CIM Interacções do álcool com medicamentos – II FÁRMACO INTERACÇÃO COM O ÁLCOOL/RECOMENDAÇÕES ANTIEPILÉPTICOS Interacção PD: O consumo excessivo de álcool parece aumentar a frequência das convulsões nos doentes epilépticos.3,8,9 O álcool pode ter um efeito aditivo na depressão do SNC causada pelos antiepilépticos.3,5,10 Recomendações: Os epilépticos devem ser encorajados a limitar a ingestão de álcool devido ao risco de convulsões, apesar de o consumo moderado de álcool parecer ser seguro.3,9 Fenitoína Interacção PK: A nível do sistema microssomal.2,3,8,9 - consumo agudo de álcool: inibição enzimática.2 - consumo crónico excessivo de álcool: indução enzimática com redução dos níveis de fenitoína.2,3,8,9,11 - consumo moderado e ocasional de álcool: os níveis plasmáticos de fenitoína não são afectados.3,9 Recomendações: Os doentes alcoólicos a fazerem terapêutica com fenitoína deverão ser monitorizados devido à diminuição do efeito anticonvulsivante.11 Estes doentes poderão necessitar de doses acima da média de fenitoína para manter níveis plasmáticos adequados.3,9 A carbamazepina parece ser afectada pelo álcool de forma semelhante à fenitoína.3 ANTI­ ­HISTAMÍNICOS H1 Interacção PD: O álcool tem um efeito aditivo sobre a sedação e a disfunção psicomotora provocadas pelos anti-histamínicos sedativos (ex.: difenidramina, prometazina).1-3,5,9,10 Novos anti­histamínicos: Quando o álcool é ingerido em simultâneo com os novos anti-histamínicos não sedativos (ex.: mizolastina, cetirizina, loratadina) a interacção parece ser menos extensa.2,9 Recomendações: Perante o consumo de anti-histamínicos sedativos os doentes devem ser alertados para o risco de conduzir ou manipular máquinas perigosas, que pode ser agravado pelo álcool.9 ANTICOAGULANTES ORAIS Varfarina Interacção PK: A nível do sistema microssomal.1-3,8,9 - consumo agudo de álcool: o metabolismo da varfarina é inibido,1,2 aumentando o risco de hemorragia,1 devido à potenciação do efeito anticoagulante.11 Os doentes hepáticos controlados com varfarina que ingerem grandes quantidades de álcool poderão apresentar uma hiperanticoagulação.3 - consumo crónico excessivo de álcool: indução do metabolismo da varfarina,1,2,8,9 com redução do seu tempo de semivida.3,9 - consumo reduzido ou moderado de álcool: não parece influenciar os níveis de varfarina.3,8,9,11 Recomendações: Os doentes a fazerem terapêutica anticoagulante oral deverão evitar ingerir grandes quantidades de álcool,8,11 devendo monitorizar-se a resposta hipoprotrombinémica se o doente ingerir álcool em excesso.11 Os doentes alcoólicos necessitam, possivelmente, de doses acima da média de varfarina, de forma a atingir-se o efeito terapêutico pretendido.1,8,9 Todos os outros anticoagulantes orais parecem actuar da mesma forma.9-11 FÁRMACOS USADOS NO TRATAMENTO DA DEPENDêNCIA ALCOóLICA Dissulfiram Interacção PK: Inibição da aldeído desidrogenase (reacção dissulfiram).1-3,5,8-10 Recomendações: O tratamento inicial com dissulfiram deve ser seguido de perto, pois pode ocorrer uma reacção extremamente intensa e potencialmente séria em alguns indivíduos que apenas ingerem pequenas quantidades de álcool.9 À parte das recomendações gerais relativas ao consumo de álcool, os doentes devem ser alertados para o teor de álcool de alguns produtos farmacêuticos e alimentos3,9,11 e para a possibilidade de ocorrer rubor se são aplicados na pele produtos que contenham álcool.3,9 Carbimida cálcica Interacção PK: Inibição da aldeído desidrogenase (reacção do “tipo dissulfiram”).1,9 Os efeitos adversos resultantes da interacção são em menor grau que os provocados pelo dissulfiram.9 ANTI­INFECCIOSOS Cefalosporinas Interacção PK: Inibição da aldeído desidrogenase (reacção do “tipo dissulfiram”).1-3,5,8,9,11 Não é uma reacção geral das cefalosporinas, estando confinada às cefalosporinas com uma estrutura química particular,9 tais como: cefoperazona,1,2,9,11 cefotetan, 1,9,11 latamoxef,2,9,11 cefamandole1-3,8,9,11 e cefmenoxime.9 Recomendações: Como a reacção é imprevisível, alertar os doentes a fazerem terapêutica com as referidas cefalosporinas que uma reacção do tipo dissulfiram poderá ocorrer durante o tratamento e três dias após o fim do mesmo, devendo evitar o consumo de álcool durante esse intervalo de tempo,3,9,11 sendo que os doentes com doença renal ou hepática devem esperar uma semana.3,9 *Ver recomendações gerais para o dissulfiram. Doxiciclina Interacção PK: A nível do sistema microssomal.1,9 - consumo agudo de álcool: o metabolismo da doxiciclina é inibido.1 - consumo crónico excessivo de álcool: indução do metabolismo1,9 e redução dos níveis de doxiciclina.9,11 - consumo moderado em doentes não alcoólicos: não parece haver um efeito clínico relevante.9 Recomendações: Nos doentes alcoólicos, será preferível usar uma alternativa à doxiciclina.9,11 As restantes tetraciclinas não parecem ser afectadas pelo álcool.9,11 Eritromicina Interacção PK: Alteração do esvaziamento gástrico.1,2,9 A eritromicina acelera o esvaziamento gástrico, provocando um aumento da concentração de álcool no sangue.1,2,9 O álcool pode provocar uma redução moderada da absorção do etilsuccinato de eritromicina,9,11 pois ele próprio parece atrasar o esvaziamento gástrico.9 Recomendações: A importância da interacção é desconhecida,9 mas os doentes devem ser alertados.11 Isoniazida Os alcoólicos apresentam uma maior incidência de hepatotoxicidade induzida pela isoniazida.6,9,11 Recomendações: Evitar esta associação (apesar de muitas vezes ser complicado, pois o alcoolismo está geralmente associado à tuberculose). Monitorizar os doentes alcoólicos a fazerem terapêutica com isoniazida para a hepatite induzida por este fármaco.11 Metronidazol Interacção PK: Inibição da aldeído desidrogenase (reacção do “tipo dissulfiram”).1-3,5,8,9-11 Recomendações: Apesar de ser mais desagradável do que séria, esta reacção é imprevisível, devendo-se alertar os doentes para a possibilidade de ocorrer uma reacção do tipo dissulfiram ao ingerirem álcool,9 quer durante, quer nas 48 horas após o final do tratamento com metronidazol por via oral.3 Griseofulvina Interacção PK: Inibição da aldeído desidrogenase (reacção do “tipo dissulfiram”).1,2,8,9 Recomendações: Apesar de a reacção geralmente não ser severa, os doentes deverão ser alertados.9 Furazolidona Interacção PK: Inibição da aldeído desidrogenase (reacção do “tipo dissulfiram”).5,9,11 Recomendações: É uma reacção mais desagradável do que séria,9 mas os doentes devem ser alertados.9,11 Cetoconazol Interacção PK: Inibição da aldeído desidrogenase (reacção do “tipo dissulfiram”).8,9,11 Recomendações: Reacção mais desagradável do que séria,9 mas os doentes devem ser alertados.9,11 ficha técnica n.º 72 centro de informação do medicamento centro de informação do medicamento CIM ANTIDIABÉTICOS ORAIS Interacção PD: Em doentes com diabetes mellitus2,3,8,9 controlados com insulina,5,9,11 antidiabéticos orais,1,2,5,8,9,11 ou dieta,9 a ingestão de elevadas quantidades de álcool pode causar hipoglicémia,1-3,5,8,9,11 uma vez que o álcool inibe a neoglucogénese,2,9 potenciando a resposta da insulina perante um aporte de glucose.2 Recomendações: Em geral, os doentes diabéticos não necessitam de se abster de consumir álcool se o fizerem com moderação e acompanharem a bebida com alimentos,2,3,9 contudo, deverá ter-se em conta que o álcool poderá disfarçar ou retardar os sinais de hipoglicémia.2,9 Os doentes deverão ser alertados para os efeitos depressores do SNC causados pelo álcool que, associados a uma situação de hipoglicémia, podem tornar perigosa a tarefa de conduzir ou manipular máquinas. Os doentes com neuropatia periférica deverão ser alertados para o facto de o álcool poder agravar esta condição.9 Sulfonilureias Clorpropamida Interacção PK: Inibição da aldeído desidrogenase (reacção do “tipo dissulfiram.”).1,3,5,8,9,11 Esta reacção é rara com as outras sulfonilureias,3,8,9 havendo relatos da sua ocorrência com: glibenclamida, tolazamida,1,9 glicazida, glipizida, carbutamida9 e tolbutamida.1,2,9 Recomendações: Apesar de ser uma reacção mais desagradável do que séria,3,9 dever-se-ão alertar os doentes para a possibilidade de uma reacção do tipo dissulfiram no início da terapêutica.11 Tolbutamida Interacção PK: A nível do sistema microssomal.1,3,8,9,11 - consumo agudo de álcool: o metabolismo da tolbutamida é inibido.1,8 - consumo crónico excessivo de álcool: o metabolismo da tolbutamida é induzido,1,8,9,11 aumentando a sua clearance e diminuindo os seus níveis sanguíneos3 e o seu tempo de semivida.9,11 - consumo moderado de álcool: a clearance de tolbutamida não é afectada.3 Biguanidas Fenformina, Metformina A ingestão de álcool pode contribuir para a acidose láctica em doentes a fazerem terapêutica com fenformina,9,11 ou metformina.3,8,10, apesar de com a metformina o risco ser menor.9 PROCARBAZINA Interacção PK: Inibição da aldeído desidrogenase (reacção do “tipo dissulfiram”). 5,9-11 Recomendações: Reacção mais desagradável do que séria, mas os doentes devem ser alertados.9 ANTAGONISTAS DOS RECEPTORES H2 Interacção PK: Inibição da álcool desidrogenase.2,6,8,9 Recomendações: Apesar de ser uma interacção controversa e não ter sido ainda estabelecida,2,5,6,9 é prudente alertar os doentes para um possível aumento da sua resposta ao álcool. Para além disso, o álcool pode agravar a doença gastrintestinal, o que torna o seu uso restrito.9 PROCINÉTICOS Cisapride Interacção PK: Alteração do esvaziamento gástrico.1,2,9 O cisapride acelera o esvaziamento gástrico, o que conduz a um aumento dos níveis de álcool no sangue.1,2,9 Recomendações: Como a importância clínica desta interacção é incerta, é pouco provável que os efeitos sobre a capacidade de conduzir ou manipular máquinas sejam marcados.9 Metoclopramida Interacção PK: Alteração do esvaziamento gástrico.1,9 A metoclopramida acelera o esvaziamento gástrico e conduz a um aumento da concentração de álcool no sangue,1,9 por diminuição do efeito de primeira passagem1, potenciando os seus efeitos sedativos.9,11 Recomendações: Apesar de a importância clínica da interacção não estar estabelecida,9,11 os doentes devem ser alertados para um maior efeito do álcool, devendo monitorizar-se os efeitos da depressão do SNC.11 ANTI­ ­HIPERTENSORES Interacção PD: O consumo crónico moderado a excessivo de álcool conduz a um aumento da pressão arterial2,3,9 e reduz, em determinada extensão, a efectividade dos fármacos anti-hipertensores,9 o que constitui um factor de risco de acidente vascular cerebral (AVC).3 Doentes a fazerem terapêutica com anti-hipertensores podem experimentar hipotensão postural,3,5,9,10 tonturas e desmaios imediatamente após a ingestão de álcool, especialmente no início do tratamento.3,9 Recomendações: Doentes com hipertensão deverão ser encorajados a reduzir a ingestão de álcool. Doentes a iniciarem terapêutica com anti-hipertensores deverão ser alertados para uma situação de hipotensão.9 Bloqueadores­alfa Interacção PD: Os bloqueadores-alfa1 (ex.: prazosina) potenciam os efeitos hipotensivos do álcool especialmente em doentes susceptíveis ao aparecimento de rubor após ingestão de álcool (ex.: população asiática).9,11 Recomendações: Os doentes mais sensíveis ao álcool devem limitar o seu consumo aquando da terapêutica com prazosina ou outros bloqueadores alfa1.11 Bloqueadores dos canais de cálcio Verapamil Interacção PK: O verapamil eleva os níveis de álcool no sangue,5,9-11 por inibição do seu metabolismo,3,9 prolongando o efeito de intoxicação pelo álcool.3,5,9,11 Recomendações: Os doentes a fazerem terapêutica com verapamil deverão ser alertados para a elevação dos níveis de álcool, que podem estar “acima do limite” legal para conduzir durante mais tempo que o normal,3,5,9 devendo reduzir ou evitar o consumo de álcool durante a terapêutica com verapamil.11 Nifedipina, Felodipina O álcool pode aumentar a biodisponibilidade da nifedipina9,11 e da felodipina.9 Bloqueadores­beta Interacção PD: Alguns estudos referem efeitos aditivos a nível psicomotor.9 Propranolol Interacção PK: O álcool reduz a biodisponibilidade do propranolol, diminuindo o seu efeito terapêutico.1,9 Recomendações: Alertar os doentes para alterações à resposta dos bloqueadores-beta causadas pelo álcool.9 VASODILATADORES Nitroglicerina Interacção PD: Doentes que ingerem álcool durante a terapêutica com nitroglicerina poderão sentir tonturas e desmaiar9 devido à hipotensão provocada pelo efeito aditivo do álcool na vasodilatação.3,9-11 Recomendações: Alertar os doentes para limitarem o consumo de álcool.11 Joana Viveiro Bibliografia 1. 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