GLICÉMIA E GLICOSÚRIA A glucose é o principal açúcar existente no sangue, que serve como "fonte de energia" aos tecidos. A glicémia é a taxa de glucose existente no sangue, e o seu nível é em geral mantido dentro duma gama de valores considerados normais. Glicosúria refere-se à presença de glucose na urina e é sempre anormal. Métodos Enzimáticos de determinação das concentrações de glucose Usam enzimas específicos, habitualmente a glucose oxidase. Na aula prática irá utilizar um método deste tipo. A glucose oxidase cataliza a oxidação da glucose em ácido glucónico, com formação de peróxido de hidrogénio (H2O2). Este reage com o fenol e 4-aminofenazona, na presença da peroxidase, com formação de um composto vermelho-violeta, a quinoneimina: Glucose Oxidase D-Glucose + O2 + H2O D-Gluconato (ácido glucónico) + H2O2 Peroxidase H2O2 + 4-Aminofenazona + Fenol Quinoneimina + 4H2O A intensidade da coloração é proporcional à quantidade de glucose contida na solução. É um método sensível e específico para o doseamento da glucose. Métodos enzimáticos semi-quantitativos (métodos de comparação) Trata-se de testes enzimáticos rápidos, sob a forma de fitas contendo a glucose-oxidase e peroxidases, indispensáveis para o auto-controlo dos doentes diabéticos. São usados tanto para o sangue (ex: Glucostix, BMtest), como para a urina (ex: Combur, Ketodiastix). Nestes métodos basta uma gota de sangue/ urina para estimar a concentração da glucose, por comparação com uma escala de cores. No caso do sangue, há actualmente disponível no mercado uma grande variedade de dispositivos que fazem a leitura da glicémia automaticamente. 1 A urina é habitualmente avaliada por comparação de cores a olho nú, embora também já existam aparelhos de leitura automática. Glicémia Os valores normais da glicémia variam com as refeições, o stress e o local de colheita: O valor normal em jejum de 8h é de 0,5 a 1,1 g/ l ou 50-110 mg% (mg/100ml) ou seja 2,8 – 6,1 mmol/ l (mM). Em situações de stress, ex: traumatismos graves, pode verificar-se hiperglicémia por libertação de adrenalina e cortisol. Na prática clínica, a determinação da glicémia faz-se em dois grupos de circunstâncias: 1- Suspeita de hiperglicémia Esta surge genericamente por: a) défice de acção da insulina – diabetes mellitus b) exagero de acção de uma ou mais “hormonas da contra-regulação” (ex: síndrome de Cushing –cortisol , hipertiroidismo – tiroxina). A diabetes mellitus é uma doença crónica provocada por alterações do metabolismo de hidratos de carbono, lípidos e proteínas, resultantes do défice de insulina. Manifesta-se clinicamente por: polifagia, polidipsia (sede excessiva), poliúria e perda de peso. Define-se pela existência de glicémia em jejum ≥126mg/dl ou ≥ 200mg/dl em determinação ocasional ou 2h após teste de tolerância à glucose oral (i.e. a ingestão de 75g de glucose em 200ml de água, no adulto). Na diabetes mellitus, a hiperglicémia deve-se à diminuição da captação de glucose pelas células dos tecidos periféricos, particularmente do tecido muscular e do tecido adiposo, por défice de acção da insulina. Distinguem-se dois tipos de Diabetes: Diabetes Tipo 1 – por défice da produção de insulina- mais frequente no jovem e insulinodependente. Diabetes do Tipo 2 – por resistência à acção da insulina - mais frequente no adulto e habitualmente controlável com antidiabéticos orais, necessitando de insulina ocasionalmente ou mais tardiamente na sua evolução. 2- Suspeita de hipoglicémia 2 Num indivíduo normal, os mecanismos de regulação da glicémia são muito eficazes, de modo que mesmo num jejum prolongado/ greve de fome não se verifica hipoglicéma. A hipoglicémia é sempre uma situação anormal, cuja causa deve ser investigada, sobretudo se recorrente. Clinicamente manifesta-se por dois grupos de sinais/sintomas: glicopénicos, por falta de glucose cerebral (prostração, tremores, convulsões, coma) e adrernérgicos, por estimulação da libertação de adrenalina (palidez, hipersudorese, taquicardia). Qualquer alteração dos mecanismos produtores de glucose sanguínea (glicogenólise, gluconeogénese…) ou fornecedores de fontes de energia alternativas, poupando glucose, nomeadamente no jejum (oxidação dos ácidos gordos, cetogénese…) pode conduzir a hipoglicémia. Essa alteração pode dever-se a défice das reservas (ex: de glicogénio, como nos recém-nascidos prematuros) e/ou imaturidade dos sistemas enzimáticos, a défice enzimático hereditário ou adquirido (ex: devido a uma doença hepática grave) ou a alteração hormonal (excesso de secreção de insulina – hiperinsulinismo- ou diminuição das hormonas da contraregulação, como o cortisol ou a hormona do crescimento). O consumo de álcool pode causar hipoglicémia devido ao efeito inibitório dos metabolitos do etanol sobre o ciclo de Krebs, a gluconeogénese e a oxidação dos ácidos gordos, particularmente nas crianças (por excesso de NADH/NAD+). Glicosúria Normalmente, não se verifica a presença de glucose na urina. A glucose tem dimensões pequenas e é hidrossolúvel, pelo que a sua concentração no filtrado glomerular é igual à do plasma. Para concentrações até 180-200mg/dl (limiar renal para a glucose), toda a glucose filtrada é reabsorvida no túbulo contornado proximal. Para concentrações superiores, que ultrapassem a capacidade de reabsorção tubular, surge glucosúria: glucosúria por hiperglicémia. Em caso de lesão tubular renal proximal pode verificar-se glucosúria, mesmo com valores de glicémia normais, por incapacidade de reabsorção da glucose filtrada no glomérulo: glucosúria de causa renal. Em qualquer circunstância, a glucose, pelo seu efeito osmótico, arrasta grandes volumes de água, aumentando assim o débito urinário -poliúria- com risco de desidratação. Na prática clínica, a determinação da glicosuria faz-se em dois grupos de circunstâncias: Suspeita de glicosúria secundária à hiperglicémia - Diabetes mellitus: à hiperglicémia associa-se glucosúria e cetonúria. A análise da urina é frequentemente o primeiro teste a apontar o diagnóstico. A glucosúria não é actualmente 3 usada no controlo do doente diabético, uma vez que só surge quando é ultrapassado o limiar renal para a glucose (o objectivo do controlo é a manutenção da glicémia em valores próximos do normal) e, por outro lado, porque aquele limiar apresenta grande variação individual. Para esse efeito, usa-se a determinação da glicémia capilar ao longo do dia. - Hiperglicémia de outras causas: nomeadamente durante a administração de soros intravenosos com concentração elevada de glucose. Suspeita de lesão tubular renal proximal: - À glicosúria associa-se aumento da excreção urinária de outras substâncias normalmente aí reabsorvidas, com os aminoácidos, o bicarbonato, o fósforo e o ácido úrico. 4 PROTOCOLO - MÉTODO ENZIMÁTICO DE DETERMINAÇÃO DA GLICÉMIA EM PLASMA OU SORO SANGUÍNEO (Kit Randox Glucose GOD/PAP) TERÁ À SUA DISPOSIÇÃO: Amostra: Soro ou plasma isolado de sangue colhido em heparina ou EDTA. A glucose é estável durante 24 horas a 2-8 ºC desde que o soro ou plasma sejam preparados até 30 min depois da colheita de sangue. Padrão: Glucose 5,55 mM (100 mg/dl) (2-8 ºC) Reagente: Tampão fosfato (50 mM, pH 7,0), tampão MOPS (50 mM, pH7,0), Fenol (11 mM), 4-Aminofenazona (0,77 mM), Glucose oxidase (> 1,5 kU/l), e peroxidase (> 1,5 kU/l) (2-8 ºC). PROCEDIMENTO: 1. Para 3 cuvettes de espectrofotómetro, pipete o seguinte: Branco Padrão Amostra Padrão ----- 20 µl ----- Amostra ----- ----- 20 µl Água destilada 20 µl Reagente 2 ml 2 ml 2 ml Abs (λ = 500 nm) 2. Misture e incubar durante 10 minutos à temperatura ambiente. 3. Leia a absorvância da amostra e do padrão, contra o branco (zero), a 500 nm. Nota: A intensidade de côr é estável durante 60 minutos. Linearidade: O método é linear até um concentração de glucose 22,2 mM (400 mg%). Acima desta concentração, as amostras deverão ser diluídas 1:2 com água destilada. Especificidade: Este método não é influenciado pelo ácido úrico, ácido ascórbico, glutationa, anticoagulantes, bilirrubina e creatinina quando presentes em concentrações diluídas. Cálculos: [Glucose] = DO (amostra) X Concentração do Padrão DO (padrão) Valores referência: 4,2 – 6,4 mM ou 75 – 115 mg/dl. 5