Pancreatite Cura com jejum e descanso Dor abdominal forte, náuseas e vómitos são sinais de inflamação aguda no pâncreas. O tratamento requer hospitalização e ausência de comida sólida Sintomas Quando a dor ataca Em geral, os doentes com pacreatite aguda têm de ser tratados no hospital. teste saúde 104 agosto/setembro 2013 ´ 30 Consulte o médico se sentir uma dor abdominal forte e repentina. Na maioria das vezes, esta piora quando o paciente come, caminha ou se deita de costas e pode irradiar para as costas, como um cinto ou cinturão. ´ A dor pode ser acompanhada de suor, fraqueza, náuseas, vómitos, febre e distensão abdominal. É possível que o ritmo cardíaco acelere e o movimento dos intestinos diminua. Se sente dores fortes e repentinas no abdómen, tipo cinturão, e estas aliviam quando se senta com as pernas cruzadas e inclinado para a frente, poderá sofrer de inflamação no pâncreas. Situada por trás do estômago, esta glândula produz enzimas de digestão e hormonas que regulam o açúcar no sangue, como a insulina. A inflamação no pâncreas, ou pancreatite, é mais frequente nos homens do que nas mulheres. Ocorre quando as enzimas de digestão começam a trabalhar dentro do órgão que as produz, destruindo os seus tecidos, em vez de seguirem para o intestino. Em 40 a 50% dos casos, isso acontece porque o caminho por onde deveria passar o fluido que as contém está bloqueado por cálculos biliares, pequenos cristais produzidos pela vesícula, que impedem ou dificultam a passagem. Nestas situações, é necessário destruir os cálculos e, por vezes, eliminar a vesícula. O álcool é a segunda causa da Pancreatite O pâncreas produz enzimas de digestão, que ajudam a transformar as gorduras, as proteínas e os hidratos de carbono que ingerimos em nutrientes passíveis de serem absorvidos pelo organismo. Por norma, as enzimas atuam no intestino delgado. Se ficarem ativas no pâncreas, porque, por exemplo, a sua saída foi bloqueada por cálculos biliares, tentam decompor os respetivos tecidos, como se fossem alimentos. Surgem assim lesões e inflamação. Em 20% dos casos aparecem complicações e, em metade destes, o problema torna-se crónico. Tratamento hospitalar ■ Se apresentar os sinais descritos, consulte o médico. Este pedir-lhe-á uma descrição pormenorizada dos sintomas e vai querer saber a sua história clínica. Fará também um exame físico, com palpação da zona do abdómen, e irá prescrever-lhe análises ao sangue. Pode também pedir uma radiografia e/ ou ecografia para ver se há cálculos biliares à saída do pâncreas. ■ Se não for a primeira vez que sofre do problema, possivelmente terá de fazer análises às fezes, para medir a gordura que transportam. Os valores elevados podem significar que o pâncreas não produz enzimas suficientes para a digerir. Confirmada a inflamação, o doente é hospitalizado durante, pelo menos, três a cinco dias. O tratamento passa pelo controlo da dor, através da injeção de medicamentos, e pela restrição alimentar. ■ Em geral, os pacientes não podem comer nem beber nas primeiras 24 a 48 horas: os nutrientes são administrados através do soro, de modo a dar descanso ao pâncreas e ao intestino. Os líquidos são importantes para prevenir > Cancro do Pâncreas Prognóstico muito reservado A doença não tem sintomas ou estes são pouco específicos nas fases iniciais. Por isso, muitas vezes, o cancro é detetado tarde demais. ´ Em 2008 terão sido detetados 279 mil casos de cancro do pâncreas em todo o mundo. A Europa e a América do Norte apresentam a maior taxa de incidência. Portugal regista dos números mais baixos do Velho Continente, com sete novos casos anuais por cada 100 mil homens, e quatro por cada 100 mil mulheres. ´ A doença é mais frequente nas populações que seguem um regime alimentar rico em carne e gordura e pobre em fruta e legumes. As fibras parecem ter um papel protetor, enquanto o tabaco duplica a probabilidade. A pancreatite crónica e a inatividade física são outros fatores de risco. ´ As manifestações mais típicas da doença, como a dor abdominal que irradia para a zona inferior do abdómen, a perda de peso e tromboflebite (formação de coágulos sanguíneos nas veias) surgem numa fase tardia da doença. Amarelecimento dos olhos e da pele e diarreia são outras consequências do tumor. ´ O diagnóstico da doença é feito com base na história clínica do doente, na observação pelo médico, em análises clínicas e exames pela imagem, como radiografias, ecografias, TAC e ressonância magnética. Contudo, a conlusão definitiva só surgirá após a biopsia, isto é, a análise de tecidos do pâncreas ao microscópio. Estes tecidos são recolhidos durante a cirurgia ou por endoscopia. ´ O tratamento mais eficaz é a cirurgia. Os especialistas podem também aplicar uma combinação de radio e quimioterapia antes e durante a operação, para retardar o crescimento do tumor. Em 40% dos casos, a doença é detetada numa fase tardia e muitos doentes já têm ramificações do tumor noutros órgãos, pelo que a sobrevivência cinco anos após o diagnóstico é muito baixa: 1 a 2% dos pacientes. Felizmente, a investigação na área continua a bom folgo, estando a ser testados novos meios de diagnóstico e tratamento. Esperamos que chequem boas notícias a curto prazo. O amarelecimento dos olhos e da pele é um dos sinais do cancro pacreático. O tumor comprime os canais biliares, impedindo a passagem da bílis para o intestino. Esta concentra-se no sangue e pigmenta a superfície do corpo teste saúde 104 agosto/setembro 2013 doença e o principal responsável pela repetição ou permanência dos sintomas. Mais raramente, a pancreatite pode surgir na sequência de uma operação, de um acidente ou de problemas na circulação sanguínea e no metabolismo. Em 15 a 25% dos pacientes, a causa é desconhecida. Sabe-se, contudo, que o tabaco aumenta o risco de inflamação no órgão. O paciente recupera após três a cinco dias de hospitalização e as lesões, na maioria dos casos, não deixam sequelas. Em cerca de um quinto dos doentes, a inflamação torna-se crónica, muitas vezes, porque não foi resolvido o problema que lhe deu origem. Quanto mais velhos e obesos forem os pacientes, maior a probabilidade de a situação se agravar. 31 Pancreatite > a desidratação e garantir o fornecimento adequado de sangue aos órgãos. Passado este período, pode ser necessário introduzir os alimentos diretamente no estômago através de um tubo. ■ Caso existam cálculos biliares, o médico providenciará a sua destruição, para garantir a livre passagem das enzimas digestivas do pâncreas para o intestino. Esta operação, em geral, é feita com pequenos instrumentos, que chegam ao local com a ajuda de um tubo flexível introduzido pela boca (endoscópio). A inflamação crónica do pâncreas pode originar diabetes teste saúde 104 agosto/setembro 2013 Quando a situação se complica 32 ■ Em grande parte dos casos, a inflamação desaparece passados alguns dias e não deixa sequelas. Os pacientes podem retomar a sua vida normal, tendo especial cuidado em manter uma alimentação saudável, sem excesso de carne e gorduras. ■ Porém, em 20% das situações, a inflamação pode agravar-se, matar os tecidos do pâncreas e causar hemorragias, se forem atingidos vasos sanguíneos. Nestas circunstâncias, é comum alojar-se uma bactéria e produzir infeção, com segregação de pus. ■ Por vezes, forma-se uma bolsa de tecidos mortos e líquido (quisto), que pode infetar e exigir a toma de antibióticos. Se for muito grande e comprimir o estômago ou os intestinos, tende a causar náuseas e vómitos. Caso se instale junto das vias biliares, impedindo a eliminação da bílis produzida pela vesícula, origina icterícia (pele e olhos amarelados). A maioria destes quistos desaparece espontaneamente, sem intervenção médica. Se persistirem ou aumentarem de volume, é necessário eliminá-los através de uma cirurgia. ■ A inflamação pode ainda degenerar numa oclusão intestinal, com retenção de fezes, inchaço da barriga, dores, vómitos e febre. Convém consultar o médico, por- que com o prolongar da situação, o paciente corre risco de vida. Condições para a vida ■ Uma em cada dez inflamações agudas torna-se crónica, ou seja, está sempre presente ou reaparece com frequência, causando danos irreversíveis no pâncreas. Este fica sujeito a desgaste constante e perde capacidade de produção de enzimas e hormonas. ■ Na falta de enzimas digestivas, o estômago e o intestino são obrigados a trabalhar mais, com possível desenvolvimento de gastrites e úlceras. Mais: as gorduras mal digeridas provocam diarreia, que arrasta várias vitaminas indispensáveis. Se for intensa e persistente, a diarreia pode contribuir para a desidratação do organismo e perda de peso, até porque o paciente também perde o apetite. ■ A menor quantidade de hormonas reguladoras do açúcar, por seu lado, pode originar diabetes. ■ A pancreatite crónica é tratável, mas não tem cura. O médico receita-lhe medicamentos para A dieta rica em legumes protege o pâncreas atenuar os sintomas e outros para colmatar o défice de produção de enzimas e hormonas. Se a dor for muito intensa, é provável que o doente necessite de internamento. O mesmo sucede se o amarelecimento da pele aumentar. ■ O paciente terá ainda de se consciencializar de que deverá fazer uma dieta pobre em gorduras, eliminar o álcool e não fumar, para não agravar a qualidade de vida. teste saúde aconselha Álcool, fumo e gorduras à distância ´ Evite fumar. Os fumadores arriscam-se três vezes mais a sofrer de pancreatite aguda do que os não fumadores. ´ Controle o peso. Os estudos não mostram uma associação clara entre a obesidade e a inflamação do pâncreas, mas o perímetro abdominal parece ter influência: quando a fita métrica acusa mais de 105 centímetros, a probabilidade de inflamação no pâncreas duplica face a registos entre os 75 e os 85 centímetros. ´ Faça uma alimentação rica em legumes. Segundo um estudo de 2012, esta reduz o risco para metade, em comparação com quem come estes alimentos esporadicamente. As fibras também parecem ter um papel protetor. ´ Guarde as bebidas alcoólicas para dias de festa e consuma-as com moderação. O consumo excessivo, mesmo que esporádico, é arriscado. ´ Se sofre com frequência de cálculos biliares, fale com o seu médico sobre a possibilidade de retirar a vesícula. Estes e o álcool são responsáveis por 80% dos casos de inflamação. ´ Após uma pancreatite, deve ter ainda mais cuidado com o que come: reduza a gordura e faça refeições ligeiras.