Revista Psicopedagogia Edição 96

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PSICOPEDAGOGIA
REVISTA DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PSICOPEDAGOGIA • Nº 96 • 2014 • ISSN 0103-8486
EDITORIAL / EDITORIAL....................................................................................................235
ARTIGO ESPECIAL / SPECIAL ARTICLE
• Papel das funções cognitivas, conativas e executivas na aprendizagem:
uma abordagem neuropsicopedagógica.......................................................................... 236
ARTIGO ORIGINAL / ORIGINAL ARTICLE
• Evolução do desempenho da atenção e da memória operacional
em crianças de escola pública e particular....................................................................... 254
ARTIGOS DE REVISÃO / REVIEW ARTICLES
• Dados recentes da Neurociência fundamentam o método “Brain-Based Learning”.......263
• Deslocamentos teóricos da noção da “relação com o saber” e suas possibilidades
para a análise psicopedagógica das aprendizagens escolares........................................ 275
• Transtorno de déficit de atenção e hiperatividade: um recorte da
produção científica recente.............................................................................................. 289
RELATO DE EXPERIÊNCIA / EXPERIENCE REPORT
• Proposta de atuação psicopedagógica na Diretoria Municipal
de Educação de Cajamar .................................................................................................. 298
30
ANOS
VOLUME
31
Associação Brasileira
de Psicopedagogia
Sede: Rua Teodoro Sampaio, 417 - Conj. 11 - Cep: 05405-000 - São Paulo - SP
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SEÇÕES E NÚCLEOS
Triênio 2014/2016
SEÇÃO BAHIA
Diretora Geral: Nilzan Gomes Santos
SEÇÃO RIO DE JANEIRO
Diretora Geral: Maria Katiana Veluk Gutierrez
SEÇÃO BRASÍLIA
Diretora Geral: Walderlene Ramalho
SEÇÃO RIO GRANDE DO NORTE
Diretora Geral: Maria Bernadete Silva de Holanda Gomes
SEÇÃO CEARÁ
Diretora Geral: Andréa Aires Costa
SEÇÃO RIO GRANDE DO SUL
Diretora Geral – Iara Caierão
Rua João Carvalho, 800, sala 1008, Ed. Talente Center
Aldeota – Fortaleza – CE – CEP 60140-140
Tel: (85) 8543-4331 / 9962-5131
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Vice-Diretora: Graça Maria de Morais Aguiar e Silva
Av. Venâncio Aires, 1119, sala 9 – Bonfim
Porto Alegre – RS – CEP 90520-000
Tel: (51) 3333-3690 / 9624-2785
E-mail: [email protected]
Vice-Diretora: Gilca Maria Lucena Kortmann
SEÇÃO GOIÁS
Diretora Geral: Lucila Menezes Guedes Monferrari
SEÇÃO SANTA CATARINA
Diretora Geral: Maria Alice Moreira Bampi
Av. Tancredo Neves, 3343, sala 1105, Edif. Cempre
Caminho das Árvores – Salvador – BA – CEP 41820-021
Tel: (71) 3341-0121 Seção / (71) 3362-0906 / 8838-9190
E-mail: [email protected]
Vice-Diretora: Denise Lago de Miranda
QNE 2, Lote 1, sala 203, Ed. Bombini Clínicas
Taguatinga – Brasília – DF – CEP 72125-020
Tel: (61) 9986-9667
E-mail: [email protected]
Vice-Diretora: Marina Lima Beust
Av. 85, 684, sala 207 – Ed. Eldorado Center – Setor Oeste
Goiânia – GO – CEP 74120-090
Tel/Fax: (62) 3954-2178 / 3259-3592 / 8153-9648
E-mail: [email protected]
Vice-Diretora: Denise A. S. Baiocchi Carneiro
SEÇÃO MINAS GERAIS
Diretora Geral – Regina Rosa dos Santos Leal
Av. Brasil, 248, sala 202 – Santa Ifigênia
Belo Horizonte – MG – CEP 30140-001
Tel: (31) 3221-3616 / 3239-5920 / 9238-1955
E-mail: [email protected]
Vice-Diretora: Maria Ana Tafner Pereira
SEÇÃO PARÁ
Diretora Geral: Maria de Nazaré do Vale Soares
Trav. 3 de Maio, 1218, sala 105, Ed. Alpha Center
São Braz – Belém – PA – CEP 66060-600
Tel: (91) 3229-0565 / 9981-2076
E-mail: [email protected]
Vice-Diretora: Eliane Souza de Deus Neto Almeida
SEÇÃO PARANÁ NORTE
Diretora Geral: Neocleide Milani
Rua Dinamarca, 381 – Centro
Cambé – PR – CEP 86181-080
Tel: (43) 3223-2654 / 9112-1964
E-mail: [email protected]
Vice-Diretora: Rosa Maria Junqueira Scicchitano
SEÇÃO PARANÁ SUL
Diretora Geral: Loriane Ferreira
Rua Fernando Amaro, 431 – Alto da XV
Curitiba – PR – CEP 80045-080
Tel: (41) 3363-8006 / 3282-9357 / 9106-9645
E-mail: [email protected]
Vice-Diretora: Heloisa Monte Serrat Barbosa
SEÇÃO PIAUÍ
Diretora Geral: Maria Alice de Santana Resende
Rua Coelho de Resende, 123 Sul, sala 2, andar superior – Centro
Teresina – PI – CEP 64001-370
Tel: (86) 9992-0817 / 9482-6447 / 9947-7154
E-mail: [email protected]
Vice-Diretora: Fabrício Cézar Moura Barbosa
Av. Nossa Senhora de Copacabana, 861, sala 302 – Copacabana
Rio de Janeiro – RJ – CEP 22060-000
Tel: (21) 2236-2012 / 2527-1933 / 8877-1729
E-mail: [email protected]
Vice-Diretora: Fátima Galvão Palma
Rua Cel. Silvino Bezerra, 1178 – Lagoa Seca
Natal – RN – CEP 50032-140
Tel: (84) 9676-1203 / 3314-5878 / 9907-0016
E-mail: [email protected]
Vice-Diretora: Ednalva de Azevedo Silva
Rua Rui Barbosa, 574, apto 801 – Agronômica
Florianópolis – SC – CEP 88025-301
Tel: (48) 3365-1097 / 9116-0753
E-mail: [email protected]
Vice-Diretora: Liliana Stadinik
SEÇÃO SÃO PAULO
Diretora Geral: Sandra Lia Nisterhofen Santilli
Rua Minas Gerais, 6 – Higienópolis
São Paulo – SP – CEP 01244-010
Tel: (11) 99513-1411 / 3259-0837 / 99158-0993
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Vice-Diretora: Maria Cristina Natel
SEÇÃO SERGIPE
Diretora Geral: Nielza da Silva Maia de Souza
Rua Riachuelo, 1188, sala 16 – São José
Aracajú – SE – CEP 49015-160
Tel: (79) 3214-5363 / 222 / 9134-5652
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Av. Nossa Senhora da Penha, 1495 – sala 504 A,
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Santa Lúcia – Vitória – ES – CEP 29056-905
Tel: (27) 98875-4508 / 99969-5545
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Editora
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Ana Lisete Rodrigues
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Vitor da Fonseca
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Argentina
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Espanha
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Neide de Aquino Noffs
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Sônia Maria Colli de Souza
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Associação Brasileira
de Psicopedagogia
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PSICOPEDAGOGIA – Órgão oficial de divulgação
da Associação Brasileira de Psicopedagogia – ABPp
é indexada nos seguintes órgãos:
1) LILACS - Literatura Latino-Americana e
do Caribe em Ciências da Saúde BIREME
2) Clase - Citas Latinoamericanas en Ciencias Sociales y Humanidades. Universidad
Nacional Autónoma de Mexico
3) Edubase - Faculdade de Educação, Unicamp
4) Bibliografia Brasileira de Educação - BBE
CIBEC / INEP / MEC
5) Latindex - Sistema Regional de Información en Línea para Revistas Científicas
de América Latina, El Caribe, España y
Portugal
6) Catálogo Coletivo Nacional – Instituto
Brasileiro em Ciência e Tecnologia –
IBICT
7) INDEX PSI – Periódicos – Conselho
Federal de Psicologia
8) DBFCC – Descrição Bibliográfica
Fundação Carlos Chagas
9) PEPSIC – Periódicos Eletrônicos em
Psicologia
Editora Responsável: Maria Irene Maluf
Revisão e Assessoria Editorial:
Rosângela Monteiro
Editoração Eletrônica: Rudolf Serviços Gráficos
O conteúdo dos artigos aqui publicados é de
inteira responsabilidade de seus autores, não
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do corpo editorial.
É expressamente proibida qualquer modalidade de reprodução desta revista, seja total ou
parcial, sob penas da lei.
Psicopedagogia: Revista da Associação Brasileira de Psicopedagogia /
Associação Brasileira de Psicopedagogia. - Vol. 10, nº 21 (1991). São
Paulo: ABPp, 1991Quadrimestral
ISSN 0103-8486
Continuação, a partir de 1991, vol. 10, nº 21 de Boletim da
Associação Brasileira de Psicopedagogia.
1. Psicopedagogia. I. Associação Brasileira de Psicopedagogia.
CDD 370.15
Acesse a revista na íntegra: www.revistapsicopedagogia.com.br
Diretoria da Associação
Brasileira de Psicopedagogia
TRIÊNIO 2014/2016
Presidente
Luciana Barros de Almeida (GO)
1ª Secretária Administrativa
Maria Teresa Messeder Andion (SP)
Vice-Presidente
Edimara de Lima (SP)
2ª Secretária Administrativa
Heloísa Beatriz Alice Rubman (RJ)
1ª Tesoureira
Quézia Bombonatto (SP)
1ª Assessora Científica
Marisa Irene Siqueira Castanho (SP)
2ª Tesoureira
Ana Paula Loureiro e Costa (RJ)
2ª Assessora Científica
Evelise Maria Labatut Portilho (PR)
Assessorias
Assessora de Publicações Científicas
Maria Irene Maluf (SP)
Assessoras de Relações Públicas
Débora Silva de Castro Pereira (Ba)
Galeára Matos de França Silva (Ce)
Marilene Ribeiro de Azevedo (Go)
Assessoras de Comunicação e Divulgação
Iara Caierão (Rs)
Maria José Weyne Melo de Castro (Ce)
Maria Katiana Veluk Gutierres (Rj)
Conselheiras Vitalícias
Beatriz Judith Lima Scoz
Edith Rubinstein
Leda Maria Codeço Barone
Maria Cecília Castro Gasparian
Maria Célia Malta Campos
Sp
Sp
Sp
SP
Sp
Assessora de Formação e Regulamentação
Neide De Aquino Noffs (SP)
Maria Irene Maluf
Sp
Mônica H. Mendes
Sp
Neide de Aquino Noffs
Sp
Nívea Maria de Carvalho Fabrício
Sp
Quézia BombonattoSP
Conselheiras Eleitas – Gestão 2014/2016
Ana Paula Loureiro e Costa
Clarissa Farinha Candiota
Débora S. de Castro Pereira
Evelise Maria Labatut Portilho
Fabiani Ortiz Portella
Francisca Francineide Cândido
Galeára Matos de França Silva
Iara Caierão
Joyce Maria Barbosa de Pádua
Luciana Barros de Almeida
Luciana Queiroz Bem Portela
RJ
RS
BA
PR
RS
CE
CE
RS
PI
GO
CE
Márcia Alves Simões Maria Cristina Natel
Maria José Weyne M. de Castro
Maria Teresa Messeder Andion
Marisa Irene Siqueira Castanho
SP
SP
CE
SP
SP
Suplentes
Edimara de Lima
Heloisa Beatriz Alice Rubman
Jozélia de Abreu Testagrossa
Márcia Alves Affonso
SP
RJ
BA
SP
Associação Brasileira
de Psicopedagogia
sumário
EDITORIAL / EDITORIAL
• Irene Maluf....................................................................................................................................235
ARTIGO ESPECIAL / SPECIAL ARTICLE
• Papel das funções cognitivas, conativas e executivas na aprendizagem:
uma abordagem neuropsicopedagógica
Role of cognitive, conative and executive functions in learning:
a neuropsychopedagogical approach
Vitor da Fonseca............................................................................................................................236
ARTIGO ORIGINAL / ORIGINAL ARTICLE
• Evolução do desempenho da atenção e da memória operacional em crianças
de escola pública e particular
Performance evolution of attention and work memory in public and private school students
Giovanna Beraldo de Azambuja Silva; Tais de Lima Ferreira; Sylvia Maria Ciasca.................254
ARTIGOS DE REVISÃO / REVIEW ARTICLES
• Dados recentes da Neurociência fundamentam o método “Brain-Based Learning”
Brain-Based Learning is confirmed by recent data in Neuroscience
Angela Souza da Fonseca Ramos.................................................................................................263
• Deslocamentos teóricos da noção da “relação com o saber” e suas possibilidades
para a análise psicopedagógica das aprendizagens escolares
Theoretical displacement of the notion of ‘relationship to knowledge’ and its possibilities
for psycho-pedagogy analysis of school learning
Soledad Vercellino; Romina Van den Heuvel; Mariana Guerreiro.............................................275
• Transtorno de déficit de atenção e hiperatividade: um recorte da produção científica recente
Attention deficit hyperactivity disorder: a snippet of the recent scientific production
Andréia Migliorini Luizão; Rosa Maria Junqueira Scicchitano.................................................289
RELATO DE EXPERIÊNCIA / EXPERIENCE REPORT
• Proposta de atuação psicopedagógica na Diretoria Municipal de Educação de Cajamar
Proposed action psychopedagogic in municipal board of education Cajamar
Neide de Aquino Noffs; Maria Eloisa Godinho; Maria Matta Ferreira;
Juliana G. da Silva Vieira..............................................................................................................298
EDITORIAL
O
artigo especial que abre a 96a edição da Revista Psicopedagogia é uma
valiosa contribuição internacional de Vitor da Fonseca, “Papel das
funções cognitivas, conativas e executivas na aprendizagem: uma
abordagem neuropsicopedagógica”. Esse trabalho, de relevância tanto na
área educacional como psicopedagógica, resume grande parte das abordagens
neurocientíficas mais atualizadas sobre aprendizagem, mas lhes conferindo
um entendimento mais profundo e amplo.
A ele segue-se o artigo original “Evolução do desempenho da atenção e da
memória operacional em crianças de escola pública e particular”, de Giovanna
Beraldo de Azambuja Silva, Tais de Lima Ferreira e Sylvia Maria Ciasca, que
aborda assunto de grande interesse. Esse texto descreve uma pesquisa que
nos permite observar a evolução e as diferenças existentes no desempenho da
atenção e da memória operacional entre crianças de escola pública e particular
submetidas à aplicação de três subtestes da Escala Wechsler de Inteligência
para Crianças (WISC-IV).
“Dados recentes da Neurociência fundamentam o método ‘Brain-Based
Learning” foi o artigo de revisão que nos foi enviado por Angela Souza da
Fonseca Ramos e que tem como principal objetivo apresentar os novos achados
da Neurociência e relacioná-los com a práxis pedagógica.
É da autoria de Soledad Vercellino, Romina Van den Heuvel e Mariana
Gue­r­reiro o trabalho “Deslocamentos teóricos da noção da relação com o saber e suas possibilidades para a análise psicopedagógica das aprendizagens
escolares”, em que são descritas as distintas deslocações que se têm suscitado
com a noção de relação com o saber ao seu uso efetivo, em trabalho de pesquisa
empírica e teórica de diferentes áreas disciplinares.
“Transtorno de déficit de atenção e hiperatividade: um recorte da produção científica recente”, de Andréia Migliorini Luizão e Rosa Maria Junqueira
Scicchitano, é uma artigo de revisão que teve como objetivo realizar um le­van­
tamento de artigos publicados no Brasil nos últimos cinco anos sobre o Trans­
torno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), bem como verificar a
formação profissional dos autores desses artigos e a quantidade de publicações
de psicopedagogos.
Integra, ainda, esta edição o artigo “Proposta de atuação psicopedagógi­
ca na diretoria municipal de educação de Cajamar”, de autoria de Neide de
Aquino Noffs, Maria Eloisa Godinho, Maria Matta Ferreira e Juliana G. da Silva
Vieira. Esse interessante artigo apresenta uma proposta da atuação psicopedagógica institucional no segmento da educação infantil, ensino fundamental
I e ensino fundamental II das Escolas da Rede de Ensino Municipal, situado
na cidade de Cajamar – São Paulo.
Certas de entregarmos uma edição sucinta e densa, desejamos a todos nossos
leitores que usufruam do melhor desses trabalhos, para sua formação e informação profissional.
Irene Maluf
Editora
Rev. Psicopedagogia 2014; 31(96): 235
235
Fonseca
V
ARTIGO
ESPECIAL
Papel das funções cognitivas, conativas e
executivas na aprendizagem:
uma abordagem neuropsicopedagógica
Vitor da Fonseca
INTRODUÇÃO
Observando o cérebro em situação de apren­
dizagem, a neuroimagiologia confirma a ocorrência de macro e microtransformações neuronais, quer no surgimento e fortalecimento de
sinapses, quer na criação de circuitos, redes e
sistemas neurofuncionais, assim como no acréscimo de eficácia na velocidade de transmissão
e precisão conexiva. Em qualquer processo de
aprendizagem, portanto, inúmeros neurônios
interagem sistemicamente e coíbem-se dinamicamente.
Saber como o cérebro evoluiu, evolui e funciona é determinante para o sucesso não só na
aprendizagem como no ensino, o chamado processo ensino-aprendizagem, que consubstancia
a característica única da espécie humana de
transmitir a cultura intergeracionalmente, ou
seja, entre seres maturos e experientes e seres
imaturos e inexperientes1-5.
Apesar da capacidade de aprendizagem ser
inerente a várias espécies, principalmente, às
aves e aos mamíferos e, particularmente aos
primatas, a espécie humana é a única que ensina
de forma intencional e sistemática. Conhecer,
portanto, quais são os fundamentos neuropsicopedagógicos da aprendizagem é crucial para
aperfeiçoar o ensino. É dentro desse paradigma
central da educação que iremos abordar o papel
das funções cognitivas, conativas e executivas
na aprendizagem.
A neuropsicopedagogia revela-nos as habilidades do cérebro, quer dos alunos quer dos
professores. Nos alunos, quando se comportam de
forma socialmente positiva, e quando aprendem
a usar os instrumentos cognitivos (linguagem
corporal, artística, falada, escrita e quantitativa)
da cultura em que estão inseridos. Nos professores, quando transmitem, mediatizam e ensinam
competências e conhecimentos, uma vez que
está implícita no ato educativo uma interação entre dois sujeitos, isto é, uma intersubjetividade6-9.
Traduzir os dados de investigação das neurociências para a educação, com o objetivo principal de melhorar a aprendizagem dos alunos
e o ensino dos professores, é um dos grandes
desafios do século XXI, por essa razão, pensamos que a neuropsicopedagogia (neurociência
educacional) não pode continuar a ser negligenciada pelas Ciências de Educação10,11.
Em síntese, a neuropsicopedagogia procura
reunir e integrar os estudos do desenvolvimento, das estruturas, das funções e das disfunções
do cérebro, ao mesmo tempo que estuda os
pro­cessos psicocognitivos responsáveis pela
aprendizagem e os processos psicopedagógicos
responsáveis pelo ensino.
A neuropsicopedagogia pode ter um impacto
positivo no desenvolvimento profissional dos
professores e no sucesso intra e interpessoal dos
alunos, motivo principal pelo qual escrevemos
este texto. Como novo paradigma transdisciplinar,
Vitor da Fonseca – Professor Catedrático Agregado,
Universidade de Lisboa, Consultor Psicoeducacional
do CORPE, Lisboa, Portugal.
Correspondência
Vitor da Fonseca
E-mail: [email protected]
Rev. Psicopedagogia 2014; 31(96): 236-53
236
Papel das funções cognitivas, conativas e executivas na aprendizagem: uma abordagem neuropsicopedagógica
ela abre caminho à noção dos estilos de ensino
e de estilos aprendizagem, e na base das suas
investigações, rompe com os mistérios de como o
cérebro humano processa informação e aprende.
De acordo com as suas formulações concei­
tuais, o ensino já não é mais concebido como
uma instrução, mas como uma transmissão cultural que combina a ciência com a arte, para criar
ecossistemas de aprendizagem mais produtivos
e onde todas as crianças aprendam, tendo em
consideração a sua neurodiversidade.
Para ensinar com eficácia é necessário olhar
para as conexões entre a ciência e a pedagogia
– ensinar sem ter consciência como o cérebro
funciona é como fabricar um carro sem motor.
Não se vê o motor, mas sem ele o carro não anda.
O cérebro, como órgão da Civilização, logo da
cognição e da aprendizagem, contém cerca de
100 bilhões de neurônios12-14. Cada neurônio ou
célula nervosa é composto: de dendritos, prolongamentos pequenos que recebem informações
proximais; de corpo celular ou soma, que contém
o núcleo com o seu código genético e mitocôndrias que produzem energia; e de axônios, prolongamentos maiores que emitem informações
distais. Cada uma dessas células nervosas pode
ainda comportar 1.000 a 10.000 conexões com
outros neurônios, tal é a incomensurabilidade da
sua comunicação química e elétrica por via das
sinapses15,16. Sem essa impressionante comunicação, a evolução e a educação da nossa espécie
não seriam possíveis.
No seu todo, o órgão mais organizado do or­
ganismo e do universo possui cerca 1.200 a 1.350
centímetros cúbicos de volume, pesa cerca de
1.450 gramas, ou seja, cerca de 2% do peso do
corpo, mas consome mais de 20% da sua energia
disponível16-21. De fato, o cérebro é uma estrutura
impressionante, que nos define quem somos
como indivíduos únicos, totais e evolutivos, é a
ela que devemos a nossa experiência de ensino
e de aprendizagem do mundo envolvente.
As suas fibras nervosas, se esticadas, podem
chegar a alcançar perto de 170 mil quilometros,
perfazendo cerca de 4 voltas à Terra, algo transcendente e extraordinário. A sua rede neuronal
pode atingir 100 trilhões de sinapses e possuir
mais de uma dezena de centros hiperconectados
ou módulos que facilitam o fluxo de tráfego de
informações e a sua rápida transmissão entre
as diferentes zonas do cérebro e do corpo, consubstanciando o organismo mais complexo do
cosmos que é conhecido19,20.
Encolhido e enrugado no crânio, implantado
evolucionariamente no topo do corpo, o cérebro
com as suas fibras e redes superintrincadas, em
série e em paralelo, é a nossa pequena-grande
intranet, para exprimir a cognição e para aprender a aprender10,22.
Efetivamente, em termos neuropsicopedagógicos, os neurônios podem ser considerados
as células da aprendizagem, pois são elas em
si, mais a interação que recriam com as células
denominadas glias, que sustentam e consolidam,
somaticamente, qualquer tipo de aprendizagem,
seja a mais simples de tipo sensório-motor, práxica, não-simbólica ou não-verbal, seja a mais
complexa do tipo operacional, simbólica ou verbal, como são a leitura, a escrita e a matemática.
A cognição e a inteligência humana emergem
dos neurônios que constituem, principalmente,
o neocórtex humano – o maior do reino ani­
mal –, uma camada de seis camadas (molecular,
granular externa, piramidal externa, granular
interna, piramidal interna e multiforme) com
alguns milímetros de espessura enrugada, circunvolucionada e sulcada, que recobre a quase
totalidade da superfície dos dois hemisférios
cerebrais23-26.
O hemisfério direito e o hemisfério esquerdo,
grandes sistemas complementares de tratamento
de informação, hiperligados pelo corpo caloso,
mas curiosamente vocacionados para distintas
formas do seu processamento e armazenamento. O primeiro, mais centrado na novidade,
na globalidade e na criatividade, que assume
a prioridade da aprendizagem, e o segundo,
mais enfocado na rotina, na análise e na complexidade, que consolida a sua sequencialidade
“perfeitológica”.
A rede principal do neocórtex é composta, na
sua maioria, por axônios e interneurônios, que
Rev. Psicopedagogia 2014; 31(96): 236-53
237
Fonseca V
transmitem informação a outras células, quer
a nível proximal, quer distal, assim como, por
células especiais em forma de castiçal, que são
capazes de ativar simultaneamente múltiplas
zonas cerebrais, além de células piramidais
gi­gantes capazes de executar comandos até às
extremidades do corpo (pés, mãos e boca) com as
quais o ser humano expressa a sua motricidade,
a sua sensibilidade e a sua cognitividade20.
Por efeitos dessa imensa interconectividade e
de uma mais eficaz e veloz comunicação entre
os neurônios, o cérebro humano expandiu-se ao
longo da evolução, de forma exponencial, nas
zonas corticais, e de forma menos dilatada, nas
zonas subcorticais.
Expandiu-se essencialmente nos seus lobos
sensoriais posteriores, ou seja, no lobo occipital
dedicado ao processamento visual, no lobo temporal especializado no processamento auditivo
e no lobo parietal devotado ao processamento
tátil-cinestésico, que no seu conjunto se pode
considerar como o córtex de reconhecimento, mas
também se expandiu no seu lobo frontal anterior
e motor, particularmente no córtex pré-frontal de
forma singular, fazendo dele uma superestrutura
supereficaz e uma espécie de chefe de orquestra
de todas as funções mentais, que no seu todo se
pode considerar como o córtex estratégico27-29.
Não é de surpreender, portanto, que qualquer
processamento de informação ou qualquer ato de
cognição exija uma íntima conectividade entre
os sistemas corticais de reconhecimento e os
sistemas corticais estratégicos. Qualquer tipo de
aprendizagem fluente e automatizada, compro­
vam-no em termos de imagiologia funcional.
Por meio dessa impressionante conectividade com as demais áreas cerebrais (gânglios da
base, sistema límbico, tálamo, tronco cerebral e
cerebelo), de onde emergiram complexas redes
neurofuncionais, um novo patamar de capacidades superiores, ditas cognitivas, conativas
e executivas, profundamente interconectadas
sis­temicamente foi então possível de atingir na
filogênese humana19.
Como no cérebro humano existem inúmeros
neurônios interconectados por sinapses mais
potentes, a virtualidade e a velocidade da transmissão nervosa tornou-se sequencialmente mais
longa, permitindo uma performance não só mais
monitorizada, como mais planificada e regulada.
A cognição, a conação e a execução que fazem
parte da plenitude das faculdades mais subtis e
superiores do ser humano, emanam, portanto,
da coatividade de milhões de neurônios, resulta,
consequentemente, de mecanismos biológicos e
substratos neurológicos do cérebro, demonstrando a impossibilidade de separar a função do sistema nervoso de qualquer forma de aprendizagem,
seja da mais natural, simples e não-verbal, seja a
mais cultural, complexa e verbal.
Qualquer aprendizagem humana emerge,
consequentemente, de múltiplas funções, capacidades, faculdades ou habilidades cognitivas
interligadas, quer de recepção (componente
sensorial – input), quer de integração (componentes perceptiva, conativa, mnésica e representacional), quer de planificação (componentes
antecipatória e decisória), quer finalmente, de
execução ou de expressão de informação (componente motora – output).
A arquitetura do funcionamento do sistema
cognitivo humano ilustra, assim, a interação contígua, contínua e holística da informação entre
o envolvimento e o organismo materializada em
redes neuronais que asseguram a conexão das
unidades de entrada, com as unidades de saída,
ambas mediadas por redes centrais que permitem a integração, a retenção, a recirculação, a
reciclagem, a auto-organização e a retroação
da informação, isto é, tornam-a uma rede neurofuncional especialmente apta para aprender
(Figura 1).
Tratam-se de predisposições ou tendências
da cognição humana, a que nos dedicamos em
outras obras30-34, mas que não se esgotam na
teoria de aprendizagem do processamento de
informação, porque o ser humano não se resume
a um mero computador, pois é dotado também
de autopreservação e conação, isto é, de sensibilidade, de personalidade e de sociabilidade.
Além de processar informação que espelha
a sua consciência cognitiva, o ser humano sen­
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238
Papel das funções cognitivas, conativas e executivas na aprendizagem: uma abordagem neuropsicopedagógica
e interatividade, conforme modelo simplificado
apresentado na Figura 2.
O termo cognição é, consequentemente, sinônimo de “acto ou processo de conhecimento”, ou
“algo que é conhecido através dele”, o que envolve a coativação integrada e coerente de vários
instrumentos ou ferramentas mentais, tais como:
atenção; percepção; processamento (simultâneo e sucessivo); memória (curto termo, longo
termo e de trabalho); raciocínio, visualização,
planificação, resolução de problemas, execução
e expressão de informação. Naturalmente que
tais processos mentais decorrem por um lado da
transmissão cultural intergeracional, e por outro,
da interação social entre seres humanos que a
materializam1.
A cognição é, portanto, sistêmica, emerge do
cérebro como o resultado da contribuição, interação e coesão do conjunto de funções mentais
acima apontadas que operam segundo determinadas propriedades fundamentais30,31, a saber:
• totalidade (noção de integração);
• interdependência (noção de coibição);
• hierarquia (noção de maturidade e complexidade);
• autorregulação (noção de busca de objetivos e fins a atingir);
• intercâmbio (noção de referência e efeito
da experiência);
• equilíbrio (noção de homeostasia);
• adaptabilidade (noção de modificabilidade); e finalmente,
• equifinalidade (noção de vicariedade, ou
seja, de execução e duplicação do pensamento pela ação).
Para simplificar, diremos que a aprendizagem
humana espelha uma mudança de comportamento provocada pela experiência prolongada
(no mínimo 2.000 horas de prática sistemática),
sendo este descrito como uma sequência de
operações e estádios mentais que compreendem,
conforme o modelo acima apresentado, uma
outra tríade de funções e subfunções cognitivas:
• funções de input, de recepção ou de captação (atenção sustentada; percepção
ana­lítica; sistematização na exploração
Figura 1 – Tríade funcional da aprendizagem humana. A
interatividade e a inseparabilidade dinâmica da cognição, da
conação e da execução permitem a emergência e a sustentação do processo da aprendizagem humana.
te-a, registra-a, internaliza-a e tem tendências
preferenciais, emocionais, motivacionais e
motoras por ela. É, portanto, possuidor de uma
consciência conativa (da noção de conatus de
Espinoza brilhantemente aprofundada por Damásio35-37), e de uma consciência executiva, pois
somos a única espécie que tem consciência que
tem consciência.
Eis aqui o paradigma da aprendizagem humana que queremos explorar, razão pela qual desejamos evocar a estreita intrincação e interação
das funções cognitivas com as funções conativas
e executivas.
Vejamos, em primeiro lugar, as funções cognitivas e, em seguida, as funções conativas e
executivas.
FUNÇÕES COGNITIVAS DA APRENDIZAGEM
Explicar a cognição e intervir na sua modificabilidade, que é um dos objetivos cruciais
da educabilidade do ser humano, a que já nos
referimos em outras obras30,31, pressupõe, em
primeiro lugar, concebê-la como tendo origem
social1,5,38,39 e como sendo composta por três componentes principais do processo total de informação em estreita conectividade, sequencialidade
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239
Fonseca V
Figura 2 – Modelo de processamento de informação da aprendizagem.
de dados; discriminação e ampliação de
instrumentos verbais; orientação espacial
com sistemas de referência automatizados; priorização de dados; conservação
e agilização de constâncias (tamanho,
forma, quantidade, profundidade, movimento, cor, orientação, dados intrínsecos
e extrínsecos, etc); precisão e perfeição na
apreensão de dados; filtragem, fixação,
focagem e flexibilização enfocada de
fontes de informação simultânea; etc;
• funções de integração, retenção e de planificação (definição detalhada de situações-problema; seleção de dados relevantes; minimização e eliminação de dados
irrelevantes; comparação, classificação
e escrutínio de propriedades comuns e
incomuns de dados; estabelecimento de
comparações, ligações, semelhanças, dis­
semelhanças, analogias; memorização,
retenção, localização, manipulação e
re­cuperação da informação; ampliação
do campo mental em jogo; integração
sistemática da realidade; estabelecimento
de relações e de sistemas de relações;
organização e monitorização dos meios
necessários; supervisão das situações e
dos problemas; elaboração conceptual;
for­m ulação ideacional; utilização de
comportamentos quantitativos; explora­
ção da evidência lógica; utilização do
pensamento dedutivo, inferencial, crítico
e criativo; desenho de estratégias para
testagem de hipóteses; planificação, antecipação e pragmatização de objetivos,
fins e resultados; visualização e interiorização da informação; flexibilização de
procedimentos; etc.;
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240
Papel das funções cognitivas, conativas e executivas na aprendizagem: uma abordagem neuropsicopedagógica
jovens que lutam diariamente na sala de aula
para terem mais rendimento e aproveitamento
na aprendizagem.
O treino de funções cognitivas, conativas e
executivas é, quanto a nós, uma das chaves do
sucesso escolar e do sucesso na vida, quanto mais
precocemente for implementado, mais facilidade
tende a emergir nas aprendizagens subsequentes.
O aperfeiçoamento e o enriquecimento da
tríade de funções mentais da aprendizagem
resulta de uma alquimia neuropsicopedagógica
complexa porque elas influenciam-se mutuamente em termos de comportamento, de performance e produtividade.
De fato, à luz das neurociências, as funções
cognitivas operacionais e sistêmicas, como: o
enfoque e a concentração atencionais; o processamento simultâneo e sucessivo, analítico e
sintético, rápido e preciso de dados; a memória
de trabalho; o raciocínio analógico, indutivo e
dedutivo; a planificação, a elaboração e a execução de soluções de problemas e de respostas
adaptadas a situações ou tarefas têm um impacto
direto, funcional ou disfuncional, nas funções
conativas e executivas.
• funções de output, de execução ou de expressão (comunicação clara, conveniente,
compreensível, desbloqueada e contextualizada; projeção de relações vir­tuais;
transposição psicomotora (transporte
idea­tório, ideomotor e visuográfico); expressão verbal fluente e melódica; regulação, inibição, iniciação, persistência, perfeição, verificação, conclusão e precisão
de respostas adaptativas; enriquecimento
de instrumentos não-verbais e verbais
de expressão; avaliação e retroação das
soluções criadas; etc.);
Embora a cognição humana não possa ser
reduzida a um modelo de processamento de
informação puro (metáfora computacional),
por efetivamente ilustrar um modelo exageradamente simples, é consensual equacionar
que a cognição e o ato de aprender envolvem a
integração dinâmica, coerente e sistêmica das
três ferramentas cognitivas principais acima
referidas12,16,30,31,40,41.
Trata-se de uma teoria que foi fundadora das
ciências cognitivas, principalmente da inteligência artificial, da cibernética e da robótica, que
serve para explicar, de modo fácil e acessível,
o que é a cognição e o que se passa mais ou
menos na cabeça dos alunos quando aprendem
ou quando pensam e agem de forma inteligível.
Identificar naquelas três funções principais
do ato mental as suas subfunções ou capacidades
componentes fortes, proximais ou fracas é um
primeiro passo para avaliar dinamicamente, e
depois, intervir personalizadamente na cognição do indivíduo (aluno, formando, etc.), não
esquecendo que, quando falamos de cognição,
na nossa ótica falamos, simultaneamente, de
conação e de execução, a tríade funcional da
aprendizagem a que já nos referimos.
Aprender a aprender é, portanto, praticar,
treinar, aperfeiçoar e redesenvolver tais funções
e capacidades cognitivas, integrando harmoniosamente as capacidades conativas e executivas,
que são pouco estimuladas culturalmente e
escolarmente, por isso, mal adaptadas, deficitárias, frágeis ou fracas em muitas crianças e
FUNÇÕES CONATIVAS DA APRENDIZAGEM
As funções conativas, no seu aspecto mais
positivo, pois encerram igualmente um aspecto
negativo, dizem respeito em termos simples à
motivação, às emoções, ao temperamento e à
personalidade do indivíduo42.
Em termos de substratos neurológicos falamos do sistema límbico (córtex afetivo), uma
região subcortical mais profunda do cérebro e
envolvida, digamos assim, nas relações do organismo com o seu envolvimento presente e passado (imediato, curto e longo prazo), integrando
estruturas muito importantes para a memória e a
aprendizagem, como a amígdala, o hipocampo,
o córtex cingulado e os corpos mamilares16,37,43-46.
A conação, na sua essência semântica, é sinônimo de estado de preparação do organismo
para certas tarefas ou situações, particularmente
as que têm valor de sobrevivência (ameaça, perigo, ansiedade, insegurança, desconforto, etc.).
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Fonseca V
Pode ser concebida igualmente, como auto­
preservação, de bem-estar e de interação social,
que incluem representações indutoras de sentimentos (conscientes ou inconscientes, positivos
ou negativos). A palavra conação tem raízes
no termo latino de “conatus” pela primeira vez
introduzido por Espinoza, grande filósofo racionalista do século XVII.
Diferentemente de Descartes, Espinoza não
acreditava nas dualidades do espírito e da matéria ou da mente e do corpo, os seus “teoremas
éticos”, abriram caminho ao estudo da rede de
comunicação entre o corpo, o cérebro e a mente
como um sistema interativo complexo altamente
distribuído e com grandes graus de liberdade,
mas possuidor de um “posto de comando”, um
“Eu”, considerado como atributo fundamental
de uma mente consciente29,37,47,48.
No pensamento de Espinoza, o comportamento humano é determinado por emoções,
consideradas como a força principal de impulsos
naturais que emanam do corpo e o impelem para
a ação, disposições tônico-energéticas essas que
visam a preservar a essência mais profunda do
ser humano com a criação subsequente de sentimentos de si e dos outros.
As emoções resultam, portanto, de simples e
complexas reações que facilitam a sobrevivência
do organismo e, por isso, podem ser preservadas
ao longo da evolução, como se a natureza conservasse a vida como algo precioso e precário37.
As emoções consideradas como: estados ou
processos que preparam o organismo para certos comportamentos; reações psíquicas a determinadas circunstâncias; esquemas de ação
adaptativos; impulsos internos; “inner drives”,
somatizações; etc., que precedem os sentimentos e emergem do corpo em termos evolutivos e
desenvolvimentais, podem ser similares a dois
tipos de procedimentos adaptativos: os facilitadores, marcados por inclinações, predileções,
propensões, tendências, etc., e os inibidores,
marcados por bloqueios, resistências, desmotivações, sofrimentos, etc.
Ambos os processos, ditos conativos, como
é óbvio, têm um poderoso impacto nas funções
cognitivas, por um lado, e nas funções executivas, por outro, logo, têm uma influência
dominante em todo o processo complexo da
aprendizagem humana16,31,42,48.
Tais autopreservações de sobrevivência do
organismo, que ocorrem no indivíduo aprendente imaturo, quando colocado em situação
de dificuldade ou estresse de aprendizagem ou
até em situação de interiorizar novos esquemas
mentais, podem afetar a disponibilidade, o empenho, o equilíbrio, a decisão, o investimento,
o esforço e a diligência para a modificabilidade
adaptativa.
Podem mesmo, em termos comportamentais,
evocar processos de internalização (estagnação,
passividade, insipidez, improdutividade, evitamento, alheamento, etc.), ou de externalização
(rejeição, recusa, repulsa, distância, oposição,
negação, instabilidade, agitação, etc.).
A aprendizagem humana dificilmente decorre numa atmosfera de sofrimento emocional, de
incompreensão penalizante ou debaixo de uma
autorepresentação ou autoestima negativas,
exatamente porque ela tem, e assume sempre,
uma significação afetiva, isto é, conativa.
Como resultado positivo de tais significações
emocionais, os sistemas afetivos subcorticais
operacionalizam prioridades, desenvolvem preferências, constróem confianças e seguranças,
mobilizam persistências e resiliências face a dificuldades ou limitações, numa palavra, conjugam
atitudes que cuidam da aprendizagem, não só
da sua automaticidade e fluência como da sua
perfectibilidade e intencionalidade.
Em contrapartida, vulnerabilidades do sistema límbico podem criar barreiras a tais habilidades conativas, podem mesmo explicar a desmotivação, a desorganização, a desplanificação, a
perda de estratégias de atenção, criação, busca
e conquista de objetivos e fins a atingir, etc., que
se repercutem quer nas funções cognitivas, quer
nas funções executivas.
Com hesitações e fragilidades nas funções
conativas, as funções cognitivas e as funções
executivas tendem a perder a sua coerência e
a sua sinergia, a consequência óbvia é uma des­
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Papel das funções cognitivas, conativas e executivas na aprendizagem: uma abordagem neuropsicopedagógica
focagem atencional, um desinvestimento emocional e uma escotomização cognitiva.
A conação diz respeito, em síntese, à motivação, ao temperamento e à personalidade, subentende o controle e a regulação tônico-energética
e afetiva das condutas, ou da realização e conclusão de tarefas de aprendizagem, reforçando,
assim, a inseparabilidade e irredutibilidade das
funções cognitivas, conativas e executivas.
A conação coloca em jogo, em termos dispo­
sicionais, intencionais e tendenciais, três componentes de otimização funcional (Figura 3):
• a de valor (porque faço a tarefa);
• a de expectativa (que faço com a tarefa);
• a afectiva (como me sinto na tarefa).
Pela relevância que possuem em termos de
disposição quase inata de preservação do eu e da
luta pelo seu equilíbrio face a uma determinada
tarefa de aprendizagem ou situação-problema,
as funções conativas não podem ser separadas
das funções de processamento nem das funções
executivas da informação.
As funções conativas, assumem por essa natureza um papel crucial na aprendizagem, pois,
sem a dimensão homeostásica da afetividade, a
aprendizagem não se desenrola como um todo
funcional harmonioso, nem se transforma num
estado de plasticidade ou de perfetibilidade e
automaticidade32. As funções cognitivas, conativas e executivas constituem-se como atributos
paralelos e convergentes de uma mesma função
integradora e transcendente que é a aprendizagem.
A transição do organismo operada em qualquer aprendizagem de um estadio inicial e
imaturo para um estadio final e fluente, seja
aprender a nadar ou a andar de bicicleta, seja
aprender a ler ou a escrever, reveste-se de um
aperfeiçoamento de desempenho que envolve
um sentimento de competência, de prazer, e
mesmo, de liberdade.
Em contrapartida, quando a aprendizagem
gera desequilíbrios funcionais e emocionais,
quer cognitivos, quer executivos, as funções
conativas podem impedir a coordenação neurofuncional ótima requerida pela aprendizagem,
nesse caso podem então ocorrer sentimentos
de incompetência, de desprazer, e mesmo, de
desconforto e insegurança.
As funções cognitivas não podem ser concebidas numa mera visão computacional, pois não
podemos esquecer que os computadores não têm
predadores, não se socializam, não se enamoram, apaixonam ou acasalam. Ao contrário dos
cérebros dos seres humanos, os computadores
não dispõem de funções conativas.
Na dimensão de uma aprendizagem bem sucedida, as funções conativas positivas nutrem o
interesse, o desejo, a motivação, a curiosidade, o
empenho, o esforço, a diligência, o entusiasmo,
o prazer, o sentimento de competência, a autorrealização e a autoeficácia e outras necessidades
superiores exclusivas da espécie humana49.
No seu aspecto negativo (no caso do insucesso escolar ou das dificuldades de aprendizagem
globais ou específicas), as funções conativas
podem dar origem a estados emocionais opostos,
como: a desmotivação, o desprazer, o desespero,
o desgosto, o desencanto, a frustração, a fuga, a
rejeição, o estigma, a opressão, o afrontamento,
a indisciplina, o fastio, os mecanismos de defesa,
etc., que podem provocar dissonância e disrupção na aprendizagem e bloquear e fragmentar
as funções cognitivas e as funções executivas.
Como o nosso cérebro está sempre aprendendo, ele também pode aprender a não aprender
(“learned helplessness”), por via do esgotamento
Figura 3 – Funções conativas da aprendizagem.
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243
Fonseca V
À luz das neurociências, como temos apresentado, as funções conativas estão intimamente
agregadas neurofuncionalmente e sistemicamente às funções cognitivas já abordadas e às
funções executivas que abordaremos em seguida. O ser humano (aluno, formando, estagiário, etc.) não é, consequentemente, concebido
apenas como um sistema de processamento de
informação, mas sim como um ser relacional
e emocional, como um sujeito histórico-social
constituído por atitudes e por condutas1,5.
Além das funções cognitivas e das conativas a
que já nos referimos sumariamente, importa sublinhar que a aprendizagem bem sucedida envolve
também outro conjunto de habilidades consideradas críticas, isto é, as funções executivas.
das funções conativas da autoestima, da autodeterminação e da autoconfiança, as verdadeiras
disposições mágicas para gostar de aprender32,50.
É fácil perceber que as funções cognitivas
interagem dialeticamente com as funções conativas no processo dinâmico da aprendizagem. Por
um lado, porque as funções cognitivas respeitam
ao processamento da informação, por outro, porque as funções conativas integram a motivação e
o esforço anímico das condutas que a executam
e a pragmatizam.
Em traços simples, as funções conativas são a
punção ou impulsão energética das funções cognitivas, e porque estão adstritas à performance e
ao desempenho, elas cooperam com as funções
executivas na otimização comportamental e na
aprendizibilidade permanente.
O afetivo, o cognitivo e o executivo estão em
interação constante no processo da aprendizagem, porque as suas funções são indissociáveis
em termos neurofuncionais, e porque os seus
substratos neurológicos têm de operar em sintonia48.
O cérebro humano dispõe de substratos
neurológicos que são responsáveis pela gratificação ou recompensa decorrente do êxito ou
do triunfo adaptativo, por isso, somos a espécie
mais dependente da aprendizagem, nascemos
para aprender a aprender se a conação estiver
disponível e implícita.
Porque as funções cognitivas bem aplicadas e
bem sucedidas geram gratificação, recompensa,
entusiasmo, curiosidade e satisfação e produzem
uma representação valorizante no próprio indivíduo, as suas funções conativas também são
enriquecidas, resultando daí: mais empenho;
mais esforço; mais motivação intrínseca que extrinseca; mais estudo; mais perseverança; mais
atenção sustentada; melhor gestão do tempo;
mais planificação de esforços; mais disciplina;
mais poder de síntese; mais criatividade; etc.
Numa palavra, o indivíduo investe mais no aperfeiçoamento das suas competências performáticas e aprende melhor e mais continuadamente,
reunindo assim melhores condições favoráveis
à sua autorrealização49.
FUNÇÕES EXECUTIVAS DA APRENDIZAGEM
Pela importância que as funções executivas
têm na otimização e no controle da prestação
cognitiva e conativa, quer em situação de sobrevivência e de adaptação ao meio, quer de
apren­dizagem, de comportamento e de interação
social51-55, vejamos em particular alguns dos seus
pontos mais relevantes para a educação e para o
sucesso escolar (“academic success”).
As funções executivas coordenam e integram
o espectro da tríade neurofuncional da aprendizagem, onde estão conectadas com as funções
cognitivas e conativas que acabamos de abordar.
O seu piloto, diretor executivo, líder ou maestro
neurofuncional avançado é o córtex pré-frontal,
região que ocupa no cérebro humano quase um
terço do seu volume cortical29.
Como posto de comando que é do cérebro, o
córtex pré-frontal tem que manter excelentes linhas de comunicação com todas as outras áreas,
sendo mesmo a sua região mais conectada, daí a
sua função de coordenação e de integração das
funções cognitivas e conativas na aprendizagem.
O córtex pré-frontal está intimamente conectado com o córtex associativo posterior, a mais
elevada estrutura de integração perceptiva e de
reconhecimento multissensorial (visual, auditivo
e tatil-cinestésico), e obviamente conectado com
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Papel das funções cognitivas, conativas e executivas na aprendizagem: uma abordagem neuropsicopedagógica
o córtex pré(psico)motor, com os gânglios da
base e com o cerebelo, todos envolvidos na planificação, controle e execução da motricidade20,33,56.
Essa área, em termos evolucionistas16,19,29, é
considerada a mais recente do cérebro humano,
a que atingiu comparativamente maior desenvolvimento e mais conectividade, é igualmente
a que leva mais tempo a maturar ontogeneticamente.
Por alguma razão, as neurociências elegem-na como a área responsável pela regulação,
supervisão e controle performático das ações,
das emoções, dos pensamentos e dos comportamentos, denominada por essas disposições
neurofuncionais como o processo centrífugo,
descendente, eferente (“top-down”) ou de output
de informação.
Em resumo, trata-se do processo regente que
liga o homúnculo do cérebro aos músculos do
corpo, pelas vias pré(psico)motoras, suplementares, planificadoras, piramidais e terminais,
logo, enredado e comprometido com as funções
superiores de aprendizagem e de comportamento. Em resumo, o lobo frontal é responsável pela
planificação e execução da ação.
O córtex pré-frontal contém, ainda, um substrato superior, o dorsolateral que é responsável
pela produção de trabalho e pela sua supervisão
e (meta)cognição, ou seja, compreende a central
de expressão do comportamento onde se operam
funções estratégicas de enorme importância
para a sobrevivência, para a adaptação ao meio
ambiente e, obviamente, para a aprendizagem
escolar.
São exemplo dessas funções intencionais
de sagacidade: a iniciação e a planificação; a
elaboração e organização de estratégias; a sustentação da atenção; a flexibilidade e a plasticidade comportamental; a mudança estratégica;
a inibição e o autocontrole; a programação, a
desprogramação e a reprogramação de condutas; a monitorização, avaliação e verificação de
respostas adaptativas ou comportamentais; etc,
além de outras.
Obviamente que as disfunções executivas
dorsolaterais podem apresentar traços caracte-
rísticos de inatenção, desplanificação, desorganização e concomitantes limitações de acesso
à memória de trabalho, nesse contexto, tais
disfunções executivas aproximam-se de vários
sin­tomas das Perturbações ou Transtornos de
Hiperatividade e Déficit de Atenção (PHDA) e
das Dificuldades de Aprendizagem Específicas
(DAE) com que co-ocorrem frequentemente,
daí a noção de comorbilidades entre elas54. Em
síntese, todas as disfunções executivas referidas
têm um impacto significativo em dificuldades de
comportamento e de aprendizagem.
A mesma estrutura neurológica frontal contém também um outro substrato inferior, o orbital,
que é responsável pela gestão do comportamento
em geral, pela regulação emocional e social,
podendo envolver o controle e a modulação de
impulsos, bem como a decisão e a direção de
comportamentos complexos. Por analogia, as
disfunções executivas orbitais poderão causar
outros sintomas da PHDA e de DAE, como a
impulsividade verbal e gestual e o descontrole
emocional, sintomas estes bem conhecidos por
médicos, psicólogos, professores, terapeutas e
outros especialistas que acompanham os problemas de desenvolvimento e de aprendizagem
de muitas crianças e jovens.
Na idade digital atual em que nos encontramos, temos efetivamente que preparar os
nossos estudantes para a fluência e excelência
tecnológica, mas também temos de treiná-los
para dominar e manejar competências nos processos executivos necessários às aprendizagens
escolares.
Para ter sucesso escolar o estudante deve
evocar um conjunto muito diversificado de
competências executivas, a saber: estabelecer
objetivos; planificar, gerir, predizer e antecipar
tarefas, textos e trabalhos; priorizar e ordenar tarefas no espaço e no tempo para concluir projetos
e realizar testes; organizar e hierarquizar dados,
gráficos, mapas e fontes variadas de informação
e de estudo; separar ideias e conceitos gerais de
ideias acessórias ou de detalhes e pormenores;
pensar, reter, manipular, memorizar e resumir
dados ao mesmo tempo que lêem; flexibilizar,
Rev. Psicopedagogia 2014; 31(96): 236-53
245
Fonseca V
alterar e modificar procedimentos de trabalho
e abordagens a temas e tópicos de conteúdo,
aplicando diferentes estratégias de resolução
de problemas; manter e manipular informação
na memória de trabalho; automonitorizar o
progresso individual e do grupo de trabalho;
autorregular e verificar as respostas produzidas
e a conclusão, revisão e verificação de tarefas,
projetos, relatórios e trabalhos individuais ou
de grupo; refletir e responsabilizar-se pelo seu
estudo e sobre o seu aproveitamento escolar; etc.
O estudante, por definição, é um ser executivo,
sem pôr em prática tais habilidades, aprender
não vai ser fácil nem prazeroso para ele.
A maioria das tarefas escolares exige, de
fato, a coordenação e a integração coerente
das múltiplas funções executivas, não é de estranhar, portanto, que muitas crianças e jovens
com disfunções ou dificuldades executivas ou
com funções executivas vulneráveis e afuniladas, apresentem problemas de sobrecarga de
informação (onde o input excede o output), de
produtividade, de eficácia e de precisão nos seus
desempenhos escolares57,58.
Ler e compreender, formular ideias e escrevê-las, apreender enunciados de problemas matemáticos e planificar uma série de procedimentos
e operações para chegar à solução correta podem
revelar a luta titânica que muitas crianças e jovens travam na sala de aula.
Em muitos casos, a rotura entre as competências dos alunos e as exigências do currículo
é tão abismal que muitas disfunções executivas
acabam por estar na raiz das dificuldades de
aprendizagem e suas comorbidades52.
Quer na pré-escola ou no 1º ciclo de escolaridade, muito mais ainda no 2º e no 3º ciclo, e
claramente, no ensino universitário, as exigências das funções executivas eficientes vão sendo
maiores. As avaliações ou notas de alunos com
perfis disexecutivos podem não refletir o seu
potencial de aprendizagem, porque são a parte
submersa do iceberg das suas capacidades.
É a esse conjunto diversificado de competências mentais e frontais que denominamos por
funções executivas, funções muito significativas
que são exigidas para organizar e integrar informação disponível que não só nos surge hoje,
muito mais vasta (exemplo da Internet), como
é permanentemente sujeita a mudanças muito
mais rápidas e imprevisíveis.
Nas escolas contemporâneas, cada vez
mais se sujeitam os alunos a múltiplas tarefas,
tais como: leituras longas; resumos, notas e
apontamentos escritos complicados; resolução
de problemas de matemática muito longos e
complexos; projetos de trabalho prolongados;
testes e exames exigentes; que objetivamente
dependem, em muito, das funções executivas
que estamos abordando57.
Nesse contexto, é cada vez mais esperado
que os alunos sejam proficientes: a tirar apontamentos; a estudar; a prepararem-se para testes
mais frequentes, isto é, exige-se deles funções
executivas muito eficazes e fluentes, para as
quais, porém, nunca foram ensinados ou treinados intencionalmente e sistematicamente.
Sendo funções tão essenciais e necessárias
ao sucesso escolar, a cultura da escola, os arquitetos dos currículos e os próprios professores, na
maioria dos casos, desconhecem os processos
executivos dos alunos, não avaliando-os dinamicamente ou informalmente (em áreas fortes, em
zonas de desenvolvimento proximal ou em áreas
fracas), nem tampouco ensinam sistematicamente estratégias, para que eles sejam ajudados a
compreender como eles pensam, se comunicam,
agem e como aprendem.
Como é fácil perceber, o sucesso escolar dos
alunos depende muito da sua habilidade para
manejar as funções executivas, quer na escola,
quer em sua casa ou na sua vida diária. Parece
óbvio que a escola em geral e os professores em
particular têm que compreender o papel dessas
funções no sucesso escolar dos alunos, a sua
formação profissional e educacional não pode
continuar a descorar tais funções, nem desistir
de ensinar estratégias dirigidas especificamente
para o seu enriquecimento.
Trata-se de uma necessidade educacional
essencial e atual, que não pode ser esquecida.
Alunos com vulnerabilidades e fragilidades
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246
Papel das funções cognitivas, conativas e executivas na aprendizagem: uma abordagem neuropsicopedagógica
Tratam-se de funções metacognitivas fundamentais para a aprendizagem, funções executivas que permitem, manter, gerir e manipular
a informação, alterar ou inibir procedimentos
quando necessário, agir em função de objetivos
a atingir, pensar no pensar, etc.
Compreendem, efetivamente, as ferramentas
metacognitivas características de mentes motivadas e curiosas que permitem atingir, de fato, a
perfectibilidade e a excelência cognitiva, quando
devidamente treinadas e trabalhadas.
Dentro das definições das funções executivas,
que conceitualmente configuram um modelo de
“roda da sorte” (Figura 4), destacamos, sumaria­
mente, as seguintes:
• atenção (sustentação, foco, fixação, seleção de dados relevantes dos irrelevantes,
evitamento de distratores, etc);
• percepção (intraneurossensorial, interneurossensorial, meta-integrativa, analítica e sintética, etc);
• memória de trabalho (localização, recu­
peração, rechamada, manipulação, jul­ga­
mento e utilização da informação relevante, etc);
• controle (iniciação, persistência, esforço,
inibição, regulação e auto-avaliação de
tarefas, etc);
• ideação (improvisação, raciocínio indutivo e dedutivo, precisão e conclusão de
tarefas, etc);
nessas funções são mais facilmente candidatos
ao sofrimento emocional, ao insucesso e ao
abandono escolar.
As funções executivas podem ser definidas
como processos mentais complexos pelos quais
o indivíduo otimiza o seu desempenho cognitivo,
aperfeiçoa as suas respostas adaptativas e o seu
desempenho comportamental em situações que
requerem a operacionalização, a coordenação, a
supervisão e o controle de processos cognitivos e
conativos, básicos e superiores. De certa forma,
reúnem um conjunto de ferramentas mentais
que são essenciais para aprender a aprender32.
Tendo sido estudadas, principalmente, por
neurologistas e neuropsicólogos, que reforçaram
o papel crucial e principal do córtex frontal no
controle dos comportamentos intencionais que
são afetados pelas suas lesões ou disfunções,
mais recentemente, os reeducadores, os terapeutas educacionais e os professores do ensino
especial, além de outros profissionais de educação, começaram a reconhecer a importância das
funções executivas no desempenho educacional.
Compreender o papel das funções executivas
na aprendizagem oferece uma nova perspectiva
sobre muitos alunos que sendo brilhantes intelectualmente não têm um rendimento compatível
com o seu potencial, além de apresentarem novas visões sobre muitos alunos ditos fracos (ou
“maus alunos”), com diferenças, dificuldades
ou preferências de aprendizagem que aprendem com melhores resultados em situações de
ensino mais mediatizadas31,32 ou com tarefas
menos complexas, de curta duração e muito bem
estruturadas e sistematizadas.
Por esse fato, as disfunções executivas são
frequentemente associadas a alunos com dificuldades atencionais e com dificuldades de
aprendizagem específicas (por exemplo, disgnosias, dispraxias, disfasias, dislexias, disgrafias,
disortografias, dismatemáticas, etc.), a nossa
experiência clínica de 40 anos com mais de 5.500
casos observados e seguidos, evidencia, constata
e confirma essa co-ocorrência de disfunções
desenvolvimentais.
Figura 4 – Roda da sorte das funções executivas.
Rev. Psicopedagogia 2014; 31(96): 236-53
247
Fonseca V
Para muitos investigadores, o córtex pré-frontal é a estrutura considerada patrão, chefe,
gestora, administradora (“brain manager”), de
todas as atividades volitivas e intencionais, tal
é a sua importância na aprendizagem e no sucesso escolar.
Efetivamente, o lobo frontal humano, segundo Damásio39,51, estudando o famoso caso
seminal de Phineas Gage, retrata na sua lesão
ou disfunção a deterioração dos comportamentos sociais e humanos mais sutis, tornando-os
extremamente desviantes, atípicos, erráticos,
hiperativos, desatentos, bizarros, desplanificados, episódicos e impulsivos.
Torna-se aqui importante chamar a atenção
para que nas relações cérebro-comportamento
é fundamental distinguir que há diferenças cerebrais significativas, entre a criança e o adulto,
assim, entre os efeitos de uma lesão em um cérebro maturo (onde há mais literatura publicada)
e uma disfunção em um cérebro imaturo e em
desenvolvimento, todavia o estudo do caso acima
referido dá-nos uma explicação básica sobre o
papel do lobo frontal e, especialmente, do seu
córtex pré-frontal, nas funções atencionais, comportamentais, cognitivas, conativas e executivas
e, consequentemente, na aprendizagem escolar.
O córtex pré-frontal encontra-se imaturo
antes dos 20 anos, por certa turbulência dinâmica da substância cinzenta, a substância integradora, por excelência, dos circuitos e redes
neuronais da aprendizagem, por isso não é de
se estranhar que as síndromes disexecutivas (ou
as disfunções executivas) tenham tantas repercussões no comportamento e na aprendizagem
de muitas crianças e adolescentes53,58,62.
As funções executivas são funções transversais de qualquer tipo de aprendizagem, com­
preen­dem funções de controle e de regulação do
conjunto do funcionamento mental, assumindo,
por analogia, as funções de um maestro numa
orquestra, a orquestra da aprendizagem.
Não se tratam de funções unitárias, mas de
funções que formam sistemas parcialmente autônomos, fortemente interconectados como são
particularmente: a atenção; a memória de traba-
• planificação e a antecipação (priorização,
ordenação, hierarquização e predição de
tarefas visando a atingir fins, objetivos e
resultados, etc);
• flexibilização (autocrítica, alteração de
condutas, mudança de estratégias, de­­
tecção de erros e obstáculos, busca intencional de soluções, etc);
• metacognição (auto-organização, sistematização, automonitorização, revisão e
supervisão, etc);
• decisão (aplicação de diferentes resoluções
de problemas, gestão do tempo evitando
atrasos e custos desnecessários, etc);
• execução (finalização e concomitante verificação, retroação e reaferênciação, etc).
É fácil perceber pela lista simplificada apresentada como é importante treinar as funções
executivas no âmbito da intervenção psicopedagógica e, especialmente, no contexto da
educabilidade cognitiva, para que o potencial
de aprendizagem das crianças e dos jovens
possa ser maximizado, otimizado, regulado,
controlado, enriquecido, potenciado e educado, assim, mais preparado para as exigências e
pré-requisitos de situações-problema, quer da
escola, quer da vida futura.
A criação de hábitos executivos que presidem
o funcionamento cognitivo global do sujeito
aprendente ou maturescente é muito importante para qualquer aprendizagem simbólica, seja
da leitura, da escrita ou da matemática, como
são para o seu bem-estar, sejam na expressão
de hábitos de reconhecimento social, de uso de
competências de interação e de mediatização,
de orientação visuoespacial, visuoconstrutiva,
visuográfica e de performance corporal, cinestésica e lúdica, mais consideradas como aprendizagens não-simbólicas.
A área do cérebro implicada na ativação,
coor­denação, integração e gestão dessas funções
executivas, como já vimos, é o córtex pré-frontal,
uma superestrutura que integra a terceira unidade neurofuncional luriana, a sede das faculdades
humanas superiores30,33,40,59-61.
Rev. Psicopedagogia 2014; 31(96): 236-53
248
Papel das funções cognitivas, conativas e executivas na aprendizagem: uma abordagem neuropsicopedagógica
lho; os sistemas de inibição e as estratégias de
flexibilidade. Tratam-se de sistemas mobilizados
nos processos de adaptação a situações novas e
a situações de rotina, cujo déficit ou disfunção se
repercute, em graus diversos, nas outras funções
mentais que destacamos ao longo do texto.
Da imaturidade à maturidade neuropsicológica, caminhamos em qualquer aprendizagem,
seja de um conceito, de uma competência, de
uma estratégia ou de uma habilidade, numa trajetória de modificabilidade comportamental que
se desenrola, após muitas horas de prática, desde
uma dificuldade inicial a uma competência final,
isto é, a um desempenho executado de forma
automatizada, melódica, fluente, internalizada,
independente e sempre aberta a aperfeiçoar-se
em novas habilidades.
Segundo as neurociências, as crianças e os
jovens em situação das primeiras aprendizagens
simbólicas precisam especialmente treinar capacidades de inibição e de memória de trabalho,
para o que se torna óbvio aprimorar precocemente, digamos já na pré-escola, tais capacidades
executivas, conativas e cognitivas.
Uma aprendizagem bem sucedida não pode
continuar a descurar, como tem feito a escola tradicional, as evidências neurocientíficas
reveladas pelo papel das funções cognitivas,
conativas e executivas na aprendizagem.
A escola do futuro deve investir mais na inteligência das crianças e dos jovens (uma escola
inteligente para crianças e jovens inteligentes),
mas para tal mudança, a escola tem de passar,
inevitavelmente, pela implementação generalizada e ampliada da educabilidade cognitiva, conativa e executiva em todos os graus de ensino57.
A escola mantém pelas funções cognitivas,
conativas e executivas,um lamentável distanciamento e um quase desamor; para muitos dos
seus responsáveis, as aplicações das neuro­
ciências à educação são ainda consideradas uma
bruxaria, algo que ainda não se sabe explicar.
Muitas querelas de capela entre a pedagogia,
a sociologia, a filosofia, a psicologia, a neurologia
e as diversas disciplinas curriculares que se passam no âmbito da educação são devidas à falta
de explicação do papel da cognição, da conação
e da execução nas aprendizagens escolares. Foi
nosso propósito neste texto, adiantar e facilitar
alguns dados de compreensão sobre esse assunto
tão premente, com a finalidade de contribuir para
melhorar a educação e para combater o insucesso
escolar com as devidas ferramentas.
Em termos de aprendizagem, o que se passa
e o que ocorre na mente dos alunos são processos mentais internalizados que podem ser
aperfeiçoados, cuja tomada de consciência do
seu funcionamento intrínseco pode permitir que
eles sejam cognitivamente mais performantes,
tomando em consideração que, evolucionariamente, possuímos um cérebro com dois hemisférios distintos que tratam a informação e a sua
execução de forma hierarquizada, diferenciada
e complementar.
Efetivamente, o ser humano ao longo da
sua história aprendeu com a totalidade do seu
corpo, do seu cérebro e da sua mente, com a
totalidade do potencial complementar dos seus
dois lados do corpo e dos seus dois hemisférios,
virtuosamente cruzados em termos neurofuncionais (mão direita-hemisfério esquerdo versus
mão esquerda-hemisfério direito) e com funções
executivas intrahemisféricas, interhemisféricas
e integrativas distintas.
Sem essa organização funcional adquirida
ao longo da evolução, a interação sobrevivente,
aprendente e transcendente com o envolvimento, não seria possível em termos de transição de aprendizagens naturais e simples para
aprendizagens culturais e complexas. Nesse
pressuposto, a educação não pode, nem deve,
contrariar a evolução.
Foi em decorrência dessa dinâmica funcional
do processo genético, neurológico e desenvolvimental (tipo “down-top”) que a espécie humana
sempre evoluiu em termos de aquisição de conhecimentos nos seguintes sentidos: do simples
para o complexo; do ato para o pensamento;
do gesto à palavra; da imagem ao conceito; do
concreto-somático ao abstrato-metafórico; do
não-simbólico e visuo-espacial ao simbólico e
auditivo-temporal; do não-verbal ao verbal.
Rev. Psicopedagogia 2014; 31(96): 236-53
249
Fonseca V
As funções executivas, quando aprendidas,
integradas e amadurecidas, invertem, paradoxalmente, essa dinâmica funcional (tipo “top-­down”),
pois transformam os processos de apren­dizagem
nos seguintes sentidos opostos: do complexo
ao simples; do pensamento à ação; da palavra
ao gesto; do conceito à imagem; do abstrato ao
concreto; do verbal ao não-verbal, etc, por isso,
os objetivos, as expectativas e o contexto dos
currículos escolares gerem e regem o processo
de aprendizagem. Sem funções executivas eficientes, o ciclo do sucesso escolar não é atingido
com facilidade, nem prazer.
Certamente que o envolvimento da aprendizagem, os métodos instrução, os materiais e os
livros de ensino têm um papel muito importante
no ciclo do sucesso escolar, mas é preciso que
os estudantes revelem competências executivas,
como autoconceito positivo, esforço concentrado
e continuado, estratégias de estudo e de realização de avaliações mais eficientes, pois só com
tais ferramentas mentais podem estabelecer
pontes entre o seu potencial de aprendizagem
e as exigências dos currículos e dos exames.
Os processos mentais das funções executivas
permitem-nos captar e integrar informação relevante para os nossos objetivos e para as nossas
intenções e finalidades, ao mesmo tempo que
ignoramos uma espécie de mar de estímulos ou
de selva de informação irrelevante. Os estudantes com déficits nas funções executivas ou com
síndromes disexecutivas enfrentam, por isso
mesmo, enormes obstáculos e intransponíveis
barreiras para obter rendimento minimamente
aceitável nas salas de aula tradicionais63.
Para ultrapassar tais situações devemos não
só intervir ao nível dos estudantes, mas também
ao nível dos currículos disciplinares, ao nível
dos seus planos de instrução, ao nível dos seus
conteúdos e ao nível dos seus processos de
ensino-aprendizagem. Porque os currículos das
disciplinas identificam os objetivos e as metas de
instrução, assim como os meios para os atingir,
desde os materiais e os suportes didáticos e os
métodos de ensino que devem ser utilizados
até a sequencialização dos seus conteúdos e as
formas de avaliar os progressos dos estudantes,
eles devem ser adaptados, diferenciados e aplicados a todos os alunos sem exceção, mesmo
os que revelam déficits nas funções executivas
ou dificuldades de aprendizagem globais ou
específicas.
Os currículos das disciplinas da educação
geral não podem continuar a ser somente “regulares”, eles têm a obrigação de ser currículos
universais (“Universal Design for Learning”) livres de barreiras onde todas as crianças e jovens
possam aprender sem ser excluídos por teorias
de eficácia social já ultrapassadas.
Os currículos da educação em geral devem
ser desenhados para satisfazer a neurodiversidade e a diferenciação da aprendizagem de todos
os diferentes estudantes, especialmente os que
estão nas margens, e não apenas concebê-los ou
validá-los para os alunos ditos regulares.
Na escola do futuro, nenhum estudante
deve ficar para trás e muito menos excluído de
aprender, pois nenhuma criança ou jovem é
ineducável.
As escolas não podem continuar a excluir
estudantes com dificuldades ou diferenças cognitivas, conativas e executivas, como se fazia
no passado, por analogia, na arquitetura das
habitações antigas em que o acesso de pessoas
com dificuldades de locomoção era simplesmente vedado. Nos casos em que os indivíduos se
deslocam em cadeiras de rodas, as escadas não
são o ecossistema aconselhado para facilitar o
seu acesso, pelo contrário, elas são uma barreira difícil de transpor. Basta construir rampas e
outras acessibilidades de locomoção e de independência, para que tais barreiras se evaporem.
Da mesma forma, os currículos das várias
disciplinas escolares não devem ser concebidos
e implementados só para alunos regulares, eles
devem ser construídos e implementados numa
dimensão universal inclusiva, ou seja, também
para alunos com diferenças e preferências de
aprendizagem onde os currículos não exagerem as suas dificuldades, mas que disponham
de apoios ou suportes (“scaffoldings”) que os
permitam superar.
Rev. Psicopedagogia 2014; 31(96): 236-53
250
Papel das funções cognitivas, conativas e executivas na aprendizagem: uma abordagem neuropsicopedagógica
Em vez dos currículos serem centrados exageradamente nos conteúdos sistematizados,
considerados como produtos finais, e serem meramente apresentados e debitados nas aulas, há
necessidade de maior atenção com os processos
cognitivos, conativos e executivos dos alunos,
caso contrário o ciclo do sucesso escolar será
uma miragem para muitos deles. Quem perde
mais com o insucesso escolar é a sociedade no
seu todo.
Para enriquecer as funções cognitivas, conativas e executivas, a interação do professor-aluno tem que ser mais intensa e intencional,
o processo ensino-aprendizagem tem que ser
mais mediatizado e com uma acessibilidade
aumentada para todos, onde seja possível focar
mais a colocação de perguntas ou questões de
desafio cognitivo, conativo e executivo, onde os
alunos tenham que pensar mais antes de responder, onde as várias funções sejam diretamente
treinadas e onde as estratégias metacognitivas
sejam mais trabalhadas. Não está em jogo o
enriquecimento curricular, está mais em jogo o
enriquecimento do potencial de aprendizagem
dos alunos32.
É óbvio que os currículos podem inabilitar ou
incapacitar muitos estudantes com dificuldades
cognitivas, conativas e executivas, por exemplo,
quando estudantes cegos ou disléxicos têm dificuldades de ler ou estudar por livros ou textos
impressos ou escritos. Nesse caso, o currículo
e os materiais, por si só, geram barreiras e dificuldades de processamento visual e cognitivo e
oferecem opções muito limitadas àqueles alunos
com necessidades educacionais especiais. Para
alunos com dificuldades de processamento de
textos impressos e escritos basta proporcionar
versões digitais de livros e aplicações de “software”, para automaticamente converter os textos
em linguagem falada e facilitar a compreensão
e a significação da aprendizagem.
Com inovação pedagógica, tecnologias de
apoio informático e processadores de texto com
suportes ideacionais, visualizações semânticas
e corretores sintáxicos, as barreiras de muitos
alunos com dificuldades ou déficits cognitivos,
conativos e executivos podem ser superadas,
porque na nossa concepção as escolas têm a
responsabilidade de intervir nas zonas de desenvolvimento proximal, de minimizar as barreiras
e de maximizar a aprendizagem de todos os
alunos sem exceção.
Além de proporcionarem abundantes oportunidades e alternativas de prática psicopedagógica, com modelos de intervenção diferenciada e
compensatória, e prescrever modelos de reeducação individualizada ou em pequenos grupos,
ditos de ensino clínico, é preciso mobilizar mais
professores tutores devidamente preparados e
especializados, caso contrário, muitos estudantes com disfunções cognitivas, conativas e executivas que necessitam de ajuda serão condenados
ao insucesso escolar, profissional e social.
A educação da criança e do jovem na era digital tem que ser cada vez mais amiga dos seus
corpos, dos seus cérebros e das suas mentes,
caso contrário muitos problemas de cognição, de
conação e de execução, ou seja, de adaptação, de
aprendizagem e de integração social vão emergir
sem necessidade.
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Trabalho realizado na Universidade de Lisboa, Lisboa,
Portugal.
Artigo recebido: 23/11/2014
Aprovado: 20/12/2014
Rev. Psicopedagogia 2014; 31(96): 236-53
253
Silva GBA
et al.
ARTIGO
original
Evolução do desempenho da atenção e
da memória operacional em crianças
de escola pública e particular
Giovanna Beraldo de Azambuja Silva; Tais de Lima Ferreira; Sylvia Maria Ciasca
RESUMO – Nesta pesquisa buscamos observar a evolução e as diferenças
existentes no desempenho da atenção e da memória operacional entre
crianças de escola pública e particular com o intervalo de um ano entre as
avaliações. Os dados foram obtidos por meio da análise do desempenho
da memória operacional em crianças de 7 anos, submetidas à aplicação de
três subtestes da Escala Wechsler de Inteligência para Crianças (WISC-IV),
sendo eles Códigos, Procurar Símbolos e Cancelamento e, após 12 meses,
uma nova avaliação foi realizada. Participaram deste estudo 12 crianças
do sexo feminino. Foi observado que, independente do tipo de escola, as
crianças apresentaram evolução com melhora em seus resultados. Nos três
subtestes utilizados, observou-se evolução, mesmo com alteração no nível
de complexidade da atividade, demonstrando que a atenção e a memória
operacional visuo-espacial se desenvolvem e apresentam melhorias assim
como outros processos cognitivos, acompanhando o desenvolvimento
da criança, independente do tipo de ensino em que as crianças estão
matriculadas.
UNITERMOS: Atenção. Memória de curto prazo. Criança. Avaliação,
Desenvolvimento infantil.
Correspondência
Giovanna Beraldo de Azambuja Silva
Clínica Plenitude
Rua Frei Antônio de Pádua, 1227 – Jardim Guanabara –
Campinas, SP, Brasil
E-mail: [email protected]
Giovanna Beraldo de Azambuja Silva – Psicóloga, Neu­­­­
ro­psicóloga pelo CEPSIC/HCFMUSP, aluna do curso
Neuropsicologia Aplicada a Neurologia Infantil –
Faculdade de Ciências Médicas da Universidade
Estadual de Campinas (FCM/UNICAMP), Campinas,
SP, Brasil.
Tais de Lima Ferreira – Fonoaudióloga, Doutoranda em
Ciências Médicas – FCM/UNICAMP, Membro do La­
boratório de Pesquisas em Transtornos da Atenção e da
Aprendizagem – DISAPRE/UNICAMP, Orientadora do
Curso Neuropsicologia Aplicada a Neurologia Infantil
– FCM/UNICAMP, Campinas, SP, Brasil.
Sylvia Maria Ciasca – Neuropsicóloga, Professora
Livre Docente do Departamento de Neurologia – FCM/
UNICAMP, Coordenadora do Laboratório de Pesquisas
em Transtornos da Atenção e da Aprendizagem –
DISAPRE/UNICAMP, Campinas, SP, Brasil.
Rev. Psicopedagogia 2014; 31(96): 254-62
254
Evolução do desempenho da atenção e da memória operacional em crianças de escola pública e particular
Em um estudo encontrado, a memória operacional é apresentada com papel determinante
no desenvolvimento da linguagem oral e na
comunicação infantil, possibilitando a aprendizagem, a aquisição de novos conhecimentos
e a integração das informações, demonstrando
assim sua importância no desenvolvimento e
aprendizagem6.
Observa-se na literatura que existem estudos
referentes às funções, à capacidade e ao funcionamento da memória operacional. O principal
deles, apresentado pelo pesquisador inglês
Baddeley, descreve a memória operacional por
meio de subsistemas distintos9, sendo responsáveis pela execução de diversas habilidades
cognitivas em nosso dia-a-dia5.
Para Baddeley e Hitch, esses subsistemas
são descritos como esboço visuoespacial, buffer
episódico, executivo central e alça fonológica
e são apresentadas de acordo com as funções
que realizam10. O esboço visuo-espacial seria
responsável pelo armazenamento de informações visuais e espaciais; a alça fonológica pelas
informações decorrentes das vias auditivas. O
buffer episódico é responsável pelo gerenciamento das informações visuo-espaciais e auditivas, e o executivo central controla e coordena
os subsistemas.
Sabe-se que os subsistemas visuo-espacial
e da alça fonológica possuem sistemas cognitivos independentes, porém interligados para
o processamento das informações, sendo que
o esboço visuo-espacial auxilia na codificação
dos estímulos, e a alça fonológica mantém as
informações ativas por mais tempo, realizando
o processo de recitação11.
Existem evidências de que a memória visuo-espacial teria em sua estrutura sistemas sepa­
rados para o processamento de informações
vi­­suais e para informações espaciais12. Estudos
sobre essa separação formando dois sistemas
complementares também foram apresentados
em outros estudos13,14.
Sabe-se que, assim como outras funções cog­
nitivas, a memória se desenvolve ao longo da
pri­­meira infância até a idade adulta, estando
INTRODUÇÃO
Atenção é uma função cognitiva que permite
realizar a seleção de estímulos do ambiente,
priorizando o processamento em categorias de
informação1. Pode ser definida como a capacidade de responder a estímulos, realizando um
controle seletivo de informações por meio dos
órgãos sensoriais. É classificada como atenção
seletiva, alternada, sustentada, concentrada e
dividida, e se caracteriza por um processo dinâmico que organiza os estímulos e informações
que chegam das vias sensoriais em diferentes
processos mentais2.
A atenção seletiva é a capacidade mental
de selecionar apenas uma pequena parcela da
informação contida no ambiente em detrimento
da grande quantidade de estímulos disponíveis
ao nosso redor. Na concepção da atenção seletiva
baseada no espaço, os estímulos são selecionados a partir de uma representação perceptiva
dos objetos3.
Assim, como a atenção, a memória é uma
função cognitiva. Ela nos permite registrar, ar­
mazenar, elaborar e resgatar informações4, clas­
sificada em três níveis conforme sua função,
tempo de duração e conteúdo: memória sensorial, memória de curto prazo ou operacional, e
memória de longo prazo5.
A memória operacional é definida como um
sistema de armazenamento temporário e de
manipulação de informações responsável pelo
processamento da linguagem, aprendizagem
e raciocínio lógico6. É caracterizada como um
conjunto de habilidades que permitem a manipulação de novas informações e mantê-las em
atividade simultaneamente, com o objetivo de
realizar uma tarefa7.
Estudos relacionados a essa função demonstram que os indivíduos com maior capacidade
de armazenar informações possuem habilidades para resolver maior número de itens e em
grau de complexidade maior8. Essa capacidade,
mesmo com certa variação, é limitada a uma
quantidade entre cinco e nove elementos e está
relacionada à capacidade de organização e de
velocidade de processamento para a execução
das operações5.
Rev. Psicopedagogia 2014; 31(96): 254-62
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Silva GBA et al.
ativa desde os 6 anos de idade e que, a partir
dos 7, as crianças se tornam capazes de codificar
informações visuais15.
Existem registros que a organização da memória operacional está presente em crianças
de 4 anos de idade, sugerindo que as funções
cognitivas estão estabelecidas desde a primeira infância; e que os subsistemas da memória
operacional vão se aprimorando a partir dessa
idade, e que aos 6 anos eles já estão organizados
da maneira que funcionarão na idade adulta16.
Em uma pesquisa feita com crianças de diferentes faixas etárias observando os processos de
leitura e escrita17, observaram que, com a exposição visual às letras, as crianças com boa memória visual ampliam seus arquivos de palavras,
reconhecendo, codificando e realizando a leitura
de uma forma mais veloz na medida em que se
tornam mais velhas. Isso porque as crianças mais
velhas podem apresentar maior facilidade ao
lidar com informações visuo-espaciais18.
As principais mudanças no desenvolvimento
da memória de trabalho são o aumento da eficácia operacional, as estratégias para resoluções
de problemas, e o aumento na velocidade de
processamento das informações. Itens estes que
foram necessários para que os sujeitos desta presente pesquisa desempenhassem as atividades
propostas, tendo que apresentar boa velocidade
de processamento nas provas aplicadas, além da
capacidade de resolução de problemas e a operação e manipulação de informações mentais11.
O objetivo deste estudo foi avaliar a atenção e
a memória operacional visuo-espacial em crianças, comparando a diferença no desempenho em
um ano, e também as diferenças nos resultados
apresentados pelas crianças matriculadas em
escolas públicas e particulares.
pesquisa utilizando os mesmos instrumentos que
este presente estudo.
Foram selecionadas 12 crianças, do sexo feminino, com 8 anos de idade, sendo metade delas estudantes de escola pública e a outra metade
de escola particular da cidade de Campinas – SP.
Após a coleta de dados, os resultados obtidos
foram analisados por meio do programa estatístico SPSS 17.0.
Instrumentos
Para avaliação da atenção e da memória
operacional foram utilizados três subtestes da
Escala Weschler de Inteligência para Crianças
4a Edição – WISC-IV. Esses instrumentos foram
escolhidos por serem não-verbais, necessitando
de esforço maior por parte da entrada das informações visuo-espaciais e por necessitarem que
a criança utilize seus mecanismos atencionais,
para receber a informação, executar mentalmente e apresentar a resposta correta em curtos intervalos de tempo. Além da atenção, as crianças que
apresentarem boa capacidade e habilidade nas
funções da memória operacional conseguirão ter
uma maior agilidade na execução das atividades
propostas, principalmente na codificação dos
estímulos nos instrumentos Códigos e Procurar
Símbolos e, consequentemente, apresentarão
melhores resultados em sua pontuação final.
Os subtestes escolhidos estão descriminados
a seguir.
• Procurar Símbolos (PS) - Instrumento não-verbal, onde a criança analisa, visual­
mente, símbolos em cada item a ser preen­
chido. A criança deve olhar o símbolo
mo­delo e procurá-lo em um conjunto,
indicando se o símbolo modelo está presente no conjunto ou não. A criança responde ao maior número de itens possíveis
dentro de um limite de 120 segundos.
• Código (Cód) - Instrumento não-verbal,
consiste em identificar e copiar símbolos
que estão associados a figuras geométricas dispostos em um modelo. A pontuação
é determinada pelo número de símbolos
copiados corretamente em 120 segundos.
MÉTODO
Participantes
Para essa pesquisa as crianças foram selecionadas, a partir dos critérios de inclusão: sexo
feminino; 8 anos de idade; termo de consentimento assinado pelos pais e responsáveis; ter
participado em 2012 com 7 anos de idade de uma
Rev. Psicopedagogia 2014; 31(96): 254-62
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Evolução do desempenho da atenção e da memória operacional em crianças de escola pública e particular
• Cancelamento (Canc) - Instrumento não-verbal, no qual a criança deve identificar
em uma folha tamanho A3 com variadas
figuras apenas as figuras de animais e
assinalar esses estímulos. A criança realiza esse protocolo em duas etapas de 45
segundos cada. A primeira apresenta os
animais em ordem aleatória, e a segunda
em ordem estruturada. O resultado final
é feito pela soma dos pontos brutos das
duas fases.
sem alteração no nível de complexidade da tarefa, já que as crianças haviam realizado dessa
forma com 7 anos de idade, e também realizamos
a avaliação com o protocolo B, endereçado a
crianças entre 8 e 16 anos de idade, para obter
as classificações e resultados esperados para as
crianças dentro de sua faixa etária.
Para a coleta de dados foi utilizada apenas
uma sessão de 30 minutos com cada criança.
Para obtenção dos resultados foi feita uma
análise dos dados encontrados, e agrupados de
acordo com os grupos: idade, tipo de escolaridade e subtestes/instrumentos. A análise estatística
foi feita por meio dos testes de Wilcoxon e de
Mann-Whitney, e também através de tabelas
comparativas.
Procedimento
Foram selecionadas 12 crianças do sexo feminino, com idade entre 8 anos e 8 anos e 11
meses, estudantes de escola pública e particular, sem dificuldades de aprendizagem, e que
anteriormente, no ano de 2012, participaram
de uma pesquisa com os mesmos instrumentos
utilizados neste estudo.
A autorização para os procedimentos foi
emitida pelo Comitê de Ética em Pesquisa da
Faculdade de Ciências Médicas da Universidade
Estadual de Campinas – FCM/UNICAMP, sob
o n° 574.525.
As crianças matriculadas na escola pública
foram selecionadas a partir de uma conversa
com a coordenadora pedagógica da escola e, em
seguida, uma carta explicativa foi enviada aos
pais, juntamente com o Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido (TCLE). Com o consentimento dos pais e da coordenação, essas crianças
foram avaliadas na própria escola.
As crianças matriculadas em escolas particulares foram selecionadas aleatoriamente,
por meio de contatos da equipe de pesquisa e
foram avaliadas com o consentimento dos pais
em uma clínica de Psicologia, na cidade de
Campinas – SP.
A fim de obtermos diferentes dados para comparação dos resultados das crianças, realizamos
a aplicação dos subtestes Códigos e Procurar
Símbolos em suas duas formas de aplicação
nas crianças com 8 anos de idade. Aplicamos o
protocolo na forma A, para crianças de 6 e 7 anos
para que pudéssemos ter os dados da evolução
RESULTADOS
Após a análise dos dados obtidos nas avaliações das crianças com 7 e com 8 anos de idade,
verificou-se que nas duas fases da pesquisa o
rendimento e o desempenho dos sujeitos de escola particular é melhor do que o desempenho
dos sujeitos matriculados na escola pública.
Esses dados podem ser observados nas Tabelas 1 a 4, nas quais as médias foram calculadas
a partir dos resultados dos pontos brutos sem
alteração do nível de complexidade. Ou seja,
as medidas apresentadas nessas tabelas foram
encontradas a partir da aplicação dos protocolos
Códigos e Procurar Símbolos na forma A.
A evolução de uma forma geral é apresentada
na Tabela 1, onde os resultados estão classificados desconsiderando o tipo de escolaridade,
unindo as crianças em dois grupos comparativos,
com 7 e abaixo dos 8 anos de idade. Na média
do WISC-IV (Tabela 1), nos três subtestes, nota-se
evolução no desempenho geral dos sujeitos,
independente do tipo de escola em que estão
ma­­triculados.
Na Tabela 2, nota-se a evolução dos resultados apresentados pelos sujeitos com 7 e depois
com 8 anos de idade e a melhora no desempenho
em ambas as escolas.
Na Tabela 3, os resultados foram analisados
pelo teste Mann-Whitney e estão apresentados
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Silva GBA et al.
Tabela 1 – Dados descritivos das médias das populações avaliadas com 7 e 8 anos.
Códigos
Procurar Símbolos
Cancelamento
N
Mínimo
Máximo
Média
DP
7 anos
12
35
59
48,67
7,808
8 anos
12
50
62
54,08
4,01
7 anos
12
10
32
23,25
6,21
8 anos
12
23
42
34,17
6,631
7 anos
12
34
79
59,08
15,054
8 anos
12
55
96
83,5
13,668
Mínimo = valor do menor resultado de ponto bruto encontrado; Máximo = valor do maior resultado de ponto bruto encontrado; Média dos resultados das crianças de 7 e 8 anos sem separação por escola; DP = Desvio Padrão
Tabela 2 – Descrição geral por tipo de escola.
Escola Particular
Escola Pública
7 anos
DP
8 anos
DP
7 anos
DP
8 anos
DP
52
7,32
54
4,94
45,33
7,33
54,17
3,31
Código
Procurar Símbolos
27
4,29
38,5
5,16
19,5
5,71
29,83
4,99
Cancelamento
69
11,08
90,67
6,50
49,17
11,82
76,33
15,66
DP = Desvio Padrão
Tabela 3 – Correlação entre os resultados das crianças.
Instrumentos
7 anos
8 anos
U
Valor de p
U
Valor de p
Códigos - WISC
7,5
0,046*
15,5
0,7
Procurar Símbolos - WISC
5,5
0,041*
04
0,026*
Cancelamento WISC
4,5
0,026*
7,5
0,09
Dados da análise Mann-Whitney, sendo U = valor de Mann-Whitney; Valor de P= < 0,05.
pos escolares (Tabela 4). Os resultados indicaram
haver significância estatística entre a média dos
resultados dos subtestes Procurar Símbolos e
Cancelamento para os sujeitos de escola particular e em todas as medidas de avaliação para
os sujeitos de escola pública.
Nas Tabelas 5 e 6, apresentam-se os resultados dos pontos brutos apresentados pelos
sujeitos, demonstrando assim a evolução da pontuação sem a alteração no nível de complexidade
(Tabela 5), e com alteração (Tabela 6).
Observam-se, na Tabela 5, os resultados dos
pontos brutos apresentados pelos sujeitos no
subteste Cancelamento da Escala Weschler.
Nesse instrumento, não houve alteração do nível
observando a amostra total dividida apenas pela
idade, sem divisão pelo tipo de escolaridade.
Nota-se na Tabela 3 que somente no subteste Procurar Símbolos a diferença significativa
estatística ocorreu nas duas fases da avaliação.
Nos outros dois subtestes, a relação com significância estatística só ocorreu entre os sujeitos
de 7 anos de idade.
Para comparar os valores obtidos entre as
ida­des utilizou-se o teste de Wilcoxon (Tabelas 4
e 5), sendo Z= -2,049 e p < 0,05.
No teste Wilcoxon, os subtestes foram comparados entre os grupos das mesmas escolas com
os resultados dos sujeitos com 7 e com 8 anos de
idade, e também as médias somando-se os gru-
Rev. Psicopedagogia 2014; 31(96): 254-62
258
Evolução do desempenho da atenção e da memória operacional em crianças de escola pública e particular
Tabela 4 – Comparação da evolução dos resultados.
Escola Particular
Escola Pública
z
p
z
p
Códigos (7/8 anos)
-0,944
0,345
-1,997
0,046*
Procurar Símbolos (7/8 anos)
-2,201
0,028*
-2,207
0,027*
Cancelamento (7/8 anos)
-2,207
0,027*
-2,201
0,028*
Velocidade de Proc. (7/8 anos)
-2,003
0,045*
-2,207
0,027*
Médias
z
-2,049
-3,061
-3,061
-2,991
p
0,040*
0,002*
0,002*
0,003*
Análise pelo teste de Wilcoxon por tipo de escolas e pela média delas.
Tabela 5 – Evolução dos Pontos Brutos sem alteração no nível de complexidade.
Subteste Cancelamento
Crianças
7 anos
8 anos
Aumento de Pontos
N1
65
90
25
N2
79
96
17
N3
55
96
41
Escola
Particular
N4
58
85
27
N5
79
96
17
N6
78
81
03
N7
34
73
39
N8
55
77
22
Escola
N9
41
65
24
Pública
N10
42
55
13
N11
64
92
28
N12
59
96
37
Média da Evolução
59,08
83,5
24,41
Escola
Particular
Escola
Pública
Tabela 6 – Evolução dos Pontos Brutos com alteração no nível de complexidade.
Procurar
Procurar
Códigos A Códigos B
Classificação Geral
Símbolos A
Símbolos B
Crianças
7 anos
8 anos
7 anos
8 anos
7 anos
8 anos
N1
58
46
26
25
MS
S
N2
50
38
26
25
S
S
N3
55
36
20
25
M
S
N4
39
36
27
26
MS
S
N5
59
46
31
22
S
S
N6
51
44
32
26
S
S
N7
41
38
20
16
M
MS
N8
35
36
28
21
MS
MS
N9
52
36
20
21
MS
MS
N10
50
32
19
18
M
M
N11
41
35
20
19
M
S
N12
53
36
10
6
M
M
Forma A = Protocolo para crianças de 6 a 7 anos; Forma B = Protocolo para crianças de 8 a 16 anos. Classificações de acordo
com a Escala Weschler 4ª edição: M = Médio; MS = Médio Superior; S = Superior.
Rev. Psicopedagogia 2014; 31(96): 254-62
259
Silva GBA et al.
de complexidade da atividade de um ano para o
outro em que os sujeitos foram avaliados. Nota-se
que os sujeitos evoluíram cerca de 24 pontos,
na média geral de desempenho, realizando a
mesma tarefa com um ano de diferença.
Mesmo havendo queda nos totais de pontos
brutos apresentados pelas crianças com 8 anos
na Tabela 6, os resultados mantiveram-se na
classificação apresentada anteriormente, pois a
classificação dos resultados esperados também
muda conforme a idade e o nível de complexidade desses instrumentos, e observa-se que todos
os sujeitos mantiveram-se dentro das faixas
esperadas para sua idade, nos dois momentos
em que foram avaliadas, e que os sujeitos N1,
N3 e N4 da escola particular e os sujeitos N7 e
N11 da escola pública também apresentaram
evolução em sua classificação geral.
exigem o rascunho visuo-espacial quando tais
tarefas não variam em termos de complexidade18.
Os dados encontrados na presente pesquisa
demonstram resultados diferentes dos apresentados por Schummann-Hengsteler18, pois
se encontra evolução de quase 24 pontos na
média geral de desempenho de pontos brutos no
subteste Cancelamento da Escala WISC sem ter
alterado o nível de complexidade da atividade
nas duas fases da avaliação (Tabelas 5 e 6).
Nos outros dois subtestes, houve aumento no
nível de complexidade de um ano para o outro
da avaliação, já que a Escala Weschler prevê a
alteração dos protocolos dividindo os materiais
em itens para 6 e 7 anos, e para 8 a 16 anos, e
mesmo com a alteração, os avanços foram observados.
Ainda observando-se as evoluções encontradas no presente estudo, nota-se evolução maior
nas pontuações do subteste cancelamento em
comparação aos outros dois instrumentos utilizados. Esses resultados podem ter sido encontrados porque, além da memória operacional visual
necessária para manipulação da informação – a
busca por animais, há também o envolvimento
da velocidade de processamento, da atenção
sustentada e seletiva, da coordenação motora,
entre outras funções utilizadas que também
evoluíram neste um ano de avaliação.
Esses dados sobre o melhor desempenho
no subtestes Cancelamento endossam outros
estudos encontrados11, que apontam o desenvolvimento da memória de trabalho relacionado ao
aumento da eficácia da velocidade de processamento, bem como maior utilização de estratégias
nas resoluções de problemas, possibilitando que
a criança passe a processar informações mais
rapidamente e de forma automática1,5.
Sabe-se também que a capacidade da memória de trabalho aumenta com a idade durante a
infância, e que entre os 5 e 11 anos de idade, essa
capacidade duplica, atingindo um nível próximo
às habilidades de um adulto11.
À medida que a criança se desenvolve, sua
memória se torna mais rica, e é a partir da memória visual que se lançam os alicerces para o
DISCUSSÃO
Observou-se que independente do tipo de
ensino, público ou particular, houve melhora no
desempenho da atenção e da memória operacional visual das crianças avaliadas no período de
um ano. Porém, por meio da análise na literatura, pode-se observar que existem estudos na
área englobando as mesmas faixas etárias e até
mais abrangentes, apontando que não existem
diferenças significativas nesse período de desenvolvimento da criança18; e em contrapartida,
existem pesquisas onde as diferenças foram observadas, assim como na presente pesquisa11,16,19.
Esta conclusão já havia sido apontada, em
1992, por Schulmann-Hengsteler que em seu
artigo “The development of visuo-spatial memory: how to remember location” escreveram:
“Estudos sobre as diferenças de desenvolvimento na memória visuoespacial relataram resultados duvidosos. Alguns acharam uma melhoria
dependente da idade, enquanto outros não”. Na
linha das pesquisas onde não foram encontradas diferenças a partir das idades das crianças
avaliadas Schumann-Hengsteler demonstraram
poucas mudanças qualitativas entre crianças
de 5 e 10 anos no desempenho de tarefas que
Rev. Psicopedagogia 2014; 31(96): 254-62
260
Evolução do desempenho da atenção e da memória operacional em crianças de escola pública e particular
desenvolvimento intelectual que ocorrerá posteriormente19. Em outro estudo sobre esse desenvolvimento, verificou-se que os subsistemas vão
se aprimorando a partir dos 4 anos, aumentando
constantemente até a adolescência11.
Para Gathercole e Baddeley, as principais
mudanças no desenvolvimento da memória de
trabalho são o aumento da eficácia operacional,
as estratégias para resoluções de problemas, e
o aumento na velocidade de processamento das
informações, ítens estes que foram necessários
para que os sujeitos desta pesquisa desempenhassem as atividades propostas, tendo que
apresentar boa velocidade de processamento nas
provas aplicadas, além da capacidade de resolução de problemas e a operação e manipulação
de informações mentais1.
públicas e particulares, e a evolução no desempenho individual de cada uma delas.
Observou-se que, independente do tipo de
ensino, houve melhora de uma maneira geral no
desempenho das crianças avaliadas no período
de um ano, e que na análise individual houve
crianças que mantiveram seu desempenho e
crianças onde a melhora foi constatada. Frente
a tantas pesquisas, nota-se que os estágios da
evolução da criança são muito estudados, e
embora existam estudos que apontem para uma
não evolução de algumas funções, não podemos
dizer que essa evolução não exista com tantos
resultados encontrados comprovando isso.
Com esses dados, pretende-se continuar acompanhando a evolução dessas crianças realizando
novos estudos com esse mesmo grupo, para que,
além de obtermos dados mais completos sobre o
desenvolvimento das funções avaliadas, poderemos também utilizar o instrumento da Escala
Weschler em sua forma B, indicado para a idade,
sem alterações de complexidade na tarefa.
CONCLUSÕES
Esta pesquisa objetivou observar as diferenças entre as crianças matriculadas em escolas
SUMMARY
Performance evolution of attention and work memory
in public and private school students
The aim of the present study was to observe the evolution and differences
in attention performance and work memory in public and private students
with one year interval between assessments. The data was based on analysis
of 3 subtests results, namely Coding, Symbol Search and Cancellation, of
WISC -IV (Wechsler Intelligence Scale for Children-IV). The subtests were
applied into a group of 12 female of 7 years old students. After 12 months,
a new assessment was performed. It was observed that regardless of the
type of school, children showed progress with improvement in their results.
In the three applied subtests was observed this trend even with changes in
the level of complexity of the activity. It seems demonstrating that attention
and visuo-spatial working memory develops and show enhancement as
well as other cognitive processes, along with the development of the child.
KEY WORDS: Attention. Memory, short-term. Child. Evaluation. Child
development.
Rev. Psicopedagogia 2014; 31(96): 254-62
261
Silva GBA et al.
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piloto. Rev CEFAC. 2013;15(3):552-60.
7. Dalgalarrondo P. Psicopatologia e semiologia
dos transtornos mentais. 2a ed. Porto Alegre:
Editora Artmed; 2008.
8. Colom R, Flores-Mendoza CE. Armazena­
mento de curto prazo e velocidade de pro­ces­
sa­mento explicam a relação entre memória
de trabalho e o fator g de inteligência. Psic:
Teor. e Pesq. 2006;22(1):113-22.
9. Silva GBA; Zaninotto ALC, Lucia MCS, Scaff
M. Avaliação do desempenho da memória
de curto prazo em crianças de escola pública
e particular. Psicol Hosp. 2012;10(1):80-94.
10. Vaz IA, Cordeiro PM, Macedo EC, Lukasova
K. Memória de trabalho em crianças avaliada
Trabalho realizado na Universidade Estadual de Cam­
pinas (Unicamp), Faculdade de Ciências Médi­cas,
Campinas, SP, Brasil.
Artigo recebido: 6/10/2014
Aprovado: 8/11/2014
Rev. Psicopedagogia 2014; 31(96): 254-62
262
Dados recentes da Neurociência
fundamentam
o método “Brain-Based Learning”
ARTIGO
de revisão
Dados recentes da Neurociência
fundamentam o método
“Brain-Based Learning”
Angela Souza da Fonseca Ramos
RESUMO – A Neurociência é essencial para o entendimento da apren­
dizagem e memória, entretanto pouco se sabe sobre sua aplicação na
Educação. Os métodos do Brain-Based Learning apresentam técnicas ba­
seadas no funcionamento do cérebro que melhoram o aprendizado, mas
essa abordagem não tem sido divulgada apropriadamente na Pedagogia
e Psicopedagogia. Neste trabalho, são revisados os princípios do BrainBased Learning e correlacionamos com dados recentes da literatura em
Neurociência. O principal objetivo desta revisão é apresentar os novos acha­
dos da Neurociência e relacionar com a práxis pedagógica. Neste trabalho,
demonstra-se que a plasticidade neural é fundamental para a aprendizagem
e que ocorre em todas as etapas da vida humana. Este trabalho relaciona
estudos científicos sobre a motivação com a aprendizagem, inclusive
com apresentação de estudos moleculares recentes sobre o efeito da re­
compensa e reforço. Este artigo também apresenta estudos nos quais o
es­tresse mo­derado contribui positivamente para a aprendizagem, em
oposição ao pensamento corrente. Uma técnica amplamente utilizada pa­
ra estudo individual e em escolas é apresentar o conteúdo escolar por
di­­ferentes aces­samentos sensoriais, por figuras, textos, sons. A eficiência
desse uso tem sido confirmada por estudos recentes que demonstram que
estímulos multissensoriais congruentes melhoram a aprendizagem. Dados
mais recentes da Neurociência fundamentam os princípios básicos da
educação baseada na Neurociência (Brain-Based Learning), como demonstrado
neste estudo de revisão. Espera-se, com este trabalho, contribuir para um
modus operandi da Pedagogia mais voltado para o educando e para seu
funcionamento cerebral, tornando o aprendizado mais prazeroso e eficiente.
UNITERMOS: Neurociências. Aprendizagem. Brain-based learning.
Correspondência
Angela Souza da Fonseca Ramos
SQN – 314 – Bloco E – Apto. 313 – Bairro Asa Norte –
Brasília, DF, Brasil – CEP 70767-050
E-mail: [email protected]
Angela Souza da Fonseca Ramos – Doutora em Biofísica,
Mestre em Biologia Molecular e Psicopedagoga Clíni­
ca, Brasília, DF, Brasil.
Rev. Psicopedagogia 2014; 31(96): 263-74
263
Ramos ASF
informações sobre as últimas descobertas na área
da Neurociência e mostrar a aplicação dessas
informações no processo ensino-aprendizagem
dentro do arcabouço do Brain-Based Learning.
INTRODUÇÃO
Neurociência é o estudo do sistema nervoso,
principalmente do cérebro. O entendimento de
como o cérebro funciona tem se expandido para
além de descrições anatômicas e fisiológicas.
Cada vez mais, estuda-se como o cérebro está
re­lacionado com comportamento, pensamento
e sensações. Para entender profundamente o
apren­dizado, é impossível negligenciar o cérebro
e como este funciona. Como dito pela pesquisadora Leslie Hart1: “Ensinar sem levar em conta
o funcionamento do cérebro seria como tentar
desenhar uma luva sem considerar a existência
da mão”. Por outro lado, Griz2 define “A Psicopedagogia é uma área de atuação que trata do
processo de aprendizagem humana e das dificuldades que ocorrem neste processo”. Portanto, é
nesse contexto que este trabalho foi criado, com
o objetivo de trazer para a Psicopedagogia uma
visão neurobiológica de como atuar de forma
baseada no funcionamento do cérebro2.
Este artigo trata-se de um breve estudo dos
aspectos neurobiológicos da aprendizagem no
senso restrito. Aqui o aprender é tratado apenas
como ato de adquirir um conhecimento teórico
ou prático e acessar a memória sobre esse conhecimento, além de associá-lo em sequência.
Outras formas mais complexas de inteligência
ou habilidade não serão tratadas neste trabalho,
assim como aspectos de formação de caráter e
princípios morais, tão importantes na área da
edu­cação.
Por este trabalho, espera-se trazer alguma
con­tribuição diferencial, aproximando um pouco
mais a Pedagogia da Biologia, explicando em
detalhes o funcionamento do cérebro e como
retemos e acessamos alguma informação espe­
cífica da memória. Serão trazidas as últimas
des­cobertas da Neurociência. Para isso, é necessário restringir o assunto e não será tratada
a importância do sistema sensorial para acionar
nossa memória.
Embora o método Brain-Based Learning date
dos anos 1970, seus princípios têm sido confirmados pelos últimos estudos da Neurociência. O
objetivo geral deste artigo é trazer importantes
MÉTODO
Para realizar este trabalho, foi realizado le­­
van­­­tamento de artigos científicos relevantes
pu­­blicados em revistas científicas indexadas nas
bases de dados Medline e SciELO. Dentre os
artigos encontrados, foram selecionados preferencialmente aqueles publicados por cientistas
de renome em revistas de grande credibilidade,
cujo enfoque foi a estruturação do conhecimento
sobre o funcionamento fisiológico e molecular
do cérebro, trazendo comprovações irrefutáveis
que podem contribuir para o entendimento do
aprendizado. Paralelamente, pesquisou-se sobre
o assunto de neuroeducação e Brain-Based Lear­
ning, apoiando-se em artigos e livros da área.
Neste trabalho, concatenaram-se as novas informações científicas com o que se tem propagado
na linha do Brain-Based Learning.
NEUROCIÊNCIA DA APRENDIZAGEM
A aprendizagem ocorre em diversos animais
e é crucial para a sobrevivência. Aprender como
procurar alimentos ou a afastar-se de algo nocivo
permite a perpetuação da espécie. Em humanos,
a aprendizagem inclui procedimentos, como a
habilidade de andar de bicicleta, nadar (memó­
ria procedural); trajetórias, como aprender rotas,
caminhos (memória espacial e perceptiva); aprender a classificar e organizar (memória de­­cla­rativa
semântica); realizar procedimentos não-automáticos, como fazer uma receita culinária (memória
declarativa episódica, que inclui lembranças
de fatos). Como vemos, os diferentes tipos de
apren­­dizagem estão relacionados com tipos de
memórias, como veremos adiante nesse tópico.
O QUE É A MEMÓRIA?
Segundo Guyton & Hall3, a memória pode ser
definida fisiologicamente da seguinte forma:
“Fisiologicamente, memórias são armazenadas no cérebro pela mudança da
Rev. Psicopedagogia 2014; 31(96): 263-74
264
Dados recentes da Neurociência fundamentam o método “Brain-Based Learning”
me­mória pode ser de curto, de médio e de longo
prazo. Podemos descrever o processo da memória como facilitação, solidificação e, por fim,
evocação da memória. A primeira etapa está
relacionada com a memória de curto prazo, também chamada de traços de memória, depois com
a formação da memória de médio e longo prazo
e, finalmente, com a capacidade de resgatar de­
terminada informação guardada na memória. A
memória é acessada quando o cérebro repete o
mesmo estado de atividade cerebral, presente
no estado original quando um dado é percebido,
uma imagem, um som, um cheiro ou uma informação. Áreas do hipocampo e córtex entorrinal
participam desse processo7.
A formação da memória de longo prazo está
intimamente ligada à aprendizagem e tem sido
uma das grandes perguntas da Neurociência.
Barrett et al.5 explicam a formação da memória
em termos de plasticidade neural.
sen­­­sibilidade básica da transmissão sináptica entre neurônios, como resultado
da atividade neural prévia. As vias novas
ou facilitadas são chamadas de traços de
memória. Eles são importantes porque
uma vez que os traços são estabelecidos,
eles podem ser seletivamente ativados
pelos processos mentais para reproduzir
as memórias.”3
De acordo com Squire4, temos principalmen­te
dois sistemas de memória: a memória declara­tiva
(explícita) que é armazenada no lobo tem­­poral
medial e no hipocampo; e a memória não-de­cla­­­­
rativa (implícita), que é armazenada no ce­­re­belo,
estriatum e amígdalas. Temos quatro t­ipos de memória não-declarativa: priming, que é a memória
relacionada ao reconhecimento de palavras,
ocorre no neocórtex; procedural, que está relacionada a procedimentos motores, como quando
andamos de bicicleta ou dirigimos, acontece no
estriatum, associativa, que está relacionada aos
condicionamentos e depende da amígdala ou
do cerebelo quando é exclusiva­mente motora;
e não-associativa, que inclui a ha­­bituação e sensibilização e depende de várias vias reflexas5. A
aprendizagem formal escolar está relacionada
com o sistema da memória de­­­clarativa, que
inclui fatos, eventos, lugares, objetos, aquela
memória presente no consciente, que se pode
declarar6. A memória declarativa pode ser classificada como episódica, referente a percepção, sensações e sequência de fatos, também pode ser a
memória de lembranças; ou como semântica, com
organização e hierarquiza­ção de informações, por
exemplo, saber que Paris é a capital da França,
mais relacionada ao conhecimento formal5.
Segundo Squire4, enquanto o conteúdo da
apren­dizagem está relacionado à memória declarativa, o hábito de estudo e a habilidade de
aprender fazem parte da memória não-declarativa (inconsciente). Na memória não-declarativa,
experiências modificam comportamentos, mas
não requerem nenhuma memória consciente.
A memória trata-se de uma facilitação de uma
via neural, que reproduz uma percepção, seja
vi­sual, auditiva, tátil, olfativa ou integrativa. A
PLASTICIDADE NEURAL E APRENDIZAGEM
A transformação da memória de curto prazo
em memória de longo prazo está ligada à alteração da força de conexões sinápticas específicas,
que envolve transdução de sinal, alteração dos
canais iônicos da membrana plasmática dos
neurônios e ativação de genes e síntese proteica.
A formação da memória pode ocorrer quando
determinada via neural é facilitada ou formada.
Isso é realizado pela potenciação de longo prazo
(LTP). Quando ocorre o oposto, ou seja, quando
a força sináptica de uma via neural é diminuída,
os estímulos externos deixam de provocar uma
resposta. Este é o caso da habituação, que ocorre
pela depressão de longo prazo (LTD)3.
LTP e LTD ocorrem em todos os tipos de memória, em diferentes organismos vivos.
Em Aplysia, a memória implícita não-associativa de curto prazo transforma-se em memória
de longo prazo da seguinte forma: ocorre a estimulação do terminal pré-sináptico facilitador
no mesmo momento em que o terminal sensorial
é estimulado, liberando serotonina no terminal
sensorial; a serotonina age nos receptores seroto-
Rev. Psicopedagogia 2014; 31(96): 263-74
265
Ramos ASF
ninérgicos na membrana plasmática do terminal
sensorial, que ativam a enzima adenilciclase
no interior da célula, iniciando a transdução de
sinal com a formação da adenosina monofosfato
cíclica (AMPc); AMPc ativa uma proteína quinase que fosforila um componente do canal de K+,
bloqueando-o; o bloqueio desses canais levam a
um potencial de ação prolongado (pois atrasam
a hiperpolarização e finalização do potencial); o
potencial de ação prolongado causa a ativação
dos canais de Ca2+, com grande entrada de Ca2+
no interior do terminal sináptico sensorial. Esses
íons de cálcio aumentam a liberação de neurotransmissor, facilitando a transmissão sináptica
para o neurônio seguinte. Além disso, a repetição
do estímulo nocivo causa ativação gênica e síntese de proteínas, levando ao crescimento físico
de novas sinapses, que ocorre pelo elongamento
de botões sinápticos8.
A memória declarativa de longo prazo é for­­
mada por LTP no hipocampo5. O neurotrans­
missor glutamato liberado pelo neurônio pré-si­
náptico se liga aos receptores de ácido amino-3hi­droxi-5-metil-4-isoxazol propiônico (AMPA) e
de N-metil-D-aspartato (NMDA) na membrana
plasmática do neurônio pós-sináptico. A despolarização iniciada pela ativação dos receptores
AMPA atenua o bloqueio de Mg2+ no canal do
receptor NMDA e o Ca2+ entra no neurônio
pós-sináptico com o Na+. O aumento do Ca2+
ativa a calmodulina quinase, a proteína quinase
C e a tirosina quinase. Estas induzem a LTP. A
calmodulina quinase II fosforila os receptores
AMPA, aumentando sua condutância e o número
de receptores AMPA na membrana celular. Após
a indução da LTP, um sinal químico (óxido nítrico) é liberado pelo neurônio pós-sináptico e é
transmitido ao neurônio pré-sináptico, causando
aumento da duração na liberação do glutamato5.
Outra forma de plasticidade neural8 com for­
mação de memória declarativa ocorre com a
par­­ticipação de receptores de glutamato (GluR1)
e pela ativação gênica pelo fator de transcrição cAMP Responsiv Element Binding Protein
(CREB-1). Nesse mecanismo de indução de
LTP e memória, a transdução de sinal ocorre via
receptor de NMDA (NMDAR). A plasticidade de
curto prazo (algumas horas) é produzida pela
sinalização de Ca2+ dependente de NMDAR e
o recrutamento de novos receptores de glutamato. A plasticidade de longo prazo (dias) requer
ativação gênica dependente de CREB pela ação
de múltiplas proteínas quinases. A plasticidade
e a memória também requerem a síntese constitutiva da isoforma ativa de proteína quinase C8.
A plasticidade neural, também denominada
flexibilidade cognitiva, tem se mostrado ativa
para todas as idades. Cavallini et al.9 demonstra­
ram que idosos com idade entre 70 e 99 anos
responderam a métodos de treinamento cerebral,
apresentando melhoras na capacidade cognitiva
e memória.
MEMÓRIA E MOTIVAÇÃO
Sabe-se que a relação emocional de seu aluno
com o conteúdo ou até com o próprio professor é
crucial para a aprendizagem, podendo-se tornar
grande fonte de motivação ou grande bloqueio
contra determinado aprendizado10. Guyton &
Hall3 explicam isso da seguinte forma:
“Áreas especiais nas regiões límbicas
ba­­sais do cérebro determinam se uma
informação é importante ou não e tomam
a decisão subconsciente de armazenar a
informação como um traço de memória
sen­sibilizada ou suprimi-la.”3
Deve-se enfatizar que o sistema límbico está
relacionado com as emoções3.
Em estudo de caso médico, comprovou-se que
a retirada do hipocampo impossibilitava a formação de memória a longo ou médio prazo3. Guyton
& Hall3 sugerem que isso ocorra, pois essa região
é responsável pela punição e recompensa:
“Estímulos sensoriais ou pensamentos
que causam dor ou aversão excitam os
cen­tros límbicos de punição, e os estímu­
los que causam prazer, felicidade ou uma
sensação de recompensa excitam os cen­
tros límbicos de recompensa. Todos eles
juntos fornecem o humor básico e as motivações da pessoa. Entre essas mo­ti­vações
está a força motriz do cérebro para lem-
Rev. Psicopedagogia 2014; 31(96): 263-74
266
Dados recentes da Neurociência fundamentam o método “Brain-Based Learning”
corticoides administrados após a exposição a
situações de estresse aumentaram a consolidação da memória de longo prazo, pela ativação
de mecanismos noradrenérgicos no complexo
basolateral da amígdala. Em contraste ao aumento do efeito de consolidação, altos níveis de
cir­­culação dos hormônios do estresse dificultam
o acesso à memória e à memória de trabalho. Ou
seja, o estresse moderado pode ajudar a conso­
lidação da memória, entretanto altos níveis podem prejudicá-la16. Outros grupos de pesquisa
confirmam esses dados, de que estresse moderado pode facilitar memória de dados, enquanto
estresse agudo tem efeito oposto17,18.
Tubon et al.19 afirmam que o fator de transcrição CREB está envolvido com diferentes siste­
mas de formação de memória de longo prazo e
plasticidade. No trabalho de Tubon et al.19, os
autores também afirmam que CREB implica
na regulação de centenas de genes e é capaz
de responder a uma ampla variedade de sinais,
incluindo estresse. Curiosamente, esse fator de
transcrição não está relacionado a comportamentos19.
Alberini20 descreve a importância do fator de
transcrição CREB para a ativação de genes envolvidos com a memória e mostra que o estresse
pode estar ativando esse fator. O estresse é um
fator que estimula a via de transdução Mitogen-­
activated protein kinase (MAPK) para ativação
do fator de transcrição CREB20.
brar aquelas experiências e pen­samentos
que são agradáveis ou desagradáveis.
Es­pecialmente os hipocam­pos e, em um
grau menor, os núcleos médio-dorsais
do tálamo, outra estrutura lím­bica, mos­
traram-se especialmente importantes
para tomar a decisão de quais dos nossos
pensamentos são importantes o suficiente
numa base de recompensa ou punição pra
serem dignos da memória.” 3
Outros trabalhos confirmam a importância do
sistema de recompensa para a aprendizagem11-13.
A recompensa pode também ser o prazer de
saciar a curiosidade. Precisamos de motivação
para aprender. Isso não é apenas uma impressão
difusa oriunda da experiência como educandos
ou professores, trata-se de uma conclusão baseada na Neurociência. O centro de motivação
é o hipocampo3 e está definida sua importância
para a consolidação da memória14.
MEMÓRIA CONTEXTUALIZADA
Recentemente, Miller et al.15 demonstraram
que humanos têm maior tendência de lembrar-se
de dados consecutivos, quando estes estão con­
textualizados a localizações espaciais. Esse grupo testou a memória de humanos para lembrar
itens comprados em uma cidade virtual com
rotas definidas. Em outras palavras, quando os
dados estão inseridos em um ambiente espacial,
mesmo sendo virtual, podemos nos lembrar de
forma mais rápida e mais fácil. Nesse mesmo
trabalho, o grupo mostrou padrões da atividade
neuronal no hipocampo, amígdala e córtex entorrinal, em células responsivas à localização.
Comprovaram, também, a atividade relacionada
à contextualização espacial durante a vocaliza­
ção dos itens, ou seja, o conteúdo formal da apren­­
dizagem15.
ESTÍMULO MULTISSENSORIAL E MEMÓRIA
Alguns grupos de pesquisa em diversos países têm demonstrado que o estímulo multissensorial tem efeito positivo sobre a aprendizagem.
A Finlândia ocupa o primeiro lugar no ranking
mundial de qualidade de ensino, o Programme
for International Student Assessment (PISA). O
grupo finlandês, de Heikkilä et al.21, enfatiza que
a percepção é essencialmente multissensorial
em humanos e investigou os efeitos de estímulos audiovisuais no desempenho da memória. Os
participantes memorizaram estímulos auditivos e
visuais, congruentes ou incongruentes ou neu­tros.
APRENDIZAGEM E ESTRESSE
Evidências do trabalho de Roozendaal e co­
la­­boradores demonstram que hormônios do
estresse liberados pelas glândulas adrenais
estão criticamente envolvidos na modulação da
consolidação da memória16. Epinefrina e glico-
Rev. Psicopedagogia 2014; 31(96): 263-74
267
Ramos ASF
Os princípios centrais que norteiam o Brain-Ba­
sed Learning estão listados abaixo (adaptado de
Caine et al.24,25). A literatura em Neurociência tem
confirmado esses princípios. Aqui, relacionamos
alguns dos princípios com a os achados recentes
da Neurociência descritos no capítulo anterior,
citando as referências.
1. O cérebro é um processador em paralelo
(confirmado em 2008 por Raij et al.26),
mas não pode realizar muitas atividades
ao mesmo tempo;
2. O cérebro percebe o todo e as partes simultaneamente;
3. A informação é estocada em múltiplas áreas
do cérebro, consequentemente, há múlti­
pla memória e múltiplas vias neuronais
(confirmado em 2010 por Barrett et al.5);
4. Aprender engaja todo o corpo. A aprendi­
zagem é mente e corpo: movimento, ali­
men­tação, ciclos de atenção e aprendizagem modulada quimicamente;
5. A busca por significados é inata nos humanos;
6. A busca por significados ocorre por meio
de padronização;
7. As emoções são críticas para a padroniza­
ção e dirige nossa atenção e memória
(con­­firmado em 2014 por Leal et al.27);
8. O significado é mais importante que uma
informação isolada (confirmado os achados de Thelen e Murray28, em 2013);
9. Aprender envolve atenção focada e percepção periférica (confirmado, em 2013,
por Miller et al.29);
10.Nós temos dois tipos de memória: espacial
e de rotas (confirmado por Bahar & Shapiro30, em 2012);
11.Nós entendemos melhor quando fatos estão inseridos na memória espacial natural
(confirmado, em 2013, por Miller et al.29);
12.O cérebro é social, desenvolve-se melhor
em contato com outros cérebros;
13.O aprendizado complexo é ativado pelo
desafio e inibido pelo estresse agudo (confirmado por Schacher & Hu, em 201431);
Foi demonstrado que o desempenho da memória
mostrou-se melhor quando os estí­mulos visuais
e auditivos concomitantes eram semanticamente congruentes. Esses resultados sugerem que
experiências multissensoriais semanticamente
congruentes resultam em melhora da memória
cognitiva21.
Thelen & Murray22 sumarizam, em seu artigo de revisão, evidências de que experiências
multissensoriais têm efeito de longo prazo sobre
estímulos unissenssoriais visuais ou auditivos.
Também colocam em seu artigo que estímulos
multissensoriais só apresentam eficiência após
múltiplas repetições. Concluem que associações
multissensoriais formadas influenciam o processamento unissensorial posterior a promover
distintas representações do objeto, o que se
ma­nifesta como uma rede neural diferenciável,
cuja atividade está relacionada ao desempenho
da memória22.
COMO A NEUROCIÊNCIA PODE AUXILIAR
O MODUS OPERANDI DA PEDAGOGIA:
BRAIN-BASED LEARNING
Vimos como diferentes aspectos neurobioló­
gi­cos da memória estão relacionados com a
aprendizagem. Neste tópico será abordado como
esses dados da Neurociência podem auxiliar o
processo ensino-aprendizagem, seja em sala
de aula, seja em intervenção psicopedagógica
in­dividual.
Segundo Leslie Wilson23, Brain-Based Lear­
ning ou aprendizagem baseada no cérebro é
uma abordagem baseada em como a Neurociên­
cia pode prover um arcabouço biológico para o
processo ensino-aprendizagem, e como ajuda
a explicar comportamentos de aprendizagem.
Segundo Wilson23, trata-se de um metaconceito
que inclui uma mistura eclética de técnicas. Essa
forma de aprendizagem também engloba os seguintes conceitos educacionais: estilos de aprendizagem, múltiplas inteligências, aprendizado
cooperativo, simulações práticas, aprendizagem
experimental, aprendizagem baseada em estudo
de caso, educação psicomotora23.
Rev. Psicopedagogia 2014; 31(96): 263-74
268
Dados recentes da Neurociência fundamentam o método “Brain-Based Learning”
14.Cada cérebro organiza seu aprendizado
de forma única (estudado por Gandini et
al.32, em 2008);
15.Aprender é um desenvolvimento.
possam discutir os tópicos e se ensinarem mutuamente. Esse tópico remete aos itens 7 e 12 de
Caine, descritos acima.
Morais35 afirma “Estruturalmente e aos poucos o cérebro se modifica em sua arquitetura cog­
ni­tiva como resultado das experiências”. Sugere
o uso de práticas para que o neuroaprendiz sofra
experiências e indica que devemos desafiá-lo
a associar experiências prévias com as novas
que está mediando (correspondente aos itens
5, 8 e 11).
“Quanto mais estímulos, incentivos, desa­
fios e recompensas, maiores e mais densas serão as redes sinápticas se conectando. A capacidade de aprender não cessa.
A plasticidade neuronal, capacidade de
se renovar e gerar novos neurônios mostra que diante de tarefas mais complexas
que “exijam” maior quantidade de atributos das funções executivas envolvidas
(aten­ção, concentração, memória, criati­
vidade), mais eficientes se tornam!” 35
A partir da revisão da literatura em Neurociên­
cias propomos:
1. A exposição a diferentes ambientes promove a plasticidade neural e, consequente­
mente, o aprendizado14;
2. O cérebro humano é modulado pela repe­
tição de estímulo33,34;
3. O estresse moderado, como desafio, estimula a aprendizagem18.
Alguns elementos de ensino interativo emergem desses conceitos neurocientíficos. Implicações para uma melhor prática de ensino e uma
aprendizagem otimizada23:
• Imersão orquestrada: procurar reconstruir
o objeto de estudo no ambiente de sala de
aula ou levar os alunos até o mais próximo possível da realidade estudada. Essa
técnica é baseada nos itens 9 e11 descrito
acima e procura imergir o conteúdo na
percepção espacial do aluno;
• Estado de alerta relaxado: deve haver um
esforço para eliminar o medo enquanto
mantém um ambiente altamente desafiante. Essa técnica é baseada nos itens
7 e 13. Wilson sugere que o professor use
música erudita calma, luz mais próxima
da natural e que use um aroma de baunilha. Essas estratégias permitem acalmar
os alunos, além de estimular vários sentidos, remetendo ao item 4.
• Processamento ativo: o estudante é capaz
de consolidar melhor novo conteúdo se
este foi deduzido a partir de conhecimen­
tos do próprio aluno. Assim, a nova in­­for­
ma­ção será conectada com as pré-exis­
tentes. Essa estratégia baseia-se nos itens
3, 5 e 8.
Já Morais35 traz em seu livro as seguintes ob­
ser­va­ções para uma aprendizagem de sucesso.
Morais35 coloca que a memória e as emoções são
interligadas. Também sugere que se promovam
atividades sociais, nas quais os neuroaprendizes
Essa citação de Morais35 refere-se aos itens
1, 2, 3 e 4 de Caine, descritos no tópico acima.
“A Fisiologia cerebral funciona naturalmente para perceber, detectar e gerar padrões. Isso faz parte da evolução biológica
do ser humano: Checar e testar hipóteses.
Leve para sala desafios de resolução de
casos reais e ou simulativos. As simulações trabalham muito a criatividade e a
inovação. O pensar em saídas e soluções.
São neurométodos eficazes de apreensão
do conhecimento ali gerado, pois ocorrem
internamente as tentativas e aproximações, além da busca de evidências que
comprovem ou refutem as hipóteses.” 35
Essa citação de Morais35 relaciona-se com o
item 6 de Caine, descrito acima.
Outro importante trabalho na área trata-se
do artigo de Friedlander et al.36, que utilizam
a Neurociência para sugerir aos estudantes e
professores de Medicina como o processo en­
sino-aprendizagem pode ser melhorado. Esses
au­tores afirmam que a memória é um processo
Rev. Psicopedagogia 2014; 31(96): 263-74
269
Ramos ASF
dinâmico, no qual a informação representada é
um sujeito para as nossas experiências pessoais,
o contexto ambiental do aprendizado, eventos
subsequentes, níveis de atenção, estresse e outros fatores. O artigo apresenta o aprendizado
como uma alteração funcional e estrutural da
rede neural e baseia-se em experimentos celula­
res, moleculares e funcionais (fMRI – ressonância magnética funcional).
Abaixo descrevemos os aspectos propostos
por Friedlander et al.36 a serem considerados
para melhorar o aprendizado de estudantes de
Medicina. A cada tópico relacionamos com estu­
dos de Neurociência mais recentes:
• Repetição: os autores sugerem que os pro­
fessores trabalhem os tópicos diversas vezes por diferentes perspectivas. Propõe-se
que isso não se trata de redundância, mas
que os tópicos podem ser tratados de forma
mais profunda em diferentes momentos.
Estudos cognitivos utilizando fMRI em
humanos têm demonstrado que o aumento
da memória de reconhecimento (quando
um assunto é reconhecido por quando é
repetido) resulta da redução do processo, o
que é caracterizado como supressão neural
de repetição (encurtamento de um processo neural)37. A importância da repetição
tem sido confirmada por Mittner et al.34;
• Recompensa e Reforço: segundo os autores, recompensa é a chave da aprendizagem em todos os estágios da vida, para
todas as espécies, incluindo humanos13.
Explicam que se trata de um processo bio­­
lógico de detecção de associações, prin­
ci­palmente se o estímulo e a recompensa
ocorrerem concomitantemente. A eficiên­
cia das recompensas é compreendida
inclusive molecularmente12. Além disso,
o sistema intrínseco do cérebro de recompensa, presente nos neurônios da área
tegmental ventral, representa o prin­cipal
papel para o reforço do comportamento
aprendido do educando11;
• Visualização: a visualização, tão bem co­
nhe­­­­cida por cirurgiões, engaja não so­men­
•
•
•
•
te vias tálamo-corticais visuais supe­riores
do cérebro humano, mas também provê
a oportunidade para o desenvolvimento
e refinamento das representações internas de objetos complexos e sólidos e
sua localização no espaço. Esse aspecto
da aprendizagem pode ser alcançado por
assistir a um procedimento, por exemplo38;
Engajamento ativo: evidências neurobio­
lógicas demonstram que alterações funcionais no circuito neuronal que estão
asso­ciadas com a aprendizagem ocorrem se
o aprendiz estiver ativamente engajado39.
Aqui também consideramos outros autores
da aprendizagem baseada na Neu­­rociência
(Brain-Based Learning), co­­mo Morais35 e os
trabalhos clássicos de Caine et al.24,25;
Estresse moderado: apesar das consequên­
cias do estresse serem geralmente consideradas prejudiciais, há evidências que
sinais moleculares associados ao estresse
podem facilitar a potenciação de sinapses
nos circuitos cerebrais envolvidos na formação de memória e no reforço de aprendizagem comportamental. Entretan­to, altos níveis de estresse têm efeito oposto16;
Sono e descanso: o sono e o descanso têm
papel fundamental na consolidação da
me­mória e na memória de curto prazo.
Está relacionado à recapitulação dos
eventos ocorridos durante o sono40. Além
do sono propriamente dito, momentos de
pausa são importantes entre resoluções
de problemas e atividades de raciocínio;
Focar, evitando distrações: os autores ressaltam que realizar diferentes atividades
ao mesmo tempo diminui a eficiência
da aprendizagem e, portanto, impede
uma compreensão profunda e completa.
Recomenda-se uma abordagem multimodal, integrando diferentes formas de
apresentação das informações relevantes
para o tópico e encorajando os estudantes
a utilizarem diferentes mecanismos de
atenção ao foco, diminuindo a dispersão.
O uso de tecnologias podem proporcionar
multitarefas relacionadas ao conteúdo41;
Rev. Psicopedagogia 2014; 31(96): 263-74
270
Dados recentes da Neurociência fundamentam o método “Brain-Based Learning”
• Estilos individuais de aprendizagem: existem diferentes estilos de aprendizagem,
vários tipos de inteligência. Cada estudante deve encontrar sua própria estratégia de estudo. O professor, por sua vez,
deve incentivá-los a fazer isso e procurar
diferentes métodos nas aulas, para que
alcance todos os tipos de inteligência32;
• Processamento multissensorial: os autores
sugerem que o ensino siga múltiplas abordagens que acessem diferentes pro­cessos
sensoriais para potencializar o pro­cesso de
aprendizagem22. Eles propõem que maior
quantidade de neurônios envolvidos de
diferentes áreas cerebrais contribui para
um melhor armazenamento da memória.
cionamos os princípios, descritos por diferentes
autores, à literatura vigente, embasando-os.
Nes­­­te trabalho, apresentaram-se estudos sobre a
memória e como ela funciona. Mostrou-se que a
plasticidade é fundamental para a aprendizagem
e que ocorre em todas as etapas da vida humana.
A motivação, tão conhecida na área pedagógica
e de gestão, foi cientificamente relacionada à
aprendizagem, inclusive apresentando estudos
moleculares recentes do efeito da recompensa e
reforço. De forma oposta à mais comumente divulgada, foram apresentados estudos, nos quais
o estresse moderado contribui positivamente
para a aprendizagem. Apresentar o conteúdo
por diferentes acessamentos sensoriais, por fi­
guras, textos, sons é uma técnica amplamente
utilizada para estudo individual e em escolas.
A eficácia dessa estratégia tem sido confirmada
por estudos recentes que demonstram que estímulos multissensoriais congruentes melhoram a
aprendizagem. Dados mais recentes da Neurociência estão relacionados com os princípios da
educação baseada na Neurociência (brain-based
learning). Procurou-se, assim, contribuir para
um modus operandi da Pedagogia mais voltado
para o educando e para seu funcionamento cerebral, tornando o aprendizado mais prazeroso
e eficiente.
CONCLUSÕES
Este trabalho pretendeu contribuir para a
apre­sentação da base neurobiológica para o
entendimento da aprendizagem e sua aplicação
na pedagogia e psicopedagogia, em especial na
educação baseada na Neurociência (brain-based
learning). É interessante notar que, embora essa
linha pedagógica tenha surgido há várias décadas, seus princípios têm-se confirmado pelos
estudos mais recentes da Neurociência. Rela-
Rev. Psicopedagogia 2014; 31(96): 263-74
271
Ramos ASF
SUMMARY
Brain-Based Learning is confirmed by recent data in Neuroscience
Neuroscience is essential for understanding learning and memory, but
little is known about its application in education. The Brain-Based Learning
methods present brain based technics used in order to improve learning,
but this approach has not been appropriately divulgated in the Pedagogy
and Psychopedagogy areas. Here, we revise the principles of Brain-Based
Learning and correlate to recent data of Neuroscience. The principal
aim of this review article is present the Neuroscience new insights and
correlate to the pedagogic praxis. In this work, we show that the neural
plasticity is crucial for the learning and it occurs in all ages of humans.
Here, the motivation, including molecular studies of the effect of reward
and reinforcement, is related to the learning. This article shows studies
about stress, where moderate stress improves learning, in opposition to
the current opinion. In school lessons, the use of technics with various
sensory accesses, for example, audio, visual and textual presentations,
is very common. This approach has been confirmed by scientific studies,
which show that multisensory congruent stimulus improve the learning.
The basic principles of the Brain-Based Learning are related to the most
recent data in neuroscience, as shown here. The expected outcome of this
work is to contribute for the modus operandi of the Pedagogy in such way
that the students and their cerebral functioning are the principal point in
order to learning become more pleasant and efficient.
KEY WORDS: Neurosciences. Learning. Brain-based learning.
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Aglaia Costa de Souza, pela re­
visão literária, e a Monica Souza da Fonseca,
pela revisão técnica e a Cassius Pereira Ramos,
pelas contribuições críticas ao texto.
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Trabalho realizado na Clínica Psicopedagógica Apren­
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Artigo recebido: 20/11/2014
Aprovado: 15/12/2014
Rev. Psicopedagogia 2014; 31(96): 263-74
274
Deslocamentos teóricos
da de
noção
da “relação com o saber”
ARTIGO
revisão
Deslocamentos teóricos da noção da
“relação com o saber” e suas possibilidades
para a análise psicopedagógica das
aprendizagens escolares
Soledad Vercellino; Romina Van den Heuvel; Mariana Guerreiro
RESUMO – Neste artigo, temos descrito distintas deslocações que se têm
suscitado com a noção de relação com o saber ao seu uso efetivo em trabalho
de pesquisa empírica e teórica de diferentes áreas disciplinares. Existem na
comunidade acadêmica internacional, muitas iniciativas que tentam abordar,
desde diferentes disciplinas, alguns problemas da transmissão de saberes e
de sua apropriação, usando o poder heurístico da noção de “relação com o
saber”. Essas iniciativas incluem estudos teóricos e empíricos que aludem à
relação com o saber dos sujeitos escolares das disciplinas escolares: docentes
e alunos que se matriculam principalmente em duas grandes escolas: a
psicanalítica do Centre de Recherche Education et Formation (CREF), da
Universidade Paris X-Nanterre, criado por Jacky Beillerot e continuado por
Nicole Mosconi e Claudine Blanchard-Laville; e a sociológica, do Grupo
“Educação, socialização e coletividades locais” (ESCOL), formado no ano
1987 no Departamento de Ciências da Educação da Universidade de Paris
VIII, Saint Denis, sob a direção de Bernard Charlot. Registram-se esforços
por precisar teoricamente essa noção “inexata, de contornos e condição
incerta”. As pesquisas concordam que a relação de um sujeito com o saber
constitui em dois processos vitais, um primário vinculado às primeiras
relações que a criança desenvolve no âmbito familiar, que imprime certas
Correspondência
Soledad Vercellino
Los Perales 2605 – General Roca – Río Negro – Argen­tina
E-mail: [email protected]
Soledad Vercellino – Licenciada en Psicopedagogía
(UNComa), Magister en Sociedad e Instituciones
(UNSL). Professor e pesquisador de la Universidad
Na­­­­­­cional del Comahue y de la Universidad Nacional
de Río Negro, Río Negro, Argentina.
Romina Van den Heuvel – Estudante avançada da
Licenciatura en Psicopedagogía (Centro Universitario
Regional Zona Atlántica Universidad Nacional del
Comahue). Research Fellow Conselho Interuniversitário
Nacional, Río Negro, Argentina.
Mariana Guerreiro – Estudante avançada da Licen­
ciatura en Psicopedagogía (Centro Universitario Re­­­­
gional Zona Atlántica Universidad Nacional del Co­­
mahue), Río Negro, Argentina.
Rev. Psicopedagogia 2014; 31(96): 275-88
275
Vercellino S et al.
características a tal relação; são marcas – mais ou menos facilitadoras – que
os processos de subjetivação deixam na forma em que o sujeito se relaciona
com o saber. E um processo secundário, vinculado ao trânsito por instituições
exogâmicas – as do sistema educativo, as da inserção laboral – que com
os seus próprios reservatórios de significados, lógicas de funcionamento
e demandas para o sujeito, pareceriam ser oportunidade ou ocasião para
comover, modificar ou fortalecer essa relação. As pesquisas diferem nas
dimensões de análise nas que enfatizarão: os estudos que fazem parte da
ESCOL o farão nos sentidos que os sujeitos constróem em torno do saber,
a sua relação com eles mesmo, e por extensão, com a escola, em geral. Os
estudos fazem parte dos múltiplos desenvolvimentos do CREF, enquanto
isso darão prioridade a certos fenômenos de ordem inconsciente: fenômenos
de transferência, fantasmagóricos e até pulsionais. O que é evidente é, em
suma, a persistência de uma problemática teórico-epistemológica: essa é a
maneira como o sujeito é conceituado, o saber e a relação que o sintagma
estabelece entre os dois.
UNITERMOS: Conhecimento. Aprendizagem. Psicopedagogia.
INTRODUÇÃO
Este artigo apresenta os resultados da revisão
da literatura realizada em torno da noção de
“relação com o saber”.
Com o mesmo tenta-se explicar os diferentes
deslocamentos teóricos dessa noção, ou seja,
para dar conta da mobilidade desse conceito,
que tendo sido gerado no campo da psicanálise
lacaniano num contexto intelectual e de pesquisa determinado tem sido retomados por outros
campos do saber, como a didática e a sociologia
ou por outros desenvolvimentos psicanalíticos1.
Desde essa perspectiva teórico-metodológica se
abordará a problematicidade do deslocamento
conceitual, observando como dito conceito é reconsiderado em cada campo de problemas, como
se geram novas conceituações, as que “podem
dar-lhe, não só um maior alcance às suas dimensões de análise, mas também um novo alcance
que compromete até a mesma enunciação”2.
Finalmente, se analisarão as pos­sibilidades conceituais e heurísticas que essa noção tem para a
pesquisa no campo da Psicopedagogia.
DESENVOLVIMENTO
Os estudos sobre a relação com o saber ini­
ciam-se na França, ao interior da psicanálise,
na década de 1960. No final dos anos 1980 e
durante os anos 1990, aparecerão as obras que
são os pilares sobre as que, posteriormente, se
de­senvolve a pesquisa que trata a relacão com
o saber.
Essas obras provêm de três grupos de pesquisa consolidadas, procedentes de disciplinas
diferentes: por um lado, o grupo do “Centre de
Recherche Education et Formation” (CREF), da
Universidade Paris X-Nanterre, criado por Jacky
Beillerot e continuado por Nicole Mosconi e
Claudine Blanchard-Laville, que exploraram e
desenvolveram a noção desde diferentes teorias
psicanalíticas, com o interesse de “aprofundar
tal ou qual perspectiva suscetível de contribuir
um novo esclarecimento a essas noções de saber
e de relação com o saber. Por isso [recorrem]
tanto a Sigmund Freud como a Melanie Klein
ou a Jacques Lacan, ou também a Wilfred Bion e
Donald Winicott como a Cornélius Castoriadis”3.
Rev. Psicopedagogia 2014; 31(96): 275-88
276
Deslocamentos teóricos da noção da “relação com o saber”
à pesquisa dos sociólogos que tentaram explicar
a falha escolar invocando as teorias da reprodução social, as origens sociais e a desvantagem
sociocultural6. Segundo esses autores, essas
teo­rias explicam a falha escolar em termos de
carências, lacunas, déficit ou deficiências, todo o
qual leva a enquadrar esse fenômeno só em termos negativos. A perspectiva sociológica sobre a
relação com o saber propõe uma “interpretação
positiva” do sucesso ou a falha escolar através
de uma compreensão da relação do sujeito com o
saber (já seja este sujeito o estudante, professor,
etc.) e dos processos que acompanham a estruturação dessa relação.
Finalmente desde a didática, a ideia da relação com os saberes cresceu e se desenvolveu
durante a década de 1990 no campo da educação
matemática, principalmente no seio do Institut
de Recherches sur L’enseignement des Mathematiques (IREM) da Universidade Aix-Marseille, criado e dirigido por Chevallard7. Outros
pesquisadores que temos consultado afiliados
dessa linha são Venturini et al.8 e Therriault et
al.9. Essa abordagem introduziu a ideia da relação que um sujeito ou uma instituição mantém
com um determinado objeto de conhecimento
relativo a disciplinas escolares ou científicas,
por isso se refere ao termo “saberes”, no plural.
A seguir apresentaremos uma revisão da lite­
ratura sobre a pesquisa teórica e empírica que
se desenvolve seguindo os desenvolvimentos
destas escolas.
Por outro lado, também na França, sociólogos
da educação que trabalham numa corrente crítica e antropológica4 começam a desenvolver esse
conceito na década de 1970 e o tornam nos anos
1980 e 1990 num tema de pesquisa empírica.
Eles provêm da equipe de pesquisa “Educação,
socialização e as coletividades locais” (ESCOL),
formado no ano de 1987, no Departamento de
Ciências da Educação da Universidade de Paris
VIII, Saint Denis, sob a direção de Bernard Charlot. Essa equipe “desenvolve pesquisas sobre a
relação com o saber e a relação com a escola de
jovens que frequentam estabelecimentos localizados na periferia. Uma primeira pesquisa se
ocupou da faculdade e, em menor medida, das
escolas primárias (Merlot, Bautier e Rochex,
1992). A equipe teve um interesse imediato nos
liceus: Elizabeth Bautier e Jean-Ives Rochex
trabalharam sobre os liceus gerais e técnicos, e
Charlot sobre os liceus professionais”3.
Esse autor definirá sua posição teórico-disciplinar como uma leitura da problemática desde
uma sociologia do sujeito que assume uma perspectiva antropológica, a que, argumenta, está
ausente nos trabalhos de outros sociólogos que
abordam a educação, como Bourdieu ou Dubet,
e da perspectiva psicanalítica do CREF, principalmente, nas propostas de Mosconi. Sinala:
“A questão compete à Antropologia. A
perspectiva antropológica falta em Dubet, que planteia a socialização e a subjetivação, mas esquece a hominiza­ção.
Falta na equipe de Paris X, que es­quece
que o sujeito e o seu desejo não são inteligíveis mais que através de sua condição
humana. É de aqui que temos de começar: da condição de pequeno homem.
Essa condição faz dele um sujeito, ligado
a outro, desejando, compartilhando um
mundo com outros sujeitos e transformando com eles esse mundo. Esta condição que impõe ao pequeno homem de
se apropriar do mundo e construiu-se ele
mesmo, educar-se e ser educado5”.
A UTILIZAÇÃO DO CONCEITO NA PESQUISA SOBRE A EDUCAÇÃO
O rastreamento bibliográfico realizado nos
tem permitido advertir que a categoria relação
com o saber é desenvolvida e conta com ampla
difusão na França e em outros países de fala
francesa, ao ponto de registrar-se vários eventos
acadêmicos e científicos dedicados à análise da
mesma, como é o caso do Simpósio “Relação com
o saber: do conceito a seus usos” desenvolvido
no âmbito do Congrès International d’Actualité
da Recherche en Education et en Formation,
realizado em Estrasburgo, no ano 2007, e do
Desde essa perspectiva, a ideia da relação com
o saber se desenvolve, em princípio, em res­­posta
Rev. Psicopedagogia 2014; 31(96): 275-88
277
Vercellino S et al.
recente Dossier Rapport Espirit au savoir d Espitit
Revista Critique, em sua edição do ano 2013,
dirigido por Catherine Nafti Malherbe da Universidade Católica do Oeste de Angers, França
e Ghislain Samson, da Universidade de Québec
Trois Rivières (Canadá).
Entre os pesquisadores francófonos dedica­
dos a desenvolver a noção, cabem citar-se
Ka­­lali6, Mairone10, Pouliot et al.11, Hatchuel12,
Gag­non13, Allain14, Musard & Poggi15, Beaucher
et al.16, e a tunisina, Miled17.
A noção aparece com pouca frequência na
literatura em idioma inglês. No idioma espanhol,
temos identificado pesquisas do país ibérico18,
da Colômbia19, do Chile20-22 e do Uruguai23. No
caso do Brasil, temos encontrado a pesquisa de
Silva24, mas acreditamos que uma revisão mais
ampla nos permitirá descobrir uma maior produção, especialmente ao considerar o estabelecimento de Charlot nesse país há alguns anos.
Com relação à Argentina, se tem encontrado os trabalhos de Monetti25, Tenaglia26, Diker
& Frigerio27,28, Jure29, Falavigna & Arcanio30,
Ardi­les & Borioli31. Em vários deles se adverte a
influência acadêmica da Profa. Martha Souto,
quem foi uma das promotoras da divulgação da
obra de Beillerot neste país.
As pesquisas resenhadas podem ser classi­fi­
cadas em dois grupos: um primeiro grupo tra­­ta-se
de estudos ou pesquisas teóricas (no sen­tido que
Gohier32, Demo33, Raiche & Noël-Gaudreault34
definem esse tipo de indagação) e outro grupo
de pesquisas empíricas.
Dentro das pesquisas teóricas, cabem men­­
cionar-se os trabalhos das argentinas Fala­vigna
& Arcanio30, e os canadenses Pouliot et al.11,
Therriault et al.9, que desenvolvem a forma em
que desde as perspectivas psicanalítica e sociológica se conceitualiza dita noção, as áreas de
convergência e divergência que se produzem
entre esses quadros de referência e os principais
representantes e grupos acadêmicos que vêm
desenvolvendo pesquisas sobre a mesma, principalmente em países francófonos.
A reflexão teórica de Zambrano Leal19, por sua
vez, analisa o contexto em que surge a teo­ria sobre
a “relação com o saber”, colocando os aspectos conjunturais posteriores à queda do Muro
de Berlim. Menciona, porém, o passo de uma
socieda­de de disciplinamento para uma sociedade de controle, em função às novas tecnologias,
como contexto que promoveria o surgimento
desse novo objeto de conhecimento.
Afirma que “após o final da década dos oiten­ta,
a matéria-prima mais importante passou a ser o
conhecimento (...) a escola (...) ficou submetida
ao poderoso discurso da qualidade, a flexibilidade, a eficácia, a eficiência”27. Esse autor supôs
que o ensino cedesse a sua hegemonia para a
apren­dizagem e, mais especificamente, da sua
realização ou fracasso, entendido desde uma
perspectiva quantitativa ou de medição, tais como
desempenho, o sucesso ou o fracasso escolar.
Beaucher et al.16 tentaram operacionalizar o
conceito de relação com o saber, pois consideram
que o mesmo é difícil para peneirar, e que ali
que reside a sua vantagem e sua desvantagem:
“é flexível, abrangente e generosa. Também pode-se adaptar para o estudo de
vá­­rios objetos, então permanece intimamente ligado ao contexto e aos objetivos
da pesquisa na que está segurada, e a
sua implementação variará de acordo se
o pesquisador enfatiza o aspecto subjetivo
da relação com o saber ou com suas raizes
em múltiplas situações socioculturais16”.
Em sua operacionalização, tomarão como
marco teórico os desenvolvimentos da ESCOL
(Adverte-se esta opção teórica metodológica na
maior parte dos trabalhos descrito no Dossier
Rapport au savoir da Revista Espirit Critique;
2013), estabelecendo quatro elementos que
marcam a definição da relação com o saber: o
pri­­meiro refere-se à natureza relacional da relação com o saber; o segundo destaca os registros
identitários e epistêmicos da mesma, o terceiro
situa a relação com o saber relacionada com o
sentido da aprendizagem e o quarto distingue
modalidades de estruturação de dito sentido.
Kalali6, por sua vez, analisa a perspectiva sobre
o sujeito que tem sido operacionalizada no grupo
ESCOL e no grupo CERF. A autora indicará que
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278
Deslocamentos teóricos da noção da “relação com o saber”
as diferentes equipes tentam responder se “O
sujeito é ele imediatamente social ou torna-se
pela socialização da psique?”
Em sua análise das diferentes conceituações
encontrará que os significados subjetivos e as limitações ou condições socioinstitucionais são os
dois pólos que dialetizam a relação com o saber.
Aqui é onde a autora encontra o poder heurístico e a fraqueza da noção. Finalmente concluirá
que as diferentes posições teóricas refletem sua
condição de desenvolvimento epis­temológico de
uma teoria do sujeito e que, embora as mesmas
constituam a base de diferentes lógicas da formação do sujeito, não estão o suficientemente consolidadas para constroir uma teoria do sujeito.
Gagnon13, finalmente, analisará a “relação com
o saber” em chave epistemológica. Realiza uma
análise dos escritos tanto da corrente francesa
como a anglo-saxã e planteia que embora não
haja um diálogo entre as duas, possuem algumas
semelhanças, entre os quais se destaca: “um
crescente consenso sobre a ideia geral de que as
relações com o saber de estudantes e professores,
e com ele a questão da epistemologia pessoal
seriam fatores importantes na persistência e
sucesso acadêmico”13.
Segundo a leitura dos estudos teóricos discu­
tidos até agora, podemos observar que um grupo
significativo deles realiza um trabalho bastante
descritivo e dão conta da evolução desse conceito nas três Escolas já referenciadas: indicam
a rede de conceitos próprios de cada desenvolvimento, os principais representantes e grupos
acadêmicos que desenvolvem pesquisas desde
esse conceito, dando a ideia clara de que existem
diferentes escolas (“Entendemos por “escola”
a comunidade intelectual ou científica que se
reune em torno de um conjunto de ideias, pro­
ble­mas e pressupostos básicos comuns, organizados através de uma ou mais teorias que têm
características, traços ou elementos especí­ficos
que as distinguem das demais. Também, além de
que dentro possam existir pontos em discussão,
estes devem ser compartilhados e acordados
pelo grupo de referência”2) que desenvolvem pesquisas sobre essa noção. Alguns darão especial
ênfase ao contexto sociohistórico de surgimento
de dita noção, enfatizando que a mesma surge
como alternativa às leituras reducionistas da
aprendizagem. Outros autores fizeram progressos na operacionalização do conceito a partir
da escolha do marco teórico de alguma das es­
colas, buscando esclarecê-lo ao colocá-lo em
discussão com outras teorias e/ou encontram
os nós problemáticos, no interior dos próprios
desenvolvimentos em torno à RcS.
Esses pontos críticos parecem estar localizados nas teorias do sujeito e do saber que sustêm
nos diferentes desenvolvimentos. A questão do
sujeito reatualiza discussões epistemológicas de
longa data nas ciências sociais e humanas: as
controvérsias sobre a relação entre o indivíduo e
a sociedade, entre “o aspecto subjetivo da relação
com o saber ou suas raízes em múltiplas situações socioculturais”35; significados subjetivos e
as limitações ou condições socioinstitucionais.
Retomaremos essas discussões ao final do
artigo, mas façamos notar aqui a fertilidade das
mesmas para a compreensão – parafraseando
Lajonquiére35 – as vicissitudes de um sujeito na
reconstrução do saber (por enquanto não nos expediremos sobre a diferença problemática entre
saber e conhecimento que esse autor desenvolve
longamente), ou seja, a contribuição heurística
que essas discussões têm para o campo da Psicopedagogia.
A PESQUISA EMPÍRICA SOBRE A RELAÇÃO COM O SABER
Além da pesquisa teórica descrita, temos
iden­tificado as pesquisas empíricas que utilizam
esse conceito, as quais são mencionadas em
al­­gumas das três escolas já nomeadas ou em
mais de uma delas. Também, além dos debates
teóricos epistemológicos que se dão entre a
perspectiva psicanalítica e sociológica, debates
declarações alertam os autores (Beillerot & Mosconi3 e Charlot5) e seus analistas (Kalali6), não
são poucas as investigações que moldam suas
estruturas conceituais com as contribuições de
ambas as correntes. Várias das pesquisas resenhadas por Therriault et al.9 articulam a perspectiva sociológica com a didática (Tabela 1).
Rev. Psicopedagogia 2014; 31(96): 275-88
279
Vercellino S et al.
Frigerio27,28 abordará esta noção para analisar
os processos educativos em instâncias não escolares, tal é o seu estudo sobre a relação com
o saber de adolescentes institucionalizados em
lares para crianças.
A revisão de tais pesquisas nos permite ver
que alguns deles focalizarão no estudo dos
pro­cessos primários (socialização primária e
secundária) de construção da relação com o
saber, aqueles que, em termos genéricos, se desenvolvem no âmbito familiar. Enquanto outros
(a maioria) analisarão a relação com o saber do
aluno em situações de aprendizagem que se
desenvolvem em instituições, na sua maioria,
escolares (Tabela 2).
Também, adverte-se que as pesquisas analisam a relação com o saber de distintos “sujeitos
escolares”: alguns enfatizam no docente ou professor, outros na relação dos alunos com o saber.
As pesquisas focam na relação professor com
o saber, concordam que os rasgos (Tenaglia26)
ou tipo de vínculo (Jure29) da mesma impactam
nas práticas docentes, nas decisões sobre o que
ensinar e como. Aludem os diferentes tipos de
saberes: o saber em geral, o saber disciplinar e
o saber didático. As pesquisas concordam, também, que os docentes estabelecem com esses
saberes diferentes tipos de relações em função do
sentido que concedem a cada um. Enquanto que
dita relação não é estável e que os caminhos educativos e laborais podem modificá-las (Jure29).
A relação com o saber dos alunos é indagada em diferentes áreas do sistema educativo:
embora a maior quantidade de pesquisas foque
no ensino fundamental também se registram
trabalhos que enfocam os alunos do nível médio,
do nível universitário e, até mesmo, na educação inicial-maternal. Só a pesquisa de Diker e
Estudos sobre os processos primários de
construção da relação com o saber
Com relação a esse primeiro conjunto de
pesquisas, encontramos a indagação de Allain14,
se pergunta se a construção da relação com o
saber está ligada à origem socioprofissional dos
alunos. Desde as mesmas, constata que os estu-
Tabela 1 – A pesquisa empírica sobre a relação com o conhecimento e a estrutura conceitual.
Equipe da Universidade
de París X Nanterre
Escola
Pesquisas empíricas
que ocupam seu
marco referencial
Grieco23, Tenaglia26,
Quilaqueo &
Quintriqueo20,
Quintriqueo & Torres22
Equipe Escol, na Universidade
París VIII- Sant Denis
Equipe de Irem de
Aix-Marseille
Silva24, Hernández & Tort18,
Mairone10 e algumas das
Miled17, Ardiles & Borioli31, Allain14,
pesquisas resenhadas
Musard & Poggi15, Beaucher et al.16
por Therriault et al.9
Monetti25, Zambrano Leal19, Diker & Frigerio27,28, Falavigna &
Arcanio30, Silva24
Tabela 2 – Sujeitos que focam os estudos empíricos sobre a relação com o saber.
Pesquisas que focam na relação
com o saber do docente
Tenaglia26, Monetti25, Jure29, Mairone10, Ardiles & Borioli31, os estudos no
Canadá e Gabón de Therriault resenhados em Therriault et al.9
Pesquisas que focam na relação
com o saber do aluno
Nível inicial-maternal
Richard-Bossez, 2013
Nível primário
Miled , Mairone10, Silva24, Zambrano Leal19,
Quilaqueo & Quintriqueo20, Quintriqueo & Torres22
Nível médio
Hernández & Tort18, Tenaglia26
Nível superior-universitário
Grieco23, Monetti25, Falavigna & Arcanio30,
Beaucher et al.16
Outras instituições
Diker e Frigerio27,28
17
Rev. Psicopedagogia 2014; 31(96): 275-88
280
Deslocamentos teóricos da noção da “relação com o saber”
dantes de famílias pobres seriam mais propensos
a manter representações (ou da escola como
instituição ou do rol do estudante) próximas
ao que a autora chama de “má” relação com o
saber. Mas também alertou que todos os alunos
dessas aulas não têm a mesma relação com o
saber e alguns estudantes oriundos de meios
mais privilegiados teriam uma “má” relação com
o saber. Conclui que a relação com o saber pode
ter um vínculo com a origem socioprofissional
dos estudantes.
O trabalho de Miled17, por sua vez, analisa
como a educação familiar ajuda a orientar relação com o saber das crianças no primeiro ano
de escola primária, em Tunes. Para abordar a
educação familiar, combina o estudo das alianças
coparentais, os valores e estilos educativos parentais. A partir de um estudo de casos múltiplos,
a pesquisa modeliza ditos estilos educativos,
vinculando-os com tipos de relações com o saber
ou figuras do aprender. Carateriza quatro estilos: estimulante ou de incentivo, superprotetor,
rígido e laissez-faire.
Finalmente, os trabalhos dos pesquisadores
chilenos Quilaqueo & Quintriqueo20 e Quintriqueo & Torres Cuevas22 abordam a relação de
crianças e adolescentes com saber sociocultural
Mapuche, que se caracteriza de ter por objeto
certos saberes vernáculos, centralizados principalmente em conteúdos atitudinais relacionados
à memória social Mapuche e por determinadas
formas de aprendizagem sustentadas na oralidade e em certos rituais. Adverte sua distância
com os conhecimentos e as modalidades de
aprendizagem que propõem o currículo escolar,
indicando que, a lógica do conhecimento escolar
estaria mais associada à escrita dos conteúdos que os alunos aprendem que à oralidade,
enquanto que ajustada na “racionalidade dos
professores, produto da cultura escolar e formação profissional, com ausência conhecimento
cultural Mapuche”22.
Essas pesquisas (além da diversidade de con­­
textos nas que se desenvolvem) coincidem no esforço para discernir tipos ou padrões da relação
com o saber, às apoiadas em categorias da So-
ciologia (como a da origem socioprofissional), da
Psicologia Educacional (como as de alianças coparentais, valores e estilos educativos familiares)
ou socioantropológicas (tais como a socialização,
práticas socioculturais e interculturalidade) os
trabalhos resenhados dão conta das marcas –
mais ou menos facilitadoras – que os processos
de subjetivação (hominização, segundo Charlot5)
deixam na forma em que o sujeito se relaciona
com o saber. Também dão conta que a entrada
e o trânsito através de instituições educativas,
com seus próprios reservatórios de significações,
lógicas de funcionamento e exigências para com
o sujeito, constituem ocasiões para comover,
interpelar ou reforçar os mecanismos de relação
do estudante com o saber.
Em seguida se desenvolverão pesquisas que
problematizarão a relação com o saber no contexto dessas instituições.
A relação com o saber e os processos de
en­­sino e aprendizagem nas instituições
edu­cativas
Dizíamos que um número significativo de
pesquisas focaliza na relação do aluno com o
saber, fazendo análise em situações de ensi­
no-aprendizagem em instituições educativas
ou afins.
Assim, por exemplo, em linha com a crítica da
sociologia da reprodução que realiza Charlot5,
o trabalho de Hernandez & Tort18 analisará a
relação com o saber de certos jovens que realizam seus estudos de ensino médio obrigatórios
na Espanha, como forma alternativa de estudar
o “fracasso escolar”, já não a partir dos resultados de alguns alunos que, por diversas razões,
carecem do que os adultos esperam deles, mas
a partir de suas experiências com os saberes aos
que acedem dentro e fora da escola.
Interroga-se: “sobre o que está acontecendo,
qual é a atividade implementada pelo aluno,
qual é o sentido que lhe dá à situação, quais
são as relações mantidas com os outros. (Tenta)
compreender como se constrói a situação de um
aluno que fracassa ou tem êxito na aprendiza-
Rev. Psicopedagogia 2014; 31(96): 275-88
281
Vercellino S et al.
gem, e não o que lhe falta ou o logro. Trata-se
de compreender o fracasso ou o sucesso como
uma situação que ocorre durante a história e
considerar que todo indivíduo é um sujeito”18.
Outros grupos de trabalhos analisarão a relação dos alunos com certo saberes, por exemplo,
os da matemática em Silva24 e os de educação
física em Musard & Poggi15, ou em determinados
momentos ou circunstâncias da escolaridade, tal
é o caso dos estudos de Falavigna & Arcanio30
que analisam as relações com o saber (escolar)
que estabelecem os ingressantes à universidade,
ou a pesquisa de Beaucher et al.16 que estuda a
natureza da relação com o conhecimento para os
alunos que concluem o ensino médio em Quebec
(16-17 anos).
Esses estudos, como advertimos acima, que
se enquadram nos desenvolvimentos de Bernard
Charlot5, darão suma importância para os sentidos que os alunos dão a certos saberes escolares
ou a sua escolaridade em geral. O problema do
sentido, como veremos, insiste na obra do autor
da ESCOL, quem se dedica a esclarecer o que
se entende por esse conceito, articulando-o a
categorias como a de “mobilização, atividade”5.
Para esse autor, o significado implica pôr em
relação palavras, enunciados, acontecimentos:
“com outros em um sistema, ou em um
conjunto; faz sentido para um indivíduo
algo que lhe acontece e que tem relações
com outras coisas da vida. [É] o que produz inteligibilidade sobre alguma coisa
alheia, o que esclarece qualquer coisa no
mundo, o que é transmissível e pode ser
compreendido em uma troca com outros.
O sentido é produzido em uma posta em
relação, no interior de um sistema ou nas
relações com o mundo ou com os outros”5.
“a história pessoal, as perspectivas fami­
liares; as produções de sentido sobre o
que, como, porque saber /estudar determinada carreira; os vínculos com outros;
a imagem que se tem de si mesmo e
aquela que se mostrará aos outros; as
expectativas para o futuro; os desempenhos acadêmicos, as aspirações sociais;
vocacionais e profissionais; os modelos
de vida e as orientações valorativas envolvidas; definitivamente, a construção
de sua própria vida, em suas inscrições
espaço-temporais-afetivas”30.
Finalmente, os estudos de Grieco23, Hatchuel12
e Diker & Frigerio27,28, focalizarão nas situações
de ensino-aprendizagem e como estas dão certas
características às relações com o saber, tendem
a “favorecer, autorizar, ou de outro modo evitar
certas “práticas de aprendizagem” dos alunos”13
ou condicionam as modalidades de relação com
o saber.
Hatchuel12, a partir de suas pesquisas em se­
minários e aulas de matemáticas adverte que o
adulto (docente) constrói um marco de aprendizagem que pode facilitar ou dificultar a apropriação
do saber. Salienta que dito marco não está feito
apenas “pelo dispositivo concreto (neste caso o
seminário de matemáticas), mas também na maneira em que essas solicitudes conscientes e inconscientes vão surgir e fazer sentido em termos
do que está permitido e autorizado (...) e do que
se dirá das regras instituídas dessa maneira”12.
Definirá esse marco como “encontro pedagógico”, o qual se verá facilitado pela “institucionalização de rituais”, entre os quais destaca os
vinculados à gestão e à organização do tempo.
A autora propõe o conceito de “casais psíquicos
epistêmicos” para destacar as parcerias que se
cons­­tróem em torno do saber e dar conta da
força particular das consequências psíquicas de
tais alianças. Nessas últimas palavras, se jogam
solicitudes conscientes e inconscientes por parte
dos adultos (pais e/ou professores) para com
os jovens, que dependendo de como se percebam e tenham sido elaboradas, podem invadir
Na mesma linha, poderemos colocar o traba­
lho das pesquisadoras do CONICET IIRICE, Falavigna & Arcanio30, que entendem que a relação
com o saber supõe um determinado posicionamento ou disposição subjetiva entre o (os) saber
(es) articulado à produção social subjetividades.
Isto envolve, para as autoras, considerar:
Rev. Psicopedagogia 2014; 31(96): 275-88
282
Deslocamentos teóricos da noção da “relação com o saber”
com o saber. O autor segurará que a relação com
o saber se encontra sustentada na realidade in­­
trapsíquica do sujeito e na realidade externa
grupal ou intersubjetiva a partir das alianças e
acordos inconscientes que o sujeito e um outro
(ou mais de um outro), compartilham em seu
grupo primário originário, ou seja, a família.
Como pode observar-se, as pesquisas que
ana­lisam a particularidade que adquire a relação
com o saber dos sujeitos em situações de ensi­
no-aprendizagem priorizam a interrelação entre
duas dimensões: por um lado, as características
dos dispositivos (Foucault36), onde se definem
tais situações e, por outro lado, o psiquismo dos
sujeitos envolvidos nas mesmas. Enfatizam que
as particularidades do “dispositivo pedagógico”
ou “situação de ensino e aprendizagem grupal”
têm efeitos sobre a relação do aluno com o saber. Contudo, ao lado do aspecto material de tal
dispositivo (certa disposição e disponibilidade
de recursos, materiais, técnicas, tempo, rituais)
concordam na importância que tem analisar a
relação que se estabelece entre aluno e docente
(ou adulto em posição de docente). Relação que
conotará como “oferta subjetiva”, “casal psíquico
epistêmico” ou “realidade externa grupal ou
intersubjetiva”, respectivamente. Usando postulados de diferentes correntes psicanalíticas,
enfatizam os aspectos não conscientes da relação
com o saber.
o espaço psíquico da criança em situação de
aprendizagem.
Diker & Frigerio28, por sua vez, partilham
com Hatchuel12 a preocupação sobre o papel que
jogam as condições de ensino para permitir outras relações com o saber, neste caso, de sujeitos
com determinadas histórias de vida (crianças e
adolescentes institucionalizados em “Lares”).
Nutrem-se das contribuições dos estudos de
Foucault em educação, recuperando a categoria
de “dispositivo pedagógico” para conceituar a
situação de ensino-aprendizagem, entendendo
por tal como o faz Larrosa: “qualquer lugar no
que se contitui ou se transforma a experiência
de si”27.
Em tal dispositivo, no marco do qual se constroi a relação com o saber, há, para as autoras,
uma oferta objetiva, de recursos, habilidades,
conhecimentos, materiais, mas fundamentalmente, uma oferta subjetiva:
“modelos de relação com o conhecimento, representações do que o outro é capaz
de aprender, representações acerca do
tempo, projeções futuras, os enquadramentos normativos, figuras identificatórias, posicionamento dos adultos, etc.” 27.
Da mesma forma, as autoras aprofundam a
problematização teórica da estofa singular ou
social da relação com o saber. Apontarão que a
mesma se:
“inscreve na intimidade do aparelho psí­
quico de cada sujeito, mas que não é
in­­dependente da forma de se relacionar
com os saberes presentes na sociedade
(...). A noção de relação com o saber, reconhecendo a consistência do psiquismo,
ou seja, designa para nós em seu estado
singular (próprio a cada sujeito), o caráter social” 27.
ENCERRAMENTO, DISCUSSÃO E PRO­
JE­ÇÕES
Neste artigo, temos descrito distintas deslo­
cações que se têm suscitado com a noção de relação com o saber ao seu uso efetivo em trabalho
de pesquisa empírica e teórica de diferentes
áreas disciplinares.
O percorrido realizado nos permite advertir
que existem na comunidade acadêmica internacional (fortemente na franco falante, de forma
incipiente nas comunidades anglo e hispano
falantes) muitas iniciativas que tentam abordar,
desde diferentes disciplinas, alguns problemas
da transmissão de saberes e de sua apropriação,
usando o poder heurístico da noção de “relação
com o saber”.
Essa questão também é analisada por Grieco23, quando descreve as características específicas que adquire a relação com o saber, em
situações de ensino e aprendizagem grupal na
Educação Superior e indaga sobre a possível
existência de uma dimensão grupal da relação
Rev. Psicopedagogia 2014; 31(96): 275-88
283
Vercellino S et al.
que só é acessível com a pesquisa enquanto é
formulado, enunciado, racionalizado. Os estudos fazem parte dos múltiplos desenvolvimentos do CREF, enquanto isso darão prioridade
a certos fenômenos de ordem inconsciente:
fenômenos de transferência, fantasmagóricos
e até pulsionais.
O que é evidente é, em suma, a persistência
de uma problemática teórico-epistemológica:
essa é a maneira como o sujeito é conceituado,
o saber e a relação que o sintagma estabelece
entre os dois.
Charlot5 e os pesquisadores que seguem suas
conceituações diferenciarão tipos de saberes:
conteúdos intelectuais (matemática, gramática,
história, geografia), objetos ou atividades (leitura, natação) e formas relacionais (cumprimentar,
seduzir, mentir). Esse autor reservará o conceito
de saber aos conteúdos de pensamento (o chama
de “saber em sentido estrito”), e enquadrará
aos demais saberes na categoria de “figuras de
aprendizagem”.
Uma análise das obras de Charlot5 e Beillerot
et al.3, e da utilização que se faz do conceito de
saber nas pesquisas empíricas que se derivam
delas, nos permite advertir que o termo saber
refere-se à reconstrução epistêmica que o sujeito
faz do conhecimento socialmente compartilhado
sobre o real, do conhecimento que a humanidade
tem gerado sobre a relação do homem com a
natureza, com os outros e consigo mesma. Como
tal, o saber pode ser analisado, ao menos, a partir
de duas perspectivas: uma que podemos denominar de epistemológica, que supõe distinguir
os processos sociais de produção, circulação,
validação e legitimação (ou não) de esses saberes (a análise epistemológica que, de maneira
incipiente, realizam as escolas que estudam a
“relação com o saber” se cincunscreve às contribuições das epistemologias franco-falantes
ou anglo-falantes3); e outra perspectiva, que se
refere aos processos subjetivos, psíquicos que
entram em jogo em tal reconstrução.
A questão do sujeito, entretanto, reatualiza
dis­­cussões epistemológicas de longa data nas
ciências sociais e humanas: as controvérsias sobre
a relação entre o indivíduo e a sociedade, o sub-
Essas iniciativas incluem estudos teóricos
e empíricos que aludem à relação com o saber
dos sujeitos escolares das disciplinas escolares:
docentes e alunos que se matriculam principalmente em duas grandes escolas: a psicanalítica
do Centre de Recherche Education et Formation
(CREF), da Universidade Paris X-Nanterre,
criado por Jacky Beillerot e continuado por Nicole Mosconi e Claudine Blanchard-Laville; e a
sociológica, do Grupo “Educação, socialização e
coletividades locais” (ESCOL), formado no ano
1987 no Departamento de Ciências da Educação
da Universidade de Paris VIII, Saint Denis, sob
a Direção de Bernard Charlot.
Registram-se esforços por precisar teoricamente essa noção “inexata, de contornos e
condição incerta”3, cuja fronteira não é clara
e o seu âmbito de aplicação é de interpretação
am­pla (por vezes banal) (Zabala37). Os trabalhos
resenhados tentam operacionalizar o conceito,
esclarecê-lo ao colocá-lo em discussão com outras teorias no campo da psicologia educacional
e da epistemologia e/ou identificar os nós problemáticos que a mesma implica.
Além de sua matrícula em uma ou outra escola, as pesquisas concordam que a relação de
um sujeito com o saber constitui em dois processos vitais, um primário vinculado às primeiras
relações que a criança desenvolve no âmbito
familiar, que imprime certas características a tal
relação; são marcas – mais ou menos facilitadoras – que os processos de subjetivação deixam na
forma em que o sujeito se relaciona com o saber.
E um processo secundário, vinculado ao trânsito
por instituições exogâmicas – as do sistema educativo, as da inserção laboral – que, com os seus
próprios reservatórios de significados, lógicas
de funcionamento e demandas para o sujeito,
pa­receriam ser oportunidade ou ocasião para
comover, modificar ou fortalecer essa relação.
As pesquisas diferem nas dimensões de análise que enfatizarão: os estudos que fazem parte
da ESCOL o farão nos sentidos que os sujeitos
constróem em torno do saber, a sua relação com
eles mesmo e, por extensão, com a escola, em
geral. Um sentido que se constrói socialmente,
que possui componentes não conscientes, mas
Rev. Psicopedagogia 2014; 31(96): 275-88
284
Deslocamentos teóricos da noção da “relação com o saber”
Entendemos que, um retorno à origem do
sin­­tagma “relação com o saber”, com as teorias
que a psicanálise lacaniana faz do vínculo entre
o sujeito e o Outro, baixo a lógica de Moebius,
resulta um caminho a seguir: Tanto Beillerot et
al.3, como Charlot5 reconhecem que foi Lacan o
primeiro a formular o sintagma de “relação com o
saber”. Mais ainda Beillerot et al.3 têm a hipótese
que “a expressão não tem dado a volta ao mundo
como a do “sujeito suposto saber”, talvez porque,
em sua aparente trivialidade, descuida sua própria
origem”. É, no mínimo, curioso, que os estudos
teóricos e empíricos analisados neste artigo não
reparem em tais conceituações. Mas esse é assunto
para outro trabalho. Fica aberto o convite.
jetivo e o objetivo, estrutura e gênese, su­jei­­toins­­tituição. Charlot5 propõe resolver a dico­tomia,
ao propor pensar os processos de huminização,
a equipe de CREF, com a sua pro­­posta de analisar “a constituição da relação com o saber na
construção da personalidade psicofamiliar [e a]
personalidade psicossocial”3.
Uma pesquisa do domínio da aprendizagem,
que concentre seus esforços na noção da relação
com o saber, não pode eludir as alternativas
heurísticas que permitem as perspectivas epis­te­
mológicas e que se refere com os processos sub­
jetivos, como também não o desafio teóri­co-me­
todológico de precisar uma noção de sujei­to que
supere essas opções dicotômicas, sem sacrificar
a clareza e a potência explicativa.
Rev. Psicopedagogia 2014; 31(96): 275-88
285
Vercellino S et al.
SUMMARY
Theoretical displacement of the notion of ‘relationship to knowledge’
and its possibilities for psycho-pedagogy analysis of school learning
This review article discusses the theoretical displacement of the notion of
‘relationship to knowledge’ in its effective use in empirical and theoretical
research from different disciplinary fields. In the international academic
community there are initiatives from different disciplines that analyzed some
problems of knowledge transmission using the heuristic power of the concept
of “relationship to knowledge”. These initiatives include theoretical and
empirical studies about teacher and students’ relationship with knowledge.
These studies are enrolled mainly in two major schools: psychoanalytic of
the Centre de Recherche et Formation Education (CREF), University Paris X
-Nanterre, created by Jacky Beillerot and continued by Nicole Mosconi and
Claudine Blanchard - Laville; and the sociological, the Group “Education,
socialization and local communities” (ESCOL) formed in 1987 in the
Department of Science Education, University of Paris VIII, Saint Denis,
under the direction of Bernard Charlot. Efforts to theoretically clarify this
“vague, uncertain contours and condition” notion are recorded. Researchers
agree that the relationship of a subject with knowledge is constituted in
two vital processes, a primary one, linked to the first relationship the child
develops in the family. And a secondary process, linked to transit through
outbreeding institutions with its own reservoir of meanings, operating
logics and demands at the subject, appear to be chance or opportunity to
move, modify or strengthen this relationship. The investigations differ in
the dimensions of analysis that emphasize: the studies that are part of the
ESCOL will do in the sense that subjects built around knowledge, and by
extension, school, in general. The studies are part of the development of
CREF, meanwhile, will give priority to certain phenomena of unconscious
order: transference phenomena, phantasmic and even instinctual. What
is apparent is the persistence of a theoretical – epistemological problem:
how are the subjectivity, the knowledge and the relationship established
between they conceptualized?
KEY WORDS: Knowledge. Learning. Psychopedagogy.
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Ayacucho y Essandi, Viedma, Río Negro.
Artigo recebido: 6/8/2014
Aprovado: 11/10/2014
Rev. Psicopedagogia 2014; 31(96): 275-88
288
Transtorno de déficit de atenção eARTIGO
hiperatividade
: um recorte da produção científica recente
de revisão
Transtorno de déficit de atenção e
hiperatividade: um recorte da
produção científica recente
Andréia Migliorini Luizão; Rosa Maria Junqueira Scicchitano
RESUMO – Este estudo caracteriza-se como pesquisa bibliográfica, que
teve como objetivos realizar um levantamento de artigos publicados no Brasil
nos últimos 5 anos sobre o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade
(TDAH), bem como verificar a formação profissional dos autores desses
artigos e a quantidade de publicações de psicopedagogos. A metodologia
adotada consistiu em, inicialmente, realizar uma revisão de literatura, a fim
de obter informações sobre o transtorno. Posteriormente, foi realizada uma
pesquisa na base de dados SciELO e na Revista Psicopedagogia, buscando
artigos sobre o transtorno, publicados nos anos de 2009 a 2013. Em seguida,
foi realizada uma análise observando-se a formação acadêmica dos autores
dos artigos e foi feita uma síntese de cada artigo. Por último, foi observada
a quantidade de artigos publicados por psicopedagogos no período
pesquisado. Os resultados encontrados indicaram que, durante o período,
foram publicados 56 artigos, sendo 50 destes na base de dados SciELO e
6 na Revista Psicopedagogia. Constatou-se uma pequena quantidade de
pu­blicações de psicopedagogos no período, visto que foram encontrados
apenas 5 artigos, sendo 2 artigos publicados na base de dados SciELO e 3
na Revista Psicopedagogia. Sugere-se que psicopedagogos realizem mais
pesquisas sobre TDAH e publiquem seus estudos, o que poderia contribuir
para o aprimoramento dos conhecimentos e das possíveis formas de in­­
tervenção, tanto na clínica como na escola, com crianças e adolescentes
que apresentam o transtorno, bem como com seus professores e familiares.
UNITERMOS: Transtorno do Deficit de Atenção com Hiperatividade.
Trans­­tornos Mentais Diagnosticados na Infância. Prática Profissional. Psi­
copedagogia.
Correspondência
Andréia Migliorini Luizão
Rua Dinamarca, 1333 – apto 301 – Centro – Cambé, PR,
Brasil – CEP 86181-080
Andréia Migliorini Luizão – Psicóloga e Psicopedagoga,
Cambé, PR, Brasil.
Rosa Maria Junqueira Scicchitano – Pedagoga e Psi­
co­pedagoga, Doutora em Psicologia Escolar e do De­­­­
senvolvimento Humano pela Universidade de São
Paulo, professora da Universidade Estadual de Lon­
dri­na, Londrina, PR, Brasil.
Rev. Psicopedagogia 2014; 31(96): 289-97
289
Luizão AM & Scicchitano RMJ
no trabalho e inibir os pensamentos que não
se relacionam com a tarefa a ser executada no
mo­mento1.
O TDAH é um transtorno com causalidade
múltipla. Vários fatores exercem influência na
etio­logia do transtorno, que envolve aspectos
neuro-genético-ambientais5.
É fundamental que seja feito um diagnóstico
com qualidade, pois a partir desse diagnóstico
será possível delinear um tratamento adequado
para atenuar os efeitos do transtorno. O diagnós­
tico do TDAH deve incluir os seguintes aspectos: histórico familiar e do desenvolvimento da
criança; consulta médica; avaliação do nível de
inteligência; personalidade; desempenho escolar;
relações com os amigos; disciplina e comportamento em casa; comportamento em sala de aula2.
O diagnóstico do TDAH é realizado mediante
os critérios estabelecidos pelo DSM-IV, considerando-se a persistência da manifestação dos
sintomas e sua gravidade em relação aos comportamentos comumente observados em pessoas
de nível semelhante de desenvolvimento6.
É na vida escolar da criança que os problemas
decorrentes do TDAH ficam mais evidentes. O
de­­sempenho escolar da criança com TDAH é
instável, em alguns momentos, a criança realiza
uma excelente atividade, enquanto em outros
realiza um trabalho com baixa qualidade; e isso
ocorre em períodos de tempo muito próximos. A
causa dessa instabilidade no desempenho reside
na instabilidade da atenção3.
O TDAH não é considerado necessariamente
uma dificuldade de aprendizagem, trata-se de
um transtorno de atenção e comportamento
que pode ou não gerar uma dificuldade de
aprendizagem7. É necessário um trabalho multi­
disciplinar, envolvendo pais, professores e terapeutas, para que se definam as estratégias de
intervenção para ajudar a criança com TDAH.
Essas intervenções podem incluir: adaptação
do currículo, modificação do ambiente, flexibilidade na realização e apresentação de tarefas,
adequação do tempo de atividade, administra­
ção e acompanhamento de medicação, quando
necessário8. A escola deve buscar alternativas
INTRODUÇÃO
O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é um tema de interesse de pais
e de profissionais de várias áreas, como médicos,
educadores, psicólogos e psicopedagogos.
As crianças e adolescentes com TDAH têm
dificuldade em manter sua atenção e dificuldade
no controle ou inibição dos impulsos1. A atenção
da criança com TDAH é bastante reduzida em
relação ao esperado para a idade; assim, ela encontra dificuldade em manter a atenção em uma
tarefa, principalmente se essa tarefa for extensa2.
Uma característica de quem tem TDAH é o
hiperfoco, que é a capacidade de se concentrar
em algo e permanecer horas hiperconcentrada
em determinada atividade; por esse motivo parece mais adequado usar o termo instabilidade
de atenção ao invés de déficit de atenção3.
É preciso, no entanto, observar melhor e ques­­
tionar a desatenção nas crianças, no sentido de
verificar se, de fato, trata-se de crianças desatentas ou desatendidas, pois a sociedade atual
de­satende as crianças, e a inquietude e falta de
atenção nelas, observadas muitas vezes, são
con­sideradas como doença e as crianças acabam
sendo medicadas4.
Uma característica marcante de quem tem
TDAH é a hiperatividade, que pode manifes­
tar-se como inquietação, impaciência, atividade
motora excessiva, e, também, como conversa
excessiva1. A hiperatividade física é facilmente
percebida nas crianças, visto que estas se agitam constantemente de forma exagerada. No
entanto, a hiperatividade mental ou psíquica
apresenta-se de forma mais sutil, o que não diminui o sofrimento de quem a vivencia, e pode
ser observada, por exemplo, quando a pessoa
com TDAH interrompe a fala de outras pessoas
durante uma conversa ou muda de assunto3.
A impulsividade é outra característica de
quem tem TDAH, que faz com que ocorra a ação
sem que esta seja precedida do pensamento3. A
impulsividade observada em quem tem TDAH
parece não se limitar somente às ações, estendendo-se também para os pensamentos, o que
pode explicar a dificuldade em concentrar-se
Rev. Psicopedagogia 2014; 31(96): 289-97
290
Transtorno de déficit de atenção e hiperatividade: um recorte da produção científica recente
e recursos que minimizem as consequências
do TDAH, garantindo, assim, a todos os alunos o
acesso ao conhecimento9.
O acompanhamento psicopedagógico é im­­
portante, pois busca auxiliar atuando diretamente sobre a dificuldade escolar, minimizando
a possível defasagem de conteúdos escolares e
possibilitando condições para que novas aprendizagens ocorram7. Além disso, o psicopedagogo
poderá auxiliar a criança nos aspectos ligados
à organização e planejamento do tempo e das
atividades10. Durante o processo de avaliação, o
psicopedagogo deve prestar atenção às dimensões afetiva, familiar e social em que a criança
está inserida. É preciso avaliar a qualidade dos
vínculos estabelecidos entre a criança e as pessoas presentes em seu contexto2.
Durante o trabalho psicopedagógico, deve
haver confiança e um espaço de escuta da criança, pois “aprendemos quando podemos confiar
(nos outros, em nós e no espaço). Aprendemos
com quem nos escuta. Aprendemos se nos escutamos. Aprendemos quando o ensinante nos
reconhece (nos vê como pensantes)4.” O ideal
se­ria que esse espaço existisse nas escolas, mas
quando não se encontra essa disponibilidade isto
pode ser oferecido pelo psicopedagogo, tanto
para a criança quanto para os pais e professores.
Os objetivos do presente trabalho consistiram
em: pesquisar artigos publicados sobre o TDAH
nos últimos 5 anos na base de dados SciELO e
publicados na Revista Psicopedagogia; verificar
qual a área de formação profissional dos autores
desses artigos; analisar os assuntos abordados
em relação ao TDAH nos artigos pesquisa­
dos; e verificar a quantidade de publicações de
psi­copedagogos sobre o tema nas duas fontes
pes­quisadas. Levantou-se como hipótese que
haveria quantidade significativa de publicações
de psicopedagogos, devido à relevância do tema
em questão para a atuação profissional de psicopedagogos, seja na clínica ou na escola.
artigos sobre TDAH, publicados nos anos de
2009 a 2013.
A busca na base de dados SciELO foi realiza­
da utilizando como palavras-chave os termos
“transtorno de déficit de atenção e hiperatividade” e sua sigla, “TDAH”. A busca na Revista
Psicopedagogia foi realizada observando nos
sumários das revistas os artigos publicados sobre
o assunto. Foram selecionados os artigos publicados no Brasil em português e que contivessem
em seu título o nome do transtorno, sua sigla
ou termos relacionados ao nome do transtorno.
Após realização da busca de todos os artigos
encontrados no período, foi feita uma triagem de
acordo com o ano de publicação. Em seguida,
observou-se a formação acadêmica dos autores
dos artigos, sendo que quando essa informação
não constava no próprio artigo, a informação era
obtida acessando o currículo de cada autor na
plataforma Lattes. Em seguida, foram analisados
os assuntos abordados em cada artigo e foi feita
uma síntese de cada um deles. Posteriormente,
foi observada a quantidade de artigos publicados
por psicopedagogos no período pesquisado.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram encontrados 56 artigos publicados
durante o período pesquisado, sendo 50 desses
na base de dados SciELO e 6 na Revista Psicopedagogia. No ano de 2009, foram encontrados
10 artigos na base de dados SciELO e um na
Revista Psicopedagogia. No ano de 2010, foram
encontrados 12 artigos na base de dados SciELO
e um na Revista Psicopedagogia. Em 2011, foram
encontrados 10 artigos na base de dados SciELO
e nenhum na Revista Psicopedagogia. No ano de
2012, foram encontrados 7 artigos na base de dados SciELO e 3 na Revista Psicopedagogia. Em
2013, foram encontrados 11 artigos na base de
dados SciELO e um na Revista Psicopedagogia.
Serão descritos aqui somente os artigos publicados na Revista Psicopedagogia e os artigos
publicados por psicopedagogos nas duas fontes.
Na Revista Psicopedagogia, foram encontrados 6 artigos publicados durante o período
pesquisado (Tabela 1). A seguir serão relatados
os artigos.
MÉTODO
A pesquisa foi realizada na base de dados
SciELO e na Revista Psicopedagogia, buscando
Rev. Psicopedagogia 2014; 31(96): 289-97
291
Luizão AM & Scicchitano RMJ
Tabela 1 – Artigos publicados na Revista Psicopedagogia entre os anos de 2009 e 2013.
Ano
Quantidade
2009
1
Terapia Ocupacional, Neurologia,
Caracterização do desempenho motor em
Psicologia, Fonoaudiologia
escolares com transtorno de déficit de atenção com
hiperatividade11
2010
1
Fonoaudiologia e Psicopedagogia
Transtorno do déficit de atenção e hiperatividade
(TDAH): o que os educadores sabem?12
2012
3
Fisioterapia e Psicologia
Processamento sensorial na criança com TDAH:
uma revisão da literatura13
Neuropediatria, Pedagogia e
Psicopedagogia
Transtorno do déficit de atenção e hiperatividade
na escola: mediação psicopedagógica14
Pedagogia, Letras, Psicologia,
Psicopedagogia
Avaliação de crianças pré-escolares: relação entre
testes de funções executivas e indicadores de
desatenção e hiperatividade15
Psicologia e Fonoaudiologia
Habilidades sociais em crianças com queixas de
hiperatividade e desatenção16
2013
1
Formação profissional
Título
que foi escrito por Seno12 (fonoaudióloga e psi­
co­­­­­­­­­­pedagoga). No artigo, a autora aborda um
es­tudo realizado com o objetivo de verificar o
co­nhecimento de educadores sobre o TDAH.
Foi aplicado um questionário, cujas perguntas
foram elaboradas considerando-se a importância do conhecimento para atuação profissional
dos educadores. Observou-se que, apesar de o
professor não ter conhecimento teórico suficiente
sobre o TDAH, sua prática escolar lhe permite
observar, analisar, levantar hipóteses e adaptar
sua metodologia independente do que o sistema
lhe oferece; possibilitando o respeito e a inclusão
na sala de aula regular de alunos que apresentam o transtorno.
No ano de 2011, não houve publicações científicas sobre o TDAH na Revista Psicopedagogia.
Em 2012, foram encontrados três artigos. O
primeiro deles, intitulado “Processamento sensorial na criança com TDAH: uma revisão da
li­­teratura”, foi escrito por Shimizu & Miranda13
(fisioterapeuta, psicóloga), que relataram uma
revisão de literatura realizada visando à caracte­
rização dos principais aspectos do processamento sensorial e do TDAH, bem como a relação en­
tre essas dimensões. O artigo abrange, também,
uma discussão e busca de contribuir para a compreensão do papel do processamento sensorial
na produção das respostas comportamentais e
No ano de 2009, foi encontrado apenas um
artigo, intitulado “Caracterização do desempenho motor em escolares com transtorno de déficit
de atenção com hiperatividade”, realizado por
Toniolo et al.11 (terapeuta ocupacional, neurologistas, neuropsicóloga, fonoaudióloga). O artigo
abordou um estudo que teve como objetivo caracterizar e comparar o desempenho motor de
escolares com TDAH com o desempenho de escolares com desenvolvimento neuropsicomotor
normal, e verificar a ocorrência de Transtorno
do Desenvolvimento da Coordenação (TDC) nos
escolares com TDAH desse estudo. Para isso, foi
aplicado o Exame Motor para o diagnóstico de
Déficit de Atenção, Controle Motor e Percepção
em grupos de escolares com TDAH e escolares
com desenvolvimento neuropsicomotor normal.
Os resultados possibilitaram verificar que o grupo de crianças com TDAH apresentou desempenho inferior em provas de habilidades motoras
grossa e fina, demonstrando que os escolares
com TDAH desse estudo, por apresentarem
desempenho inferior no exame motor, possuíam
quadro de TDC em comorbidade, não sendo,
portanto, os problemas de coordenação aqui
evidenciados características do TDAH.
Em 2010, encontrou-se apenas um artigo:
“Transtorno do déficit de atenção e hiperativi­
da­de (TDAH): o que os educadores sabem?”,
Rev. Psicopedagogia 2014; 31(96): 289-97
292
Transtorno de déficit de atenção e hiperatividade: um recorte da produção científica recente
no processo de aprendizagem, assim como sua
possível contribuição na sintomatologia presente
no TDAH, apontando para a importância de uma
abordagem multidimensional para o quadro do
TDAH na infância.
O segundo artigo encontrado em 2012 foi
“Transtorno do déficit de atenção e hiperatividade na escola: mediação psicopedagógica”, realizado por Fonseca et al.14 (pedagoga e psicopeda­
goga, neuropediatras). O artigo apresenta um
caso de mediação psicopedagógica para TDAH
no diagnóstico, tratamento, orientação na esco­
la, para a família, e com a criança. A criança do
caso em questão foi encaminhada para avaliação
interdisciplinar dos aspectos psicopedagógicos,
neuropsicológico, neuropediátrico, psiquiátrico
e familiar. A criança foi medicada com metilfenidato, apresentando melhora da impulsividade
e desatenção, sendo que foram aplicados testes
neuropsicológicos, psicopedagógicos, escalas de
comportamento, antes e após o tratamento medicamentoso. Após o tratamento e as intervenções,
foi verificada melhora no comportamento, na
aprendizagem e nas relações pessoais. Os testes
evidenciaram resultados favoráveis em relação
à aprendizagem, mas foi possível verificar uma
dificuldade fonológica no processo de alfabetização. A criança frequentava reforço escolar com
conteúdos relacionados à matéria atual da sala
de aula regular; dessa forma, a psicopedagoga
deu orientação à escola para que fosse trabalha­
do o processo de alfabetização com ênfase nos
aspectos fonológicos devido às dificuldades apre­
sentadas na escrita e na leitura. Constatou-se que
é possível mudar o comportamento e a qualidade
da aprendizagem de crianças com diagnóstico
de TDAH.
O terceiro artigo encontrado em 2012 foi “Ava­­
liação de crianças pré-escolares: relação entre
testes de funções executivas e indicadores de
desatenção e hiperatividade”, de Pereira et al.15
(pedagoga e psicopedagoga, psicopedagoga
graduada em Letras, psicólogas), que abordaram
uma pesquisa realizada com o intuito de investigar as relações entre desempenho em testes de
funções executivas e indicadores de desatenção
e hiperatividade em crianças pré-escolares de
amostra não-clínica. As crianças foram avaliadas
por meio do Teste de Trilhas para pré-escolares
(TT-PE) e pelo Teste de Atenção por Cancelamento (TAC). Pais e professores responderam
à SNAP-IV. Observou-se que as crianças com
maiores índices de desatenção e hiperatividade,
conforme relato dos pais, tenderam a apresentar
piores desempenhos no TAC, enquanto crianças
com maiores índices de desatenção e hiperatividade, no relato dos professores, tenderam
a apresentar piores desempenhos em diversas
medidas do TAC e TT-PE. Constatou-se que as
relações entre desempenho nos testes e indicadores de desatenção e hiperatividade tenderam
a ser mais consistentes quando consideradas
as respostas dos professores do que as dos pais.
Em 2013, foi encontrado um artigo na Revista
Psicopedagogia, intitulado “Habilidades sociais
em crianças com queixas de hiperatividade e desatenção”, que foi redigido por Guidolim et al.16
(psicóloga, fonoaudióloga, psicóloga). O artigo
abordou um estudo realizado com o objetivo de
verificar quais são as habilidades sociais alteradas e o quanto essas habilidades influenciam no
desenvolvimento social da criança com queixa
de desatenção e hiperatividade. Para a realização do estudo foram separados dois grupos de
crianças, sendo um com crianças com queixas de
desatenção e um com queixas de hiperatividade.
Para avaliação das habilidades sociais foi utilizado o IMHSC-Del-Prette (Inventário Multimídia
de Habilidades Sociais de Crian­ças). Verificou-se
que não houve diferenças signi­ficativas entre os
grupos no que se refere às habilidades sociais.
Na comparação dos grupos estudados com a
amostra de referência do IMHSC-Del-Prette,
foi observada que a média do grupo pesquisado
estava abaixo do intervalo médio da norma de
referência, inferindo alguns déficits nos comportamentos sociais.
Em relação à publicação de psicopedagogos,
observou-se uma pequena produção (Tabela 2).
Apenas 5 artigos foram publicados durante os 5
anos pesquisados, sendo 2 desses artigos publicados na base de dados SciELO e 3 na Revista
Rev. Psicopedagogia 2014; 31(96): 289-97
293
Luizão AM & Scicchitano RMJ
Tabela 2 – Artigos publicados por psicopedagogos de 2009 a 2013,
na base de dados SciELO e na Revista Psicopedagogia.
Ano
Quantidade
Título
Fonte
2010
2
Transtorno de déficit de atenção e hiperatividade em crianças:
uma revisão interdisciplinar17
SciELO
Transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH):
o que os educadores sabem? 12
Revista Psicopedagogia
Identificação dos procedimentos de contagem e dos processos
de memória em crianças com TDAH18
SciELO
Transtorno do déficit de atenção e hiperatividade na escola:
mediação psicopedagógica14
Revista Psicopedagogia
Avaliação de crianças pré-escolares: relação entre testes de
funções executivas e indicadores de desatenção e hiperatividade15
Revista Psicopedagogia
2012
3
automático de dados aritméticos da memória de
longo prazo parecem ser prejudicados em crianças com TDAH. Dessa forma, foi relatado um
estudo feito com alunos com TDAH para verificar
os procedimentos de contagem e os processos
de memória utilizados por esses alunos. Para
a realização do estudo foi utilizado o subitem
Stra­tegy Windows, que avalia a estratégia de
re­­solução de problemas de adição do Numeracy
Project Assessment, sendo que foi realizada uma
tradução e adaptação do material para aplicação.
Os alunos também foram solicitados a responder
problemas de adição, os quais eram lidos oralmente pelo avaliador, e solicitava-se a eles que
resolvessem os problemas tentando lembrar a
resposta. Constatou-se que os alunos utilizam
pro­­cedimentos de contagem imaturos e dentre
os processos de memória a decomposição foi o
mais utilizado pelos estudantes.
Na Revista Psicopedagogia, foi encontrado o
artigo “Transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH): o que os educadores sabem?”,
publicado em 2010, de autoria de Seno12 (fonoau­
dióloga e psicopedagoga). Foram encontrados
também os artigos “Transtorno do déficit de
atenção e hiperatividade na escola: mediação
psicopedagógica”, de autoria de Fonseca, et al.14
(pedagoga e psicopedagoga, neuropediatras) e
“Avaliação de crianças pré-escolares: relação
entre testes de funções executivas e indicadores
de desatenção e hiperatividade”, de autoria de
Psicopedagogia. Nos anos de 2009, 2011 e 2013
não se encontrou nenhum artigo publicado por
psicopedagogos na base de dados SciELO, tampouco na Revista Psicopedagogia.
Entre os artigos publicados por psicopeda­
gogos, na base de dados SciELO, foram encontrados os artigos “Transtorno de déficit de
aten­ção e hiperatividade em crianças: uma
re­visão interdisciplinar”17 e “Identificação dos
pro­cedimentos de contagem e dos processos de
memória em crianças com TDAH”18, publicados,
respectivamente, em 2010 e 2012.
O artigo “Transtorno de déficit de atenção
e hiperatividade em crianças: uma revisão interdisciplinar” foi escrito por Santos & Vasconcelos17 (psicóloga, psicóloga e psicopedagoga).
No artigo, as autoras abordaram etiologia, diagnóstico e tratamento do TDAH, realizando uma
revisão de literatura das últimas três décadas,
sendo que em relação à etiologia e ao tratamento observou-se uma interação entre variáveis
biológicas e comportamentais, e no que tange
ao diagnóstico, encontrou-se predominância da
utilização dos critérios sugeridos pelo Manual
Diagnóstico e Estatístico das Doenças Mentais.
O artigo “Identificação dos procedimentos
de contagem e dos processos de memória em
crian­­ças com TDAH” foi escrito por Costa et
al.18 (fonoaudióloga e psicopedagoga, pedago­
ga e psicopedagoga, psiquiatra). No artigo, foi
abordado que o armazenamento e o acesso
Rev. Psicopedagogia 2014; 31(96): 289-97
294
Transtorno de déficit de atenção e hiperatividade: um recorte da produção científica recente
Pereira et al.15 (pedagoga e psicopedagoga, psicopedagoga graduada em Letras, psicólogas)
ambos publicados em 2012.
quantidade de artigos publicados sobre o transtorno nos últimos 5 anos, o que foi abordado
em cada um desses artigos, a área de formação
de seus autores, e pesquisar a quantidade de
pu­blicações de psicopedagogos sobre o tema.
Os resultados obtidos com a pesquisa reali­
zada possibilitaram observar que, durante o pe­­
ríodo pesquisado, houve pequena quantidade
de publicações de psicopedagogos sobre TDAH,
sendo encontrados apenas 5 artigos. Até mesmo
na Revista Psicopedagogia, uma revista especializada na área, dos 6 artigos publicados no período, apenas 3 foram escritos por psicopedagogos.
Considerando que o TDAH é um tema de
gran­de interesse no contexto escolar na atua­li­
dade, ao iniciar este trabalho levantou-se como
hipótese que houvesse uma quantidade signi­
ficativa de publicações de psicopedagogos so­
bre o tema, algo que não se confirmou com a
rea­lização da pesquisa. Dessa forma, sugere-se
que psicopedagogos pesquisem mais sobre o
tema e publiquem seus estudos; isso teria grande
importância para aprimorar os conhecimentos e
contribuir com as possíveis formas de atuação
com crianças e adolescentes que apresentam o
transtorno.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O TDAH tem sido muito estudado e discutido
atualmente, mas é importante que sejam disseminadas informações corretas sobre o transtorno,
visto que muitas crianças são diagnosticadas
e medicadas equivocadamente, sem, de fato,
apresentarem o transtorno.
Algumas características diferenciam a criança com TDAH de crianças sem o transtorno, e
estas diferenças parecem evidenciar-se quando
a criança ingressa no contexto escolar. É importante salientar que o TDAH não se caracteriza,
necessariamente, como uma dificuldade de apren­
dizagem; no entanto, devido a algumas peculiaridades do transtorno as crianças podem ter prejuízos na vida escolar. Crianças com o transtorno
podem apresentar lacunas no aprendizado, por
isso é importante que o psicopedagogo tenha
conhecimentos acerca do TDAH.
Este estudo teve como objetivos realizar uma
revisão de literatura sobre o TDAH, verificar a
Rev. Psicopedagogia 2014; 31(96): 289-97
295
Luizão AM & Scicchitano RMJ
SuMMARY
Attention deficit hyperactivity disorder:
a snippet of the recent scientific production
This study is characterized as a bibliographic research that had as
objectives to realize a review of articles published in the Brazil on the last
5 years about the Attention Deficit Hyperactivity Disorder (ADHD), to see
the professional formation of the authors of these articles and the quantity of
publications by psychopedagogues. The methodology applied was, initially,
to realize a review of literature for to get informations about the disorder.
Later was realized a research on the SciELO database and on the Revista
Psicopedagogia (Psychopedagogy Journal), looking for articles about the
disorder, published in the years 2009 to 2013. Next, was realized a analysis
looking the academic formation of the authors of the articles and was
done a synthesis of each article. Last, was observed the quantity of articles
published on the period researched. The results found showed that during
the period were published 56 articles, being 50 of these on the SciELO
database and 6 on the Revista Psicopedagogia. Was verified a few articles
published by psychopedagogues on the period, because was found only 5
articles, being 2 articles published on the SciELO database and 3 on the
Revista Psicopedagogia. It was suggested that psychopedagogues realizes
more researches about ADHD and publishes their studies, what could to
contribute for the improvement of the knowledge and of the possibilities of
intervention, on the clinic and on the school, with children and teenagers
who presents the disorder, and also with their teachers and family.
KEY WORDS: Attention Deficit Disorder with Hyperactivity. Mental
Disorders Diagnosed in Childhood. Professional Practice. Psychopedagogy.
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Trabalho realizado no Curso de Especialização em
Psicopedagogia da Universidade Estadual de Londri­
na, Londrina, PR, Brasil.
Artigo recebido: 18/9/2014
Aprovado: 5/10/2014
Rev. Psicopedagogia 2014; 31(96): 289-97
297
Noffs
et al.
RELATO
DENA
EXPERIÊNCIA
Proposta de atuação psicopedagógica na
Diretoria Municipal de Educação
de Cajamar
Neide de Aquino Noffs; Maria Eloisa Godinho; Maria Matta Ferreira; Juliana G. da Silva Vieira
RESUMO – Este artigo apresenta a constituição da proposta da atuação
psi­co­pedagógica do segmento da educação infantil, ensino fundamental I
e ensino fun­damental II das Escolas da Rede de Ensino Municipal, situado
na cidade de Cajamar – São Paulo. O plano de atuação psicopedagógica
institucional, desenvolvido pelo grupo de psicopedagogos e assessora
externa, objetiva sistematizar, a partir do ano de 2008, as ações apresentadas
no plano de ação para rede. No primeiro momento, indagavam-se quais
seriam as atribuições do psicopedagogo a atuar nos segmentos Secretaria
Municipal de Educação e na Instituição Escola. Para tanto, constituiuse a proposta, utilizando-se um referencial teórico em Psicopedagogia,
respaldado, principalmente, pelos pressupostos de: Chabanne, Nádia Bossa,
Alícia Fernandes, Neide Noffs e demais autores da área da Psicopedagogia
que fazem referência ao cunho preventivo-institucional, assim como, os
autores: Piaget, Vygotsky, Wallon, Jonh Dewey, Zabala, Geraldo Peçanha,
Paulo Freire, José M. Beltran, Mabel Condemarin, entre outros. Esses
estudos contribuíram para a compreensão do processo de construção de
conhecimento dos alunos. Assim, percebeu-se que a proposta de atuação
do trabalho psicopedagógico para a rede compreende ações relacionadas
principalmente à formação continuada do professor, ou seja, intenta
desenvolver um trabalho sob a perspectiva psicopedagógica preventiva.
Correspondência
Neide de Aquino Noffs
Rua Diana, 715 – São Paulo, SP, Brasil – CEP 05019-000
E-mail: [email protected]
Neide de Aquino Noffs – Doutora em Educação pela
Uni­versidade de São Paulo, Psicopedagoga Clínica
e Institucional, docente do curso Psicopedagogia na
PUCSP. Atualmente é Diretora e Docente (graduação
e pós-graduação stricto sensu) da Faculdade de Edu­
cação da PUC-SP, presidente vitalícia da ABPp,
assessora institucional na rede municipal de ensino e
coordenadora geral da comissão de regulamentação
e formação do Psicopedagogo no Brasil junto à ABPp.
Pesquisadora da área de Formação de professores e
educação infantil, São Paulo, SP, Brasil.
Maria Matta Ferreira – Psicopedagoga, Cajamar, SP, Brasil.
Maria Eloisa Godinho – Psicopedagoga, Cajamar, SP,
Brasil.
Juliana G. da Silva Vieira – Psicopedagoga, Cajamar,
SP, Brasil.
Rev. Psicopedagogia 2014; 31(96): 298-310
298
Proposta de atuação psicopedagógica na diretoria municipal de educação de Cajamar
Essa proposta está descrita em itens de discussão acerca das atribuições do
psicopedagogo, levando em consideração a história, os aspectos culturais
e as necessidades específicas da área. Entende-se que o trabalho do
psicopedagogo escolar requer um constante pensar sobre o seu fazer, o
que demanda frequentes diálogos com a comunidade escolar. A atuação
psicopedagógica busca encontrar alternativas de ação que viabilizem, a
esse profissional e aos professores da Rede Municipal de Cajamar, uma
constante reflexão em torno da atuação docente, a fim de que se encontrem
caminhos prováveis para se chegar à finalidade proposta: a de promover o
desenvolvimento e a aprendizagem dos alunos.
UNITERMOS: Psicopedagogia Institucional. Aprendizagem. Educação
infantil. Ensino Fundamental e Médio.
INTRODUÇÃO
O trabalho aqui apresentado traz uma proposta de atuação psicopedagógica na Cidade
de Cajamar, para a Rede Municipal de Ensino,
que instituiu o cargo de psicopedagogo em 2007,
via concurso público. O estudo foi desenvolvido
entre fevereiro de 2008 a 2013, período em que
as psicopedagogas atuaram no âmbito institu­
cional, no segmento da educação infantil, ensino
fundamental I e ensino fundamental II.
Para tanto, descreve-se o seguinte problema
deste relato, questionado por profissionais da
educação de Cajamar, integrantes da equipe
técnica e Diretor da Educação: Quais seriam as
atribuições do psicopedagogo?
Tal problemática originou-se a partir da
con­tratação, reestruturação pedagógica e organizacional pela qual passava a Diretoria
de Educação de Cajamar. Nesse período de
transformação institucional, influenciado pelas
concepções de educação que se tem discutido
na atualidade, desejava constituir uma proposta
que levasse em consideração o seu aluno como
ser pensante, ativo, construtor de saberes. Tal
intenção culminou no desejo por parte dos
gestores da Rede que houvesse contratação de
psicopedagogos para contribuírem com o processo de ensino-aprendizagem a ser desenvolvido.
Nesse sentido, a equipe de psicopedagogos,
composta inicialmente por cinco profissionais
(Amanda Carolina Savioli, Juliana G. da Silva
Vieira, Maria Eloiza G. Machado, Maria Marta
Ferreira e Simone Catariana de Oliveira) e, em
2012, apenas três profissionais (Juliana G. da
Silva Vieira, Maria Eloiza G. Machado e Maria
Marta Ferreira), junto à assessoria externa e
supervisão psicopedagógica da Dra. Neide de
Aquino Noffs e a Coordenadora do grupo de
psi­copedagogas Maristela de Souza Giusti, consentiram a necessidade de realizar discussões
reflexivas e estudos acerca de trabalhos capazes
de fundamentar uma proposta psicopedagógica
institucional-escolar, levando em consideração
a reestruturação da Diretoria de Educação, a
construção do Plano Decenal e do Currículo.
Dessa maneira, tornou-se necessária a elaboração de um projeto psicopedagógico que
sistematizasse e articulasse com as ações da
equipe técnica da Educação em parceria com os
gestores das escolas: diretor de escola, assistente
de direção e assessor pedagógico. A partir da
proposta geral da Diretoria da Educação, chamado de plano estratégico e do plano de ação, cada
profissional da Psicopedagogia ficou responsável
por assumir as ações elencadas no documento
proposto para a Diretoria de Educação e para as
escolas. Isso posto, acredita-se relevante destacar que a proposta aqui apresentada constitui-se
uma possibilidade de atuação psicopedagógica
institucional, sabe-se que cada escola da rede
Rev. Psicopedagogia 2014; 31(96): 298-310
299
Noffs NA et al.
é portadora e produtora de história e cultura,
tendo suas singularidades e este tem a intenção
de dialogar com outros estudos e ampliar as
discussões. Valoriza as aprendizagens significativas, o conhecimento que os alunos já possuem
sobre o mundo e, acima de tudo, o significado
da intensa atividade que é aprender. Essa proposta favorecerá situações reflexivas para que os
professores atuem conjuntamente com os alunos
na construção dos saberes e na correlação entre
eles e, por essa razão, caberá aos educadores
o investimento nas competências individuais
e coletivas, já que os alunos nunca aprendem
da mesma forma. A partir da revisão bibliográfica delinearam-se intenções de atuações para
trabalhar as questões pertinentes às relações
de ensinantes-aprendentes, entre professor e
aluno; buscar o aprimoramento da qualidade
de aprendizagem dos alunos da rede; elaborar projetos educacionais facilitadores de uma
apren­dizagem mais dinâmica e significante;
aprimorar, junto ao professor e assessores pedagógicos, recursos pedagógicos que contribuam
para o processo de aprender. Sob a perspectiva
acima descrita, entendeu-se que a proposta
de trabalho psicopedagógica compreende que
está relacionado principalmente ao trabalho de
formação continuada do professor, para que, de
fato, possa colaborar com as expectativas acima
mencionadas. Na sequência, a partir dos estudos
e supervisão psicopedagógica, apresenta-se a
proposta de atuação psicopedagógica, em função
da problemática acima anunciada, levando em
consideração a história, os aspectos culturais e as
necessidades de cooperação e apoio da Psicopedagogia para as ações da Diretoria de Educação.
Bossa2, com relação à Psicopedagogia preventiva, afirma que “podemos dizer que o nosso
sujeito é a instituição, com sua complexa rede
de relações”. A partir dessa reflexão, podemos
dizer que a instituição é um espaço físico e psíquico da aprendizagem, local e objeto de estudo
da Psicopedagogia. Os procedimentos didáticos
que interferem na aprendizagem devem ser
analisados e discutidos, a fim de que possam ser
ressignificados.
De acordo com Fagali & Vale3, o trabalho
preventivo está relacionado ao desenvolvimento
de assessorias para pedagogos, orientadores e
professores das instituições de ensino. Nessa
perspectiva, o trabalho preventivo tem o seguinte
papel:
“Trabalhar as questões pertinentes às
relações vinculares professor-aluno e
redefinir os procedimentos pedagógicos,
integrando o afetivo e cognitivo, através
da aprendizagem dos conceitos, nas diferentes áreas do conhecimento”3.
O trabalho psicopedagógico de cunho preventivo destaca-se em variadas formas de inter­
venção:
• releitura e reelaboração no desenvolvimento das programações curriculares,
centrando a atenção na articulação dos
aspectos afetivos-cognitivos, conforme o
desenvolvimento integrado da criança e
do adolescente;
• análise mais detalhada dos conceitos, desenvolvendo atividades que ampliem as
diferentes formas de trabalhar o conteúdo
programático. Nesse processo, busca-se
que o aluno atue operativamente nos
diferentes níveis de escolaridade. Complementa essa prática o desenvolvimento
de projetos institucionais para as escolas
da rede;
• criação de materiais de orientação, textos,
palestras para contribuir com a prática
docente, assim como, nas estratégias de
ensino-aprendizagem, desenvolvendo o
ra­ciocínio, construindo criativamente o
A PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL
ESCOLAR
Conforme os estudos de Noffs1, “A prática
psi­copedagógica institucional na trajetória dos
atores e autores propicia interpretações e análises que não dão por acabado o trabalho, mas
encaminham direções a serem refletidas muito
mais no âmbito profissional psicopedagógico”.
Rev. Psicopedagogia 2014; 31(96): 298-310
300
Proposta de atuação psicopedagógica na diretoria municipal de educação de Cajamar
co­nhecimento, integrando afeto e cognição no diálogo com as informações
(Fagali & Vale3).
Na concepção de Allessandrini4, no que se
refere ao papel do psicopedagogo em instituições de ensino:
“O psicopedagogo pode reprogramar
projetos educacionais facilitadores de
uma aprendizagem mais dinâmica e significante, supervisionando programas,
treinando educadores e atuando junto a
profissionais de educação, ou então buscando o aprimoramento da qualidade de
aprendizagem do sujeito que apresenta
dificuldades escolares”4.
favorecer a retirada do rótulo de problema de
aprendizagem e, ainda, oferece aos educandos
elementos para identificação de possíveis causas
do rendimento insatisfatório, fazendo-os refletir
sobre o processo de ensino e oferecendo-lhes
elementos para responder às questões que
emergem de sua ação. Em outras palavras, os
pres­supostos piagetianos podem respaldar o processo de ensino e aprendizagem, não obstante
as dificuldades de transposição de uma teoria
do desenvolvimento para a prática docente, ou
seja, para uma teoria do ensino6.
Estudos iniciais realizados, em Piaget7 assinalam que o fracasso escolar muitas vezes pode
ser originário da própria condução do ensino,
ou seja, da forma como o professor conduz a
interação do seu aluno com o conhecimento. É
fundamental, segundo o autor, que as propostas
educativas sejam pautadas em um ensino ativo,
capaz de propiciar a invenção e a criação por
parte dos alunos e dos próprios professores. Porém, o que se percebe, na realidade educacional,
são propostas que evidenciam um ensino programado, ordenando os conteúdos de maneira
linear. Dessa maneira, percebe-se a atuação
psicopedagógica escolar como uma das possibilidades de contribuir para a formação continuada
dos docentes e para o desenvolvimento escolar
dos alunos, constituindo-se como um trabalho
psicopedagógico preventivo. Contudo, acredita-se que uma proposta psicopedagógica que leva
em consideração a dimensão preventiva em sua
atuação apresenta o trabalho em Psicopedagogia
escolar como uma possibilidade de reprogramar
projetos escolares, em função da aprendizagem
discente e docente.
Identificamos nas pesquisas realizadas por
Noffs1 que a prática psicopedagógica institucional deverá criar e manter vínculos sadios
como elemento essencial para que as relações
grupais de interação e integração ocorram. Essas
relações aliadas à “busca do conhecer e do refletir” – agir e refletir é o elemento da prática
psicopedagógica institucional como a inovação
da escola. Divisam-se assim possibilidades do
envolvimento profissional da escola-educador –
Em conformidade com os estudos apresentados, Porto5 descreve que o trabalho psicopedagógico institucional escolar pode possibilitar
a construção da autonomia do professor, de repensar a sua postura diante da ação pedagógica
e do desenvolvimento da autoria de pensamento
desse profissional.
Nesse sentido, Miranda6 aponta, em seus es­
tudos, a necessidade de projetos voltados para a
formação continuada dos docentes, bem como
de projetos voltados para o desenvolvimento do
aluno no ambiente escolar.
Ao levarmos em consideração os dados acima,
entende-se que, para a realização de um trabalho
psicopedagógico, é necessário ao psicopedagogo
estar inteirado das pesquisas que fazem referência ao pensamento da criança e do adolescente,
de como interagem com o meio a sua volta, e
de que maneira constroem e apreen­de saberes.
Nesse sentido, acredita-se que os ideais piagetianos podem contribuir para a compreensão
da ação psicopedagógica, no que se refere ao
processo de aquisição de conhecimento das
crianças. Assim, a experiência aqui descrita tem
utilizado como referencial teórico os estudos piagetianos, de seus colaboradores. Os estudos de
Piaget vêm ao encontro dos anseios deste relato,
e as palavras de Miranda6 elucidam muito bem
tais apontamentos.
É possível considerar que sua teoria liberta
o aluno para a aprendizagem, no sentido de
Rev. Psicopedagogia 2014; 31(96): 298-310
301
Noffs NA et al.
sores para repensarem seus saberes e práticas,
no cotidiano das salas de aula. Durante esse
período de estudos, buscamos aperfeiçoar mais
sobre a abordagem educacional das escolas de
Cajamar, a fim de ampliar saberes, bem como,
colaborar com a constante formação em serviço
dos docentes.
Um dos aspectos desenvolvido nas escolas é
o exercício da escuta dos atores da comunidade
escolar que compõe as escolas municipais. As
brechas para a realização de um trabalho psicopedagógico, de cunho preventivo e institucional,
produziram os seus primeiros sinais.
Os professores se mostraram disponíveis
a trabalhar junto às psicopedagogas, pois, os
docentes e a psicopedagogas começaram a
compreender a importância de “escutar ” as
necessidades de seus alunos e as suas próprias.
Percebemos, além disso, que os estudos sobre o
exercício da escuta docente, na atualidade, não
estão restritos à experiência psicopedagógica.
Há sinais, em torno dessa discussão, nas
produções de Miranda6: “Ensinar não é apenas
transmitir informações a um ouvinte. É ajudá-lo
a transformar suas ideias. Para isso, é preciso
conhecê-lo, escutá-lo atentamente, compreender
seu ponto de vista e escolher a ajuda certa de que
necessita para avançar: nem mais nem menos”
(Curto, 2000 apud Miranda6).
Cremos que a experiência institucional que
está sendo promovida em Cajamar pôde contribuir para uma melhor compreensão do trabalho
da Psicopedagogia escolar, para profissionais
da área.
Desse modo, apresentam-se o plano de ação
do grupo de psicopedagogas da Rede Municipal
de Cajamar.
A Psicopedagogia surge para colaborar com
a qualificação do processo de aprendizagem
humana, em seu sentido preventivo e corretivo.
Para contribuir efetivamente com o processo
de aprendizagem, buscando a qualidade do
processo de ensino oferecido nas escolas é que a
Prefeitura de Cajamar e a Diretoria de Educação
desse Município abriram concurso, edital em
2007, para o cargo de psicopedagogo, onde cinco
em torno de seu programa pessoal, profissional
e do desenvolvimento organizacional.
Dessa forma, o trabalho tem como pressuposto que “a Psicopedagogia tem como foco o estudo
das modalidades de aprendizagem desencadeadas e/ou possibilitadas pela instituição – escola.
Sua intenção é cuidar da prevenção e enfrentamento de conflitos envolvendo a escolarização.
Este trabalho pressupõe uma postura profissional (e de vida) do indivíduo consigo mesmo e
com a coletividade em que convive, a parir dos
papeis desenvolvidos na instituição”1.
A ATUAÇÃO PSICOPEDAGÓGICA EM
CAJAMAR
Muitos autores da Psicopedagogia tem-nos
apontado que o trabalho psicopedagógico desenvolvido em instituições educativas tem como
marca o aspecto preventivo. O psicopedagogo
tem a possibilidade de direcionar o seu trabalho
para a formação continuada do educador, com
o objetivo de promover a sua aprendizagem, e,
consequentemente, a aprendizagem de seus
alunos. A partir dessa reflexão, concorda-se com
as seguintes palavras:
“Desta forma, a busca de alternativas
para a formação dos educadores é
uma das tarefas mais importantes do
psicopedagogo preocupado com o caráter preventivo de sua prática nessas
instituições. Investigar, analisar e pôr
em prática novas propostas para uma
formação de educadores que os habilite
a estabelecer relações mais maduras
e conscientes com os alunos e com a
equipe escolar apresenta-se então, como
um dos mais fortes desafios ao psicopedagogo comprometido com a educação
em instituições”8.
Em função desse contexto, o trabalho psico­
pedagógico iniciou uma importante parceria
com a equipe técnica composta por: supervisores, assistentes pedagógicos das diferentes
áreas. Nesse processo, iniciamos estudos sistematizados e que fornecem subsídios aos profes-
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Proposta de atuação psicopedagógica na diretoria municipal de educação de Cajamar
psicopedagogas foram aprovadas, constituindo-se a primeira equipe psicopedagógica a integrar
a equipe de especialistas já existentes na rede.
Concordamos com Noffs1 ao identificar que “a
psicopedagogica concretiza-se na articulação
com o pedagógico. Conhecer o cotidiano da
escola, com suas operações até rotineiras, ou
repetitivas, pode ser o ponto impulsionador da
compreensão prática da Psicopedagogia como o
sentido pedagógico, chegando até as questões didáticas. O olhar da Psicopedagogia condensa-se
nas modalidades de aprendizagem – veiculadas
e vinculadas por ensinantes e aprendentes, com
estilos de participação diferenciados”1.
A implantação do serviço de Psicopedagogia
aconteceu em fevereiro de 2008. Inicialmente,
as psicopedagogas acompanhavam o trabalho
desenvolvido nas escolas (durante um semestre)
em parceria com um supervisor de ensino e seu
trabalho era voltado para as questões pedagógicas e administrativas nas unidades escolares.
Esse trabalho era realizado na parceria com
outros profissionais da equipe técnica composta
de assistentes pedagógicos por área de conhecimento (comunicação, alfabetização, matemática,
arte, história, geografia, ciências, educação es­
pecial, posteriormente educação física) e especialistas como fonoaudiólogas e psicólogas.
Em abril de 2009, duas psicólogas e duas
fonoaudiólogas que pertenciam à Secretaria da
Saúde retornaram para o atendimento clínico na
respectiva secretaria e uma fonoaudióloga em
cargo comissionado permaneceu na Diretoria
de Educação.
O objetivo nesse ano foi conhecer a rede de
ensino por meio de participações em reuniões,
observações de alunos e contato direto com
professores. Nesse momento, o trabalho psicopedagógico não priorizava o aluno com dificuldade de aprendizagem e sim o funcionamento
pedagógico como um todo.
Frente a esse cenário e ao grupo multidisciplinar, é que as psicopedagogas sentiram necessidade de propor um trabalho diferenciado na
linha de atendimento ao aluno com dificuldades
de aprendizagem na visão psicopedagógica.
Para a Psicopedagogia, “a dificuldade é um
termo que caracteriza momentaneamente o
procedimento de uma pessoa em relação a um
objetivo. A dificuldade se manifesta quando, em
sua trajetória, a pessoa encontra obstáculos”9.
Para atender às 29 escolas, com um total
de 10.508 alunos, as cinco psicopedagogas
dividiram-se em seis escolas cada uma, visando
ao estabelecimento de uma articulação nos diferentes segmentos com a comunidade escolar
(pais, alunos, professores, funcionários).
Junto à gestão, na unidade escolar, a supervisão, na Diretoria de Educação e a partir dos
dados fornecidos pelo professor, da observação
do aluno em sala e que se realizava a avaliação
psicopedagógica preliminar e entrevista com o
responsável pelo aluno.
Se confirmada a necessidade de intervenção psicopedagógica, iniciava-se o processo de
atendimento propriamente dito, que buscava
desenvolver habilidades para seu desenvolvimento cognitivo, pedagógico e afetivo.
Para tanto, firmava-se um contrato com o
responsável onde se explicitava o cronograma, a
duração (aproximadamente de 60 minutos) a modalidade (grupo ou individual) e a periodicidade
(quinzenal), no contra turno, na própria escola.
As práticas realizadas em cada Unidade Escolar eram socializadas em reuniões semanais
na Diretoria de Educação com a equipe técnica.
Tal modelo implantado em agosto de 2008
permaneceu durante o ano de 2009 até junho
de 2010.
Em 2009, as Reformulações são planejadas,
há contratação de uma Assessoria Especifica
em Psicopedagogia, visando a aproximar mais
a atuação psicopedagógica na dimensão da
prevenção dos problemas de aprendizagem dos
alunos matriculados na rede de Cajamar.
Nessa perspectiva, em fevereiro de 2010, foi
desencadeada uma revisão da estrutura na figura de um novo diretor que tinha como meta
não romper com a linha em curso.
Diante da reformulação, na estrutura do
funcionalismo da Equipe Técnica Pedagógica
da Diretoria de Educação no referido período,
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Noffs NA et al.
as psicopedagogas, partindo de discussões e
reflexões no grupo, decidiram por modificar o
trabalho para melhor atender às exigências da
Diretoria de Educação, sem prejudicar o acompanhamento às escolas, pois se percebeu a necessidade de reuniões para tomada de decisões
e novos encaminhamentos para a Educação do
município.
No 1º semestre de 2010, foram realizadas
várias coletas de dados por meio de um questionário com os professores, diretores, assistentes
pedagógicos e supervisores que foram analisados em reuniões na diretoria e que, após a
interpretação de dados, subsidiou a elaboração
de novos rumos ao trabalho que vinha sendo
realizado.
A partir do mês de agosto do atual ano, o
acompanhamento psicopedagógico priorizou o
apoio aos professores nas unidades escolares e
aos professores das salas de recuperação paralela. A ideia norteadora do projeto de recuperação
paralela beneficiaria mais alunos, pois os mesmos contavam com apoio pedagógico específico,
transporte e alimentação, o que não ocorria nos
grupos anteriormente atendidos pelas psicopedagogas no contra turno.
Os acompanhamentos aos alunos das salas
regulares permaneceram da mesma forma, ou
seja, mediante envio de ofício da escola, o aluno
era observado em sala e, se necessário, passava
por avaliação psicopedagógica, o professor era
orientado e realizavam-se os encaminhamentos
internos (recuperação paralela) e externos (área
da saúde e serviço social) à escola.
Nesse modelo de trabalho fez-se necessário
estreitar a parceria com assistentes pedagógicas
de alfabetização para respaldar os professores
quanto à aprendizagem dos alunos em se tratando da recuperação e qualificação da mesma.
Em 2011, novamente sob a direção de Lucia
Maria de Carvalho, o trabalho da Diretoria de
Educação voltou-se para o estreitamento da
parceria entre as equipes, sendo a supervisão
a equipe mediadora, e a supervisora Maristela
de Souza Giusti a coordenadora da equipe das
psicopedagogas.
O foco de trabalho voltou-se ao fortalecimento
do trio gestor, professor e família, sendo priozadas as escolas de Ensino Fundamental I e II.
As escolas de Educação Infantil foram acompanhadas e receberam orientações conforme
demanda solicitada pela supervisão.
Em se tratando da EJA, a psicopedagoga
participou das formações na Diretoria de Educação, contribuindo para o reconhecimento do
perfil do segmento.
Em junho de 2011, a equipe de psicopedagogas amplia sua formação em parceria, na medida
em que realiza visitas às escolas visando ao
desenvolvimento “do olhar”, “da escuta” e “da
fala”, habilidades essenciais ao desempenho
profissional. Essa ação é realizada em equipe,
onde a responsável pela unidade escolar (diretora, assessora) apresenta os ambientes de
aprendizagem, que, em seguida, são analisados
por toda a equipe.
Ao fornecer o feedback, após o conhecimento do ambiente (pela visita), a elaboração,
compreen­são e recomposição das atividades
pedagógicas a partir da reflexão coletiva entre
todos os seus membros foi se qualificando na
medida em que simultaneamente eram realizados os estudos que permitissem ampliar os
conhecimentos e subsidiar a construção de novas
ações que permitissem o desenvolvimento e o
autoconhecimento de cada elemento da equipe.
Autores como John Dewey, Zabala, Paulo Freire, Malcolm S. Knowles, Edgar Morin, Jacques
Delors e Hernandez Ventura foram estudados
para subsidiar as reflexões no grupo.
As ações iniciais descritas neste documento
revelam o deslocamento do trabalho clínico
desenvolvido na 1ª fase do trabalho dos psicopedagogos em 2008/2009, para a articulação com o
trio gestor e, consequentemente, contribui para
a construção de um novo perfil do psicopedagogo, mais próximo aos assessores pedagógicos e
professores, em caráter preventivo no processo
ensino-aprendizagem, levando a discussões e
reflexões que contribuam para a prática pedagógica dos gestores e professores.
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Proposta de atuação psicopedagógica na diretoria municipal de educação de Cajamar
Junto ao supervisor e trio gestor, levantar-se-á dados sobre aqueles alunos que apresentaram aprendizagem abaixo do esperado para
o ano/série.
A partir dos dados obtidos, realiza-se uma discussão com a equipe, considerando os registros de
mapeamento, conselhos de classe, portfólios, relatórios do professor e informes psicopedagógicos,
se houver, e reuniões bimestrais, pós conselho de
classe, a fim de realizarmos discussões de casos,
socializar avaliações e observações sob o olhar
da especificidade, assim como, levantamento de
demandas e encaminhamentos necessários.
Essa discussão permite a orientação contextualizada, bem como identificação de necessidades específicas de formação quanto ao processo
ensino- aprendizagem na Unidade Escolar.
Desfocar o trabalho direto com aluno e focar
na assessoria psicopedagógica à equipe gestora
indica o deslocamento do trabalho clí­nico e norteia um trabalho psicopedagógico institucional,
para esta, requer uma mudança de paradigma na
ação dos psicopedagogos onde sua diferenciação com a equipe do Atendimento Educacional
Especializado ocorra.
Priorizar e focar a assessoria junto ao assessor pedagógico, para que esse, na sua função
pedagógica tenha subsídios para continuar as
discussões/reflexões e contribuições psicopedagógicas, para continuarem o trabalho com
os professores na prevenção dos problemas de
aprendizagem de seu grupo classe.
Neste ano, o trio gestor na parceria estreita
com a supervisão e as psicopedagogas assumirão
o compromisso com a ação educativa desenvolvida nas escolas.
Durante o ano de 2011, duas profissionais da
psicopedagogia deixaram o grupo, Amanda Carolina Savioli solicitou exoneração, assumindo o
cargo de professora na Prefeitura de São Paulo e
Simone Catarina de Oliveira, que se afastou do trabalho durante três anos, por motivos particulares.
A profissional da fonoaudiologia em cargo
comissionado (Maria Cristina D. Martins), que
até então assumia a função de coordenadora
do grupo de especialistas, foi para o cargo em
concurso público na saúde.
Sendo assim, em 2012, essa diretoria contou
com três profissionais da psicopedagogia acompanhando às escolas de Ensino Fundamental I
e II sob o âmbito de orientações ao trio gestor,
professor e família e a Educação Infantil conforme demandas da supervisão.
Tendo em vista o número de escolas, o nú­mero
de profissionais em psicopedagogia, agru­pamos
as referidas escolas em três pólos, geograficamente destribuídos onde cada psicopedagoga
será responsável por um pólo.
CARACTERIZAÇÃO DO ACOMPANHAMENTO PSICOPEDAGÓGICO
Em 2011, os psicopedagogos no início do
ano letivo fizeram o acompanhamento pós
diagnóstico inicial nas escolas, na medida que
o professor com maior propriedade relatou sobre o desempenho escolar de seu aluno com
dificuldades de aprendizagem, momento este
que, professor, psicopedagogas e gestoras da
unidade escolar puderam elencar prioridades e
os encaminhamentos pedagógicos adequados,
para direcionar a ação do professor em busca
do avanço na aprendizagem dos mesmos, assim
como, o encaminhamento para a recuperação
paralela, quando necessário.
Em 2012, ficou acordado junto à coordenação da equipe técnica, chefe de departamento,
psicopedagogas, coordenadora do grupo das
psicopedagogas e assessora externa deste, que
a prioridade deverá ser o fortalecimento do trio
gestor na unidade escolar.
Por pólos, o psicopedagogo como membro do
quarteto gestor, participará de reuniões sistemáticas, onde serão elencadas as prioridades para
a atuação psicopedagógica em consonância com
esse documento.
Essas prioridades foram estudadas pelos
psicopedagogos para que posteriormente ela-
DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO
No âmbito escolar, propõe-se uma parceria
mais estreita com os profissionais responsáveis
pela recuperação paralela na rede.
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Noffs NA et al.
• Participar de discussões dos casos de
alunos com dificuldade de aprendizagem
com os gestores e professores para as de­
vidas orientações;
• Apoiar o professor da recuperação paralela com orientações quanto às intervenções que possam favorecer a aprendizagem dos alunos;
• Colaborar com a gestão escolar na elaboração de temas para pauta de reunião de
pais, quando solicitado;
• Orientar a famílias ou responsáveis no
processo de ensino-aprendizagem.
borem planos específicos do acompanhamento
do trabalho respeitando o contexto de cada
unidade escolar.
O acompanhamento psicopedagógico aconteceu nas escolas de Ensino Fundamental I,
com foco aos alunos com dificuldades de aprendizagem a partir do 3º ano e Fundamental II,
Educação Infantil e EJA, conforme solicitação
da supervisão.
As ações nas escolas foram voltadas às orientações ao trio gestor, professor e família quanto
às dificuldades de aprendizagem, verificada
pelos professores e gestores, entre o mês de março
e novembro.
Com o trio gestor, foi realizada uma reflexão
aprofundada sobre as prioridades elencadas,
retomando as orientações com intuito de verificar o desenvolvimento, progresso e os entraves
identificados no processo.
Esse fator é importante para a solidificação
da articulação das ações propostas para e na
Unidade Escolar.
Dessa forma, os pólos do acompanhamento
psicopedagógico ficaram organizados da seguinte forma:
• Pólo Cajamar
• Pólo Jordanésia
• Pólo Polvilho
PÚBLICO-ALVO
A Psicopedagogia apoiará a equipe técnica da
Diretoria de Educação no fortalecimento do trio
gestor, no que se refere aos alunos com dificuldades
de aprendizagem, matriculados na Rede Municipal
de Educação de Cajamar e seus familiares.
METAS
Este documento apresenta a sistematização
das metas propostas pela equipe de psicopedagogas a serem desenvolvidas a partir de fevereiro
de 2012, nos seguintes eixos:
a)Escola
b)Professores
c)Alunos
d)Família
e) Equipe técnica da diretoria de educação
f) Equipe de Psicopedagogas
OBJETIVOS
Objetivos Gerais
• Contribuir com a formação continuada
dos profissionais da educação em Cajamar,
visando à qualidade do ensino;
• Fortalecer a parceria com supervisores,
gestores, assistentes pedagógicas e professores, visando às salas de recuperação
paralela diretamente e de forma indireta
com a prevenção de problemas de aprendizagens das salas regulares, com foco na
articulação qualificada.
ESCOLA
• Socializar o plano de trabalho do psicopedagogo a ser desenvolvido no ano
vigente;
• Acompanhar o trabalho desenvolvido na
escola visando à qualificação do ensino
na relação com a aprendizagem;
• Subsidiar a gestão escolar por meio de
projetos, palestras e visitas, visando à melhoria dos ambientes de aprendizagem;
• Orientar os gestores quanto ao encaminhamento do aluno por meio de ofício
Objetivos Específicos
• Contribuir para minimizar os problemas
de dificuldade de aprendizagem e os dela
decorrentes;
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Proposta de atuação psicopedagógica na diretoria municipal de educação de Cajamar
para a assistente pedagógica de Educação Especial e Assistente Social, quando
necessários;
• Participar do planejamento anual e Conselho de Classe, socializando informações
dos alunos acompanhados;
• Participar do processo de aplicação das
provas do SARESP, bem como da correção
e análise das mesmas.
relação ao desenvolvimento e à aprendizagem do aluno;
• Orientar quanto aos encaminhamentos do
aluno com hipótese de deficiência, à Assistente de Educação Especial, que dará
prosseguimento aos encaminhamentos
internos e externos a Unidade Escolar.
EQUIPE TÉCNICA – REDE MUNICIPAL DE
CAJAMAR
• Participar das reuniões planejadas pela
equipe;
• Colaborar com as reflexões e decisões
envolvendo o trabalho na escola;
• Colaborar com a integração entre as equipes da Diretoria de Educação.
DOCENTES
• Colaborar com a formação em serviço
do professor nas situações envolvendo a
Psicopedagogia;
• Assessorar o professor da sala regular
em situações específicas envolvendo as
dificuldades de aprendizagem;
• Orientar a unidade escolar quanto à aqui­
sição e elaboração de materiais que contribuam à aprendizagem;
• Atender às solicitações registradas por ofício, em relação aos alunos encaminhados
pela supervisão;
• Colaborar na assessoria aos professores
responsáveis pela recuperação paralela
nas unidades de ensino.
EQUIPE DE PSICOPEDAGOGAS
• Compartilhar ações psicopedagógicas nas
unidades de ensino;
• Construir protocolos do trabalho desenvolvido pela equipe, visando ao desenvolvimento qualitativo das atividades
psi­­­­copedagógicas na rede de Cajamar;
• Promover o estudo e a atualização dos
profissionais da Psicopedagogia em exercício.
ALUNOS
• Observar os alunos encaminhados pela
supervisão em diferentes ambientes de
aprendizagem;
• Levantar dados na referência psicopedagógica do aluno, visando a orientações
para o professor e gestores quanto à dificuldade de aprendizagem;
• Analisar os dados coletados (professores,
observação em aula, instrumentos psicopedagógicos específicos de avaliação)
visando à articulação escola-família;
• Contribuir para a compreensão de sua
identidade visando sua autoestima e bem-estar.
META A LONGO PRAZO
• Buscar articulação entre outras secretarias do município, a fim de propiciar me­
lhorias no atendimento dos alunos com
dificuldade de aprendizagem de forma
multidisciplinar, requerendo a construção
do Centro de Apoio à Aprendizagem;
• Buscar o aprimoramento das aprendizagens dos alunos e fortalecimento de
gestores e professores no que se refere
às dificuldades de aprendizagem.
RESULTADOS ESPERADOS
Esperava-se, com a parceria da supervisão,
instrumentalizar os gestores e professores para
melhor desenvolver a sua prática pedagógica,
buscando aumentar a qualificação da aprendi-
FAMÍLIAS
• Subsidiar a família na compreensão de
sua dinâmica e seu funcionamento em
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zagem e, assim, diminuir a incidência de en­
caminhamentos dos alunos com dificuldade de
aprendizagem.
Com o fortalecimento do trio gestor, a expectativa é que a escola atinja uma melhoria na
qualidade da educação e na identidade de sua
escola, especificamente no processo de ensino-aprendizagem.
E como meta a longo prazo, a organização/
implantação de um Centro Multidisciplinar de
Apoio à Aprendizagem, buscando-se resgatar
as potencialidades relacionadas ao processo
ensino-aprendizagem daqueles alunos com dificuldade de aprendizagem instaladas.
para o trabalho do psicopedagogo escolar. O autor descreve a urgência de as escolas passarem
por uma reforma radical, a favor de métodos
ativos de aprendizagem em que o aluno seja o
construtor de seu saber e não apenas um mero
receptor de conteúdos.
A proposta de atuação psicopedagógica institucional na Rede Municipal de Cajamar, descrita no presente artigo, intentou compreender
as atribuições do psicopedagogo na Educação.
Ao longo dos estudos e da prática vivenciada na
escola, entendeu-se que o serviço está relacionado, principalmente, com o trabalho de formação
continuada do docente.
Portanto, o desafio é encontrar alternativas de
ação que viabilizem ao professor uma reflexão sobre sua atuação docente, ou seja, sobre sua própria
prática, a fim de que se encontrem caminhos prováveis para se conseguir a finalidade proposta: a
de promover o desenvolvimento dos nossos alunos.
Contudo, é importante destacar os dizeres de
Rubinstein10, que aponta para a importância de
se preservar o estilo do psicopedagogo: “Cada
qual, a partir de sua história de vida, encontrará a forma peculiar de pensar, agir, sentir, fazer
psicopedagogia, sustentada pelos referenciais
teóricos escolhidos”.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Pretende-se reafirmar, com o presente relato, a necessidade e a importância de constituir,
constantemente, especialmente na equipe de
psicopedagogos, uma frequente reflexão em
torno da sua prática. A literatura estudada permite compreender claramente a relevância de
seu papel e de suas atribuições, levando em
consideração as bases teóricas que auxiliam sua
prática e a contínua reflexão.
Desse modo, Piaget7 nos ajuda a pensar sobre
a influência da uma reestruturação pedagógica
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Proposta de atuação psicopedagógica na diretoria municipal de educação de Cajamar
SUMMARY
Proposed action psychopedagogic in municipal board
of education Cajamar
This paper presents the proposed constitution of the psychoeducational
performance segment of early childhood education, elementary school
and elementary school II Schools Network Municipal School, located in
Cajamar - São Paulo. The plan psychoeducational institutional performance,
developed by the group of educational psychologists and objective external
advisor systematize from 2008 actions presented in the action plan for the
network. At first they asked themselves-what are the responsibilities of the
educational psychologist to work in the Municipal Education Institution
and School segments. To do so, constituted the proposal, using a theoretical
framework for psychoeducation, supported mainly by the assumptions:
Chabanne, Nadia Bossa, Alicia Fernandes, Neide Noffs and other authors
in the field of educational psychology that reference preventivo- imprint
institutional as well as the authors: Piaget, Vygotsky, Wallon, John Dewey,
Zabala, Gerard Peçanha, Paulo Freire, Jose M. Beltran, Mabel Condemarin
among others. These studies contributed to the understanding of the
knowledge construction process of students. Thus, it was realized that the
proposed action of psycho pedagogical proposal for the network, which
comprises the actions relate primarily to the continuing education of
teachers, ie, attempts to develop a work under preventive psychoeducational
perspective. This proposal is described in items of discussion about the
responsibilities of the educational psychologist, taking into account the history,
cultural aspects and the specific needs of the area. It is understood that the
work of educational psychologist school requires constant thinking about what
your doing, which demand frequent dialogues with the school community.
The psychoeducational performance search to find alternative actions that
enable this professional and teachers of Municipal Network Cajamar, a
constant reflection on teaching practice, so that they are likely ways to get to
the proposed objective: to promote the development and student learning.
KEY WORDS: Institutional Psychoeducation. Learning. Child rearing.
Education, primary and secondary.
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de Aprendizagem e Gestão Educacional;
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Trabalho realizado junto à Diretoria de Educação da
Prefeitura de Cajamar, Cajamar, SP, Brasil.
Artigo recebido: 16/9/2014
Aprovado: 10/11/2014
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310
ASSOCIADOS TITULARES – DEZEMBRO 2014
ALAGOAS
Maceió
DISTRITO FEDERAL
Brasília
São Gonçalo do Sapucaí
ELIANE CALHEIROS CANSANÇÃO
MARINA LIMA BEUST
[email protected]
(35) 3241-3195 – Centro
BAHIA
Itabuna
ESPÍRITO SANTO
Vitória
GENIGLEIDE SANTOS DA HORA
CHEILA ARAUJO MUSSI MONTENEGRO
[email protected]
(82) 3223-4258 – Farol
[email protected]
(73) 3617-0372 – São Caetano
Salvador
DEBORA SILVA DE CASTRO PEREIRA
[email protected]
(71) 3341-2708 – Candeal
CEARÁ
Fortaleza
[email protected]
(61) 3326-9314 – Asa Norte
[email protected]
(27) 99969-5545 – Santa Lúcia
MARIA DA GRAÇA VON KRUGER PIMENTEL
[email protected]
(27) 3225-9978 – Praia do Canto
GOIÁS
Aparecida de Goiás
LUCILA MENEZES GUEDES MONFERRARI
MARÍLIA VIEIRA SIQUEIRA DE ARANTES
Uberlândia
MARIA CLARA R. R. FORESTI
[email protected]
(35) 3212-3496 – Centro
REGINA CLAUDIA A. S. FERRAZ
[email protected]
(35) 3214-5660 – Jardim Andere
Varginha
ELISA MARIA MAGANHA SOARES CÂNDIDO
[email protected]
(35) 3221-7949 – Vila Pinto
[email protected]
(62) 3259-3592 – Setor Bueno
[email protected]
(85) 3261-0064 – Aldeota
PARÁ
Belém
Goiânia
MARIA DE NAZARÉ DO VALE SOARES
DALMA RÉGIA MACEDO PINTO
DENISE ARAUJO SANTOS BAIOCCHI CARNEIRO
ANDRÉA AIRES COSTA DE OLIVEIRA
[email protected]
(85) 3491-2280 – Vila União
ELIANE CÁSSIA ROCHA BLANES
[email protected]
(85) 3244-2820 – Dionísio Torres
[email protected]
(62) 3259-6666 – Nova Suíça
LUCIANA BARROS DE ALMEIDA SILVA
[email protected]
(62) 3293-3067 – Setor Marista
ELIANE LACERDA FERNANDES DE ASSIS
[email protected]
(85) 8699-3407 – Meireles
ELISABETE SILVEIRA CASTELO BRANCO
[email protected]
(85) 3281-1673 – Rodolfo Teófilo
FRANCISCA FRANCINEIDE CÂNDIDO
[email protected]
(85) 3272-3966 – Fátima
GALEÁRA MATOS DE FRANÇA SILVA
[email protected]
(85) 3264-0322 – Aldeota
GERALDO LEMOS DA SILVA
[email protected]
(85) 3246-7000 – Dionísio Torres
LUCIANA QUEIROZ BEM PORTELA
[email protected]
(85) 3101-2201 – Farias Brito
MATO GROSSO
Cuiabá
[email protected]
(91) 9981-2076 – São Braz
PARANÁ
Cambé
NEOCLEIDE MILANI
[email protected]
(43) 3223-2654 – Centro
Curitiba
ÂNGELA CRISTINA MUNHOZ MALUF
ADRIANE CREDIDIO R. C. DYMINSKI ARRUDA
[email protected]
(65) 9214-4484 – Jardim Cuiabá
[email protected]
(41) 3672-3454 – Jardim Menino Deus
MARIA MASARELA MARQUES DOS PASSOS
CINTIA BENTO M. VEIGA
[email protected]
(65) 3028-1372 – Campo Velho
MINAS GERAIS
Campanha
RAMONA CARVALHO FERNANDEZ NOGUEIRA
[email protected]
(35) 3261-2119 – Centro
Elói Mendes
[email protected]
(41) 3332-2156 – Rebouças
EVELISE M. LABATUT PORTILHO
[email protected]
(41) 3271-1655 – Prado Velho
FABIANE CASAGRANDE C. O. MELLO
[email protected]
(41) 3022-4041 – Batel
SONIA MARIA GOMES DE SÁ KUSTER
JANAINA CRISTIANE GUIDI PEREIRA
[email protected]
(41) 3264-8061 – Centro
Tianguá
Pouso Alegre
PERNAMBUCO
Jaboatão dos Guararapes
GRAÇA MARIA DE MORAIS AGUIAR E SILVA
CLAUDIA MARQUES CUNHA SILVA
LEOPOLDINA MARIA ARAUJO DE MIRANDA
MARIA JOSÉ WEYNE MELO DE CASTRO
[email protected]
(85) 3261-0064 – Parque Manibura
[email protected]
(88) 9963-5854 – Centro
[email protected]
(35) 3264-3397 – Centro
[email protected]
(35) 3422-2050 – Fátima
[email protected]
(81) 3341-8411 – Candeias
Recife
MANUELA BARBOSA PIMENTEL DE FREITAS
[email protected]
(81) 9694-7857 – Boa Viagem
RIO GRANDE DO SUL
Casca
SÃO PAULO
Bragança Paulista
BEATRIZ ANA ZAMBON FERRONATO
MÁRCIA GOMES
[email protected]
(54) 3347-1394 – Centro
[email protected]
(11) 4032-5809 – Centro
Espumoso
Campinas
RAIMUNDA FERREIRA PAIVA NETA
JUSSÂNIA MARIA GADENS SONDA
MARIA LAURA CASSOLI MACEDO
[email protected]
(89) 3515-1156 – Centro
[email protected]
(54) 8411-1438 – Jardim dos Coqueiros
[email protected]
(19) 3254-2714 – Jardim N. Sra. Auxiliadora
Teresina
Não-Me-Toque
São Paulo
JOYCE MARIA BARBOSA DE PADUA
MARIA DE LOURDES EILERT MALAQUIAS
PIAUÍ
Floriano
[email protected]
(86) 3221-1013 – Centro/Sul
RIO DE JANEIRO
Niteroi
FÁTIMA GALVÃO PALMA
[email protected]
(21) 2710-5577 – Icaraí
Rio de Janeiro
ANA MARIA ZENÍCOLA
[email protected]
(21) 2556-3767 – Flamengo
ANA PAULA LOUREIRO E COSTA
[email protected]
(21) 2436-1803 – Jacarepaguá
CLYTIA SIANO FREIRE DE CASTRO
[email protected]
(21) 2247-3185 – Ipanema
DIRCE MARIA MORRISSY MACHADO
[email protected]
(21) 2236-2012 – Copacabana
HELOISA BEATRIZ ALICE RUBMAN
[email protected]
(21) 2259-9959 – Jardim Botânico
[email protected]
(54) 3332-1400 – Centro
Nova Prata
CLADISMAR LUIZA GASPARETTO
[email protected]
(54) 3342-2507 – Centro
Paraí
LIANE FÁTIMA PASINATO RANZAN
[email protected]
(54) 3477-1158 – Centro
Passo Fundo
EVA ALDA MEDEIROS CAVASOTTO
[email protected]
(51) 3334-1675 – Petrópolis
IARA SALETE CAIERÃO
[email protected]
(54) 3311-5230 – Centro
ROSANITA MOSCHINI VARGAS
ANA LISETE P. RODRIGUES
[email protected]
(11) 3885-7200 – Jardim Paulista CARLA LABAKI
[email protected]
(11) 3815-5774 – Vila Madalena
CLEOMAR LANDIM DE OLIVEIRA
[email protected]
(11) 99302-5501 – Moema
DILAINA PAULA DOS SANTOS
[email protected]
(11) 99219-5114 – Santana
LEDA MARIA CODEÇO BARONE
[email protected]
(11) 3045-9064 – Vila Olímpia
LUCIA BERNSTEIN
[email protected]
(11) 3209-8071 – Aclimação
MÁRCIA ALVES SIMÕES
[email protected]
(11) 98192-0921 – Tatuapé
MARIA BERNADETE GIOMETTI PORTÁSIO
[email protected]
(51) 3516-6859 – Boa Vista
[email protected]
(11) 2950-6072 – Santana
SANDRA MARIA CORDEIRO SCHRÖEDER
MARIA CRISTINA NATEL
[email protected]
(11) 5081-2067 – Vila Mariana
MARIA LÚCIA DE OLIVEIRA FIGUEIREDO
[email protected]
(51) 3328-3872 – Chácara das Pedras
MARLENE DIAS PEREIRA PINTO
SANTA CATARINA
Florianópolis
[email protected]
(11) 3258-5715 – Higienópolis
ANA CRISTINA BARBOSA ROCHA
[email protected]
(11) 3023-5834 – Alto de Pinheiros
[email protected]
(21) 9345-4020 – Botafogo
[email protected]
(21) 9739-5332 – Leblon
MARTHA IZAURA DO NASCIMENTO TA­
BOA­DA
[email protected]
(21) 2570-0065 – Barra da Tijuca
RIO GRANDE DO NORTE
Natal
EDNALVA DE AZEVEDO SILVA
[email protected]
(84) 3221-6573 – Lagoa Seca
MARIA IRENE DE MATOS MALUF
[email protected]
(48) 3223-0641 – Centro
JANICE MARIA BETAVE
[email protected]
(48) 8453-7791 – Ingleses
MARIA TERESA MESSEDER ANDION
MARISA IRENE S. CASTANHO
[email protected]
(11) 3491-0522 – Ipiranga
MÔNICA HOEHNE MENDES
Maravilha
[email protected]
(11) 5041-1988 – Indianópolis
SILVANA MARIA BEDUSCHI DA SILVEIRA
QUÉZIA BOMBONATTO SILVA
[email protected]
(49) 3664-2186 – Centro
[email protected]
(11) 3815-8710 – Vila Madalena
REGINA A. S. I. FEDERICO
[email protected]
(11) 5041-1988 – Brooklin
REGINA ZAIDAN PEREIRA MENDES
SÔNIA MARIA COLLI DE SOUZA
[email protected]
(11) 3287-8406 – Bela Vista
TELMA PANTANO
[email protected]
(11) 3872-2434 – Pacaembu
[email protected]
(11) 3062-6580 – Jardins
SANDRA G. DE SÁ KRAFT MOREIRA DO NAS­­
CIMENTO
[email protected]
(11) 3805-9799 – Morumbi
SANDRA LIA NISTERHOFEN SANTILLI
VALÉRIA RIVELLINO LOURENZO
[email protected]
(11) 5041-7896 – Brooklin
VÂNIA M. CARVALHO BUENO DE SOUZAO
Taubaté
BENEDITA ILZA VIEIRA FORTES
[email protected]
(12) 3411-6637 – Centro
SERGIPE
Aracaju
MARIA GORETTI DE ALMEIDA GONÇALVES
[email protected]
(79) 3211-8668 – Centro
[email protected]
(11) 3259-0837 – Higienópolis
vâ[email protected]
(11) 3644-7133 – Lapa
NIELZA DA SILVA MAIA DE SOUZA
SILVIA AMARAL DE MELLO PINTO
VERA MEIDE MIGUEL RODRIGUES
TÂNIA REGINA ESPIRIDIÃO DE FARIA
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(11) 3097-8328 – Pinheiros
[email protected]
(11) 3511-3888 – Pacaembú
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(79) 3214-5363 – São José
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(79) 3211-8668 – Centro
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ABPp
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com notícias, programação de eventos
da ABPp e de seus parceiros
A Associação Brasileira de Psicopedagogia (ABPp) é
uma entidade de caráter científico-cultural, sem fins
lucrativos, que congrega profissionais militantes na área da
Psicopedagogia.
Em 12 de novembro de 1980, um grupo de profissionais já
envolvidas e atuantes nas questões relativas aos problemas da
aprendizagem fundou a Associação Estadual de
Psicopedagogos do Estado de São Paulo, a AEP.
Devido ao grande interesse em torno dessa Associação, a sua
expansão a nível Nacional surgiu como necessidade imperiosa.
Em 1986, a AEP transformou-se na ABPp e gradativamente
foram sendo criados os seus escritórios de representação por
todo o Brasil, denominados de Núcleos e Seções.
ANOS
30
Durante estes anos, a ABPp vem cuidando de questões
referentes à formação, ao perfil, à difusão e ao
reconhecimento da Psicopedagogia no Brasil, já tendo
alcançado muitas vitórias na luta pela sua regulamentação.
Atualmente (2014), a ABPp possui 15 Seções e 3 Núcleos,
distribuídos pelo território nacional, estando devidamente
vinculados e sob sua orientação.
A ABPp promove conferências, cursos, palestras, jornadas,
congressos, bem como a divulgação de trabalhos sobre sua área
de atuação, por meio da revista científica Psicopedagogia,
da Revista do Psicopedagogo, do informativo
Diálogo Psicopedagógico e do site www.abpp.com.br.
Oferece, ainda, descontos tanto nos eventos que
organiza quanto em eventos de terceiros, que são parceiros e
interessados nos assuntos desta área.
Preocupada com as questões sociais, a atual diretoria da
ABPp Nacional organizou um novo trabalho de cunho
sociocientífico, que visa não só ao atendimento
da população carente, promovendo a inserção social e a
divulgação da importância da prática psicopedagógica,
como também à implantação de um novo modelo de estudo
e pesquisa nesse campo. Dele poderão participar todos os
associados interessados em prestar um trabalho social.
Podem associar-se à ABPp todas as pessoas interessadas
nessa área de atuação, tendo ou não concluído a sua
especialização em Psicopedagogia.
Rua Teodoro Sampaio, 417 - Conj. 11 - Cep: 05405-000
São Paulo - SP - Pabx: (11) 3085-2716 - 3085-7567
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