Entrevista Professor da UNILA traça perfil dos consumidores de

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Entrevista
Professor da UNILA traça perfil dos consumidores de bebidas alcoólicas no Brasil
Verão, férias, carnaval… esta é uma época do ano em que os hábitos mudam, ficamos mais
dispostos para as festas, passeios e reuniões com amigos, sejam em casa ou em bares. Por ser uma
época muito descontraída, devemos também intensificar a vigilância em alguns hábitos que podem
acarretar males para vida toda, como o do consumo de bebidas alcoólicas.
No que se refere ao consumo e dependência de álcool, várias pesquisas têm demonstrado que o
brasileiro inicia o consumo de bebidas alcoólicas muito jovem e esse hábito é regular.
A CISSP conversou com o Dr. Roberto de Almeida, clínico geral e professor da Universidade
Federal da Integração Latino-Americana (UNILA), que traçou o perfil do brasileiro quanto ao
consumo de bebidas alcoólicas e deu esclarecimentos sobre as consequências do consumo
exagerado.
CISSP - Com relação ao perfil de consumo de bebidas alcoólicas no Brasil, o que as pesquisas
revelam com relação a idade de início do hábito e quanto permanecem até a idade adulta?
Homens bebem mais?
Roberto de Almeida - No Brasil como na maioria dos países latinoamericanos em
desenvolvimento, o perfil de consumo de álcool é maior nos homens do que nas mulheres. Segundo
dados do IBGE, 36,3%, dos homens, tomam algum tipo de bebida alcoólica uma vez ou mais por
semana, enquanto apenas 13% das mulheres, ingerem álcool. Questionamento: Será que homens
bebem mais para se afirmar? Homens usam mais álcool como estratégia de amortecimento de suas
dificuldades não compartilhadas?
Cultos bebem mais. O consumo de álcool é maior nas pessoas de nível superior (30,5% das pessoas
que bebem) enquanto as pessoas sem nenhuma instrução ou fundamental incompleto representam
19% das pessoas que bebem. Questionamento: Por que as pessoas com mais escolaridade e mais
acesso às informações sobre o problema do álcool paradoxalmente bebem mais?
Jovens bebem mais. A faixa etária dos 18 aos 39 anos concentram 55,6% das pessoas que bebem.
Quem começa beber cedo tem maiores consequências negativas. Questionamento: Por que a
juventude acha bonito beber em excesso?
CISSP - Dr. Roberto, muito ouvimos falar sobre o consumo excessivo de bebidas alcoólicas,
porém sabemos que o álcool traz danos a saúde, não importando a quantidade consumida.
Quais são as principais consequências do álcool sobre as pessoas e sociedade?
Roberto de Almeida - O consumo do álcool tem graves danos à saúde e qualidade de vida através
de 3 mecanismos: 1) toxicidade crônica pelo consumo de álcool de maneira regular. 2) intoxicação
aguda pelo consumo esporádico de grandes quantidades. 3) dependência química. Todos os três
mecanismos causam problemas graves na esfera biológica (fígado, cérebro), psicológica (conflitos,
brigas, violência, comportamentos de risco) e social (acidentes, mortes precoces, invalidez).
Questionamento: Será que as pessoas se autoenganam sobre os efeitos danosos do álcool no médio
e longo prazo devido a ilusão de benefício com o prazer no curto prazo?
CISSP - Qual efeito do álcool sobre o cérebro?
Roberto de Almeida - O efeito agudo do álcool é atuar como depressor do sistema nervoso,
paradoxalmente com doses baixas álcool, os primeiros efeitos é deprimir o sistema que
inibertamento, por isso a pessoa que bebe fica mais desinibida, mais alegre, eufóricas, excitadas. Se
continuar a beber entra em confusão mental, torpor e pode chegar ao coma e mesmo morte por
depressão do sistema nervoso central. Questionamento: Por que desinibir não é a mesma coisa que
se desreprimir? Por que as pessoas usam e abusam do álcool para se anestesiar ou fugir do que?
O efeito crônico do álcool leva a uma desestruturação das funções executivas do cérebro, problemas
de memória que tornam a vida da pessoa impossível devido a dependência. Questionamento: Como
ajudar as pessoas com problemas graves com álcool?
CISSP - Existe um limite aceitável para o consumo de bebida alcoólicas?
Roberto de Almeida - A OMS (Organização Mundial de Saúde) apresenta o limite de 30g/dia de
álcool. Existem tabelas que traduzem esse limite em termos de copos e tipo de bebida. Exemplo: 1
copo de chope tem 10g.
Questionamento: Ter limites em termos de consumo de bebida exigem autocontrole, mas perder
controle não é um dos objetivos de quem toma álcool devido aos efeitos agudos sobre o cérebro?
Isso é paradoxo ou contradição? Beber com moderação é um ato de cidadania e responsabilidade de
cada um.
Quadro 1 - Estágios da intoxicação pelo álcool
Concentração de
álcool no sangue
(CAS)
(g /100 ml de
sangue)
Estágio
0.01 - 0.05
Subclínico
0.03 - 0.12
0.09 - 0.25
0.18 - 0.30
0.25 - 0.40
Sintomas clínicos
- Comportamento normal
Euforia
- Euforia leve, sociabilidade,
indivíduo torna-se mais falante
- Aumento da auto-confiança
desinibição, diminuição da atenção,
capacidade de julgamento e controle
Início do prejuízo sensório-motor
- Diminuição da habilidade de
desenvolver testes
Excitação
- Instabilidade e prejuízo do
julgamento e da crítica
- Prejuízo da percepção, memória e
compreensão
- Diminuição da resposta sensitiva e
retardo da resposta reativa
- Diminuição da acuidade visual e
visão periférica
- Incoordenação sensitivo-motora,
prejuízo do equilíbrio
- Sonolência
Confusão
- Desorientação, confusão mental e
adormecimento
- Estados emocionais exagerados
- Prejuízo da visão e da percepção da
cor, forma, mobilidade e dimensões
- Aumento da sensação de dor
- Incoordenação motora
- Piora da incoordenação motora, fala
arrastada
- Apatia e letargia
Estupor
- Inércia generalizada
- Prejuízo das funções motoras
- Diminuição importante da resposta
aos estímulos I
- Importante incoordenação motora
- Incapacidade de deambular ou
coordenar os movimentos
- Vômitos e incontinência
prejuízo da consciência, sonolência
ou estupor
0.35 - 0.50
Coma
- Inconsciência
- Reflexos diminuídos ou abolidos
- Temperatura corporal abaixo do
normal
- Incontinência
- Prejuízo da respiração e circulação
sanguínea
- Possibilidade de morte
0.45 +
Morte
- Morte por bloqueio respiratório
central
Adaptado de Dubowski, K.M, 1985 (2)
Fontes:
OMS – Observatório de Saúde Global
IBGE – Pesquisa Nacional de 2013
Política Nacional sobre Álcool
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