Exercícios proibidos Victor Meloni 05/07/2004 Há algum tempo, surgiram comentários sobre determinados exercícios na sala de musculação e seus supostos potencias lesivos. Isto gerou algo como uma “lista negra” de exercícios proibidos de serem realizados. Seriam eles: a puxada alta nas costas, o desenvolvimento para ombros, a remada curvada e o agachamento. Estes exercícios estariam “condenados” por causa de um suposto alto índice de lesão, mais especificamente na articulação glenoumeral (ombro), região lombar e articulação fêmurotibial (joelho). Aqueles que advogavam, ou advogam, contra tais exercícios tentam se basear em alguns estudos que sugerem haver relação entre os movimentos realizados nesses exercícios e processos lesivos. Todavia, parece que este a luta contra tais exercícios é fruto da incapacidade de interpretação na leitura de dados científicos. Ao que tudo indica, o índice de lesão relacionado aos exercícios supracitados estava associado à três fatores: adoção da técnica de execução inadequada, cargas inapropriadas e um volume alto de treinamento, e não propriamente ao exercício per si. Um exemplo clássico seria o agachamento. É muito comum contra-indicar este exercício, supondo-se que o mesmo imputaria um estresse excessivo na articulação do joelho e na coluna vertebral. Realizar agachamentos profundos ou completos seria inconcebível até mesmo como hipótese, pois agachar em um angulo inferior à 90º “aumentaria demasiadamente compressão patelofemural e levaria, quase com certeza, lesões na articulação do joelho”, argumentam aqueles que contra indicam o agachamento completo. Entretanto, ao se observar a orientação sobre o agachamento à 90º veremos que este exercício, na sua fase excêntrica, é feito até o ponto no qual as coxas atingem uma posição paralela ao solo. Em uma análise mais cuidadosa verifica-se que neste ponto os joelhos estarão em um ângulo consideravelmente menor que o citado. Para uma leitura mais detalhada sobre segurança e eficiência do agachamento, há dois artigos que tratam sobre este tema no GEASE, intitulados Agachamento e Joelho e Agachamento e coluna. Puxada por trás e desenvolvimento Os demais exercícios desta “lista negra”, como a puxada alta nas costas e o desenvolvimento também estão proibidos em muitas academias, por suas supostas propriedades lesivas à articulação do ombro. O ombro oferece uma vasta variedade de movimentos, permitindo movimentos bastante amplos. Ao contrário da articulação do quadril, onde o fêmur se encaixa perfeitamente numa cavidade profunda oferecendo melhor estabilidade, a do ombro trabalha em uma cavidade (glenóide) bastante rasa, e sua estabilização se dá mediante a ação de ligamentos e pelos músculos do manguito rotador. O manguito rotador é na verdade uma união dos tendões dos músculos supraespinhoso, infraespinhoso, subescapular e redondo maior. Sua origem está na cápsula fibrosa inferior da articulação glenoumeral e sua inserção nos tubérculos maior e menor do úmero (Moore, 1980 apud Bompa, 2000). Segundo Hall (2000), as lesões nesta região são fruto, muitas vezes, do excesso de uso na prática esportiva e/ou da falta de sincronia entre os músculos do manguito rotador. A maioria das lesões do manguito rotador ocorrem na musculatura supraespinhosa. Além de estabilizar a articulação do ombro, este músculo abduz e roda externamente o úmero junto ao deltóide. O supraespinhoso é particularmente vulnerável à lesão em movimentos que envolvem o uso dos braços acima do plano horizontal. Segundo alguns autores, o arco funcional da abdução do ombro é frontal, e não lateral (Neer, 1972 apud Bompa, 2000) e o impacto ocorre predominantemente contra a borda anterrior do acrômio e ligamento coracoacromial. A lesão do supraespinhoso geralmente ocorre numa região pouco irrigada, o que geralmente resulta em tendinite (Hankins et al., 1980 apud Bompa, 2000). As lesões na articulação do ombro podem ser frutos de três possíveis fatores, atuando Isolada ou simultaneamente. · Impacto - Alterações fisiológicas · Fraqueza do manguito rotador Na ocorrência deste ultimo fator a cabeça do úmero pode atritar-se contra o acrômio, ocasionando dores e possíveis processos lesivos. O exercício de puxada alta por trás, destinado ao desenvolvimento do grande dorsal, redondo maior e menor, poderia gerar a síndrome do impacto caso o manguito rotador esteja fraco, pois uma das funções do manguito rotador é justamente manter a cabeça do úmero dentro da cavidade glenóide (Moore, 1980 apud Bompa, 2000). De acordo com Bompa e Cornacchia (2000) o desenvolvimento de ombros, realizado por trás da cabeça, requer uma completa rotação lateral do ombro, com este em abdução. Todas estas considerações podem ser pertinentes, mas o problema não reside no exercício, como pode dar a entender o texto acima. O problema encontra-se, muito provavelmente, na técnica utilizada na execução do exercício. E ainda, uma técnica inadequada somada à um volume de treinamento muito alto e à cargas com as quais o individuo não está adaptado são, na maioria das vezes, os fatores preponderantes nas lesões ósseas, musculares ou articulares. Se forem tomados os devidos cuidados, como seguir a risca a orientação do seu professor de Educação Física, as lesões ósseas, musculares e articulares muito provavelmente não farão parte da sua vida esportiva, seja ela competitiva ou não. Bibliografia Bompa, Tudor O; Cornacchia, Lorenzo J. Treinamento de Força Consciente. Ed. Phorte, 2000. Hall, SJ. Biomecânica Básica. Ed. Guanabara Koogan, 2000.