AVALIAÇÃO E CONTROLE DOS NÍVEIS DE FÓSFORO EM PACIENTES CRÔNICOS RENAIS SUBMETIDOS À HEMODIÁLISE NO MUNICÍPIO DE CACOAL - RO Flávia Pereira Fernandes Candido Rauane Martins Galvão Rosinaide Valquiria Lenzi RESUMO: Os distúrbios na homeostase do fósforo ocorrem precocemente nos pacientes com doença renal crônica (DRC) e desempenham papel fundamental na fisiopatologia das doenças ósseas que acometem esses pacientes, pois, na DRC, o sistema para manutenção de balanço do fósforo é rompido pela perda de nefróns. O objetivo da pesquisa foi avaliar a variação da concentração dos níveis de fósforo em pacientes submetidos á hemodiálise e possíveis correções. A pesquisa foi desenvolvida com 45 pacientes no Centro de Diálise de Cacoal – RO, através de prontuários dos pacientes que foram submetidos à hemodiálise no período de Janeiro a Dezembro de 2011. Os resultados demonstraram predomínio do sexo masculino com uma alta taxa de idosos na população do estudo, sendo que a hiperfosfatemia foi à alteração mais presente, podendo estar relacionada com a não adesão do paciente ao tratamento dietético e medicamentoso. Concluiu-se que apesar das medidas corretivas adotadas pelos profissionais, há variações fosfatêmicas, podendo trazer conseqüências à vida dos pacientes como a doença mineral óssea, hiperparatireoidismo e calcificação vascular. Palavras–chave: Doença Renal Crônica. Fósforo. Hemodiálise. 1. INTRODUÇÃO A insuficiência renal crônica (IRC) é doença de elevada morbidade e mortalidade. A incidência e a prevalência da IRC em estádio terminal (IRCT) tem aumentado progressivamente, a cada ano, em “proporções epidêmicas”, no Brasil e em todo o mundo (Sesso e Gordan, 2007). A DRC (doença renal crônica) é definida por Romão Jr (2004), em lesão renal e perda progressiva e irreversível da função dos rins, de tal forma que, em sua fase mais avançada, chamada de fase terminal de insuficiência renal crônica (IRC), os rins não conseguem mais manter a normalidade do meio interno do paciente. Romão Jr (2011), frisa que alguns pacientes apresentam susceptibilidade aumentada para DRC e constituem grupos de risco para a doença, sendo eles os hipertensos, diabéticos e idosos. Blacher J., (2011) apud Rocha (2011), afirma ainda que os doentes com DRC, qualquer que seja o estadio, têm risco acrescido de eventos cardiovasculares fatais e não fatais. Este maior risco de morbidade e mortalidade resulta da combinação de fatores de risco tradicionais (como por exemplo diabetes mellitus, hipertensão arterial e dislipidemia) com outros fatores de risco, nomeadamente o stress oxidativo, a microinflamação e a desregulação do metabolismo fosfocálcio. MEDEIROS et al., (2002) relata que em indivíduos portadores de Insuficiência Renal Crônica (IRC) sua sobrevida pode ser prolongada devido ao emprego da hemodiálise como método de substituição da função renal. Cavalcante (2011), afirma ser a hemodiálise o método de escolha na diálise, consistindo na filtração dos líquidos extracorporais do sangue por uma máquina substitutiva das funções renais. Dentre os exames realizados em pacientes submetidos à hemodiálise, o fósforo têm um papel importante para a avaliação do tratamento periódico. Segundo a Portaria do Ministério da Saúde nº 82/GM de 03 de janeiro de 2000, “É obrigatória a realização periódica, pelo serviço de diálise, dos seguintes exames nos seus pacientes, a fim de garantir o acompanhamento da evolução do tratamento dialítico: a) Exames mensais: medição do hematócrito, dosagem de hemoglobina, uréia pré e pós a sessão de diálise, creatinina, potássio, cálcio, fósforo, transaminase glutâmica pirúvica (TGP), antígeno superficial de hepatite B (HBsAG).” Cuppari e Carvalho (2008), priorizam que o fósforo (P) sérico deverá ser dosado em todos os pacientes com doença renal crônica (DRC), cuja taxa de filtração glomerular for inferior a 60mL/min/ 1,73m2. Descreve as freqüências e os valores recomendados para cada estágio da DRC, enfatizando que os valores recomendados e freqüência de avaliação dos níveis de P nos diferentes estágios da DRC devem ser realizados da seguinte forma: semestrais quando o estágio da DRC compreender o nível 3, onde a TFG (taxa de filtração glomerular) for de 30 -59 mL/min e níveis de P 3,0 – 4,6 mg/dL. No estágio 4 a freqüência de dosagem deve ser trimestral pois a TFG vai estar 15-29 mL/min e os níveis de P 3,0 - 4,6. No estágio 5 a freqüência passa a ser mensal observando assim a TFG menor que 15 ou diálise e os níveis de P compreendem entre 3,5 - 5,5 mg/dL. Segundo Block et al. (2004, apud NERBASS et al., 2010), o controle inadequado do fósforo está relacionado com o aparecimento do hiperparatireoidismo e do distúrbio mineral e ósseo. Jorgetti (2008), afirma que os distúrbios na homeostase do cálcio, do fósforo, do calcitriol e do paratormônio ocorrem precocemente nos pacientes com doença renal crônica (DRC) e desempenham papel fundamental na fisiopatologia das doenças ósseas que acometem esses pacientes, pois “na insuficiência renal crônica (IRC), o sistema para manutenção de balanço do fósforo é rompido pela perda de néfrons” (SESSO e FERRAZ, 2003). De acordo com Pinheiro (2010), “quando o rim começa a ficar doente, a excreção de fósforo na urina começa a falhar”. Cuppari e Carvalho (2008), afirmam que várias respostas, inicialmente compensatórias, são desencadeadas, a fim de manter a homeostase do fósforo. A principal é o aumento da secreção de PTH, seguida por fosfatúria e conseqüente diminuição da fosfatemia. A efetividade e inocuidade dessa resposta são, porém, limitadas. A partir do esgotamento desse sistema compensatório surge uma das principais complicações da DRC, a hiperfosfatemia. O objetivo da pesquisa foi avaliar a variação da concentração dos níveis de fósforo em pacientes submetidos á hemodiálise e possíveis correções, no Centro de Diálise de Cacoal – RO, destacando assim, a importância clínica desse marcador para a qualidade de vida do paciente com Insuficiência Renal Crônica Terminal (IRCT) . 2. MATERIAIS E MÉTODOS A pesquisa foi desenvolvida com 45 pacientes no Centro de Diálise de Cacoal – RO, através de prontuários dos pacientes com insuficiência renal crônica que realizam hemodiálise. O estudo realizado foi de caráter descritivo, quantitativo e transversal, sendo retrospectivo dos prontuários de pacientes que foram submetidos à hemodiálise no período de Janeiro a Dezembro de 2011. Os critérios de inclusão foram: ser portador de doença renal crônica terminal (DRCT); ter idade superior a 18 anos e ter feito dosagem de fósforo em todos os meses do ano de 2011. Foram excluídos do estudo pacientes portadores de doenças intercorrentes como distúrbios da coagulação, doenças hepáticas, auto-imunes e câncer. Totalizaram assim, trinta pacientes excluídos, restando para o estudo, uma amostra de quarenta e cinco pacientes. Após o consentimento do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP), sob número 896-12, foram revisados os prontuários médicos dos pacientes sem que estes fossem identificados por nome ou qualquer número relacionado (Ex. RG ou CPF), bem como compilados dados sócio demográficos como sexo, idade, medicamentos relacionados aos níveis variados de fósforo e dados laboratoriais. A Análise dos dados foi realizada através de programas de computação WORD, EXCEL, a tabulação e apresentação de dados foram através de percentuais, gráficos e tabelas. Os dados quantitativos foram processados eletronicamente por meio do software gerenciador de planilhas MICROSOFT EXCEL 2007 e utilizados pacotes estatísticos apropriados para a análise, sendo do tipo descritivo. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Foram compilados dados de prontuários de 45 (quarenta e cinco) pacientes de ambos os sexos na unidade em estudo, como demonstrados na figura 1. Figura 1: Caracterização dos pacientes submetidos à hemodiálise, quanto ao sexo feminino e masculino no Centro de Diálise de Cacoal – RO, 2011. Observa-se que a maioria dos pacientes atendidos foi do sexo masculino (64%) frente a 36% do sexo feminino. O predomínio do sexo masculino na população do estudo é semelhante aos resultados encontrados no Censo 2011, onde 57,3% das pessoas em hemodiálise eram do sexo masculino. Estudos patrocinados pelo Ministério da Saúde (BRASIL, 2008) também demonstram que o sexo masculino tem sido o mais acometido por doenças crônicas, incluindo as renais. “O homem, julga-se mais invulnerável, o que contribui para que ele cuide menos da própria saúde e se exponha mais às situações de risco”. (SCHRAIBER et al., 2005; BOZON, 2004; KEIJZER, 2003; SABO, 2002 apud REBELLO et al., 2011). Ferreira et al., (1997), mostraram em seu estudo que houve um predomínio de indivíduos do sexo masculino com relações homem/mulher de 1,56 e de 1,33, respectivamente, as quais não foram estatisticamente diferentes entre si. Machado et al., (2009) observaram em seu estudo que a maioria da população analisada pertencia ao sexo masculino, assim como Morch et al., (2008) observaram que havia um predomínio de homens em uma população de 1.307 pacientes nos centros de diálise da cidade de Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Santos (2005), também verificaram essa prevalência em seu estudo com 139 indivíduos na diálise da santa casa de Sobral no Ceará. Na figura 2 pode ser verificado o perfil dos pacientes quanto á idade. Figura 2: Distribuição dos pacientes submetidos à hemodiálise, quanto á idade, no Centro de Diálise de Cacoal – RO, 2011 Quanto à idade, verificou-se que 27% possuíam idade entre 18-39 anos, 38 % entre 40-59 anos, sendo 35% com idade superior a 60 anos. Estão descritos na literatura que a filtração glomerular cai entre 0,08 ml por ano a partir dos 40 anos, com isto, aumenta a vulnerabilidade do sistema renal e o paciente perde a capacidade de manter a homeostase renal. (RIBEIRO, et al., 2008). Sesso et al., (2009) mostraram em seu estudo que 43,7% dos pacientes tinham idade entre 40 e 59 anos e 36,3% tinham idade igual ou maior que 60 anos. Também citam o estudo de Gomes et al., (2005), realizado com 131 pacientes do hospital Pedro Ernesto da Divisão de Nefrologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro e o de Schwarz et al. (2006), realizado Salem Veterans Affairs Medical Center em Virginia, onde também apresentaram uma população mais idosa. Romão Jr (2004), ressalta que o envelhecimento, por si só, é um fator de risco para DRC e doenças com forte associação com a DRCT (Doença Renal Crônica Terminal), com as doenças cardiovasculares, hipertensão arterial e diabetes mellitus. Segundo BASTOS et al., (2011), a alteração dos níveis de fósforo é comum em pacientes hemodialíticos devido os rins não conseguirem manter a homeostase do organismo, sendo “a hiperfosfatemia o distúrbio mais freqüentemente observado em pacientes com DRC” (NERBASS, 2008). Favalessa et al., (2009), relata que o fósforo é uns dos principais micronutrientes de difícil controle nessa população. O estudo demonstrou que houve uma grande variação de níveis de fósforo na maioria dos pacientes, podendo ocorrer em um mesmo paciente alterações fosfatêmicas, hipofosfatemia quanto à hiperfosfatemia. Ford JC et al., (2004 apud NERBASS 2010), afirma que o sucesso do tratamento depende essencialmente da habilidade do paciente em entender e aderir ao plano dietético, bem como ao regime de medicações. De acordo com Santos et al. (2004), “avaliar corretamente o estado nutricional desses pacientes é uma medida de fundamental importância”, pois o reconhecimento precoce, com rápida intervenção no suporte nutricional, permite minimizar o impacto, levando a benefícios clínicos. (ZAMBOM; BELANGERO; BRITO, 2011). Na figura 3 é possível observar o número de pacientes com variações nos níveis de fósforo de acordo com cada mês do ano de 2011: Figura 3 – Número de pacientes com variações nos níveis de fósforo entre os meses de Janeiro a Dezembro de 2011. De acordo com o estudo, os 45 pacientes apresentaram algum tipo de alteração quanto aos níveis de fósforo. Nisio et al., (2007), afirmam que “o controle do fósforo sérico é um desafio no tratamento de pacientes em hemodiálise”. Romão Jr (2004), frisa que “alterações do metabolismo do cálcio e fósforo séricos e a presença de hiperparatireoidismo são complicações previsíveis em pacientes portadores de insuficiência renal crônica (IRC), mesmo em suas fases iniciais”. Os resultados da figura 4 demonstram uma relação entre os altos níveis de P> 5,5 mg/dl (hiperfosfatemia) em meses pré e pós festivos, destacando-se assim os meses de Janeiro com 12 pacientes, Setembro 22, Outubro e Novembro 14 e Dezembro 22 pacientes, podendo estar relacionado com um consumo elevado de alimentos ricos em fósforo, como observado por Machado (2009), em seu estudo o qual justifica “ser consequência da abundância de alimentos típicos da época natalícia que além de muito ricos em potássio também são muito ricos em fósforo, uma vez que muitos deles são confeccionados com leite e pão, além dos frutos secos”. Observa-se que a hiperfosfatemia é prevalente em pacientes com doença crônica renal em relação à hipofosfatemia. A quantidade mensal de pacientes com hiperfosfatemia é considerável em relação ao número total de pacientes presentes no estudo. A hipofosfatemia demonstrou-se baixa nos pacientes do estudo, sendo definida por Araújo (2006), como fósforo plasmático menor que 2,5 mg/dl, podendo ser severa se inferior a 1,0 mf/dl, descrevea em pacientes com insuficiência renal crônica (IRC) submetidos a tratamento dialítico intenso, em pacientes desnutridos sob nutrição parenteral com baixo aporte de fósforo, demandando a reposição de fósforo oral e intravenosa ou no dialisato, sendo seu controle de suma importância, como completa Araújo (2006) “a hipofosfatemia crônica pode resultar em diminuição da contratilidade diafragmática, rabdomiólise, disfunção hematológica e do sistema nervoso central.” Ford JC et al., (2004 apud NERBASS 2010), ressalta a importância do controle da hiperfosfatemia, altamente prevalente em pacientes em diálise, constituindo um dos principais objetivos do profissionais que trabalham com indivíduos em diálise, como observados na figura 4: Figura 4: Número de pacientes com hipofosfatemia (P <2,5 mg/dl) e hiperfosfatemia (P> 5,5 mg/dl) no Centro de Diálise de Cacoal – RO, no período de Janeiro a Dezembro de 2011. Em reunião o Fórum nacional de discussão das diretrizes do KDIGO (Kidney Disease: Improving Global Outcomes) para o distúrbio mineral e ósseo da doença renal crônica (2009), concluíram que a hiperfosfatemia é consequência importante e inevitável da DRC avançada, uma vez que o balanço de fósforo é permanentemente positivo nos pacientes em estágios 4-5. De acordo com Pestana (2012), a presença da hiperfosfatemia está relacionada com maior mortalidade e risco elevado de doenças cardiovasculares tanto na população normal quanto nos pacientes DRC. Rocha (2011), em seu estudo, chama atenção para as principais consequências da hiperfosfatemia nos indivíduos com DRC em estadios pré-diálise, que são as calcificações vasculares com o consequente aumento da morbilidade e mortalidade. Pestana (2012) relata que a Insuficiência Renal Crônica é precursora de outras patologias bastante comuns, dentre elas a osteodistrofia renal, uma doença que acomete 99% dos pacientes em hemodiálise e atinge o tecido ósseo, destaca ainda, que os principais parâmetros fisiológicos observados como indicativo da osteodistrofia renal, são a alteração dos elementos como o fósforo, o cálcio, o hormônio paratireioidiano, calcitriol e o alumínio, além da Vitamina D, que se tornam de suma importância na investigação dessa doença. Quanto às hipóteses cogitadas como desencadeadoras do problema, duas vigoram como principais: a deficiência na produção do calcitriol e a hiperfosfatemia, ambas devido a diminuição da capacidade renal na doença crônica renal (DRAIBE et al., 2002). A Portaria SAS/MS nº 845 de 31 de outubro de 2002, destaca que uma dieta com restrição de fósforo, além de ser de difícil execução, na grande maioria dos casos não é suficiente para manter a fosfatemia em níveis desejáveis. Contudo, os pacientes que são submetidos à hemodiálise no Centro de Diálise de Cacoal, possuem uma orientação dietética e acompanhamento individualizado pela nutricionista, a fim de manter os níveis de fósforo dentro dos valores de referência como aconselha a Portaria SAS/MS nº 845, de 31 de outubro de 2002, que recomenda à avaliação e aconselhamento com nutricionista, situação real na unidade em estudo. As diretrizes do KDIGO (2009), ressalta que é aceitável corrigir essas anormalidades com qualquer ou todos os seguintes: reduzir ingesta dietética de fósforo e administração de quelantes de fósforo, suplementos de cálcio, e/ou vitamina D nativa. Os principais alimentos ricos em fósforo segundo CUPPARI e CARVALHO (2008), são descritos na tabela 1: Tabela 1 – Principais alimentos fonte de fósforo. Alimento Fígado de boi Amendoim Pescada Branca Carne bovina Sardinha Iogurte Carne de frango Quantidade (g) Medida Caseira P (mg) 85 50 84 85 34 120 80 1 bife médio 1 pct médio 1 filé médio 1 bife médio 1 unidade 1 pote pequeno 1 filé de peito médio 404 253 241 209 170 159 150 Fonte: Tabela adaptada de CUPPARI e CARVALHO, 2008. Sesso (2003), descreve que alimentos ricos em fósforo incluem derivados de leite, proteínas animais (carnes), legumes, grãos e chocolate. Ressalta ainda que a maioria dos nutricionistas recomendam restrição de fósforo na dieta para menos de 0,8-1,0 g/dia para a maioria dos pacientes com insuficiência renal crônica terminal (IRCT). Pollock JB (2007 apud NERBASS 2010), relata que apesar de muitos centros de diálise contarem com nutricionistas que fornecem essas informações, os pacientes apresentam frequentemente dificuldades para entender, assimilar e aplicar as recomendações nutricionais. GIR; VAICHULONIS; OLIVEIRA, (2005 apud TERRA, 2007), associa a aderência à conduta do indivíduo ao seguir as prescrições médicas, no que diz respeito à posologia, à quantidade de medicamentos por horário, o tempo de tratamento e às recomendações especiais para determinados medicamentos. Porém, a adesão deve ser entendida como uma atividade conjunta na qual o individuo obedece à orientação médica, mas segue, entende e concorda com a prescrição estabelecida pelo médico. Referente ao exposto acima, Machado (2009), considera que valores elevados de fósforo e potássio, são habitualmente interpretados como reflexo de fraca adesão ao regime terapêutico no caso das pessoas com insuficiência renal crônica em programa regular de hemodiálise. Terra (2007) sugere assim, que outras medidas corretivas devem ser adotadas para facilitar o tratamento, como a intervenção medicamentosa. As diretrizes KDIGO (2009), orienta que em pacientes com DRC estágios 3–5, sugere-se utilizar agentes quelantes de fósforo no tratamento da hiperfosfatemia, sendo aceitável que a escolha do agente quelante de fósforo leve em consideração o estágio da DRC, a presença de outros componentes da CKDMBD (Doença Mineral e Óssea na Doença Renal Crônica), outras terapias concomitantes, e efeitos colaterais. É importante destacar que o sucesso da terapia depende fundamentalmente da participação e adesão do paciente (CARVALHO E CUPPARI, 2011). Segundo Carvalho e Cuppari (2008), se considerarmos as limitações associadas com a restrição de fósforo e com a remoção de fósforo pela diálise, os quelantes de fósforo são necessários para quase todos os pacientes submetidos à diálise. Karamanidou (2008 apud NERBASS 2010), afirma que existem três estratégias que auxiliam o controle do fósforo sérico, sendo diálise adequada, restrição dietética de fósforo e utilização de quelantes de fósforo. No presente estudo observou-se que o critério de escolha do quelante se deve ao seu baixo custo e não ao seu poder quelante, como observado na figura 5: Figura 5: Porcentagem de pacientes que fazem uso dos principais quelantes de fósforo utilizados no Centro de Diálise de Cacoal – RO, 2011. Constatou-se que 44% dos pacientes fizeram uso do carbonato de cálcio que contém 40% de cálcio elementar, sendo que o mesmo é utilizado como repositor de cálcio, auxiliando o controle dos níveis de fósforo. Sua larga escala de prescrição se deve ao seu baixo custo comercial, sendo que o mesmo é distribuído pelo Ministério da Saúde através do Sistema Único de Saúde (SUS). As diretrizes do KDIGO (2009), sugere que em situações de hiperfosfatemia, apesar do uso de um quelante de fósforo, pode-se associar um segundo quelante. No centro de Diálise de Cacoal isso é muito comum, como podemos observar na figura 5 onde 36% pacientes fazem o uso do Calcitriol associado ao carbonato de Cálcio, sendo ele um dos principais metabólitos ativos da vitamina D, cabendo uma atenção especial na prescrição do mesmo, uma vez que “esse hormônio promove aumento na absorção intestinal de cálcio e de fósforo”. (Carvalho e Cuppari, 2008). Carvalho e Cuppari (2011), em recente estudo ressaltam que pacientes com hipercalcemia não devem utilizar quelantes que contenham cálcio, e para aqueles com calcemia no limite superior da normalidade a dose prescrita de quelantes a base de cálcio deve ser bastante cautelosa. A utilização do sevelamer não é realizada com freqüência devido seu alto custo, sendo observado em apenas 20% dos pacientes, sendo necessário em nosso meio estudos para se avaliar a relação custo-efetividade do uso do sevelamer (SESSO e FERRAZ, 2003). Carvalho e Cuppari (2008), afirmam que caso haja contra indicação ao uso de quelantes a base de cálcio, o cloridrato de sevelamer deve ser sempre empregado. Eles ressaltam que a escolha do tipo de quelante e a dose prescrita dependem primeiramente da quantidade de fósforo ingerida nas refeições. Por ser um medicamento de alto custo, associar doses menores de sevelamer com quelantes à base de cálcio pode reduzir os custos do tratamento e melhorar o controle do fósforo sérico. No presente estudo, observamos um número de apenas 9 (nove) pessoas correspondendo a (20%) dos pacientes que receberam prescrição de sevelamer combinado com outro quelante. É importante ressaltar que segundo Burke SK, Slatopolsky EA, Goldberg DI, (1997 apud SESSO et al., 2003), o sevelamer agrega valor terapêutico importante para pacientes com IRCT (Insuficiência Renal Crônica Terminal) com hiperfosfatemia que não conseguem tolerar ou que apresentem efeitos colaterais decorrentes do uso de sais de cálcio ou alumínio, pois como afirma Sesso (2003), em seu estudo, existem indícios de que, a longo prazo, o uso do sevelamer comparado a outros quelantes traz benefícios na redução da morbidade e mortalidade cardiovascular. Apesar do acompanhamento terapêutico diferenciado para tratar a variação dos níveis de fósforo em pacientes com DRC, a hiperfosfatemia foi à alteração mais presente entre os pacientes do presente estudo, estando relacionada diretamente com a Insuficiência Renal Crônica (IRC). 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS Concluiu-se no presente estudo que alterações nos níveis de fósforo são comuns em pacientes com DRC (Doença Renal Crônica) sendo que a hiperfosfatemia foi à alteração mais evidente, podendo estar relacionada com a não adesão do paciente ao tratamento dietético e medicamentoso. Essa alteração traz diversas conseqüências à vida do paciente, destacando o hiperparatireoidismo, a doença mineral óssea e principalmente a calcificação vascular, maior causa de morbidade e mortalidade de pacientes com DRC. Apesar das medidas corretivas adotadas pelo Centro de Diálise de Cacoal – RO, o controle desses níveis é dificultado muitas vezes pela não adesão medicamentosa e dietética dos pacientes. A intervenção medicamentosa individualizada foi observada na maioria dos pacientes demonstrando com isso, que há sim a necessidade de medidas terapêuticas diferenciadas, sendo necessário o diagnóstico laboratorial periódico juntamente com o acompanhamento profissional especializado, permitindo assim, uma melhora significativa na qualidade de vida desses pacientes com doença crônica renal que são submetidos à hemodiálise. A avaliação da variação da concentração dos níveis de fósforo nos pacientes do estudo foi de suma importância, pois o diagnóstico periódico traz maior confiabilidade ao profissional para assim adotar medidas corretivas individualizadas que proporcione a esses pacientes um maior controle dos níveis de fósforo dando assim uma melhor qualidade de vida. 5. REFERÊNCIAS ARAÚJO, Ivan M.; GUILHEN, José C; MARQUES, Juliana A; PAVANETTI, Luis C; ZANOLLI, Mauricio B; FERREIRA, Renata S; ALASMAR, Vitor L. 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