XVI Encontro de Modelagem Computacional IV Encontro de Ciência e Tecnologia de Materiais III Encontro Regional de Matemática Aplicada e Computacional Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC), Ilhéus/BA, Brasil. 23-25 out. 2013. CÁLCULO DO HISTÓRICO DE POTÊNCIA NUCLEAR PARA SISTEMAS SUBCRÍTICOS UTILIZANDO A FORMULA DE EULER-MACLAURIN Edson Henrice Junior - [email protected] COPPE-UFRJ, Department of Nuclear Engineering, C.P. 68509, Cidade Universitária 21941-914 Rio de Janeiro, Brazil Alessandro da Cruz Gonçalves - [email protected] COPPE-UFRJ, Department of Nuclear Engineering, C.P. 68509, Cidade Universitária 21941-914 Rio de Janeiro, Brazil Daniel Arthur Pinheiro Palma – [email protected] Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) – Sede, Rua General Severiano, 90, 22.290901 - Rio de Janeiro, RJ Abstract. Neste trabalho é apresentado um método eficiente de cálculo da reatividade da formulação inversa da cinética pontual para sistemas subcríticos utilizando-se um a formula de Euler-Maclaurin para o cálculo do histórico de potência. Em função da sua precisão, este método não necessita de uma grande quantidade de pontos para este cálculo, fornecendo ótimos resultados com baixo custo computacional. Keywords: Sistemas subcríticos, Histórico de potência nuclear, Fórmula do somatório de Euler-Maclaurin 1. INTRODUÇÃO Atualmente novas propostas de reatores nucleares estão sendo estudadas para mitigar algumas dificuldades da indústria nuclear, levando a diminuição do tempo de armazenamento dos combustíveis já utilizados nos núcleos dos reatores e o aumento da segurança dos reatores. Com isto, uma proposta de utilização de um reator com um núcleo subcrítico está sendo amplamente pesquisada, denominado como Accelerator Driven Systems (ADS). Este núcleo subcrítico é guiado por um feixe de prótons altamente energéticos gerados por um acelerador linear. Esses prótons, ao colidirem com um alvo apropriado, geram, a partir de reações de spallation (MUKAIYAMA et al. 2001), os nêutrons necessários para a manutenção da fissão nuclear dentro do reator, produzindo energia. Cada próton acelerado possui uma energia extremamente alta, e ao colidir com o alvo, produz assim até dezenas de nêutrons. O controle da quantidade de nêutrons dentro deste núcleo se daria principalmente pela variação da intensidade do feixe de prótons, o que analogamente também pode ocorrer com a variação da reatividade devido à inserção ou retirada das barras de controle em um reator crítico de potência. Em decorrência de características peculiares que são mais intensamente alteradas durante a operação destes sistemas, como a transmutação de actinídeos menores e elementos transurânicos e consequentes alterações isotópicas no combustível, mudanças na reatividade em função do efeito Doppler e mudanças na densidade do refrigerante (SCHICORR, 2001), XVI Encontro de Modelagem Computacional IV Encontro de Ciência e Tecnologia de Materiais III Encontro Regional de Matemática Aplicada e Computacional Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC), Ilhéus/BA, Brasil. 23-25 out. 2013. poderia haver variações significativas nos parâmetros de segurança. Portanto, para a utilização desses reatores estudos ainda devem ser realizados e um destes campos de estudos é o comportamento cinético destes reatores, necessário também para prever as consequências de distúrbios operacionais e acidentes ocasionados nestes sistemas. Diferentes formalismos para as equações da cinética pontual para reatores subcríticos têm sido estudados, como por exemplo, as propostas de Gandini & Salvatore, (2002), Nishihara et al. (2003) e Silva (2011). Neste trabalho, a partir da equação proposta por Silva (2011), será apresentada uma formulação para o cálculo da reatividade. 2. CONSIDERAÇÕES TEORICAS As equações da cinética pontual baseada no Termo Adjunto de Fonte (SILVA et al., 2010) especificamente para descrever sistemas subcríticos, podem ser representadas por: Λ εeff I dP ( t ) = ( ρ ε − β effε ) P ( t ) + ∑ λi Ciε ( t ) − ξ P(t ) + Qε (t ) , dt i =1 d ε Ci ( t ) = βiε,eff P(t ) − λi Ciε ( t ) . dt (1) (2) Para manter as mesmas unidades dos conjuntos das equações da cinética pontual para sistemas críticos existentes na literatura é possível proceder com a seguinte redefinição: Ciε ( t ) C i (t ) = ε Λ eff q (t ) = , (3) Qε (t ) . Λεeff (4) o que possibilita escrever o novo conjunto de equações da cinética pontual para sistemas subcríticos da seguinte forma: ε ε ξ P(t ) dP(t ) ( ρ (t ) − β eff ) P(t ) I = + ∑ λi C i ( t ) − ε + q(t ) , ε dt Λ eff Λ eff i =1 (5) i (t ) β ε P (t ) dC i (t ) . = i ε − λi C dt Λ eff (6) Fazendo a integração da eq. (6), obtém-se: t i (t ) = C ∫ −∞ β iε e − λ i ( t − t ') ε Λ eff P (t ') dt ' . (7) XVI Encontro de Modelagem Computacional IV Encontro de Ciência e Tecnologia de Materiais III Encontro Regional de Matemática Aplicada e Computacional Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC), Ilhéus/BA, Brasil. 23-25 out. 2013. Isolando-se ρ ε (t ) na eq. (5): ε ε ρ (t ) = ( β eff Λεeff dP(t ) Λεeff I Λεeff +ξ) + − ∑ λi C i ( t ) − P(t ) q(t ) . P(t ) dt P(t ) i =1 (8) Substituindo a eq. (7) em (8), tem-se então: ε ε ρ (t ) = β eff P0 e− λi t t − λi (t −t′) Λεeff dP(t ) 1 I ε +ξ + λi βi + ∫e P (t ′)dt ′ . (9) ∑ −q(t ) + − P (t ) dt P (t ) i =1 0 λi Com a intenção de solucionar a integral da eq. (9), que representa o histórico de potência, será utilizada a formula de Euler-Maclaurin: b T T2 F(a + k T ) = ∫ F (u) d u − [ F (a) + F (b) ] + [ F '(b) − F '(a )] + ∑ 2 12 k =1 a n −1 T4 T6 F (3) (b) − F (3) (a ) + F (5) (b) − F (5) (a ) + . 720 30240 2n T8 p −1 T Bn F (7) (b) − F (7) (a ) + ... + ( −1) F (2 n −1) (b) − F (2 n −1) (a ) − 1209600 (2n)! − (10) Onde: b = nT . (11) Sendo T o tamanho do passo de tempo, e n a quantidade de passos dada. Em função dos limites da integral, pode-se escrever também: T= b−a , n (12) e Bn são chamados de números de Bernoulli, que podem ser obtidos a partir da seguinte série (Arfken, 2007): ∞ Bn x n x = ∑ e x − 1 n =0 n ! , que converge para x < 2π . (13) XVI Encontro de Modelagem Computacional IV Encontro de Ciência e Tecnologia de Materiais III Encontro Regional de Matemática Aplicada e Computacional Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC), Ilhéus/BA, Brasil. 23-25 out. 2013. Diferenciando essa série de potências repetidas vezes e então estabelecendo x = 0 , obtém-se: d n x Bn = n x . (14) dx e − 1 x =0 Para n = 1 , tem-se: d x 1 xe x B1 = x = x − dx e − 1 x =0 e − 1 ( e x − 1)2 =− 1 2 . (15) x =0 Utilizando-se o método de resíduos ou partindo-se da representação de produto infinito de sen( x) , é possível obter (Arfken, 2007): n −1 ( −1) 2 ( 2n )! ∞ p −2 n . B2 n = ∑ 2n p =1 ( 2π ) (16) Tabela 1 : Números de Bernoulli N Bn 0 1 2 4 6 8 10 1 -0,5 1/6 -1/30 1/42 -1/30 5/66 Então, considerando apenas até o termo B2 , pode-se obter: b n −1 a k =1 ∫ F (u) d u =∑ F(a + k T ) + 1 1 [ F (a) + F (b)] − F (1) (b) − F (1) (a) . 2 12 (17) E ainda, efetuando-se a distinção entre uma função contínua de uma integral e de uma função discreta de uma soma, faz-se: XVI Encontro de Modelagem Computacional IV Encontro de Ciência e Tecnologia de Materiais III Encontro Regional de Matemática Aplicada e Computacional Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC), Ilhéus/BA, Brasil. 23-25 out. 2013. F ( a + kT ) = hi [b − kT ] P ( a + kT ) . (18) Mas para o caso em estudo, no limite inferior da integral estudada, a = 0 . Portanto: F ( kT ) = hi [b − kT ] P ( kT ) , (19) onde hi ( b − kT ) → λi βi e − λi ( t − t ') . (20) Derivando a eq. (19) nos obtemos: F ( ) (kT ) = hi ( ) ( b − kT ) P ( kT ) + hi ( b − kT ) P ( ) ( kT ) . 1 1 1 (21) Para F (kT ) = F (b) , a eq. (21) fica: (1) F (1) (b) = hi (1) [ 0] P [b] + hi [ 0] P [b] , (22) e para F (kT ) = F (0) , obtém-se então: F (1) (0) = hi (1) [b ] P [ 0] + hi [b ] P(1) [ 0] . (23) Substituindo as eq. (19) e de (21) a (23) na eq. (17), obten-se: t n −1 − λ ( t −t ) ∫ e i P(t ′)dt ′ = T ⋅ ∑ hi [b − kT ] P [ kT ] + ′ k =1 0 T hi [b ] P [ 0] + hi [ 0] P [ b] 2 . 2 − T (1) (1) (1) hi [ 0] P [b ] + hi [ 0] P [b ] − hi (1) [b ] P [ 0] + hi [b ] P [ 0] 12 Sendo T o tamanho do passo de tempo, e n , a quantidade total de passos a ser dada. Somando e subtraindo os seguintes termos: (24) XVI Encontro de Modelagem Computacional IV Encontro de Ciência e Tecnologia de Materiais III Encontro Regional de Matemática Aplicada e Computacional Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC), Ilhéus/BA, Brasil. 23-25 out. 2013. T ⋅ hi [b ] P [ 0 ] , (25) T ⋅ hi [ 0 ] P [b ] , (26) na eq. (24), é possível redefinir o somatório, obtendo-se: t n − λ ( t −t ) ∫ e i P(t ′)dt ′ = T ⋅ ∑ hi [b − kT ] P [ kT ] − ′ k =0 0 T hi [b ] P [ 0] + hi [ 0] P [b ] 2 . (27) 2 T (1) (1) − hi (1) [ 0] P [b ] + hi [ 0] P [b ] − hi (1) [b ] P [ 0] + hi [b ] P [ 0] 12 Substituindo-se a eq. (27) na eq. (9), pode-se obter: ρ ε (t ) = βeffε + ξ + − λi t Λεeff dP(t ) 1 I ε P0 e q t − ( ) + − λ β ∑ i i λ dt P(t ) i =1 P(t ) i I T n T ⋅ ∑ λi βiε ∑ hi [b − kT ] P [ kT ] − hi [b] P [ 0] + hi [ 0] P [b ] . P(t ) i =1 2 k =0 T2 I (1) (1) λi βiε hi (1) [ 0] P [b ] + hi [ 0] P [b ] − hi (1) [b] P [ 0] + hi [b ] P [ 0] − ∑ 12 P(t) i =1 3. (28) RESULTADOS Para o cálculo da reatividade a partir da eq. (28) foi criado um programa utilizando-se o software Maple 14. A eq. (9) foi utilizada como método de obtenção de uma solução de referência. Para a efetuação dos cálculos da reatividade através da eq. (9) e eq.(28), fez-se necessário a escolha de uma função que descrevesse de forma aproximada o comportamento temporal da potência em alguns casos de um reator. Então, para isto, foi utilizada a função exponencial em dois casos distintos, quais sejam: P (t ) = e0,1235t e P (t ) = e11,6442t . Os parâmetros nucleares utilizados neste artigo tiveram como referência o artigo Nishihara et al. (2003). Para o comportamento temporal da fonte externa, foi escolhida a seguinte função: q ( t ) = 5000 + 1000t . (29) Com isto, foi possível efetuar os cálculos do método de referência, eq. (9), e o método proposto neste artigo, eq. (28). Na Tabela 2, são apresentados os resultados considerando-se um passo de tempo T = 0, 01s e a potência como P (t ) = e0,1235t . XVI Encontro de Modelagem Computacional IV Encontro de Ciência e Tecnologia de Materiais III Encontro Regional de Matemática Aplicada e Computacional Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC), Ilhéus/BA, Brasil. 23-25 out. 2013. Tabela 2 – Comparativo entre a solução de referência e o método proposto para P (t ) = e0,1235t . Tempo (s) Referência (eq. (9)) (em pcm) Calculado (eq. (28)) (em pcm) Desvio % 1 -221,76 -221,75 0,001 10 -163,68 -163,68 0,003 20 -61,66 -61,66 0,008 30 -4,80 -4,79 0,105 40 19,65 19,65 0,026 50 29,05 29,06 0,017 60 32,46 32,46 0,016 70 33,64 33,65 0,015 80 34,04 34,05 0,015 Na Figura 1, pode ser observado o comportamento temporal da reatividade conforme apresentado na Tabela 1. Figura 1 – Variação temporal da reatividade para a potência P (t ) = e0,1235t . XVI Encontro de Modelagem Computacional IV Encontro de Ciência e Tecnologia de Materiais III Encontro Regional de Matemática Aplicada e Computacional Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC), Ilhéus/BA, Brasil. 23-25 out. 2013. São apresentados na Tabela 4 os resultados obtidos da reatividade para o comportamento temporal da potencia na forma a P (t ) = e11,6442t e com um passo de tempo T = 0, 01s . Tabela 3 – Comparativo entre a solução de referência e o método proposto para P (t ) = e11,6442t . Tempo (s) Referência (eq. (9)) (em pcm) Calculado (eq. (28)) (em pcm) Desvio % 0 -226,37 -226,37 0,000 10 210,51 210,59 0,037 20 210,51 210,59 0,037 30 210,51 210,59 0,037 40 210,51 210,59 0,037 50 210,51 210,59 0,037 60 210,51 210,59 0,037 70 210,51 210,59 0,037 80 210,51 210,59 0,037 Para os resultados mostrados na Tabela 3, o gráfico apresentado na Figura 2 pode ser elaborado: Figura 2 – Variação temporal da reatividade para a potência P (t ) = e11,6442t . XVI Encontro de Modelagem Computacional IV Encontro de Ciência e Tecnologia de Materiais III Encontro Regional de Matemática Aplicada e Computacional Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC), Ilhéus/BA, Brasil. 23-25 out. 2013. 4. CONCLUSÃO Efetuando-se uma comparação entre o método de referência e o método proposto, eqs. (9) e (28), pode-se observar através da análise dos resultados apresentados nas Tabelas 2 e 3 que o método utilizado se mostrou bastante eficiente e acurado, com erros inferiores a 0, 2% , mesmo utilizando-se um passo de tempo T = 0, 01s . Em função da precisão e da facilidade de implementação, este método pode ser uma alternativa aos métodos numéricos tradicionais utilizados para o cálculo do histórico de potência para sistemas subcríticos. REFERENCES Arfken, G., Weber, H., (2007), “Física matemática: métodos matemáticos para engenharia e física. “ 6º ed., Campus/Elsevier, Rio de Janeiro Gandini, A., Salvatore, M., (2002), “The physics of subcritical multiplying systems”, Nuclear Science and Technology, 39, pp.673-686 Mukaiyama T., Takizuka T., Mizumoto M., Ikeda Y., Ogawa T., Hasegawa A., Takada H., Takano H., (2001). “Review of Research and Development of Accelerator-Driven System in Japan for Transmutation of LongLived Nuclides”. 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H., (2013), “Reactivity calculation using the Euler–Maclaurin formula”, Annals of Nuclear Energy, V. 53, 104–108 NUCLEAR POWER HISTORY CALCULATION FOR SUBCRITICAL SYSTEMS USING EULER-MACLAURIN FORMULA Abstract: This paper presents an efficient method for calculating the reactivity using inverse point kinetic equation for subcritical systems by applying the Euler-Maclaurin summation formula to calculate the nuclear power history. In accordance with the accuracy of the numerical results, this method does not require a large number of points for calculation, providing accurate results with low computational cost. Keywords: Subcritical systems, Nuclear power history, Euler-Maclaurin summation formula