Seleção de genes de resistência à murcha bacteriana (Ralstonia solanacearum) em acessos dos gêneros Capsicum, Lycopersicon e Solanum em Roraima. Dâmaris Vieira Oliveira1, *; Hyanameyka Evangelista de Lima1, *; Gilcianny Pignata Cavalcante1,*; Mailson Monteiro do Rego1; Elizanilda Ramalho do Rego1. 1,2 Universidade Federal de Roraima-Laboratório de Melhoramento de Hortaliças, BR * 174, Km 12, Campus Cauamé, CEP 69301-970, Monte Cristo-RR. bolsista PIBIC/CNPq; [email protected]. RESUMO A murcha-bacteriana é a principal doença vascular de plantas, causada por Ralstonia solanacearum (Rs), bactéria habitante do solo associada a diversas plantas cultivadas e daninhas. A doença ocorre onde predominam temperaturas e umidades elevadas e ataca principalmente a família Solanácea. No Estado de Roraima os produtores de Solanáceas enfrentam sérios problemas fitossanitários e de qualidade, muitos deles passíveis de serem resolvidos por meio de obtenção de cultivares resistentes a esta doença. Dezessete acessos pertencentes aos gêneros Capsicum, Lycopersicon e Solanum, depositados no Banco de Germoplasma de Hortaliças da UFRR, foram inoculados com isolados dos biovares 1 e 3 de Rs. A inoculação foi feita utilizando-se 5mL, contendo 108 cfu/mL, de suspensão de bactérias em cada planta, sobre as raízes injuriadas. Nas plantas controle, ao invés do isolado utilizouse a mesma quantidade de água destilada esterilizada sobre as raízes injuriadas. Os sintomas da murcha foram avaliados em dias alternados, a partir do segundo dia da inoculação, sendo consideradas suscetíveis às plantas que murcharam após a inoculação e resistentes as que não apresentaram sintomas de murcha, quando comparadas às plantas controle. Dos acessos avaliados nesse trabalho cinco se apresentaram resistentes, aos biovares 1 e 3, sendo quatro pertencentes ao gênero Solanum e um pertencente ao gênero Capsicum. PALAVRAS-CHAVE: Melhoramento; Solanaceae; Amazônia. ABSTRACT Selection of genes to bacterial wilt resistance (Ralstonia solanacearum) in accessions of the Genus Capsicum, Lycopersicon and Solanum in Roraima State. The bacterial wilt disease caused by Ralstonia solanacearum, is considered the main vascular disease of bacterial etiology found in the world, especially in tropical regions. In Brazil, the solanaceous are among the plants most affected, especially potato, peppers, tomato and eggplant. R. solanacearum show wide geographical distribution and the range of environmental conditions conducive to bacterial wilt. The tomato and peppers production in the Roraima State is affected by naturally infested fields. Seventeen accessions belonging to Capsicum, Lycopersicon and Solanum from the Germplasm Bank of University Federal of Roraima were inoculated in a greenhouse, by pouring 5.0 mL of 108 cfu/mL bacterial suspensions per plant, over roots wounded with scalpel. Eight plants/accession were inoculated by biovars 1 and 3. In control plants was use the same amount of sterile distilled water on the injured roots. Disease incidence assessment started two days after the inoculation (DAI) and was repeated every two days after inoculation until the twentieth DAI. The susceptible accession had wilted after inoculation and resistant ones had not presented wilt symptoms, when compared with the control plants. Five accessions were resistants to biovars 1 and 3. Four different accessions of the Solanum genus and one of the Capsicum genus were resistant. Keywords: Breeding; Solanaceae; Amazonian INTRODUÇÃO A murcha-bacteriana e a principal doença vascular de plantas em todo mundo, causada pela bactéria Ralstonia solanacearum, bactéria “habitante” natural do solo, associada a um grande número de plantas cultivadas e daninhas. A doença ocorre em todas as regiões do Brasil, causando maiores problemas principalmente nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, em que predominam temperaturas e umidades elevadas, segundo Takatsu & Lopes (1997). Devido estar associada a solos muito encharcados e a alta temperatura, esta doença é mais problemática no verão e em regiões de clima mais quente, como a região Amazônica (Coelho Netto et. al., 2003). A bactéria pode permanecer por dez anos no solo e o sintoma principal é a murcha da planta de cima para baixo, a partir do inicio da floração, causando a morte da planta. Estudos revelam que este patógeno sobrevive também em várias espécies de plantas daninhas sem expressar nenhum sintoma da doença. A murcha-bacteriana é considerada uma doença de controle extremamente difícil, pela sua ampla gama de hospedeiros e variabilidade genética. A espécie é dividida em cinco raças e cinco biovares, essas divisões são de importância fundamental na caracterização dos isolados da espécie. Na região Amazônica a presença da murcha bacteriana tem dificultado o desenvolvimento das culturas de importância econômica, sendo que as mais atacadas são as solanáceas como pimentão, berinjela, pimenta e tomate (Coelho Netto et. al., 2004). Esta doença vem atacando um grande número de espécie de plantas causando sintomas visíveis e devastadores que dizima a cultura, e devido ao uso de cultivares suscetíveis os agricultores são expostos a perdas que podem ser totais limitando o cultivo de solanáceas de grande importância como o tomateiro (Lycopersicon esculentum Mill.) (TAMURA et. Al., 2002). MATERIAL E MÉTODOS Dezessetes acessos, pertencentes aos gêneros Solanum, Capsicum e Lycopersicon, família solanácea depositados no banco de germoplasma de hortaliças da UFRR, foram semeados em bandejas de isopor, contendo substrato comercial. Oito plantas de cada acesso, foram inoculadas com os biovares 1 e 3, após seis semanas da semeadura. As inoculações foram realizadas em casa de vegetação, no Campus do Cauamé da UFRR, com suspensões, em água destilada esterilizada de isolados coletados no próprio Estado. As plantas foram inoculadas através da deposição de 5mL, contendo 108 cfu/mL, de suspensão de bactérias/planta, sobre as raízes injuriadas, imediatamente antes da inoculação, com uma tesoura. Nas plantas controle, ao invés do isolado utilizou-se a mesma quantidade de água destilada esterilizada sobre as raízes injuriadas. As avaliações de incidência da doença foram feitas do segundo ao vigésimo sexto dia após a inoculação, em dias alternados. Foram consideradas suscetíveis as plantas que murcharam após a inoculação com o patógeno e resistentes as que não apresentaram sintomas de murcha, quando comparado às plantas controle. RESULTADOS E DISCUSSÃO Dos acessos avaliados nesse trabalho cinco se apresentaram resistentes, aos biovares 1 e 3, sendo quatro pertencentes ao gênero Solanum e um pertencente ao gênero Capsicum , enquanto que os acessos de tomate foram todos suscetíveis. Este material constitui fonte a ser utilizada em programas de melhoramento como doadoras de genes de resistência à murcha bacteriana, o que poderá vir ajudar no desenvolvimento de novas variedades adaptadas as condições locais para subsidiar o desenvolvimento de cadeias produtivas do agronegócio no estado de Roraima e, conseqüentemente, da região Norte, diminuindo assim a dependência desse estado, em relação a fornecimento de produtos hortícolas, porém mais testes precisam ser realizados, para se detectar se esses materiais são resistentes a isolados pertencentes a diferentes biovares, bem como deve se proceder teste de compatibilidade de cruzamentos entre este material e os cultivares de interesse econômico cultivados no Estado. LITERATURA CITADA COELHO NETTO, R.A, PEREIRA, B.G, NODA, H. & BOHER, B.Murcha bacteriana no Estado do Amazonas, Brasil. Fitopatologia Brasileira 29:021-027.2004. COELHO NETTO, R.A, PEREIRA, B.G, NODA, H. & BOHER, B. Caracterização de isolados de Ralstonia solanacearum obtidos de tomateiros em várzea e em terra firme, no Estado do Amazonas. Fitopatologia Brasileira 28:362-366.2003. TAKATSU, A; LOPES, C.A. Murcha bacteriana em hortaliças: avanços científicos e perspectivas de controle. Horticultura Brasileira. Brasília, v. 15, p. 170-177, 1997. TAMURA, N; MURATA, Y; MUKAIHARA, T. A somatic hibrid between solanum integrifolium and solanum violaceum that is resistant to bacterial wilt caused by Ralstonia solanacearum. Plant cell rep, v. 21, p. 353-358, 2002.