em quelônios é uma via eficiente e popular, além de ser uma modalidade de anestesia segura,
sendo capaz de reduzir a dose de anestésicos gerais utilizados e até mesmo dispensa-los
(SANTOS, 2011). É obtida com a administração do anestésico entre a duramater e o
ligamento amarelo do canal vertebral (RIBEIRO, 2011). Para realização do bloqueio
peridural, a utilização do espaço intervertebral coccígeo, compreendido entre a 15ª e a 22ª
vértebras, como via de escolha para administração de fármacos. Essa técnica é utilizada para
anestesia peridural, e consiste na aferição, com fita métrica, do comprimento da carapaça e em
seguida o paciente deve ser posicionado em decúbito dorsal, sua cauda deve ser levantada e o
fármaco deve ser injetado no espaço articular entre as vértebras, o que é bem evidente
(FERRAZ, 2010).
Na rotina clínica de répteis é comum o controle da dor crônica com antinflamatórios
não esteroidais (AINEs), como cetoprofeno, carprofeno e meloxican. Esses fármacos, apesar
de conferirem analgesia e ação antiinflamatória em quelônios, carecem de maiores pesquisas
relacionadas aos prováveis efeitos secundários similares àqueles já observados em mamíferos,
como irritação do trato gastrintestinal, toxicidade renal, diminuição da capacidade de
coagulação (FERRAZ, 2010).
Conclusão
Mesmo com literatura geralmente restrita, a anestesia em quelônios não possui
muitas complicações, os animais se mantêm facilmente em um plano anestésico adequado,
porem isso só é possível quando o anestesista escolhe um protocolo coerente.
Referencias
CORREA, V.V. Técnicas e fármacos utilizados na anestesia de Quelônios. Aprimoramento
da área de Anestesiologia do Hospital Veterinário “Dr. Vicente Borrel. São Paulo.
FERRAZ.G.M. Anestesia para a realização de celiotomia em jabuti. Monografia do
Instituto Brasileiro de Veterinária. Rio de Janeiro, 2010.
FLÔRES, F.N. Anestesia em tartaruga para a remoção cirúrgica de granuloma – relato de
caso. Revista da Faculdade de Zootecnia e Veterinária e Agronomia,Uruguaiana, v.15,
n.1, p 132-140, 2008.
NATALINI, C. C. Teoria e técnicas em anestesiologia veterinária. Porto Alegre: Artmed,
p. 11-250, 2007.
RIBEIRO, P.I.R. Uso de lidocaína e Bupivacaína na anestesia espinhal de cágado de
Barbicha. Dissertação de Mestrado da Universidade Federal de Uberlândia. Minas
Gerais, 2011.
ROSA, N.S. Relatório de estagio curricular supervisionado em Medicina Veterinária.
Universidade Federal de Santa Maria, 2011.
SCHUMACHER J. Chelonians (Turtles, Tortoises, and Terrapins). In: WEST G., HEARD
D., CAULKETT N. Zoo Animal & Wildlife Immobilization and Anesthesia, 1.ed. Carlton:
Blackwell Publishing, 2007. v.1, p. 259-266.
SANTOS, A.L.Q. et al. Anestesia de cágado-de-barbicha Phrynops geoffroanus Schweigger,
1812 (Testudines) com a associação midazolam e propofol. Acta Scientiarum. Biological
Sciences, Maringá, v. 31, n. 3, p. 317 - 321, 2009.
SANTOS, A.L.Q. et al. Estudo comparativo entre a administração espinhal de lidocaína ou
bupivacaína em jabuti piranga Chelonoidis carbonaria (Spix, 1824). PUBVET, Londrina, v.
5,
n. 12, ed. 159, 2011.
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