UNIVERSIDADE CASTELO BRANCO CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA TRANSFERÊNCIA DE EMBRIÃO E FERTILIZAÇÃO “IN VITRO” (FIV) EM BOVINOS Igor Nascimento Martinez Leandro César de Souza Rio de Janeiro. set. 2007 IGOR NASCIMENTO MARTINEZ Aluno do curso de Especialização em Medicina Veterinária da UCB Matrícula LEANDRO CÉSAR DE SOUZA Aluno do curso de Especialização em Medicina Veterinária da UCB Matrícula TRANSFERÊNCIA DE EMBRIÃO E FERTILIZAÇÃO “IN VITRO” (FIV) EM BOVINOS Trabalho monográfico de conclusão do curso de Medicina Veterinária (TCC), apresentado à UCB como requisito parcial para a obtenção do título Especialização em Produção e Reprodução Bovina, sob a orientação do Professor: Marconi Gauttieri Abba Rio de Janeiro. set. 2007 TRANSFERÊNCIA DE EMBRIÃO E FERTILIZAÇÃO “IN VITRO” (FIV) EM BOVINOS Elaborado por Igor Nascimento Martinez e Leandro César de Souza Alunos do Curso de Especialização em Medicina Veterinária da UCB Foi analisado e aprovado com grau: ....................................... Rio de Janeiro_____de_________________ de___________ _________________________________________________ Membro _________________________________________________ Membro _________________________________________________ Professor Orientador Presidente Rio de Janeiro. set. 2007 RESUMO O objetivo desse estudo é o de contribuir para um melhor entendimento, aperfeiçoamento e expansão da transferência de embrião e fertilização “in vitro” (FIV). A metodologia utilizada para esse estudo é denominada análise teórica, onde foram feitas revisões bibliográficas sobre o tema, abrangendo a coleta de informações em livros, sites, revistas e artigos. O estudo do tema desenvolveu-se em três partes: Na primeira parte será descrito sobre a transferência de embriões compreendendo desde sua aplicação até seu rastreamento e avaliação. Na segunda parte será descrito sobre a fertilização “in vitro” observando desde suas vantagens até a classificação de embriões. Na terceira parte será descrito sobre a aspiração folicular guiada por ultra-sonografia (OPU-FIV), compreendendo desde a fisiologia ovariana até a sincronização da onda para superovulação. Conclui-se através desse estudo que são bem maiores as vantagens do que as desvantagens da transferência de embrião e fertilização “in vitro” em bovinos. Espera-se que este trabalho possa contribuir para um melhor entendimento, aperfeiçoamento e expansão da transferência de embrião e fertilização “in vitro” (FIV), pois foram descorridos vários procedimentos utilizados para transferência embrião e fertilização “in vitro” em bovinos (FIV). Palavras-chave: transferência embrião; fertilização “in vitro”; bovinos. ABSTRACT The objective of this study is to contribute for one better agreement, perfectioning and expansion of the embryo transference and fertilização “in vitro” (FIV). The methodology used for this study is called theoretical analysis, where bibliographical revisions on the subject had been made, enclosing the collection of information in books, sites, magazines and articles. The study of the subject it was developed in three parts: In the first part he will be described on the transference of embryos understanding since its application until its tracking and evaluation. In the second part in will be described on the fertilização “in vitro” observing since its advantages until the classification of embryos. In the third part he will be described on the aspiration to folicular guided for extreme-sonografia (OPU-FIV), understanding since the ovariana physiology until the synchronization of the wave for superovulação. It is concluded through this study that is well bigger the advantages of what the disadvantages of the embryo transference and fertilização “in vitro” in bovines. One expects that this work can contribute for one better agreement, perfectioning and expansion of the embryo transference and fertilização “in vitro” (FIV), therefore had been descorridos some procedures used for transference embryo and fertilização “in vitro” in bovines (FIV). Word-key: transference embryo; fertilização “in vitro”; bovines. SUMÁRIO RESUMO................................................................................................................ iii LISTA DE TABELAS............................................................................................. ix LISTA DE FIGURAS............................................................................................... x 1. INTRODUÇÃO...................................................................................................11 2. TRANSFERÊNCIA DE EMBRIÕES..................................................................13 2.1 Aplicações e Limitações.............................................................................13 2.2 Seleção da doadora....................................................................................14 2.3 Superovulação............................................................................................14 2.4 Esquema de tratamento para a superovulação..........................................15 2.4.1 ECG (ou PMSG)...................................................................................16 2.4.2 FSH.......................................................................................................16 2.5 Fatores que interferem nos resultados da superovulação..........................17 2.5.1 Dose do hormônio.................................................................................17 2.5.2 Idade da doadora..................................................................................17 2.5.3 Pureza do hormônio..............................................................................17 2.5.4 Condições estressantes........................................................................18 2.5.5 Dia do inicio do tratamento...................................................................18 2.6 Superovulação associada a implantes de progesterona............................18 2.7 Sincronização do estro...............................................................................19 2.7.1 Métodos de sincronização....................................................................19 2.7.1.1 Luteolíticos......................................................................................19 2.7.1.2 Progestágenos................................................................................20 2.8 Seleção das receptoras..............................................................................20 2.9 Coleta dos embriões...................................................................................22 2.9.1 Rastreamento e avaliação..................................................................24 2.9.2 Classificação quanto ao estágio de desenvolvimento........................25 3. FERTILIZAÇÃO "IN VITRO".............................................................................29 3.1 Vantagens...................................................................................................29 3.2 Coleta de Ovócitos.....................................................................................30 3.3 Recuperação Ovocitária.............................................................................31 3.3.1 Utilizando doadoras superovuladas...................................................31 3.4 Utilizando doadoras não superovuladas.....................................................31 3.5 Coleta in vitro..............................................................................................32 3.5.1 Método in vitro....................................................................................32 3.6 Maturação do Ovócito.................................................................................32 3.7 Preparação Espermática.............................................................................34 3.8 Fecundação in vitro....................................................................................35 3.8.1 Cultivo de embriões in vitro................................................................36 3.8.2 Classificações dos embriões..............................................................37 4. ASPIRACÃO FOLICULAR GUIADA POR ULTRASONOGRAFIA (OPU- FIV)........................................................................................................................41 4.1. Fisiologia ovariana.....................................................................................41 4.2. Aplicações da técnica................................................................................42 4.2.1 Produção de maior número de embriões..............................................42 4.2.2. Menor intervalo entre gerações...........................................................43 4.2.3. Melhor aproveitamento dos animais....................................................44 4.3 Avaliação morfológica dos ovócitos............................................................44 4.4. Pesquisas na área da embriologia............................................................45 4.5 Produção in vitro de embriões (PIV)...........................................................46 4.6. Produtos obtidos de vacas que não respondem à superovulação............48 4.7 Produtos obtidos de animais com problemas reprodutivos........................48 4.8 Utilização de animais mortos......................................................................49 4.9 Pré-Seleção de Touros...............................................................................49 4.10 Recuperação............................................................................................50 4.10.1 Ovário de matadouro com ou sem identificação.................................50 4.10.2 Colheita de ovários e ovidutos............................................................50 4.10.3 Colheita e seleção de oócitos.............................................................51 4.11 Vacas "acidentadas".................................................................................52 4.12 Fatores de variação em programas de OPU............................................52 4.13 Técnica de aspiração folicular guiada por ultra-som................................55 4.13.1 Procedimentos.......................................................................................55 4.14 Superovulação..........................................................................................57 4.14.1 Vantagens...........................................................................................57 4.14.2 Desvantagens.....................................................................................58 4.15 Variações na recuperação........................................................................59 4.15.1 Diferença entre animais......................................................................59 4.15.2 Variações entre operadores................................................................59 4.15.3 Variações do comportamento do animal.............................................60 4.15.4 Tipo de Animal....................................................................................60 4.15.5 Variações com o tipo de equipamento utilizado..................................60 4.15.6 Freqüência da aspiração.....................................................................61 4.16 Amniocentese...........................................................................................62 4.16.1 Sincronização da onda para Superovulação......................................62 CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................................65 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.....................................................................67 LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Classificação dos embriões bovinos quanto ao estágio desenvolvimento e idade aproximada....................................................................26 Tabela 2 - Classificação dos embriões bovinos quanto a sua qualidade..............27 Tabela 3 – Preparação de meios...........................................................................63 Tabela 4 – Meio de Transporte..............................................................................63 Tabela 5 - *TCC 199 HEPES.................................................................................64 de LISTA DE FIGURAS Figura 1-Transferência de embriões......................................................................23 Figura 2 - Esquema de montagem dos embriões em palhetas.............................28 Figura 3 - Ovócito bovino imaturo, logo após a punção.........................................33 Figura 4 - Embriões bovinos produzidos in vitro, 48h após a FIV..........................33 Figura 5 – Mórula compactada..............................................................................37 Figura 6 – Blastocisto inicial...................................................................................38 Figura 7 – Blastocisto.............................................................................................38 Figura 8 – Blastocisto expandido...........................................................................39 Figura 9- Blastocisto eclodido................................................................................39 1. INTRODUÇÃO A técnica de transferência de embriões (T.E.) se desenvolve rapidamente na pecuária bovina brasileira. Com ela, o melhoramento genético pode ser efetuado com mais rapidez e eficiência, mesmo em pequenas populações de animais, com a disseminação do material genético de uma fêmea zootecnicamente superior. Com a finalidade de aproveitamento da capacidade reprodutiva de animais geneticamente superiores e tendo conhecimento da fisiologia ovariana, deu-se o desenvolvimento de protocolos hormonais possibilitando assim a ovulação múltipla seguida da transferência de embriões. Embora com grandes avanços nos últimos anos, o procedimento ainda é pouco difundido, quer pelo custo relativamente elevado, quer pela variação nos resultados (FERNANDES, 2001). O objetivo do presente trabalho tem como finalidade contribuir para um melhor entendimento, aperfeiçoamento e expansão da transferência de embrião e fertilização “in vitro” (FIV) em bovinos. A metodologia utilizada para esse estudo é denominada análise teórica, segundo Tachizawa (1989), esse método consiste em: • Uma simples, organização coerente de idéias originarias de bibliografia de alto nível, em torno de um tema específico; • Uma análise crítica ou comparativa de uma obra, teoria ou modelo já existente, a partir de um esquema conceitual bem definido; • O desenvolvimento realmente inovadora, de uma monografia a partir de fontes exclusivamente bibliográficas. Utiliza-se uma revisão bibliográfica sobre o tema, abrangendo a coleta de informações em livros, sites, revistas e artigos, englobando assim maiores informações sobre o tema proposto. O estudo do tema desenvolveu-se em três partes: Na primeira parte será descrito sobre a transferência de embriões compreendendo desde sua aplicação até seu rastreamento e avaliação. Na segunda parte será descrito sobre a fertilização “in vitro” observando desde suas vantagens até a classificação de embriões. Na terceira parte será descrito sobre a aspiração folicular guiada por ultra-sonografia (OPU-FIV), compreendendo desde a fisiologia ovariana até a sincronização da onda para superovulação. 2. TRANSFERÊNCIA DE EMBRIÕES 2.1 Aplicações e Limitações Assim como qualquer outra técnica aplicada à pecuária, a transferência de embriões apresenta vantagens ou aplicações e também algumas restrições e limitações à sua utilização. As principais são: • Multiplicação rápida de um genótipo superior; • Facilita transporte e estocagem de material genético; • Permite controle de doenças; • Controle do sexo do produto; • Produção de descendentes de um animal jovem. As principais limitações são: • Custo operacional; • Condições mínimas. Existem algumas condições do animal e principalmente da propriedade, que devem ser levadas em consideração antes de se iniciar um programa de T.E.. As principais são descritas a seguir. • Doadoras geneticamente superiores; • Aspecto sanitário do rebanho; • Nutrição e reprodução; • Mão-de-obra (FERNANDES, 2001). 2.2 Seleção da doadora Antes de iniciar um programa de T.E., a avaliação da doadora pode eliminar o risco de aborrecimentos futuros. As características principais a serem consideradas são as seguintes: • Geneticamente superior; • Não apresentar anomalias congênitas e/ou hereditárias; • Histórico de boa fertilidade; • Trato genital compatível com a técnica e sem alterações; • Boa condição corporal; • Livre de doenças infecto-contagiosas; • Banho em tripsina limpa os embriões de patógenos; • Fora de qualquer condição de estresse; • CicIando regularmente (FERNANDES, 2001). 2.3 Superovulação Tem como objetivo estimular, através de administração de hormônios, o desenvolvimento de um grande número de folículos até o estágio no qual possa ovular. Estes folículos a mais que se tornam "ovulatórios", pertencem a uma onda de desenvolvimento, e normalmente sofreriam atresia. Com a indução hormonal, fornecemos a estes folículos também a condição de ovular. Desta forma, a afirmação que ocorre um desgaste reprodutivo da doadora, não é verdade. Geralmente não se utiliza hormônio visando a ovulação direta dos folículos. A onda pré-ovulatória de LH, que provocaria a ovulação de um folículo único no caso de um ciclo normal, geralmente é suficiente para luzir a ovulação de todos que possuam condição para tal, após um processo indução hormonal. A utilização de análogos do GnRH para melhorar a taxa ovulação apresenta resultados discordantes na literatura, porém pode ser alternativa para melhorar os resultados de determinados animais. É a etapa menos possível dentro da técnica de T. E. (FERNANDES, 2001). A variação dos resultados da superovulação é o principal fator limitante à grande contribuição que a técnica de transferência de embriões (T .E.) pode fornecer ao melhoramento genético é necessário um controle rígido das variáveis possíveis, para que o processo de superovulação possa ser uma etapa mais previsível dentro do contexto da T.E.. O objetivo principal da superovulação é produzir um grande numero de ovulações e obter um número correspondente de embriões viáveis, que resultem em uma elevada taxa de gestação nas receptoras (FERNANDES, 2001). 2.4 Esquema de tratamento para a superovulação Independente do tipo de hormônio a ser utilizado, quando se visa a estimulação de um grande numero de folículos, devem-se ter em mente quando iniciar o tratamento, pois aqueles folículos que já entraram em atresia não podem ser mais estimulados a desenvolverem. Assim, os protocolos de superovulação devem iniciar numa fase da onda de desenvolvimento folicular onde o folículo dominante ainda não tenha provocado o início da atresia dos subordinados. As principais bases utilizadas são as seguintes: 2.4.1 ECG (ou PMSG) Trata-se de um hormônio denominado Gonadotrofina Coriônica Eqüina. É obtido do soro de éguas entre a 40.º e 100.º dia de gestação. Possui ação semelhante ao FSH e LH na mesma molécula. 2.4.2 FSH É a preparação hormonal mais utilizada para a superovulação de bovinos. Em sua maioria, os produtos hoje disponíveis no mercado, têm origem suína ou ovina, sendo extraído da hipófise destas espécies. Utilizam-se geralmente 8 aplicações, intervaladas de 12 horas. Alguns autores utilizam doses iguais, porém preferem dose total (100%) e divide a mesma em 8 doses menores, em regime decrescente. Este esquema pode ser usado para qualquer produto a base de FSH. A prostaglandina é aplicada simultaneamente a 7ª. e/ou 8ª. dose de FSH, e visa a regressão do corpo lúteo formado no dia 0 (cio base), levando a redução na taxa de progesterona, removendo o bloqueio na secreção de GnRH, dando início a um novo ciclo. Quando ocorrer a onda de LH, esta teoricamente encontrará uma série de folículos em condições de ovular, devido à indução hormonal (FERNANDES, 2001). A aplicação de prostaglandina no terceiro dia de superovulação, como executada por alguns profissionais, às vezes faz com que o animal manifeste cio antes da última dose de FSH, que neste caso, não teria mais efeito. 2.5 Fatores que interferem nos resultados da superovulação 2.5.1 Dose do hormônio Infelizmente é um fator que possui muita variação individual, e mesmo num animal, entre as coletas. 2.5.2 Idade da doadora Existe uma variação na resposta dos animais de acordo com a idade que deve ser levada em consideração. 2.5.3 Pureza do hormônio Para produtos a base de FSH, a pureza diz respeito à relação FSH: LH da preparação. 2.5.4 Condições estressantes Além de qualquer condição patológica, como as descritas acima, um dos principais fatores estressantes, que existe em praticamente em todas as regiões do país, e o estresse térmico. 2.5.5 Dia do inicio do tratamento O tratamento superovulatório deve começar próximo ao início de uma onda de desenvolvimento folicular, porém os animais geralmente possuem duas ondas por ciclo, podendo inclusive, ter 3 ou até mesmo 4, sendo isto menos freqüente (FERNANDES, 2001). 2.6 Superovulação associada a implantes de progesterona Trata-se de uma técnica desenvolvida recentemente, onde é possível iniciar o tratamento superovulatório das doadoras, independentemente do dia do ciclo estral no qual as mesmas se encontram. É um procedimento muito interessante por facilitar a programação de coletas, em diferentes propriedades e também de auxiliar no agrupamento de doadoras a serem coletadas no mesmo período. Para tal procedimento é necessária a sincronização previa da onda de crescimento folicular (GnRH ou Benzoato de Estradiol), além do uso de um implante de progesterona (Crestar ou CIDR), que vai funcionar como um corpo lúteo artificial, durante o processo de superovulação (FERNANDES, 2001). 2.7 Sincronização do estro A sincronização do estro tem sido amplamente utilizada, tanto em casos de monta natural ou inseminação artificial, como na técnica de transferência de embriões, para qual é imprescindível. O principal aspecto fisiológico da sincronização de estro entre doadoras e receptoras, é que devemos retirar o embrião de um ambiente (útero da doadora) e colocá-Io em outro ambiente (útero da receptora), com condições o mais semelhantes possível, daquelas de origem. A transferência de embriões para receptoras não sincronizadas reduz drasticamente a taxa de gestação. 2.7.1 Métodos de sincronização Antecipando ou atrasando a próxima manifestação de estro. Qualquer uma destas formas necessita que os animais que vão ser sincronizados estejam cicIando regularmente. A relação dos métodos e drogas mais empregadas encontram-se nos subitens abaixo relacionados: 2.7.1.1 Luteolíticos Age provocando uma antecipação do próximo estro (cio), pela regressão do corpo lúteo antes de um período normal (lise do CL = Luteolíticos). Em média, o estro ocorre de 36 a 72 horas após a aplicação. Quando sincronizamos o estro através de PGF2a, de uma doadora (durante superovulação) com um grupo de receptoras, estas últimas devem receber o luteolítico de 12 a 14 horas antes da doadora, pois a doadora geralmente manifesta estro mais cedo. 2.7.1.2 Progestágenos É base de progesterona, atuam prolongando o ciclo estral e atrasando o próximo estro. Agem basicamente bloqueando o GnRH, funcionando como um CL artificial. Este tratamento deve ser utilizado por no mínimo 9 dias, quando então é interrompido abruptamente, removendo desta forma o bloqueio que a progesterona exógena exercia sobre a secreção de GnRH, dando condições para o inicio de um novo cicIo, pela manifestação de estro (FERNANDES, 2001). 2.8 Seleção das receptoras Num programa de T.E., geralmente tem um cuidado extremado com as doadoras, e relegam-se as receptoras a um segundo plano. Porém um dos principais pontos de estrangulamento na difusão desta tecnologia diz respeito à taxa de gestação das receptoras. Os principais critérios a serem observados são os seguintes: A. Sem anomalias no trato genital Um exame ginecológico deve ser realizado em todas as candidatas a futuras receptoras. B. Boa fertilidade, ciclos regulares As receptoras devem ser as fêmeas mais férteis do plantel. C. Boa condição corporal Esta associada a uma nutrição adequada. D. Sanitariamente perfeita Não é admissível que uma receptora, depois de gestante venha a perder a gestação devido a alguma doença infecto-contagiosa, que poderia ser facilmente diagnosticada durante o processo de seleção. E. Boa estatura A importância deste fator vem da necessidade de um parto sem complicações. Caso haja mais receptoras que embriões, selecionar as mesmas por grau de sincronia: característica do corpo lúteo: escore corporal e fertilidade anterior (FERNANDES, 2001). 2.9 Coleta dos embriões A coleta dos embriões é feita pelo método não cirúrgico ou transcervical, em um período entre 6 a 8 dias após o estro, onde a doadora foi inseminada. A doadora deve estar bem contida. Inicialmente faz-se uma avaliação da resposta superovulatória, através da contagem por palpação via retal, do numero de corpos lúteos em cada ovário. Uma limpeza do reto também facilitará outros procedimentos. Feito isso, procede-se à anestesia epidural, com 6 a 7 ml de xilocaína a 2% sem vasoconstritor. Após a cauda estar relaxada, deve ser amarrada lateralmente ao animal. Prender a cauda para cima favorece a entrada de ar no reto e dificulta a manipulação. Após isto, uma higienização do períneo com água e sabão é necessária. Todo o sabão deve ser removido e a região seca. A vulva deve ser lavada somente com água. O cateter (FOLEY) é introduzido no útero com o auxilio de um mandril de aço. Este cateter é feito de borracha e possui duas vias. Uma que dá aceso direto ao útero e a outra utilizada para inflar o balão existente extremidade. na Figura 1-Transferência de embriões (FERNANDES, 2001) Este esquema de lavagem é feito de 5 a 7 vezes em cada corno. Uma vez completado, o balonete é desinflado, retira-se o cateter e posiciona-se o mesmo no outro corno, repetindo todos os procedimentos. Em uma coleta (PBS), e cerca de 40 a 50 minutos. Terminada a coleta, o filtro é levado ao "laboratório", e antes de ser solta a doadora deve receber uma ou duas doses de PGF e se for necessário uma infusão com antibióticos para evitar a proliferação bacteriana. Caso não apresente estro em 7 dias, deve ser novamente examinada e se necessário receber uma nova dose de PGF. Existem cateteres de vários modelos. Os mais comuns são de uso humano. O diâmetro também varia (tamanhos de 16 a 24), e deve ser adequado ao tipo de cérvix. Quando mais grosso o cateter mais difícil de passá-Io pela cérvix, porém mais fácil é a coleta. Uma vez transposta a cérvix, o cateter deve ser posicionado, de forma que o balão seja inflado, com o líquido de coleta em um dos cornos. O enchimento do balão é feito lentamente, com o operador monitorado. Com o cateter posicionado, o circuito é conectado, e deixa-se o liquido de coleta entrar no útero até o enchimento do como. Este procedimento, caso possível, deve ser feito com o operador pressionando o limite entre o útero e tubas. O útero cheio é levemente massageado, deixando-se então sair o líquido de coleta (FERNANDES, 2001). Uma pessoa devera ficar responsável por este filtro durante toda a coleta, pois é onde os embriões ficarão retidos, controlando o volume de líquido no seu interior. Este deve ter sempre uma quantidade de líquido, e ser protegido de variações de temperatura e insolação direta. O líquido que sai do filtro é coletado em um frasco estéril, para a avaliação posterior, quando necessário (FERNANDES,2001). 2.9.1 Rastreamento e avaliação Refere-se a localização dos embriões e classificação dos mesmos. No laboratório o conteúdo do filtro de coleta é passado para uma placa de Petri, com diâmetro entre 10 e 15 cm, com fundo quadriculado, para facilitar a busca ou localização das estruturas, que é feito com microscópio estereoscópio, em aumento de 10 a 20 vezes. Em outra placa menor (3 cm de diâmetro), coloca-se uma das soluções de manutenção existentes, que podem ser compostas de PBS (liquido de coleta) com 10% de Soro Fetal Bovino (SFB), PBS com 0,4% de Albumina Bovina (BSA), ou ainda soluções prontas como Meio Holding. Estas soluções têm a função de proteger o embrião e evitar que o mesmo fique grudado nos recipientes ou instrumentos de manipulação, uma vez localizado na placa de procura, o embrião; é retirado desta por aspiração, é passado para a placa menor com uma das soluções acima descrita (FERNANDES, 2001). Completada a busca quando todas as estruturas da placa de procura foram retiradas, procede-se então a classificação dos embriões que se encontram na placa menor com o mesmo aparelho óptico citado acima, porém em um aumento de 40 a 80 vezes. Esta é feita de acordo com dois parâmetros: estágio de desenvolvimento e qualidade (FERNANDES, 2001). 2.9.2 Classificação quanto ao estágio de desenvolvimento Esta classificação leva em consideração o aspecto morfológico do embrião e as variações que ocorrem no mesmo durante seu desenvolvimento iniciaI. Quando a coleta é feita entre 6 a 8 dias após o estro da doadora geralmente são encontradas estruturas assim calcificadas: • 16 células (16 c); • Mórula (M); • Mórula compacta (Mc); • Blastócito inicial (Bi); • Blastócito (Bl); • Blastócito expandido (Bex); • Blastócito eclodido (Bec). As anotações referentes à classificação dos embriões utilizam inicialmente a sigla do estágio de desenvolvimento e posteriormente a qualidade. Por exemplo, um blastócito inicial de qualidade excelente seria: Bi 1, e assim por diante. Este é um critério usado internacionalmente em T.E. (FERNANDES, 2001). Tabela 1 – Classificação dos embriões bovinos quanto ao estágio de desenvolvimento e idade aproximada Estágio de desenvolvimento Idade aproximada (dias) Mórula 5a6 Mórula Compacta 6 Blastócito inicial 6a7 Blastócito 7 a8 Blastócito expandido 8 Blastócito eclodido 9 Fonte: (FERNANDES, 2001) Classificação quanto a qualidade A qualidade dos embriões é avaliada, também pelo seu aspecto morfológico, estando relacionada com a viabilidade dos mesmos. Os principais parâmetros considerados para avaliação da qualidade são os seguintes: • Formato; • Simetria; • Coloração; • Extrusão celular; • Integridade da Zona Pelúcida. A classificação quanto à qualidade é feita atribuindo-se valores de 1 a 5, conforme a tabela 2. Tabela 2 - Classificação dos embriões bovinos quanto a sua qualidade Classificação Qualidade Comentários 1 Excelente Praticamente nenhuma alteração 2 Bom Pequenas alterações 3 Regular Alterações significativas 4 Ruim Bastante alterado (difícil avaliar) 5 Degenerado Comprometimento morfológico Fonte: (FERNANDES, 2001) No caso de transferências não cirúrgicas, após a classificação e distribuição dos embriões pelas receptoras, estes devem ser envasados. É necessário mudá-Ios de solução lavando-os pelo menos 4 vezes, para eliminação das impurezas presentes na Zona Pelúcida antes de colocá-Ios nas palhetas. Utiliza-se uma outra solução idêntica aquela na qual estes foram classificados (PBS com 10% de SFB, ou com 0,4% de BSA, ou outra solução de manutenção). ar ____________________________________________________ ____________________________________________________ líquido + embrião líquido Figura 2 - Esquema de montagem dos embriões em palhetas Fonte: (FERNANDES, 2001) Os embriões são aspirados para o interior das palhetas de 0,25 ml, previamente identificadas (estágio e qualidade), com o mesmo líquido onde estão (PBS + 10% de SFB ou 0,4% de BSA). Para impedir que fiquem presos no algodão da mesma, aspira-se, nesta ordem, uma coluna de liquido (1/4 do comprimento da palheta), uma pequena bolha de ar, uma segunda coluna de líquido (1/3 da palheta). Deve-se conferir na lupa se realmente o embrião se encontra dentro da palheta após o envase, evitando a contaminação da porção aberta da mesma (FERNANDES, 2001). Com os embriões nas palhetas, estas são montadas nos aplicadores, sendo então transferidos para as respectivas receptoras. Caso se trabalhe com inovulações cirúrgicas, o embrião é aspirado para o anterior de um pequeno cone plástico, chamado de Tom Cat, utilizado para esta finalidade, acoplado a uma seringa de insulina. 3. FERTILIZAÇÃO "IN VITRO" O primeiro bezerro nascido de FIV, a partir de um ovócito, cuja maturação foi realizada in vitro, ocorreu em 1981 (BRACKETT et aI , 1982). A fêmea bovina tem em seus ovários ao nascimento em tomo de 150.000 folículos primordiais. Ao chegar a puberdade este número diminui para 12.000 a 86.000, e destes somente poucos chegam a ovulação durante a vida desta fêmea, enquanto o restante sofre atresia (CAMPBELL et. aI, 1995). A técnica de punção folicular guiado por ultra-som permite maximizar o aproveitamento destes óvulos que fisiologicamente são produzidos nos ovários de uma fêmea, levando-os a um sistema de produção in vitro de embriões (PRETERSE et aI, 1988 ; PIVATO, et aI). 3.1 Vantagens Além do aumento e da maior velocidade de produção de bezerros, e conseqüentemente no ganho genético em carne ou leite, a produção de embriões in vitro, a partir de material de vacas vivas, traz outros benefícios à pesquisa e à produção, tais como: • Formação de banco de ovócitos criopreservados. O ovócito congelado permitirá, no futuro, a regeneração de raças em extinção, pela fecundação in vitro de tais ovócitos e transferência dos embriões para vacas receptoras. • Avaliação simultânea de diferentes acasalamentos em programas comerciais de melhoramento animal. • Recuperação de material genético de vacas que apresentam problemas reprodutivos adquiridos. • Produção de embriões a partir de fêmeas imaturas, diminuindo assim o intervalo entre gerações. 3.2 Coleta de Ovócitos A coleta dos ovócitos pode ser realizada pelo método de Punção Folicular ou ovários provenientes de abatedouro. (Coleta in vitro). Este método permite coletar, de forma repetida, os ovócitos por punção dos folículos visualizados na tela de um ultra-som, podendo desta maneira otimizar a produção de embriões a partir de cultivo in vitro para vacas de elevado valor genético. Material necessário para punção folicular: • Ultra-som; • Sonda transvaginal de 5 ou 7,5 MHz; • Bomba à vácuo; • Sistema de agulhas (18 G e 58 cm) e cânulas; • Tubo de coleta. 3.3 Recuperação Ovocitária 3.3.1 Utilizando doadoras superovuladas O número médio de ovócitos coletados em vacas superovuladas é de 13 estruturas. Em novilhas cíclicas a média é de 9,5 ovócitos recuperados. A utilização deste protocolo facilita a implantação desta técnica em um laboratório, visto que a recuperação ovocitária é maior e a visualização dos folículos para a punção é facilitado, quando comparado com doadoras não superovuladas. Entretanto, a produção final de blastocistos, ao longo de um ano, é significativamente menor. 3.4 Utilizando doadoras não superovuladas O número médio de ovócitos coletados em vacas e novilhas possui uma variação simples ou até dupla (desvio de 4,2 a 8,8 para as médias respectivas). Enfim, o número médio de ovócitos recuperados é de 6 (seis) estruturas por sessão de punção, podendo esta ser repetida a cada três dias, sem causar danos maiores ao ovário. Embora este protocolo necessite de uma dedicação maior (número de sessões), o número de produtos nascidos de uma doadora ao ano é também, significativamente, maior. 3.5 Coleta in vitro Os ovócitos podem ser coletados de ovários de abatedouro. Após o abate das fêmeas, os ovários são coletados e transportados ao laboratório, em solução PBS e são puncionados os folículos que medem entre 2-8 mm. de diâmetro. 3.5.1 Método in vitro A maturação do ovócito é realizada em meio TCM 199, adicionado de Soro Fetal Bovino e de gonadotrofinas. Após 24 a 26 horas de cultivo, os ovócitos são fecundados com o sêmen de touro escolhido. A escolha do touro é baseada em critérios genéticos, mas igualmente sobre sua habilidade fecundante in vitro. A fecundação in vitro é realizada na presença de heparina, durante 18 horas, no meio TALP (Tyrode Albumina Lactato Piruvato). Os zigotos são em seguida cultivados in vitro, até a obtenção de embriões transferíveis. 3.6 Maturação do Ovócito A maturação envolve mudanças nucleares e citoplasmáticas no ovócito. O ovócito imaturo (ovócito primário) se encontra parado no estágio de prófase da primeira divisão meiótica. Figura 3 - Ovócito bovino imaturo, logo após a punção Fonte: RHEINGANTZ (2007) A maturação nuclear inicia-se com a retomada da meiose pela quebra do envelope da vesícula germinal (germinal vesicle break down), atingindo o estágio de metáfase I, 12 horas após o início do cultivo. A completa maturação nuclear ocorre entre 20 e 24 horas e é marcada pela expulsão do primeiro corpúsculo polar e formação da segunda placa metafásica (ovócito maturo). Figura 4 - Embriões bovinos produzidos in vitro, 48h após a FIV. Fonte: RHEINGANTZ (2007) O citoplasma passa igualmente por mudanças significativas na síntese de proteínas, na migração e na reorganização de organelas. Enquanto as mitocôndrias tendem a migrar para o centro do ovócito, os grânulos corticais se deslocam em sentido contrário. 3.8 Preparação Espermática Os espermatozóides encontrados no epidídimo, ou mesmo recém-ejaculados, não possuem potencial fecundante, devendo, portanto, para adquiri-lo sofrer ordenadas alterações funcionais e estruturais denominadas capacitação espermática e reação de acrossoma (ROLDAN & GOMENDIO, 1992 ; FLORMAN & FIRST, 1988a). Durante o processo de capacitação espermática são observadas profundas alterações da composição de membrana plasmática dos espermatozóides, levando a um aumento da difusão iônica e glicoproteíca, resultando em uma mudança significativa de seus padrões metabólicos (LANGLAIS & ROBERTS, 1985). A reação de acrossoma é um evento deflagrado pela ligação do espermatozóide a membrana pelúcida. Sendo caracterizado por uma extensa fusão e posterior vesiculação e destruição das membranas plasmática e acrossômica externa, expondo a membrana acrossômica interna e permitindo uma ordenada liberação do conteúdo enzimático presente no acrossoma. Com a reação do acrossoma concluída, os espermatozóides atingem seu padrão máximo de hiperativação, tomando-se capazes de transpor a membrana pelúcida e promover a fecundação. A heparina possui um preponderante papel no processo da fecundação, visto que, com a sua ligação ao espermatozóide, observa-se extensa formação de sítios de ligação para receptores de membrana pelúcida. Com isso, alguns autores relacionam o potencial de fertilidade de touros, in vivo, com quantidade destas HBPs (PARRISH, 1988 ; BLEIL & WASSARMAN, 1983 ; FLORMAN & FIRST, 1988b ; MYLES, 1993 ; KANDELL et. aI., 1992; BELLIN et. aI., 1993 ; KILLIAN et. aI., 1993). 3.8 Fecundação in vitro A fecundação propriamente dita é, na verdade uma reação em cascata, desencadeada pela passagem do espermatozóide pela membrana pelúcida, penetração na membrana plasmática e seu alojamento no interior do citoplasma ovocitário. Essa fusão envolve todo o espermatozóide, de maneira que a cauda também se integra ao citoplasma, fato esse fundamental para a estruturação do cito-esqueleto do primeiro ciclo celular (LONG et aI., 1993). A fusão do espermatozóide induz a ativação do ovócito, representada inicialmente por mudanças do potencial transmembranário e uma mobilização maciça do Ca++. Na seqüência, é observada a exocitose dos grânulos corticais e conseqüente impermeabilização da membrana pelúcida; queda do (MATURATION/ MITOSIS/ M-PHASE PROMOTING FACTOR) MPF; conclusão da segunda divisão meiótica e expulsão do segundo corpúsculo polar; e modificações das propriedades corticais do ovo (CROZET, 1991). Com a queda do MPF dá-se início a descondensação da cromatina do espermatozóide e dos cromossomos femininos, formando-se, assim, ambos os pro-núcleos, masculino e feminino. Os pró-núcleos migram para o centro do ovo, onde, após a quebra dos envelopes nucleares, os cromossomos se pareiam em um único fuso, ocorrendo assim a singamia (LONG et aI., 1993). Os ovócitos serão depositados em tubos contendo meio definido para fecundação. Imediatamente após efetua-se a inseminação dos ovócitos que serão cultivados por 18 horas, nas mesmas condições da maturação. 3.8.1 Cultivo de embriões in vitro O desenvolvimento de um sistema eficiente de cultivo de embriões in vitro é um dos maiores entraves no atual estágio das pesquisas. O desafio passa pelo desenvolvimento de um sistema de co-cultivo, condições de cultivo e desenvolvimento de meios quimicamente definidos, evitando, de certa forma, a passagem em hospedeiros intermediários. Os meios mais utilizados têm sido o TCM-199 e o B2 (INRA-menézo), acrescidos de antibióticos, soro fetal bovino e/ou soro de vaca em cio, e piruvato (GOTO et aI., 1988; PAVLOK et aI., 1989 e MENCK, 1994). Uma gama de células tem sido testada no co-cultivo de embriões, sendo que as mais utilizadas são as células do oviduto em suspensão ou em monocamadas, as células da granulosa em monocamada e células VERO, igualmente em monocamada (FONTES, 1993; BERG e BREM, 1989 e MENCK, 1994). Fontes (1993), informa o uso de um suporte extracelular (matrigel) na co-cultura em monocamada de células do oviduto, mostrando algumas tendências da pesquisa neste segmento. Os meios condicionados por apresentarem resultados inferiores aos sistemas de co-cultivo direto têm sido usados somente em condições específicas. A maior limitação encontrada nos sistemas de cultivo diz respeito a qualidade dos embriões produzidos. A passagem dos embriões de FIV, temporariamente em ovidutos de ovelhas, tem melhorado a qualidade dos embriões permitindo melhores índices de gestação pós-transferência. 3.8.2 Classificações dos embriões Os embriões são classificados em: Mórula compactada Figura 5 – Mórula compactada Fonte: (CLÍNICA TAMBRE, 2007) Os blastômeros estão agregados entre si, formando uma massa compacta de células e ocupam cerca de 70% do espaço perivitelino. Blastocisto inicial Nesta fase pode ser observado o início da blastocele. Começa a ocorrer a diferenciação entre trofoblasto e botão embrionário. Figura 6 – Blastocisto inicial Fonte: (CLÍNICA TAMBRE, 2007) Blastocisto Ocorre uma evidente diferenciação entre células do trofoblasto e botão embrionário. Figura 7 – Blastocisto Fonte: (CLÍNICA TAMBRE, 2007) Blastocisto expandido O embrião ocupa todo o espaço perivitelino. O líquido da blastocele empurra o trofoblasto contra a membrana pelúcida. Figura 8 – Blastocisto expandido Fonte: (CLÍNICA TAMBRE, 2007) Blastocisto eclodido Figura 9 – Blastocisto eclodido Fonte: (CENARGEN & EMBRAPA, 2001) O embrião está completamente livre da membrana pelúcida (CENARGEN & EMBRAPA, 2001). É possível obter um grande avanço genético quando se utiliza está técnica, através da coleta em animais pré-púberes, pela diminuição do intervalo entre gerações (CENATTE, 2001). 4. ASPIRACÃO FOLICULAR GUIADA POR ULTRASONOGRAFIA (OPU-FIV) 4.1. Fisiologia ovariana No terço médio da gestação, o ovário do feto bovino já está repleto de oogônias; e estas oogônias estão contidas em folículos primordiais (pré-antrais, com uma única camada de células da granulosa), e os estágios iniciais do crescimento folicular iniciam-se antes do nascimento (ERICKSON, 1966 ; MARION et aI., 1968). Ao nascimento existem cerca de 0.5 milhão de folículos nos ovários bovinos e estes, gradualmente deixam seu estado de dormência e iniciam um desenvolvimento para folículos antrais. Uma vez que se iniciou o desenvolvimento, um desses eventos irá ocorrer: ovulação ou atresia. Praticamente todos os folículos sofrem atresia. Isto pode ser demonstrado ao calcularmos que, um animal ciclando normalmente num período de 15 anos vai ovular menos de 300 oócitos (ovulando a cada 21 dias ou 17.4 vezes ao ano, multiplicado por 15 = 260 ovulações) dentre os 0.5 milhões existentes ao nascimento (ERICKSON, 1966). Isto sem contar que os animais chegam a passar metade de suas vidas prenhes. Fica claro, portanto, que menos de 0.1 % dos folículos chegam a ovular. Aparentemente, são necessários 60 dias para que um folículo primordial ativado atinja o tamanho ovulatório (LUSSIER et aI., 1987). Neste período, seguindo um padrão de ondas foliculares, ocorrem várias fases de crescimento e atresia folicular com subseqüente maturação ou degeneração oócitária (WILTBANK et aI., 1996). Novas biotecnologias visam o aproveitamento destes folículos para a recuperação dos oócitos e posterior manipulação. A seguir serão descritas algumas delas. 4.2. Aplicações da técnica 4.2.1 Produção de maior número de embriões Uma vez que pela monta natural ou inseminação artificial (IA), podemos obter apenas um produto por vaca ao ano, novas biotécnicas foram desenvolvidas para acelerar os processos de melhoramento genético. Assim sendo, com o advento da superovulação e posterior transferência de embriões (MOET - multi ovulation and embryo transfer), foi possível obter-se em média a produção de 25 embriões ao ano, totalizando cerca de 100 embriões na vida reprodutiva de uma vaca. (SAUMANDE et aI., 1984) Kruip et aI. (1994) estudaram a eficácia da punção folicular transvaginal orientada por ultra-som em vacas leiteiras e de corte, obtendo uma média de 8.0 oócitos colhidos por sessão, sendo que 16% desenvolveram em embriões transferíveis após MIV /FIV /CIV (maturação, fecundação e cultivo in vitro) com uma taxa de prenhez de 40% a 50%. Baseado no número médio de oócitos colhidos por sessão, é possível transferir 2 embriões/semana/vaca, resultando em 1 bezerro. 4.2.2. Menor intervalo entre gerações O intervalo entre gerações é um dos elementos chave em qualquer abordagem sobre melhoramento genético animal (BERRERIDGE, K. J. et aI., 1989). O desenvolvimento de folículos antrais em bezerras desde 2 semanas de idade, o conhecimento das ondas foliculares e a habilidade de superestimular o desenvolvimento folicular nesta categoria de animais, oferece a possibilidade de se utilizar animais pré-púberes para a recuperação de oócitos bovinos. Tais oócitos têm a mesma competência para a FIV quando comparados aos obtidos de animais adultos, porém o número de oócitos recuperados em bezerras tende a ser 20% menor (NIBART et al.,1995). Assim sendo, o intervalo entre gerações ficou obviamente diminuído, permitindo uma avaliação precoce do potencial genético destes animais. As grandes dificuldades da utilização de bezerras era a contenção dos ovários, uma vez que apalpação retal é limitada pelo pequeno diâmetro do orifício anal. Portanto, o probe utilizado nestes animais deveria possuir dimensões reduzidas (por exemplo, a probe humana) e, para bezerras pequenas demais, usavam agulhas muito afiadas, pois não havia como conter os ovários. A superovulação (SOV) também pode ser utilizada em novilhas conseguiram aumentar o número de oócitos recuperados, bem como o número de folículos visíveis (BROGLIATII & ADAMS, 1996). 4.2.3. Melhor aproveitamento dos animais Conforme citado no item anterior, as doadoras de oócitos podiam ser utilizadas muito precocemente, e, assim sendo, o início de sua vida reprodutiva era muito antecipado. Da mesma forma da aspiração folicular de vacas senis, bem como de e vacas prenhes até o 3.º mês de gestação, permitiram a produção de embriões pela aspiração guiada por ultra-som. Então foi concluído que as vacas podem produzir descendentes, praticamente desde o seu nascimento até depois da perda da ciclicidade, ou seja, nos tempos atuais pode-se conseguir um número muito mais elevado de prenhes, com o uso da tecnologia do que em tempos anteriores, que só era possível uma por ano. 4.3 Avaliação morfológica dos ovócitos A morfologia das células do cumulus oophorus e o aspecto citoplasmático do ovócito ao microscópio são considerados como os parâmetros mais importantes para o julgamento da qualidade ovocitária e, conseqüentemente, de sua aptidão para o desenvolvimento embrionário. . As células do cumulus são ligadas ao ovócito por intermédio de junções GAP permeáveis que permitem as trocas iônicas e eletrolíticas, entre o meio e o ovócito. Estas células são responsáveis pela secreção de certas substâncias necessárias a maturação do ovócito, tais como o IGF1, fator de crescimento importante a maturação citoplasmática. A presença de um cumulus intacto por pelo menos 12 horas é indispensável a esta maturação. Konishi et aI (1996), demonstraram por adição de células da granulosa ao meio de maturação dos ovócitos, que a capacidade de desenvolvimento embrionário era incrementada. Confirmando as conclusões de segundo as quais a taxa de desenvolvimento aumenta com o número de células em tomo do ovócito (YANG & LU 1990 ; KING et aI 1998). Estas células não possuem nenhum efeito sobre a capacitação do espermatozóide (MARQUANTLE GUIENNE, 1991). Outras observações relacionaram o tamanho do ovócito e o aspecto do citoplasma a maturação e ao desenvolvimento após a fecundação. Os ovócitos que possuíam um citoplasma denso e homogêneo possuíam taxas de clivagem e de desenvolvimento ao estágio de blastocisto mais elevado que os ovócitos que apresentavam citoplasma claro e irregular. Os ovócitos de diâmetro inferior a 3 mm, possuíam uma maturação nuclear e citoplasmática incompletas no momento da fecundação in vitro, e, portanto, eram menos capazes de suportar um desenvolvimento ao estado de blastocisto (KING et aI, 1998). 4.4. Pesquisas na área da embriologia A fecundação in vitro nos permite acompanhar passo a passo o início do desenvolvimento embrionário. Desta forma, podemos estudar os processos fisiológicos e patológicos correspondentes, bem como a embriotoxicidade de certas drogas e um processo complexo como diferenciação celular. 4.5 Produção in vitro de embriões (PIV) A produção in vitro (PIV) de embriões bovinos é considerada a terceira biotecnologia na área de reprodução seguindo a IA e a TE. Esta biotecnologia consagrou-se quando, em 1981, nasceu o primeiro bezerro oriundo de fecundação in vitro utilizando ovócitos maturados in vivo e sêmen fresco (BRACKETT et al 1982). A partir de 1986, tomou-se possível a fecundação in vitro de ovócitos maturados in vitro utilizando sêmen congelado (CHENG et aI 1986; CROZET et al 1987; LEBFRIED-RUTLEDGE et aI. 1987 ; PARRISH et aI, 1986). Pieterse et aI (1988), descreveram o método de punção foIicular (OPU), do inglês "Ovulum Pick-up”, para a recuperação de ovócitos a partir de fêmeas vivas. No Brasil, os primeiros produtos de PIV foram obtidos em 1994 utilizando ovócitos imaturos, sêmen descongelado e sistemas de co-cultivo. Esta evolução tomou-se possível em função de progressos realizados na definição de condições de cultivo apropriadas (HEYMAN & MENEZO, 1987). A PIV tomou-se uma tecnologia promissora tanto para o estudo da embriologia básica quanto para a produção animal representando um importante procedimento para o estudo dos mecanismos relacionados à maturação final e interação dos gametas e o desenvolvimento embrionário subseqüente (MENCK, 1994 ; FOOTE, 1993; LOBO et aI, 1994; LOBO, 1996). Além disso, permitiu o desenvolvimento de estudos sobre maturação, fecundação e cultivo in vitro, clonagem, bipartição, microinjeção de DNA exógeno, sexagem, congelação/descongelação de embriões (AVERY & GREVE, 1993 ; AZAMBUJA, 1994 ; WATANABE, 1993 ; KEEFER, 1993). A produção de embriões in vitro viabiliza a introdução de inovações tecnológicas na área de reprodução animal assim como acelera o progresso genético dos bovinos submetidos a programas de melhoramento. Também um maior aproveitamento das fêmeas considerando a potencial viabilidade dos milhares de ovócitos que permanecem latentes no ovário bovino, permitindo à fêmea gerar uma progênie maior que a “esperada em sua vida útil reprodutiva”. Comercialmente, a PIV é utilizada para maximizar a produtividade do rebanho bovino, superar a infertilidade adquirida e não transmissível de fêmeas de alto valor econômico e de grande potencial produtivo, produzir bezerros trangênicos e prover grande quantidade de embriões sexados (BRACKETT & ZUELKE, 1993). Uma extensiva exploração comercial e científica da PIV foi obtida nos últimos dez anos, devido a utilização em larga escala de ovários provenientes de matadouros para MIV e FIV de ovócitos, que permitiu a produção de embriões a um custo baixo. No entanto, a realização de PIV· com ovócitos oriundos de matadouros apresentam algumas desvantagens tais como: • O tempo para que o material chegue ao laboratório; • Desconhecimento sobre as condições sanitárias ou o padrão hormonal dos animais; • A não repetibilidade da técnica para um animal. Neste contexto, a busca por ovócitos de melhor qualidade conduziu a técnicas que permitissem o aproveitamento de ovócitos de arrimais vivos (BOLS et aI, 1995; BROGLIATTI & ADAMS, 1996 e 1998). 4.6. Produtos obtidos de vacas que não respondem à superovulação Uma vez que a OPU-FIV não requer tratamento hormonal para o seu sucesso, pode-se aproveitar de forma muito mais eficiente animais que não respondem à superovulação, seja por anomalias adquiridas (resistência ao hormônio) ou por serem refratárias à SOB. Assim sendo, vacas que possuem grande potencial genético podem ser doadoras de oócitos, não importando mais sua resposta à SOV. 4.7 Produtos obtidos de animais com problemas reprodutivos Muitos são os casos de animais inférteis ou subférteis por problemas adquiridos. São freqüentes os casos de aderências de ovário e útero, metrites crônicas, infecções tubáricas e outras patologias. A OPU-FIV permite a produção de progênie de animais com tais enfermidades, uma vez que ela não necessita do restante do aparelho reprodutivo, bastando o ovário possuir folículos de tamanho suficiente para a aspiração. Os resultados obtidos de animais com tais patologias não diferem dos resultados obtidos de animais saudáveis. 4.8 Utilização de animais mortos São freqüentes os casos de proprietários que desejam obter mais crias de uma vaca acidentada, enferma ou morta. A remoção dos ovários destes animais pode resultar na recuperação de oócitos viáveis e posterior produção de progênie. Assim sendo, um animal recém morto ou ante-mortem ainda pode produzir um descendente. Temos que levar em conta que a temperatura é um aspecto muito importante. Os oócitos são extremamente sensíveis às alterações de temperatura. A exposição dos oócitos à temperatura de 25°C por apenas 10 minutos pode causar alterações severas no seu cito-esqueleto. 4.9 Pré-Seleção de Touros A aplicação à campo dos avanços das biotécnicas da reprodução no melhoramento genético animal pode e deve ser utilizada como uma ferramenta auxiliar na seleção de touros e matrizes. A fertilidade de touros está relacionada com a probabilidade de sucesso do espermatozóide em fecundar o oócito, formar o zigoto, seguir o desenvolvimento embrionário e fetal até o nascimento. Um método adequado de verificar a fertilidade de touros pode ser efetuado mediante a fecundação in vitro, onde se detecta espermatozóides de touros com baixa fertilidade. Resultados observados na fertilidade in vitro entre touros consideram a habilidade do espermatozóide em fecundar o oócito e o zigoto continuar o desenvolvimento in vitro até chegarem ao estágio de blastocisto (LACALANDRA et aI, 1992 ; W ATANABE & OLIVEIRA FILHO, 1994; WATANABE et aI, 1995). 4.10 Recuperação 4.10.1 Ovário de matadouro com ou sem identificação Os ovários de matadouro são uma fonte muito acessível para a recuperação de oócitos, porém, normalmente os oócitos não são de animais valorosos (BROGLIAITI & ADAMS, 1996). O protocolo de procedimentos para o envio de ovários de animais abatidos, mortos, ou mesmo extirpados cirurgicamente, segue-se abaixo; é também citada a técnica de recuperação de oócitos destes ovários. 4.10.2 Colheita de ovários e ovidutos Os ovários são colhidos de vacas recém abatidas e transportados em frascos contendo solução salina 0,9% (pré-aquecida a 36°C) com antibiótico (0,2 mg/ml e gentamicina). Os frascos são mantidos em uma caixa de isopor durante o transporte do matadouro ao laboratório. No laboratório os ovários são lavados e transferidos para nova solução salina com antibiótico e mantidos à temperatura ambiente, antes da aspiração folicular. 4.10.3 Colheita e seleção de oócitos Os oócitos são aspirados de folículos visíveis, utilizando-se agulha de calibre 15x15 acoplada a uma seringa de 20ml, contendo 1 ml de meio de aspiração. Após a aspiração de 4 a 6 ovários, o fluido folicular é transferido para tubos cônicos contendo 3 ml de meio de aspiração, imersos em banho-maria a 30°C, ou diretamente, em placas de petri sobre platina aquecedora. Retiram-se os oócitos decantados do fundo do tubo com auxílio de uma pipeta de Pasteur ou pipetador automático. Toma-se cuidado para não danificar as células do cumulus, transportando-os para uma placa de Petri e posterior seleção sob estereomicroscópio (Lupa). Somente oócitos com cumulus compacto e citoplasma de coloração marrom e homogênea são selecionados. Os oócitos atrésicos, com citoplasma escuro e com grânulos são descartados. 4.11 Vacas "acidentadas" Para animais acidentados ou prestes a morrer, é preferível que se execute uma ovarectomia enquanto o animal ainda está vivo. Há indícios de que a qualidade dos oócitos seja melhor usando deste procedimento. 4.12 Fatores de variação em programas de OPU Vários são os fatores de variação no sistema de produção in vitro de embriões por OPU-FIV. A doadora de embriões é um dos principais fatores de variação sendo responsável por uma variação individual que fora reportada como sendo de 0 a 26 quando se considera os resultados por punção (HASLER et aI, 1995). O estado da doadora também é citada como sendo uma fonte de variação, entretanto os resultados são contraditórios, relatou ser nula a diferença entre o número de ovócitos recuperados entre vacas destinadas a diferentes tipos de produção, o que havia sido publicado por Looney et aI. (1994) e Wenigerkind et aI (1996) que afirmaram ser superior o rendimento de vacas em aleitamento. A raça da doadora também aparenta ser um fator importante neste contexto. Segundo Wenigerkind et aI (1996), as vacas Charolês apresentaram resultados 3 vezes superior a vacas Holandês Holstein. Diferenças significativas também foram reportadas em relação a idade da doadora, comparando doadoras de menos de 3 anos com doadoras de idade superior a 3 anos encontraram taxas de desenvolvimento embrionário de 42 e 46,7% respectivamente. Ainda, comparando-se o rendimento entre doadoras novilhas e vacas observa-se que vacas possuem um número médio de ovócitos por colheita de 6,7 e novilhas de 5,5. A diferença entre as categorias se eleva quando o número de ovócitos e embriões viáveis por colheita é estabelecido. Em média, obtém-se por colheita de 4.86 e 3.84 ovócitos viáveis, e 1.1 e 0.55 embriões viáveis, respectivamente, para vacas e novilhas com ritmo de colheita de 2 vezes/semana (KRUIP et aI. 1994 ; BUNGARTZ et aI. 1995 ; PElXER et aI 1995 ; DEN DAAS & MERTON, 1994 e FRY et aI. 1994). Segundo Pieterse et aI (1991) em relação a fase do ciclo reprodutivo fazendo punções em 21 vacas em 3 fases diferentes do ciclo estral (D3, DI0, DI6), não encontrou qualquer diferença significativa entre as taxas de colheita, mas o número médio de ovócitos colhidos aparentemente é maior nos primeiros dias do ciclo. Entre novilhas púberes e não púberes grande diferença foi evidenciada, sendo que as primeiras apresentaram maior taxa de colheita e de desenvolvimento (LOONEY et aI. 1995). Nenhuma diferença significativa foi encontrada entre as taxas de colheita de animais gestantes e não gestantes; entretanto estas últimas apresentaram melhores taxas de desenvolvimento (KRUIP et al 1994 ; BUNGARTZ et al, 1995). Entre as vacas férteis e inférteis, porém ciclando, o número médio de ovócitos colhidos e de embriões produzidos não foi diferente (KRUIP et aI. 1994 ; BUNGARTZ et aI. 1995 ; HASLER et aI. 1995; NlBART et aI. 1995). As fêmeas utilizadas e classificadas como inférteis possuíam cios normais (Repeat-breeding), uma vez que possuíam infecções vaginais, cervicais ou uterinas, mal formações da cérvix e lesões de oviduto, ou ainda eram fêmeas que foram submetidas a programas de transferência de embriões clássica e não produziam mais embriões viáveis. Em todos os casos a função ovariana apresentava-se intacta. Gibbons et al. (1994), obteve 6.8±2.0 e 6.3±1.1 para punções efetuadas uma ou duas vezes por semana, respectivamente, demonstrando que o ritmo de colheita de ovócitos tanto para vacas como para novilhas não superovuladas parece não sofrer alterações quanto a freqüência de punções. A colheita realizada 2 vezes por semana mostrou-se mais vantajosa quanto a produção de ovócitos classificados como grau. As taxas de colheita para um mesmo animal também se mostraram muito variáveis de uma punção a outra, esta variação parece estar relacionada ao número de folículos puncionados, mas também a habilidade do operador. A qualidade dos ovócitos varia igualmente (SCOTT et aI. 1994). A equipe de punção e o material utilizado são também fatores muito importantes (DEN DAAS & MERTON, 1994; LANSBERGEN et aI. 1995). A equipe de punção tem efeito direto sobre a qualidade dos ovócitos em função da quantidade de oócitos, o que se explica, essencialmente pelo nível de pressão aplicada durante a aspiração folicular, assim como a escolha das agulhas desnudos (VAN WAGTENDONK & DE LEEUW et aI. 1997). E como último fator de variação temos as condições técnicas de maturação, fecundação e cultivo in vitro, que variam muito entre os diferentes laboratórios e são responsáveis por diferentes taxas de desenvolvimento dos embriões in vitro (NIBART & MARQUANT - LEGUIENNE, 1995). O sêmen utilizado na fecundação é também um elemento de variação, o que é evidenciado nos programas de OPU comerciais, quando vários touros são utilizados com o objetivo de incrementar o progresso genético. 4.13 Técnica de aspiração folicular guiada por ultra-som 4.13.1 Preparação dos animais Sedação O animal deve ser sedado com acepromasinal na dose de 1,5 ml intravenoso (I. V.) quando muito nervoso. A sedação apenas facilita a contenção, sendo desnecessárias em animais mansos. Anestesia Após o animal estar devidamente contido no brete, é efetuada uma anestesia epidural baixa aplicando-se 5ml de cloridrato de lidocaína a 2%2 por via I.V. Montagem dos equipamentos A probe é montada conforme indicação do fabricante e a agulha inserida no mandril, tomando todos os cuidados de assepsia. A extremidade livre do tubo é acoplada na bomba de vácuo e regulado a 70 mmHg. Punção dos folículos Primeiramente a probe é introduzi da na vagina. Através da palpação retal, o ovário posicionado contra a extremidade da probe de forma que os folículos a serem aspirados estejam no percurso da linha de punção indicada na tela do ultra-som. Uma vez que a agulha esteja próxima do folículo a ser aspirado, o pedal de acionamento do vácuo é pressionado e o folículo aspirado. O material recolhido da aspiração recuperado em tubos cônicos estéreis de 50 ml de capacidade, protegidos da luz e mantidos à temperatura de 30° C, contendo 3 ml de meio de aspiração. Destino dos oócitos Após a aspiração os oócitos são levados para o laboratório, onde são filtrados em filtro para embriões e lavados três vezes com meio de aspiração. Em seguida são lavados uma vez em meio de transporte e selecionados sob esterioscópio (lupa), observando-se como critérios a quantidade das células do cumulus e as características dos oócitos. Rejeitam-se aqueles que apresentavam características de degeneração. Após seleção os oócitos bons são colocados em criotubos de 1 ml contendo meio de transporte para serem levados até o laboratório de FIV a uma temperatura média de 30° C. 4.14 Superovulação A recuperação de oócitos viáveis pode chegar a dobrar com a utilização da superestimulação com FSH (NIBART et aI, 1995). Pieterse et aI, (1992) utilizaram um tratamento com Gonadotrofina Sérica de Égua Prenhe (eCG) em 10 vacas. Obtiveram resultados positivos quando os animais eram tratados com eCG (7.1) em comparação aos animais não tratados (4.3). O uso de LH pode aumentar as taxas de recuperação, por induzir in a maturação e expansão das células dos cúmulos. (BROGLIA TTI & VIVO ADAMS, 1996; SCHELLANDER et aI., 1989). A imunização ativa contra a inibina foi testada (KONISHI et aI., 1996a) resultando em aumento do número de folículos de todos os tamanhos (22,2 vs 11,9) e aumentando sensivelmente o número de oócitos recuperados (10,4 vs 4,2). 4.14.1 Vantagens Não ocorrem efeitos deletérios aos animais, mesmo após cinco meses de punções, duas vezes por semana, no que concerne aos exames de saúde e fertilidade, clínicos ou post mortem. No exame histológico, animais que foram aspirados por vários meses apresentaram maior quantidade de colágeno na túnica albugínea. Stubbings & Walton (1995), demonstraram que em gado de leite, aspirações mensais de todos os folículos iguais ou maiores do que 5 mm, alteram o ciclo, promovendo apenas um aumento de 4 dias entre estros. A produção in vitro de embriões de alto mérito genético tornava-se alternativa melhor que a técnica MOET por não utilizar hormônios, evitando assim os efeitos nocivos à fertilidade do animal, e aumento do número de embriões por doadora. 4.14.2 Desvantagens Além das grandes variações dos resultados apresentados pelos diversos autores e de não haver um padrão de meios de coletas e das respostas à superestimulação, a técnica ainda tem um alto custo. Também temos que levar em conta que as agulhas são um dos equipamentos descartáveis mais caros do processo de aspiração. Elas são de difícil esterilização e após algumas sessões elas ficam rombas e afiá-Ias não produz o mesmo efeito das novas. Este grupo tentou com certo êxito o uso de agulhas descartáveis, porém novos estudos devem ser feitos para aumentar as taxas de recuperação. Foram encontradas massas ecogênicas no interior de 25 dos 37 folículos aspirados (BROGLIATTI et aI, 1995). Estas massas ecogênicas primeiramente sugeridas como células da granulosa luteinizadas, foram consideradas hematomas provocados pela aspiração, uma vez que não foi detectado aumento na progesterona sérica. 4.15 Variações na recuperação A aspiração folicular por ser uma técnica bastante recente apresenta resultados muito variáveis quanto ao número de folículos aspirados, o número de oócitos recuperados e a taxa de blastocistos produzidos. A seguir serão expostas algumas causas das variações nos resultados de diferentes autores. 4.15.1 Diferença entre animais A variabilidade entre doadoras de oócitos é grande, sendo que os animais respondem diferentemente à aspiração folicular. O número de oócitos recuperados do mesmo animal não variam entre cada coleta. Segundo Kruip et aI, (1994), existe um recrutamento constante de novos folículos quando os presentes são aspirados e a taxa de recrutamento tem uma variação individual. 4.15.2 Variações entre operadores O operador pode determinar grandes variações no número de folículos aspirados, bem como no número de oócitos recuperados. Esta variação ocorre entre operadores, da mesma forma como, entre sessões com o mesmo operador Nibart et al, (1995) e Lansbergen et aI, (1995), descrevem que houve variações significativas entre veterinários, na taxa de recuperação. Sua equipe era formada por 5 veterinários operando em duas estações experimentais. Com sucessivas trocas de equipes foi comprovada que a maior variação ocorre devido a doadora e, o segundo fator é o operador. 4.15.3 Variações do comportamento do animal Animais nervosos que se debatem principalmente os jovens, dificultavam as seções de aspiração, reduzindo assim o resultado obtido em cada uma das mesmas. 4.15.4 Tipo de Animal O número médio de oócitos coletados é pouco diferente entre as doadoras do tipo leiteiro ou de corte. Entretanto Looney et aI. (1994), acharam resultados um pouco superiores em vacas de corte. 4.15.5 Variações com o tipo de equipamento utilizado Nibart et aI. (1995), apresentam uma revisão que demonstra que globalmente qualquer que seja o sistema de visualização e de punção, os resultados em termos de oócitos coletados é o mesmo. Hill et aI. (1995), realizaram aspiração folicular sem o auxílio de ultra-som, utilizando-se apenas da palpação retal e obtiveram média de 6.2 oócitos recuperados por doadora. Brogliatti & Adams, (1996), destacaram a importância de aspectos como espessura da agulha, fio de corte do biseI, forma do biseI e pressão de vácuo, que podem alterar a eficiência de recuperação. O aumento da pressão de aspiração em humanos demonstrou uma maior taxa de recuperação, porém uma diminuição na qualidade dos oócitos além de aumentar o número de oócitos desnudos. Convém dizer que a presença de células do cumulus são importantes para aumentar a taxa de desenvolvimento de oócitos maturados e fecundados in vitro. Bols et aI. (1995), obtiveram maiores taxas de recuperação por folículos aspirados usando agulhas mais espessas (18 G), independente da pressão do vácuo. Houve um maior número de oócitos recuperados com o aumento da pressão de vácuo, porém diminuiu a quantidade de células do cumulus, independente do calibre da agulha. Agulhas mais finas apresentaram melhor COC (complexo cumulus-oocitário) com células do cumulus mais compactas. 4.15.6 Freqüência da aspiração A freqüência das aspirações é em média a cada 15 dias nas mesmas vacas de uma mesma fazenda, e o mínimo a cada 07 dias. A taxa de recuperação de oócitos imaturos aumenta, se a coleta for repetida no mesmo animal por um período de no mínimo vários meses (KRUIP et aI., 1994). A aspiração repetida 2 vezes por semana produzia aumento considerável no número de folículos visíveis recuperados, observados nas aspirações seguintes. Foi obtido maior número de embriões transferíveis em aspirações realizadas 2 vezes por semana. 4.16 Amniocentese Outra aplicação para o equipamento de aspiração folicular é a pratica da amniocentese. Bellow et aI., (1996) utilizaram-se da técnica em vacas prenhes entre os dias 45 e 75 de gestação, onde observaram 4 abortos entre 24 vacas avaliadas. O autor acredita que a amniocentese é uma técnica viável com o mesmo equipamento de aspiração, com risco mínimo. Os abortos ocorreram entre 1 a 2 semanas após a amniocentese. 4.16.1 Sincronização da onda para Superovulação A presença do folículo dominante nas ondas de crescimento folicular exerce uma ação inibitória ao crescimento de outros folículos existentes (WILTBANK et aI., 1996). A técnica de aspiração do folículo dominante foi testada para iniciar um programa de superovulação em vacas leiteiras (BUNGARTZ & NIEMANN, 1994). Os resultados obtidos demonstraram que houve um aumento na recuperação de embriões após a aspiração do folículo dominante, o qual foi similar ao obtido no tratamento iniciado na ausência do folículo dominante. Brogliatti et aI., (1995), descrevem que a emergência de uma onda após a aspiração do folículo dominante, não difere da onda folicular normal. Tabela 3 – Preparação de meios PBS 1 LITRO Solução Antibiótica 1 ml Soro Fetal Bovino (SFB) 10 ml Liquemine 1 ml Tabela 4 – Meio de Transporte TCM – 199 (HEPES)* 18 ml SFB (10%) 2 ml Piruvato (0,2 mM) 4 ul Kanamicina ou gentamicina 100 ul Tabela 5 - *TCC 199 HEPES NaHCO3 1,1 g Hepes ácido 1,4895 g Hepes sódico Água desionizada 1,16270 g 1L CONSIDERAÇÕES FINAIS O desenvolvimento de biotecnologias que permitem transferência de embriões e fertilização “in vitro” em bovinos possibilita o aumento dos índices reprodutivos em fêmeas bovinas e também permite o melhor aproveitamento de fêmeas com elevados padrões zootécnicos, possibilitando um manejo mais racional, garantindo assim um grande número de descendentes, num curto espaço de tempo. Observou-se através desse estudo que muitas são as vantagens da fertilização “in vitro” dentre elas pode-se citar que ocorre uma maior velocidade na produção de bezerros, possibilita também uma formação de banco de ovócitos criopreservados, permitindo assim uma regeneração de raças em extinção. Também existe a possibilidade através dessa biotecnologia de recuperar oócitos de vacas acidentadas, enfermas ou mortas. As desvantagens observadas através desse estudo foram os altos custos dos equipamentos da fertilização “in vitro”, as agulhas descartáveis são um dos equipamentos mais caros do processo de aspiração. Esse estudo sugere que seja feito um maior estudo para aumentar as taxas de recuperação das agulhas que são utilizadas para a aspiração o que possibilitaria baixar os custos gerando assim um maior lucro e posteriormente uma maior adesão ao processo de fertilização “in vitro” dos cria- dores. Na transferência de embriões as vantagens observadas dessa biotecnologia foram um maior controle de doenças, o controle do sexo do produto, a multiplicação rápida de um genótipo superior e a produção de descendentes de um animal jovem. As desvantagens que se pode observar através desse estudo foram os custos operacionais que são altos e as condições mínimas da transferência de embriões. Espera-se que este trabalho possa contribuir para um melhor entendimento, aperfeiçoamento e expansão da transferência de embrião e fertilização “in vitro” (FIV), pois foram descorridos vários procedimentos utilizados para transferência embrião e fertilização “in vitro” (FIV). REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AZAMBUJA R.M. Effect follow temperatures on the development of bovine oocystes and zygotes. 1994. 100 f. Dissertação Texas A&M University. College Station Texas, USA, 1994. BELLOW, M. S. et aI. Applications of transvaginal ultrasound performing, amniocentesis in cattle. Theriogenology, v.45, p.225, 1996. 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