DIAGNÓSTICO PSICOPATOLÓGICO

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DIAGNÓSTICO PSICOPATOLÓGICO
E TERAPIA
Afonso H Lisboa da Fonseca, psicólogo.
São Paulo
1986
LABORATÓRIO EXPERIMENTAL DE PSICOLOGIA FENOMENOLÓGICO EXISTENCIAL
Rua Visconde de Irajá, 60/105. Pajuçara. Maceió AL. Fone 82 93061050
Internet: [email protected]. http://www. Geocities.com/eksistencia
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DIAGNÓSTICO PSIQUIÁTRICO E TERAPIA
Afonso Henrique Lisboa da Fonseca, psicólogo
UNITERMOS:
Doença Mental, Diagnóstico, Psicoterapia, Pessoa e Sociedade.
SUMÁRIO:
O autor propõe-se a ampliar as dimensões da visão do psicodiagnóstico psiquiátrico em função da
terapia. A fonte inspiradora da postura do terapeuta, no trabalho de diagnóstico e de terapia, situase na pessoa do cliente. Assumida, acolhida como pessoa que ao iniciar sua existência, o faz
culturalmente. Não há como entender a natureza humana desligada de sua dimensão sócio-cultural.
A preocupação do autor, no processo de psicodiagnóstico é de que este não acabe se tornando um
esquema rígido de enquadramento da pessoa com dimensões existenciais mais transcendentes que
a padronização social, e que o processo terapêutico possa, entendendo toda a dimensão cultural do
existir humano, promover a singularidade da pessoa do cliente.
O presente trabalho tem por objetivo analisar o diagnóstico psiquiátrico, tanto
em termos de sua origem como com relação aos seus efeitos. Intenta situar o ato
diagnóstico em sua matriz sócio-cultural mais ampla, de forma a incluir numa
análise de suas implicações clínicas um conjunto mais abrangente de variáveis
efetivamente intervenientes, que incidam sobre os elementos determinantes da
condição e da evolução do quadro clínico do cliente, assim como sobre o esforço
terapêutico. Desta forma analisamos o diagnóstico psiquiátrico não somente como
ato clínico, mas, particularmente, como ação de um agente social diferenciado e
especializado, ao qual são atribuídas uma função institucional (não especificamente
clínica) e uma parcela específica de poder social. Analisamos as implicações deste
ato considerando os seus efeitos sobre a condição do cliente.
O trabalho não se compromete com um modelo clínico consagrado de
interpretar e entender o indivíduo portador de distúrbio psico-emocional ou de
conceber o procedimento do profissional de saúde mental. Compromete-se,
todavia, e sobretudo, com a suprema função deste ser agente de cura e do alívio
do sofrimento de seres humanos.
QUAL TERAPIA? ou QUAL TERAPEUTA?
Sabemos bem da singularidade de cada ser como um fato do universo. Ao
nível dos seres vivos, e muito particularmente dos seres humanos, esta
singularidade, pautada por um pico de complexidade na escala evolutiva, adquire
limites insuspeitados. De início, o ser humano é o produto único da conjugação de
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um único espermatozóide – entre milhões diferentes – com um único óvulo – entre
centenas diferentes. Se fosse um dos óvulos não seria “ele”, se fosse um dos
outros espermatozóides, também não. A partir daí, as condições mesológicas do
momento e local da fecundação (para ficar só por aí), temperatura, pressão, pH,
composição de fluidos, etc, em combinação específica e única em um determinado
momento, vão determinar um índice crescente de diferenciação biológica – com
implicações psíquicas e sociais – que irá, paulatinamente, ascender em proporção
geométrica, na produção de um indivíduo único a cada momento, criador de sua
unicidade. A reflexão sobre os efeitos de suas experiências, essencialmente
únicas, derivadas das vivências bio-psico-sociais a que o indivíduo se submete, à
medida em que vai se tornando apto para elas, nos dá a dimensão do
prolongamento desse processo de singularização, individuação, que caracteriza o
desenvolvimento da pessoa humana. Assim, a realidade da pessoa é uma
realidade de diferenciação e singularidade.
Na verdade , isto é apenas parte da história.
A sociabilidade humana, condição indissociável da natureza da pessoa,
condiciona-a à convivência com os outros; e a realizar COM os outros a sua
singularidade e a sua autonomia. A cultura medeia e possibilita esse processo.
Sem ela o mesmo seria impossível e seria impensável a vida humana.
Ocorre, entretanto, que a cultura é, essencialmente, padronização. A ação
socialmente organizada, condição para a convivência, só se torna possível na
medida em que pode existir um certo grau de previsibilidade do comportamento dos
indivíduos, o que é apenas possibilitado por um determinado grau de padronização
de seu comportamento. Desta forma, é inevitável um choque, pelo menos
potencial, entre cultura e indivíduo, na produção das condições sociais de vida. Na
verdade, singularidade e padronização não são incompatíveis, mas opostos
dialéticos. Integram-se no indivíduo na medida em que as padronizações préexistentes a este viabilizam a satisfação de suas necessidades e lhe facultam as
condições para um crescimento contínuo e para a realização e construção contínua
de sua singularidade. Assim, os padrões da cultura são uma infra-estrutura para a
atualização e criação de sua singularidade pelo indivíduo.
Por outro lado, a singularidade dos indivíduos introduz criatividade na
cultura, o que possibilita a criação e a recriação dos seus padrões, permitindo-lhe
que cresça e se adapte às condições constantes cambiantes de sua realidade
interna e da realidade de seu ecossistema. Assim, o equilíbrio dialético entre a
integração do padrão (padrões) da cultura e a singularidade do indivíduo, ou seja, o
equilíbrio da relação dialética entre o sistema social e o indivíduo, é o critério da
sanidade – vale dizer – de ambos.
O sistema social possui – e carece de mecanismos de controle para manter
em funcionamento os seus padrões e a sua estrutura. Parte essencial desses
mecanismos consiste em punir, enquadrar ou destruir o desviante.
O desviante – em especial o desviante por distúrbio psico-emocional – nada
mais é, pelo menos em sua maior parte, do que o indivíduo que sofreu uma “overdose” de tentativa de padronização no processo de socialização e que recorre
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(falando no sentido amplo) ao seu repertório bio-psico-social para manter e afirmar
a sua singularidade, aprofundando o desvio como conseqüência desse processo.
Vale dizer que afirmar e manter a sua singularidade, nestas condições, significa
SOBREVIVER como ser único que é, uma vez que só existe como tal na medida
em que consegue manter e produzir a sua singularidade.
No desviante se concretiza uma ruptura da dialética da relação sistema
social – indivíduo. Ambos estão doentes, na medida em que está doente uma
relação que é vital para ambos. O sistema social, porque não consegue integrar
uma fonte da criatividade que lhe é essencial; e o indivíduo, porque, na medida em
que lhe são negadas as condições para a sua afirmação como ser singular, não
consegue existir como agente da manutenção e restauração da dialética de sua
relação com o sistema social, que lhe é vital, produzindo apenas um processo
inverso, ao enveredar por uma linha de afirmação de sua singularidade que o
conduz a um distanciamento cada vez maior do sistema social, substrato de sua
atualização e existência. Sua incapacidade caracteriza-se por um padrão de
interpretação da realidade e de comportamento em que as respostas que produz
em seu relacionamento com o sistema social geram como efeito a produção por
este de respostas com um conteúdo cada vez maior da negação da aceitação de
sua singularidade, ou seja, da singularidade que já se vê impedido de exercer e
produzir. Estamos diante de um ciclo vicioso.
O desviante puro é um perigo para o sistema social. Aquele que não tem
uma explicação dentro da lógica, da língua, dos tabus do sistema social é um
perigo mortal para a grande peça teatral que é a cultura. Ele leva ao
questionamento e à crise nas explicações e concepções da realidade consagradas
pela cultura. Ele incita a dissidência. Para manter a sua cultura, o sistema social
precisa explicá-lo e, desta forma, incluí-lo como explicado na configuração de
explicações de sua cultura. Do contrário, o indivíduo está fora dos sistemas de
controle do sistema social e transforma-se num ponto de crise.
O modo de reintegrá-lo a estes sistemas de controle é ATRIBUIR-LHE um
status reconhecido dentro da configuração de sua cultura, de forma a mobilizar
interpretações e comportamentos culturalmente definidos que o explicarão e
atuarão no sentido da neutralização do desvio.
O sistema social carece de destruir para si a pureza do desvio e entendê-la
como previsto, mesmo que para tal fim tenha que – como no caso do portador de
distúrbio psico-emocional, engendrar uma realidade mítica e atribuir ao indivíduo
um status cultural que justifique por parte de seus membros interpretações e
comportamentos que levem o desviante à progressiva destruição social, psíquica e
física.
Neste processo, e com relação ao desviante portador do distúrbio psicoemocional, o profissional de saúde mental de prática tradicional é um agente social
especializado.
Seu procedimento básico, o DIAGNÓSTICO.
Com ele, este agente social especializado atende a uma solicitação do
sistema social de “explicação” do desviante e do desvio. Explicação de resto mítica,
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porque enquadra em um padrão, numa instituição estática, o diagnóstico, um
processo essencialmente dinâmico e singular.
Não se trata de uma censura moral ao profissional, mas de uma crítica
funcional. Do modo como ele funciona dentro da sociedade e dos efeitos deste
modo de funcionamento.
Com o seu diagnóstico, que no fundo significa uma única coisa – “DOIDO” –
ele atribui um status cultural específico ao indivíduo, o que valida e permite o
desencadeamento de uma série de interpretações, atitudes, comportamentos e
práticas, leigas e profissionais, que terão por finalidade o controle do desvinte e do
desvio, e como consequência a sua destruição nas diversas instâncias do seu ser :
social, psíquica e física.
Rótulo “explicativo” e destruição, pode e deve; desvio, não.
O desviante caiu numa armadilha. A luta desesperada pela manutenção de
sua singularidade, ou seja, a luta pela manutenção e afirmação de si como ser,
conduziu-o inexoravelmente à produção de uma singularidade “bizarra”, e esta
singularidade bizarra gera efeitos no sistema social com relação a si –
interpretações, atitudes, comportamentos e práticas, leigas e profissionais, AGORA
VALIDADAS INSTITUCIONALMENTE que invalidarão mais ainda a sua identidade
e singularidade, ou seja, atuarão no sentido de destruí-lo como ser, o que só
deixará a alternativa defensiva de produzir ainda mais singularidade bizarra e gerar,
por conseqüência, mais resposta destrutiva com relação a si. Estamos diante de
um ciclo vicioso.
O indivíduo entra numa condição semelhante à condição clínica de choque,
em que o processo natural conduz inexoravelmente à morte. Mas é ilusório pensar
que é o indivíduo, apenas, que entra nessa condição. Na realidade, QUEM ENTRA
EM “CHOQUE” É A RELAÇÃO INDIVÍDUO – SISTEMA SOCIAL. A dialética da
interação está rompida. Ambos encaminham-se progressivamente para a morte.
Com a morte, ou com o processo de morte do indivíduo, o sistema social também
morre de uma certa forma concreta. Ou seja, sua cultura o leva a praticar uma
autofagia. Numa cultura e sistema social em que o indivíduo não pode estar
protegido e respeitado em sua singularidade, nenhum outro está. Ou seja, se o
está, está, apenas, por obra do acaso. Existem culturas, ditas primitivas, em que o
desviante recebe o status de sábio e conselheiro. Ou seja, o desviante não é
evitado ou destruído, mas a cultura o resgata, tanto para si como para o sistema
social, atribuindo-lhe um status socialmente produtivo.
Na verdade, podemos entender que o ato “diagnóstico” do profissional
realiza uma terapia. É preciso entender, todavia, e estar consciente do tipo de
terapia que se pratica e suas implicações. A terapia que se pratica, neste caso, é a
terapia no sentido antropológico da palavra. A cultura desenvolvendo seus
mecanismos de normalização, reduzindo organicamente os desvios. Não é terapia,
no sentido clínico, da pessoa. É uma terapia para o sistema social, aniquilando o
indivíduo; o que, de fato, aniquila também o sistema social num determinado nível,
uma vez que potencializa a vulnerabilidade de todos os outros indivíduos.
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É necessário, e compete ao profissional, analisar e posicionar-se diante das
implicações deste ato “terapêutico”. Ou seja, as implicações deste ato sobre a
condição e quadro clínico de seu cliente. À guisa de uma pseudo-cientificidade, ele
exerce o poder que lhe é outorgado, em função de sua posição institucional, no
sentido de aprofundar a dimensão negativa da condição do cliente, incapacitando-o
mais ainda, agora num nível institucionalmente estruturado, para manter e restaurar
o equilíbrio de sua relação com o sistema social. Na verdade, com o diagnóstico,
ambos, sistema social e indivíduo, são incapacitados mais ainda para manter e
restaurar o equilíbrio da dialética de sua relação. Esta relação está agora
estruturalmente, institucionalmente, comprometida. O indivíduo é enquadrado como
uma instituição. Uma instituição que justifica interpretações, atitudes,
comportamentos e práticas leigas e profissionais que deixarão a ele, apenas, a
alternativa de opor-se cada vez mais irreconciliável com esta. Cada vez mais o
indivíduo e sistema social tornar-se-ão incapazes de recompor o equilíbrio de sua
interação. Ou seja, a ação do profissional configura-se essencialmente como
iatrogênica, determinando um agravamento e cronificação do quadro do cliente,
implicando na sua destruição social, psíquica e física.
O simples raciocínio evidencia que não é esta a função e intenção do
médico. Aniquilar indivíduos é, exatamente, o oposto de sua prática e de tudo que o
motiva.
Por implicação lógica, O USO CONSTRUTIVO DO PODER INSTITUCIONAL
QUE ESTÁ OUTORGADO AO PROFISSIONAL EXIGE QUE, NO MÍNIMO, ELE SE
ABSTENHA DE EXERCER ESTA ATIVIDADE DIAGNÓSTICA NA ÁREA DE SUA
ATRIBUIÇÃO. Ele pode, entretanto, fazer muito mais. No seu encontro com o
cliente, como instância institucional, ele não é apenas um “profissional”. Ele é o
próprio sistema social relacionando-se com o indivíduo, ainda que não seja só isto.
Desta forma, ele é uma instância privilegiada para trabalhar a recomposição do
equilíbrio da dialética da relação entre este e o sistema social. Ele é, de certa
forma, a presentificação do sistema social. De modo que o indivíduo não lida
simplesmente com uma abstração. Pode dialogar e interagir de uma forma mais
concreta com o sistema social.
A atitude do profissional neste momento determinará a direção do vetor do
processo.
Se posiciona no sentido de reconhecer o indivíduo como uma entidade préreconhecida, da qual pode derivar um rótulo, um diagnóstico. Determinará que o
“momentum” se encaminha no sentido de aniquilação do indivíduo pelo sistema
social. O que significa, por outro lado, uma autofagia do sistema social. O indivíduo
carecerá de defender-se mais e mais na sua singularidade, na sua bizarrice, para
manter-se com o ser diferenciado, existente, para sobreviver enfim, determinando
paradoxalmente a sua destruição de uma outra forma.
Por outro lado, se o profissional se dispõe a reconhecer por entre os
sintomas, bizarrice, anormalidades, a singularidade da pessoa, produto de uma
história singular; e se dispõe a valorizar e a interagir concretamente com esta
pessoa, surge a esperança de recomposição do equilíbrio da relação indivíduo-
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sistema social. O sistema social, personificado pelo profissional em seu status
cultural e função, “dá uma chance” ao indivíduo. Reconhece a sua singularidade
como válida, humana. Cria, com isto, a condição para que o indivíduo possa
perceber, ou começar a perceber, o sistema social não mais como destruidor de si.
Negador de sua singularidade, de sua essência como ser. Pode, desta forma,
renunciar ao processo de extremização de sua singularidade, redirecionando-se no
sentido do diálogo com o sistema social – que inicia-se, então com o profissional e
redirecionando, com vantagem, a produção de sua singularidade de uma forma não
disruptiva.
O profissional é, neste processo, uma instituição privilegiada da cultura. Não
se trata de ser uma instituição que utopicamente estaria “do lado” do indivíduo.
Trata-se de tornar-se uma instituição que reconhece a ambos, indivíduo e sistema
social, como indissociáveis e intrinsecamente dependentes e que atua no sentido
da restauração e manutenção do equilíbrio da dialética da relação entre ambos.
Para tal, é necessário que ele se abstenha de atuar como agente
especializado de aniquilação do indivíduo. É essencial que ele não se veja como
um atribuidor de rótulos vazios, mas como uma pessoa e instância institucional que
se dispõe a ver, a lidar e a valorizar a pessoa e a história singular do cliente por
entre os sintomas, excentricidades, bizarrices e anormalidades. E possa, com isto,
assumir uma prática terapêutica da pessoa e não meramente uma prática
terapêutica no sentido antropológico do termo. Consciente de que, nesta relação
está envolvido a relação do sistema social com o indivíduo, do sistema social
consigo próprio e, sobretudo, a relação entre duas pessoas; utilizando-se dos
conhecimentos já eleborados e em elaboração com relação à produtividade neste
processo, o profissional pode criar condições, desde as iniciais, como o evitar a
atribuição de um status cultural gerador de aniquilação para o indivíduo, para a
reversão do desequilíbrio da relação dialética entre o indivíduo e o sistema social.
Na medida em que o profissional, como instância institucional, se abstém de
diagnosticar, de rotular o cliente, e considera-o, simplesmente, uma pessoa, no
exercício de sua singularidade, evita que se estruture institucionalmente – pela
atribuição de um status essencialmente desvantajoso para o cliente, que só ele,
profissional, pode atribuir – o desequilíbrio da relação entre o indivíduo, cliente, e o
sistema social. Desta forma, ele, agente institucional especializado, reconhecendo
o indivíduo como pessoa singular, interagindo e valorizando esta pessoa, cria uma
condição básica, em nome do sistema social, para a reversão do desequilíbrio. De
tal forma que o comportamento menos destrutivo dos membros deste possibilita
uma reação menos defensiva do desviante e vice-versa, tranformando-os agora, a
partir da relação profissional-cliente, em agentes – como operadores – da
restauração do equilíbrio. Tal procedimento por parte do profissional caracteriza
uma infra-estrutura mínima para o que podemos reconhecer como “processo de
cura”.
Assim, fica claro que o diagnóstico psiquiátrico é um indesejável elemento da
pré-história do tratamento dos distúrbios psico-emocionais, que desejamos ver
banido da história que precisamos escrever.
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Procuramos analisar as dimensões mais amplas e concretas do diagnóstico
psiquiátrico. Buscando situá-lo tanto num contexto sócio-cultural mais amplo do que
o pode considerar uma concepção “meramente clínica”, como, a partir daí,
analisando as suas implicações sobre a condição do cliente e sobre o esforço
terapêutico.
Vemos o diagnóstico dos distúrbios psico-emocionais como essencialmente
iatrogênico, na medida em que, reduzindo a singularidade existencial e a história do
indivíduo, leva-o a defender-se extremando o processo de produção de sua
singularidade, que se amplia como bizarrice. Por outro lado, desencadeia
processos no seio do sistema social que determinam com relação ao desviante
comportamentos que não lhe deixarão alternativas senão o aprofundamento de
suas defesas, de forma que ele, cada vez mais, se incapacita e incapacita o
sistema social como agentes da restauração e do equilíbrio entre ambos.
Desta forma, vemos que o tratamento dos distúrbios psico-emocionais exige
a supressão de um diagnóstico, a fim de que, por entre e por sobre os sintomas, se
veja, se valorize e interaja com a pessoa singular, com sua história singular, para
que se possa instalar um processo de cura. Assim, toda a padronização
diagnóstica, por suas implicações, é, essencialmente, iatrogênica.
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BIBLIOGRAFIA:
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Vozes.
COOPER. D. – DIALÉTICA DA LIBERTAÇÃO. Rio de Janeiro, 1969, Zahar.
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JUNG. C. G. – MEMÓRIAS, SONHOS E REFLEXÕES. Rio de Janeiro, 1978, Nova
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LAING. R. – O EU DIVIDIDO. Petrópolis, 1979, Vozes.
WHITE. L. – O CONCEITO DE SISTEMAS CULTURAIS. Rio de Janeiro, 1976,
Zahar.
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