Materiais Ortodônticos Tratamento Precoce da Mordida Cruzada Posterior com o Quadrihélice de Encaixe Márcio Antonio de Figueiredo*, Danilo Furquim Siqueira**, Silvana Bommarito***, Marco Antonio Scanavini**** Resumo O propósito do artigo é demonstrar a importância do diagnóstico e do tratamento ortodôntico precoce da mordida cruzada posterior no período da dentição decídua, com a apresentação de um caso clínico de um paciente com 4 anos, com mordida cruzada posterior unilateral funcional, mordida cruzada anterior e mordida aberta anterior. O tratamento foi realizado no período de 1 ano e 3 meses com o aparelho fixo do tipo Quadrihélice de encaixe e mentoneira occiptal. Com a correção da má oclusão obteve-se um equilíbrio funcional entre a postura da língua e dos lábios e restabeleceu-se o crescimento normal. A correção precoce da mordida cruzada posterior com o aparelho Quadrihélice pode ser alcançada com eficácia sem a necessidade de colaboração do paciente. Palavras-chave: Má oclusão. Ortodontia Interceptora. Dentição primária. *Especialista em Ortodontia - Ortopedia Facial e Mestre em Ortodontia pelo Programa de Pós-Graduação em Odontologia – Área de Concentração em Ortodontia da UMESP. **Professor Doutor em Ortodontia pela FOB-USP e Professor do Programa de Pós-Graduação em Odontologia (Mestrado) - Área de Concentração em Ortodontia da UMESP. ***Professora Doutora em Distúrbios da Comunicação Humana pela UNIFESP, e titular do Programa de Pós-Graduação em Odontologia – Área de Concentração em Ortodontia da UMESP. ****Professor Doutor em Ortodontia pela FO-USP e Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Odontologia (Mestrado) - Área de Concentração em Ortodontia da UMESP. Rev. Clín. Ortodon. Dental Press, Maringá, v. 5, n. 6 - dez. 2006/jan. 2007 75 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46 47 48 Tratamento Precoce da Mordida Cruzada Posterior com o Quadrihélice de Encaixe Introdução A Organização Mundial da Saúde (OMS) considera a má oclusão como o terceiro problema odontológico de saúde pública, dada a grande quantidade da população acometida pelos desvios morfológicos da oclusão normal. Sendo que desses desvios, muitos podem ser observados na dentição decídua, e se nenhuma medida interceptora for adotada, os resultados com certeza se farão presentes na dentadura mista e permanente. O tratamento realizado na época da dentição decídua ou início da dentadura mista tem como objetivo minimizar ou eliminar problemas esqueléticos, dentoalveolares e musculares, antes que a irrupção da dentição permanente se complete19,22,24. Este tratamento quando bem indicado, pode reduzir a necessidade de extrações de dentes permanentes,3,26 e por vezes da cirurgia ortognática19,23. Ou seja, o tratamento precoce visa devolver as condições normais de crescimento e desenvolvimento da oclusão da criança com o objetivo de evitar severos problemas esqueléticos, musculares e dentoalveolares futuros. Segundo autores como Bench, Gugino, Hilgers3 e Silva Filho et al.28 as alterações das relações anormais nesta idade são recomendáveis e possíveis de tratamento. Para Silva Filho, Oliveira, Capelozza26; Bench, Gugino, Hilgers3 e Arvystas1 a correção dos problemas que afetam a saúde, a função e o desenvolvimento normal da articulação temporomandibular é o principal alvo do tratamento ortodôntico precoce. É de comum acordo entre os ortodontistas que dentre as más oclusões encontradas na dentição decídua e dentadura mista, a indicação do tratamento precoce é feita principalmente nas mordidas cruzadas posteriores e anteriores2,21,22,23,26,28 sendo que, estas más oclusões podem produzir assimetrias mandibulares morfológicas e funcionais nas crianças e que podem ser eliminadas com uma terapia precoce de expansão da maxila26,30. A mordida cruzada posterior unilateral funcional é uma das más oclusões mais encontradas na dentição decídua e na dentadura mista28, sendo que em estágios precoces apresenta um deslocamento lateral funcional em aproximadamente 80% dos casos. Devido a esse deslocamento funcional da mandíbula, ocorre uma assimetria no posicionamento e deslocamento dos côndilos na fossa do osso temporal, com conseqüente crescimento assimétrico, alteração no plano oclusal, alteração na altura dos ramos, e no posicionamento do mento na face (assimetria facial)3,20. Por meio de exames radiográficos é possível observar o posicionamento assimétrico dos côndilos, onde o côndilo do lado não cruzado se posiciona mais para frente, para baixo e para dentro com relação à eminência articular e o côndilo do lado oposto (lado da mordida cruzada) se posiciona mais para cima e para trás (Fig. 1). Essa assimetria na relação geométrica do côndilo e da fossa do temporal estabelece como uma das principais razões para o tratamento precoce da mordida cruzada unilateral posterior, visto que a 76 Rev. Clín. Ortodon. Dental Press, Maringá, v. 5, n. 6 - dez. 2006/jan. 2007 Figura 1 - Assimetria bilateral do posicionamento dos côndilos na mordida cruzada posterior unilateral. intervenção precoce favorece a simetria imediata dos côndilos na fossa do temporal e normalização do crescimento mandibular11,23. Segundo Gianelly12 os desvios funcionais devem ser corrigidos o quanto antes, pelo menos por dois motivos. Primeiro, porque podem evitar possíveis complicações de ATM. Em segundo lugar, tratando-se mais cedo tais problemas, pode-se evitar um desequilíbrio no crescimento facial. O problema clínico que comumente causa um desvio funcional é a diminuição do perímetro transversal da maxila, que impede a mandíbula de fechar em relação cêntrica (R.C.), conseqüentemente, ela o faz numa posição lateral excêntrica de máxima intercúspidação habitual (MIH), desviando a linha média para o lado cruzado. Quando a mandíbula é colocada em relação cêntrica, sua linha média coincide com a linha média da maxila e com o centro da face (Fig. 2, 3, 4, 5). Este tipo de má oclusão é corrigido precocemente com expansão maxilar12,17, possibilitando a eliminação das interferências oclusais (Fig. 6, 7, 8). Como resultado desta mecânica ocorre um posicionamento dos côndilos de maneira simétrica, devolvendo a possibilidade de um crescimento normal da articulação temporomandibular e da face14,16. Diferentes métodos que utilizam aparelhos fixos ou removíveis para correção da mordida cruzada estão disponíveis na literatura, todos eles quando indicados adequadamente e controlados pelo especialista são satisfatórios, porém os aparelhos removíveis necessitam de um melhor controle com relação à colaboração do paciente do que os aparelhos fixos, que possuem um resultado mais previsível por não necessitarem muito desta colaboração11,22,24. Dipaolo9, Capelozza, Silva Filho6 e Martins, Almeida, Dainesi18, destacaram a importância do correto diagnóstico das mordidas cruzadas posteriores, uma vez que estas podem ser esqueléticas (deficiência da base apical) ou dentoalveolares (inclinações dentárias indesejáveis). Na maioria das vezes realiza-se esta diferenciação com o auxílio de observações clínicas (paciente e modelo de gesso) 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46 47 48 Márcio Antonio de Figueiredo, Danilo Furquim Siqueira, Silvana Bommarito, Marco Antonio Scanavini Figura 2 - Desvio funcional da mandíbula para esquerda. Figura 3 - Desenho ilustrando assimetria no posicionamento dos côndilos e desvio da linha média. Figura 4 - Desenho ilustrando assimetria no posicionamento dos côndilos e desvio da linha média. Figura 5 - Desenho ilustrando os côndilos posicionados adequadamente, linha média coincidente e mordida topo a topo bilateral. Figura 6 - Mandíbula em relação cêntrica. Figura 7 - Mandíbula em relação cêntrica. e imagens radiográficas (radiografia póstero-anterior), auxiliando na correta definição do tipo de aparelho a ser empregado. Nos casos de deficiência real da maxila, os aparelhos para expansão rápida da maxila, como o aparelho disjuntor tipo HAAS13, HYRAX4 e expansor colado8 são os mais indicados devido a capacidade de liberação forças ortopédicas sobre o palato e ou sobre a face palatina dos dentes superiores, para a ruptura da sutura palatina mediana e conseqüentemente a obtenção de efeitos ortopédicos almejados. Nos casos de envolvimento dentoalveolar, preconiza-se o tratamento com a expansão lenta da maxila, com aparelhos removíveis (molas coffin e com parafuso expansor) ou com aparelhos Figura 8 - Mordida cruzada posterior unilateral funcional (desvio da linha média). fixos (Quadriélice e arco em W). Nos pacientes mais jovens, durante a fase de dentadura decídua este tipo de expansão pode suscitar a abertura da sutura palatina mediana, além dos efeitos ortodônticos, devido a pouca resistência óssea destes indivíduos7,18. Um desses aparelhos fixos citados se refere ao Quadrihélice (Fig. 9, 10), um aparelho para a expansão lenta da maxila. Este é um arco palatino onde quatro helicóides são confeccionados, sendo posicionados dois na região posterior (distal do molar bandado) e dois na porção anterior, (próximo a papila incisiva). Sua forma final se aproxima do formato da letra “W” e consta de cinco segmentos, ou seja, duas pontes posteriores, uma anterior e dois braços que Rev. Clín. Ortodon. Dental Press, Maringá, v. 5, n. 6 - dez. 2006/jan. 2007 77 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46 47 48 Tratamento Precoce da Mordida Cruzada Posterior com o Quadrihélice de Encaixe Figura 9 - Expansor fixo do tipo Quadrihélice de encaixe (0,8mm). Figura 10 - Efeito da expansão com Quadrihélice de encaixe.(0,8mm). se estendem dos molares aos caninos11,17,23. Este tipo de aparelho pode ser confeccionado de duas maneiras: diretamente soldado na face palatina das bandas dos molares ou encaixado a estas mesmas bandas por meio de um tubo lingual. O fio utilizado pode ser o Elgiloy .038”, aço inoxidá vel 0,8mm ou 0,9mm. O sucesso do tratamento precoce da mordida cruzada posterior tem início na primeira consulta onde é realizada a anamnese e o exame clínico. Na anamnese deve-se investigar distúrbios de hábitos, eficiência da respiração nasal, traumas e produção da fala. Já, no exame clínico deve-se observar ausência de dentes, principalmente no segmento posterior da arcada, inclinações axiais dos dentes posteriores, largura da maxila, profundidade do palato, interferências oclusais durante o fechamento em relação cêntrica, “curva de monson” positiva ou negativa, inclinação do plano oclusal, apinhamentos e assimetrias faciais. A partir destas considerações, se existir uma mordida cruzada posterior, serão necessários exames complementares incluindo radiografias: panorâmica, periapicais, telerradiografias lateral e frontal, fotografias e modelos de estudo para a avaliação completa do caso. Com todos os exames em mãos, o ortodontista irá definir o seu diagnóstico e escolher o plano de tratamento mais eficiente e adequado para o tratamento. Uma vez apresentado o diagnóstico, outros fatores devem ser observados para o sucesso da correção da má oclusão, tais como, completa correção dos problemas funcionais, respiração nasal restabelecida, mastigação bilateral, relação cêntrica coincidente com a oclusão cêntrica, fonação, deglutição e postura da língua normal. Um outro fator muito importante para estabilidade em longo prazo é realizar, como sugere Ricketts23 e Zachrisson31, a sobrecorreção das mordidas cruzadas em direção a uma mordida em “tesoura” (caninos e primeiros molares decíduos vestibularizados e alinhados com os segundos molares decíduos) como na figura 23, sempre que possível. Segundo Zachrisson31, o risco de que esses dentes sobrecorrigidos permaneçam nessa posição é desprezível devido ao equilíbrio da função do lábio e bochechas. Proffit22, recomendou que uma mordida cruzada posterior deveria ser sobrecorrigida até as cúspides linguais dos dentes posteriores da maxila ocluirem com a inclinação lingual das cúspides vestibulares da mandíbula. Um controle rígido dos fatores etiológicos primários (respiração bucal, alergias e hábitos viciosos) é fundamental na manutenção dos resultados obtidos. Estes pacientes devem receber um acompanhamento durante o crescimento em intervalos de 6 a 12 meses. Caso alguma alteração ocorra, medidas interceptoras e devidos encaminhamentos para os profissionais de áreas afins devem ser efetuados. Na maioria dos casos tratados com expansão lenta ou rápida da maxila, após o período de tratamento, indica-se a instalação de uma placa de contenção superior. 78 Rev. Clín. Ortodon. Dental Press, Maringá, v. 5, n. 6 - dez. 2006/jan. 2007 CASO CLÍNICO Paciente do gênero masculino, com 4 anos e 5 meses de idade e com padrão facial braquifacial. Na avaliação extrabucal pode-se observar uma assimetria facial com desvio da mandíbula para o lado esquerdo do paciente, assim como uma tendência ao prognatismo mandibular (Fig. 11, 12). O exame intrabucal revelou que o paciente encontrava-se com a dentição decídua completa e apresentava uma mordida cruzada posterior unilateral funcional do lado esquerdo, associada a uma mordida aberta e a uma mordida cruzada anterior (Fig. 13, 14, 15). Numa vista oclusal pode-se observar deficiência na dimensão transversal da maxila (Fig. 16) e aumento da dimensão transversal da mandíbula (Fig. 17). 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46 47 48 Márcio Antonio de Figueiredo, Danilo Furquim Siqueira, Silvana Bommarito, Marco Antonio Scanavini 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 Figura 11 - Vista extrabucal lateral, mostrando Figura 12 - Vista extrabucal frontal, mostrando 18 tendência à prognatismo mandibular. assimetria da mandíbula (desvio para o lado es19 querdo do paciente). 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 Figura 13 - Vista intrabucal do lado direito do Figura 14 - Vista intrabucal de frente do pacienFigura 15 - Vista intrabucal do lado esquerdo do 30 paciente, lado não cruzado. te com desvio funcional da mandíbula para o lado paciente (lado da mordida cruzada). 31 esquerdo. 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 Figura 16 - Vista intrabucal oclusal da maxila Figura 17 - Vista intrabucal oclusal da mandíbu(início do tratamento -11/06/99). la (inicio do tratamento -11/06/99). 43 44 45 46 47 48 Rev. Clín. Ortodon. Dental Press, Maringá, v. 5, n. 6 - dez. 2006/jan. 2007 79 Tratamento Precoce da Mordida Cruzada Posterior com o Quadrihélice de Encaixe A telerradiografia lateral (Fig. 18) evidenciou um espaço aéreo nasobucofaríngeo inadequado, e a análise cefalométrica de Ricketts (Fig. 19) indicou um prognatismo mandibular suave e maxila bem posicionada. Na radiografia panorâmica (Fig. 20), observou-se a presença de todos os dentes permanentes e desvio do septo nasal. A criança respirava com a boca sempre aberta, com a língua em uma postura baixa, além da presença de projeção anterior da língua à deglutição o que caracterizou a presença de deglutição atípica. Figura 18 - Telerradiografia em norma lateral inicial. Figura 20 - Radiografia panorâmica inicial. 80 Rev. Clín. Ortodon. Dental Press, Maringá, v. 5, n. 6 - dez. 2006/jan. 2007 Com base na anamnese, exame clínico e radiográfico o tratamento proposto foi à expansão lenta da maxila com a utilização do aparelho Quadrihélice (0,8mm aço), com o propósito de remover as interferências dentárias que deslocavam à mandíbula para frente e para o lado esquerdo, permitindo a mandíbula se posicionar em relação cêntrica, aumentar o perímetro transversal da maxila para que a língua pudesse se posicionar corretamente, fornecendo estímulos de crescimento adequado e melhorando a respiração (Fig. 21-26). O paciente foi orientado a utilizar uma Figura 19 - Análise cefalométrica de Ricketts inicial. 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46 47 48 Márcio Antonio de Figueiredo, Danilo Furquim Siqueira, Silvana Bommarito, Marco Antonio Scanavini mentoneira oblíqua (Fig. 27, 28) para má oclusão de Classe III, com força de 150 gramas por lado, durante o período noturno (8 a 10 horas). Segundo Sakamoto, Iwase, Nakamura25, Ishii et al.15, Sugawara et al.29, Domingues et al.10 e Gianelly12, a mentoneira tende a posicionar a mandíbula posteriormente e a girá-la em sentido horário. Esta ação favorece a correção da Classe III em pacientes com tipo facial convergente (braquifaciais) e contra indica o seu uso em casos de pacientes com tipo facial divergente (dolicofaciais). O prognóstico devido à idade do paciente e seu padrão facial foi avaliado como satisfatório, como pode-se verificar nas figuras 29-33. DISCUSSÃO A correção da mordida cruzada posterior permitiu um fechamento vertical normal da mandíbula (R.C. coincidente com M.I.H.) sem desvio do trajeto, evitando assim o deslocamento condiliano e a possibilidade futura do crescimento assimétrico e conseqüente contatos no lado de balanceio durante a função, além de uma estética facial mais agradável (simetria), (Fig. 34, 35). Devolveu a harmonia entre a posição da língua e a função, por um lado, e a função do lábio e da bochecha, por outro, favorecendo o desenvolvimento normal da oclusão. Este resultado esta de acordo com 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 Figura 23 - Expansão obtida com Quadrihélice 36 (26/01/00). 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46 Figura 26 - Vista intrabucal (esquerda) após a 47 48 expansão. Proffit22; McNamara, Brudon19, Sandikçio Lu, Hazar24, e Gianelly12, segundo os quais o tratamento precoce (realizado na época da dentição decídua ou início da dentadura mista) pode minimizar ou eliminar futuros problemas esqueléticos, dentoalveolares e musculares. O tempo de tratamento total foi de um ano e três meses, e o aparelho utilizado para descruzar a mordida foi o Quadrihélice de encaixe (0,8mm de aço) mantido fixo na boca do paciente. Este resultado concorda com as afirmações de Proffit22; Sandikçio Lu, Hazar24; Erdinç, Ugur e Erbay11, de que aparelhos fixos apresentam um resultado previsível e com menos necessidade de colaboração quando comparado com aparelhos removíveis. A análise cefalométrica de Ricketts realizada 4 anos e meio após o final da primeira fase do tratamento (Fig. 36, 37) demonstrou um ligeiro biprognatismo (Profundidade Maxilar = 920 e Profundidade Facial = 920), entretanto esta relação existente entre as bases ósseas e o crânio não prejudicaram a estética do paciente como pode-se observar na figura 38, obtida 2 anos após a análise cefalométrica ter sido realizada. As demais mensurações cefalométricas estão compatíveis com o padrão Braquifacial do paciente. Na radiografia panorâmica (Fig. 39), observou-se a presença de todos os dentes permanentes com exceção dos terceiros molares. Figura 21 - Pré-ativação do Quadrihélice de encaixe (0,8mm). Figura 22 - Fotografia do Quadrihélice imediatamente após instalação (24/07/99). Figura 24 - Vista intrabucal (lado direito) após a expansão. Figura 25 - Vista intrabucal (frontal) após a expansão. Rev. Clín. Ortodon. Dental Press, Maringá, v. 5, n. 6 - dez. 2006/jan. 2007 81 Tratamento Precoce da Mordida Cruzada Posterior com o Quadrihélice de Encaixe 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 Figura 27 - Mentoneira occiptal - uso noturno Figura 28 - Mentoneira occiptal - uso noturno 18 (vista lateral). (vista frontal). 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 Figura 29 - Vista intrabucal do lado direito do Figura 30 - Vista intrabucal de frente do pacienFigura 31 - Vista intrabucal do lado esquerdo do paciente, dois meses após o final do tratamento. te, dois meses após o final do tratamento. paciente, dois meses após o final do tratamento. 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 Figura 32 - Vista intrabucal oclusal da maxila Figura 33 - Vista intrabucal oclusal da mandíbudois meses após o final do tratamento. la dois meses após o final do tratamento. 42 43 44 45 46 47 48 82 Rev. Clín. Ortodon. Dental Press, Maringá, v. 5, n. 6 - dez. 2006/jan. 2007 Márcio Antonio de Figueiredo, Danilo Furquim Siqueira, Silvana Bommarito, Marco Antonio Scanavini Figura 34 - Fotografia extrabucal frontal, com simetria facial, dois meses após o final do tratamento. Figura 36 - Telerradiografia lateral de controle (4 anos após o final do tratamento). Figura 38 - Fotografia extrabucal lateral evidenciando o perfil do paciente obtida 5 anos e 5 meses após o final do tratamento. 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 Figura 35 - Fotografia extrabucal lateral, com equi18 líbrio facial, dois meses após final do tratamento. 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 Figura 37 - Análise cefalométrica de Ricketts (4 31 anos após o final do tratamento). 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46 Figura 39 - Radiografia panorâmica de controle (4 anos após o final do tra47 tamento) 48 Rev. Clín. Ortodon. Dental Press, Maringá, v. 5, n. 6 - dez. 2006/jan. 2007 83 Tratamento Precoce da Mordida Cruzada Posterior com o Quadrihélice de Encaixe O caso apresenta-se estável 5 anos e 5 meses após o término do tratamento como pode-se observar nas fotografias intrabucais e extrabucais (Fig. 40, 41, 42, 43, 44, 45, 46, 47). O paciente encontra-se agora no segundo período transitório da dentadura mista e todas as características do período estão dentro da normalidade. Este resultado confirma a afirmação de Ricketts23 e Zachrisson31, de que a sobrecorreção da mordida cruzada posterior é um procedimento necessário e importante para o sucesso do tratamento e o risco destes dentes sobrecorrigidos permanecerem em uma posição inadequada é desprezível31. A utilização da mentoneira foi indicada no período noturno, como aparelho de contenção (Fig. 48, 49). Os pais foram orientados da necessidade do paciente retornar ao consultório anualmente para controle até o final do crescimento facial e se fosse reconhecido algum desvio da normalidade, uma segunda fase seria realizada. Figura 40-44 - Vista obtida 5 anos e 5 meses após o final do tratamento. Figura 45-47 - Fotografia extrabucal frontal da face obtida 5 anos e 5 meses após o final do tratamento. 84 Rev. Clín. Ortodon. Dental Press, Maringá, v. 5, n. 6 - dez. 2006/jan. 2007 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46 47 48 Márcio Antonio de Figueiredo, Danilo Furquim Siqueira, Silvana Bommarito, Marco Antonio Scanavini Figura 48 - Fotografia extrabucal lateral com mentoneira occiptal. Mordidas cruzadas dentoalveolares se apresentam com muita freqüência em crianças no período da dentição decídua e dentadura mista2,17,23,27. A sua etiologia é bastante ampla e pode estar relacionada com os distúrbios de hábitos como: problemas respiratórios, hábito de sugar os dedos, hábito de sugar chupeta, mamadeira, herança genética, entre outros17,21,22. De origem inicialmente dentoalveolar associada a um desvio funcional da mandíbula para o lado cruzado, esta má oclusão depois de instalada, não se corrige espontaneamente com o crescimento, mesmo quando a causa é removida. Durante o crescimento, a mordida cruzada só tende a piorar e se um tratamento interceptor não for realizado pode se tornar uma mordida cruzada esquelética, com danos permanentes para a função, estética facial e para as articulações temporomandibulares, que se desenvolvem com estímulos de crescimento inadequado19,23,26. Este prognóstico desfavorável leva a um consenso entre os especialistas de que a mordida cruzada deve receber uma intervenção o mais precocemente possível com o objetivo de restabelecer a morfologia normal, enviando a partir desta normalidade restabelecida estímulos para um correto desenvolvimento da articulação temporomandibular2,22,23,26. Como visto neste caso clínico, a intervenção precoce da mordida cruzada posterior forneceu condições morfológicas adequadas para que o organismo retomasse o seu percurso normal de crescimento que a criança herdou geneticamente de seus pais. Este fato esta de acordo com Hesse et al.14 e Lamm, Sadowsky, Omerza16. Figura 49 - Fotografia extrabucal frontal com mentoneira occiptal. A muitos anos o aparelho fixo Quadrihélice tem sido utilizado para desenvolver o arco dentário superior. Este aparelho além de alcançar expansão desejada da maxila para descruzar a mordida, não apresenta nenhum problema de tolerância significante (efeitos mínimos na fala após curto período de adaptação) enquanto oferece as vantagens de aplicação de força contínua, maior ancoragem e retenção, e menor necessidade de colaboração2,21,23. A natureza da força contínua produzida pelo Quadrihélice reduz a necessidade de ajustes durante o tratamento. Conclusão A literatura consultada relata a necessidade da correção precoce (período da dentição decídua ou inicio da dentadura mista) da mordida cruzada posterior, e deve ser o objetivo da Ortodontia - Ortopedia facial; para tanto se torna importante a orientação para a população leiga do diagnóstico precoce deste tipo de má oclusão. Como pode-se evidenciar neste caso clínico, a correção precoce da mordida cruzada posterior unilateral funcional pode ser alcançada com eficácia utilizando-se o Quadrihélice, um aparelho higiênico, confortável e que não necessita de “cooperação” do paciente para o seu êxito. Este é um procedimento simples do ponto de vista técnico se comparado ao tratamento de um paciente adolescente ou adulto, além de permitir uma relação adequada entre as bases ósseas, restabelecer a estética facial e preservar a articulação temporomandibular. Rev. Clín. Ortodon. Dental Press, Maringá, v. 5, n. 6 - dez. 2006/jan. 2007 85 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46 47 48 Tratamento Precoce da Mordida Cruzada Posterior com o Quadrihélice de Encaixe The Early Orthodontic Treatment of Posterior Crossbites with Attachment Quad-helix Abstract This paper demonstrates the importance of early diagnosis and orthodontic treatment of posterior crossbite during the deciduous dentition, presenting a case report of a 4-yearold patient with functional unilateral posterior crossbite, anterior crossbite and anterior open bite. Treatment was performed for 1 year and 3 months with a quad-helix appliance and low-pull chincap therapy. Correction of the malocclusion allowed functional balance between the tongue and lip posture, and normal growth was reestablished. Early correction of the posterior crossbite with the quad-helix appliance may be effectively achieved without the need of patient compliance. key words: Malocclusion. Interceptive orthodontics. Primary dentition. Referências 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. 16. 17. 18. 86 ARVYSTAS, M.G. The rationale for early orthodontic treatment. Am. J. Orthod. Dentofacial Orthop., St Louis, v.113, n.1, p.15-18, January, 1998. BELL, R.A. Maxillary expansion using a quad-helix appliance. Am. J. Orthod., St Louis, v.72, n.2, p.152-61, February, 1981. BENCH, R.W; GUGINO, C.F.; HILGERS, J.J. Terapia Bioprogressiva 3. ed. São Paulo (SP): Ed. Santos; 1996 p.109-23. BIEDERMAN, W.A. A hygienic appliance for rapid expansion. J. Pract. Orthod., v.2, n.2, p.67-70, Feb.,1968. CAPELOZZA FILHO, L.; SILVA FILHO, O.G. Expansão rápida da maxila: considerações gerais e aplicação clínica. Parte I. Rev. Dental Press Ortod. Ortop. Max., Maringá, v.2, n.3, p.88-102, Maio/Jun., 1997. 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Endereço para correspondência Márcio A. de Figueiredo Rua Capitão Nascimento Filho 131, Bairro Vergueiro CEP: 18030-123 - Sorocaba / SP E-mail: [email protected] 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46 47 48