Ecstasy altera fisiologia da retina com dose única

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Ecstasy altera fisiologia da retina com dose única
Estudo da UC confirma que falta de acuidade visual provocada por droga
dura 24h
2012-01-03
Por Marlene Moura (texto)
Equipa de investigação da UC.
Já se sabia, segundo diferentes especialistas, que o ecstasy – droga psicotrópica do grupo das
anfetaminas, essencialmente composta pelo fármaco NDMA* – provoca toxicidade no cérebro, mas
a ciência desconhecia se afectava a visão, especialmente a função da retina, “tendo em conta que
esta membrana do globo ocular faz parte do sistema nervoso central, ou seja, é um apêndice do
cérebro”, tal como frisou o investigador Francisco Ambrósio.
Um estudo pioneiro a nível mundial, desenvolvido por uma equipa do Instituto Biomédico de
Investigação da Luz e Imagem, da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra (UC),
confirmou, em modelo animal (rato), que a droga pode de facto alterar a percepção e acuidade
visual durante, pelo menos, 24 horas. O trabalho, coordenado por Francisco Ambrósio,
desenvolvido ao longo dos últimos quatro anos, foi publicado na revista científica americana, «PloS
One».
“O objectivo foi perceber se o consumo de pastilhas que contêm este fármaco [NDMA –
substância que provoca euforia e excitação] poderá ter repercussões na visão e de que
forma; por isso, testámos os efeitos administrando uma dose única, mas elevada em rato s”,
explicou o coordenador do grupo ao «Ciência Hoje».
Para avaliar a falta de acuidade visual, o estudo da equipa de investigação, onde João Martins é
o primeiro autor, baseou os seus resultados recorrendo a eletrorretinogramas (como uma
espécie de encefalograma para o cérebro), que tem a função de avaliar a resposta da retina a
estímulos luminosos e analisar a sua fisiologia. “Verificaram-se alterações nas amplitudes das
ondas (A e B) e durante algum tempo [24 horas] – o que significa que os foto-receptores
(células da retina responsáveis pela recepção e formação) foram afectados, assim como a sua
função”, sublinhou o coordenador da investigação.
Francisco Ambrósio, coordenador da investigação.
Dose única
Francisco Ambrósio explicou também que “este estudo é importante para perceber que efeitos
poderá provocar o consumo continuado de ecstasy na fisiologia da retina”, mas acrescenta
que apesar de “no final de sete dias” já “não se verificarem sinais das alterações” provocadas
pela droga, tratou apenas de uma dose única e a longo prazo os efeitos podem subsistir.
Por isso, os investigadores pretendem "mimetizar, também em modelo animal, o uso
continuado de ecstasy segundo dois paradigmas: o consumidor jovem que vai passar uma
semana de férias em grupo e toma diariamente ecstasy, e o consumidor jovem de fim -desemana. O objectivo consiste em avaliar as alterações causadas na fisiologia da retina”,
avançou o comunicado.
Sabe-se, no entanto, que os danos que o ecstasy provoca no cérebro, podem ser irreversíveis e,
por isso, “é bem possível que haja repercussões na visão”, segundo concluiu o especialista.
*Methylenedioxymethamphetamine
http://www.cienciahoje.pt/index.php?oid=52412&op=all
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