ASPECTOS DA SÍNDROME DE BURNOUT CORRELACIONADO COM A PROFISSÃO DA ENFERMAGEM Luiz Carlos Schimitez1 Adriana Romão Talita Cristina Maffei Da Rosa RESUMO O principal objetivo deste estudo foi identificar os fatores causadores da síndrome de burnout em enfermeiros. Através de um levantamento bibliográfico, pode-se estudar sobre a profissão da enfermagem, as causas desta síndrome, seus sintomas e prevenção. Para isto foi realizada revisão literária em livros, periódicos e banco de dados da internet, no período entre 1979 a 2007. A síndrome de burnout pode ser entendida como um desgaste profissional facilmente observável em enfermeiros que trabalham diretamente com pessoas, estando expostos a pressões emocionais repetidas, durante um período de tempo prolongado. Suas principais características são o desgaste emocional, a despersonalização e a reduzida satisfação pessoal ou sentimento de incompetência do trabalhador, pois não ocorre satisfação com as ações realizadas e os próprios sucessos no trabalho. É considerada uma resposta ao estresse crônico gerando problemas de saúde, o trabalhador perde o sentido da sua relação com o trabalho. Pode-se verificar que a profissão de enfermagem, por estar diretamente relacionada ao sofrimento do paciente e por diferentes fontes estressoras está muito susceptível a síndrome de burnout. E que se faz necessário adotar estratégias e mudanças de atitudes visando à prevenção desta síndrome. PALAVRAS-CHAVES: Enfermagem. Síndrome de burnout. Estresse. Prevenção. INTRODUÇÃO As pessoas vivem em um mundo com grandes recursos tecnológicos em que o tempo passa em uma velocidade espantosa, devendo os problemas ter resolutividade rápida e eficaz. Isto pressiona os indivíduos, gerando muitas vezes, um sentimento de estar aquém da capacidade de resolução dos acontecimentos. Inicia-se uma era de produção de sofrimento psíquico com forte ressonância no desencadeamento dos males físicos (SANTOS; MIRANDA, 2007). 1 Enfermeiro, especialista em Urgência e Emergência pela FAFIPA, Faculdade Estadual de Educação, Ciências e Letras de Paranavaí, Cascavel, PR (2009). Técnico de Enfermagem do Hospital Universitário do Oeste do Paraná, Cascavel. Professor de enfermagem do CENAP Centro de Educação Profissional de Cascavel, PR. Endereço: Rua José Caldart, 1118, Jardim Maria Luiza, CEP 85819-570 Cascavel – Paraná Telefones: (45) 3037 3062 / 8804 5024. [email protected] / [email protected] 1 O trabalho passa a ser a mola propulsora de um suposto e fantasioso “mundo melhor”, em que há reconhecimento, valorização e aceitação. As pessoas são instadas sempre a melhorar, como trabalhadores a aumentar a produção e como indivíduos a incrementar o consumo, criando-se desconforto, sofrimento e desequilíbrio quando não se responde adequadamente às demandas, calcadas nas demandas do contexto social. O trabalho passa a ser fonte de doença, devido a fatores extrínsecos e intrínsecos a ele (SANTOS; MIRANDA, 2007). A maioria das pessoas procura o trabalho para ter condições de atender às necessidades básicas, poder consumir, ter satisfação e realizar-se profissional e socialmente. Assim, o trabalho pode ser razão de satisfação ou insatisfação, gerador de prazer ou de sofrimento. A forma como o trabalho está organizado, o ambiente institucional e as condições de trabalho podem contribuir significativamente para o (des) prazer do trabalho (SANTOS; TREVIZAN, 2002). Segundo Codo, Sampaio e Hitomi (1993) o trabalho é o momento significativo do homem, é a possibilidade da felicidade, da liberdade, da loucura e da doença mental. Dejours (1992) coloca que a organização do trabalho promove sofrimento mental, ressaltando os aspectos da divisão do trabalho, do conteúdo da tarefa, do sistema hierárquico, das modalidades de comando, das relações de poder, sobre as questões de responsabilidades, do ritmo e da jornada de trabalho. Segundo Santos e Miranda (2007) ser profissional na área de saúde implica lidar cotidianamente com situações de sofrimento, dor, morte, exclusão, frustração, sentimentos de impotência ou onipotência, relacionamentos interpessoais conflituosos, entre outros. O profissional de saúde nem sempre está preparado emocionalmente e capacitado de modo técnico para atuar com essa dinâmica plena de obstáculos. O sofrimento gerado pelo trabalho pode levar o indivíduo a desenvolver estresse ocupacional e os transtornos a ele associados, destacando-se as doenças psicossomáticas, doenças mentais e a síndrome de burnout. A função de administrador da equipe de enfermagem, e por vezes a de organizador do trabalho da unidade de assistência, pode desencadear sentimentos de culpa, incompetência, desqualificação, insatisfação com as atividades desenvolvidas e a falta de reconhecimento (SANTOS; MIRANDA, 2007). A enfermagem profissional está se adaptando para atender as mudanças nas 2 necessidades e expectativas de saúde. Uma dessas adaptações pode ser notada na expansão do papel do enfermeiro (SMELTZER; BARE, 2006). Devido às responsabilidades aumentadas do enfermeiro generalista em seu ambiente de trabalho e gerenciamento das equipes, pode ocorrer antecipação de sofrimento psíquico. Esta pesquisa tem como pergunta norteadora a busca dos fatores geradores de sofrimento psíquico no trabalho relacionado à síndrome de burnout. Representa um esforço em encontrar respostas que tragam uma melhor compreensão dos fatores desencadeadores desta síndrome. A síndrome de burnout pode ser ocasionada pelo estresse no ambiente de trabalho do enfermeiro, pela desvalorização profissional, pela tentativa de salvar vidas e quando não se alcança os objetivos esperados pode ocorrer sofrimento psíquico, impossibilitando-o de realizar adequadamente a sua função, tornando o ambiente de trabalho um lugar de desânimo e ausência de perspectivas quanto ao seu crescimento, desempenho e realização profissional. OBJETIVOS O principal objetivo deste estudo foi identificar os fatores que conduzem o enfermeiro ao sofrimento psíquico relacionado à síndrome de burnout nas ações de enfermagem. E também estudar sobre a percepção do trabalho de enfermagem e ações alternativas para prevenir a síndrome de burnout. METODOLOGIA No presente trabalho utilizou-se uma pesquisa bibliográfica com abordagem qualitativa, descritiva e exploratória. Foi realizado um levantamento bibliográfico através da leitura de livros, artigos, revistas e banco de dados da internet, no período entre 1979 e 2007, para estudar os fatores que conduzem à síndrome de burnout no trabalho dos enfermeiros e a sua prevenção. Conforme Minayo (2000) a pesquisa qualitativa responde a questões muito particulares. Ela se preocupa, nas ciências sociais, com um nível de realidade que não pode ser quantificado, pois trabalha com o universo de significados, motivos, crenças, 3 valores e atitudes, que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos e fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis. Já a pesquisa descritiva busca conhecer as diversas situações e relações que ocorrem na vida social, política, econômica e demais aspectos do comportamento humano, portanto analisa, observa, registra e correlaciona fatos sem manipulá-los. E a pesquisa exploratória realiza descrições precisas da situação e quer descobrir as relações existentes entre os elementos componentes da mesma (CERVO; BERVIAN, 2002). PERCEPÇÃO DO TRABALHO DA ENFERMAGEM A enfermagem é uma das profissões mais jovens, ainda que uma das artes mais antigas. Teve seu início na antiguidade, com a vida familiar, e evoluiu como uma extensão dos cuidados entre os membros das famílias. Pessoas substitutas eram chamadas para amamentar recém-nascidos saudáveis e cuidar de outros membros da família que adoecessem, envelhecessem e ficassem impotentes de cuidar de si mesmo. Havia, comumente, mais necessidade de prestação de cuidados do que do ato de curar (PESSINI, 2001 apud ROMÃO et al., 2007). Florence Nightingale, em 1851, conseguiu estabelecer um marco na história da profissão da enfermagem, dos hospitais e da assistência ao cuidado humano. Na Guerra da Criméia (1854-1856), Florence foi convidada pelo Ministério da Guerra da Inglaterra para trabalhar junto aos soldados feridos, onde demonstrou extrema dedicação no cuidado, enorme capacidade de trabalho e organização. Sua atuação contribuiu para a diminuição do índice de mortalidade entre os soldados, cuidava dos ferimentos, infecção e outras doenças. Foi a precursora dessa nova enfermagem que, como a medicina, se encontrava vinculada à política e à ideologia da sociedade capitalista (GEOVANINI et al., 2002). Como se pode perceber sua luta foi árdua e a partir desses fatores vivenciados por Florence Nightingale, a visão e a forma da atuação profissional geraram mudanças significativas no processo de cuidar, uma vez que ela tratava o ser humano de forma holística, ou seja, prestava assistência em todos os aspectos. No entanto, no decorrer da história, o papel do enfermeiro ampliou-se progressivamente, o que acabou exigindo maiores habilidades na sua assistência (ROMÃO et al., 2007). 4 Segundo Romão et al. (2007) isso pode ser evidenciado ao vislumbrar as práticas de saúde no mundo moderno, as quais analisam as ações de saúde e, em especial, as de enfermagem, sob a ótica do sistema político-econômico da sociedade capitalista. Ressaltam o surgimento da enfermagem como atividade profissional institucionalizada, esta análise inicia-se com a Revolução Industrial no século XVI e culmina com o surgimento da enfermagem moderna na Inglaterra, no século XIX. Segundo Geovanini et al. (2002) no Brasil a enfermagem caracteriza-se por três fases principais: organização da enfermagem sob o controle de ordens religiosas; desenvolvimento da educação institucional e das práticas de saúde pública com a criação da Escola de Enfermagem Ana Nery; e o processo de profissionalização da enfermagem. A evolução e o desenvolvimento tecnológico, especialmente no conceito de saúde atualmente exige do profissional maiores habilidades para desenvolver suas atividades que não se restringe única e exclusivamente a prestar o cuidado, essência de sua profissão, mas envolve aspectos mais amplos que podem dimensionar, qualificar e aperfeiçoar o cuidado (ROMÃO et al., 2007). Segundo Horta (1979) a enfermagem é uma ciência e uma arte. A ciência da enfermagem deseja proporcionar um corpo de conhecimentos abstratos, resultantes de pesquisas científicas e análises lógicas, e deseja ser capaz de transferir esses conhecimentos para a prática. O uso criativo e imaginativo do conhecimento para a melhoria do homem encontra expressão na arte da enfermagem. Cabe à enfermagem desenvolver atividades para a manutenção e promoção da saúde, bem como para a prevenção de doenças, sendo de sua responsabilidade o diagnóstico e a intervenção de enfermagem. Seu objetivo é assistir as pessoas para atingirem seu potencial máximo de saúde. Conforme Pereira (2002) é crescente a importância do enfermeiro no processo de gestão dos serviços de saúde. Estar preparado e manter-se competente para as demandas do exigente contexto profissional requer contínua preocupação com o próprio desenvolvimento, atenção aos possíveis cenários futuros e abertura para sua rede de relacionamento, dos aspectos emocionais envolvidos no atendimento dos pacientes. 5 SÍNDROME DE BURNOUT EM PROFISSIONAIS ENFERMEIROS O ambiente hospitalar é muito tenso e estressante. Conforme Santos e Trevizan (2002), o limitado tempo e as poucas oportunidades de estar com a família, principalmente nos fins de semana, a dificuldade em conciliar as férias com a família, a proximidade dos plantões acarreta sofrimento por antecipação. O trabalhador que atua em instituições hospitalares está exposto a diferentes estressores ocupacionais que afetam diretamente o seu bem estar. Dentre vários, podemse citar as longas jornadas de trabalho, o número insuficiente de pessoal, a falta de reconhecimento profissional, a alta exposição do profissional a riscos químicos e físicos, assim como o contato constante com o sofrimento, a dor e muitas vezes a morte. O desempenho destes profissionais envolve uma série de atividades que necessitam forçadamente de um controle mental e emocional muito maior que em outras profissões (ROSA; CARLOTTO, 2005). Fatores inerentes à organização do trabalho, tais como a falta de condições materiais para prestação de assistência com qualidade e de recursos humanos, são causadores de desconforto e sofrimento (LEMOS; CRUZ; BOTOMÉ, 2006). De acordo com Santos e Trevizan (2002) o sofrimento psíquico no trabalho de enfermagem pode também ser desencadeado pela má qualidade das relações interpessoais, pois a autonomia do profissional de enfermagem está submetida ao saber técnico do médico, gerando tensão entre a equipe. Segundo Mozachi (2005) o hospital é considerado um ambiente de trabalho insalubre onde pacientes e profissionais estão expostos a agressões de diversas naturezas, como agentes físicos (radiações), agentes químicos e agentes biológicos. “A organização do trabalho, bem como os eventos situacionais específicos, decodificados ou não, vivenciados individual ou coletivamente, em unidades críticas, produzem efeitos sobre o modo de enfrentamento do sofrimento" (BECK, 2000 apud LEMOS; CRUZ; BOTOMÉ, 2006, p. 01). Conforme Stuart e Laraia (2001, apud Santos; Miranda, 2007) os estressores desencadeantes de sofrimentos são entendidos pelos indivíduos como estímulos de difíceis ou perigosos, que exigem intensa energia e promovem um estado de tensão e estresse; podem ser de origem biológica, psicológica ou sociocultural. 6 De acordo com Smeltzer e Bare (2006) quando o estresse interfere com a capacidade de uma pessoa agir de forma confortável e inibe o gerenciamento efetivo das necessidades pessoais, essa pessoa se encontra em risco de apresentar problemas emocionais. A utilização de métodos ineficazes e não-saudáveis de adaptação é manifestada por comportamentos, pensamentos e sentimentos disfuncionais. Esses comportamentos voltam-se para o alívio do estresse avassalador, mesmo que eles possam causar problemas adicionais. A enfermagem é uma ocupação particularmente estressante. As cargas de trabalho sofridas pelos trabalhadores de enfermagem como exigências ou demandas psico-biológicas do processo de trabalho geram, ao longo do tempo, as particularidades do desgaste do trabalhador. As cargas psíquicas são aquelas constituídas por elementos no processo de trabalho que são, acima de tudo, fontes de estresse (LIMA; CARVALHO, 2000). Embora haja consenso entre os estudiosos sobre a existência do estresse e burnout, diversas controvérsias estão envolvidas. São teorias que nascem no contexto da explosão da produção e consumo no capitalismo. Estresse refere-se a um esgotamento pessoal que interfere na vida do indivíduo, mas não necessariamente na relação com o trabalho. Burnout é uma síndrome que envolve atitudes e condutas negativas com os usuários, clientes, organização e trabalho. É um processo gradual, de experiência subjetiva, que resulta em problemas práticos e emocionais no trabalhador e na organização. O trabalho da enfermagem propicia tanto uma quanto outra situação e causa sofrimento e adoecimento (MUROFUSE; ABRANCHES; NAPOLEÃO, 2005). A síndrome de burnout vem sendo pesquisada por estar relacionada aos profissionais que atuam em setores como educação, saúde, segurança e outras ocupações que implicam contatos com pessoas que necessitam de ajuda. Burnout pode ser entendido como uma reação à tensão emocional, que resulta na redução da motivação para o trabalho e na inabilidade progressiva de indivíduos para mobilizar interesses e habilidades, visando à consecução de objetivos organizacionais (BARBOSA; GUIMARÃES, 2006). Segundo Braz (2006) a enfermagem se encontra entre as profissões mais acometidas pelo burnout, haja vista a necessidade de o enfermeiro estar em constante interação com pessoas, o que significa demandas emocionais estressantes, com 7 experiências repetidas de sofrimento, separação e morte. Além disso, a profissão é pouco valorizada pelos próprios enfermeiros, o que contribui para um desgaste profissional. Conforme Barbosa e Guimarães (2006), o termo burnout é definido literalmente como falhar, colocar fora ou tornar-se exaurido por excessivas demandas de energia, resistência ou recursos, síndrome indesejável que se manifesta como reação a situações estressantes de trabalho. Segundo Pereira (2001) existem mais de 2.500 referências sobre o burnout, mas o primeiro a se utilizar do termo burnout foi Freudenberger em 1974, para descrever exaustão física e emocional de profissionais de saúde mental. A maioria dos autores segue usando esta denominação, Gil-Monte e Peiró em 1997 traduziram por “síndrome de queimar-se pelo trabalho”. Estar queimado se emprega coloquialmente para manifestar que se perdeu a ilusão pelo trabalho e que qualquer esforço destinado para fazer as coisas bem é pouco mais que inútil; é estar esgotado emocionalmente e mostrar uma forte atitude negativa para as pessoas com as quais se trabalha e para seu próprio rol. Portanto, burnout refere-se a uma síndrome na qual o trabalhador perde o sentido da sua relação com o trabalho e faz com que as coisas já não tenham mais importância, qualquer esforço lhe parece ser inútil. Trata-se de um conceito multidimensional que envolve três componentes, que podem aparecer associados, mas que são independentes: exaustão emocional; despersonalização e falta de envolvimento no trabalho (MUROFUSE; ABRANCHES; NAPOLEÃO, 2005). A exaustão emocional caracteriza-se por uma falta ou a carência de energia acompanhada de um sentimento de esgotamento emocional. A manifestação pode ser física, psíquica ou uma combinação entre os dois. Os trabalhadores percebem que já não possuem condições de despender mais energia para o atendimento de seu cliente ou demais pessoas, como já houve em situações passadas. Tratar os clientes, colegas e a organização como objeto, "coisificando" a relação, é uma das dimensões da despersonalização. Ocorre um endurecimento afetivo ou a insensibilidade emocional, por parte do trabalhador, prevalecendo o cinismo e a dissimulação afetiva. (MUROFUSE; ABRANCHES; NAPOLEÃO, 2005). 8 Nessa dimensão, são manifestações comuns, a ansiedade, o aumento da irritabilidade, a perda de motivação, a redução de metas de trabalho e comprometimento com os resultados, além da redução do idealismo, alienação e a conduta voltada para si. A falta de envolvimento pessoal no trabalho é uma dimensão na qual existe um sentimento de inadequação pessoal e profissional. Há uma tendência de o trabalhador se auto-avaliar de forma negativa, com uma evolução negativa que acaba afetando a habilidade para a realização do trabalho e o atendimento, o contato com as pessoas usuárias do trabalho, bem como com a organização (MUROFUSE; ABRANCHES; NAPOLEÃO, 2005). Segundo Pereira (2001) os sintomas mais freqüentes associados ao burnout são: - pscicossomáticos: enxaquecas, insônia, gastrites, diarréias, palpitações, hipertensão, dores musculares. - comportamentais: absenteísmo, isolamento, violência, drogadição, incapacidade de relaxar, mudanças bruscas de humor e comportamento. - emocionais: impaciência, distanciamento afetivo, sentimento de solidão, irritabilidade, ansiedade, sentimento de impotência, desejo de abandonar o emprego, baixa auto-estima, decréscimo de rendimento no trabalho. Multifacetado, o burnout só pode ser compreendido à medida que se elucida a dinâmica da sua complexidade, visto que inclui as percepções das condições de trabalho, riscos e perigos, sobrecarga, desempenho dos papéis e importância social do trabalho, as relações interpessoais, a adoção de novas tecnologias, o acesso à capacitação, a participação no processo decisório, as relações com o entorno, a remuneração, os múltiplos empregos e os valores conflitantes. A esses, devem ser acrescidos, entre outros elementos, idade, sexo, tempo de exercício profissional, sentimentos de auto-eficácia, centralidade do trabalho, estratégias utilizadas para lidar com os problemas do cotidiano e disponibilidade de uma rede de relacionamentos que forneça suporte social (FELICIANO; KOVACS; SARINHO, 2005). Entretanto, à medida que as expectativas acerca da profissão, da organização e do desempenho pessoal são contrastadas com a realidade, os sentimentos de que o trabalho exige demais de si mesmo, de desgaste e esforço ao lidar com a clientela, de frustração e insatisfação, além de persistente sensação de cansaço, conformam 9 diferentes amálgamas. Por isso, diante de uma situação de trabalho que é difícil de suportar, mas que ainda desperta satisfação pela inegável importância da tarefa a ser cumprida, a contínua tensão entre prazer e sofrimento repercute de modo diferenciado sobre o envolvimento pessoal nas atividades profissionais (FELICIANO; KOVACS; SARINHO, 2005). PREVENÇÃO – AÇÕES PARA MINIMIZAR A OCORRÊNCIA DA SÍNDROME DE BURNOUT EM ENFERMEIROS Segundo Santos e Trevizan (2002) quando a organização do trabalho do enfermeiro ocorre de modo autoritário, não permitindo mudanças, dificulta-se a adaptação do mesmo ao meio organizacional que lhe foi imposto. É necessário, então, um grande esforço psíquico do enfermeiro a adaptar-se e isso ocorre de modo sofrido. Por esta razão, o enfermeiro deve agir com criatividade, flexibilidade e autonomia. É evidente que todo trabalho novo gera ansiedade, medo, angústia, utopia e incerteza. Isso decorre da pouca experiência dos enfermeiros na área que se propunham atuar. Por sua vez, a universidade não consegue formar profissionais de enfermagem devidamente habilitados para cuidar da pessoa que sofre em sua totalidade, como um ser biológico, social, cultural, lingüístico e histórico (OLIVEIRA, 2006). A realização profissional relaciona-se com a satisfação, com a supervisão, com benefícios e políticas organizacionais e com o conteúdo do trabalho. Esse resultado sinaliza que estar satisfeito com suas atribuições, com sua chefia e com os benefícios e políticas da organização é um elemento importante de realização profissional e, conseqüentemente, podem ser entendidos como fatores de proteção ao burnout. Essa dimensão em muitas situações pode funcionar como um mecanismo de controle que busca restaurar as perdas psicológicas, repondo um quadro de valores, crenças e pressupostos orientadores de um comportamento coletivo conveniente aos objetivos organizacionais. As instituições de saúde e seus profissionais possuem uma cultura caritativa e assistencial. Percebem seu trabalho também como uma ”prática de ajuda”, que obtém como recompensa, a “experiência de gratificação pessoal”. Esta crença, não raras vezes, impede que o trabalhador identifique os estressores profissionais que podem lhe causar danos a sua saúde mental (ROSA; CARLOTTO, 2005). 10 Atualmente, verifica-se uma tendência das organizações hospitalares no investimento da estrutura física, mais especificamente estéticas de suas instalações, com o intuito de gerar avaliação positiva no usuário, estando essa questão relacionada ao mercado consumidor. No entanto, os profissionais que trabalham na instituição precisam, acima de tudo, de melhores condições e organização de trabalho, com suporte de seus supervisores, benefícios e políticas organizacionais que contemplem sua qualidade de vida. Neste sentido, ao se constatar que muitos são os fatores de insatisfação no trabalho que se relacionam às dimensões de burnout e a presença da síndrome pode afetar a prestação de serviços e a qualidade do cuidado oferecido, já que afeta o diretamente o cuidador, há que se pensar na necessidade de intervenções pontuais de forma preventiva, principalmente com relação aos trabalhadores mais jovens da instituição (ROSA; CARLOTTO, 2005). Portanto, é preciso identificar caminhos para modificar essa realidade, sendo fundamental que a prevenção e o tratamento do burnout sejam abordados como problemas coletivos e organizacionais e não como um problema individual. Atualmente, está sendo priorizada a estratégia de melhoria do suporte social no trabalho por meio dos grupos de discussão, com o intuito de estimular a cooperação entre companheiros, mas começa a despontar o recurso ao desenvolvimento organizacional como processo dialógico de transformação das condições de realização do trabalho (FELICIANO; KOVACS; SARINHO, 2005). O planejamento/replanejamento do trabalho por meio das negociações cotidianas é parte do conjunto de estratégias que visam a promoção e a prevenção em saúde no ambiente laboral. Desse modo, é possível estabelecer compromissos para conciliar as demandas provocadas pelos interesses conflitantes que perpassam as situações de trabalho, quais sejam, da organização, das tarefas, dos cargos, dos setores de trabalho, das pessoas e de seus grupos sociais, entre outros. Cabe lembrar que os trabalhadores com base na experiência e no conhecimento construído na prática já replanejam, informalmente, para tornar factível de execução, aquilo que foi planejado por outrem, o que explica a diferença entre o trabalho prescrito e o real (FELICIANO; KOVACS; SARINHO, 2005). Maslach e Leiter (1997/1999) apud Borges (2002) enfatizam os fatores do ambiente de trabalho, defendendo que a identificação dos desencadeadores permite o 11 planejamento de ações preventivas. Apresentam, então, uma sistematização das principais causas da síndrome de burnout, destacando os seguintes aspectos: o excesso de trabalho, a falta de controle, remuneração insuficiente, colapso da união, ausência de equidade e valores conflitantes. Seguindo tal sistematização, ao examinar-se ou explorar a situação de uma determinada organização em busca do que está gerando a incidência da síndrome, todos estes aspectos devem ser examinados. Quando os referidos autores discorrem sobre o excesso de trabalho, referem-se tanto a excesso de volume como ao excesso pela qualidade e/ou diversidade de tarefas. Em referência aos valores conflitantes, não consideram pertinentes apenas o exame dos conflitos entre valores dos empregados e da instituição como um todo, mas também entre valores declarados e prática da organização. Recomendam explicitamente que seja apreciada a coerência entre valores atribuídos como ideais à organização, a missão, os objetivos e as políticas organizacionais. Segundo Braz (2006) existe formas que podem vir a prevenir ou amenizar os sintomas de estresse e burnout. É fazendo uma auto-análise quanto aos processos de estresse e burnout, identificando os sintomas relativos, reconhecer as estratégias que se podem utilizar para enfrentar os sintomas, alterar estratégias que estejam sendo pouco eficazes, manter uma boa qualidade de vida com medidas apropriadas, tais como: adotar uma boa alimentação, dormir bem, praticar exercícios físicos, repensar a forma de atuar no trabalho; manter boa comunicação e ambiente agradável com a equipe de trabalho; reservar um tempo para o descanso; realizar relaxamento e alongamento com respiração adequada para prevenção dos sintomas do burnout. A partir do momento em que o profissional tem conhecimento do que é a síndrome de burnout, seus sintomas, os fatores que podem desencadear esta patologia, e os recursos para minimizar os efeitos da síndrome de exaustão, ele poderá apresentar um melhor padrão na qualidade de vida, tanto profissional quanto pessoal, além de poder oferecer aos seus pacientes uma assistência de qualidade e humanizada, trazendo benefícios para o paciente e para si mesmo, além de diminuir o absenteísmo, a fuga, e os problemas relacionados com o desempenho profissional para a sua chefia, ou mesmo para a instituição em que trabalha (BRAZ, 2006). 12 CONSIDERAÇÕES FINAIS Ser enfermeiro é trabalhar com amor e dedicação, não é o simples dever de trabalhar, cumprir horário. É ter dedicação e afeto. É contribuir para que o usuário seja tratado como um ser humano, como um cidadão. O enfermeiro atual precisa navegar por um conhecimento aberto, complexo que convive à busca, à reflexão, à intuição, à curiosidade; não à incerteza, mas à possibilidade de múltiplas narrativas competitivas, à polifonia, à ambivalência (OLIVEIRA, 2006). O principal objetivo deste trabalho, identificar os múltiplos fatores que conduzem os enfermeiros à síndrome de burnout, foi alcançado e através de um levantamento bibliográfico, verificou-se que a síndrome de burnout vai além do estresse crônico, nem sempre percebido pelos profissionais acometidos. O burnout afeta a vida emocional, profissional e social. Todas as pessoas que convivem com o trabalhador acometido sofrem junto, o paciente pela falta de interesse e motivação; os colegas de trabalho pela indiferença, impaciência e dificuldade de concentração e os familiares pela irritabilidade e distanciamento afetivo. Foi pesquisado também sobre as estratégias para controle e prevenção da síndrome. Considera-se, contudo, que a reflexão sobre as estratégias recomendadas conduz à conclusão de que qualquer prescrição de estratégias a adotar deve variar contigencialmente com as fontes estressoras identificadas em cada organização e com sua inserção no cenário socioeconômico, o qual cria sentido para a sua missão. Para tanto, este estudo não tem como objetivo encerrar-se aqui, e sim proporcionar fonte de reflexos para futuros estudos e contribuição social para os profissionais de saúde e áreas afins. REFERÊNCIAS BARBOSA, R. M. de S. A.; GUIMARÃES, T. de A. Síndrome de burnout: relações com comprometimento afetivo entre gestores de organização estatal. Rev. de Administração Mackenzie. São Paulo, n. 1, ano 6, p. 157-179. Disponível em <http://www.mackenzie.com.br/editoramackenzie/revistas/administração/adm6n1/157.p dfv> Acesso em: 30 mai. 2006 13 BORGES, L. O. A síndrome de burnout e os valores organizacionais: um estudo comparativo em hospitais universitários. Psicologia: Reflexão e Crítica. Porto Alegre, v. 15, n. 1, 2002. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_ arttext&pid=S0102-79722002000100020&lng=pt&nrm=iso> Acesso em: 26 jul. 2007. BRAZ, E. O saber e o fazer do enfermeiro. Cascavel: Coluna do Saber, 2006. CERVO, A. L.; BERVIAN, P. A. Metodologia científica. 5. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2002. CODO, W.; SAMPAIO, J. J. C.; HITOMI, A. H. Indivíduo, trabalho e sofrimento: uma abordagem interdisciplinar. 2. ed. Petrópolis: Vozes, 1993. DEJOURS, C. A loucura do trabalho: estudo de psicopatologia do trabalho. São Paulo: Cortez, 1992. FELICIANO, K. V. O.; KOVACS, M. H.; SARINHO, S. W. Sentimentos de profissionais dos serviços de pronto-socorro pediátrico: reflexões sobre o burnout. Rev. Brasileira de Saúde Materno Infantil. Recife, v. 5, n. 3, jul./set. 2005. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S15198292005000300008&lng=pt&nrm=iso> Acesso em: 26 jul. 2007. GEOVANINI, T. et al. História da enfermagem. Rio de Janeiro: Revinter, 2002. HORTA, W. A. Processo de enfermagem. São Paulo: EPU, 1979. LEMOS, J. C.; CRUZ, R. M.; BOTOME, S. P. Sofrimento psíquico e trabalho de profissionais de enfermagem. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php? scrip=sciartext&pid=S1413294X200202002lngpt&nrmiso> Acesso em: 25 mai. 2007. LIMA, E. D. R. P.; CARVALHO, D. V. Estresse ocupacional: considerações gerais. Nursing. São Paulo, ano 3, n. 20, p. 30-34, mar. 2000. MINAYO, M. C. de S. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 7. ed. São Paulo/Rio de Janeiro: Hucitec/Abrasco, 2000. MOZACHI, N. O hospital: manual do ambiente hospitalar. Curitiba: Os Autores, 2005. 14 MUROFUSE, N. T.; ABRANCHES, S. S.; NAPOLEÃO, A. A. Reflexões sobre estresse e Burnout e a relação com a enfermagem. Rev. Latino-Americana de Enfermagem. Ribeirão Preto, v. 13, n. 2, mar/abr. 2005. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-1692005000200019& Ing=pt&nrm=iso> Acesso em: 26 jul. 2007. OLIVEIRA, F. B. Serviço de reabilitação psicossocial: a prática cotidiana do (a) enfermeiro (a). Nursing. São Paulo, v. 96, n. 9, p. 822-827, fev. 2006. PEREIRA, A. M. T. B. A saúde mental de profissionais de saúde mental: uma investigação da personalidade de psicólogos. Maringá: Eduem, 2001. PEREIRA, L. L. A enfermagem atenta à gestão dos serviços de saúde. Nursing. São Paulo, n. 52, p. 04, set. 2002. ROMÃO, A. et al. Ciências – a ergonomia e a enfermagem – a luz do cuidado. 2007. Dissertação (Doutorado em Engenharia de Produção), Universidade Federal de Santa Catarina. ROSA, C.; CARLOTTO, M. S. Síndrome de Burnout e satisfação no trabalho em profissionais de uma instituição hospitalar. Rev. Sociedade Brasileira Psicologia Hospitalar. Rio de Janeiro, v. 8, n. 2, dez. 2005. Disponível em: <http://scielo.bvspsi.org.br/pdf/rsbph/v8n2/v8n2a02.pdf> Acesso em: 20 abr. 2007. SANTOS, A. S; MIRANDA, S. M. R. C. de. A enfermagem na gestão em atenção primária à saúde. Barueri: Manole, 2007. SANTOS, M. S. dos; TREVIZAN, M. A. Sofrimento psíquico no trabalho do enfermeiro. Nursing. São Paulo, n. 52, p.23-28, set. 2002 SMELTZER, S. C.; BARE, B, G. Brunner & Suddarth, tratado de enfermagem médico cirúrgico. vol. 01. 10. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2006. 15