O emprego metafórico dos verbos de movimento: o ser humano

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O emprego metafórico dos verbos de
movimento: o ser humano pensando
metaforicamente1
Rafael Antonio MOROTTI2
Resumo: Este trabalho consiste em apresentar alguns conceitos da Linguística Cognitiva, que estuda a relação da linguagem humana com o meio físico,
permitindo-nos saber o quanto o espaço em que vivemos e a forma de nosso corpo influenciam nossa linguagem. Abordamos a questão do pensamento humano
metaforicamente estruturado, conceito que nos explica que não só utilizamos a
metáfora para enfatizar o que dizemos, mas também estruturamos nosso pensamento de maneira metafórica. Para demonstrar esse aspecto de nossa mente,
utilizamos uma análise de verbos de movimento em sentido metafórico. Antes
disso, porém, fizemos uma breve apresentação de noções basilares da área, como
Linguística, Estruturalismo, Gerativismo e Funcionalismo; e os principais temas
da Linguística Cognitiva: esquemas de imagens, categorização, teoria dos protótipos, metáfora, frames e scripts.
Palavras-chave: Linguística Cognitiva. Metáfora. Verbos de Movimento.
1
Artigo elaborado como Trabalho de Conclusão do Curso de Licenciatura em Letras do Claretiano –
Centro Universitário, realizado sob orientação do Prof. Felipe Aleixo, que é mestrando em Linguística
e Língua Portuguesa da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP), campus
de Araraquara, e docente do Claretiano – Centro Universitário.
2
Rafael Antonio Morotti. Especialista em Ensino de Português, Literatura e Redação pelo Claretiano –
Centro Universitário. Graduado em Letras Português/Inglês pela mesma instituição. E-mail: <morotti.
[email protected]>.
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The metaphorical use of movement verbs: the
human being thinking metaphorically
Rafael Antonio MOROTTI
Abstract: This article presents some concepts of the Cognitive Linguistics, that
studies the relation between human language and the physical environment,
allowing us to know how much the environment in which we live and the
shape of our body influence our language. We approached the metaphorically
structured human thought, in which it can be perceived that not only do we
use the metaphor to emphasize what we say, but also to structure our mind in a
metaphorical way. In order to demonstrate this aspect of our mind, an analysis of
movement verbs in metaphorical meaning was used. However, before that, we
made a brief presentation of the main linguistic concepts, such as Linguistics,
structuralism, generativism and functionalism; and the main themes of Cognitive
Linguistics: image schemes, categorization, prototype theory, metaphor, frames
and scripts.
Keywords: Cognitive Linguistics. Metaphor. Movement Verbs.
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1.  INTRODUÇÃO
“O conceito é metaforicamente estruturado, a atividade é
metaforicamente estruturada, e, consequentemente, a linguagem é metaforicamente estruturada.”
(LAKOFF; JOHNSON, 2003, p. 5)
A Linguística Cognitiva tem recebido muita atenção por parte
dos linguistas no início deste século. Sua abordagem sobre assuntos
constituintes da Gramática, da Retórica, sobre a comunicação humana no cotidiano e a descrição das línguas naturais, assim como
a Linguística Funcional, envolve a relação do indivíduo com o ambiente e com seus semelhantes em sua análise (ABREU, 2010).
Os estudos em Linguística Cognitiva procuram demonstrar o
quanto o entendimento do mundo por parte dos humanos está relacionado com a língua, como mesclamos nossas experiências táteis e
como vemos as coisas ao nosso redor à comunicação verbal. E quão
isso é ilimitado e criativo, pois, sempre que vivemos experiências
novas, podemos englobá-las em nossas expressões cotidianas, atribuindo novos significados para ajudar na eficiência comunicativa.
Embora a bibliografia da Linguística Cognitiva não seja extensa, já se tem um importante arcabouço teórico que alicerça essa área,
possuindo ícones como Lakoff e Johnson, autores de “Metaphors we
live by”. Essa obra será usada neste trabalho com o intuito de explicar
o uso corrente da metáfora em nosso cotidiano e como empregamos
o uso metafórico em verbos de movimento. O objetivo deste estudo
é defender, assim como Lakoff e Johnson, que não utilizamos a metáfora somente com a intenção de enfatizar algo que comunicamos
ou convencer nosso interlocutor por meio de argumentos alegóricos,
mas demonstrar como pensamos e agimos metaforicamente em nosso cotidiano.
A metáfora está mais incluída em nosso cotidiano do que pensamos ou percebemos, e a Linguística Cognitiva amplia a concepção
de metáfora refletindo, a partir do conceito base desta, que é a projeção, o que “[...] consiste em tomar a estrutura de um determinado domínio (chamado domínio-fonte) para falar ou pensar outro domínio
(chamado domínio-alvo)” (MARTELLOTA, 2008, p. 187).
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Nesse sentido, os verbos de movimento constituem um interessante fenômeno que ocorre na concepção humana quanto ao
usual emprego da metáfora. Faremos uma reflexão sobre como empregamos essas projeções no contato social e como isso ajuda na
clareza e na eficiência das mensagens que transmitimos, sem que,
muitas vezes, tenhamos consciência disso.
Vale ressaltar que os avanços nos estudos em Linguística
Cognitiva enriquecerão o campo educacional, pois, ao tratar dos fenômenos da linguagem com base nas concepções da mente humana, poder-se-ão descobrir novas formas de transmitir informação
e conhecimento ao educando, fugindo de teorias tradicionalistas,
que, embora façam parte da história da educação e tenham seus
aspectos positivos, não têm obtido a satisfação necessária para um
bom desenvolvimento de estudos da linguagem.
A motivação para o desenvolvimento desta pesquisa teve
origem na leitura da obra de Abreu (2010), que relaciona fatos da
cognição humana com fatos da língua. Vale dizer que esse autor
faz grande referência à obra de Lakoff e Johnson (2003), o que
nos despertou o interesse pela obra e ajudou no entendimento e na
elaboração do tema.
A escassez de bibliografia nacional sobre Linguística Cognitiva ainda é grande, por isso não foi possível realizar um estudo
mais amplo de obras em português, o que tornaria a pesquisa mais
cômoda. A interpretação e a tradução das teorias em língua inglesa,
certamente, podem colaborar com o avanço dos estudos nessa área,
mas exigem um trabalho mais aperfeiçoado e um tempo maior de
pesquisa. Portanto, da obra de Lakoff e Johnson (2003), utilizaremos o necessário para o desenvolvimento do estudo e aquilo que
inexiste na bibliografia nacional.
Para entendermos certos conceitos linguísticos e, também,
como o Cognitivismo é inovador na Linguística, foi necessária uma
breve retrospectiva histórica; assim, recorremos a Fiorin (2005) e a
Martelotta (2008) para uma consistente e sucinta explicação.
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2.  LINGUÍSTICA
Nesta seção, apresentaremos, brevemente, alguns conceitos
importantes que darão sustentação à abordagem escolhida para esta
pesquisa, uma vez que é preciso entender o que é a linguagem e em
qual território estão localizados os estudos feitos pela Linguística.
Segundo Fiorin (2005, p. 17), o termo “linguagem” possui
um conceito muito abrangente: qualquer ato de comunicação é manifestação de linguagem, seja dança, música, pintura, mímica etc.
A Linguística detém-se no estudo da linguagem verbal humana, a
língua falada e a escrita, que o indivíduo adquire e desenvolve por
meio do contato social. Estudar as línguas naturais proporciona um
estudo delimitado da linguagem e com resultados mais satisfatórios
que uma abordagem ampla. Dessa forma, a Linguística ajuda-nos a
entender aspectos essenciais da natureza humana refletidos na língua natural, que é a forma de linguagem mais utilizada no cotidiano
do indivíduo em meio social.
Não é propósito da Linguística dizer como a língua deve ser
falada, e, sim, descrever como ela é falada, com o intuito de refletir,
por exemplo, sobre muitos dos dogmas estabelecidos pela gramática normativa, que é baseada na língua padrão e é utilizada pelas
elites socioeconômicas, por documentos oficiais, textos literários,
livros didáticos, imprensa etc., distanciando-se, assim, da língua
falada pela maioria da população.
A Linguística divide-se em dois campos de estudos: a Linguística geral e a descritiva. A geral é responsável por criar a teoria
na qual os estudos serão baseados; a descritiva identifica e fornece
os dados para a pesquisa e confirmação da teoria (MARTELOTTA,
2008).
Os estudos linguísticos ganharam força no fim do século
XVIII. Os linguistas dessa época preocuparam-se em analisar as
mudanças que uma língua sofre no decorrer do tempo; faziam-se,
então, estudos diacrônicos. No século XX, o linguista Ferdinand
de Saussure introduziu o estudo sincrônico da língua, em que se
observam os fatos linguísticos em determinado período; essa forma
de observação permite ao estudioso uma maior precisão dos fatos,
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possibilitando a comparação de mudanças de estado que acontecem
num mesmo período de tempo. Saussure reconhecia a importância das duas vertentes, sincronia e diacronia, embora defendesse a
perspectiva sincrônica.
Muitas outras áreas de estudo se interessam pela linguagem
verbal humana, o que ocasionou a criação de subáreas da Linguística, como afirma Fiorin (2005, p. 18):
[...] etnolinguística, que trabalha no âmbito da relação entre língua e cultura; a sociolinguística, que se detém no
exame da interação entre língua e sociedade; a psicolinguística, que estuda o comportamento do indivíduo como
participante do processo de aquisição da linguagem e da
aprendizagem de uma segunda língua, [entre outras].
Citamos, neste trabalho, três correntes teóricas de grande importância no universo linguístico, as quais são fundamentais para a
compreensão deste trabalho, pois, ao conhecê-las, observaremos a
evolução dos estudos da língua.
O Estruturalismo, de acordo com Fiorin (2005), descende dos
estudos de Saussure, que ficou conhecido após lançamento póstumo de seu livro Curso de linguística geral, em 1916, que surgiu da
junção de notas redigidas por seus alunos em três cursos lecionados
pelo linguista (MARTELOTTA, 2008). A proposta de Saussure separa a língua da fala, pois a fala é individual, contextual, cultural,
geográfica etc.; para Saussure, não é objeto da Linguística investigar esses aspectos, e, sim, a língua, como sistema independente.
Martelotta (2008, p. 114) diz que, na visão estruturalista:
[...] a língua é [...] um conjunto de unidades que obedecem
a certos princípios de funcionamento, constituindo um
todo coerente [...], uma vez formada por elementos coesos,
inter-relacionados, que funcionam a partir de um conjunto
de regras [...].
Podemos entender esse conjunto de regras como aqueles aspectos que são comuns à língua, neutralizando, assim, qualquer
tipo de variação.
Os estudos de Saussure são conhecidos pelas suas dicotomias
linguísticas. O mestre genebrino realiza a divisão lógica de um conLing. Acadêmica, Batatais, v. 4, n. 1, p. 69-90, jan./jun. 2014
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ceito em dois, de modo que se obtenha um par opositivo – e isso é
uma dicotomia (MARTELOTTA, 2008). Língua e fala, por exemplo, é uma de suas dicotomias; entre as demais, estão sincronia e
diacronia, sendo diacrônico o estudo da mudança da língua com
o decorrer do tempo, e sincrônico, o estudo da situação em que se
encontra a língua em determinado período da história; há, ainda, as
dicotomias de sintagma e paradigma; significado e significante;
forma e substância; motivado e arbitrário. Não há necessidade de
se abordar aqui todas as dicotomias de Saussure de modo consistente, uma vez que não é esse o foco deste trabalho. O intuito de se
abordar esse teórico é entender a origem dos pensamentos linguísticos contemporâneos.
De outro lado, há o Gerativismo, que é uma corrente teórica que teve início com os estudos de Noam Chomsky. A proposta
gerativista afirma que todas as línguas possuem características em
comum (universais linguísticos), por exemplo, um alfabeto finito e
sentenças com construções que utilizam sempre os signos desse alfabeto; assim, embora possamos construir infinitas sentenças, essas
sempre terão características estruturais finitas. Chomsky também
enxerga a língua como objeto independente, como no Estruturalismo. Sua proposta foi, como diz Martelotta (2008, p. 127), “[...] um
modelo teórico formal, inspirado na matemática, capaz de descrever e explicar abstratamente o que é e como funciona a linguagem
humana”. Chomsky diz que a criança, no processo de aquisição da
linguagem, não possui capacidade de aprender a gramática estrutural da língua e, por isso, ele afirma que a capacidade de construir
estruturas linguísticas seria inata a todo ser humano.
Por fim, citamos o Funcionalismo, que teve início na Europa
com o Círculo Linguístico de Praga, em 1926, cujos principais representantes são Nikolaj Trubetzkoy e Roman Jakobson. Diferentemente das duas correntes anteriores, Martelotta (2008) afirma que
essa se preocupa em analisar a estrutura gramatical juntamente aos
seus contextos comunicativos. Essa corrente também diverge das
outras quanto à forma de aquisição da linguagem. Nesse sentido,
Martelotta (2008, p. 158) afirma:
A criança é dotada de uma capacidade cognitiva rica que
torna possível a aprendizagem da linguagem, assim como
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outros tipos de aprendizagem. É com base nos dados linguísticos a que é exposta em situação de interação com os
membros de sua comunidade de fala que a criança constrói
a gramática de sua língua.
Na concepção funcionalista, a língua não é elemento independente da linguagem ou da interação social; ao contrário, a proposta assevera que a língua age fora do seu campo linguístico e
que a comunicação social tem grande influência na construção da
língua. Em outras palavras, têm-se o estudo da “língua em funcionamento”.
Após essa breve retrospectiva da história da Linguística, veremos os principais conceitos da Linguística Cognitiva, a qual dá
suporte a todo o estudo proposto nesta pesquisa.
3.  LINGUÍSTICA COGNITIVA
A Linguística Cognitiva ganhou ênfase com os estudos de
George Lakoff e Mark Johnson, o que propiciou uma visão diferente sobre a metáfora e a metonímia, como também estabeleceu
novos conceitos, por exemplo: frames e scripts, que explicam conceitos abstratos da mente humana (esses conceitos serão abordados
com detalhes mais adiante).
Abreu (2010) diz que certas características linguísticas são
inatas aos humanos, por exemplo, a capacidade de falar sobre conceitos abstratos, como fatos do passado ou do futuro, lugares distantes (que talvez o falante nunca tenha visitado) ou sentimentos
(amizade, amor, raiva etc.). Porém, a atribuição de sentido que damos às coisas tem relação com nossas experiências e com a interação com nossos semelhantes, que nos influenciam desde a infância.
Os cognitivistas veem a linguagem como um fenômeno relacionado com a experiência enciclopédica do indivíduo, e não como
faculdade mental independente, intrínseca à biologia humana. Assim, diz Martellota (2008, p. 181):
A Linguística Cognitiva propõe uma mudança de perspectiva no estudo da linguagem, colocando os usuários da
língua no centro da construção do significado. Ou seja, a
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busca da compreensão do fenômeno da significação impossibilita a exclusão dos principais personagens desse
processo: o falante e o ouvinte. O falante não é mais visto
como um mero manipulador de regras preestabelecidas,
mas como um produtor de significados em situações comunicativas reais nas quais interage com interlocutores
reais.
É possível perceber aí uma crítica ao Gerativismo, que, como
dissemos, trata a linguagem humana de forma racional e propõe
que o ser humano é capaz de criar infinitas sentenças, porém, dentro de finitas estruturas.
Os nossos sentidos corporais exercem grande influência na
atribuição de significados às coisas (pensamento corporificado);
além disso, interagimos com o nosso meio, e a forma do nosso corpo exerce grande influência em nossa linguagem, em “[...] como
nossos sentidos percebem a realidade à nossa volta” (ABREU,
2010, p. 29). Lakoff e Johnson (2003) aprofundam o estudo do pensamento corporificado e trazem-nos conceitos capazes de explicar
uma extensa variedade de expressões que utilizamos no cotidiano.
Tais expressões são comuns e semelhantes em vários idiomas, e
essa é somente uma evidência de que os limites do corpo humano
e o ambiente em que vivemos interferem ativamente em nossa linguagem.
Assim, tendo em vista a importância da Linguística Cognitiva, elencamos alguns conceitos interessantes que dão sustentação
àquilo que propomos analisar neste trabalho: “esquemas de imagens”, “categorização”, “teoria dos protótipos”, “metáfora”, frames
e scripts. Esses temas são abordados nas seções a seguir.
Esquemas de imagens
Este conceito faz referência à interação do nosso corpo com
o ambiente e o reflexo dessa interação na linguagem. Em nosso dia
a dia, quando fazemos nossos trajetos e nos movemos, enfrentamos
obstáculos que precisamos desviar ou retirar do caminho, levamos
coisas de um lugar para outro e temos contato com as pessoas. Assim, exercemos influência no ambiente e ele em nós. Abreu (2010,
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p. 31) explica que “[...] esses esquemas são padrões estruturais recorrentes em nossa experiência sensório-motora que, quase sempre, servem para estruturar conceitos complexos.”
Com base nos esquemas de imagens, propostos por Lakoff
e Johnson (2003) e Abreu (2010), podemos perceber que ligamos
a linguagem às necessidades mais básicas exercidas por nós. Do
fato de que podemos nos equilibrar em duas pernas, temos o esquema de equilíbrio; do fato de nos movermos, temos o esquema
de percurso, que engloba origem, trajeto e meta, e manifesta-se
em expressões como “Estamos atravessando uma fase difícil em
nosso relacionamento.”; temos o esquema de contato, quando nos
encontramos com algo ou alguém; contêiner, com o sentido próprio de colocar algo dentro de um contêiner e enviar a alguém para
que esse destinatário retire e tenha contato com o conteúdo. Por
exemplo, quando vamos explorar a polissemia (multiplicidade de
sentidos) de uma palavra, podemos “colocar o sentido metafórico
dentro dela” e transmiti-la ao nosso interlocutor de outro modo; ou,
quando dizemos que determinada ideia “não sai de dentro da nossa
cabeça”, temos o esquema de contêiner. Temos, também, o esquema de dinâmica de forças, em que há uma disputa com vencedor
e perdedor, como num jogo de futebol ou numa luta de boxe ou,
ainda, quando precisamos utilizar a força para realizar algo: “abrir
a mente de alguém”; e, por último, o esquema de bloqueio, que
acontece quando nos deparamos com algum obstáculo, como, por
exemplo, “Ela está me impedindo de ser feliz”.
Além desses conceitos, temos as Metáforas de Orientação
(Orientational Metaphors). Tal conceito, apresentado por Lakoff e
Johnson (2003), é baseado na forma do nosso corpo em relação ao
ambiente físico. A partir da nossa orientação no espaço em que vivemos, temos noções de “para cima” e “para baixo”, “para trás”
e “para frente”, “próximo” e “distante”; e “centro” e “periferia”.
Abreu (2010) explica-nos que, ao utilizar conceitos do mundo físico, como os apresentados, formamos, em nosso léxico, metáforas primárias e atribuímos características desse mundo físico
às nossas expressões linguísticas. Exemplos como “Hoje foi um
grande dia.”, “Abraçou-me calorosamente.” e “O pai sustenta a
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casa.” são frases comuns, nas quais empregamos a metáfora primária. Em nossa análise, vamos nos ater tão somente aos verbos
de movimento, que também são metáforas primárias, em razão de
delimitar o tema a situações específicas.
Veremos, agora, o tópico Categorização, o qual aborda a possibilidade que temos de formar e organizar conceitos em nossas
mentes.
Categorização
A Categorização, de acordo com a visão clássica ou aristotélica, é um conceito que diz que existem traços necessários e fundamentais para que possamos associar uma entidade ou conceito
a uma determinada categoria (MACEDO, 2012). No dicionário
Houaiss (2009), dentro do campo da Linguística, o verbete “categorização” significa: “organização da experiência humana em
conceitos, tendo rótulos linguísticos a eles associados”. Veja-se o
exemplo “ave”: para ser ave, é preciso ter penas, bico e capacidade de voar; por isso, aos seres que possuem tais características
atribuímos a condição de ave.
De acordo com o modelo clássico, existem as entidades pertencentes e não pertencentes às categorias; caso falte algum traço
necessário e fundamental, a entidade é excluída. Na visão clássica,
não há pertinência quanto às variáveis de uma categoria, ou seja,
não existem seres que são “menos pertencentes”; é preciso que todos os integrantes possuam as propriedades necessárias para pertencer ao grupo. É exatamente disso que a Linguística Cognitiva
discorda.
Podemos pensar em Categorização como a capacidade que
temos de formar conceitos e organizá-los mentalmente, de modo
que, se nos depararmos com um elemento que possua características próprias de determinada categoria, podemos defini-lo como
pertencente a essa categoria. Por exemplo: um verbo. Se ouvirmos
ou lermos em algum lugar uma palavra que tenha características
para ser flexionada em tempo e modo, bem como em número e pessoa, mesmo não conhecendo essa palavra, saberemos que ela será
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um verbo. Rosh (apud ABREU, 2010), afirma que a Categorização
acontece dentro de duas dimensões: a vertical e a horizontal. Abreu
(2010, p. 22) exemplifica:
veículomamífero móvel
carrocachorrosofá
sedãrottweilersofá-cama
A dimensão vertical está ligada ao nível de inclusão, ou seja,
se estiver tratando de veículo, podemos pensar em carros, motos,
caminhões etc. Mas, se estivermos tratando de carro, temos uma
limitação dessa escolha. No exemplo dado acima, as palavras em
negrito constituem o chamado nível básico, que é aquele que normalmente usamos no discurso. Não seria estranho se disséssemos
“Vou comprar um veículo novo.” ou desnecessário se “Aquele
rottweiler parece bravo.”?
A dimensão horizontal, por sua vez, apresenta categorias distintas dentro do mesmo nível de inclusão (ABREU, 2010).
Seguindo a essa dimensão, apresentaremos o conceito que
complementa a Categorização: o protótipo.
Protótipo
Podemos pensar em protótipos como elementos padrões de
determinada categoria. Rosh (apud ABREU, 2010) afirma que os
representantes prototípicos de um grupo são aqueles que apresentam um número suficiente de atributos comuns aos integrantes desse grupo.
Para explicar melhor, apresentamos o exemplo de Abreu
(2010, p. 24) utilizando as conjunções coordenadas adversativas:
“Ambas as conjunções (mas e contudo) são adversativas, mas contudo é a única que pode ser posta em qualquer lugar da oração [...]”.
Se nos lembrarmos de que a classe gramatical que possui,
por excelência, a capacidade de se mover na frase é o advérbio,
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saberemos que as conjunções e locuções conjuntivas “contudo”,
“todavia”, “no entanto” e “entretanto” possuem essa semelhança
sintática porque, no passado, já exerceram essa função, embora atualmente sejam consideradas, pela maioria dos estudiosos da Língua, conjunções. Assim, podemos concluir que “mas” é a conjunção adversativa prototípica, e as outras, periféricas.
Por exemplo:
Ele jogou na loteria: não teve, contudo, sorte.
Ele jogou na loteria: contudo, não teve sorte.
Ele jogou na loteria: não teve sorte contudo.
Com o “mas” poderíamos fazer somente uma construção:
Ele jogou na loteria, mas não teve sorte.
Se tentássemos fazer uma construção com essa conjunção em
qualquer outro lugar da frase, não teríamos um exemplo aceito pelos falantes de português:
*Ele jogou na loteria, não teve, mas, sorte.
Outro exemplo: quando vemos um pinguim, sabemos que
esse ser é uma ave; mas sabemos, também, que pinguins não voam
– eles nadam. Então, é ave ou não é? Com toda a certeza adquirida
com o nosso conhecimento enciclopédico, podemos afirmar que o
pinguim é uma ave; porém, ele não é um representante prototípico
dessa categoria, ou seja, não possui todas as características comuns
da categoria ave; assim, podemos dizer que o pinguim é um representante periférico dessa categoria.
Vale dizer que abordamos aqui os conceitos de categorização
e protótipo para entender como a metáfora é estudada por Lakoff e
Johnson (2003) em sua visão cognitiva daquilo que muitas pessoas
conhecem somente como figura de linguagem, não fazendo ideia
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do quanto a metáfora está presente em suas vidas. Iniciaremos, agora, o estudo do tema que motivou a elaboração deste trabalho.
Metáfora
De acordo com o trabalho de Lakoff e Johnson (1980), a
maioria das pessoas vê a metáfora como se fosse uma “imaginação
poética” ou um “floreio retórico”, em vez de linguagem comum.
Desse modo, a metáfora é vista sempre como “expressão linguística”, e nunca como forma de pensar ou agir, quando, na verdade,
o sistema conceptual humano, segundo Lakoff e Johnson, é amplamente metafórico. Assim, a metáfora como expressão linguística só
é possível porque existem metáforas em nosso sistema conceptual.
Por isso, muitos pensam de forma equivocada e não têm consciência do quanto a metáfora está integrada em nosso cotidiano, nas
expressões mais simples utilizadas para dar ênfase a algo ou, simplesmente, para tornar mais eficiente o diálogo entre interlocutores.
Portanto, o nosso sistema conceptual comum é fundamentalmente metafórico, em termos de pensamento e ação. A metáfora está
vinculada à nossa concepção, à maneira como vemos o mundo e
interagimos com outras pessoas. Nesse sentido, Abreu (2010, p. 46)
afirma:
Lakoff e Johnson [...] constataram que existem metáforas,
quase sempre as mesmas, empregadas regularmente em
diferentes línguas do mundo, a partir de domínios conceptuais que configuram organizações coerentes da experiência humana e que representam a maneira como pensamos e
agimos. Essas metáforas são empregadas frequentemente
para entender teorias e modelos, ligando uma ideia a uma
outra, para garantir uma melhor compreensão.
Segundo Lakoff e Johnson (2003), nosso conceito metafórico
é sistemático e segue padrões; isso significa que, ao utilizarmos
argumentos, por exemplo, em uma discussão, selecionamos aqueles
que nos serão úteis àquela ocasião. Quando Lakoff e Johnson
dizem que argumento é guerra, estão se referindo aos padrões de
argumentos que utilizamos nessas situações, para nos defendermos
e atacarmos. Exemplos: Attack a position (atacar uma posição),
indefensible (insustentável), strategy (estratégia), new line of
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attack (nova linha de ataque), win (ganhar), gain ground (ganhar
território) etc.
Desse modo, encontram-se, dentro da Linguística, os meios
para desvendar a concepção humana e seus aspectos sistematicamente metafóricos:
Uma vez que as expressões metafóricas em nossa linguagem estão amarradas por conceitos metafóricos, de maneira sistemática, podemos usar expressões linguísticas para
estudar a natureza dos conceitos metafóricos e obter um
entendimento da natureza metafórica de nossas atividades
(LAKOFF; JOHNSON, 2003, p. 08).
Para entender o que Lakoff e Johnson (2003) querem nos demonstrar, precisamos ter conhecimento de dois domínios semânticos que, embora não tenhamos consciência disso, nosso sistema
conceptual conhece muito bem: frames e scripts.
Frames
Quando pensamos ou comunicamos algo, nossas mentes fazem alusão às características daquilo que foi pensado ou dito. Por
exemplo: quando falamos em “sala de aula”, certamente, vem às
nossas mentes a imagem de um professor, da sala de aula com a
lousa e os alunos, e, normalmente, a imagem do professor falando
sobre um assunto correspondente às disciplinas escolares; jamais
pensaríamos, por exemplo, fora de um contexto específico, que, na
sala de aula, há um professor que está fazendo uma tatuagem num
aluno ou dando uma festa na sala. Todas essas características que
atribuímos à sala de aula estão dentro de frames. Abreu (2010, p.
37) explica:
Um frame é, portanto, o domínio semântico vinculado a
uma palavra, formado tanto por um conjunto de elementos prototípicos, que pode ser considerado uma espécie de
“núcleo duro”, como também por outros elementos vinculados à imaginação [...].
Portanto, frames são associações mentais abstratas que fazemos das palavras com seus significados, situações e características,
enfim, os elementos prototípicos do significado dessa palavra.
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Scripts
Script, como nos filmes, peças de teatro, novelas etc., é o
roteiro, a sequência que determinado acontecimento, situação ou
ocasião deve seguir de acordo com sua normalidade prototípica.
Assim, o script difere do frame na questão da “ordem dos acontecimentos”. Portanto, para que se realize, o script precisa ser estereotipado em seu desenvolvimento, abordando todas as características,
uma por vez (ABREU, 2010). Presenciamos scripts a todo momento em nossas vidas: um jogo de futebol, em que os jogadores entram
em campo, jogam 45 minutos com acréscimos, tem um intervalo,
depois, jogam mais 45 minutos com acréscimos e o jogo se encerra; podemos citar, ainda, um casamento, em que os convidados
chegam na igreja primeiro, depois o noivo e, por último, a noiva.
Depois vão para a festa, e aí temos mais um script a ser seguido.
Expostos os principais conceitos da Linguística e da Linguística Cognitiva, daremos início à nossa análise da polissemia de alguns verbos de movimento em sentido metafórico.
4.  ANÁLISE DE ALGUNS VERBOS DE MOVIMENTO EM
SENTIDO METAFÓRICO
Uma vez que o intuito é analisar eventos reais de língua (e
não eventos inventados, não reais), pois estamos tratando da maneira como o ser humano pensa metaforicamente, utilizamos a pesquisa em meio eletrônico para encontrar exemplos comuns ao nosso
cotidiano. Tais exemplos foram retirados dos sites corpusdoportugues.org, oglobo.com e agenciabrasil.ebc.com.br.
Neste primeiro exemplo, um músico dá-nos notícias sobre as
novidades de sua banda:
(1)“Estamos caminhando para algumas direções um pouco inéditas na banda.”
Em (1), podemos perceber o esquema de percurso. “Caminhar para direções inéditas” significa, nesse contexto, realizar um
trabalho que ainda não fora realizado pela banda anteriormente. Tal
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metáfora é muito utilizada por nós no dia a dia, quando dizemos a
alguém que queremos “descobrir novos caminhos em nossas vidas”
ou “que a situação tomou um rumo diferente”; assim, temos a ideia
de encontro do desconhecido. Nesse conceito de “caminhar”, ainda
temos a noção de que para frente é bom e para trás é ruim; porém,
o músico não parece pretender nos dar esse tipo de informação – ele
simplesmente quer nos dizer que a banda está passando por mudanças.
(2)“A menina voou para a sala e voltou depois anunciando que o
seu padrinho chegaria daí a dois ou três dias.”
O verbo voar também nos transmite a noção de percurso;
mas, além disso, quando dizemos que alguém fez algo “voando”,
entendemos que aquilo foi feito muito rapidamente. Portanto, utilizamos esse frame de voar para que haja um compartilhamento das
características de algo que voa com o ser ou objeto de que falamos,
proporcionando, assim, a ideia de que aquele ser ou objeto realizou
algo com rapidez. No exemplo, quando é dito que a menina “voa
para a sala”, entendemos que ela corre para sala mais rápido que o
normal.
(3)“É também um sistema hipertextual, porque trabalha com links
no espaço que permitem o espectador saltar de um ponto a outro: estou de fato no Corcovado, vendo a paisagem circundante,
mas posso pular para o Pão de Açúcar e ver a paisagem ao entorno, como se eu estivesse lá mesmo.”
Nesse exemplo, temos o esquema de percurso. Quando o
narrador diz poder “pular” para o Pão de Açúcar, ele nos dá a ideia
de que pode ir para outro local rapidamente, e, também, antes disso, quando nos diz a palavra link, sabemos de que se trata de algo
vinculado à internet, uma situação delimitada dentro da tela de um
computador. O indivíduo transporta-se para o interior do ambiente
virtual, situação cada vez mais comum nos dias atuais.
Agora, vejamos um exemplo, com sentido negativo, muito
utilizado no cotidiano:
(4)“Beto me chutou e eu, burra, continuo a curtir paixão.”
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Esse verbo, além de nos dar a ideia de agressão (o que não é o
caso do exemplo (4)), nos faz pensar em “distância”. Como vemos
no futebol, pode-se “chutar a bola para longe”, e, na relação afetiva,
a distância é vista de maneira negativa. Pensando no esquema de
percurso, podemos acrescentar que distante é ruim, e perto é bom,
seguindo, assim, o esquema centro-periferia de Lakoff e Johson
(2003). Agora, vejamos o título de uma matéria sobre a inflação:
(5)“Inflação deve cair a partir do segundo semestre, diz Tombini.”
Em (5), Lakoff e Johson explicam-nos, por meio, das Metáforas Ontológicas (Ontological Metaphors) que a inflação sofre uma
personificação, ou seja, podemos nos referir a ela como um ser que
quantificamos, identificamos em aspectos particulares e até mesmo
respeitamos. Mas a questão de movimento, como “up is good” e
“down is bad”, como explicado na obra de Lakoff e Johnson, não
se aplica, necessariamente, à inflação, pois o conceito que temos de
inflação nos faz entender que uma alta seria algo ruim.
O frame determina se essa relação cima – bom / baixo – ruim
é positiva ou negativa. No caso de “hoje estou pra cima” – positivo
(cima – bom), mas “a inflação subiu” é negativo (cima – ruim), pois
o frame “inflação” traz a noção negativa/prejudicial às pessoas.
(6)“Mas, na hora de embarcar para o Brasil, o ministro Mercadante garantiu que o governo não jogou a toalha e que vai lutar
para manter os contratos atuais de distribuição de royalties do
petróleo.”
Nesse exemplo temos o esquema de dinâmica de forças.
“Jogar a toalha” é um ato de desistência conhecido do frame das
lutas de boxe, em que o treinador joga a toalha no ringue, para que o
juiz pare a luta quando seu lutador está perdendo (ABREU, 2010).
Essa expressão, que utiliza o verbo jogar, é utilizada quando há a
situação da desistência em várias ocasiões, mas, em vez de, simplesmente, dizermos “desistiu”, usamos a metáfora.
(7)“Oscar Niemeyer, um gênio que atravessou o tempo.”
Nesse título, entendemos a intenção do emissor da mensagem sobre o fato de Niemeyer ter “atravessado” o tempo por conhecermos o trabalho do arquiteto. Sabemos da grandiosidade de
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sua obra e que ele viveu mais de cem anos. E mesmo que a pessoa
não conheça Niemeyer, quando falamos que alguém é um gênio e
que “atravessou” o tempo, criamos um frame baseado nos grandes nomes da história e sabemos que essa pessoa terá seu nome
imortalizado pela a sua obra. Temos, também, nesse exemplo, a
noção de percurso, que envolve, no caso de “atravessar” o tempo,
a origem: como o arquiteto começou a carreira; trajeto: o que ele
realizou durante a vida; e meta: a conclusão a que chegamos de que
ele “atravessou o tempo” e alcançou um nível que não é qualquer
pessoa que atinge, pois somos seres finitos e totalmente passíveis à
ação do tempo.
(8)“Brasil busca estratégias para atravessar a crise externa sem retrocesso, avalia o presidente do BNDES.”
Nesse exemplo, temos o esquema de percurso, pois o verbo
atravessar nos dá noção de trajeto a se percorrer; no entanto, sabemos que crise trata-se de uma fase pela qual o país está passando,
assim, essa ideia de atravessar está relacionada ao tempo que o país
está levando para superar essa crise; há, também, o esquema de bloqueio, porque a crise é um obstáculo que o país precisa enfrentar
sem sofrer retrocesso, sem regredir.
(9)“Tem para todo mundo, quando lança moda, é para todo mundo”, afirmou a estilista que completou: “Deve ser usada na mão,
não pode colocar como a carteira embaixo do braço.”
“Lançar moda” e “lançar um álbum” são expressões tão utilizadas que nem sequer percebemos o sentido metafórico do verbo
lançar. Pensando no conceito de Lakoff e Johson (2003), podemos
relembrar o conceito centro-periferia e propor que quem lança
uma tendência está colocando algo em evidência no mercado; assim, aquilo que é o centro das atenções se torna mais importante.
5.  CONCLUSÃO
Podemos afirmar que o uso dos verbos de movimento no sentido metafórico, assim como as metáforas primárias, tem relação
com a concepção do mundo físico em que vivemos. Mas, o que nos
motiva a usar a linguagem de tal forma? Segundo Abreu (2010, p.
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111), “[...] a ‘concretização’ do pensamento abstrato [...] se torna
mais palpável por meio da ideia de movimento”. Podemos pensar,
também, que o corpo é algo que todos temos em comum; assim,
a maneira de enxergar esse mundo concreto, físico, é semelhante.
Portanto, utilizar algo que possuímos em comum com nosso semelhante pode tornar o discurso mais claro, obtendo-se maior êxito na
transmissão e aceitação (interpretação) da mensagem pelo receptor.
Há, ainda, a questão da metáfora como ênfase das expressões que
utilizamos com o intuito de sensibilizar o receptor da mensagem.
Por meio da reflexão sobre categorização, frames, scripts,
esquemas de imagens, protótipos e metáforas, podemos obter
um esclarecimento sobre vários aspectos da língua. Assim como
Saussure explicou o conceito de paradigma e sintagma e nos
mostrou a organização da nossa mente para criar sentenças, os
conceitos que estudamos neste trabalho apresentam a forma como
o nosso pensamento é estruturado, ou seja, como organizamos e
separamos concepções do nosso mundo.
A metáfora, ou pensamento metaforicamente estruturado,
abordado por Lakoff e Johnson (2003), ensina-nos o quanto essa
concepção do mundo faz parte da nossa linguagem. Após o estudo
realizado, podemos ter outra noção do conceito de metáfora, um
conceito muito mais amplo e complexo, envolvendo esses temas
que citamos anteriormente e, na obra de Lakoff e Johnson (2003),
vários conceitos de metáfora que estão inseridas em nossas vidas e
pensamentos.
Abordamos, neste trabalho, somente alguns temas da Linguística Cognitiva. No entanto, ela abrange vários conceitos que
explicam o reflexo, na linguagem, da interação do ser humano com
seu meio, assim como a Neurociência e a Psicologia. Tais conceitos sempre poderão ser aplicados à nossa linguagem, mesmo que a
língua mude com o tempo, e o nosso meio de interação, também.
As metáforas primárias e as expressões utilizando verbos de movimento também passam por mudanças; assim, teremos sempre novas formas de nos referirmos ao mundo.
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Ajudando a explicar características da linguagem humana, a
Linguística Cognitiva pode auxiliar na relação de ensino-aprendizagem, trazendo novas formas de conceber o êxito na educação.
REFERÊNCIAS
ABREU, Antônio Soárez. Linguística cognitiva: uma visão geral e aplicada.
Cotia: Ateliê Editorial, 2010.
AGÊNCIA BRASIL. Notícia. Disponível em: <http://agenciabrasil.ebc.com.br/
noticia/2012-07-23/brasil-busca-estrategias-para-atravessar-crise-externa-semretrocesso-avalia-presidente-do-bndes>. Acesso em: 18 mai. 2013.
CORPUS DO PORTUGUÊS. Páginas de pesquisa. Disponível em: <http://
www.corpusdoportugues.org/>. Acesso em: 18 mai. 2013.
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LAKOFF, George; JOHNSON, Mark. Metaphors we live by. Disponível em:
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retrospectiva de teorias e pesquisas. Disponível em: <www.gelne.ufc.br/revista_
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MARTELLOTA, Mario Eduardo (Org.). Manual de Linguística. São Paulo:
Contexto, 2008.
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