Claudicação e osteoartrite em cavalos A claudicação é provavelmente a razão mais frequente porque os cavalos não podem trabalhar e desempenhar a função para que foram destinados, e tambem a razão mais frequente pela qual os proprietários solicitam ajuda ao médico veterinário. Independentemente da causa inicial, qualquer lesão articular, por mais pequena que seja, pode levar ao desenvolvimento de osteoartrite. A Osteoartrite é uma doença degenerativa que causa inflamação e alteração nos tecidos articulares, nomeadamente cartilagem, osso subcondral, membrana sinovial e cápsula articular. Estas alterações são irreversíveis e tendem a piorar, principalmente se não forem tomadas medidas para prevenir a respetiva progressão. Esta doença tem um impacto fundamental na saúde não só dos cavalos mas tambem nos cães e humanos, principalmente porque quando são detectados os sinais clínicos já o processo atingiu um estado considerável e irreversível. Não existe nenhum tratamento, médico ou cirúrgico, que permita transformar uma articulação com osteoartrite numa articulação normal. A cartilagem articular é uma estrutura vital para o funcionamento normal duma articulação uma vez que providencia uma cobertura excecional que permite o contato e movimento entre os ossos sem causar qualquer fricção ou dor. Numa articulação com osteoartrite a cartilagem fica deteriorada, mais fina e por vezes pode desaparecer quase por completo. O organismo é incapaz de reparar ou substituir a cartilagem danificada. A articulação nunca voltará a ser normal. No entanto, em muitos casos pode ser possível manter funcional um cavalo com algum grau de osteoartrite através de preparações medicamentosas, fisioterapias e regimes de treino bem estruturados. O medicamento mais popular para o maneio da osteoartrite são os anti-inflamatórios nãoesteroides, como a fenilbutazona e a suxibuzona (Equipalazone e Danilon). Estas substancias têm um forte poder analgésico e consequentemente permitem, na maior parte dos casos, manter confortável um cavalo com osteoartrite. No entanto elas atuam ao nível dos sinais clínicos, sem qualquer efeito no mecanismo da doença articular. Outro tipo de tratamento bastante eficaz consiste na injeção intra-articular de corticosteroides. Estes medicamentos têm um forte poder anti-inflamatório e podem ter uma ação profunda nas estruturas articulares, reduzindo o grau de destruição da articulação com osteoartrite. Os corticosteroides devem ser utilizados com precaução. Os principais efeitos adversos são o desenvolvimento de laminite, quando se utilizam dosagens elevadas, e infeções articulares quando ocorrem falhas na técnica de assepsia. A injeção intra-articular (vulgarmente denominada infiltração) é um processo que deve implicar uma técnica de assepsia rigorosa e meticulosa. Após a medicação intra-articular é fundamental alterar o regime de treino do cavalo, de modo a eliminar qualquer efeito traumático e tambem para dar tempo às estruturas articulares para se remodelarem minimizando a progressão da osteoartrite. O tratamento da osteoartrite tambem pode ser complementado com outro grupo de medicamentos, denominados protetores articulares. Entre eles destacam-se o ácido hialurónico e os glicosaminoglicanos polisulfatados (Adequan). Estas substâncias podem ser utilizadas pela via intra-articular ou sistémica (injeção endovenosa ou intramuscular). O seu uso depende das particularidades específicas de cada caso clinico e tambem da preferência do médico veterinário responsável. Os nutraceuticos são produtos não medicamentosos, e consequentemente não regulados, utilizados pela via oral e que supostamente contêm também substancias condroprotectoras, isto é, que protegem as estruturas articulares. Um dos principais problemas em relação à sua recomendação é que a composição varia bastante entre produtos e não existem bons estudos científicos que determinem as dosagens necessárias bem como o respectivo efeito clinico. Além disso, questiona-se bastante a sua absorção intestinal e consequente biodisponibilidade nos equinos. www.hcvet.eu www.hcvet.eu QUADRO 1: Há várias espécies de Nemátodos que podem afectar a saúde do cavalo. No passado, a classe dos Estrongilos era talvez a que impunha maior ameaça ao bem-estar do cavalo; contudo devido à grande eficácia dos desparasitantes modernos contra estas espécies, infestação grave com Estrongilos tem-se tornado uma entidade clínica rara em regiões desenvolvidas onde os cavalos são desparasitados com frequência. Fig. 3: Larvas de Ciatostomas enquistadas na parede do intestino grosso, A) vistas a olho nu e B) vistas ao microscópio. O outro grupo de parasitas são as Ténias (Fig. 4). Infestações ligeiras deste tipo de parasitas parecem ser inócuas para o cavalo, no entanto infestações com elevados números estão fortemente associadas a episódios de cólicas recorrentes. Fig.2: Ciatostomas adultos na superfície do intestino grosso de um cavalo com infestação parasitária severa. Hoje em dia as espécies de parasitas Nemátodos consideradas de maior risco para o cavalo são as da classe dos Ciatostomas (Fig. 2). Estes pequenos vermes não têm fase migratória através dos vários órgãos do corpo; as larvas migram apenas dentro da parede do intestino grosso do cavalo (Fig. 3). Quando as larvas atingem o estado adulto, perfuram a parede do intestino para se misturar com o conteúdo intestinal. Esta perfuração causa uma pequena lesão no intestino (uma por larva). Num caso de infestação severa, a erupção de milhares de larvas provoca danos extensos no intestino. Visto que uma das funções do intestino grosso do cavalo é a absorção de água, esta erupção maciça pode causar diarreia severa. Fig.4: As Ténias aderem-se à parede do intestino delgado do cavalo. www.hcvet.eu QUADRO 2: Em termos de composição química, podemos considerar quatro classes de desparasitantes: 1. Ivermectina. São talvez os desparasitantes usados com maior frequência hoje em dia; têm uma acção bastante eficaz contra todos os tipos de Nemátodos, com a excepção dos estádios larvares imaturos de Ciatostomas. É importante notar que as Ivermectinas não têm qualquer acção contra as Ténias. 2. Moxidectina. Trata-se de uma versão “melhorada” da ivermectina, altamente eficiente contra todos os tipos de Nemátodos incluindo os estádios larvares imaturos de Ciatostomas. No entanto também não tem qualquer acção contra as Ténias. 3. Benzimidazole. Estes desparasitantes actuam apenas contra algumas espécies de Nemátodos; mas têm caído em desuso devido ao desenvolvimento de resistências durante a última década. Uma excepção significante é o Fenbendazol, que quando usado em doses elevadas por períodos prolongados, tem uma acção altamente eficaz contra os estádios larvares imaturos de Ciatostomas. Tal como as anteriores, estes produtos não têm qualquer acção contra as Ténias. 4. Pirimidinas. Nesta classe inclui-se o Pirantel. Estes desparasitantes têm alguma acção contra Nemátodos adultos, mas não actuam sobre quaisquer estádios larvares. Além disso tem havido problemas de resistências de Nemátodos a estes compostos. O valor destes produtos reside principalmente na sua acção única e eficaz contra as Ténias, principalmente quando administrados numa dose dupla da recomendada para o uso contra os Nemátodos. Mais recentemente, foram introduzidos no mercado vários produtos que contêm Praziquantel como produto activo. O Praziquantel tem sido, desde há muitos anos o desparasitante usado contra as Ténias do cão, do gato e dos humanos; e estudos recentes demonstraram a sua eficácia também sobre as Ténias do cavalo. Note-se no entanto que Praziquantel não tem qualquer efeito sobre Nemátodos. No mercado Português existem várias preparações comerciais de Prazinquantel misturado com Ivermectina. Tambem existe uma preparação de moxidectina com prazinquantel. Estas combinações são consideradas hoje em dia os desparasitantes de mais largo espectro. Posto isto, sob um ponto de vista prático, tendo em consideração a composição química, resistência e modo de acção, podemos considerar os vários tipos de desparasitantes em relação à sua acção contra: 1. Nemátodos em geral, 2. Estádios larvares imaturos de Ciatostomas e 3. Ténias: Com eficácia contra os Nemátodos em geral deve usar-se Ivermectina Para eliminar os estádios larvares imaturos de Ciatostomas deve utilizar-se Fenbendazol em doses elevadas por períodos prolongados ou Moxidectina Contra as Ténias deve usar-se Praziquantel ou uma dose dupla de Pirantel www.hcvet.eu