1º Ensino Médio - Raphael di Santo

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1º Ensino Médio
Aluno (a):_______________________________________________ Nº: ___________
Série/Turma/Ano: _____________
Professor Ms. Lairton José da Costa
SUMÁRIO
PRIMEIRO TRIMESTRE
1 CRIANDO UMA IMAGEM CRÍTICA DA FILOSOFIA
03
1.1 O que é Filosofia?
03
1.2 Para que serve o estudo da Filosofia?
03
1.3 Por que estudar Filosofia?
03
1.4 Mitos
04
1.5 Senso comum
06
1.6 Ciência
08
1.7 Estética
09
2 Ética, política, liberdade e moral
12
2.1 Construção do sujeito moral
12
2.2 Autonomia e liberdade
15
2.3 Alienação moral
17
2.4 Moral e ética
18
2.5 Ética e emoções humanas
20
2.6 Ética nas relações de conflito
22
2.7 Trabalho: um lugar ao sol
22
SEGUNDO TRIMESTRE
1 ÁREAS DA FILOSOFIA
24
2 INTRODUÇÃO À FILOSOFIA DA CIÊNCIA
25
2.1 O falsificacionismo
28
2.1.2 Critérios para uma boa teoria.
28
3 INTRODUÇÃO À FILOSOFIA DA RELIGIÃO – DEUS E A RAZÃO
29
3.1 Deus como causa do mundo
29
3.2 Deus não pode ser provado pela razão
30
4 INTRODUÇÃO À FILOSOFIA DA CULTURA - MITO E CULTURA
32
4.1 Mito e Cultura
33
TERCEIRO TRIMESTRE
1 POLÍTICA
35
1.1 Concepção política
35
1.2 Formas de governo
38
1.3 Capitalismo
40
2 DESIGUALDADE SOCIAL E IDEOLOGIA
43
2.1 Aprofundando a reflexão sobre a palavra “ideologia”.
47
REFERÊNCIAS
48
2
PRIMEIRO TRIMESTRE
TRIMESTRE
1 CRIANDO UMA IMAGEM CRÍTICA DA FILOSOFIA
Conceitos para fundamentação do tema.
- Filosofia: Reflexão especulativa sobre coisas, fatos e ideias, suas causas, seus significados.
- Intelecto: em sentido lato, faculdade ou atividade pensante inerente à condição humana,
capaz de conferir sentido, limites, ordem e medida ao universo e aos seus múltiplos seres;
inteligência, entendimento.
- Pensamento: Capacidade ou atividade de formular e/ou evocar ideias, juízos, conceitos etc.
- Reflexão crítica: Concentração do espírito sobre si próprio, suas representações, ideias,
sentimentos com base nos critérios estabelecidos pela Filosofia.
1.1 O que é Filosofia?
A Filosofia é “uma reflexão crítica a respeito do conhecimento e da ação, a partir da
análise dos pressupostos do pensar e do agir, e, portanto, como fundamentação teórica e
crítica dos conhecimentos e das práticas”.
1.2 Para que serve o estudo da Filosofia?
Esta é uma pergunta de difícil resposta. Pois pressupões que tudo tem de ter uma
utilidade, um uso prático, como, por exemplo, estudar Matemática apenas para não ser
enganado no momento do troco. Em geral, essa questão não parte de uma discussão
filosófica; ela procede das necessidades imediatas da ordem mercadológica. De qualquer
forma, a questão existe e pode ser uma ponte para o diálogo.
Em vês de expormos, aqui, o histórico do conceito e a crítica a uma concepção de
cultura restrita e utilitarista, vamos destacar a importância do ensino a Filosofia no Ensino
Médio para a formação do cidadão na profunda dimensão ético-política.
1.3 Por que estudar Filosofia?
A partir das considerações até aqui apresentadas, é possível afirma que a reflexão
crítica sustentada pela Filosofia (o instrumento) visa a auxiliar a todas as pessoas
(conhecimento/ação) no processo de formação da cidadania (objetivo), o que pode ser assim
esquematizado:
Instrumento
Objetos
Objetivo
Reflexão Crítica
Conhecimento
Ação
Produção da Cidadania
3
Em resumo, o objetivo de se estudar Filosofia é o conhecimento de seu instrumento, ou
seja, a reflexão crítica, que consiste em fazer o pensamento voltar-se sobre si mesmo e sobre
o mundo, apropriando-se de experiências e se engajando numa transformação da própria vida.
Os objetos de trabalho são o conhecimento e a ação. A reflexão crítica deve considerar
a produção teórica da Filosofia, seus textos, seus problemas e seus métodos. Ao mesmo
tempo deve tratar de questões da ação humana sobre seus conhecimentos e sobre o mundo.
Os objetos devem ser alvo constante de crítica reflexiva.
Não é possível falar de reflexão crítica sem falar do senso comum (ou conhecimento
vulgar) é a primeira suposta compreensão do mundo resultante da herança de um grupo social
e das experiências atuais que continuam sendo efetuadas. O senso comum descreve as
crenças e afirmações que aparecem como normal, sem depender de uma investigação
detalhada para alcançar verdades mais profundas como as científicas. No senso comum não
há análise profunda e sim uma espontaneidade de ações relativa aos limites do conhecimento
do indivíduo que vão passando por gerações; o senso comum é o que as pessoas comuns
usam no seu cotidiano, o que é natural e fácil de entender, o que elas pensam que seja
verdade e que lhes traga resultados práticos herdados pelos costumes.
1.4 Mitos
Relato mítico
Conheça o mito de Eros e Psique.
Psique era uma jovem princesa de beleza incomparável, multidões de estrangeiros
vinham de longe só para apreciá-la. No entanto, as homenagens prestadas à princesa
despertaram a ira de Afrodite, que não admitia a adoração de uma simples mortal.
Profundamente ofendida, Afrodite ordenou que seu filho, Eros, se vingasse da bela jovem,
lançando-se uma de suas flechas no coração, e fazendo-a apaixonar-se por uma criatura
desprezível e monstruosa.
Eros atendeu ao pedido de sua mãe: enquanto Psique dormia, ele lhe tocou o coração
com a flecha. Nesse momento, a jovem despertou, assustando-o. Foi quando Eros feriu sua
mão com a própria flecha, apaixonando-se por sua vítima.
Amaldiçoada pela inveja de Afrodite, Psique não conseguia casar-se. Os pais da moça,
receosos com sua falta de sorte, resolveram consultar os oráculos e tiveram uma terrível
previsão:
– A virgem não se destina a ser esposa de um amante mortal. Seu futuro marido a
espera no alto da montanha. Tem um monstro a que nem os deuses nem os homens podem
resistir.
Foi com imensa tristeza que os pais de Psique a levaram para o alto da montanha para
que cumprisse seu terrível destino. Chegando lá, a jovem deitou-se na relva e adormeceu.
Ao despertar, viu-se num maravilhoso castelo de mármore e ouro digno dos deuses. Lá,
tudo era mágico: as portas se abriam sozinhas e vozes sussurravam sobre tudo o que ela
precisava saber.
Depois de se banhar, os servos invisíveis a conduziram para um banquete com o
marido a que estava destinada. Ele apareceu no escuro e partiu antes do amanhecer, não
permitindo que Psique o visse. Todos os dias, ela implorava para ver o seu rosto.
Por que queres me ver? – perguntava – Duvidas do meu amor? Tens alguns desejos
insatisfeitos? Prefiro que tu me ames como igual, do que me adores como a um deus.
E Psique se consolava com suas palavras de amor.
Um dia, suas irmãs vieram visita-la e ficaram deslumbradas com sua riqueza. Curiosas,
elas perguntaram como era o marido de Psique, que hesitou em responder. Diante da
insistência de suas irmãs, ela acabou afirmando que nunca o vira. Como elas estavam cheias
de inveja, disseram que o oráculo nunca mente e que ele deveria ser uma criatura monstruosa.
Psique não resistiu à curiosidade e decidiu espiar a face de seu marido. Quando ele
adormeceu, ela, silenciosamente, acendeu uma vela e aproximou-se do leito. Ao iluminar o
rosto do amado, Psique surpreendeu-se: em vez de ser um monstro tenebroso, Viu Eros, o
mais belo e encantador dos deuses, com belas asas brancas. Diante dessa visão, Psique
tremeu as mãos, derrubando uma gota de cera quente no ombro de seu amado, que despertou
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imediatamente. Magoado com a atitude dela. Eros voou para /longe a fim de nunca mais a ver
novamente.
Psique vagou dia e noite a procura de seu amor. De tanta tristeza e solidão, ela
entregou-se a morte, adormecendo profundamente.
Eros, que também sofria com a perda da amada, implorou a Zeus que tivesse piedade
deles. Diante da permissão do deus dos deuses, Eros voou em busca de Psique e, ao
encontrá-la, tocou-a com sua flecha, fazendo-a despertar do sono da morte.
Eros e Psique casaram-se e tiveram uma filha chamada Prazer. Com a benção dos
deuses, viveram juntos eternamente.
Estrutura dos mitos
Mito é uma narrativa fantástica que fala sobre a origem do mundo e de todas as coisas
para explicar os fenômenos da natureza. Entre os povos primitivos, os mitos eram narrados por
uma pessoa mais velha e sábia, portanto no gênero oral. Todos acreditavam que a história
contada era uma revelação divina; por isso a aceitavam sem contestar, como verdade
absoluta. Normalmente, essas histórias envolviam elementos sobrenaturais, como poderes
mágicos e de adivinhação castigos divinos alianças entre deuses e homens. A comunidade
compartilhava essas narrativas por meio da crença e perpetuavam-nas geração após geração.
A crença nos mitos, então, consolidava-se e era aceita sem questionamento.
A mitologia grega é uma das mais bem elaboradas de todos os tempos e influenciou
toda a civilização ocidental. Seu surgimento data dos mais remotos registros históricos, embora
tenha sido Homero (séc. X A.C.) o primeiro a escrever as narrativas mitológicas gregas nos
poemas épicos Ilíada e Odisseia. Todos os povos possuem mitos: nórdicos, egípcios, Árabes,
chineses ou tribos indígenas brasileiras. Isso comprova a importância da produção mítica para
o imaginário popular como forma de compreensão do mundo.
Mitos contemporâneos
Mito é a forma ingênua de compreender o mundo e a primeira forma de dar significado
a ele. Fundada no desejo de segurança, a imaginação cria histórias e heróis que nos
tranquilizam quanto às incertezas. Esses relatos normalmente são do gênero oral e nos guiam
no dia-a-dia.
Atualmente, os meios de comunicação de massa trabalham com os desejos e anseios
que existem na nossa natureza inconsciente e primitiva. Na era globalizada, a rapidez da
informação abrange um número cada vez maior de espectadores, o que permite a
disseminação de ideologias.
Os super-heróis dos desenhos animados e dos quadrinhos, os personagens de filmes e
novelas encarnam o bem, a justiça e outros valores míticos pré-reflexivos. Dessa forma,
assumem o papel de protetores imaginários. O mundo moderno revela-se, cada vez mais, um
lugar inseguro e, portanto, gerador de novos mitos.
Artistas, esportistas, políticos podem ser transformados em modelos exemplares –
sucesso traduzido em reconhecimento social e poder econômico. Como não os mitificar?
Os astros transformados em mitos são heróis sem poder real: têm somente poder
simbólico no imaginário da população. Segundo Roland Barthes, a comunicação de massas
confere um status de "neutralidade" aos mitos contemporâneos e aos seus objetos de
adoração (pessoas, acontecimentos, produtos de consumo). As informações veiculadas são
unilateral, linear e centralizada. Assim, será que são neutras mesmo?
Mito e razão complementam-se nas nossas vidas. Só que o mito de hoje, se ainda tem
força para inflamar paixões, como no caso dos astros, de causas políticas e religiosas, não se
apresenta mais com o caráter existencial que tinha o mito primitivo. Ou seja, os mitos
modernos não abrangem mais a totalidade do real. De qualquer forma, como mito e razão
habitam o mesmo mundo, o pensamento reflexivo pode rejeitar alguns mitos, principalmente os
que veiculam valores destrutivos ou que desumanizam a sociedade. Cabe a cada um de nós
escolher qual o modelo de vida a seguir.
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QUESTÕES PARA ESTUDO
1- Os super-heróis dos desenhos animados e dos quadrinhos, os personagens de filmes e de
novelas encarnam a luta entre o bem e o mal; assim estão revelando valores míticos ou seja
irreais ou falsos; ideais ou inatingíveis. Do ponto de vista da coletividade, nós ainda criamos
mitos. Você concorda com essa afirmação? Argumente seu ponto de vista.
2- Compare mitologia e filosofia, apontando semelhanças e diferenças entre elas.
3- Na sociedade contemporânea, os mitos são criados e transmitidos pelos meios de
comunicação. Cite pessoas, personagens, acontecimentos e produtos de consumo que
podem ser considerados míticos. Reflita sobre os valores que eles transmitem.
1.5 Senso comum
Para entender melhor o senso comum
Senso comum
Saber imediato
Baseia-se em
observações
ingênuas da
realidade. Confunde
o real com a
aparência
Saber subjetivo
Baseia-se em
observações
espontâneas. Esta
contaminada por
fatores culturais e
psicológicos sobre o
modo de ver as
coisas.
Saber heterogêneo
Baseia-se numa
acumulação não
organizada de
representações
espontâneas sobre a
realidade.
Ligado ao processo
de socialização
Saber não crítico
Baseia-se em ideias
feitas e não refletidas
sobre a realidade.
Não apreende a
universalidade das
coisas ou situações,
nem as suas causas.
O senso comum é o processo pelo qual os indivíduos assimilam a cultura da sociedade
em que vivem, portanto ele é um fator de grande importância no processo de socialização. Os
fatores culturais determinam padrões de vida para os indivíduos, como, por exemplo, os
hábitos culturais, os valores morais, religiosos e artísticos.
Nascemos num mundo preconfigurado, onde já existe língua, religião, legado cultural
que nos são transmitidos pela família ou outras instituições, como a escola. Assumimos esses
padrões como modelo de vida. Socialização é um processo dinâmico e contraditório: ao
mesmo tempo em que aceitamos e reproduzimos certas regras, muitas vezes contestamos
outras. Isso porque o convívio social é fruto da tensão entre o indivíduo e o coletivo, entre
interesses pessoais e os do grupo.
Como a sociedade é um fenômeno histórico, existem padrões que vigoram em uma
época e são modificados em outra. A mudança de padrão configura a revolução, momento
histórico em que a revolta e a intolerância modificam o modo de vida coletivo. As revoluções
não acontecem todo dia; elas são marcos históricos do fim de uma época e início de outra. Já
os conflitos são mais comuns no cotidiano; refletem a insatisfação de grupos sociais frente às
desigualdades de ciasse – etnia, condições de trabalho, entre outras. Quanto maior a
desigualdade, mais a sociedade produz conflitos.
A convivência em sociedade é uma necessidade dos seres humanos, por isso
tendemos a pensar como os outros, assumindo preconceitos sem refletir. As ações que se
repetem coletivamente tornam-se hábitos sociais. Citamos a moda, que padroniza e
institucionaliza o comportamento do grupo social de determinada época; a disseminação da
intolerância social contra minorias sem o conhecimento das suas causas.
Todos têm responsabilidade social, uma vez que nossos atos reproduzem o modelo da
sociedade em que vivemos. O trabalho, o namoro, o casamento, o voto é exemplo da atitude
individual que sofre influência das condições sociais e também as influenciam.
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O senso comum é um saber fragmentado, às vezes incoerente, que condiciona os
indivíduos a aceitá-lo passiva e mecanicamente, frente à situação cultural em que vivem.
De que forma você compreende a influência da ação individual no plano social?
Do senso comum ao pensamento filosófico
Quando assumimos uma postura diante do saber constituído, estamos agindo com bom
senso. Discernir entre o certo e o errado é elaborar reflexiva e coerentemente a herança
cultural que recebemos.
A passagem do senso comum para o bom senso não acontece espontaneamente; exige
a reestruturação da visão de mundo, adquirida no convívio social. A família, a escola e outras
instituições podem, e devem questionar os valores vigentes para revitalizá-los, tornando-os
flexíveis e dinâmicos.
Os valores recebidos como herança cultural escondem, sob o manto da rigidez,
verdades consideradas indiscutíveis. A tarefa da filosofia é justamente desvelar essas
verdades, colocando-as em dúvida. Será que estamos apenas absorvendo verdades em vez
de investigá-las a fundo? Até que ponto somos cidadãos críticos que participam da dinâmica
social?
QUESTÕES PARA ESTUDO
1- Como você compreende o senso comum no processo de socialização?
2- Diferencie senso comum de bom senso.
3- Cite exemplos de situações do cotidiano onde podemos identificar o senso comum e o bom
senso.
Leitura complementar
A crítica ao senso comum
Não são raros os casos em que as crenças do senso comum produziram
comportamentos preconceituosos, com base numa postura dogmática diante da compreensão
dos fenômenos. Durante muito tempo, acreditou-se que o Sol girava em torno da Terra, que
uma determinada raça fosse superior a outra, na influência dos astros nas vidas das pessoas
etc. Não raro, o radicalismo em torno dessas crenças levou a condenação de pessoas que
foram perseguidas pelo simples fato de criticá-las ou por se enquadrarem como hereges ou
membros de uma etnia inferior. Muitas guerras foram e ainda são travadas devido ao
preconceito religioso e cultural.
As razões que fazem com que os filósofos critiquem o senso comum estão, portanto,
relacionadas com a falta de tolerância e critérios rigorosos para fundamentação de qualquer
tipo de conhecimento. O senso comum constrói suas teses a partir de um método indutivo, pelo
qual a regularidade da ocorrência de certos fenômenos na natureza gera um hábito de se
acreditar que, se determinadas condições estão presentes, logo se seguirá um evento a elas
relacionado. Por exemplo, se o céu fica coberto de nuvens cinzentas, é sinal de que vai chover;
onde há fumaça, há fogo, etc. A relação causal gerada por esse hábito é geralmente aceita
pelo senso comum de modo acrítico, como se fosse uma lei natural das coisas. O senso
comum não se preocupa em apresentar provas diretas que validem suas hipóteses, segundo
um método de verificação empírica, tais como, a falsificação da experiência, regidas pelas
teorias científicas contemporâneas.
Desse modo, é pela persistência de um habito e não pela validação de um
conhecimento seguro que o senso comum gera seus enunciados. Esse hábito faz parte da
constituição de cada um, assim como os sentidos pelos quais as informações do meio
ambiente chegam ao sistema nervoso central. Por conta disso, às vezes, as informações que
entram na mente humana são tão complexas que provocam um conflito de interpretações por
parte do indivíduo.
7
No âmbito do conhecimento dos objetos, a simples observação de uma torre ao longe
não permite dizer com certeza se ela é de base quadrada, triangular ou circular. Apenas uma
experiência mais apurada possibilitaria a confirmação da forma correta da edificação. O senso
comum não pretende que seu conhecimento seja exaustivo e, nessa condição primária, aceita
sem mais esforços as primeiras explicações que the ocorrem, segundo um modelo interno
preestabelecido. O questionamento desse modelo só pode ser feito por uma mudança de
atitude típica da Filosofia.
Cabe a Filosofia fazer a crítica dos modelos padrões do senso comum, permitindo que
uma investigação mais apropriada proporcione um conhecimento mais fidedigno e que permita
fazer previsões mais precisas. Quanto ao conhecimento da natureza, as experiências
exaustivas e as contraprovas são práticas que fornecem elementos para constatação da
verdade ou falsidade de uma proposição, ainda que provisória. Quanto ao conhecimento da
melhor forma de ação, a Filosofia exige do senso comum a sustentação da validade de suas
normas, de acordo com parâmetros de universalização de aplicação da norma. Nesse sentido,
o conhecimento deve avançar da simples aceitação de práticas estabelecidas pela tradição, até
a formulação de regras de conduta que possam ser avaliadas a partir de um ponto de vista
moral, do qual os interesses de todos concernidos sejam levados em conta.
Disponível em: <http://www.discursos.hpg.ig.com.br/textos/sensocom.html>
1.6 Ciência
Ciência e técnica: método científico
Desde os primórdios, os homens utilizam técnicas para transformar o mundo em que
vivem. A técnica e a combinação entre o agir e o pensar que produz transformações no meio.
Registros arqueológicos revelam que, no fim da Era Glacial, os povos primitivos
construíram instrumentos rudimentares na maioria confeccionados com pedra lascada, para
caçar e alimentar-se. Com o passar do tempo, as técnicas se aprimoraram, e produzindo
verdadeiras revoluções no modo de vida dos homens. O domínio do fogo, a agricultura, a
invenção da roda são algumas dessas revoluções.
Os povos antigos – egípcios, mesopotâmios, fenícios, hebreus – possuíam
conhecimentos de arquitetura, geometria, matemática, astronomia, sistemas de irrigação e
agricultura; no entanto, foram os gregos que sistematizaram esses conhecimentos,
estabelecendo teorias. Teoria é o conjunto de proposições organizadas e coerentes,
levantadas com base na observação e no experimento. Uma teoria deve ser universal, ou seja,
aplicada a todos os fenômenos e fatos relacionados a ela. Por exemplo, o teorema de
Pitágoras (séc. VI a.C.) vale para todos os triângulos retângulos, portanto ele é universal.
A diferença entre a ciência grega e a dos outros povos da Antiguidade é que, entre os
gregos, havia argumentação. Isso significa dizer que eles ultrapassaram o campo da técnica
(prática) para teoria (ciência). Desde o seu surgimento até o Renascimento, a Filosofia e a
ciência eram praticamente a mesma coisa. Foi a partir do século XVI, com Copérnico, Galileu e
Newton, que houve a separação entre elas, cada qual buscando o próprio caminho (método).
Para um conhecimento ser considerado científico, é necessário que ele possua fins
práticos, fundamentados teoricamente, de modo que haja coerência e consistência entre
ambos. Além disso, o conhecimento científico deve ser sistemático, seguro, objetivo e
universal. O método garante esse conjunto de características.
Observação
Em grego, a palavra método é formada por meta (ao longo de) e hodós (caminho, via).
Para a ciência, significa o caminho pelo qual se estrutura racionalmente um conjunto
de teorias. O método deve ser rigoroso, sistemático e preciso.
O método científico investiga os fatos seguindo estas etapas:
Observação empírica: estudo dos fenômenos na sua forma natural. Deve ser guiada
pelo objetivo da pesquisa. Normalmente, necessita-se de instrumentos como microscópio,
termômetro, balança, para obter maior objetividade.
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Hipótese: formulada com base na observação empírica, visa a explicar provisoriamente
os fenômenos observados, levantando novas dúvidas e propondo soluções. As hipóteses
podem ser aceitas ou refutadas pela comunidade científica.
Experimentação: observação provocada em situações específicas, como em
laboratórios, para verificar a validade da hipótese. Se ela não se confirmar, o cientista deve
recomeçar a pesquisa, fundamentado em novas hipóteses.
Generalização: quando uma hipótese se confirma, ela deve ser submetida a
generalização, ou seja, deve-se provar que ela é válida para todos os casos semelhantes
aquele. Dessa forma, a hipótese torna-se lei.
Leitura complementar
Ciência e tecnologia: a serviço de um projeto nacional
Como qualquer outra atividade humana, a ciência e a tecnologia não podem ser
discutidas fora da realidade social em que se realizam, ou seja, das relações sociais de
produção.
Ninguém desconhece que a ciência e a técnica, no seu sentido mais amplo, são a
energia que move o desenvolvimento das forças produtivas é o motor do progresso e do
domínio crescente do homem sobre a natureza. Visto assim, é algo intrinsecamente positivo,
associado à própria natureza do homem, ser superior, matéria que tem consciência de si
própria, com capacidade de modificar o próprio meio.
Não é possível desconhecer, entretanto, que para produzir os bens e serviços
permitidos por essas tecnologias os homens estabelecem relações sociais; geram dinâmicas
de acumulação que podem excluir pessoas, classes sociais e mesmo nações inteiras dos
frutos do progresso alcançado pelas novas técnicas. Alias, foi exatamente nisso que Marx
vislumbrou a contradição maior do capitalismo, e a semente de sua própria destruição
enquanto regime social.
Discutir, portanto, ciência e tecnologia no abstrato, como se fosse algo que estivesse
acima das relações sociais que descortinam as atividades humanas inovadoras, é uma forma
de alienação, na qual as pessoas verdadeiramente preocupadas com o progresso humano não
podem permitir-se.
O desenvolvimento da ciência e da técnica e um problema da humanidade. Desse
modo, deve ser visto, antes de tudo, como um desafio de todo o gênero humano, e não
necessariamente associado às exigências da acumulação do capital.
A ciência deve ter um conteúdo e um compromisso com a elevação do bem estar
material e espiritual da humanidade, dos povos, das pessoas. Fazer ciência não significa ter
como resultado um produto que vai ser levado para o mercado.
O fundamental e decisivo é que a produção científica passe pelo crivo da sociedade, e
não apenas ou exclusivamente do mercado, que é somente uma dentre as muitas instituições
sociais. Desde que a sociedade promova, patrocine e sustente a atividade científica, também é
democrático que ela exerça o controle, não no sentido da censura, mas no sentido de que
aquilo também tenha um objetivo, uma função cooperativa.
Discutir ciência e tecnologia no Brasil é colocá-las a serviço do desenvolvimento do
país, da elevação da qualidade de vida da população e da soberania e afirmação nacionais. O
contrário, ou seja, discutir ciência e tecnologia abstraindo os conceitos de nação e povo é
mistificação a serviço das corporações multinacionais.
Sala Almirante Álvaro Alberto. Disponível em: http://www.camara.gov.br/aldorebelo/bonifaciolcienciaciencia>
1.7 Estética
Bonito ou feio? Uma questão de gosto
Todas as belezas contêm, como todos os fenômenos possíveis, algo de eterno e algo
de transitório, de absoluto e de particular. A beleza absoluta e eterna não existe, ou melhor, ela
não é mais que uma abstração que desflora na superfície geral de diversas belezas. O
elemento particular de cada beleza provém das paixões e, como temos nossas paixões
particulares, temos nossa beleza.
Charles Baudelaire (1821-1867)
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Certamente você já ouviu frases como beleza não se põe a mesa; quem ama o feio
bonito lhe parece: ou o trecho do poema de Vinícius de Moraes as muito feias que me
perdoem, mas beleza é fundamental. Cada uma aborda o belo de maneira diferente: nem
sempre o que é belo é bom; o amor transforma o feio em bonito; a beleza, com as desculpas
do poeta, é mais que fundamental.
Mas afinal: a beleza esta no objeto admirado ou no sujeito que o admira?
Quando contemplamos uma obra, uma música ou um objeto qualquer, somos afetados
por eles, ou seja, a ato de perceber provoca sensações. A beleza, especificamente, causa
sensações de plenitude e prazer. O objeto belo fala por si.
Várias vertentes filosóficas definem o que é o belo.
Para Platão, existe um modelo ideal para a beleza em si. Nesse sentido, o belo é
inerente ao objeto, independente do sujeito que o observa.
Aristóteles definiu o belo como algo apreendido na sua totalidade, cuja constituição é
harmoniosa, simétrica e ordenada.
Para Hegel (1770-1831), o belo é a manifestação sensível do absoluto, é a verdade, a
manifestação objetiva e universal; portanto beleza e verdade são equivalentes.
Para Kant (1724-1804), não existe um modelo padrão do que é belo. Com suas
palavras, belo é aquilo que, sem conceito, apraz universalmente. Nesse contexto, o belo
depende do sentimento do sujeito e não do conceito do objeto.
A questão do feio esta ligada a do belo, porém no sentido contrário. Tanto um quanto o
outro abrange a questão do julgamento. O feio causa sensação de repulsa, desprezo,
vergonha e, tal qual o belo, não se encerra numa única definição.
Como vimos os conceitos de belo e feio não são fechados, não possuem um único
significado, pois o julgamento estético depende do estado de espírito, da situação histórica, da
cultura, da visão de mundo, da interpretação e doação de significados.
É possível estabelecer o que e belo ou feio? Bem, isso é uma questão de gosto!
Não podemos compreender o gosto como algo arbitrário e determinado por
preferências. Nesse sentido, o julgamento estético caiem dogmas geradores de preconceitos.
Contemplar uma obra de arte ou uma paisagem requer a entrega ao campo da sensibilidade,
momenta em que acontece um diálogo entre contemplador e contemplado.
Compreender pelos sentidos
A palavra estética vem do grego aesthesis, que significa sensibilidade. Ela foi utilizada
originalmente pelo filósofo alemão Baumgarten (1714-1762) para designar o ramo da Filosofia
que estuda as manifestações artísticas.
Baumgarten definiu essa nova disciplina como pensamento que reflete sobre a emoção.
Para ele, a estética deve ser abordada do ponto de vista da subjetividade. Como, o subjetivo é
muito amplo, envolve a imaginação, a sensação, o sentimento, o entusiasmo, o gosto, o
sublime, as paixões, a memória e muito mais. Como seria possível, então, abstrair o conceito
de estética, se ela investiga justamente o que é rebelde a qualquer racionalização?
Baumgarten afirmou que o pensamento belo deve brotar da contemplação das belas
artes, momento em que a harmonia que existe no mundo cultural e natural se manifesta aos
sentidos. Por isso, a sensibilidade é o canal aberto que possibilita a compreensão do belo.
Obra de arte, artista e admirador.
Nem a verdade, nem o bem, nem o belo, nem a forma determinam o que é a arte. Em
latim, ars, artis designa o ato de fazer, ou seja, instante em que se cria a obra, seja ela artística
seja utilitária.
O que determina o ato de fazer? A personalidade do artista e o contexto históricocultural em que ele vive, portanto não há uma definição fechada para a manifestação artística.
Criar não significa pregar valores!
O olhar do admirador faz parte da obra na sua interpretação, como afirmou Pablo
Picasso: depois de terminado, o quadro continua a mudar, conforme o estado daquele que o
contempla.
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O artista pode determinar funções para sua obra:
Políticas: a obra toma uma posição crítica a respeito de um fato ou problema social,
denunciando uma injustiça, propondo uma ideologia política ou simplesmente, retratando a
realidade de uma sociedade.
Religiosas: servem ás necessidades místicas das pessoas, para afirmar determinada
proposta religiosa fazem parte do próprio culto em alguns casos, tal como, as imagens
sagradas da religião católica.
Pedagógicas: tem uma função social de colaborar na educação das pessoas, levandoas a compreender o mundo por meio dos objetos artísticos.
Naturalistas: a obra tem a finalidade exclusiva de retratar a realidade; por exemplo, a
fotografia 3 x 4 no RG.
Formalistas: preocupam-se exclusivamente com a técnica usada naquele tipo de arte.
GALLO. S. Ética e cidadania - caminhos da filosofia. Campinas: Papirus, 1997. P. 84.
Leitura complementar
A arte em nosso cotidiano
Nos dias de hoje, a palavra estética é usada em vários sentidos; todos eles, porém,
partem do conceito primitivo usado pelos gregos antigos, ou seja, designar aquilo que tenha a
ver com os sentimentos, com os sentidos, com a percepção. Assim, a estética também esta
ligada a atividade artística, já que se preocupa com as obras que o ser humano faz com a
finalidade de serem belas, e com os sentimentos que elas provocam em nós. Em termos
gerais, podemos dizer que a estética é a área da Filosofia que estuda a arte e as suas relações
com o ser humano.
A arte é o fundamento do mundo, pois todas as coisas existentes; possuem forma, cor,
textura, peso, cheiro, e esses objetos são apreendidos pelos nossos sentidos e pela nossa
razão. Ao construir algo – qualquer coisa –, o criador esta dando livre vazão ao seu imaginário,
tornando reais seus desejos, suas fantasias e seus sonhos.
O homem é um ser sociável, vive numa sociedade e convive com seus semelhantes. As
coisas que criamos têm por objetivo despertar no outro, sensações de prazer ou dor;
admiração ou repulsa; aprovação ou desaprovação. Criamos coisas belas ou feias – não
importa, pois beleza e feiura são conceitos subjetivos –, para despertar sentimentos nos outros.
Criamos coisas para tocar no mais íntimo dos sonhos e desejos. E é esse justamente o
objetivo de toda obra de arte: despertar sentimentos, sensações, tornar presentes sonhos e
desejos que tanto escondemos e reprimimos.
O olhar é o sentido artístico por excelência, pois é por ele que conhecemos as coisas,
que lemos o mundo.
A arte é o centro da vida, e é a partir dela que deciframos o mundo. É somente com os
olhos da arte que o homem consegue apreender a sua essência, pois esta se manifesta sob a
forma artística.
GALLO, S. Ética e cidadania - caminhos da filosofia. Campinas: Papirus, 1997.
QUESTÕES PARA ESTUDO
1- De acordo com o texto, o que significa a palavra estética?
2- Você concorda que a arte é o fundamento do mundo? Argumente.
3- Qual é a relação da obra de arte com a convivência entre os homens?
4- Para o autor, a obra de arte objetiva despertar sentimentos e sensações nos outros,
materializando os sonhos e desejos reprimidos. Para você, quais as formas de expressão
que tornam esses sonhos reais?
5- A partir de agora, o domínio da ciência só se produz pela arte. Trata-se de juízos de valor
sobre o saber e o saber muito. Tarefa imensa e dignidade da arte nesta tarefa! Ela deve
recriar tudo e relocar sozinha vida no mundo. Fundamentando-se no pensamento de
Friedrich Nietzsche, analise, argumentando seu ponto de vista, o papel da arte e da estética
na sociedade moderna.
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2 ÉTICA, POLÍTICA, LIBERDADE E MORAL
2.1 Construção do sujeito moral
Liberdade na sociedade
O homem nasce livre e, por toda parte, encontra-se a ferros.
Jean-Jacques Rousseau.
Uma das maiores conquistas da humanidade foi desenvolver a sociedade: homens,
mulheres e crianças no mesmo espaço cívico, produzindo objetos domésticos, instrumentos de
trabalho, vestuário, edificações, comércio, templos, indústrias e conhecimentos variados em
escolas, laboratórios e universidades.
Junto com a sociedade foi necessário estabelecer regras de convívio para evitar atos de
prepotência dos fortes sobre os fracos e para estabelecer a liberdade de ação e pensamento
de todos os integrantes. A liberdade social, portanto, baseia-se em direitos e deveres comuns e
não na libertinagem – ideia de que cada um faz o que quer e quando quer. A liberdade
individual tem que ser respeitada, mas repreendida quando prejudica a qualidade de vida na
coletividade. Por isso existem regras que proíbem roubar, matar, poluir.
A sociedade livre perde valor quando é sufocada ou impedida por interesses privados,
egoístas ou racistas, como nos casos de escravidão, prisão injusta, exploração ou privação de
trabalho, de governos autoritários ou quando a própria pessoa de abdica, por comodismo,
insegurança ou descrença.
A Constituição Federal brasileira de 1988 assegura a liberdade para todos os cidadãos,
bastando, para isso, nossa vontade para que ela se cumpra. Diz o artigo 5º: todos são iguais
perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no país a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à segurança e à
propriedade.
Jean-Jacques Rousseau nasceu em Genebra (1712).
Sua mãe morreu dias após seu nascimento e ele foi
criado por uma tia e pelo excêntrico pai. Foi um
errante, passou por vários países, amou muitas
mulheres, trabalhou em muitos empregos, frequentou
círculos de boêmios e intelectuais. Suas ideias
revolucionárias causaram polêmica; a principal delas
foi a crítica à civilização que, para ele, corrompia o
indivíduo com valores negativos, impondo uma
vontade geral a qual todos deveriam estar
subordinados. Perseguido por sua postura filosófica,
Rousseau exilou-se na Inglaterra, na casa do amigo
filósofo David Hume. Num surto paranoico, voltou a
França, onde faleceu em 1778.
QUESTÕES PARA ESTUDO
1- A cidadania garante a liberdade individual?
2- Por que dependemos do outro para exercer a liberdade?
3- Podemos fazer tudo 0 que temos vontade?
4- A sociedade possibilita a liberdade ou a reprime?
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O ser humano é livre ou determinado?
- Eu sou uma pessoa determinada!
Você Já afirmou isso ou pelo menos ouviu alguém dizer? As palavras "determinada,
determinado ou determinismo" estão presentes no dia-a-dia em diversas situações, porém nem
sempre com o mesmo significado. Segundo dicionário Houaiss, determinismo indica o princípio
segundo o qual tudo no Universo, até mesmo a vontade humana, esta submetido a leis
necessárias e imutáveis, de tal forma que o comportamento humano esta totalmente
predeterminado pela natureza, e o sentimento de liberdade não passa de uma ilusão subjetiva.
Parece complicado, mas não é: isso significa que nem sempre agimos conforme nossas
vontades, parque existem leis naturais que nos impedem. Não podemos voar respirar
embaixo da água, correr na velocidade do som ou da luz, comer plantas venenosas e assim
por diante. Temos limitações
Além das leis naturais existem aquelas criadas em sociedade pelos vereadores,
deputados, senadores, juízes, advogados e especialistas em leis (os juristas). Até os grupos
organizados criam suas leis: entre presos nas penitenciárias, entre meninos e meninas de rua,
entre lutadores, entre os ecologistas.
O filósofo francês Hippolyte Taine (1828-1893) chamava a atenção, já no século XIX,
para o fato de sermos herdeiros diretos de uma raça, de um meio físico e cultural e do tempo
histórico. Para ele, esses elementos formam nosso modo de ser e agir. No Brasil, as obras do
escritor Aluísio de Azevedo retratam esse modo de pensar, especialmente nos romances O
Mulato e O Cortiço.
As leis naturais e culturais existem e devemos conviver com elas. Usando a inteligência
e a criatividade, o ser humano aproveitou os desafios e determinismos oferecidos pelas leis
naturais para criar maneiras de viver, e desenvolveu objetos que aumentaram seu poder de
ação na sociedade. Automóveis, aviões, cidades, eletrodomésticos, máquinas, shoppings e
outras criações ajudaram a melhorar a vida e possibilitaram às pessoas ampliarem a sensação
e o poder de liberdade, de pensamento e de ação. Nós podemos nos determinar!
A autodeterminação faz as pessoas sentirem-se bem, trabalharem com alegria e
relacionarem-se umas com as outras, com segurança e vontade. Fazer escolhas e tomar
decisões por conta própria torna-as mais realizadas. A consciência dos determinismos natural
e cultural e a capacidade de autocontrole constituem o livre-arbítrio. Como acreditava o filósofo
alemão Karl Jaspers (1883-1969), só nos momentos em que exerço minha liberdade é que sou
plenamente eu mesmo: ser livre significa ser eu mesmo.
A interessante visão do filósofo Jaspers leva-nos a concluir que o ser humano é livre e
determinado ao mesmo tempo. Livre porque é capaz de pensar e decidir por si mesmo;
determinado porque vive em sociedade. Tal conclusão nos faz pensar filosoficamente a
liberdade sob três aspectos:
- A liberdade é essencial para todos os seres humanos, independente de credo, raça,
condição social, política ou econômica.
- A liberdade deve ser garantida para todos os indivíduos, através da Constituição do
país, como convenção ou acordo social: a pessoa tem o direito de ser livre e o dever de
respeitar a liberdade dos seus pares.
- A liberdade é um valor ou direito inalienável do ser humano, sendo a escravidão
considerada antiética e imoral.
Tendo consciência das forças ou leis que agem sobre nós, fica mais fácil alimentar a
vontade e exercitar a inteligência para escolher a direção que desejamos tomar; em outras
palavras, estabelecer um projeto de vida com livre-arbítrio.
Será que existe destino?
As Moiras, divindades gregas, eram três irmãs que teciam o destino das pessoas desde
o nascimento até a morte. O fio era trabalhado na trama da vida e cortado quando,
arbitrariamente, as Moiras decidiam, encerrando assim a existência.
Você acredita em destino? Já ouviu dizer que sua vida estava escrita antes de você
nascer? Aquele que crê nisso esta influenciado pela ideia determinista, que consiste em
entender a realidade como uma situação preestabelecida e independente da vontade humana.
Existem religiões que defendem a ideia de que o ser humano apenas faz o que já havia sido
determinado por Deus ou pelos deuses.
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No cristianismo, por exemplo, acredita-se que Deus dotou o homem de livre-arbítrio:
capacidade de escolher entre o bem e o mal, ou seja, de escolher o próprio caminho. O destino
do ser humano, traçado por Deus, é fazer escolhas para a vida e, racionalmente, viver da
forma como optou.
Isso nos leva a pensar no seguinte: quando não se tem poder de decisão sobre os
rumos da própria vida, ou seja, quando se acredita em destino traçado por forças naturais ou
divinas, nada do que se faz poderá interferir no resultado. Destino é viver o que foi planejado
por uma mente ou um ser mais poderoso.
Quando se acredita na liberdade, ao contrário, tudo pode ser feito, modificado ou criado
quantas vezes forem necessárias. A vida passa a ter mais sentido e as realizações ganham
maior importância. "Ter o pé no chão" é não aceitar o destino traçado, independentemente de
nossa vontade ou desejo.
Liberdade e responsabilidade
O exercício da liberdade individual leva-nos a assumir responsabilidades a medida que
nossas ações afetam positiva ou negativamente nossos semelhantes. Nesse sentido, o filósofo
francês Jean-Paul Sartre (1905-1980) diz que o homem esta condenado a ser livre. Condenado
porque não se criou a si mesmo; e como, no entanto, é livre, uma vez que foi lançado ao
mundo, é responsável por tudo o que faz. Ser livre é aprender a conviver, viver junto,
respeitando os limites de cada um, aprendendo a compartilhar os sonhos, a vida, as alegrias,
as esperanças.
Graças a essa compreensão da liberdade, surgiu na Europa, entre os séculos XIX e XX,
a filosofia da existência ou existencialismo, tornando-se influente no período pós-Segunda
Guerra Mundial, como resposta a uma situação histórica europeia nunca antes observada:
países separados pelo capitalismo e socialismo; destruição da infraestrutura de saúde,
educação, segurança, trabalho, moradia e transportes; genocídio de judeus e eslavos; perda
de liberdade com regimes totalitários; descrença em relação a diplomacia e ao diálogo, como
consequência do conflito armado.
O existencialismo surgiu visando a resgatar o sentido da vida depois das atrocidades e
destruições nas duas guerras, afirmando que o ser humano foi lançado no mundo para
enfrentar problemas e encontrar soluções – através da racionalidade e das emoções – sem a
necessidade de usar, como ferramenta, métodos e técnicas científicas para provar a
superioridade de um povo sobre outro.
Para levar em frente as denúncias e suas teses, os filósofos existencialistas criaram e
se dividiram em duas grandes correntes: o existencialismo cristão, que procura relacionar a
existência humana (seus erros e acertos) com Deus, tendo como representante principal o
filósofo Kierkegaard; e o existencialismo humanista, que investiga a natureza da existência
humana como sendo passageira, contingente, autocriadora e autodestruidora, tendo como
representantes principais os filósofos Heidegger e Sartre.
EXISTENCIALISMO CRISTÂO
Sören Kierkegaard, considerado o precursor do movimento existencialista, em função
da ardente fé cristã, sofreu com chacotas e críticas de todo tipo. O cristão, dizia, deve seguir
verdadeiramente os ensinamentos de Jesus Cristo, porque o cristianismo é de uma seriedade
tremenda: é nesta vida que se decide a tua eternidade (...).
Ele define o indivíduo como ser moral autônomo. O que determina o homem como ser
moral é o fato de que somente ele tem capacidade de tomar decisões: pela atitude decidida,
cada um cria sua vida e se assume sendo quem é. Para Kierkegaard, a escolha e a decisão
têm implicações religiosas, pois a alma individual esta ligada diretamente a Deus.
EXISTENCIALISMO HUMANISTA
Para Martin Heidegger, fil6sofo existencialista mais influente do século XX, o homem é
o único ser que tem consciência da própria existência. O fato de ele existir implica
necessariamente existir num mundo juntamente com os outros, com os animais e com o
mundo físico (objetos, coisas). A vida em conjunto pode ser tanto alienante, uma vez que
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assumimos o que os outros pensam, quanto autêntica, visto sermos livres para escolher o
modo de viver. Para Heidegger, a liberdade só tem sentido associada à responsabilidade de
assumir o próprio ser.
Jean Paul Sartre, filósofo mais popular de todos os tempos, teve brilhante carreira
literária, além de ser professor colegial de Filosofia.
Sua contribuição mais marcante no movimento existencialista foi a de afirmar que a
existência precede a essência. Isso significa dizer que o homem faz a si mesmo no ato de
existir, ou seja, não há nenhum projeto ou destino que determine seu modo de ser. A liberdade,
para ele, significa criar a si mesmo, sempre assumindo o compromisso social com a
responsabilidade de seus atos.
QUESTÕES PARA ESTUDO
1- O que você entende por tomar decisão? Associe decisão com liberdade.
2- O que Heidegger quer dizer com "a liberdade só tem sentido associada a responsabilidade"?
3- O que Jean-Paul Sartre (1905-1980) quer dizer ao afirmar que “o homem esta condenado a
ser livre”.
4- Explique o conceito de liberdade, segundo Sartre, e cite um exemplo que se relacione ao
seu cotidiano.
5- Explique o Sartre quis dizer ao afirmar que a existência precede a essência?
2.2 Autonomia e liberdade
Conhecimento de si e reconhecimento dos outros
Na sociedade somos participantes de um conjunto de relações estabelecidas, visando a
troca de favores, conhecimentos, mercadorias e informações. De certa forma, tudo que nos
interessa ou nos é necessário também diz respeito aos outros, fazendo-nos reconhecer nossa
existência e Importância.
Dimensões da liberdade: econômica, ética, política.
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Como falar de liberdade diante de imagens como essas, que revelam a condição de
muitas pessoas de nossa sociedade, se entendemos que nossa liberdade só existe se o outro
for livre?
Para entender melhor esta realidade mostrada nas imagens, é necessário voltarmos
aos séculos XVIII e XIX, na Europa – período de nascimento e consolidação do regime
capitalista – porque foi lá que o sistema de produção ocidental se fundamentou na empresa
privada e na liberdade de mercado, na competitividade, na busca de lucro e na exploração dos
trabalhadores, resultando em avanços científicos e tecnológicos e desigualdades sociais
preocupantes. Os filósofos começaram a enfatizar a liberdade do indivíduo e do grupo como
solução para os problemas sociais, políticos e econômicos que resultaram em miséria para a
população em geral e enriquecimento para um grupo reduzido de capitalistas.
Segundo os pensadores liberais, desde o nascimento até a morte, o indivíduo carrega
consigo direitos individuais inalienáveis – não podem ser vendidos nem se pode abrir mão
deles. Vida, propriedade, igualdade e liberdade formam os quatro direitos individuais
inalienáveis principais, os quais precisam ser resguardados pelas leis dos países democráticos.
Cabe ao Estado a tarefa de proteger e assegurar o cumprimento desses direitos. Interesses
individuais e/ou privados tomados em si mesmos, todavia, acabam colocando em perigo os
interesses coletivos e/ou públicos. Assim, os indivíduos é que estabelecem uma relação de
respeito às leis coletivas por meio de um contrato social, ou seja, aceitam de comum acordo
que o bem privado depende do bem público.
Na obra O Espirito das Leis, o pensador Montesquieu (1689-1755) afirmou que a
/liberdade é o direito de fazer tudo o que as leis permitem. Com a Declaração Universal dos
Direitos do Homem, aprovada pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1948, a palavra
liberdade deixou de significar apenas o cumprimento de leis e ganhou status de direito do
cidadão. Desse modo, cidadania significa a capacidade de o indivíduo participar ativamente de
sua comunidade, tendo liberdade de escolha e decisão, além do compromisso de respeitar
seus semelhantes em iguais condições de direitos e deveres.
LIBERDADE ECONÔMICA
O século XIX ficou marcado pelo conflito de classes sociais distintas: burguesia
industrial versus proletariado. Por um lado, os burgueses buscavam ampliar a produção e o
mercado consumidor de seus produtos; por outro, os trabalhadores industriais lutavam por
melhores condições de trabalho, com redução da jornada de trabalho, licença maternidade e
ambientes menos insalubres. Para alcançar certa liberdade econômica e dignidade humana, os
operários ingleses criaram movimentos de reivindicação, os primeiros sindicatos (trade unions)
e partidos políticos de cunho marxista.
Karl Marx acreditava que o capitalismo acabaria esgotado, levando a uma revolução
que resultaria no "paraíso dos trabalhadores" – forma de governo comunista que asseguraria
liberdade para todos. Ainda se busca o sonho de Marx. Liberdade econômica autêntica é
aquela em que as relações de dependência entre as pessoas são de colaboração e não de
competição desenfreada nem de exploração de uns pelos outros.
Isso se explica porque, se nas atividades produtivas, as relações beneficiarem somente
um dos lados, haverá boicote e/ou reações violentas; e porque, quando ocorre equilíbrio entre
opostos, a tendência é o bem comum ser maior. A livre iniciativa, fundamentada na ideia de
que "deve vencer o melhor", leva as pessoas (patrões e empregados) a agirem como inimigos
e não como talentos e competências diferentes. Por exemplo, um contrato de prestação de
serviço que um parceiro aceita assinar, sabendo que é temporário e precário, esconde o fato
de que, se recusar, estará sujeito ao desemprego como consequência.
Karl Marx nasceu em Tréveros, na Alemanha (1818). Cursou direito, filosofia e
história. Trabalhou em poucos empregos remunerados, preferindo dedicar-se
aos estudos e a viver na pobreza. Dirigia um pequeno jornal, proibido em 1843,
quando partiu para a Inglaterra. Lá conheceu o jovem Friedrich Engels, seu
companheiro de ideais para o resto da vida. Marx baseou-se na visão da
história de Hegel, como um processo que leva constantemente a maior
liberdade no decorrer do tempo. Enquanto Hegel pensava na liberdade
intelectual, Marx dedicava-se as liberdades política e econômica, chegando a
elaborar o sistema de teorias conhecido por marxismo. Viveu em vários países
europeus, sendo expulso de alguns, em razão de suas teorias revolucionárias.
Por isso retornou a Londres, onde publicou sua obra mais conhecida, O Capital
(1867). Viveu em Londres até seus últimos dias, onde faleceu em 1883.
16
LIBERDADE ÉTICA
A liberdade ética pertence ao sujeito moral, ou seja, ao indivíduo que participa
ativamente de uma comunidade, capaz de decidir com autonomia como conduzir-se em
relação a si mesmo e aos outros. Tem liberdade ética quem é suficientemente capaz de tomar
decisões e suportar seus efeitos imediatos.
Quem não tem coragem ou condições de assumir o que faz e pensa precisa de
cobrança ou ajuda para recobrar a capacidade moral e contribuir socialmente, de forma ativa e
responsável. Ser autônomo é um desafio que muitas pessoas não conseguem suportar ou
simplesmente evitam.
A liberdade ética consiste na obediência às leis que a própria pessoa se impõe, com
base no próprio bem e no bem comum. As incertezas, o medo, a pressão no momento de
decidir algo e a responsabilidade que o ato livre exige dão a impressão que a autonomia ética é
um fardo pesado, não um direito de cidadania conquistado por nossos antepassados nos
momentos de reforma ou ruptura de padrões morais estabelecidos como verdades. Muitas
guerras aconteceram para que os seres humanos encontrassem na diplomacia soluções para
impasses políticos; infelizmente, prisões e mortes de operários ocorreram para que os
trabalhadores de hoje tenham direitos trabalhistas, e assim por diante.
LIBERDADE POLÍTICA
Na Antiguidade Grega, o habitante da polis tinha direito perante a lei de manifestar com
palavras sua opinião e denúncia nas Assembleias Públicas realizadas na agora.
Aproximadamente dez por cento da população tinham o título de cidadãos e decidiam os
destinos de sua comunidade. Mulheres, crianças e escravos nem ao menos podiam opinar
sobre os assuntos públicos.
Atualmente, a liberdade política esta assegurada na Constituição Federal do Brasil a
todas as pessoas nascidas e naturalizadas no país. Assim, todos os brasileiros são cidadãos e
devem exigir ser tratados como tal. Além de saber sobre sua condição de cidadão político, tem
que lutar por liberdade de opinião, voto, associação e defesa.
A liberdade política é uma exigência nas modernas sociedades democráticas, porque
possibilita a participação do cidadão como agente de transformação do mundo.
Nesses termos, o livre exercício político, com suas vantagens e desvantagens, poderá
amadurecer o indivíduo para aceitar o pluralismo e conviver com as diferenças e os possíveis
conflitos travados quando os interesses pessoais e coletivos se cruzam. A liberdade de
imprensa, a multiplicidade de meios de comunicação e o pluralismo partidário, sindical,
estudantil e empresarial revelam-se conquistas políticas a serem defendidas, aperfeiçoadas e
reformuladas, como equipamentos sociais de participação político-democrática da população.
2.3 Alienação moral
Você faz a diferença...
Essa afirmação nos permite identificar diferentes comportamentos e atitudes humanas:
cooperação, competição, troca, dominação, passividade.
Assim funciona nossa sociedade, na qual se revela o sujeito moral, o indivíduo
responsável, conhecedor dos seus direitos, cumpridor de seus deveres, preocupado com o
bem comum, que tem atitudes coerentes com as concepções éticas. O início do século XXI,
entretanto, vem mostrando uma crise radical, com quebra de paradigmas e busca de novos
padrões de conduta, diante de tantas diversidades (de religião, sexo, cor). A sociedade
individualista é um dos grandes empecilhos que dificulta a vida moral. Se cada um se
preocupar apenas consigo mesmo, haverá um distanciamento das questões sociais e,
consequentemente, a alienação.
A velocidade da comunicação nos coloca em contato com diferentes culturas, que às
vezes revelam atitudes contrárias do que seria a vida moral autêntica, que supõe
responsabilidade, consciência crítica, liberdade e reciprocidade.
A questão da vida moral vai além da convivência familiar, escolar, comunitária; no
mundo globalizado, a vida moral é planetária e vem relacionada ao sonho de John Lennon de
acreditar num mundo sem fronteiras.
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Conforme Sartre:
Se o homem não é, mas faz a si mesmo; e se, em se fazendo, assume a
responsabilidade por toda espécie; se não ha valor ou moral, dados de antemão; mas se, em
cada caso precisamos resolver sozinhos, sem pontos de apoio, sem guias, e, no entanto, para
todos, como haveríamos de não sentir ansiedade angustia quando temos de agir? Cada um de
nossos atos põe em jogo o sentido do mundo e o lugar do homem no Universo! E ainda se
desejaria que não fôssemos possuídos de medo e angústia em face de tamanha
responsabilidade?
Individualismo contemporâneo e recusa do outro
O individualismo resulta da ideia de que o sujeito tem o direito de total liberdade para
realizar seus objetivos, interesses e desejos pessoais. A valorização da privacidade e da
autodeterminação individual resulta na oposição às tradições, à autoridade estabelecida pelo
Estado e pelas instituições em geral. Nesse sentido, o indivíduo tem importância em si mesmo
e a sociedade torna-se um meio necessário para a realização individual.
O sistema capitalista potencializou o individualismo, à medida que cada um conquista
sucesso e dinheiro se tiver vontade e interesse em alcançá-los pelas próprias capacidades:
você pode fazer melhor que isso! O trabalho dignifica o homem! Se você quiser, você
consegue! E assim por diante.
Sob essa visão, cabe ao Estado a tarefa de interferir minimamente nos assuntos
privados e limitar-se a manter a lei e a ordem, evitar conflitos entre os indivíduos, garantir os
contratos estabelecidos e dar condições para a realização da felicidade individual. O governo
desempenha a função de promoção e proteção do bem-estar econômico e social de seus
cidadãos, porque a sociedade nada mais é do que um conjunto de indivíduos pertencentes a
um corpo político, O Estado.
As consequências mais evidentes da busca de satisfação de necessidades e interesses
individuais aparecem na sociedade sob a forma de assassinatos por motivos variados,
consumismo, brigas entre vizinhos e gangues, estresse, indiferença na hora de votar, guerras,
pedofilia; preconceitos econômicos e sociais, racismo, roubo, sequestros, suicídios, outras.
QUESTÕES PARA ESTUDO
1- Como podemos definir a alienação moral?
2- Como podemos fazer a diferença na luta pela extinção da alienação?
3- O que podemos fazer para assumir, de forma responsável, a construção de uma sociedade
solidária? Explique.
4- Como os meios de comunicação de massa podem nos tornar indivíduos massificados e
alienados?
2.4 Moral e ética
Conviver e preciso!
O homem é um animal social que vive, convive e existe junto com os outros. A vida
coletiva caracteriza a própria existência, pois, mesmo na mais absoluta solidão, mantemos
vínculo com a realidade, por meio da memória, da necessidade do outro ou da construção de
um mundo que imite o real.
Diante de desafios ou no momento de decidir o que ou como fazer alguma coisa,
exercitamos a senso moral, avaliando os efeitos das atitudes e ações pelos princípios do bem e
do mal, do justo e do injusto, do certo e do errado, do sadio e do doentio, entre outros. Cada
um de nós é, portanto, agente e paciente no processo de construção da moralidade e dos
princípios éticos que norteiam a vida, visando a convivência saudável e positiva.
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Conscientes da realidade, somos capazes de fazer escolhas com maior clareza e
convicção, evitando preconceitos e falsas noções. Em outras palavras, o ser humano é capaz
de criar ideias e princípios éticos de conduta, porque tem competência e habilidade para lidar
com fatos, normas, objetos e pessoas, num ambiente moralmente construído.
ÉTICA E CONVIVÊNCIA
A ética permeia toda e qualquer convivência. Por ela, criamos normas de conduta que
visam ao convívio saudável e idealizam o bem, a justiça, a igualdade, a solidariedade, entre
outros princípios.
Semelhanças e diferenças entre ética e moral
As ações individuais são limitadas para que todas as pessoas realizem seus projetos de
vida em grupo. Essas ações são reguladas e mantidas pela ética e moral, que tem
características semelhantes, tais como:
Estabelecem regras de conduta obrigatória aos indivíduos ou grupos.
Tem códigos estabelecidos socialmente, por acordos e convenções.
Tem caráter histórico-social, ou seja, passageiro.
As semelhanças muitas vezes se confundem, transformando a ética e a moral em
sinônimos. Consideramos, porém, distensão conceitual e prática entre elas.
A moral é o conjunto de normas e condutas reconhecidas como adequadas ao
comportamento humano por uma dada comunidade humana. A moral estabelece princípios de
vida capazes de orientar o homem para uma ação moralmente correta. (...)
A ética é um estudo sistematizado das diversas morais, no sentido de explicitar os seus
pressupostos, ou seja, as concepções sobre o ser humano e a existência humana que
sustentam uma determinada moral. (...) Como filosofia prática, isto é, disciplina teórica com
preocupações práticas, a ética busca aplicar o conhecimento sobre o ser para construir aquilo
que deve ser. E, para isso, é indispensável boa parcela de conhecimento teórico.
COTRIM, Gilberto. Fundamentos da Filosofia. P. 264.
Moral: regra ou lei?
As regras morais diferenciam-se das jurídicas (leis), embora ambas tenham surgido da
necessidade humana de organizar as comunidades, compostas por pessoas que pensam e
agem de modos diferentes.
Regras morais:
Originam-se de debates, acordos ou princípios;
Estabelecem limites e possibilidades para ações individuais e em grupo.
Criam laços de responsabilidade e comprometimento mútuos.
Servem de parâmetros para a justiça.
Regularizam disputas de interesses contrários.
Qualificam ou quantificam determinadas atitudes e ações.
A natureza das funções e a aplicação efetiva das regras morais e das leis jurídicas
distinguem-se principalmente por que:
Moral
Lei jurídica
É um instrumento informal de justiça.
Apresenta-se com possibilidades de variações no
âmbito de mesmo grupo.
A moral ao ser rejeitada por um indivíduo provoca
apenas a equivalente rejeição do grupo e o eventual
mal-estar típico ao transgressor.
É indicada como conteúdo bom ou mau a ser
escolhido pelos indivíduos do grupo.
É um instrumento formal, escrito e promulgado [pelo
Estado].
Apresenta-se como sistema jurídico único para um
grupo, passável apenas de interpretações variáveis.
A lei ao ser rejeitada e transgredida impõe
penalidades concretas ao transgressor [pela Justiça,
pela polícia]
É imposta para o cumprimento obrigatório
[coercitividade] de todos os indivíduos do grupo.
SANTOS. Ética: caminhos para a realização humana. P.12. (Adaptado)
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2.5 Ética e emoções humanas
Emoções como via de acesso ao mundo
Como falar de algo que não conseguimos expressar com palavras? Todos entendemos
o que seja afeto, mas, se tivermos de explicá-los, sentimos dificuldades. Não se angustie; isso
tem explicação...
Os afetos são a via mais originária de contato com o mundo, ou seja, antes de refletir
sabre alguma coisa, "sentimos" o que aquilo é.
Martin Heidegger definiu os afetos como abertura para o mundo e para as outras
pessoas. Ou seja, nosso ser esta aberto em todos os momentos da existência e é afetado
pelas emoções. Anterior a qualquer atitude reflexiva, a afetividade guia-nos pelo mundo, ela é a
compreensão primária das vivências.
Tudo o que acontece em nossa vida nos afeta de alguma maneira. Qualquer vivência
vem junto com sentimento de alegria, dor, prazer, melancolia, tédio.
Você já percebeu isso?
Muitas vezes não nos damos conta, mas, mesmo quando estamos indiferentes a
situação vivida, estamos numa "tonalidade afetiva", como afirma a filósofo italiano Giani
Vattimo. Isso significa que os sentimentos e emoções nos afetam independentemente da nossa
vontade.
Sentimento amoroso
Amor é um sentimento que alimenta sonho, imaginação e atitudes do ser humano.
Cantado em músicas, recitado em versos poéticos, cantarolado em praças, usado como
produto ou marca em camisetas, livros e outdoors, o amor mexe com a mente e o coração das
pessoas. É quase um mistério que acompanha os indivíduos enquanto vivem, incentivando os
filósofos na busca de respostas ou de compreensão acerca de sua origem.
Caracteriza-se como fenômeno humano que se configura na relação com os demais, na
convivência. Nasce, pois, do desejo de fugir da solidão e do individualismo, para pertencer a
vida do outro, participar de suas conquistas e derrotas, ver-se na face desse outro.
Há diversos tipos de amor, conforme a necessidade, a função, o objeto e as relações
pessoais:
1- Amor-próprio: sentimento de orgulho e vaidade que pode levar ao egoísmo, aquela
atitude de fazer de si o centro das atenções.
2- Amor de si: sentimento saudável que a pessoa tem por si mesma, no sentido de
valorizar-se, cuidar-se, sem desmerecer os demais ou querer ocupar o centro das atenções
(narcisismo).
3. Amor familiar: sentimento de apego aos laços de sangue; manifesta-se na sensação
de conforto, segurança e afinidade com os familiares.
4. Amor a Deus: sentimento de gratidão e respeito ao Criador, manifestado por orações,
oferendas, rituais e ações de caridade.
5. Amor à pátria: sensação de pertencer ao coletivo que o acolheu desde o nascimento,
representado por apelo a símbolos nacionalistas: brasões, bandeiras, asseio público, serviço
militar, comemorações cívicas.
6. Amor à primeira vista: sentimento que desperta de forma súbita e intensa entre
pessoas ou pessoas e objetos, no primeiro encontro; sinônimo de paixão.
7. Amor platônico: sentimento ideal, não carnal, que não depende da satisfação sexual
para existir, porque envolve alma, afinidades, atitudes, sutilezas e interesses transcendentais,
altruístas ou valores.
8. Amor carnal ou físico: sentimento que se manifesta por ações e relações corporais;
busca o prazer no sexo e nos fetiches sexuais.
9. Amor possessivo ou passional: sentimento que se realiza pelo controle ou
dependência de outra pessoa ou objeto; distúrbio psíquico ou doença, que necessita de
tratamento e acompanhamento profissional.
10. Amor ablativo ou de doação: sentimento de entrega a outros, a causas políticas,
sociais e religiosas, por meio de ações voluntárias, com responsabilidade social, implicando
envolvimento total.
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Paixão ou razão?
A razão é uma bússola e as paixões, os ventos.
Immanuel Kant
Razão é guia para nossa vida, ajudando a tomar decisões, interpretar situações vividas,
analisar decepções enfrentadas no cotidiano, desfrutar vitórias conquistadas. Ela depende das
paixões para ser eficiente e realizadora.
Paixão, parte integrante da afetividade, e motivação, garra, "adrenalina", enfim, o que
faz explodir em nós o desejo de fazer e acontecer.
A paixão é parte integrante da afetividade e esta faz parte da natureza humana e
contribui para o seu desenvolvimento como ser social.
A origem do termo paixão já garante a riqueza e a complexidade desse sentimento:
para os gregos, paixão vem do substantivo pathos, sofrer por algo, angustiar-se, permitir ser
conduzido por outro. Em latim, passione, sentimento forte, capaz de suplantar a racionalidade.
De todas as formas, sentir paixão é expressar e experimentar sensações intensas,
como inquietação, ansiedade, disposição, tristeza, nervosismo. De maneira geral, o
apaixonado consegue manter energia e vitalidade tão avassaladoras, que se transforma da
noite para o dia, tornando-se capaz de realizar aquilo que deseja com mais eficiência e rapidez,
ou, ao contrário, fica profundamente decepcionado quando não atinge seu objetivo. A pessoa
apaixonada pode ficar com o tom da pele avermelhada quando vê a pessoa desejada; ter
aceleração dos batimentos cardíacos; perder a noção do tempo; sofrer de reações orgânicas
inesperadas, como ataque de riso ou choro.
Também há possibilidade de a paixão estar ligada ao consumo de bens materiais ou
simbólicos. Algumas pessoas se viciam em compras; outras, em drogas lícitas ou ilícitas; há,
ainda, as que se apaixonam perdidamente por artistas ou desportistas famosos. As paixões
humanas não têm limites quando sofrem a influência da imaginação ou dos sonhos.
A paixão, ao contrário do que pensavam ou pensem os filósofos racionalistas, não
combina com lógica exata e objetiva. Independe da vontade para aflorar e crescer
Internamente com poder e força.
Amizade
A ética investiga os problemas humanos que envolvem caráter e sentimentos. Amizade
é uma disposição do caráter, afinada pela virtude, pelo qual desejamos ser iguais aos outros; é
o desejo de exercer o bem.
Convivência é característica importante da amizade pela qual sentimos necessidade de
partilhar gostos, alegrias e pesares. Unidos pela amizade sincera, somos capazes de exercer o
bem ao outro e a nós mesmos, almejando a felicidade mútua.
Aristóteles enumera três tipos de amizade no Livro VIII da obra ética a Nicômaco. O
critério dessa classificação estabelece o motivo pelo qual estabelecemos vínculos de amizade:
Utilidade: amizades conquistadas por causa da utilidade são circunstanciais e
passageiras, pois desejamos o outro para satisfazer uma necessidade imediata nossa. Feita a
conquista do que desejávamos, a amizade termina.
Prazer: amizades fundamentadas no prazer visam apenas desfrutar daquilo que é
agradável no outro, portanto também passageira e circunstancial.
Virtude: amizades perfeitas são aquelas em que os seres humanos se unem pelo
desejo de fazer o bem; invulneráveis a calunia, ao tempo, a distância. Para Aristóteles, só os
homens bons podem ser verdadeiros amigos. A virtude revela-se como característica
fundamental para estabelecer amizade sincera, verdadeira e duradoura.
QUESTÕES PARA ESTUDO
1. Qual e a relação entre ética e amizade?
2. Qual e a semelhança entre amor, paixão e amizade?
3. Escolha um dos tipos de amor citados acima e disserte sobre.
4. Qual a principal relação entre a ética e as emoções humanas?
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2.6 A Ética nas relações de conflito
Violência: como controlar?
Para entender melhor o significado de violência, perceba que, juntamente com a
convivência construída em sociedade, os indivíduos estabelecem entre si algumas relações de
afetividade negativa.
Em latim, violentia tem estes significados:
Ação contrária à ordem natural, como rejeitar um filho.
Ação contrária às regras éticas, morais ou legais de uma sociedade, como atos de
vandalismo.
Ação com uso excessivo de força, como agressão física.
A segurança e a ordem são alguns dos aspectos mais importantes da vida em
sociedade, por isso criaram-se leis e regras de convívio para coagir atos de violência.
Leis destinam-se a definir o que considerar infração e, consequentemente, enquadrar e
punir indivíduos que agem em desacordo com elas.
Na Antiguidade, já existiam instrumentos de controle e punição da violência. Aplicava-se
a justiça punindo os infratores em praça pública, para que o suplício do condenado servisse de
exemplo para outros indivíduos, inibindo-os de cometer o mesmo crime.
Com o tempo, os mecanismos de condenação aprimoraram-se, até criarem as prisões.
Segundo o filósofo francês Michel Foucault, na obra Vigiar e Punir, a prisão caracteriza-se por
retirar o delinquente dos meios sociais e confinado no isolamento da cela, ou seja, tirar-lhe a
liberdade. Como instituição social, as prisões devem recuperar esses indivíduos para que
possam retornar a sociedade em condições de conviver em harmonia com o meio.
2.7 Trabalho: um lugar ao sol
O trabalho nosso de cada dia
Trabalho é a atividade do homem para acrescentar um mundo novo (cultural) ao mundo
natural, constituindo-se de característica tipicamente humana, visto que os animais em geral
não tem o conceito de trabalho.
Considera-se toda ação transformadora do meio como forma de trabalho, desde as
brincadeiras infantis e o serviço doméstico e o trabalho institucionalizado.
Incluem-se as brincadeiras infantis porque a criança constrói, desconstrói e reconstrói
os elementos envolvidos, conferindo-lhes sentido. O que parece extremamente simples revelase atividade de socialização, repetição, interpretação do mundo, criação de regras e tomada de
decisões.
Peculiaridade do trabalho doméstico é nunca ter fim, sendo reiniciado todos os dias. A
falta de remuneração e de reconhecimento o torna uma repetição sem finalidade. Ele demarca
o espaço social da mulher, que se dedica ao ambiente privado da sociedade.
O que diferencia uma forma de trabalho da outra é a obrigatoriedade e a necessidade.
Realizando tarefas rotineiras, empenhamos tempo e dedicação para manter a ordem.
Embora elas sejam importantes, não requerem compromisso com a sociedade. O trabalho
formal exige compromisso de ambas as partes (empregado e empregador), competência e
disciplina. Impõe normas de conduta para serem respeitadas e seguidas a risca.
Alienação ou realização?
Existem duas concepções de trabalho:
Realização: o trabalho serve para promover a realização do indivíduo, a edificação da
cultura e a solidariedade humana, porque tem papel social. Hegel descreve essa visão otimista
por meio da dialética do senhor e do escravo, na obra Fenomenologia do Espírito. O filósofo
refere-se à luta entre dois homens em que o vencedor tem direito a matar o oponente, porém
opta por submetê-lo a prestar-lhe todos os serviços, estabelecendo relação de senhor e
escravo. Com o tempo, o senhor descobre que não sabe mais fazer nada, dependendo do
escravo para tudo. Por sua vez, o escravo, que aprendera a domar a natureza, recupera, de
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certa forma, a liberdade. O trabalho, sob essa perspectiva, é uma expressão de liberdade
reconquistada.
Alienação: o homem realiza o trabalho como instrumento de alienação. Acredita-se que
o trabalhador venda a força de trabalho e perca a autonomia por isso. Da mesma forma,
quando uma classe social domina a outra, a alienação ocorre simultaneamente. Essa visão
crítica é abordada por Karl Marx nos estudos sobre a sociedade capitalista. Sob esse ponto de
vista, o patrão compra a capacidade de trabalho dos operários, estabelecendo uma relação de
exploração do homem pelo homem.
23
SEGUNDO TRIMESTRE
1 ÁREAS DA FILOSOFIA
- Lógica => É o ramo da filosofia que estuda a validade ou não do argumento racional através
da análise se sua forma e da sua estrutura. Procurando assim, o método ideal de raciocínio,
análise e pesquisa.
- Ética => Reflexão racional sobre agir humano, sob o ponto de vista das noções de bem e
mal, do justo e injusto. Buscando, a partir daí, os valores capazes de melhorar a vida individual
e social do ser humano.
- Filosofia Política => Estudo dos modelos sociais e políticos, assim como, a busca dos
princípios ideais para a construção de uma ordem social mais justa.
- Estética => Reflexão e estudo sobre as diversas manifestações do Belo através da arte e da
cultura em geral. E também a influência da arte no cotidiano social.
- Metafísica => Também chamada de ontologia (estudo do SER), é o estudo da ‘realidade
ultima’ das coisas; daquilo que ultrapassa o mundo físico (ou natural).
- Antropologia Filosófica => Estudo e busca da verdadeira natureza do homem em si, assim
como, a sua função como SER e AGENTE da história.
- Filosofia da Ciência => Chamada também de Epistemologia, estuda o conhecimento
científico, assim como, os métodos, princípios de pesquisa e justificativas utilizadas pelos
cientistas.
- Teoria do Conhecimento => Denominada também como Gnosiologia, estuda as diversas
formas de conhecer e apreender a realidade, pesquisando a origem, os fundamentos e a
importância do conhecimento.
- História da Filosofia => Reflexão criteriosa sobre evolução do pensamento humano através
do estudo dos temas, problemas e soluções apresentadas pelos diversos filósofos ao longo da
história.
- Psicologia Filosófica => A psicologia filosófica debruça-se sobre os critérios de mentalidade,
a relação entre mente e consciência, a existência, o inconsciente, a estrutura da mente, a
origem do espírito, a natureza do eu, a relação corpo/espírito, a liberdade da vontade, a
metodologia psicológica e a relação entre o espírito e a cognição.
- Cosmologia => Chamada também de Filosofia da Natureza, tem por objeto o estudo dos
corpos como tais, vivos ou não. Distingue-se das ciências físico-químicas enquanto visa a
determinar a natureza dos princípios intrínsecos dos corpos, ao passo que as ciências físicoquímicas, deixando de lado as questões de natureza ou de essências, se limitam ao estudo
das aparências sensíveis dos corpos e de suas leis empíricas.
Leitura e Análise de Texto
“Epistemologia, também chamada de Teoria da Ciência, é uma parte da Filosofia da
Ciência que concerne à natureza do conhecimento científico e seus grandes problemas:
Como e em que condições é possível conhecer? Existe a certeza absoluta do
conhecimento?
Se existe, como e em que condições? Quais são as características do conhecimento
dentre as Ciências Naturais, as Ciências Humanas e as Ciências Formais?”
ClE – Centro de lógica, Epistemologia e História da Ciência da Unicamp.
24
“Antes de tudo, é preciso saber colocar problemas. O que quer que se diga da
vida científica, os problemas não se colocam por si. É precisamente esse sentido do problema
que dá a marca do verdadeiro espírito científico. Para um espírito científico, todo o
conhecimento é uma resposta a uma questão. Se não houve questão, não pode haver
conhecimento científico.”
BACHELARD, Gaston. A formação do espírito científico. 2º ed. Rio de Janeiro: Contraponto, 1996.
“Conhecer uma realidade é no sentido usual da palavra ‘conhecer’, tomar conceitos já
feitos, dosá-los, e combiná-los em conjunto até que se encontre um equivalente prático do
real.”
BERGSON, Henri. O pensamento e o movente. São Paulo: Martins Fontes, 2006.
QUESTÕES
QUESTÕES PARA ESTUDO
Após a leitura do texto, responda as seguintes questões:
1) O que é conhecer, segundo Bérgson?
2) Como podemos conhecer cientificamente?
3) O que significa a frase “os problemas não se colocam por si”?
2 INTRODUÇÃO À FILOSOFIA DA CIÊNCIA
O objetivo desta unidade é desenvolver uma imagem crítica da ciência, com base no
pensamento de David Hume, desdobrando a questão para tratar de temas como indução e
dedução.
Para muitos filósofos, na ciência, a dedução toma o seguinte sentido: temos um
conhecimento teórico e por ele agimos, ou por ele conhecemos outras dimensões do mundo.
Por exemplo, a lei da gravitação universal de Isaac Newton diz que todos os corpos se atraem
segundo uma força derivada de suas massas e sua distância. Desse modo, quando um objeto
qualquer cai, na verdade, ele foi atraído pelo planeta. É a massa do objeto sendo atraída pela
massa do planeta.
Portanto, ao soltar uma bolsa, ela será atraída pela força gravitacional do planeta Terra.
Por dedução, podemos dizer que os objetos, como a bolsa, são atraídos pelo planeta; por isso,
de alguma forma, acreditamos que tudo cai, porque sabemos que há uma lei da gravidade e,
com base nela, podemos prever um acontecimento. Além disso, ela é logicamente válida.
David Hume (Edimburgo, 7 de Maio de 1711 — Edimburgo, 25 de Agosto de 1776) foi um
filósofo, historiador e ensaísta escocês, que se tornou célebre por seu empirismo radical e seu
ceticismo filosófico. Ao lado de John Locke e George Berkeley, Hume compõe a famosa tríade
do empirismo britânico; e é considerado um dos mais importantes pensadores do chamado
iluminismo escocês e da própria filosofia ocidental.
Hume opôs-se particularmente a Descartes e às filosofias que consideravam o espírito
humano dentro de um ponto de vista teológico-metafísico. Assim Hume abriu caminho à
aplicação do método experimental aos fenômenos mentais. Sua importância no
desenvolvimento do pensamento contemporâneo é considerável.
Conceitos para fundamentação do tema.
Ciência: A ciência é o conhecimento ou um sistema de conhecimentos que abarca verdades
gerais ou a operação de leis gerais especialmente obtidas e testadas através do método
científico.
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Termo científico: Termo conduzido ou preparado de acordo com os princípios e práticas da
ciência, que tem o rigor da ciência.
Hipótese: é uma formulação provisória, com intenções de ser posteriormente demonstrada ou
verificada, constituindo uma suposição admissível.
Tese: “É um texto que se caracteriza pela defesa de uma idéia, de um ponto de vista. Ou então
pelo questionamento acerca de um determinado assunto. O autor do texto dissertativo trabalha
com argumentos, com fatos, com dados, que utiliza para reforçar ou justificar o
desenvolvimento de suas idéias”
Indução: é considerado o método de pensamento ou raciocínio com o qual se extraem certos
fatos conhecidos, mediante observação, alguma conclusão geral que não se acha
rigorosamente relacionada com eles.
Dedução: é toda inferência que parte do universal para o particular (aspecto convergente).
Utiliza-se da confrontação de duas proposições (uma generalizadora e outra particularizadora)
para extrair uma conclusão.
QUESTÕES
QUESTÕES PARA ESTUDO
1- Qual a diferença entre os dois argumentos apresentados no quadro a seguir?
Argumento 1 - Dedução
Argumento 2 - Indução
Todos os homens vivos respiram.
Meu irmão respira
Meu irmão é um homem vivo.
Meu irmão é um homem vivo.
Portanto, meu irmão respira.
Portanto, todos os homens vivos respiram.
2- A partir dos exemplos dados acima, crie outros exemplos de argumentos dedutivos e
indutivos com situações do cotidiano.
Leitura e Análise de Texto
Com base na observação de um grande número de experiências, por meio dos cinco
sentidos, cria-se uma lei ou uma teoria. Ao se repetirem as condições enunciadas nessa lei,
pode-se prever um acontecimento. Isso garantiria a objetividade do conhecimento científico,
isto é, ele não dependeria da opinião das pessoas, mas poderia ser comprovado por todos os
seres humanos.
Com a indução, parte-se do particular para o universal; esse conceito utiliza a
generalização para criar leis e teorias científicas.
Com as leis e as teorias científicas, é possível, por meio da dedução, prever e explicar
acontecimentos. Sabemos que a ciência é, sem dúvida, uma atividade racional e, por isso, se
vale das regras da lógica para fundamentar seus conhecimentos. No entanto, a indução não
parte das regras lógicas para se legitimar. Ela parte da experiência. A experiência pode parecer
racional, mas não é, pois está envolvida com os sentidos, e não com o raciocínio. Vejamos
como David Hume propõe o problema:
Parte II
[...] “Entretanto, não chegamos ainda a nenhuma resposta satisfatória a respeito da primeira
questão proposta. Cada solução gera uma nova questão tão difícil como a precedente e nos
26
conduz a novas investigações. Quando se pergunta: qual é a natureza de todos os nossos
raciocínios sobre os fatos? A resposta conveniente parece ser que eles se fundam na relação
de causa e efeito. Quando se pergunta: qual é o fundamento de todos os nossos raciocínios e
conclusões sobre essa relação? Pode-se replicar numa palavra: a experiência. Mas se ainda
continuarmos com a disposição de esmiuçar o problema e insistirmos: qual é o fundamento de
todas as conclusões derivadas da experiência? Esta pergunta implica uma nova questão que
pode ser de solução e explicação mais difíceis. Os filósofos que se dão ares de sabedoria
superior e suficiência têm uma tarefa difícil quando se defrontam com pessoas com
disposições inquisitivas, que os desalojam de todos os esconderijos em que se refugiam, e que
estão seguras de levá-los finalmente a um perigoso dilema. O melhor recurso para evitar esta
confusão consiste em ter modestas pretensões e descobrir em nós mesmos as dificuldades
antes que nos sejam objetadas. Dessa maneira, faremos de nossa ignorância uma virtude.”
HUME, David. Ensaio sobre o entendimento humano. Tradução Maria Eloisa Tavares. Disponível em:
<http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=2258>. Acesso em: 13 nov. 2009.
1- Com base no texto, responda às questões:
a) Qual é a natureza de todos os nossos raciocínios sobre os fatos, segundo Hume?
b) De acordo com Hume, qual é o fundamento de todos os nossos raciocínios e conclusões
sobre a relação de causa e efeito?
2- Por que Hume vê um problema na fundamentação das conclusões por meio da observação
da experiência?
Exercícios
1- Vamos rever o que é a indução, agora com um exemplo dado por Bertrand Russell.
1. Certo peru foi alimentado durante um ano às 9 horas (dado).
2. Ele criou, então, uma lei: sou alimentado todos os dias às 9 horas (teoria).
3. Amanhã, às 9 horas, serei alimentado (previsão).
4. No entanto, houve um problema com a previsão do peru, pois, no dia seguinte à sua previsão,
ele foi degolado porque era véspera de Natal e ele seria servido na ceia.
Por que a previsão do peru falhou? Leis e teoria são questionáveis ou, ao contrário, são
verdades absolutas?
O que aconteceria se a lei ou a teoria falhassem? Nada na natureza tem o dever de
seguir nossas leis científicas. Por isso, se um dia o Sol se puser e, no outro, não amanhecer, o
que impediria a ocorrência? Ora, as leis da natureza são as interpretações que fazemos dela.
Cada princípio científico pode ser contrariado pela natureza porque não é fundamentado pela
razão, mas pela experiência. Nós prevemos como se fosse um hábito psicológico.
O que garante que ao soltar um lápis ele vai cair? A lógica não pode garantir isso;
afinal, ela trata de palavras e conhecimentos, e nunca da realidade. A experiência é sempre
única, e a queda de um lápis não tem relação com a queda de outro. Em resumo, nada garante
que o lápis vá cair. Por isso, quando pensamos que a ciência é uma garantia da verdade,
estamos tendo uma visão não crítica da ciência.
Há, ainda, dois outros problemas que precisamos discutir a respeito da indução, como
fundamento da ciência, a saber:
27
a observação como fonte objetiva;
a relação teoria-experiência.
2- Afirma-se, constantemente, que da observação das experiências tiramos os conhecimentos.
Mas será que cada um de nós observa da mesma maneira? Será que nossa visão, audição,
paladar, tato e olfato são iguais aos dos outros seres humanos? Não são, pois as pessoas
podem observar uma mesma situação de formas diferentes. Analise as seguintes imagens e
responda à questão: Quais os limites da observação?
O chão ou teto?
Plano ou ondulado?
2.1 O falsificacionismo
Depois de vermos alguns problemas sobre a indução, vamos estudar agora alguns
filósofos que reconheceram a importância da atividade científica. Mesmo admitindo que ela não
seja capaz de dar todas as respostas e entendendo-a como baseada na indução, acreditamos
que, ainda assim, a ciência oferece as melhores respostas disponíveis.
Para os falsificacionistas – entre os quais Karl Popper é um dos mais importantes –, o
valor de um conhecimento científico não vem da observação de experiências, mas da
possibilidade de a teoria ser contrariada, ou melhor, falseada. Em um primeiro momento,
acreditava-se que a ciência comportaria todas as verdades, com base na criação de teorias e
leis que surgiriam pela observação de experiências – esta é a crença de indutivistas. Com a
ideia de que a teoria precede a experiência, os falsificacionistas admitem que toda explicação
científica é hipotética; no entanto, é o melhor que temos.
Quanto mais uma teoria pode ser falseada, melhor seria ela. Por exemplo, ignorando a
pressão atmosférica e outros fatores, se dissermos que “a água ferve a 100 graus Celsius”,
qual a contradição possível, ou melhor, o que tornaria falsa essa afirmação? A resposta seria:
ao chegar a 100 graus Celsius, a água não ferveria, ou ferveria antes.
No momento em que uma teoria é falseada, o cientista tentará melhorá-la ou a
abandonará. Mas enquanto ela não é falseada, permanece o seu valor explicativo. O
fundamental é que tenhamos em mente o seu limite. As teorias têm de dizer algo bem objetivo
sobre o mundo, para sermos capazes de conceber sua falsificabilidade.
2.1.2 Critérios para uma boa teoria.
Tem de ser clara e precisa, não podendo ser obscura ou deixar margem para várias
interpretações. Quanto mais específica, melhor.
Deve permitir a falsificabilidade; quanto mais, melhor.
Deve ser ousada, para conseguir progredir em busca de um conhecimento mais
aprofundado sobre a realidade.
Teorias que não podem ser falseadas não são boas teorias. Por exemplo, se disser que
“o ladrão rouba”, não se estará dizendo muita coisa sobre o mundo. Apesar de parecer clara,
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essa afirmação não pode ser falseada; afinal, esta contida na palavra ladrão a ideia de que ela
qualifica os seres que roubam. Ninguém precisa dizer “o ladrão rouba” para sabermos que ele
rouba. É impossível contradizer essa afirmação, pois é completamente irracional pensarmos
em um ladrão que não rouba.
Outro exemplo: se dissermos “é possível ter sorte no esporte”, também não diremos
muita coisa. Não estamos sendo precisos, pois muitas outras coisas são possíveis no esporte.
A própria ideia de que algo é possível permite quase tudo, mas, como medir a sorte ou saber
que não foi o acaso? Essa frase serve tanto para perder ou ganhar, não é capaz de ser
falseada. Pode ser a sorte de um time ou de outro; pode ser até mesmo a sorte dos dois, mas
nunca deixará de ser sorte de alguém.
3 INTRODUÇÃO À FILOSOFIA DA RELIGIÃO – DEUS E A RAZÃO
O objetivo desta unidade é apresentar o uso da racionalidade relacionada à existência
de Deus. Seria possível conhecer Deus com base na razão? Como ela pode saber sobre Sua
existência? Há limites?
Neste primeiro momento, nosso enfoque será uma compreensão racional da existência
ou não de Deus. Essa compreensão inclui o entendimento de que diferentes religiões contam
com diferentes concepções sobre Deus e sua existência. Apesar de predominantemente
católico – e cristão –, o Brasil conta com diversas religiões praticadas por seu povo.
Conceitos para Fundamentação do Tema
Fé: convicção e crença firme e incondicional alheia a argumentação da razão; confiança.
Razão: faculdade intelectual e linguística que distingue o ser humano dos outros animais.
Tolerância: boa disposição dos que ouvem com paciência opiniões opostas às suas.
Religião: serviço ou culto a Deus, ou a uma divindade qualquer, expresso por meio de ritos,
preces e observância do que se considera mandamento divino.
Alteridade: situação, estado ou qualidade que se constitui através de relações de contraste,
distinção, diferença.
3.1 Deus como causa do mundo
Para Platão, não existe apenas um deus criador de tudo, mas existe um responsável
pela organização do mundo. Ele seria o Demiurgo – um ser que copiaria o mundo perfeito das
ideias na matéria imperfeita. Antes de o mundo existir, havia ideias perfeitas e eternas que
foram copiadas na matéria pelo Demiurgo. Embora as cópias não sejam perfeitas, a ação do
Demiurgo permitiu tornar o mundo inteligível, por ter ordenado o mundo sensível favorecendo
nossa compreensão sobre ele.
Para Aristóteles, Deus seria o primeiro motor, isto é, todas as coisas que se
movimentam são movimentadas por outras coisas. As pessoas, os ventos, os mares, as
nuvens, as árvores, cada ser no mundo passa do ato à potência, que é o movimento. Mas
quem “daria o primeiro empurrão”, quem seria o primeiro motor? No livro: Metafísica, a
resposta apresentada por ele é Theós – que, em grego, significa Deus. Então, Deus existe
porque alguém tinha de começar o movimento sem ser movimentado: um ato puro.
Para Plotino, o mundo é parte de Deus. Imaginemos que a luz é a existência e a falta
de luz é não existir. Tudo o que está fora da luz não existe, metáfora ilustrada no desenho a
seguir:
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1. A lâmpada é a fonte da luz.
2. Tudo o que se pode ver precisa da luz; a luz está nas coisas para que elas apareçam.
3. A fonte da luz é superior ao que ela ilumina.
4. Afinal, sem luz, as coisas não aparecem.
Deus é, assim, a fonte de tudo o que existe; ele é o Uno. Mas as coisas que emanam
dessa fonte não se separam dela. Não existe a ideia de que os seres criados possam ser
separados do criador, como no cristianismo. Assim como os objetos precisam da luz para
aparecer, os seres precisam do Uno, ou Deus, para permanecer existindo; eles estão ligados,
unidos, e tudo é parte de Deus. Por isso, quanto mais longe da fonte da luz estiver uma coisa,
mais ela será sombria. Da mesma forma, quanto mais longe da fonte da existência, Deus,
menor é a força de sua existência.
Por isso, o Uno emana, primeiro, a inteligência; depois, a alma que governa o mundo e,
enfim, o próprio mundo material. Cada ser no mundo é um pedaço de Deus, mas Deus é
superior a todas as suas pequenas partes. O que está mais longe de Deus é o mundo material,
e o que está mais perto de Deus é a inteligência e a alma.
Para a filosofia cristã, a ideia de que o mundo e suas partes emanam de Deus não pode
ser fundamentada, porque Deus é puro, homogêneo e não pode ser dividido. Então, quando
Ele criou o mundo, o fez separado Dele. Uma ideia bastante difundida nas Igrejas cristãs de
diversas denominações – criada pela filosofia cristã – é a de que o mundo não pode ter sido
gerado do nada: o mundo veio da criação de Deus, e não do nada; afinal, se algo viesse do
nada, ele deixaria de ser nada para se tornar criador.
Como sabemos, por dois motivos, muito se pode falar sobre o conceito de Deus na
história da Filosofia. Primeiro, porque esse conceito foi um dos primeiros problemas filosóficos
e, segundo, porque muitos sistemas filosóficos dependem desse conceito para seu
desenvolvimento. De qualquer forma, as ideias anteriormente esboçadas podem ser
consideradas matrizes do problema filosófico de Deus.
3.2 Deus não pode ser provado pela razão
Existem algumas provas racionais da existência de Deus. Vejamos, sucintamente, as
principais:
1. Todos os povos têm religião; a existência de uma divindade é um consenso universal
(consensus gentis).
2. O mundo tem uma ordem e deve haver uma inteligência ordenadora de todas as coisas (São
Thomas).
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3. Tudo tem uma causa. Tudo que foi causado pode causar outras coisas. Deve haver algo que
causa as coisas, mas não foi causado por ninguém. Deus é a causa não causada
(Aristóteles).
4. Todas as coisas estão em movimento e movimentam outras coisas. O movimento é a
passagem do que é (ato) para aquilo que pode vir a ser (potência). Deve haver um ser que
movimenta as outras coisas, mas não é movimentado por nada, o primeiro motor – ou o
motor imóvel (Aristóteles).
5. Tudo o que é alguma coisa participa de outra melhor. Por exemplo, algo quente participa do
fogo. Cada ser tem um grau de perfeição, como o fogo e o objeto quente. O limite máximo da
perfeição é Deus; acima Dele não há nada melhor (São Thomás).
6. Prova de São Thomás de Aquino — Cada ser precisa de algum outro para existir; este ser é
chamado de ser possível. Por exemplo, para existir, uma criança precisa de um pai e de uma
mãe. O pai e a mãe precisam de outros seres; estes, de outros, e assim por diante. Todas as
coisas do mundo precisam de outro ser para existir. Mas há um ser que não precisa de
ninguém para existir; a ele nós chamamos de ser necessário. Se todos os seres do mundo
precisam de outro para existir, deve haver, portanto, um ser que dê a existência ao mundo e
ao mesmo tempo não precise de nada para existir; esse ser necessário é Deus.
7. Prova de Santo Anselmo — Aquilo que nós não conseguimos pensar nada de maior não
pode estar penas no intelecto. Afinal, o intelecto não ultrapassa essa ideia nem a contém.
Então, se o intelecto não ultrapassa essa ideia, quer dizer que ela também está fora dele, na
realidade. Como um copo que transborda com a água, há água dentro e fora do copo. Deus é
o ser que nós não conseguimos pensar nada maior. Por isso, ele não pode ser apenas uma
ideia; ele é uma realidade.
Para o filósofo Immanuel Kant, cada uma dessas provas é uma prova lógica, apenas
racional. Mas nem sempre o que dá certo nas teorias lógicas acontece ou se repete no mundo
real: a realidade não é devedora das nossas lógicas.
Nós somos seres que pensamos apenas por meio de categorias limitadas, como tempo
e espaço. Qualquer ser real, fora das nossas categorias, não pode ser conhecido, nem
podemos provar a sua existência. Só podemos confirmar a existência de alguma coisa fazendo
a experiência dela; do contrário, ela é uma suposição lógica, uma hipótese. Para Kant a prova
de Santo Anselmo (7ª) incorre nesse erro.
Do mesmo modo, a experiência objetiva nos diz que a prova da causalidade (3ª) não é
uma prova da existência de Deus. Nós sabemos que alguns efeitos têm determinadas causas.
De outros efeitos, não sabemos as causas. Por hipótese, é possível que haja uma causa inicial,
mas, por não podermos repetir a experiência inicial, a prova perde seu valor. Novamente, o que
é certo na lógica nem sempre é certo na realidade.
Kant disse o mesmo da prova da ordem do mundo (2ª). Se pensarmos que o mundo
tem uma ordem, podemos certamente supor que haja alguém que tenha ordenado todas as
coisas. Por exemplo, se olhamos uma casa bem feita, suporíamos que ali trabalhou alguém.
Mas não sabemos quem foi esse alguém. Foi um arquiteto? Um engenheiro? Um pedreiro?
Uma mulher? Um homem? Um jovem? Várias pessoas? Ou seja, sabemos que existe o mundo
e que existe até mesmo certa ordem, mas quem é o responsável não podemos provar.
Para Kant, a razão humana é limitada em diversos aspectos, reduzindo as
possibilidades do nosso conhecimento. Mais ainda, ao procurar suas respostas, Kant não se
contentava com jogos de palavras – não basta parecer que se prova, é preciso provar de
verdade.
Em sua obra A crítica da razão pura, Kant fez a crítica da razão sem as experiências e
as provas da existência de Deus. Em outro livro, A crítica da razão prática, o filósofo procurou
31
entender como funciona a racionalidade objetiva, isto é, envolvida com as experiências e,
assim, com a vontade. Então, seria justamente na vontade livre do homem que Kant
encontraria a certeza da existência de Deus.
A razão prática se dá na ação do homem no mundo. Essa ação acontece pela condição
única de ter uma consciência moral. Essa consciência moral está necessariamente ligada aos
objetivos do homem – o que se deseja fazer, a vontade. Se tivermos objetivos, o caminho para
eles é a razão deles, o seu dever. Sobre isso, Kant nos lembra que o dever só é bom porque
ele é garantido pela liberdade; do contrário, não teria valor.
Se a razão prática compreende os objetivos ideais, então não há diferença entre o ideal
e o real; afinal, o dever é real e bom. Ser e dever ser encontram sua síntese: Deus. Deus é o
sumo bem. Deus existe porque é nosso dever procurar o bem.
Após a reflexão sobre algumas teorias que buscaram compreender racionalmente a
existência de Deus, é interessante que possamos pensar em nossa religião, em nossas
crenças, com base nas perguntas:
Como a existência de Deus é explicada em minha religião?
O que me levou a acreditar em minha religião?
E os que não se confessam religiosos, o que pensam dessas questões?
Leitura e Análise de Texto
Uniformidade e diferença
“Existem certas ideias de uniformidade que se apossam algumas vezes dos grandes
espíritos [...], mas impressionam infalivelmente os pequenos. Eles encontram nelas um gênero
de perfeição que reconhecem, porque é impossível não descobri-la: os mesmos pesos na
polícia, as mesmas medidas no comércio, as mesmas leis no Estado, a mesma religião em
todas as partes. Mas será que isso está sempre correto, sem exceção? O mal de mudar é
sempre menor do que o mal de suportar? E não estaria a grandeza do gênio mais em saber em
que casos é preciso uniformidade e em que casos se precisa de diferenças?”
MONTESQUIEU. The Spirit of Laws. The Complete Works of M. Montesquieu, vol. 2. Book XXIX, chap. XVIII. Tradução Luiza Chistov.
disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/Detalhe ObraForm.do?select_action=&co_obra=3906>. Acesso em: 12 fev.
2009.
1. Segundo Kant, quais são as provas da existência de Deus?
2. Por que a existência de Deus não pode ser provada teoricamente pela razão, segundo Kant?
4 INTRODUÇÃO À FILOSOFIA DA CULTURA - MITO E CULTURA
Considerando a importância da compreensão do homem em sua dimensão simbólica,
objetiva-se, com esta unidade, a problematização dos aspectos simbólicos e filosóficos da
cultura.
Conceitos para Fundamentação do Tema
Mito: narrativa fantasiosa, simbólica, geralmente com elementos sobrenaturais transmitidas
pela tradição oral de um povo e que retrata sua visão de mundo e de aspectos da natureza
humana e a forma como explica os fenômenos da natureza.
32
Cultura: sistema de ideias, conhecimentos, técnicas e artefatos,
comportamento e atitudes que caracteriza uma determinada sociedade.
de padrões de
Linguagem: qualquer meio sistemático de comunicar ideias ou sentimentos através de signos
convencionais, sonoros, gráficos, gestuais, etc.
Natureza: aquilo que compõe a substância do ser, essência; tudo quanto existe no cosmos
sem intromissão da consciente reflexão humana.
Leitura e Análise de Texto
O BANQUETE (O AMOR, O BELO)
Platão
“[...] Quando nasceu Afrodite, banqueteavam-se os deuses, e entre os demais se
encontrava também o filho de Prudência, Recurso. Depois que acabaram de jantar, veio para
esmolar do festim a Pobreza, e ficou pela porta. Ora, Recurso, embriagado com o néctar – pois
vinho ainda não havia – penetrou o jardim de Zeus e, pesado, adormeceu. Pobreza então,
tramando em sua falta de recurso engendrar um filho de Recurso, deita-se ao seu lado e pronto
concebe o Amor. Eis por que ficou companheiro e servo de Afrodite o Amor, gerado em seu
natalício, ao mesmo tempo que por natureza amante do belo, porque também Afrodite é bela. E
por ser filho o Amor de Recurso e de Pobreza foi esta a condição em que ele ficou.
Primeiramente ele é sempre pobre, e longe está de ser delicado e belo, como a maioria
imagina, mas é duro, seco, descalço e sem lar, sempre por terra e sem forro, deitando-se ao
desabrigo, às portas e nos caminhos, porque tem a natureza da mãe, sempre convivendo com
a precisão. Segundo o pai, porém, ele é insidioso com o que é belo e bom, e corajoso, decidido
e enérgico, caçador terrível, sempre a tecer maquinações, ávido de sabedoria e cheio de
recursos, a filosofar por toda a vida, terrível mago, feiticeiro, sofista: e nem imortal é a sua
natureza nem mortal, e no mesmo dia ora ele germina e vive, quando enriquece; ora morre e
de novo ressuscita, graças à natureza do pai; e o que consegue sempre lhe escapa, de modo
que nem empobrece o Amor nem enriquece, assim como também está nomeio da sabedoria e
da ignorância. Eis com efeito o que se dá.[...]”
Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=2279>. Acesso
em: 11 fev. 2009.
4.1 Mito e Cultura
Um mito é uma narrativa que trata de algo sem necessariamente submeter-se às formas
lógicas, como nas ciências. Em geral, os mitos estão envolvidos com a religião dos povos e
com as crenças das pessoas.
Ernest Cassirer, no livro A filosofia das formas simbólicas, desenvolve profunda reflexão
sobre os mitos. Para ele, o mito seria a primeira forma de interpretação do mundo, o que deu
lugar, depois, à religião, sem que esta lhe seja superior. Todo o contato do homem com a
natureza e com os outros homens é realizado por meio de símbolos. O homem toca o mundo
pelos signos, ele os inventa e deles tira o sentido das coisas.
Desde os primórdios da história, o homem acredita e representa suas crenças e suas
visões do mundo. Os símbolos são a forma que o homem usa para representar sua vida. Por
exemplo:
Quando falamos à pessoa amada você é tudo de que meu coração precisa, é fácil entender
que estamos dizendo que amamos e que sofreremos se não formos correspondidos.
Quando uma criança pega algum objeto que estava no chão e coloca na boca, dizemos
caca! – usamos um símbolo (uma palavra) que representa a sujeira.
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Os símbolos são partilhados por várias pessoas, mas também podem ser muito
pessoais, acontecendo o mesmo com os significados. Lembre-se de que o signo é a
representação dos sentidos de algo: pode ser uma imagem, um som, um cheiro, um sabor, um
gesto, uma temperatura, uma dança. O significado é o “conteúdo” desse signo, a ideia que está
por trás daquilo que se apresenta para as pessoas ou para si mesmo.
Sobre o mito anterior, ainda que Cassirer faça uma crítica ao tipo de uso que Platão fez
do mito, podemos perceber que se trata de uma narrativa simbólica, e que cada símbolo ou
signo corresponde a um ou mais significados no mundo.
QUESTÕES PARA ESTUDO
1. Qual a relação entre cultura e natureza?
2. Qual é o papel do Estado em relação à cultura? Exemplifique.
3. Qual a relação entre mito e cultura?
4. Qual a diferença entre os mitos da antiguidade e os mitos de hoje?
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TERCEIRO TRIMESTRE
1 POLÍTICA
1.1 Concepção política
Urgência da política
A mídia explora a política incessantemente. São notícias de verbas destinadas a
educação ou saúde, por exemplo, que foram desviadas por falta de ação política; casos de
jovens politicamente alienados; ações consideradas politicamente corretas; histórias de
políticos votando em mais um aumento para si próprios...
Utilizamos a palavra política de formas distintas, em contextos diversos. Antes de nos
aprofundarmos nesse termo, precisamos nos deter num aspecto que leva a compreender a sua
essência: a questão da urgência.
Estamos tão acostumados com tais usos do termo, que lidamos com ele de forma
quase automática, como se não nos dissesse respeito. Ora, a política só adquire seu
verdadeiro sentido quando deixa de ser apenas uma palavra e se mostra em sua urgência. O
indivíduo que alcança verdadeira dimensão política não é necessariamente o chamado "político
profissional", mas todo aquele que percebe a necessidade de repensar suas ações no
momento presente.
Poder: o caminho da política
Como acabamos de ver, a política esta relacionada a um sentimento de urgência.
Vamos analisar agora o modo como ela se efetiva. O meio em que ela acontece é o poder.
Pode-se dizer que toda ação política envolve poder, e que toda circunstância em que o poder
aparece é, de alguma forma, uma situação política. No entanto, conforme estudaremos na
unidade sobre a democracia, essas relações de poder qualificam a verdadeira essência da
política apenas quando usadas para sua verdadeira finalidade: o bem comum. Além disso, a
política nunca pode ser vista dissociada da ética, pois todo poder exige responsabilidade.
Geralmente, analisa-se o poder apenas do ponto de vista vertical. Por exemplo,
reconhecemos que o presidente da República esta acima do governador, e este, por sua vez,
acima do prefeito. Embora este tenha poder sobre os cidadãos, esta subordinado ao
presidente. Existe uma hierarquia vertical, em forma de pirâmide: na base estão os cidadãos
comuns e, no topo, o presidente da República, que detém o poder máximo; os outros cargos
políticos distribuem-se de acordo com este esquema – quanto mais importantes, mais perto do
topo.
No entanto, existe também uma perspectiva de análise horizontal, segundo a qual todo
ser humano exerce poder sobre os outros, independentemente da profissão ou do status
social, como veremos mais a frente.
As microesferas do poder: o poder horizontal
Dentre os vários filósofos que abordam a questão política, o francês Michel Foucault se
destaca entre os contemporâneos. Ele identifica a questão do poder de forma muito próxima ao
pensamento de Gerard Lebrun. Foucault, entretanto, acentua ainda mais as relações de poder
presentes no cotidiano, de modo a demonstrar que reflexões políticas não dizem respeito
apenas ao governo e às leis. O filósofo aponta um mecanismo de dominação e controle que
chama de "redes de sequestro", por meio do qual o controle de nossas vidas passa a não
nos pertencer mais e, sim, a outros. As "redes de sequestro" controlam a existência em
múltiplos aspectos: o tempo (quando temos que cumprir horários), o corpo (quando temos que
vestir as roupas da moda) etc. Em geral, não temos consciência desse controle.
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A adivinhação de Foucault
Vou propor uma adivinhação. Apresentarei um regulamento de uma instituição que
realmente existiu nos anos 1840/45 na França, no começo, portanto, do período que estou
analisando. Darei o regulamento sem dizer se é uma fábrica, uma prisão, um hospital
psiquiátrico, um convento, uma escola, um quartel; é preciso adivinhar de que instituição se
trata. Era uma instituição onde havia 400 pessoas que não eram casadas e que deviam
levantar-se todas as manhas às 5 horas; às 5h50 deveriam ter terminado de fazer a toalete, a
cama e ter tornado o café; as 6h00 começava o trabalho obrigatório, que terminava as 20h15,
com uma hora de intervalo para o almoço; as 8h15, jantar, oração coletiva; o recolhimento aos
dormitórios era às 21h00 em ponto. O domingo era um dia especial; o artigo 5 do regulamento
dizia: "Queremos guardar o espírito que o domingo deve ter, isto é, dedicá-lo ao cumprimento
do dever religioso e ao repouso. Entretanto, como o tédio não demoraria a tornar o domingo
mais cansativo do que os outros dias da semana, deverão ser feitos exercícios diferentes, de
modo a passar esse dia cristã e alegremente"; de manhã, exercícios religiosos, em seguida
exercícios de leitura" e de escrita e finalmente recreação às últimas horas da manha; à tarde,
catecismo, às vésperas, e passeio depois das 04h00, se não fizesse frio. Caso fizesse frio,
leitura em comum.
Os exercícios religiosos e a missa não eram assistidos na igreja próxima, porque isto
permitiria aos pensionistas desse estabelecimento terem contato com o mundo exterior; assim,
para que nem mesmo a igreja fosse o lugar ou o pretexto de um contato com o mundo exterior,
os serviços religiosos tinham lugar em uma capela construída no interior do estabelecimento.
"A igreja paroquial, diz ainda este regulamento, poderia ser um ponto de contato com o mundo
e por isso uma capela foi consagrada no interior do estabelecimento". Os fiéis de fora não eram
sequer admitidos, os pensionistas só podiam sair do estabelecimento durante os passeios de
domingo, mas sempre sob a vigilância do pessoal religioso. Este pessoal vigiava os passeios,
os dormitórios e assegurava a vigilância e a exploração das oficinas. O pessoal religioso
garantia, portanto, não só o controle do trabalho e da moralidade, mas também o controle
econômico. Estes pensionistas não recebiam salários, mas um prêmio – uma soma global
estipulada entre 40 e 80 francos por ano – que somente lhes era dado no momento em que
saiam. No caso de uma pessoa de outro sexo precisar entrar no estabelecimento por razões
materiais, econômicas etc., deveria ser escolhida com o maior cuidado e permanecer por muito
pouco tempo. O silêncio lhes era imposto sob pena de expulsão. De um modo geral, os dois
princípios de organização, segundo o regulamento, eram: os pensionistas nunca deveriam
estar sozinhos no dormitório, no refeitório, na oficina, no pátio, e deveria ser evitados qualquer
mistura com o mundo exterior, devendo reinar no estabelecimento um único espírito.
Que instituição era essa? No fundo a questão não tem importância, pois poderia ser
indiferentemente qualquer uma: uma instituição para homens ou para mulheres, para jovens ou
para adultos, uma prisão, um internato, uma escola ou uma casa de correção. Não e um
hospital, pois, fala-se muito em trabalho. Também não é um quartel, pois se trabalha. Poderia
ser um hospital psiquiátrico, ou mesmo uma casa de tolerância. Na verdade, era simplesmente
uma fábrica. Uma fábrica de mulheres que existia na região de Ródano e que comportava 400
operárias.
QUESTÕES PARA ESTUDO
1. Por que as instituições descritas por Foucault proibiam os pensionistas de permanecerem
sozinhos?
2. Por que os internos não podiam se relacionar com o mundo exterior?
3. Por que os internos aceitavam regras de conduta tão violentas como algo natural?
36
Relações de poder
Por meio da análise de Foucault, e possível identificar algumas formas de controle, ou
seja, relações de poder em algumas esferas:
a) Poder sobre o corpo: o corpo não e mais propriedade das pessoas; o indivíduo
perde a relação de identidade e proximidade com seu corpo, uma vez que este se torna um
instrumento da fábrica, uma engrenagem de carro ou o espelho das tendências de moda
ditadas pela mídia.
b) Poder sobre o tempo: o tempo sempre é determinado pela instituição, nunca pelo
individuo. Numa prisão, por exemplo, há o horário certo para as refeições, para os exercícios,
para a leitura e para o sono. Na sociedade atual, o homem trabalha para poder comprar o que
quer. No entanto, todo o tempo é gasto no próprio trabalho ou para se recuperar dele, e as
pessoas acabam não conseguindo usufruir aquilo que compram.
c) Poder Judiciário: somos, a todo o momento, julga dos pelo outro. Patrões avaliam
seus empregados a fim de lhes conceder uma promoção ou simplesmente demiti-los;
professores julgam estudantes como bons ou maus alunos; pais julgam se um filho é dedicado
ou não; namoradas julgam o carinho e a atenção de seus companheiros etc.
d) Poder epistemológico (sobre o conhecimento): numa fábrica, o funcionário que
melhor produz é considerado um modelo de saber para a empresa. De certo modo, o poder
judiciário se faz presente aqui, pois, avaliando os diversos comportamentos dos indivíduos,
cria-se um padrão de como controla-os. Por exemplo, uma criança sabe que o pai só vai
comprar o brinquedo desejado, se ela pedir de determinada maneira, segundo uma técnica
utilizada antes.
Poder e história
O livro 1984, de George Orwell, que posteriormente virou um filme, não se refere
exatamente ao ano de 1984 do nosso calendário, mas a uma época qualquer. Embora seja
uma ficção, vale questionar se o cenário nela descrito esta ainda por vir ou já existe. Orwell não
se preocupa em descrever um tempo especifico, tampouco em fazer uma profecia; ele
descreve uma realidade possível em qualquer época, inclusive agora. Ele fala, por exemplo,
em teletelas, que seriam aparelhos capazes de transmitir imagens, como uma TV, e gravar
como uma câmera. Ora, isso certamente soa familiar para o cidadão do século XXI, já
acostumado a avisos como "Sorria, você esta sendo filmado!" e aos reality shows.
Esse controle do visível esta aliado ao controle da memória. O personagem principal,
Winston, tem um emprego peculiar: ele "atualiza" notícias. Mas sua função não é relatar os
últimos acontecimentos, e sim tornar o passado coerente em relação aos fatos recentes; quem
controla esse processo é o Partido chefiado pelo Grande Irmão – em inglês, Big Brother. Não
se podia garantir a veracidade dos fatos, pois eles eram constantemente modificados. Por isso,
não faz sentido perguntar se o ano a que se refere o livro é exatamente 1984, pois nem os
personagens tinham essa certeza. Esse tipo de manipulação (alteração de documentos e
interpretações tendenciosas) foi amplamente utilizado ao longo da história, por exemplo, pela
antiga União Soviética, pelos EUA, pelo governo Getúlio Vargas e pelos presidentes do regime
militar brasileiro.
"Quem controla o passado", dizia o lema do Partido, "controla o futuro; quem controla o
presente controla o passado". E, no entanto o passado, conquanto de natureza alterável, nunca
fora alterado. O que agora era verdade era verdade do sempre ao sempre. Era bem simples.
Bastava apenas uma série infinda de vitorias sobre a memória.
O passado, refletiu, não apenas fora alterado, fora efetivamente destruído. Por que,
como estabelecer até mesmo o fato mais patente, se não havia dele registro, além do da
memoria?
ORWELL, G. 1984. P. 36.
37
1.2 Formas de governo
O bem como finalidade do homem
De acordo com Aristóteles, na obra Ética a Nicômaco, "toda arte e toda indagação,
assim como toda ação e todo propósito, visam a algum bem". Essa ideia é extremamente
importante para a compreensão dos significados de ética e política. Essas duas noções nunca
podem ser pensadas separadamente, pois são interdependentes. O termo ética remete ao
dever, a responsabilidade para com o outro. E política se refere à ideia de bem comum, aquilo
que é bom para a comunidade (o bairro, a cidade, o país ou o mundo). Pensar o bem é
considerar tanto minha responsabilidade em concretizá-lo (ética) quanto a relação de minhas
atitudes com o restante das pessoas (política),
Mas se todos os homens visam ao bem, por que ele não prevalece em relação às
injustiças, a violência e a corrupção? A resposta de Aristóteles é muito simples: Porque é difícil
estabelecer o que é o bem em cada situação específica. Para o filósofo, isso só e possível
mediante o desenvolvimento de uma virtude em especial: a prudência (phronesis), também
chamada discernimento.
Segundo Aristóteles, o homem é um animal político. Nossos atos são políticos porque
se orientam para aquilo que a comunidade almeja, ou seja, o bem comum. Nesse ponto, o
pensamento de Aristóteles assemelha-se ao de Michel Foucault. Mas a dificuldade esta em
discernir o que é esse bem e como atingi-lo. Para Aristóteles, só quem tem discernimento pode
governar. Enquanto Foucault pensava a política como algo relacionado a todas as atitudes
humanas e, portanto, urgente, Aristóteles a via não ligada às relações cotidianas, mas às
instituições públicas de governo. Para o filósofo grego, a política não pode ser exercida por e
nem para quaisquer pessoas, Pois exige que tanto os governantes quanto governados
desenvolvam a prudência, ou seja, o bem comum só surge da ética e do desenvolvimento
dessa virtude. Segundo Aristóteles, todas as ações humanas têm conotação política, mas nem
todas levam ao bem comum.
FORMAS DE GOVERNO: VÁRIOS CAMINHOS PARA ATINGIR O BEM COMUM
No livro A República, Platão faz uma análise das formas do governo tendo em vista o
regime ideal. Seguem os argumentos do filósofo para demonstrar como essas formas podem
facilmente se degenerar e se transformar em governos cada vez mais injustos.
Timocracia: governo pautado pela honra. Esta relacionado à Esparta e tem como
característica principal a busca pela glória. A falha esta em privilegiar a força e a guerra, e não
abrir espaço para qualquer outra atividade. Artesãos, filósofos e artistas, por exemplo, não
teriam lugar nesse sistema.
Oligarquia: governo de poucos. Numa timocracia, a busca pela honra por meio da força
em algum momento chega ao fim. As riquezas acumulam-se nas mãos de poucos, e a
timocracia se degenera em oligarquia. Num governo desse tipo, é fácil perceber a divisão entre
ricos e pobres, e o lucro sobrepõe-se a atributos mais nobres do ser humano, como sabedoria
e justiça.
Democracia: havendo duas classes econômicas bem distintas, os mais pobres tendem
a organizar uma revolução para instituir um governo que beneficie a todos. Assim, a oligarquia
se transforma em democracia, mas esse sistema também apresenta problemas. A descrição
platônica de democracia corresponde ao que atualmente conhecemos como anarquia, ou seja,
uma comunidade sem governo. A relação entre esses dois regimes será analisada mais
adiante. Por ora, basta saber que a democracia, baseada em noções como liberdade e povo,
pode instituir um governo demagógico. Na democracia existe igualdade entre os indivíduos, e
estes gozam de plena liberdade, podendo orientar-se de acordo com a própria vontade, sem
ter que obedecer a nenhuma disciplina. Essa situação propicia o aparecimento de sujeitos
dispostos a organizar a confusão causada pela falta de ordem, afirmando ser o representante
legítimo dos verdadeiros interesses do povo (demagogia). É então que se instaura a tirania.
Tirania: o tirano aproveita a desorganização para se apresentar como "salvador da
pária". Assim como a timocracia e a oligarquia, a tirania também se caracteriza pela existência
de uma grande ambição, não por honra ou riquezas, mas pelo poder em si. Para conservá-lo, o
tirano isola-se do resto da população e não constrói relações de amizade com ninguém, pois
seu apego ao poder e tão grande, que desconfia de todos a sua volta. Um tirano contrata
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mercenários para fazer sua guarda e não se preocupa com os interesses do povo, apenas com
os próprios. Platão qualifica essa forma de governo como inteiramente injusta.
DEMOCRACIA GREGA COMO EXEMPLO DE ORGANIZAÇÃO POLÍTICA
O texto a seguir foi escrito por Sir Ernest Barker, no livro Teoria Política Grega. O autor
analisa a relação entre a democracia apresentada por Platão e a anarquia. Nessa análise,
Barker inicia citando Percy Bysshe Shelley, para quem o homem, na anarquia, é:
'Sem bandeira, livre, não-jurisdicionado,
mas Homem:
Igual, sem classe ou tribo ou nação;
Isento de reverência, rito grau: Rei
de si mesmo'.
Mas isto não é o que significa a democracia, hoje ou na Grécia Antiga; o governo da
comunidade pela vontade da própria comunidade manifestada sob a forma de opinião coletiva,
livre e soberana. É uma forma de governo que se pode aproximar da anarquia, em certas
circunstâncias; mas que também pode, em outras circunstâncias (mais prováveis), ser o oposto
da anarquia. Assim, ela poderá ordenar a vida do indivíduo, sob muitos aspectos, em favor de
um ideal (ou tipo social), se a vontade comum estabelecer firmemente muitas facetas de
atividade social. Por outro lado, se esta vontade coletiva não se manifestar articulada e
coerentemente e se omitir da ordenação de aspectos importantes da sociedade, teremos a
negação do governo e a anarquia. Tudo depende da medida em que se tenha chegado a um
processo adequado de formulação da opinião coletiva; a um ideal social formulado por aquele
processo; e a uma vontade comum dirigida para a realização do referido ideal. Se
examinarmos a democracia da Antiga Grécia, veremos em Péricles (que talvez seja melhor
guia do que Platão para descrever os ideais do Estado que governou) que a democracia
ateniense tinha um tipo social, e que havia uma vontade coletiva a promover a sua realização.
Quanto a democracia dos nossos dias, é significativo que os seus opositores, seguindo
argumentação oposta a de Platão, critiquem sua tendência a uniformidade; para limitar, pela
pressão da opinião pública, a manifestação criativa de variações que, segundo esses críticos,
seria mais favorecida pelo governo aristocrático.
BARKER, E. Teoria política grega. Brasília: Universidade de Brasília, 1978 .
Estrutura da democracia grega
A democracia grega abrange o período de alguns séculos, nem sempre contínuos, que
se estendem desde as primeiras reformas políticas de Sólon até o auge com o governo de
Péricles. Os princípios norteadores da organização dos estados políticos e da ação
democrática grega são três: isonomia, isocracia e isegonia. Isonomia significa igualdade na
aplicação da lei (deveres); isocracia se refere à igualdade de poderes (direitos); isegonia diz
respeito à garantia de uma participação igualitária na cidade-estado.
Uma questão que surge em relação a eles é a dificuldade de implementá-los
atualmente. Não se pode comparar a estrutura política de uma cidade-estado grega com a de
um estado político atual. Além disso, os gregos realmente exerciam sua cidadania e
reivindicavam seus direitos, enquanto hoje as pessoas se contentam em apenas votar
periodicamente. Vale questionar se ainda é possível manter o mesmo sentido de democracia
dos gregos, ou se a chamada democracia contemporânea se distanciou tanto da original que
sequer podemos pensá-las como a mesma coisa.
Democracia na Revolução Francesa
A noção atual de democracia esta bastante relacionada a Revolução Francesa, que foi
levada a cabo por causa da influencia de alguns fil6sofos, dentre eles, Jean-Jacques
Rousseau. Ele defendia a tese de que um governo deveria guiar-se não por interesses
particulares, mas pela vontade geral, e isso se traduziu nos ideais de igualdade, liberdade e
fraternidade. Os princípios da democracia grega transformaram-se e, a partir de então, valores
éticos passaram a constituir o estado político.
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Desafios contemporâneos sobre a democracia: o problema da diferença
Como vimos anteriormente, a democracia não é algo que se apresente de forma pronta.
É preciso conquistá-la, tentando sempre manter sua essência frente às dificuldades. Uma das
dificuldades da democracia é o fato de esse regime permitir a um indivíduo proclamar-se o
representante legítimo do povo, quando esta pensando unicamente nos próprios interesses
(lembre-se de Platão e sua análise das formas de governo). A prática de falar em nome do
povo pensando no benefício próprio é denominada demagogia. Os regimes demagógicos
utilizam a mídia para construir imagem confiável e estabelecer empatia com o povo. O governo
de Getúlio Vargas, por exemplo, ficou conhecido como populista e demagógico, pois buscava o
apoio do povo por meio de obras de grande apelo popular que, no entanto, não diminuíam a
miséria no país.
Outra dificuldade dos regimes democráticos esta no fato de o povo, em sua maioria,
comportar-se de maneira uniforme e indiferenciada. Os regimes comunistas ou socialistas
cerceavam a liberdade humana em nome dos interesses do partido, que deveria representar a
vontade de todos. No entanto, muitas vezes, o desejo da maioria pode exprimir injustiças. Na
Alemanha nazista, por exemplo, a grande massa era guiada pelo racismo e pela ideia de
superioridade de uma raça em relação às outras. Nesses casos, a minoria é Sufocada pelos
interesses da maioria. A grande questão da democracia é: uma vez que prevaleça a vontade
da maioria, como não haver injustiça, se existe uma minoria sem voz ativa?
O problema da diferença tornou-se objeto de questionamento de vários filósofos no
século XX, dentre os quais se destacam Jacques Derrida e Emmanuel Lévinas. Ambos
procuram abordar as situações de exceção, ou seja, pensar o ser humano como um indivíduo
que precisa ser considerado em sua singularidade, e não segundo as tendências democráticas,
que acabam por ignorar o pensamento e a atitude individual (o diferente), na medida em que
privilegiam o pensamento do coletivo (o mesmo).
QUESTÕES PARA ESTUDO
1. O risco da demagogia se instalar num regime democrático é muito grande. Quais as saídas
para esse problema?
2. No capítulo anterior, enfatizamos o caráter urgente da política. Por comodismo, algumas
pessoas concordam com o regime democrático apenas para não ter que agir ou interferir na
realidade a sua volta; alienam-se e cedem a maioria o controle de suas vidas. Você conhece
pessoas com essa mentalidade? Caso conheça, o que é preciso para modificar essa
situação?
3. Como e possível haver espaço para o individual num regime em que prevalece a opinião do
coletivo?
1.3 Capitalismo
Primórdios do capitalismo: reforma e mercantilismo
Discute-se muito sobre as origens do capitalismo. Alguns teóricos assinalam seu início
quando o homem aprendeu a organizar-se em comunidades e passou a relacionar-se com o
outro, trocando produtos. Outros argumentam que esse sistema, tal como o conhecemos
atualmente, teve origem no mercantilismo e na Reforma Protestante.
O mercantilismo surgiu no século XVI e resultou da união de teoria e prática
econômicas. Nessa época, promoviam-se grandes navegações com o objetivo de buscar
metais preciosos e especiarias, pois quanto mais riquezas um país acumulasse, mais poder ele
teria.
A reforma foi um movimento bastante heterogêneo, compreendendo correntes como o
luteranismo e o calvinismo. Neste ultimo, houve a associação entre o acúmulo de riquezas e a
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salvação religiosa. Para os calvinistas, o sucesso financeiro era sinônimo de redenção.
Governo e religião incitavam as pessoas a ser economicamente bem sucedidas. O capitalismo
herdou algumas características desses momentos históricos, as quais contribuíram para que o
capital se tornasse o centro das relações humanas.
Relações humanas após a Revolução Industrial
As relações humanas se modificaram após a Revolução Industrial do século XVIII.
Como passou a existir muita mão-de-obra e poucos suprimentos, as pessoas submetiam-se a
qualquer tipo de trabalho para conseguir alguma renda. Países que estavam na ponta do
desenvolvimento tecnológico, como Inglaterra e França, apresentavam, contraditoriamente,
uma grande parcela da população a beira da miséria, sem condições de uma vida digna.
As pessoas dedicavam a maior parte de suas horas livres ao trabalho nas fábricas, pois
ansiavam pelo pagamento no final do mês, e quanto mais trabalhassem, mais receberiam,
envolvendo-se, assim, num processo do qual não conseguiam mais desvencilhar-se. Conforme
vimos no capítulo sobre o poder, esse tipo de relação econômica envolve uma série de
questões referentes ao modo de vida pós-Revolução Industrial. O indivíduo é controlado em
vários aspectos. Seu tempo, sua postura corporal, as roupas que veste – tudo passa a ser
determinado pela fábrica. Foucault chama isso de controle do corpo.
Por que as pessoas se submetiam, e ainda se submetem, a relações tão injustas? O
filósofo Karl Marx respondeu a essa questão analisando a noção de capital. O homem cede
seu tempo, seu saber, seu corpo, enfim aquilo que Marx chama de mão-de-obra em troca do
capital. Este, inicialmente deveria ser usado para satisfazer as necessidades mais básicas,
mas se modificou e, ao longo do desenvolvimento do capitalismo, alterou a própria noção de
necessidade. As carências de uma família pobre são muito claras e simples: alimentação,
emprego, habitação, assistência médica e escola gratuita. No entanto, à medida que o
capitalismo se torna mais forte numa sociedade, as necessidades das pessoas aumentam de
acordo com os novos produtos que surgem. Uma família que, a muito custo, consegue comprar
um carro, precisa então, trabalhar ainda mais para adquirir um modelo mais novo ou mais um
veículo, pois os desejos passam a ser outros.
O homem pós-Revolução Industrial caracteriza-se pela submissão a qualquer situação
em troca de um salário, que nunca é suficiente, pois cada vez surgem mais necessidades.
Esse é o mecanismo de subsistência do capitalismo.
Marxismo e socialismo como contraponto ao capitalismo
Conforme vimos anteriormente, junto com as indústrias surgiram situações de opressão
e injustiça nas relações de trabalho; no entanto, apareceram também movimentos de cunho
social que buscavam organizar politicamente os trabalhadores. O anarquismo e o socialismo
caracterizaram esse momento. É preciso ressaltar que esses movimentos sociais eram
bastante diversificados, de modo que dois anarquistas poderiam divergir em vários pontos,
embora defendessem a mesma bandeira. De modo geral, o anarquismo opunha-se a
submissão do povo a um único poder ou governo.
O socialismo, por outro lado, não buscava a negação do governo, mas sua
transformação, bem como das relações sociais e políticas vigentes. Usualmente, o socialismo é
dividido em utópico e científico. O socialismo científico, cujo expoente e Karl Marx, vê a
mudança na esfera econômica como condição para transformações políticas e sociais. Para
ele, enquanto a sociedade estiver organizada em torno do capital e da rotina que ele instaura,
não pode haver progresso social algum.
Karl Marx buscava uma sociedade mais igualitária e justa, em que o proletariado, ou
seja, a massa trabalhadora reteria o produto da sua atividade. No capitalismo, quem colhe os
frutos do trabalho proletário é o burguês, ou seja, aquele que detém o capital. O socialismo
dissolveria essa contraposição entre burguês e proletário ao eliminar a noção de capital.
É preciso, entretanto, evitar assumir um posicionamento precipitado em relação a
qualquer um dos dois sistemas, pois ambos têm aspectos positivos e negativos. Os defensores
do capitalismo podem argumentar que ele preza a liberdade, e que o cidadão tem o direito de
se tornar o que quiser por meio do próprio esforço e trabalho. Embora existam algumas
injustiças, eles acreditam que bastam alguns ajustes para que as relações econômicas
melhorem.
41
O socialismo, por sua vez, sofreu diversas críticas sempre que colocado em prática. Na
antiga União Soviética, vários cidadãos desertavam para países capitalistas, a fim de se tornar
livres. Governos ditatoriais cometiam abusos em nome do povo e, no aspecto econômico, as
empresas nacionais não conseguiam ser suficientemente competitivas diante da crescente
onda de globalização.
Elementos de controle do capital
De acordo com vários filósofos do século XX, da chamada Escola de Frankfurt, como
Theodor. Adorno, Max Horkheimer, Walter Benjamin e Herbert Marcuse o capitalismo mantemse por meio de mecanismos de alienação que visam a minar qualquer mudança na realidade
social. Esta só pode ser transformada se os Indivíduos se conscientizarem do papel que
exercem no contexto em que vivem. Além da forte influência da mídia no comportamento e no
pensamento das pessoas, é importante destacar o sistema que sustenta as relações de
trabalho próprias da ideologia capitalista. Os indivíduos não podem apropriar-se de sua
realidade, pois existem meios muito sutis que os mantem constantemente presos à rotina da
qual não conseguem escapar. Um trabalhador não tem como atitude imediata a busca da
transformação social, porque cumpre uma jornada de trabalho exaustiva e, quando chega em
casa, o tempo restante é gasto em descanso, para que possa trabalhar novamente. Os finais
de semana são reservados para usufruir daquilo que o dinheiro lhe permite. Ora, o que se
perde aqui? O caráter verdadeiramente político do homem, que se aliena de sua realidade
política e social, porque não há tempo para pensar nela.
Herbert Marcuse relaciona a alienação promovida pelo capitalismo com a questão do
prazer. O homem busca a satisfação e, para isso, trabalha. Entretanto, essa satisfação nunca é
alcançada. Esse adiamento ocorre porque, no mundo do capital, as relações sociais se
modificaram a tal ponto, que o prazer passou a ser sinônimo de propriedade. Porém as
pessoas nunca se contentam, pois logo que obtém o objeto almejado, passam a desejar outro,
numa busca incessante da satisfação por meio do consumo. Dessa forma, Marcuse associa a
estrutura do capitalismo com a psicanalise de Sigmund Freud.
Globalização e capitalismo
O capitalismo se sofisticou com o fenômeno da globalização. Na medida em que as
culturas e, principalmente, as economias de diversos países estão interligadas, os indivíduos
acabam sofrendo interferência dos problemas econômicos de lugares distantes. Uma queda na
bolsa de valores num país asiático pode desencadear perda de investimentos em vários outros
locais. Se há prejuízo, normalmente um dos primeiros produtos cujo preço sobe é a gasolina, e
isso causa aumento generalizado de preços, pois o custo de transporte de outros produtos
também se eleva.
No mundo globalizado, alguns órgãos econômicos tem muito mais poder que
determinados países. O Banco Mundial pode, por exemplo, por meio de uma declaração ou
de um empréstimo, acalmar ou incendiar a economia de um país, causando aumento de
exportações ou demissões em massa.
Decisões políticas ou sociais tomadas no exterior também influenciam nossas vidas. O
fato de um país estrangeiro ter problemas nas eleições, uma declaração presidencial
equivocada, a invasão de um país ou um atentado terrorista interferem em nosso cotidiano.
QUESTÕES
QUESTÕES PAS ESTUDO
1. Relacione o capitalismo com a busca pelo prazer.
2. De que forma o capitalismo pode manter alguém alienado? Exemplifique por meio de uma
situação cotidiana.
3. A alienação acontece exclusivamente no capitalismo ou também em outras formas de
organização político-econômica, como no socialismo, por exemplo?
4. A ideologia capitalista afirma que tudo tem um preço e, portanto, tudo é visto como
mercadoria. Confirme isso por meio de três exemplos práticos.
42
2 DESIGUALDADE SOCIAL E IDEOLOGIA
O objetivo desta unidade é compreender as questões associadas à condição de
pobreza material, do ponto de vista da emancipação humana e por meio da reflexão filosófica.
Esse tema também é abordado em Sociologia, especialmente no campo da discussão sobre
desigualdade social, mas a Filosofia pode auxiliar no aprofundamento da colocação de
algumas questões, como: Por que a maioria das pessoas vive em condições precárias? A que
se deve a permanência dessas pessoas nessa situação?
De início vamos tocar em duas questões de natureza filosófica, uma vez que estas são
amplas e ao mesmo tempo fundamentais para a reflexão deste tema:
1. O que é ser pobre? Ou, perguntando de outro modo, quais as características de uma vida
materialmente pobre?
2. Por que grande parte dos brasileiros é pobre e parece aceitar isso como natural? Quais as
hipóteses que podem ser apresentadas para responder a esta questão?
Leitura e Análise de Texto
A ORIGEM DA DESIGUALDADE ENTRE OS HOMENS
“[...] Efetivamente, é fácil ver que, entre as diferenças que distinguem os homens,
muitas passam por naturais, quando são, unicamente, a obra do hábito e dos diversos
gêneros de vida adotados pelos homens na sociedade. Assim, um temperamento robusto
ou delicado, a força ou a fraqueza que disso dependem vêm muitas vezes mais da
maneira dura ou efeminada pela qual foi educado do que da constituição primitiva dos
corpos. Acontece o mesmo com as forças do espírito, e a educação não só estabelece
diferença entre os espíritos cultivados e os que não o são, como aumenta a que se acha
entre os primeiros à proporção da cultura; com efeito, quando um gigante e um anão
marcham na mesma estrada, cada passo representa nova vantagem para o gigante. Ora,
se se comparar a diversidade prodigiosa do estado civil com a simplicidade e a
uniformidade da vida animal e selvagem, em que todos se nutrem dos mesmos alimentos,
vivem da mesma maneira e fazem exatamente as mesmas coisas, compreender-se-á
quanto a diferença de homem para homem deve ser menor no estado de natureza do que
no de sociedade; e quanto a desigualdade natural deve aumentar na espécie humana
pela desigualdade de instituição. [...]”
ROUSSEAU, Jean-Jacques. Discurso sobre a origem da desigualdade entre os homens. Disponível em:
<http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=2284>. Acesso em: 25 jan.
2008.
1. Para Rousseau, qual é a importância da educação?
2. Qual a sua atitude pessoal em relação à educação.
43
Leitura e Análise de Texto
ETNOCENTRISMO, RELATIVISMO E ALTERIDADE
“Etnocentrismo é uma visão do mundo na qual o nosso próprio grupo é tomado
como centro de tudo e todos os outros são pensados e sentidos por meio dos nossos
valores, nossos modelos, nossas definições do que é a existência. No plano intelectual,
pode ser visto como a dificuldade de pensarmos a diferença; no plano afetivo, como
sentimentos de estranheza, medo, hostilidade etc. Perguntar sobre o que é
etnocentrismo é, pois, indagar sobre um fenômeno em que se misturam tanto elementos
intelectuais e racionais quanto elementos emocionais e afetivos. No etnocentrismo,
esses dois planos do espírito humano – sentimento e pensamento – vão juntos
compondo um fenômeno não apenas fortemente arraigado na história das sociedades
como também facilmente encontrável no dia-a-dia das nossas vidas.”
ROCHA, Everardo P. Guimarães. O que é etnocentrismo.
São Paulo: Brasiliense, 1988. (Coleção Primeiros Passos).
Existem diversas culturas, já que existem diversas maneiras de agir e de interpretar o
mundo, dando sentido às coisas. Essas culturas mantêm contato entre si, mas nem sempre
esse contato é algo de que todos saem ganhando, porque muitas culturas se sentem
superiores a outras, o que implica diversas maneiras de ver o mundo.
Quando um grupo se acha superior a outro, no sentido cultural, chamamos a isso
etnocentrismo. Todas as vezes em que há uma ação etnocêntrica, deflagram-se várias formas
de violência. Por causa do etnocentrismo, por exemplo, os europeus se sentiram superiores
aos povos americanos e africanos, submetendo-os à escravidão e à pilhagem e impondo-lhes
sua cultura, em especial a religião. Além disso, internamente, cada país tem muitas culturas,
havendo, também, várias religiões.
A principal área de conhecimento que estuda outras culturas chama-se Antropologia.
Por ela, aprendemos não apenas o que é o etnocentrismo, mas a importância de pensar o
outro como diferente de nós, como alguém que tem muito a ensinar e muito a aprender
conosco. Para que isso ocorra e reduzam-se as tensões entre diferentes culturas, temos de dar
o passo mais importante, na direção do relativismo.
O que chamamos de relativismo é a ideia de que todos os valores são criados em meio
ao processo cultural das sociedades. Por isso, todo julgamento que fazemos decorre de nossa
cultura, e assim como cada um vê o outro de uma forma, nós também somos vistos e
considerados com base em nossa própria cultura.
Agora, é hora de perceber a diferença entre opinião e cultura. Opinião é uma fala
pessoal, enquanto a cultura precede as opiniões e é partilhada por um grupo de pessoas.
Depois de tudo isso, podemos perguntar, então, qual é a melhor cultura? É possível
haver uma cultura melhor do que as outras? Para que fosse possível responder e apontar uma
cultura superior, teríamos de assumir uma postura etnocêntrica.
Atualmente, é comum ouvir que algumas culturas são tecnologicamente mais
desenvolvidas do que aquelas industrializadas e rurais, apontando-se as primeiras como
melhores. No entanto, pode-se perguntar: o que é mais importante, ter tecnologia ou ter
igualdade de fato?
Outro problema importante surge quando nos colocamos uma questão simples: como
agir, em relação aos outros? A maneira mais recomendada é pela alteridade, isto é, pela
valorização de tudo aquilo que é do outro e diferente de nós.
44
Leitura e Análise de Texto
Ser pobre e, principalmente, ter acesso precário ou viver privado de bens materiais e
culturais que permitam o desenvolvimento integral do ser humano. Entre as condições
materiais, sobretudo nos centros urbanos, podemos destacar a renda, a alimentação, a
moradia, o transporte, a saúde e o trabalho. Os aspectos culturais abrangem, principalmente,
as condições de acesso e permanência em escolas nas quais os alunos aprendam de fato e a
participação nas atividades culturais próprias de cada sociedade. Em geral, os especialistas
estabelecem os níveis de pobreza baseados em alguns cálculos.
O Banco Mundial propõe a seguinte conta: soma-se a renda da família, divide-se o
total pelo número de familiares e, depois, por 30 (os dias do mês). Finalmente, divide-se o
resultado pelo valor do dólar. Quem não alcançar a renda de um dólar por dia esta abaixo da
linha de pobreza. Vejamos a fórmula:
[(Renda mensal -:- nº de familiares) -:- 30 dias] -:- valor do dólar = renda por pessoa/dia.
Alguns programas governamentais também apresentam proposta de cálculo ou
de critérios para delimitar o que é faixa de pobreza. Segundo um dos chamados Programas
de Renda Mínima, definiu-se que serão beneficiadas famílias em situação de pobreza com
renda mensal por pessoa na faixa de 70 a 140 reais e famílias em situação de extrema
pobreza, quando a renda individual é menor que 70 reais. Por exemplo: se na família de seu
Marcelo a renda mensal, somando rodos os ganhos, consolida-se em 340 reais, dividimos esse
valor pelo número de moradores da casa: no caso 5 (340 -:- 5 = 68). De acordo com esses
cálculos, portanto, a família de seu Marcelo esta posicionada abaixo da linha do índice de
pobreza.
Pode-se observar que, segundo critério do Banco Mundial, a família de seu Marcelo é
"apenas" pobre, enquanto para o programa de renda mínima ela esta em situação de extrema
pobreza. Por isso, muitos especialistas procuram meios multidimensionais para determinar o
nível de pobreza de uma pessoa ou de uma família.
Tomando-se por base a renda, verificamos que a família do seu Marcelo foi apontada
tanto como pobre (primeiro índice) quanto como se estivesse abaixo da linha de pobreza
(segundo índice). Vejamos, agora, como o acesso que essa família tem a algumas
necessidades básicas, como, por exemplo, alimentação adequada, serviços de saúde,
educação, trabalho, acaba refletindo-se nos fatores que compõem o índice de
Desenvolvimento Humano – o IDH, medido por três indicadores: o econômico - a renda per
capita; o de saúde – a expectativa de vida ao nascer, pois se parte do princípio de que se vive
mais quando se tem mais saúde; e o de educação – baseado nas taxas de analfabetismo e de
matriculas em todos os níveis de ensino.
Nesse caso, não se pode tomar o caso isolado da família de seu Marcelo, mas o
conjunto de famílias de todo o município, pois o IDH é um indicador que mede o nível de
desenvolvimento humano de grupos de pessoas de determinadas regiões geográficas, como
municípios, Estados e países.
O IDH pode variar de 0 a 1, e, quanto mais próximo de 1, maior o IDH. Municípios ou
grupos com nível mais alto de desenvolvimento são aqueles nos quais:
•
a expectativa de vida ao nascer é alta, isto é, em media superior a 70 anos de
idade;
•
as taxas de analfabetismo são baixas e há um número significativo de matrículas
em todos os níveis de ensino.
•
a renda per capita e alta.
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O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) considera o fator
moradia como um dos critérios para dizer se uma pessoa é pobre ou não. Nesse caso, o
PNUD verifica se há água encanada e rede de esgoto, luz elétrica, banheiro, telefone, carro,
televisão, computador; se na casa, vivem, no Máximo, duas pessoas por quarto; se ela é
própria (documentada) ou alugada; e se a ocupação é desordenada. As ocupações urbanas
não regularizadas, como favelas e cortiços, são indicadores bastante evidentes de pobreza.
Outro critério é o da saúde: Há pessoas doentes na família? Como a família tem acesso
a médicos e enfermeiros? No atendimento médico, qual o tamanho da fila e quanto tempo se
leva para fazer um exame? O atendimento é prestado próximo a casa? Quando a locomoção é
impossível, quanto tempo demora o atendimento? Qual é o gasto com medicamentos? A
alimentação ajuda na manutenção da saúde? O tipo de trabalho prejudica a saúde? Para o
PNUD, associa-se a saúde o critério educação. A família apresenta algum nível de
escolarização? Quantas vezes as pessoas da família faltam a aula? E o desempenho escolar é
positivo ou não?
Sobre a renda, o PNUD investiga se as crianças e adolescentes são obrigados a
trabalhar para ajudar nas despesas da família, já que o fato de as crianças trabalharem é sinal
claro de pobreza, pois elas devem, principalmente, estudar e brincar, enquanto os
adolescentes devem estudar e se preparar para uma profissão, além de participar de
atividades artísticas e esportivas. Pergunta-se, também, se a renda mensal per capita da
família e maior que meio salário mínimo e se o grupo familiar recebe ajuda em dinheiro do
governo.
Agora vamos refletir sobre as causas da pobreza.
É comum ouvir-se que a pobreza deriva da falta de estudos ou da falta de emprego.
Mas o rigor filosófico exige que perguntemos, ainda: seriam estas as causas da pobreza, no
caso do Brasil e de outros países? Algumas pessoas que nunca foram a escola são bemsucedidas comercialmente ou no esporte, ou, ainda, como artistas. Outras existem, poucas, é
claro, que nunca trabalharam e vivem de herança ou do sustento de quem trabalha. De modo
que a falta de estudo e a falta de emprego não são causas válidas para explicar a pobreza em
todos os casos, pois estas aparecem algumas vezes associadas a pessoas que não são
pobres. Além disso, um grande número de pessoas que trabalham e que puderam estudar vive
também em condições de pobreza, segundo qualquer critério adotado.
A situação de pobreza decorre de distribuição injusta de renda, em que poucos
concentram a maior parte da riqueza de um país e a grande maioria não tem acesso aos bens
materiais.
Superar ou eliminar a pobreza não é algo possível de acontecer, simplesmente, por
meio da educação e do trabalho, mas pode ser resultado de políticas sociais decorrentes de
maior participação de todos na vida política e econômica.
“Texto elaborado especialmente para o programa São Paulo faz escola do Governo do Estado de São. Paulo.”
1. Considerando os critérios apresentados no texto para a delimitação do que é pobreza,
descreva uma região de sua cidade ou bairro e discuta se a maioria de sua população vive
em estado de pobreza ou não.
2. Qual a importância de frequentar a escola e estudar, tendo em vista o argumento de que a
falta de estudos não é causa exclusiva da pobreza?
3. Nas aulas de Geografia e de Sociologia, você constrói saberes que auxiliam a compreender
não apenas as causas, mas as soluções para o problema da pobreza no Brasil e no mundo.
Faça uma pesquisa em seus cadernos destas disciplinas e registre em folha avulsa as
causas e as formas de diminuir a pobreza no Brasil.
4. Quais os critérios adotados por diferentes organismos associados a política de superação de
pobreza?
5. Qual a causa mais importante para a existência da pobreza?
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Leitura e Análise de Texto
O Capital
O valor da força de trabalho era determinado não apenas pelo tempo de trabalho
necessário para manter um trabalhador adulto individualmente, mas também pelo tempo
necessário para manter sua família.
O maquinário, ao jogar todos os membros dessa família no mercado de trabalho,
expande o valor da força de trabalho do homem para toda a sua família, depreciando, assim,
sua força de trabalho.
Comprar a força de trabalho de uma família de quatro operários custa, talvez, mais caro
do que comprar a força de trabalho do chefe de família no passado, mas, em compensação,
quatro dias de trabalho substituem o de um dia, e seu preço cai em proporção ao excedente de
trabalho de quatro do que em relação ao excedente de trabalho de um operário. Para que a
família possa viver, quatro pessoas precisam agora não apenas trabalhar, mas consumir
trabalho excedente para o capitalista. Vemos assim que o maquinário, ao aumentar o material
humano que forma o principal objeto da força exploradora do capital, ao mesmo tempo eleva o
grau de exploração.
MARX, Karl. Capital: A crítica à política econômica - v.1. p. 431-32. Tradução: Maria Eloisa Pires Tavares.
Disponível
em:<http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DeralheObraForm.do?seleccaction=&co_obra=3498>.
Acesso em: 31 ago. 2009.
1. De que forma o maquinário pode aprofundar ou ampliar a exploração?
Nesta unidade, temos como referência o conceito marxista de ideologia.
Segundo Karl Marx, ideologia é um sistema de ideias e conceitos que corresponde aos
interesses de uma classe social, mesmo que muitos indivíduos desta classe não se
identifiquem ou não tenham consciência sobre este sistema. A ideologia, para este autor,
decorre da posição que determinada classe ocupa em uma sociedade, uma vez que esta
posição constitui o contexto no qual os indivíduos elaboram seus discursos explicativos sobre
esta mesma posição. Indivíduos de uma classe privilegiada tendem a elaborar pensamentos e
discursos que justificam sua superioridade econômica em relação aos não privilegiados. Dessa
forma, um conjunto de ideias ajuda a preservar a organização social de acordo com interesse
da classe social dominante. Marx entendia ainda que a ideologia constituía uma consciência
especial sobre o real, com ideias que tendem a impor como universais os valores de apenas
uma parcela da população, no caso a classe dominante. Tendem também a distorcer as
relações de dominação de uma classe sobre as outras, negando tal dominação e justificando a
diferença de classes como processo natural que não exige ser questionado.
2.1 Aprofundando a reflexão sobre a palavra “ideologia”.
Como a referência aqui apresentada é de apenas um autor, o rigor filosófico recomenda
que vejamos outros significados da palavra ideologia, assim como sua origem histórica.
Ideologia é um termo que possui diferentes significados e duas concepções: a neutra e
a crítica. No senso comum o termo ideologia é sinônimo ao termo ideário, contendo o sentido
neutro de conjunto de ideias, de pensamentos, de doutrinas ou de visões de mundo de um
indivíduo ou de um grupo, orientado para suas ações sociais e, principalmente, políticas. Para
autores que utilizam o termo sob uma concepção crítica, ideologia pode ser considerado um
instrumento de dominação que age por meio de convencimento (persuasão ou dissuasão, mas
não por meio da força física) de forma prescritiva, alienando a consciência humana.
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A origem do termo ocorreu com, Antoine-Louis-Claude Destutt, o conde de Tracy
(Paris, 20 de julho de 1754 — Paris, 10 de março de 1836) que criou a palavra e lhe deu o
primeiro de seus significados: ciência das idéias. Posteriormente, concluíram que esta palavra
ganharia um sentido novo quando Napoleão chamou De Tracy e seus seguidores de
"ideólogos" no sentido de "deformadores da realidade". No entanto, os pensadores da
Antiguidade Clássica e da Idade Média já entendiam ideologia como o conjunto de idéias e
opiniões de uma sociedade.
QUESTÕES
QUESTÕES PARA ESTUDO
Para aprofundar ainda mais a reflexão deste tema, pesquise imagens e notícias que
caracterizem a desigualdade social e, também, analise imagens publicitárias em cujas
características pode-se observar o discurso ideológico tal como Marx o define.
1. Recorte imagens e notícias em revistas e jornais em que o tema revele desigualdade no
Brasil e selecione aquelas que serão coladas no caderno.
2. Leia as notícias e observe com atenção as imagens selecionadas e responda: Como é
possível enxergarmos as desigualdades e, mesmo assim, elas continuarem a existir? O que
podemos fazer?
3. Cite exemplos de argumentos que indivíduos da classe dominante empregam para justificar
sua condição social privilegiada.
4. De que forma alguns argumentos morais, como por exemplo: sou pobre, mas são honestos
ou os pobres não se esforçam suficiente para sair da pobreza colaborando para uma
consciência ingênua sabre a pobreza?
5. Leia a seguinte afirmação, de Karl Marx: "O maquinário, ao jogar todos os membros dessa
família no mercado de trabalho, expande o valor da força de trabalho do homem para toda a
sua família, depreciando, assim, sua força de trabalho".
Agora, assinale a frase que mais corresponde as ideias do filósofo:
a) As maquinas valorizam os homens, criando um trabalho mais fácil;
b) As maquinas não colaboram necessariamente para o fim da exploração;
c) As maquinas e as tecnologias são uma maneira de dar emprego a todos e criar a felicidade
para as famílias.
d) Os capitalistas inventaram as maquinas para ajudar os trabalhadores, pois eles eram muito
explorados no sistema feudal.
e) Com as maquinas, todo mundo sai lucrando, trabalhadores e capitalistas; afinal, e a
tecnologia resolvendo os problemas dos homens.
REFERÊNCIAS:
CHAUI, Marilena. Filosofia – Série Novo Ensino Médio. 1º ed. São Paulo: Ática. 2002.
CHALMERS, Alan. O que é Ciência afinal? Tradução Raul Filker. São Paulo: Brasiliense,
1993.
KHUN, Thomaz. As estruturas das revoluções científicas. Tradução Beatriz Vianna Boeira e
Nelson Boeira. São Paulo: Perspectiva, 2006.
POPPER, Karl. A lógica da pesquisa científica. São Paulo: Cultrix, 1993.
HESÍODO. Teogonia: a origem dos deuses. Tradução J. A. A. São Paulo: Iluminuras, 1991.
PLATÃO. O banquete. Rio de Janeiro: Difel, 1983. Texto clássico, imprescindível para preparar
o conteúdo das aulas.
ROCHA, Everardo P. Guimarães. O que é etnocentrismo. São Paulo: Brasiliense, 1988.
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