TÍTULO: “Micronutrientes na cana-de-açúcar: mitos e realidades” Godofredo Cesar Vitti1 Fábio Eduardo de Campos Queiroz2 Thiago Aristides Quintino2 1) INTRODUÇÃO DO CENÁRIO SUCROALCOOLEIRO ATUAL A cultura da cana-de-açúcar representa hoje grande fonte de divisas para o Brasil, seja pela produção de açúcar quanto pela produção de álcool etílico. Esta cultura vem apresentando significativa expansão em sua área cultivada, assim como tem revelado aumento substancial em sua produtividade, reflexo conjugado de vários fatores de produção, tais como: variedades melhoradas, tratamentos fitossanitários, práticas culturais e utilização de corretivos e fertilizantes. Com relação ao aumento da área cultivada, a cana-de-açúcar disseminouse em todos os estados brasileiros, tendo-se estabelecido sobre os mais diferentes tipos de solos, muitas vezes com características bastante distintas dos padrões ideais. Embora a cana-de-açúcar seja uma planta muito rústica, a economicidade de sua produção agroindustrial é gradativamente prejudicada à medida que as características ambientais tornam-se mais adversas. Muitas são as técnicas agronômicas empregadas na produção de cana-deaçúcar, tais como a escolha de variedades adequadas ao solo e clima, conservação e correção química dos solos, controle de pragas e plantas daninhas, etc. A busca pela escolha do fertilizante mais adequado bem como de adubação balanceada visando a máxima produtividade são pontos cada vez mais abordados. É neste contexto em que se enquadra a utilização de micronutrientes na cultura da cana-de-açúcar. 1 2 Prof. Titular do Departamento de Solos e Nutrição de Plantas – ESALQ / USP ([email protected]) Acadêmicos em Engenharia Agronômica – ESALQ / USP ([email protected]) 1 2) LEGISLAÇÃO DE MICRONUTRIENTES O decreto n.º 4.954, de 14 de janeiro de 2004 aprova o Regulamento da Lei nº 6.894, de 16 de dezembro de 1980, que dispõe sobre a inspeção e fiscalização da produção e do comércio de fertilizantes, corretivos, inoculantes ou biofertilizantes destinados à agricultura, e dá outras providências. “CAPÍTULO I DAS DISPOSIÇÕES PRELIMINARES Art. 2º Para os fins deste Regulamento, considera-se: XIV - nutriente: elemento essencial ou benéfico para o crescimento e produção dos vegetais, assim subdividido: a) macronutrientes primários: Nitrogênio (N), Fósforo (P), Potássio (K), expressos nas formas de Nitrogênio (N), Pentóxido de Fósforo (P2O5) e Óxido de Potássio (K2O); b) macronutrientes secundários: Cálcio (Ca), Magnésio (Mg) e Enxofre (S), expressos nas formas de Cálcio (Ca) ou Óxido de Cálcio (CaO), Magnésio (Mg) ou Óxido de Magnésio (MgO) e Enxofre (S); e c) micronutrientes: Boro (B), Cloro (Cl), Cobre (Cu), Ferro (Fe), Manganês (Mn), Molibdênio (Mo), Zinco (Zn), Cobalto (Co), Silício (Si) e outros elementos que a pesquisa científica vier a definir, expressos nas suas formas elementares.” 2 3) UTILIZAÇÃO DE MICRONUTRIENTES EM CANA-DE-AÇÚCAR-DE-AÇÚCAR Um dos fatores que contribuiu para a expansão da cana-de-açúcar no Brasil foi criação do Programa Nacional do Álcool – Proálcool e o grande crescimento do setor a partir da década de 70. Essa expansão ocorreu em áreas tradicionais e não tradicionais de cultivo desta cultura. Muitas indústrias foram montadas em regiões de solos com baixa fertilidade, nas quais, além da calagem, adubação NPKS e rotação de culturas, observam-se baixos teores de micronutrientes no solo. A adubação com micronutrientes em cana-de-açúcar, mesmo nas áreas onde os teores no solo são baixos, ainda apresenta controvérsias. Muitos dos resultados de pesquisa são contraditórios e a mente conservadora de técnicos que trabalham no setor resulta por discriminar a utilização de micronutrientes nas práticas de adubação. No entanto, é imprescindível que seja explicada a importância dos micronutrientes para a cultura da cana-de-açúcar bem como esclarecido os principais FATOS e MITOS relacionados à sua utilização nas práticas de adubação desta cultura 4) FATOS Deve-se esclarecer que dentre os FATOS relacionados à utilização de micronutrientes em cana-de-açúcar estão: (i) a essencialidade dos micronutrientes às plantas e as funções no metabolismo das mesmas; (ii) os sintomas visuais de deficiência observados à campo em plantas com suprimento inadequado destes elementos; (iii) baixos teores de micronutrientes detectados em plantas deficientes, segundo a técnica da diagnose foliar, em comparação com teores de plantas sadias e de canaviais com altas produtividades e (iv) baixos teores no solo, principalmente nos arenosos, baixo teor de matéria orgânica, sem utilização de resíduos da própria indústria canavieira ou de outras fontes orgânicas. 3 4.1) Essencialidade dos micronutrientes A cana-de-açúcar-de-açúcar, bem como as demais plantas superiores, necessita para o seu desenvolvimento de macro (N, P, K, Ca, Mg, S) e de micronutrientes (B, Cl, Cu, Fe, Mn, Zn, Mo, Si). Os micronutrientes desempenham funções vitais no metabolismo das plantas, quer como parte de compostos responsáveis por processos metabólicos e/ou fenológicos, quer como ativadores enzimáticos. A importância dos micronutrientes para a cultura da cana-de-açúcar é evidenciada quando se observam as quantidades extraídas dos mesmos. São quantidades relativamente baixas quando comparadas à extração de macronutrientes, porém de fundamental importância ao desenvolvimento da cultura. Reduções na produtividade e até morte de plantas são conseqüências naturais advindas de desarranjos nos processos metabólicos, ocasionados pela carência de micronutrientes. (Orlando Filho, 1993). As quantidades de micronutrientes extraídas e exportadas pela cultura da cana-de-açúcar estão apresentadas na tabela 1. Tabela 1: Extração e Exportação de micronutrientes para a produção de 100 t de colmos (Orlando F.º, 1993) Planta B Cu Fe Mn Zn Mo* -1 ------------------------------- g.100 t -------------------------------- Colmos 149 234 1.393 1.052 369 Folhas 86 105 5.525 1.420 223 Total 235 339 7.318 2.470 592 1,00 1,00 * Malavolta (1982) Diante da importância dos micronutrientes para as plantas, torna-se fundamental compreender as funções específicas de cada um no desenvolvimento da cultura da cana-de-açúcar. 4 4.2) Funções dos micronutrientes na planta e sintomas visuais de deficiência nutricional. A literatura brasileira já assinalou e descreveu as principais funções dos micronutrientes nas plantas e os sintomas visuais de deficiência de em cana-deaçúcar, que serão apresentados a seguir: 4.2.1 Boro (B) Funções do boro nas plantas: O boro é responsável pelo desenvolvimento de raízes e transporte de açucares. A função fisiológica do boro difere dos outros micronutrientes, pois este ânion não foi identificado em nenhum composto ou enzima específica. Entre as principais funções atribuídas a este micronutriente está o metabolismo de carboidratos e transporte de açúcares através das membranas; síntese de ácidos nucléicos (DNA e RNA) e de fitohormônios; formação de paredes celulares e divisão celular (Dechen et al, 1991). O boro está diretamente relacionado ao metabolismo da cálcio, ou seja, para formação adequada da parede celular é necessária a presença desse nutriente. Sintomas visuais de deficiência de boro: Os sintomas leves de deficiência deste micronutriente mostram pequenas estrias cloróticas e aquosas no espaço internerval das folhas jovens. As áreas cloróticas podem evoluir para a necrose e o crescimento irregular do limbo foliar tende a causar enrugamento em algumas bandas. Nos casos mais severos, os sintomas evoluem para a necrose das folhas, encurtamento do limbo foliar e necrose do tecido meristemático intercalar, causando os sintomas de necrose 5 interna em forma de espiral no caule, próximo ao meristema apical (Tokeshi, 1991). Observa-se que os sintomas de deficiência são muito semelhantes aos da doença “Pokkah boeng” causada pelo Fusarium moniliforme. Tem-se também folhas torcidas; lesões translúcidas ou em forma de "sacos de água" entre as nervuras; plantas novas com muitos perfilhos; folhas tendem a ficar quebradiças; folhas do cartucho podem ficar cloróticas e mais tarde necróticas; freqüentemente chamada de doença do falso "Pokkah boeng"; também semelhante ao dano causado por alguns herbicidas; clorose nas pontas e margens das folhas novas progredindo da base para a ponta da lâmina foliar; por último, a clorose estende-se às folhas mais velhas; tecido clorótico rapidamente torna-se necrótico; pontas das folhas podem ficar severamente queimadas. Nas figuras 1, 2 e 3 são apresentados sintomas típicos de deficiência desse nutriente. Figura 1. Folhas novas apresentando enrugamento (Fonte: Copyright©2003 Inkabor S.A.C.) 6 Figura 2. Folhas quebradiças e excesso de perfilhamento (Fonte: POTAFOS) Figura 3. Folhas do topo se amarram umas às outras e apresentam enrugamento. 4.2.2) Cloro Funções do cloro na planta: O cloro é um elemento essencial tendo envolvimento no desdobramento da molécula da água na fotossíntese II tem sido confirmado por vários autores (Marschener, 1986 citado por Dechen et al., 1991). 7 Pouco se sabe sobre a função do cloro em outros processos metabólicos. Os teores de certos aminoácidos e amidas são excepcionalmente altos em plantas deficientes em cloro (Freney et al., 1957 citados por Dechen et al., 1991) e, como resultado, ocorre inibição da síntese ou degradação de proteínas. Sintomas visuais de deficiência: Devido ao fato do cloro ser fornecido ás plantas através de diferentes fontes (reservas do solo, chuva, fertilizantes e poluição aérea), é muito mais freqüente a toxicidade do elemento em plantas do que a deficiência, e é difícil induzir deficiência do mesmo em condições normais de experimentação (Dechen et al., 1991). 4.2.3 Cobre (Cu) Funções do cobre na planta: O cobre é elemento importante na fotossíntese, atuando no transporte eletrônico via plastocianina. Na respiração atua na oxidação terminal pela oxidase do citocromo. Também aumenta a resistência às doenças e age na síntese protéica. È componente do ácido ascórbico oxidase, tirosinase, monoamina oxidase, uricase, citocromo oxidase, fenolase, lacase e plastocianina (Taiz & Zeiger, 2004). Na distribuição do cobre nos diversos órgãos da cana-de-açúcar, observase acúmulo no palmito em quantidades muito maiores que nos demais órgãos. Evans (1916, citado por Malavolta, 1980) mostrou que naquele tecido existe atividade muito alta de polifenoloxidase, um ênzimo ativado pelo Cu. Este micronutriente foi o fator limitante na produção de cana, na Flórida e na Louisiania, há 50 anos. 8 Sintomas visuais de deficiência de cobre: A deficiência de cobre nas plantas pode ser diagnosticada visualmente, pelos seguintes sintomas: pequeno desenvolvimento da planta, folhas cloróticas e difícil aparecimento de folhas novas, folhas se curvam para o solo-topo caído (“droopy top”), em casos mais agudos e clorose foliar dividida em pequenos retângulos (confundidos com “mosaico da cana”). Segundo (Tokeshi, 1991), plantas com deficiência de cobre, no geral estão associadas com solos salinos ou com subsolos salinos. Nos solos sob vegetação de cerrado estão associadas com os Latossolos mais arenosos e de baixa fertilidade natural. Nas áreas deficientes, com freqüência formam-se reboleiras de área variável e as plantas apresentam como sintomas mais característicos o encurtamento dos entrenós, folhas verticiladas, formando o sintoma de leque e a presença de manchas verdes na folha. As folhas ficam finas e flácidas, tendendo a tombar para um só lado se houver vento predominante (Tokeshi, 1991). Observa-se também como sintomas visuais de deficiência de cobre, manchas verdes ("ilhas") nas folhas; folhas eventualmente descoloridas que se tornam finas como papel e enroladas quando a deficiência é severa; colmos e meristemas perdem a turgidez (doença do "topo caído") e adquirem aparência semelhante à borracha; perfilhamento reduzido. Nas figuras 4, 5 e 6 são apresentados sintomas típicos de deficiência desse nutriente Figura 4. “Touceira amassada” (POTAFOS) 9 Figura 5. Clorose uniforme seguida de pontuações verde – escuras (ilhas) (Orlando Filho, 1983) + Cu - Cu Figura 6. “Touceiras amassadas” – (Região de Tabuleiros Terciários do Nordeste Brasileiro) 4.2.4. Ferro (Fe) Funções do ferro na planta: O Ferro é considerado metal chave para as transformações energéticas necessárias para síntese e outros processo vitais das células: As principais funções atribuídas ao ferro segundo Dechen et al. (1991) são: 10 • Ocorre em proteínas dos grupos heme e não heme e encontra-se principalmente nos cloroplastos; • Complexos orgânicos de ferro estão envolvidos no mecanismo de transferência de elétrons; • Fe-proteínas do grupo não heme estão envolvidas na redução de nitritos e de sulfatos; • A formação de clorofila parece ser influenciada por esse elemento; • Está diretamente implicado no metabolismo de ácidos nucléicos; • Exerce funções catalíticas e estruturais. Sintomas visuais de deficiência: Segundo Tokeshi (1991) os sintomas de deficiência de ferro em cana-deaçúcar pode ocorrer em cana-planta ou soca, com enraizamento superficial, no período em que os brotos estão sendo alimentados pelas raízes da soca ou do colmo-mãe (tolete). No geral os sintomas ocorrem em reboleiras, em solos arenosos e de menor fertilidade, e tende a desaparecer após seis meses de crescimento da planta. As folhas afetadas apresentam clorose internerval que se alastra por toda a extensão da lâmina foliar e atinge até nervura central. Não se observa decréscimo de alongamento do palmito (Tokeshi, 1991). A deficiência de ferro também está associada a excesso de Mn (solos ácidos) por apresentar inibição competitiva com esse elemento, bem como a solos com reação alcalina, pela precipitação do ferro na forma de Fe(OH)3. Na figura 7 é apresentado deficiência desse nutriente 11 Figura 7. Planta clorótica-esbranquiçada (POTAFOS) 4.2.5 Manganês (Mn) Funções do manganês na planta: O Manganês atua na fotossíntese, sendo envolvido na estrutura, funcionamento e multiplicação de cloroplastos, também realiza o transporte eletrônico. O manganês é requerido para a atividade de algumas desidrogenases, descarboxilases, quinases, oxidases e peroxidases. Está envolvido com outras enzimas ativadas por cátions e na evolução fotossintética de oxigênio (Taiz & Zeiger, 2004). Nota-se grande quantidade de manganês nas zonas de crescimento da planta, principalmente no palmito. Este elemento concentra-se principalmente nos tecidos meristemáticos. 12 Sintomas visuais de deficiência de manganês Segundo Tokeshi (1991), a deficiência de manganês ocorre principalmente em solos alcalinos, devido à presença de rochas calcárias, conchas marinhas ou com calagem excessiva. De acordo com o mesmo autor, as plantas afetadas apresentam clorose internerval convergente para a nervura central. As áreas cloróticas podem evoluir para estrias necróticas. A clorose tende a atingir apenas parte do limbo foliar, localizando-se no ápice ou na base da folha, e a lâmina foliar tende a ser mais estreita. As plantas de cana-de-açúcar deficientes do micronutriente manganês apresentam sintomas visuais como faixas longitudinais bem distintas de tecidos verde e amarelo do meio para as pontas das folhas; em casos severos, a folha perde totalmente a cor verde, tornando-se uniformemente clorótica; nas regiões esbranquiçadas podem aparecer manchas necróticas que coalescendo produzem estrias contínuas de tecido morto. Estrias amarelas ao longo das nervuras e folhas mais finas. Figura 8. Estrias amarelas ao longo das nervuras (Fonte: Stoller) 13 4.2.6 Molibdênio (Mo) Funções do molibdênio nas plantas O molibdênio aumenta a eficiência da nutrição nitrogenada e a produção de sacarose. É essencial para o metabolismo do nitrogênio em plantas que utilizam como fonte deste nutriente o nitrato do solo e/ou o nitrogênio atmosférico proveniente do processo de fixação biológica por bactérias diazotróficas associadas à planta. A cana-de-açúcar pode receber N proveniente destas duas fontes e, portanto, formula-se a hipótese de que o Mo é fator de produção desta cultura, pois o seu fornecimento adequado é necessário para que a elevada demanda de N pelas plantas seja atendida, principalmente pela otimização da contribuição da fixação biológica de nitrogênio (FBN) na nutrição nitrogenada. Nos sistemas biológicos o molibdênio é constituinte de pelo menos cinco enzimas catalisadoras de reações. Três destas enzimas (redutase do nitrato, nitrogenase e oxidase do sulfito) são encontradas em plantas (Gupta & Lipsett, 1981 citados por Dechen et al, 1991). Na figura 9 é apresentado esquema simplificado da participação do molibdênio (Mo) em dois esquemas enzimáticos de cana-de-açúcar. 14 NO3- Mo Nitrato Redutase NO2- NH2 N2 + 3H2 Mo 2NH3 Nitrogenase (Beijerinckia) Figura 9. Esquema enzimático do Mo na cana-de-açúcar Sintomas visuais de deficiência de molibdênio: Ocorrem pequenas estrias cloróticas longitudinais começando no terço apical da folha; folhas mais velhas secam prematuramente do meio para as pontas. 15 Figura 10. Estrias longitudinais curtas e cloróticas no terço superior das folhas mais velhas (Bowen, J.E.) 4.2.7. Silício Funções do silício na planta: O silício (Si) é o segundo elemento em abundância na crosta terrestre e acumala-se nos tecidos de todas as plantas, representando entre 0,1 a 10% da matéria seca das mesmas (Korndörfer, 2004). O silício é um elemento químico envolvido em funções relacionadas com a transpiração, capaz de se concentrar na epiderme das folhas formando uma barreira mecânica à invasão de fungos no interior das células, dificultando também, o ataque de insetos sugadores e mastigadores (Epstein, 1999 citado por Korndörfer, 2004). O efeito da proteção mecânica do silício nas plantas é atribuído, principalmente, ao depósito na parede celular na forma de sílica amorfa. A acumulação de sílica nos órgãos de transpiração, por sua vez, provoca a formação de uma dupla camada de sílica cuticular, a qual, pela redução da transpiração, faz com que a exigência de água pelas plantas seja menor. As plantas cultivadas são classificadas quanto ao teor de silício presentes no tecido vegetal como acumuladoras, intermediárias e não acumuladoras (Miyake 16 & Takahashi, 1983 citados por Korndörfer, 2004), sendo a cana-de-açúcar considerada planta acumuladora desse elemento. Segundo Korndörfer (2004) a cana-de-açúcar responde, favoravelmente, à adubação com silício, particularmente nos solos arenosos, com baixa concentração desse elemento. Sintomas visuais de deficiência: Não são relatados na literatura sintomas de deficiência de silício. 4.2.8 Zinco (Zn) Funções do zinco na planta: O zinco potencializa a produção do hormônio de crescimento (auxina) – sintetase do triptofano e metabolismo de triptamina. O zinco é constituinte do álcool desidrogenase, desidrogenase glutâmica, anidrase carbônica, etc. (Taiz & Zeiger, 2004). Este elemento se concentra nas zonas de crescimento devido à maior concentração auxínica. Sintomas visuais de deficiência de zinco: Em cana-de-açúcar, as mudas provenientes e plantadas em solos deficientes em zinco, ao germinarem dão origem a plantas com pequeno alongamento do palmito, com tendência das folhas saírem todas do vértice foliar na mesma altura, formando o sintoma de “leque”. Nos casos graves, as plantas deficientes são visivelmente menores do que aquelas sem deficiência, e as folhas mais velhas apresentam manchas vermelhas na parte inferior e podem mostrar início de clorose internerval em associação com essas manchas vermelhas (Tokeshi, 1991). Em plantas com mais de seis meses observa-se ligeiro encurtamento nos entrenós, clorose internerval e amarelecimento mais acentuado da margem para a 17 nervura central, quando junto a ela normalmente a lâmina se mantém verde. Nos níveis de deficiência “oculta” é freqüente o aparecimento de um ataque elevado da doença estria parda, causado pelo fungo Helminthosporium stenospilum (Tokeshi, 1991). Pode-se observar redução do crescimento dos internódios e paralisação do crescimento do topo. Formam-se estrias cloróticas na lâmina foliar, convalescendo e formando uma faixa larga de tecido clorótico de cada lado da nervura central, mas não se estendendo à margem da folha, exceto em casos severos de deficiência. Nas figuras 11, 12 e 13 são apresentados sintomas visuais de deficiência de zinco. Figura 11. Lesões vermelhas nas folhas novas (Fonte: POTAFOS) Figura 12. Faixa larga clorótica na lâmina foliar (Reghenzani, J.) 18 + Zn - Zn Figura 13. Deficiência de zinco (Tabuleiro terciário do Nordeste Brasileiro) 4.5) Avaliação do estado nutricional das plantas pela técnica da diagnose foliar A diagnose foliar é um método de avaliação nutricional das culturas em que se analisam determinadas folhas em períodos definidos da vida da planta. O motivo pelo qual analisam-se as folhas é conhecido: elas são os órgãos que, como regra geral, refletem melhor o estado nutricional, isto é, respondem mais às variações no suprimento de nutrientes, seja pelo solo, seja pelo fertilizante. A diagnose foliar consiste, pois, em analisar-se o solo usando a planta como solução extratora. A composição mineral da folha, ou o teor dos elementos nela encontrado, é conseqüência do efeito dos fatores que atuaram e, às vezes, interagiram até o momento em que o órgão foi colhido para análise (ou mesmo depois da tomada da amostra), sendo resumido pela seguinte equação geral: 19 Y= f (Pl, S, Cl, Pc, Pm …) Onde: Y = teor do elemento na folha; Pl = planta (variedade, tipo de folha, idade, cana-planta, soqueira, etc.); S = solo, origem, manejo; Cl = condições de clima; Pc = práticas culturais (cultivo, herbicidas, tipo de colheita, adubação verde) Pm = pragas e moléstias Alguns aspectos importantes devem ser levados em consideração no momento da amostragem foliar. Deve-se verificar que as amostras devem representar áreas homogêneas, com o mesmo tipo de solo, mesma variedade, idade do canavial e mesmo tratos culturais. Como se pode observar na figura 14, deve-se coletar a folha +3, ou seja, a primeira folha que estiver com o “colarinho” visível (lígula totalmente aberta): Figura 14. Esquema de amostragem de folhas para análise foliar (Trani, et al., 1983) 20 Parte da folha – utilizar os 20 cm centrais, desprezando-se a nervura central; Época – coletar a folha na fase de maior desenvolvimento vegetativo: • Cana-planta: 6 meses após germinação • Cana-soca: 4 meses após o corte Após o encaminhamento das amostras ao laboratório e de posse dos resultados das análises, deve-se proceder a interpretação dos teores de nutrientes nas folhas. Raij & Cantarella (1996) sugerem as faixas de teores adequados de nutrientes em cana-de-açúcar apresentados na tabela 2. Tabela 2. Faixas de teores adequados de micronutrientes na cana-de-açúcar (Raij & Cantarella, 1996). B Cu Fe Mn Mo Zn 25-250 0,05-0,2 10-50 mg/kg 10-30 6-15 40-250 21 Tabela 3. Teores de micronutrientes adequados para a cana-de-açúcar, folha +3 (Malavolta, 1982). Elemento ppm Cana-planta B 15 – 50 Cu 8 – 10 Fe 200 – 500 Mn 100 – 250 Mo 0,15 – 0,30 Zn 25 – 50 Cana-soca B ------ Cu 8 – 10 Fe 80 – 150 Mn 50 – 125 Mo ------ Zn 25 – 30 4.6. Avaliação de micronutrintes pela análise de solo Na tabela 4 são apresentados as faixas de interpretação de micronutrientes no solo. 22 Tabela 4. Limites de Interpretação de teores de micronutrientes em solos. B Cu Fe Água Teor Mn Zn 0 – 0,5 DTPA quente mg.dm-3 Baixo 0 – 0,2 0 – 0,2 0–4 0 – 1,2 Médio 0,21 – 0,6 0,3 – 0,8 5 – 12 1,3 – 5 Alto > 0,6 > 0,8 > 12 >5 0,6 – 1,2 (1,6*) > 1,2 Fonte: Raij et al., 1996. * utilizando como extrato Mehlich 1 1 mg.dm-3 B, Cu, Fe, Mn, Zn = 2 kg.ha-1 do micro na camada de 0 a 20 cm (d = 1,0). Exemplo: 0,6 mg.dm-3 de B = 1,2 kg/ha de B 5) MITOS 5.1.) Características Gerais O principal mito relacionado à adubação com micronutrientes em cana-deaçúcar é que não há respostas à sua utilização. Torna-se importante discutir alguns dos motivos que podem propiciar que não haja resposta à adubação com micronutrientes: (i) o canavial não tenha alcançado o máximo potencial produtivo, havendo macronutrientes em quantidades insuficientes; (ii) o calcário utilizado nas práticas corretivas pode conter micronutrientes em sua composição; (iii) a utilização de resíduos orgânicos (composto, torta-de-filtro, vinhaça, outros materiais orgânicos) pode fornecer micronutrientes à cultura. (i) Quando o canavial não alcançou o seu máximo potencial produtivo, seja pela correção inadequada de pH; deficiência e desequilíbrio de bases trocáeis (Ca, Mg, 23 K) e principalmente quantidades insuficientes de fósforo na instalação da cultura, a limitação por esses fatores, neste caso, tornar-se mais restritiva ao desenvolvimento da cultura do que os micronutrientes. É o que foi explicado por Liebig, com a Lei dos Mínimos, ou seja, a produtividade será determinada pelo fator de produção que estiver mais limitado no sistema. (ii) presença de micronutrientes em corretivos: Uma das hipóteses da não resposta de micronutrientes em alguns casos é provavelmente a sua ocorrência nos calcários, principalmente os de origem sedimentar. Sendo assim, o fornecimento de micronutrientes já é realizado e não é dimencionado. A seguir, são apresentados a composição química de calcário e do gesso e a contaminação com micronutrientes nos mesmos. Tabela 5. Teor de micronutrientes contido em calcários. A nálise de C alcário * M icro nutrientes em E lem ento ppm 2t de calcário (g.ha -1 ) B Co Cu Fe Mn Zn 30 25 26 4599 334 46 60 50 52 9198 668 92 *Malavolta (1994) 24 Tabela 6. Teor de micronutrientes contido no gesso agrícola A nálise de G esso * M icro nutrientes em E lem ento ppm 2t de gesso (g.ha -1 ) B Co Cu Fe Mn Zn 3 2 8 670 15 9 6 4 16 1340 30 18 *Malavolta (1994) (iii) Em áreas onde é realizada aplicação de resíduos orgânicos: tais como vinhaça, torta-de-filtro, composto orgânico, e outros materiais orgânicos, contêm em sua grande maioria micronutrientes em sua composição, conforme apresentado nas tabelas 5 a 7 Tabela 7. Teor de micronutrientes contido vinhaça (Usina Cerradinho) Análise de Vinhaça - Us. Cerradinho Micronutrientes Fornecidos (g/ha) Extração 3 Característica Boro Cobre Ferro Manganês Zinco teor 11,2 4,8 64,0 5,2 13,2 Dose vinhaça (m /ha) 100 t colmos 100 200 300 g/ha 1120 2240 3360 235 480 960 1440 339 6400 12800 19200 7318 520 1040 1560 2472 1320 2640 3960 592 Unidade g/m3 g/m3 g/m3 g/m3 g/m3 Tabela 8. Teor de micronutrientes contido em torta de filtro (Usina Rafard) Torta de filtro - Us. Rafard - SP Umidade Unidades natural 3 Densidade----------0,68 g/cm Umidade total-----73,83 % Relação C/N-------21/1 Boro------------------Cobre----------------Ferro-----------------Manganês----------Zinco ----------------- 3 11 3498 196 33 mg/kg mg/kg mg/kg mg/kg mg/kg Dose torta = 20t Extração Micronutrientes g.ha-1 100 t colmos g.ha-1 60 g B 220 g Cu 69600 g Fe 3920 g Mn 660 g Zn 235 339 7318 2472 592 25 Tabela 9. Teor de micronutrientes contido na cinza de caldeira (Usina Cerradinho) Cinza de caldeira - Us. Cerradinho -1 B Cu Fe Mn Zn Garantias (mg.kg ) base úmida 27,7 4,91 1366,4 103,5 17,08 Micronutrientes fornecidos g/ha Extração Dose Cinza 100 t colmos -1 g.ha 5t 10 t 138,5 277,0 235 24,6 49,1 339 6832,0 13664,0 7318 517,5 1035,0 2472 85,4 170,8 592 5.2. FONTES DE MICRONUTRIENTES As fontes de micronutrientes podem ser classificadas quanto à solubilidade e quanto à sua origem. No que diz respeito à solubilidade destas fontes, pode-se classifica-las em: a) menor solubilidade: Fritas, Óxidos, Óxi-sulfatos e fontes boratadas (ulexita e colemanita) e b) de maior solubilidade: Sulfatos, Fontes quelatizadas, fontes de boro (ácido bórico, solubor, bórax) e fontes de molibdênio (molibdatos de sódio e de amônio). As características principais das fontes de fertilizantes com micronutrientes estão apresentadas à seguir: 5.2.1. ÓXIDOS: Os óxidos são as fontes de menor solubilidade dos micronutrientes metálicos. Por isso, geralmente custam menos do que os sulfatos por unidade de micronutriente. Os óxidos não são solúveis em água e, conseqüentemente, não são eficientes para as culturas principalmente se aplicados na forma granular, uma vez que a superfície específica é bastante reduzida neste caso. Alguns óxidos, como o Cu2O, podem ser utilizados na forma como foram extraídos pelo processo de mineração, mas a disponibilidade para as plantas de outros óxidos, como a do MnO2, é tão baixa, que seu uso não é recomendado diretamente na agricultura (LOPES, 1991). 26 5.2.2. SULFATOS: Os sulfatos são, a fonte mais comum de sais metálicos contendo micronutrientes e apresentam propriedades físicas que os tornam adequados para misturas com outros fertilizantes. Os sulfatos de cobre, ferro, manganês e zinco são amplamente utilizados para aplicações via solo ou foliar, apesar do sulfato ferroso (FeSO4.7H2O) não ser recomendado para aplicações via solo. São geralmente utilizados em adubação foliar e podem também ser empregados na formulação de adubos fluidos, sendo nestes casos, importante o estudo da sua compatibilidade com as outras fontes utilizadas. Tabela 10. Garantias dos principais Sulfatos. Sulfatos Garantia (%) CuSO4.5H2O 10 Cu Fe2(SO4)3.9H2O 20 Fe FeSO4.7H20 20 Fe MnSO4.4H2O 24 Mn ZnSO4.H2O 36 Zn ZnSO4. 7 H2O 22 Zn 5.2.3. ÓXI-SULFATOS: Os oxi-sulfatos são produzidos por acidulação parcial com ácido sulfúrico dos óxidos, de tal forma que o produto final contém micronutrientes, especialmente zinco e manganês, nas formas de óxido e sulfato. Os oxi-sulfatos são comercializados principalmente sob a forma granulada. A eficiência dos oxisulfatos granulados relaciona-se com o nível de micronutrientes solúveis em água que o produto contém. Segundo Mortvedt (2001), para o oxisulfato de zinco na forma granulada obter eficiência imediada às culturas, deve apresentar cerca de 35 a 50% do Zn solúvel em água. Resultados semelhantes devem ser esperados com oxi-sulfato de manganês. Os óxi-sulfatos são bastante utilizados visando o fornecimento de micronutrientes via solo, uma vez que apresenta solubilidade intermediária entre 27 os óxidos (via semente) e os sulfatos (foliar). São comercializados atualmente pelas indústrias produtoras pela sigla FTE. 5.2.4. FRITAS: As fritas são também chamadas “elementos traços fritados”, tradução literal do inglês “fritted trace elements”, daí a sigla FTE. Para sua obtenção, os micronutrientes são fundidos juntamente com sílica e boratos a 1300ºC. Ao sair do forno, o material é resfriado rapidamente em água dando cristais que em seguida são moídos muito finamente. Por sua solubilidade liberam gradualmente os micronutrientes no solo de modo semelhante ao de alguns óxidos, sais e fosfatos, o que representa vantagem, porque reduz o perigo de toxidez (Malavolta, 1986). Segundo Mortvedt (2001), são produtos mais apropriados para programas de manutenção do que para correção de deficiências severas e apresentam maior eficiência em solos arenosos, em regiões com maior índice pluviométrico. 5.2.5. QUELATOS: Os quelatos sintéticos ou naturais, os complexos orgânicos naturais e as várias combinações constituem-se nas fontes orgânicas de micronutrientes. Os quelatos são formados pela combinação de um agente quelatizante com um metal através de ligações coordenadas. Podem ser sintéticos (manufaturados) ou naturais (de açúcar e outros produtos naturais). A estabilidade da ligação quelato-metal determina, geralmente, a disponibilidade do nutriente aplicado para as plantas. Um quelato eficiente é aquele no qual a taxa de substituição do micronutriente quelatizado por cátions do solo é baixa, mantendo, conseqüentemente, o nutriente aplicado nesta forma de quelato por tempo suficiente para ser absorvido pelas raízes das plantas (Lopes, 1991). A função básica da quelatização é proteger os nutrientes catiônicos (Ca2+, Mg2+, Co2+, Cu2+, Fe2+, Mn2+ e Zn2+) para que estes fiquem menos sujeitos as reações de precipitação ou de insolubilização e mantenham assim sua disponibilidade às plantas podendo ser absorvidos e translocados de forma eficiente pelas folhas ou pelas raízes das plantas. 28 Como os quelados são solúveis, os nutrientes quando quelatizados formam complexos também solúveis e continuam disponíveis para as plantas. O metal e o agente quelatizante entram juntos pelas folhas das plantas sendo transportados até os demais órgãos, ficando o primeiro protegido de reações secundárias de fixação ou precipitação nos vasos condutores. Atualmente, os quelados mais comumente utilizados são o EDTA (ácido etileno diamino tetracético), DTPA (ácido dietileno triamino pentaacético), lignossulfonados, ácido cítrico, ácido tartárico, aminoácidos, polihexoses (açucares) e poliflavonóides. A Tabela 11 classifica os agentes quelatizantes quanto a força de complexação. Tabela 11. Classificação dos agentes quelatizantes de acordo com a força de complexação. Forte Intermediário Fraco EDTA Lignossulfonados Ácidos cítrico NTA Poliflavonóides Ácido ascóbico Polifosfatos Aminoácidos Fonte: HSU, 1986, citado por BOARETTO & MURAOKA (1995). É importante salientar que agronomicamente um bom quelado é aquele que é solúvel em água, não é fitotóxico, é compatível com outros produtos (adubos foliares e defensivos agrícolas), que forma ligação quelado-cátion estável em relação às reações nas soluções de pulverização, e que tem o poder de acidificar a solução. 29 5.2.6. FERTILIZANTES BORATADOS: Existem diversas fontes de boro no mercado, que diferenciam-se principalmente umas das outras pelas sua solubilidade. O ácido bórico, que foi a fonte mais utilizada no passado nas práticas de adubação via solo, é completamente solúvel em água e bastante sujeito a perdas por lixiviação. Sendo assim, fontes de menor solubilidade que o ácido bórico passaram a ter maior importância, como a ulexita principalmente. A colemanita é uma fonte de baixa solubilidade em água e comumente recomendada para culturas perenes e reflorestamento, exceção à colemanita contida em termofosfatos. Na tabela 10 são apresentadas as garantias das principais fontes de Boro. Tabela 12. Garantias dos principais fertilizantes boratados. Fonte % Boro Bórax Na2B4O7.10H2O 11,0 Ácido bórico H3BO3 17,5 Colemanita CaB6O11.5H2O 9,9-15,5 Ulexita – NaCaB5O9.8H2O 10,5-11,5 Tetraborato de sódio pentahidratado 14,9 Na2B4O7.5H2O Decaborato de potássio K2B10O6.8H2O 18,3 Hexaborato de sódio tetrahidratado B6O13.4H2O 20,5 5.3. Origem, Equilíbrio e Disponibilidade dos micronutrientes no solo Os micronutrientes contidos no solo pode ter várias origens como: • Rocha matriz (material de origem) • Resíduos animais e vegetais • Corretivos agrícolas • Defensivos agrícolas • Precipitação Cl e B 30 • Fertilizantes O teor de micronutrientes disponível no solo depende de um equilíbrio nas reações do solo Minerais Cristalinos e Amorfos Fixado Solução Liberado do solo Mineralizado Matéria Orgânica Absorvido Absorção Liberação pelas plantas Adsorvido Imobilizado e microorganismos Liberação Adsorvido na fração colidal A forma de absorção dos micronutrientes pelas plantas são: Nutriente Formas Boro (B) H3BO3, H2BO3- Cloro (Cl) Cl- Cobre (Cu) Cu++ Ferro (Fe) Fe++, Fe+++ Manganês (Mn) Mn++ Molibdênio (Mo) MoO4= Zinco (Zn) Zn++ Cobalto (Co) Co++ Silício (Si) H4SiO4 A disponibilidade de micronutrientes parar as plantas (presença deste nutriente na solução do solo) depende de vários fatores, conforme apresentado por Vitti & Trevisan, 2000. a) Material de origem do solo 31 b) Reação do solo (pH) c) Textura do solo d) Aeração do solo (nos casos do Ferro, do Manganês e do Cobre) e) Práticas culturais (Calagem, adubação fosfatada, plantio direto) f) Características genéticas da planta g) Desbalanceamento entre cátions metálicos (Fe, Cu, Mn e Zn) h) Altas produtividades (Lei do Mínimo). Quanto ao material de origem e à textura, fatores não controlados pelo homem, tem-se que solos originários de arenito e solos de textura grosseira apresentam maiores probabilidades de resposta a micronutrientes, em relação, por exemplo, a solos originários de basalto e solos de textura mais fina (maior poder tampão). A influência da reação do solo na disponibilidade de micronutrientes está apresentada na Figura 15. Figura 15. Relação entre pH (H2O) do solo e disponibilidade de micronutrientes. Fonte: MALAVOLTA, 1979. Analisando a Figura 1 observa-se que a calagem aumenta linearmente a disponibilidade do molibdênio (MoO4-2) e diminui a dos cátions metálicos (Fe+2, Cu+2, Mn+2, Zn+2 e Co+2), enquanto o boro (H3BO3 ou H2BO3-1) apresenta efeito quadrático, ou 32 seja, baixa disponibilidade em reação ácida (falta de mineralização da matéria orgânica) e queda na disponibilidade em pH próximo da neutralidade (aumenta a lixiviação pelo aumento da CTC do solo e pelo aumento na relação Ca/B). Além da calagem, outras práticas tendem a afetar a disponibilidade dos micronutrientes, como: adubação fosfatada (H2PO4-1 vs. Zn+2 ou Cu+2 ou Mn+2), isto é, formação de precipitado pouco solúvel do H2PO4-1 com os cátions metálicos; plantio direto, pela formação de quelados estáveis dos micronutrientes metálicos com a matéria orgânica, seguindo a seguinte ordem decrescente de estabilidade: Cu+2 > Fe+2 > Co+2 > Zn+2 > Mn+2; desbalanceamento entre cátions metálicos, causando a chamada inibição competitiva, na qual a presença de um íon A diminui a absorção do íon B por competirem pelo mesmo carregador, conforme abaixo exemplificado: íon A Cu+2 Fe+2 Cu+2 Mn+2 íon B (afetado) Zn+2 Mn+2 Fe+2 Zn+2 Outros fatores importantes são as características genéticas da planta, por exemplo, a soja apresenta diferenças entre as cultivares quanto à sensibilidade à deficiência de manganês. Cultivares mais suscetíveis à deficiência de manganês não são capazes de reduzir esse elemento na superfície da raiz através da excreção de ácidos orgânicos, conforme a reação abaixo simplificada. Superfície da raiz Mn+4 + eInsolúvel Mn+2 Solúvel Observa-se que a disponibilidade dos micronutrientes depende de vários fatores que podem diminuir a eficiência de aproveitamento destes pelas plantas. Isto ressalta a importância de se fornecer os micronutrientes de maneira que as plantas consigam aproveitá-los eficientemente., neste contexto torna-se fundamental conhecer o método de aplicação mais adequado para cada um deles. 33 5.4. Recomendação de micronutrientes para a cana-de-açúcar Levando-se em consideração principalmente histórico da área, análise de solo, diagnose foliar e diagnose visual, os micronutrientes podem ser recomendados de 3 formas conforme fluxograma a seguir. a) Via solo Adubação Sólida a.1)N – P2O5 – K2O + Micro Herbicidas Adubação Fluida a.2)Herbicidas b) Via toletes c) Via foliar a) Via solo – Adubação Sólida • Fontes de Boro: Ulexita – Na2.CaO.5B2O3.16H2O (8,0 a 15% B) • Fontes de Cobre, Manganês, Ferro e Zinco: Oxi-sulfatos Fritas • Micronutrientes agregados a fontes de P2O5: Multifosfato Magnesiano (FOSMAG) Termofosfato Magnesiano (YOORIN) Doses e fontes de micronutrientes para a adubação em função do teor de nutrientes no solo. Teor no solo Dose recomendada Fontes (kg.há-1)* Zn (DTPA < 0,6 mg.dm-3) Cu (DTPA < 0,3 mg.dm-3) -3 B (água quente < 0,2 mg.dm ) 3,0 a 5,0 Oxi-sulfatos 2,0 a 3,0 Oxi-sulfatos 1,0 a 2,0 Ulexita *Observação: Doses menores para solos arenosos Doses maiores para solos argilosos 34 a) Via solo – Adubação Fluida • Fontes de boro: Ácido Bórico – H3BO3 17,5% B PS = 5,0 Solubor/Inkabor – Na2B4O7.5H2O 20% B PS = 10 • Fontes de cobre, ferro, manganês e zinco: sais (sulfato) ou quelatizados. Atentar para Zn x Adubos fosfatados e corrosão por cobre; utilizando preferencialmente os quelatizados. B: 0,5 a 1,0 kg.ha-1 Doses* Zn: 1,0 a 1,5 kg.ha-1 Cu: 0,5 a 1,0 kg.ha-1 *Observação: Doses menores para produtos quelatizados Doses maiores para produtos a base de sais b) Via tolete (com defensivo na cobrição da muda) Para realização dessa prática deve-se verificar a compatibilidade com os defensivos agrícolas. Fontes: B – Ácido Bórico ou Solubor / Inkabor Cu, Fe, Mn, Zn – Sais (sulfato) ou quelatizados Doses: B – 300 a 350 g.ha-1 de B Cu, Fe, Mn, Zn – extração x f (f = 1,0 a 1,2 para Zn e Cu) c) Via foliar Estão sendo realizados experimentos onde se analisa viabilidade da aplicação nitrogênio junto com molibdênio via foliar. Essa adubação é feita na época de maior exigência do canavial, antes do fechamento do mesmo. Avaliando-se a dose de 14 kg.ha-1 de N e 150 g.ha-1 de Mo. As fontes e quantidades utilizadas são 24 kg de uréia (45% N), 9 kg de nitrato de amônio (32% 35 N) e 384,1g de molibdato de sódio (39% Mo) utilizando volume dessa solução de 50 l/ha. 36 BIBLIOGRAFIA: ANDRADE, L.A.B. Efeitos das aplicações de fontes de boro, cobre e zinco em duas variedades de cana-de-açúcar (Saccharum spp.). Jaboticabal, 1990. 155p (Tese de Doutorado) – Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”. DECHEN, A.R.; HAAG, H.P.; CARMELLO, Q. A. de C. 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