IRRIGAÇÃO EM CITROS José Renato Zanini, Luiz Carlos Pavani & José Antonio Alberto da Silva Funep Via de Acesso Prof. Paulo Donato Castellane, s/nº 14884-900 - Jaboticabal - SP Tel: (16) 3209-1300 Fax: (16) 3209-1306 E-mail: [email protected] Home Page: http://www.funep.com.br Ficha catalográfica preparada pela Seção de Aquisição e Tratamento de Informação do Serviço de Biblioteca e Documentação da FCAV. Z31i Zanini, José Renato Irrigação em citros / José Renato Zanini, Luiz Carlos Pavani, José Antonio Alberto da Silva. -Jaboticabal : Funep, 1998. 35 p. : il. ; 21 cm. Bibliografia 1 - Irrigação em citros. I. Título. CDU: 631.67:634.3 ÍNDICE 1. INTRODUÇÃO .................................................................. 1 2. CARACTERÍSTICAS DA PLANTA E NECESSIDADES HÍDRICAS.......................................................................... 2 3. EXIGÊNCIAS CLIMÁTICAS E ESTRESSE HÍDRICO ......... 3 4. IRRIGAÇÃO E PRODUTIVIDADE DOS CITROS ............ 7 5. IRRIGAÇÃO E MANEJO DA CULTURA ........................... 9 6. MÉTODOS DE IRRIGAÇÃO ........................................... 12 6.1. IRRIGAÇÃO POR SUPERFÍCIE ............................... 12 6.2. IRRIGAÇÃO POR ASPERSÃO ................................. 14 6.3. IRRIGAÇÃO LOCALIZADA ..................................... 18 7. ESTIMATIVA DA NECESSIDADE DE ÁGUA ................. 26 8. CUSTO DA IRRIGAÇÃO ................................................. 29 9. BIBLIOGRAFIA CITADA ................................................. 31 IRRIGAÇÃO EM CITROS 1. INTRODUÇÃO Os citros são uma das mais importantes frutíferas cultivadas no mundo e cerca de 45% da produção mundial provém de pomares irrigados (25% produzido em países do Mediterrâneo e 20% nos Estados Unidos; Shalhevet & Levy,1990). O Brasil é o maior produtor mundial de citros, com aproximadamente 22% do total, porém a maioria de seus pomares não são irrigados e apresentam produtividade considerada baixa, com 2 caixas/planta, sem irrigação (Amaro et al.,1997). A década de 60 pode ser considerada como o início da irrigação dos citros no Brasil, e hoje a expansão da citricultura para regiões de clima de maior demanda hídrica, a crise do setor com baixos preços nos últimos quatro anos, a instabilidade climática e a elevação do custo de produção, principalmente pela ocorrência de pragas e doenças, têm despertado grande interesse pela irrigação dos pomares, sobretudo com a esperança de que seja uma alternativa de convivência com a CVC (Gravena et al.,1997). Como uma técnica agrícola avançada, a irrigação somente deverá surtir resultados se as demais técnicas citrícolas forem aplicadas com critério, propiciando produção de frutos de mesa, na maioria das vezes em pequenas áreas, além da produção em períodos de entressafra, para limão, tangerinas e laranjas. Tendo ocorrido uma reação dos preços no mercado interno, devido redução da produção a partir de 1998, se iniciou uma nova fase para a citricultura brasileira. Diante dessa situação, muitos citricultores e as indústrias citrícolas estão adotando a irrigação, o que levará a maiores produtividades e melhores qualidades, como ocorre em outros países. 1 2. CARACTERÍSTICAS DA NECESSIDADES HÍDRICAS PLANTA E As plantas cítricas são verdes durante o ano todo, com dois ciclos principais de crescimento (de primavera crescimentos vegetativo e floral; de verão - principalmente vegetativo). As folhas estão em contínua reposição, podendo persistir na planta durante 1 a 3 anos, em um número médio de 50 a 100 mil folhas (planta adulta), são consideradas tipicamente mesofíticas, mas com muitas características xeromórficas - rígidas, sem atividade estomatal na parte superior da folha, com uma camada de cera e o murchamento em folhas maduras só ocorre com potenciais de água considerados relativamente baixos. Em condições úmidas, são capazes de altas transpirações que limitam-se em condições adversas de disponibilidade de água no solo ou de condições de atmosfera desfavorável, fechando os estômatos. Das 70 mil flores produzidas na primavera cerca de 0,1 a 3% resultarão em frutos (Guardiola, 1992). O desenvolvimento vegetativo de plantas jovens é altamente dependente da disponibilidade de água, sendo positivamente correlacionados o volume da copa e o consumo de água, tal como obtiveram Levy et al. (1978) para plantas de pomelo e esse comportamento continuou até os 20 anos de idade. Porém, quando as plantas atingem tamanho adulto, o excessivo crescimento induzido por irrigação e fertilização intensivas pode levar a decréscimos de produção. Embora a maioria dos citros sejam relatados como plantas capazes de suportar longos períodos secos quando adultos, um apropriado manejo da água é necessário para se obter produções comercialmente aceitáveis e de alta qualidade de frutos. As folhas adultas são adaptadas para economizar água, porém as folhas jovens não têm a mesma rigidez estrutural, com ausência de cera cuticular como as 2 folhas maduras e murcham facilmente durante períodos secos. Comparando com outras plantas de mesmo grupo fisiológico (C3), a eficiência no uso de água pelos citros é baixa e estudos mostraram que os frutos perdem água para as folhas durante períodos de deficiência hídrica (Davies & Albrigo, 1994). Laranjeiras adultas (10 a 23 anos) têm cerca de 90% das raízes até 60 cm; entre 75 a 99% encontram-se compreendidas num raio de 2 metros a partir do tronco (Montenegro, 1960). Os citros podem sobreviver em solos rasos, porém desenvolvem plantas menores e o desenvolvimento das raízes é limitado quando o fornecimento de água é reduzido (Moreshet et al.,1983). A condutividade hidráulica das raízes é maior em portaenxertos vigorosos como o limoeiro ‘Cravo’ e menor naqueles de crescimento lento como a tangerineira ‘Cleópatra’ (Davies & Albrigo, 1994). 3. EXIGÊNCIAS CLIMÁTICAS E ESTRESSE HÍDRICO A maioria das regiões de produção de citros no mundo dispõe de chuvas anuais entre 1.000 a 2.000 mm, com sazonalidade, apresentando normalmente uma estação seca. A disponibilidade de água para a cultura depende, essencialmente, do balanço entre a evapotranspiração e a precipitação pluvial ao longo do ciclo fenológico, que corresponde às fases de indução floral ou pré-florescimento, estabelecimento, crescimento e maturação do fruto e crescimento vegetativo. Após a juvenilidade, chuvas constantes podem favorecer maior incidência de doenças e pragas, alterar o balanço hormonal, induzir múltiplos florescimentos e comprometer a produtividade. A demanda hídrica dos citros varia de acordo com a distribuição espacial 3 e temporal da radiação solar, temperatura do ar, vento, umidade do ar, combinações porta-enxerto e copa, características hídricas do solo, aspectos da cultura como sanidade, densidade de plantio, porte, idade e manejo (Ortolani et al., 1991). Reuther citado por Ortolani et al. (1991), comenta que laranjais adultos irrigados necessitam de 762 a 1.245 mm/ ano, bem distribuídos, para um bom desenvolvimento e produção. A partir do florescimento da primavera, ocorre o principal fluxo de crescimento das folhas, coincidindo com o estabelecimento e crescimento dos frutos, constituindo-se em fases de alta demanda de energia e de necessidades hídricas. Dependendo das condições de deficiência hídrica, as folhas se curvam, reduzindo a área de transpiração; os frutos maduros desidratam-se estabelecendo fluxo inverso – das folhas para os frutos – ocorrendo alteração sensível da qualidade, com aumento de sólidos. As folhas e os frutos podem cair e até mesmo a planta pode secar. As plantas perenes como os citros, respondem à irrigação em um determinado estágio de desenvolvimento, dependente da disponibilidade hídrica anterior a esse estágio, ou seja, o crescimento vegetativo de um ano é influenciado pela estação anterior. Essa disponibilidade hídrica afeta o tamanho final da planta e sua futura capacidade de frutificação. Após a juvenilidade, ou em plantas adultas a disponibilidade hídrica influencia no vigor de crescimento, determinando a taxa de emissão de ramos de frutificação e interfere significativamente na fixação, tamanho final e qualidade dos frutos (Rodriguez, 1987). Em condições de climas semelhantes, as plantas cítricas são consideradas de menor taxa de transpiração que outras culturas devido à baixa condutância de água pelas plantas. Como exemplo, a evapotranspiração diária durante o verão 4 em Israel foi de 7 a 8 mm para muitas frutíferas e de 8,5 mm para macieiras, mas somente de 4,5 mm para pomares de citros. Conforme Shalhevet & Levy (1990), a ocorrência de um período de seca pode inibir a produção de ácido giberélico nas raízes e induzir o florescimento de plantas em climas tropicais, enquanto em regiões frias, as baixas temperaturas induzem dormência, seguida por florescimento na primavera. O florescimento de citros em climas tropicais pode ocorrer em diversas épocas do ano e a capacidade das laranjeiras reflorescerem, após um período de seca severa, é importante no Brasil, onde os citros normalmente não são irrigados. O estresse hídrico ocorre sempre que as condições ambientais levam à insuficiente absorção ou transporte de água pela planta para recuperar a água perdida pela transpiração. Severos estresses inibem o crescimento vegetativo e, ou o crescimento do fruto, causando murchamento e queda de folhas, não devendo ser as irrigações baseadas somente na umidade do solo, que nem sempre reflete o estado da água na planta. O inadequado teor de água no solo ou elevado déficit de pressão de vapor (dpv), provoca déficit em plantas cítricas, com semelhança à deficiência de nitrogênio e quando prolongado ou excessivo limita o crescimento e a produção, provocando queda de flores e de frutos jovens, queda de folhas e morte de ramos terminais. Entretanto, a tolerância à seca pode ser induzida gradativamente, com redução no crescimento de ramos, menor condutância estomatal, condutividade hidráulica e área foliar; paralelamente, o crescimento de raízes pode ser aumentado, incrementando a relação raiz parte aérea e a planta consegue absorver mais água e nutrientes. Doorenbos & Kassam (1979) comentam que “em citros o período de repouso parece ser essencial para florescimento e a sua duração determina a quantidade de flores produzidas. 5 O período de repouso, de 30 a 60 dias, pode ser induzido por baixas temperaturas (em torno de 10 oC) nas regiões subtropicais e nas regiões tropicais por um período de deficiência hídrica (chuvas ou irrigações mensais ≤ 50 a 60 mm). A iniciação das gemas florais ocorre durante o período de repouso, quando o crescimento vegetativo é mínimo. Déficits hídricos podem representar, porém, efeitos prejudiciais à produção ao longo do tempo em comparação à dormência causada por um período de frio. Finalizado o período de repouso, um adequado fornecimento de água é necessário porque o prolongado déficit irá retardar não somente o florescimento, mas também conduzir a uma superprodução de flores. Isso pode resultar em baixas produções para uma próxima estação e possivelmente, levar à bienalidade de produção. Para limões, déficit de água é utilizado para indução de florescimento em épocas convenientes, levando à produções ao longo do ano”. Embora sejam utilizadas avançadas metodologias para estudar déficit de água na planta, existe dificuldade de transferir informações objetivas aos produtores, e o que os mesmos querem saber são respostas às indagações dos seguintes tipos: quando iniciar o estresse ?, como observálo por meio de instrumentos ou na própria planta ? e por quanto tempo deve ser aplicado? Infelizmente, as respostas a essas indagações não são claramente disponíveis, muito menos o conhecimento de outros aspectos importantes, como por exemplo, o comportamento de diferentes variedades, de diferentes porta-enxertos, tipos de solos e manejo da cultura, necessitando-se de pesquisas. Porém, estando bastante familiarizado com a cultura, o citricultor poderá tentar estabelecer padrões de observação que auxiliarão na identificação de estresses, tais como intensidade de murchamento e de queda de folhas. É importante observar também, que freqüentemente a época de colheita se dá em pleno período seco e provocar déficit nessa época é 6 inconveniente por resultar em prejuízos para a safra a ser colhida. 4. IRRIGAÇÃO E PRODUTIVIDADE DOS CITROS A irrigação geralmente aumenta a produção pelo maior tamanho de frutos, porém também pode reduzir a queda de frutinhos (Kriedmann & Barrs, 1981). Essa situação de queda de frutos logo após o florescimento, com sérios prejuízos, ocorre freqüentemente nas regiões mais secas do Estado de São Paulo, - Norte e Noroeste - nas quais veranicos de apenas 15-20 dias provocam frustrações de safras. É comum nessas regiões o interesse pela irrigação apenas nesse período, situação em que os produtores definem como “irrigação de salvação”. Os efeitos da irrigação no desenvolvimento da planta e na produção são cumulativos e lentamente tornam-se evidentes. Ao contrário, as mudanças na qualidade dos frutos podem ser detectadas em apenas uma estação; isso faz a comparação da qualidade do fruto, um ótimo diagnóstico para rápida detecção de diferenças entre os efeitos de diferentes regimes de irrigação. O tamanho do fruto é a principal característica física influenciada pela irrigação, porém, o aumento do tamanho pelo incremento da quantidade de água aplicada nem sempre é linear e aumentando o intervalo entre irrigações a porcentagem de suco decresce (Levy et al., 1979). Hilgeman (1966) concluiu que na Flórida, os frutos tiveram casca mais fina devido ao menor intervalo entre irrigações. Vieira (1991) informa que no Brasil, em vários experimentos, foram obtidos aumentos de produção da ordem de 20 a 75%, com irrigação. Em experimento conduzido na Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias de Jaboticabal, UNESP, estão sendo estudadas três variedades (Pêra, Natal e Valência), enxertadas 7 em dois porta-enxertos (limoeiro Cravo e tangerineira Cleópatra), irrigados por microaspersão e gotejamento, com lâminas referentes a 50 e 100% da evapotranspiração estimada. Observando-se os dados apresentados na Tabela 1, pode-se verificar que a média das produtividades com irrigação foi superior (uma caixa/planta em relação a não irrigada). Verifica-se também, que a redução para 50% na lâmina de água resultou em menores produtividades médias quando comparado com a lâmina de 100% e a tangerineira ‘Cleópatra’ proporcionou as menores produções. Tabela 1. Produtividades (média dos anos 1995, 1996 e 1997) de frutos (caixa/planta)*, obtidas com plantas dos 5 até 7 anos de idade. Copa Porta-enxerto Pêra (7x4m) Natal (8x5m) Valência (8x5m) Cravo Cleópatra Cravo Cleópatra Cravo Cleópatra Média Microasp. 100% 3,21 3,22 3,09 3,43 3,92 2,99 3,31 Microasp. 50% 3,18 2,92 3,60 2,48 3,60 2,61 3,06 Gotejam. 100% 3,23 2,58 3,70 3,43 3,95 3,62 3,42 Gotejam. 50% 3,18 2,52 3,63 2,78 3,49 2,73 3,06 Média irrigado 3,20 2,81 3,50 3,03 3,74 2,99 3,21 Sem irrigação 1,73 1,31 3,09 2,35 2,87 2,19 2,27 * caixa de 40,8 kg de frutas Em geral, a escassez de água causa aumento da concentração de sólidos solúveis totais (SST) no suco e aumenta a sua acidez, mais do que os sólidos (Cruse et al.,1982; Koo & Smajstrla, 1985; Kuriyama et al.,1981), tendose como conseqüência menor ratio (relação SST/acidez). A irrigação decresce os SST e a acidez total pelo efeito da diluição; assim, a irrigação excessiva pode reduzir a qualidade do fruto (Hilgeman, 1977). Como no Brasil não há pagamento de frutos pela qualidade e nem pela composição química 8 dos mesmos, pode-se concluir que condições de secas nas colheitas favorecem somente as indústrias. Em experimento conduzido na Estação Experimental de Citricultura de Bebedouro, aplicando níveis de água de 50 e 100% da evapotranspiração com microaspersão, em laranjeira ‘Pêra’ sobre tangerineira ‘Cleópatra’, concluiu-se que após três anos, os níveis 50 e 100% aplicados por microaspersão, produziram em média 44,2 e 34,4 kg/planta respectivamente, a mais que o não irrigado. O peso individual dos frutos não foi alterado pelos tratamentos, mas a irrigação proporcionou maior número de frutos/planta que a testemunha. Não houve diferença significativa para valores de ratio e porcentagem de suco para frutos com ou sem irrigação. Havendo elevados potenciais de água na folha e no fruto, provocados pela irrigação ou pela ocorrência de chuvas, podem acontecer rupturas de glândulas de óleo da casca devido a impactos da colheita, com posterior manchamento. Esse fenômeno denominado oleocelose é relatado freqüentemente para a lima ácida ‘Tahiti’ e a alta disponibilidade de água pode propiciar também o surgimento de podridão estilar. Recomendam-se nesses casos, suspender a irrigação no período da colheita e colher os frutos sem estarem molhados pela irrigação, chuva ou orvalho. 5. IRRIGAÇÃO E MANEJO DA CULTURA A implantação e realização de irrigação em citros condicionam novas situações de manejo da cultura, influenciando outros tratos culturais e serviços: colheita, ocorrência de pragas e doenças, aplicação de fertilizantes, controle de plantas invasoras, tráfego no pomar, etc. Segundo Shalhevet & Levy (1990), a incidência de gomose é agravada em situações de irrigações que molham 9 freqüentemente o tronco, pois a lâmina de água livre propicia o processo de infecção e de desenvolvimento do fungo; plantios em solos argilosos e replantios em locais de velhos pomares contribuem para agravar o problema. Entretanto, a prática de irrigação não provoca a doença, desde que o solo e a água não possuam o agente causal (Phytophthora spp). Utilizando aspersão sobrecopa comparada com aspersão subcopa, Knapp et al. (1982) concluíram que a irrigação afetou a população de ácaros em pomares, diminuindo o ácaro da falsa-ferrugem (Phyllocoptruta oleivora) e o ácaro Eutetranychus citri, mas aumentou a população de ácaro vermelho (Panonychus citri). Em condições brasileiras, a influência da irrigação na população de ácaros é praticamente desconhecida; os resultados são imprevisíveis pois, por exemplo, para o ácaro da leprose sabe-se que em anos de estiagem prolongada aumenta sua incidência, sendo provável que pomares com aspersão terão menores problemas devido aumento da umidade do ar; porém, a ação da água deverá “lavar” os acaricidas. A realização de irrigação pode também ser uma alternativa para redução de problemas com doenças. Por exemplo, quando o florescimento se dá em períodos de elevada umidade do ar é comum a ocorrência do fungo Colletotrichum gloeosporioides, tendo como conseqüência a queda de “chumbinhos” (“estrelinha”). Possuindo irrigação o citricultor pode viabilizar as primeiras floradas anteriores ao período chuvoso, quando a umidade do ar ainda é baixa. Embora não haja completo conhecimento das causas do declínio dos citros sua ocorrência parece estar altamente relacionada com a deficiência hídrica. Em estudo realizado por Diware & Kolte (1990), na Índia, um levantamento envolvendo 68 pomares, com 39.261 plantas, 7.543 mostraram sintomas de declínio; as ocorrências estiveram relacionadas com os seguintes fatores: 10 Fator % de declínio Profundidade : solo raso (< 45 cm) : solo profundo (> 135 cm) Dose de nitrogênio aplicado : < 0,5 kg/planta : > 1 kg/planta Período de deficiência hídrica : 2 meses 30,4 9,3 28,3 3,0 25,0 : 1,5 meses 15,0 : 1 mês 2,4 FERTIRRIGAÇÃO Tradicionalmente, a fertilização dos citros é realizada espalhando-se fertilizantes sólidos na forma granular; porém, recentemente, fertilizantes líquidos ou sólidos solúveis têm sido aplicados via irrigação, em muitas partes do mundo e também no Brasil. Alguns estudos sugerem que aplicações mais freqüentes e em baixas taxas de aplicação aumentam o desenvolvimento da planta (Dasberg et al.,1988; Willis et al.,1991); a lógica dessa forma de aplicação é que mantendose a concentração de nutrientes com pouca variação na solução do solo é possível uma contínua absorção pela planta ou pode-se ajustar melhor as aplicações à marcha de absorção da mesma. É provável que diferenças de respostas à fertirrigação sejam devidas a diversos fatores: edáficos, portaenxerto e condições de clima. Verificando a produção de frutos, Legaz et al. (1981) realizaram aplicações parceladas de nitrogênio e obtiveram produções superiores às aplicações em poucas épocas. Tal como observaram Shalhevet & Levy (1990), o sucesso da fertirrigação em irrigação localizada depende do tamanho do sistema radicular ativo, que em condições de irrigação suplementar depende da quantidade de chuva de verão. Koo (1984) trabalhando na Flórida em solo arenoso, 11 sugeriu 40% de molhamento da área total do solo ou 80% da área de projeção da copa para se obter resultados comparáveis com fertilizantes sólidos espalhados. O sucesso da fertirrigação dependerá também, da maneira que a irrigação é realizada: característica de distribuição de água do equipamento, nível de instrução dos trabalhadores e sobretudo, do conhecimento técnico das interações equipamento de irrigação-água-solo-nutrienteplanta. É viável ainda, em muitos casos, a aplicação de outros produtos via água de irrigação: fungicidas, nematicidas, etc. 6. MÉTODOS DE IRRIGAÇÃO De um modo geral, em todas as situações de agricultura, os diversos sistemas de irrigação podem ser classificados em quatro métodos, sendo apresentados aqui apenas três por serem os mais utilizados. É importante ressaltar porém, a clássica afirmação que, não existe método ideal de irrigação. Para cada situação, definida pelo clima, disponibilidade de água, cultura, topografia, capacidade de investimento inicial pelo agricultor, disponibilidade de mão-de-obra, etc., um ou mais métodos ou sistemas podem ser adotados ou até mesmo, nenhum sistema deve ser implantado. É fundamental que seja feito um projeto por empresas experientes no ramo de irrigação ou profissional capacitado sobre o assunto. Por mais simples que aparentemente se apresente, são indispensáveis os projetos e orçamentos, evitando-se prejuízos em diversos sentidos. Indivíduos apenas curiosos ou ditos “práticos”, devem ser evitados. 6.1. IRRIGAÇÃO POR SUPERFÍCIE Consiste na distribuição de água às áreas irrigadas, utilizando-se a própria superfície do solo para escoamento gravitacional. Esses sistemas prevalecem em quase todas as áreas de agricultura irrigada no mundo e também no Brasil, 12 porém estão sendo substituídos por métodos de irrigação pressurizada, principalmente por irrigação localizada. VANTAGENS: • geralmente apresentam menor custo, resultante dos custos fixos e variáveis; • elevado potencial para reduzir o uso de energia; • pode ser utilizada água de baixa qualidade física, química ou microbiológica; • não interfere nos tratamentos fitossanitários da parte aérea; • uniformidade de distribuição de água não afetada pelo vento; • baixo investimento com equipamentos. LIMITAÇÕES: • alta dependência das condições topográficas, geralmente necessitando da sistematização do terreno; • inadequado para solos excessivamente permeáveis; • o dimensionamento requer determinações em campo; • o sistema de plantio deve ser programado ao sistema de irrigação; • maior consumo de água e maior utilização de mão-deobra quando comparado com outros sistemas. Para frutíferas plantadas em amplo espaçamento como é o caso dos citros, os sistemas mais indicados de irrigação por superfície são: sulcos de infiltração e bacias de infiltração localizadas ao redor das plantas. Dependendo do solo e idade da planta, um ou mais sulcos serão construídos em desnível, acompanhando a direção das linhas de plantas. As bacias de inundação geralmente recebem água dos próprios sulcos, aumentando a área molhada por planta. Em qualquer caso, a água deve permanecer sobre o solo durante o tempo de aplicação, previamente calculado para infiltração da lâmina d’água requerida. Apesar dos aspectos favoráveis que apresenta, a irrigação por sulcos em citros é praticamente inexistente no Brasil, embora possa apresentar bons índices de eficiência. 13 6.2. IRRIGAÇÃO POR ASPERSÃO Neste método de irrigação, a água é aplicada na forma de chuva artificial, com o fracionamento do jato d’água, originando gotas que se espalham pelo ar e atingem o solo. A pressurização da água geralmente é realizada por um conjunto de bombeamento e sua distribuição envolve tubulações com derivações que levam a água até os emissores, chamados aspersores, que direcionam o jato e auxiliam o seu fracionamento. VANTAGENS: • indicado para qualquer tipo de topografia e de solo, dispensando sistematização, remoção de pedras, restos culturais, etc.; • o solo fica menos sujeito à erosão; • facilidade para realizar fertirrigação; • facilidade de controle do volume de água aplicada; • possibilidade de trabalhar à noite; • pouco exigente em qualidade física da água; • grande versatilidade, podendo, muitas vezes, ser deslocado de uma área para outra; • possibilidade de revenda dos equipamentos ou de deslocamento para outra cultura. LIMITAÇÕES: • exige muitos componentes industriais, com investimento relativamente elevado; • maior uso de energia quando comparado com outros métodos; • distribuição de água altamente influenciada pelo vento; • elevada interferência no tratamento fitossanitário; • podem ocorrer elevadas perdas de água por evaporação e deriva; • induz amplo desenvolvimento de plantas invasoras, sobretudo na fase inicial da cultura implantada; • em muitos casos exige grande uso de mão-de-obra. 14 Existem diversos sistemas de irrigação por aspersão, desde os fixos, semifixos móveis e mecanizados. Na maioria das vezes, esse método de irrigação é realizado com aspersores gigantes (canhões) em sistemas semifixos ou móveis, porém, a preferência por esses sistemas tem diminuído por diversos motivos: exige elevado uso de mãode-obra, tratores e carretas para locomoção de tubos, aspersores e suportes; culturas implantadas em pequenas propriedades, sem o planejamento para locomoção de equipamentos, dificultando sua distribuição; pequena disponibilidade de água na propriedade; alto gasto com energia. Entretanto, a irrigação por aspersão em citros é utilizada, sobretudo, com equipamentos mecanizados, como o carretel enrolador (autopropelido). Utilizados na África do Sul, os sistemas de aspersão com pivô central têm despertado interesse também no Brasil, com equipamentos novos ou adaptando-se facilmente equipamentos anteriormente utilizados para cereais. Funcionam com miniaspersores colocados em pendurais que aplicam a água na faixa de projeção das copas das plantas. Evidentemente, para implantação do sistema é necessária orientação das linhas de plantio em círculos. Esse sistema de aplicação possui muitas vantagens e leva a alta eficiência de aplicação de água. Shalhevet & Levy (1990) ressaltaram que alguns sistemas de aspersão podem resultar em uniformidade de distribuição de água relativamente baixa, porém quando a distribuição de água é em área total, esse aspecto não é tão importante em se tratando de sistema radicular extenso, com maior probabilidade de recebimento de água em quantidade razoável. Heller et al., citados por esses autores, utilizando aspersão subcopa aplicaram água somente em um lado das linhas de plantas de laranja Shamouti; o uso de água foi reduzido em 18%, sem diminuição da produção. 15 Figura 1. Sistema de irrigação com aspersor canhão em pomar de tangerina ‘Ponkan’. Figura 2. Plantas de um pomar de laranja ‘Valência’ irrigadas com aspersor canhão. 16 Figura 3. Vista aérea de pomares irrigados por pivô central (África do Sul). Figura 4. Detalhe da irrigação com pivô central em pomar de citros (África do Sul). 17 6.3. IRRIGAÇÃO LOCALIZADA A irrigação localizada tem por objetivo aplicar água apenas a uma parte da área ocupada pela cultura, atingindo preferivelmente todo o volume de solo explorado pelas raízes. O tempo de aplicação é longo, as vazões são baixas e a freqüência de irrigação é alta. Os sistemas mais utilizados são o de gotejamento e o de microaspersão, constituindo-se em sistemas fixos de irrigação. VANTAGENS: • grande uniformidade e eficiência de aplicação de água; • baixa potência do conjunto de acionamento devido baixas vazões e baixas pressões de operação; • baixíssima necessidade de mão-de-obra, especialmente em sistemas com automação; • altamente indicado para realização de fertirrigação; • indicado para qualquer condição de topografia e solo; • menor consumo de água por irrigar as plantas localizadamente; • não interfere em tratos culturais, sobretudo no tratamento fitossanitário; • possibilidade de irrigação 24 horas por dia; • possibilidade de ajustar o diâmetro de molhamento e a quantidade de água aplicada desde o plantio até o completo desenvolvimento da planta. LIMITAÇÕES: • tratando-se de um sistema fixo de irrigação, o investimento inicial é alto; • altamente exigente em qualidade física e química da água, necessitando de bom sistema de filtragem; • suscetibilidade dos componentes a roubo, danificações casuais ou por vandalismo; • em alguns casos pode provocar interferência para locomoção de máquinas na cultura e na realização de colheita; 18 • a maioria dos componentes utilizados no sistema não possuem valor de revenda, devendo-se prever utilização exclusiva para o projeto implantado. IMPLANTAÇÃO DE IRRIGAÇÃO LOCALIZADA A irrigação localizada, por microaspersão, tem sido bastante procurada para implantação em citros. Por esse motivo e por se tratar de um método relativamente recente na agricultura irrigada brasileira e tendo adquirido grandes avanços tecnológicos na última década, dar-se-á maior enfoque a esse método. Os sistemas de microaspersão e gotejamento possuem basicamente os mesmos componentes e tipo de montagem, diferindo essencialmente nos emissores de água. Para elaboração do projeto de irrigação localizada é necessário, inicialmente, o levantamento de dados na propriedade: planta planialtimétrica com eqüidistância de cotas de um ou dois metros e em escala grande (1:1.000 a 1:4.000), posição da rede elétrica quando existente, estradas, orientação das linhas de plantio, espaçamento entre plantas, carreadores, afloramentos rochosos, local e condições da captação de água, etc. Também, deverão ser obtidas informações sobre a qualidade da água, vazão no período de estiagem, nível máximo e mínimo da água, análise textural do solo, curva característica de retenção de água no solo e dados climáticos: evaporação em tanque classe A, umidade relativa do ar e precipitação pluvial. A existência de todos esses dados é importante, porém, devido a diversas opções de manejo da irrigação que o sistema oferece por se tratar de um sistema fixo e com a experiência do projetista, algumas informações poderão não ser obrigatórias. Os principais componentes do sistema geralmente são: - linhas laterais: constituídas de tubos de polietileno, geralmente de 12 a 16 mm de diâmetro, estendidas na direção 19 das linhas de plantas, podendo ficar enterradas ou sobre o solo. Essas linhas podem ter gotejadores já inseridos durante a fabricação ou conectados durante a instalação do sistema no campo (gotejadores, difusores ou microaspersores). Estes emissores podem ter ou não compensadores de pressão os quais controlam a vazão ao longo das linhas laterais, mantendo-a praticamente constante e permitem grandes comprimentos de linhas laterais. Apesar da elevação do custo dos emissores, os compensadores de pressão permitem maiores opções e simplificação do projeto hidráulico, resultando em maior uniformidade de aplicação de água e redução de outros custos, devido o menor número de linhas de alimentação das laterais, redução do diâmetro das laterais e menor necessidade de válvulas de controle de pressão na entrada das parcelas de irrigação. Embora tratando-se de irrigação localizada, é importante que a área molhada do solo para cada planta seja compatível com seu sistema radicular. Assim, tendo as raízes ampla expansão lateral, como é o caso dos citros, em culturas adultas deve-se procurar atingir 50% de molhamento da área total disponível às plantas, ou no mínimo a área de projeção da copa. É favorável também, que a aplicação de água pelos emissores resulte em uma faixa molhada na direção da linha de plantas. Neste modo, considerando-se um espaçamento de 5 metros entre plantas na linha e um microaspersor por planta, o raio mínimo de molhamento deve ser de 2,5 metros. Tal como ressaltam alguns autores, em regiões em que a irrigação é suplementar, o sistema radicular é amplamente espalhado devido às condições proporcionadas pelas chuvas; nessas regiões, particularmente em solos arenosos, e em plantas adultas, mais que 50% do sistema radicular deve ser irrigado (Smajstrla & Koo, 1984). Similarmente, Bielorai et al. (1981) encontraram que em Israel produções de laranja Shamouti foram maiores quando 70 ou 90% da zona das raízes foram irrigadas, comparadas com 35% de molhamento. 20 Bielorai (1977) concluiu que a mínima área molhada depende do intervalo entre irrigações: a produção de pomelo foi a mesma quando, com gotejamento, foi molhada 30% da área ou com aspersão, molhando-se 70%, para intervalos de 3 e 7 dias, respectivamente. Para intervalos de 7 dias com gotejamento, a produção foi 7% menor do que com aspersão. Moreshet et al. (1983) obtiveram 21% de redução na produção de laranja Shamouti enxertada em laranja azeda quando a área molhada foi reduzida de 40% pelo uso de difusores em substituição a aspersores. Em regiões diferentes de condições desérticas, esses resultados também se confirmam. Koo & Smajstrla (1985) compararam plantas sem irrigação com irrigação suplementar de laranjeira ‘Valência’ enxertadas sobre limoeiro ‘Cravo’ em pomar da Flórida, utilizando 2 ou 4 gotejadores/planta (5 e 10% de área molhada, respectivamente) e 1 ou 2 microaspersores/planta (28 e 50% de área molhada, respectivamente). O aumento médio de produção foi de 43% para os tratamentos de gotejamento e 65% para os tratamentos de microaspersão. Com irrigação por gotejamento, para atingir boas condições de distribuição de água, dependendo do tipo de solo e da vazão do gotejador, podem ser necessários em torno de seis gotejadores por planta, adequadamente distribuídos ao redor da mesma e o sistema exige melhor filtragem da água; por isso, muitos produtores têm optado pela microaspersão. - linhas de derivação: são linhas formadas por tubos de polietileno ou de PVC, nas quais conectam-se as linhas laterais. Geralmente, permanecem enterradas e distribuídas perpendicularmente às linhas laterais, na direção do desnível do terreno e cada uma ou mais linhas de derivação abastecem uma parcela de irrigação. A condução da água até as linhas de derivação é feita por linhas secundárias e linha principal ligada ao cabeçal de controle. 21 - cabeçal de controle: contém os elementos responsáveis pela pressurização, filtragem, comando de aplicação de água às parcelas e ainda, o sistema de injeção de fertilizantes. Para tal, possui o conjunto de bombeamento, filtro de areia e, ou filtro de tela ou de anéis com sistema de limpeza manual ou automático e injetor de fertilizantes (derivação de fluxo, bomba injetora ou outros). O controle da aplicação de água às parcelas e do tempo podem ser manual através de válvulas simples ou por automação com válvulas de comando hidráulico e, ou elétrico, associadas a um microprocessador, podendo ainda, controlar a fertirrigação e limpeza automática de filtros, partida e desligamento do motor, indicação do volume aplicado, etc. A Tabela 2 apresenta comparações entre os três métodos, dando uma visão geral das diferentes situações. Tabela 2. Comparação entre métodos de irrigação*. SUPERFÍCIE ASPERSÃO Vazão (litro/hora/emissor) Alta (40-190).103 LOCALIZADA got. micr. 4-10 20-100 Necessidade de mão-de-obra SIM sim NÃO Interferência nos tratos culturais Sim Sim Não Possibilidade de fertirrigação NÃO Não SIM Potência (hp/ha) média 3 0,5 Custo médio (US$/ha) baixo 800 1.500 Necessidade de filtragem da água não não SIM Influência do vento não SIM não muito baixo médio alto SIM não não Investimento em equipamentos Limitação topográfica Problemas em solos arenosos Consumo de água Irrigação à noite SIM não não ALTO Alto Baixo não sim SIM Uniformidade e eficiência Baixa média ALTA Possíveis roubos e danos sim Sim SIM * letras maiúsculas indicam maior intensidade de afirmação, negação ou de ocorrência. 22 Figura 5. Irrigação localizada por microaspersão com detalhe da distribuição de água. Figura 6. Irrigação localizada por gotejamento, com detalhe da área molhada e duas linhas de gotejadores (Espanha). 23 Figura 7. Sistema para fertirrigação composto por reservatório de solução fertilizante e bomba injetora. Figura 8. Cabeçal de controle composto por filtros de areia e de tela, painel para automação, válvulas e sistema para fertirrigação. 24 Figura 9. Implantação de um sistema de irrigação localizada com linhas principais de PVC, linhas de derivação e linhas laterais de polietileno. a) IRRIGAÇÃO POR GOTEJAMENTO b) IRRIGAÇÃO POR MICROASPERSÃO Figura 10. Bulbos úmidos no perfil do solo em sistemas de irrigação localizada por gotejamento e por microaspersão (Gomes, H.P., 1994). 25 7. ESTIMATIVA DA NECESSIDADE DE ÁGUA A quantidade de água necessária a uma cultura é função de diversos fatores: condições climáticas, idade das plantas, fase do ciclo fenológico, manejo do solo e da cultura. Davies & Albrigo (1994) observará que, embora os efeitos da irrigação sejam mundialmente claros, o método de manejo da irrigação ainda não está amplamente solucionado na maioria das regiões de cultivo de citros. Existem diversos métodos baseados na estimativa da evapotranspiração do pomar, que é função da radiação solar, temperatura, velocidade do vento e umidade relativa do ar. A estimativa pode também ser baseada na evaporação de água de um tanque classe A e ajustada em relação à fase de desenvolvimento da planta, área de cobertura do solo pela planta, incidência de plantas invasoras, umidade do ar e velocidade do vento; essas variáveis definem coeficientes de ajustes – coeficiente do tanque (Kp) e coeficiente da cultura (Kc), encontrados facilmente em tabelas. Pereira & Allen (1997) apresentam valores médios de Kc para climas semi-úmidos (umidade relativa mínima aproximadamente 45% e velocidade do vento moderada – aproximadamente 2 m/s), apontados a seguir: 70% 50% 20% Solo revestido 70% 50% 20% 0,80 0,65 0,55 0,90 Solo nu Cobertura pela planta Valor de Kc 0,90 1,00 Pelos resultados apresentados de Kc, nota-se que mantendo o solo revestido, como por exemplo, controlando as plantas invasoras somente com roçadeiras, a exigência de água pode aumentar de 10 a 45%. Este é o motivo pelo qual, apesar dos efeitos prejudiciais do uso de grades em pomares (exposição à erosão, corte de raízes, poeiras, etc.), muitos produtores notam resultados positivos de seu uso, evidentemente, pela economia de água para a cultura. 26 Entre os diversos métodos de estimativa do consumo de água pelas plantas, para cálculo do volume de água a ser fornecido, o método da FAO (FAO, 1975), baseado no tanque de evaporação classe A, oferece bons resultados, é relativamente barato e de fácil utilização. Conforme apresentado por Ollita (1986), considerando que na irrigação localizada é molhado somente parte do solo ocupado pelas plantas, o cálculo da quantidade de água deve ser um pouco diferente do realizado para culturas que recobrem totalmente o solo. A evapotranspiração da cultura é calculada pela fórmula: ETc = ECA.Kp.Kc em que, ETc - evapotranspiração da cultura, mm/dia; ECA - evaporação no tanque classe A, mm/dia; Kp - coeficiente do tanque; Kc - coeficiente de cultura. O valor de Kp depende das condições climáticas e das condições em que está instalado o tanque classe A; para uma condição de ventos leves (< 2 m/s), umidade relativa média (40-70%) e tanque instalado em área vegetada com grama, o Kp é igual a 0,75. Na irrigação localizada, sobretudo em pomares, como somente uma parte do solo é ocupado pelas plantas e somente parte do mesmo será molhado, recomenda-se a utilização de um fator Kr, sugerido por Keller & Karmelli, citados por Olitta (1986), que deverá ser aplicado ao cálculo usual de consumo de água, sendo: Kr = %AC _________ 0,85 , onde, 27 Kr - fator de redução de molhamento, devendo-se adotar o menor valor (Kr ≤ 1); %AC - porcentagem de área coberta pela projeção da copa. Ainda, para calcular o volume (V = litros/planta) de água a ser aplicado, considera-se a eficiência de aplicação (Ea), geralmente adotada como 0,9 para irrigação localizada, a área total disponível para cada planta (A) e a chuva efetiva ocorrida no período (P). Assim, a fórmula final fica: V= [(ECA.Kp.Kc) - P ].Kr.A ___________________________________ Ea Exemplo de cálculo: Considerando-se que as irrigações estejam sendo efetuadas em pomar com cobertura vegetal, com intervalos de três dias, mais os seguintes dados: - ECA acumulada durante os três dias = 21 mm; - chuva efetiva no período = 0 mm; - espaçamento entre plantas = 7x5 m, (A=35 m2); - cobertura da área pelas plantas = 50%. Com esses dados, obtém-se V=325 litros/planta. Então, devem ser aplicados 108 litros/(planta.dia). Shalhevet & Levy (1990) afirmaram que como árvore frutífera, o grau de cobertura do solo (índice de área foliar) dos citros tem forte influência na evapotranspiração e dos 5 aos 6 anos, há rápido incremento da cobertura. Em Israel, o Serviço de Extensão da Agricultura recomenda aplicações semanais de 10, 15, 25, 45 e 65 litros/dia para plantas do 1º ao 5º ano. Do 6º ano em diante, são aplicados 4 a 4,5 mm/ dia (aproximadamente 100 litros/planta). As irrigações podem também ser baseadas na umidade do solo. Estudos realizados na Flórida (Koo, 1963) sugeriram 28 que sejam utilizados até 66% da água disponível do solo, enquanto Marler & Davies (1990) sugeriram somente 30 a 45% de esgotamento da água disponível. Kaufmann & Elfving (1972) encontraram boa correlação entre leituras de tensiômetro e potencial de água na folha e Gerard & Sleeth (1960) recomendam instalação de tensiômetro a 60 cm de profundidade e irrigações quando o potencial de água no solo for –0,05 a –0,07 MPa (–0,5 a –0,7 bar). Para acompanhamento indireto da umidade do solo podem ser utilizados tensiômetros, porém comparados com estimativa baseada em evaporação, esses aparelhos são de manejo mais difícil para o citricultor. 8. CUSTO DA IRRIGAÇÃO Os custos de irrigação de uma cultura envolvem custos fixos (levantamento de dados, aquisição de equipamentos, construção de estruturas, instalação do sistema, etc.) e custos variáveis (energia utilizada, custo da água quando existente, mão-de-obra para operação, manutenção, etc.). Com o objetivo de estudar os efeitos da irrigação e da adubação nitrogenada no rendimento econômico de laranja ‘Pêra’, em pomar de 5 anos de idade, Bertonha (1997) utilizando microaspersão, concluiu: a irrigação antecipou a maturação de frutos; o número de frutos, caixas de frutos, volume de suco e sólidos solúveis por árvore aumentaram em função do volume de água e nitrogênio aplicados, segundo uma relação quadrática; o peso médio de frutos aumentou em função do volume de água e da dose de N, segundo uma relação quadrática para N e linear para água; o número de caixas de frutos teve maior relação com o número de frutos do que com o peso médio dos mesmos; o custo da irrigação foi inferior às despesas com defensivos e herbicidas; a irrigação complementar favoreceu obter receitas 29 líquidas positivas considerando-se o preço de US$ 3,00/caixa; aos valores pagos pelas indústrias na época (US$ 1,80/caixa), todas as combinações de irrigação e de doses de N resultaram receitas líquidas negativas. Os custos para implantação de irrigação dependem muito das características de cada projeto: por exemplo, da localização da captação de água, pois fontes distantes ou água de má qualidade exigindo rigorosa filtragem apresentarão acréscimo de custo. Embora bastante variável para cada situação, considerando-se 300 plantas/ha, os atuais custos para implantação dos três tipos de irrigação são da ordem de: aspersão convencional – US$ 800/ha (US$ 2,7/ planta); sistema autopropelido ou carretel enrolador – US$ 1.100/ha (US$ 3,6/planta); microaspersão – US$ 1.500 a 2.000/ha (US$ 6,0/ planta). Visando comparar o custo de implantação da irrigação com outras despesas do pomar de citros, foram tomados os seguintes dados: - controle do ácaro da leprose: 2 pulverizações/ano, 120 plantas/bomba, preço do acaricida/bomba = US$ 44 → US$ 0,7/(planta.ano) - irrigação por microaspersão: vida útil mínima = 10 anos → US$ 0,6/(planta.ano) Assim, verifica-se que o custo da implantação da irrigação pode ser menor que o custo do controle do ácaro da leprose. Considerando-se também o preço de US$ 3/ caixa, bastariam ser produzidas apenas 2 caixas a mais para pagar o sistema de irrigação, durante os 10 anos. Admitindose também o aumento de 1 caixa de frutos/(ano.planta) como conseqüência da irrigação, após apenas 2 anos, o sistema de irrigação estaria pago. 30 9. BIBLIOGRAFIA CITADA AMARO, A.A., MAIA, M.L., GONZALEZ, M.A. Efeitos econômicos decorrentes da clorose variegada dos citros. In: DONADIO, L.C.(ed.). Clorose Variegada dos citros. Jaboticabal: FUNEP,1997. p.123-35. BERTONHA, A. Funções de resposta da laranja Pêra à irrigação complementar e nitrogênio. Piracicaba, 1997. 109p. (Tese de Doutoramento). ESALQ/USP. BIELORAI, H. The effect of drip and sprinkler irrigation on grapefruit yield, water use and soil salinity. Proceedings of the International Society of Citriculture. Orlando, 1, p.99-103, 1977. BIELORAI, H., DASBERG, S., ERNER, Y., BRUM, M. The effect of various soil moisture regimes and fertilizer levels on citrus yield under partial wetting of the root zone. Proceedings of the International Society of Citriculture. Tokyo, 1, p.585-9, 1981. CRUSE, R.R., WIEGAND, C.L., SWANSON, W.A. The effect of rainfall and irrigation management on citrus juice quality in Texas. Journal of American Society of Horticulture Science. v.107, p.767-70, 1982. DASBERG, S.A., BAR-AKIVA, A., SPAZISKY, S., COHEN, A. Fertigation vs.broadcasting in a orange grove. Fertilizer Research, v.15, p.147-54, 1988. DAVIES, F.S., ALBRIGO, L.G. Citrus. In: Crop production Science in Horticulture. Wallingford: CAB International, 1994. 254p. 31 DIWARE, D.V., KOLTE, S.O. Analysis of factors responsible for decline of citrus in Vidarbha Region. II. Role of soil, manuring, bahar, yield and stress period. PKV – Research Journal, Akola, v.14, n.2, p.119-22, 1990. DOORENBOS, J., KASSAN, A.H. Yield response to water. Rome: Food Agricultural Organization. Irrigation and drainage paper, 33, 1979.179p. FAO. Crop water requirements. Rome: Food Agricultural Organization. Irrigation and drainage paper, 24, 1975. 144p. GERARD, C.I., SLEETH, B. The use of tensiometers in the irrigation of citrus groves. Journal of the Rio Grande Valley Horticulture Society, v.14, p.99-103, 1960. GOMES, H.P. Engenharia de irrigação. Campina Grande: Universitária, 1994. 344p. GRAVENA, S. et al. Manejo de cigarrinhas e CVC no pomar. In: DONADIO, L.C. (ed.). Clorose variegada dos citros. Jaboticabal: FUNEP, 1997. p.93-112. GUARDIOLA, J.L. Frutificação e crescimento. In: DONADIO, L.C. (ed.). II Seminário Internacional de Citros-Fisiologia. Fundação Cargill. Campinas SP, p. 3-26. 1992. HILGEMAN, R.H. Effect of climate of Florida and Arizona on grapefruit fruit enlargement and quality, apparent transpiration and internal water stress. Proceedings of Florida State Horticulture Society, v.79, p.99-106, 1966. HILGEMAN, R.H. Response of citrus to water stress in Arizona. Proceedings of the International Society of Citriculture. Orlando, v.1, p.70-4, 1977. 32 KAUFMANN, M.R., ELFVING, D.C. Evaluation of tensiometers for estimating plant water stress in citrus. HortScience, v.7, p.513-4, 1972. KNAPP, J.L., FASULO, T.R., TUCKER, D.P.H. & PARSONS, L.R. The effects of different irrigation and weed management practices on mite populations in a citrus grove. Proceedings of Florida State Horticulture Society, v.95, p.47-50, 1982. KOO, R.C.J. Effects of frequency of irrigation on yield of orange and grapefruit. Proceedings of the Florida State Horticultural Society, v.76, p.1-5, 1963. KOO, R.C.J. The importance of ground coverage by fertigation for citrus on sandy soils. Fertilizer Issues, v.1, p.75-8, 1984. KOO, R.C.J., SMAJSTRLA, A.G. Effects of trickle irrigation and fertigation on fruit production and juice production and juice quality of “Valencia” orange. Proceedings of Florida State Horticulture Society, n.97, p.8-10, 1985. KRIEDMANN, P.E., BARRS, M.D. Citrus orchards. p.325-417. In:. KOZLOWSKI, T.T (ed.) Water deficit and plant growth, v.6, New York: Academic Press, 1981. KURIYAMA, T., SHIMOOSAKO, M., YOSHIDA, M., SHIRAISHI, S. The effect of soil moisture on the fruit quality of Satsuma mandarin (Citrus unshiu Marc.). Proceedings of the International Society Citriculture, Tokyo, n.2, p.524-7, 1981. LEGAZ, F., IBAÑEZ, R., de BARREDA, D.G., PRIMO MILLO, E. Influence of irrigation and fertilization on productivity of ‘Navelate’ sweet orange. Proceedings of the International Society of Citriculture, 2, p.591-5, 1981. 33 LEVY,Y., BIELORAI, H., SHALHEVET, J. Long-term effects of different irrigation regimes on grapefruit tree development and yield. Journal of American Society of Horticultural Science. v.103, p.680-83, 1978. LEVY, Y., SHALHEVET, J., BIELORAI, H. Effect of irrigation regime and water salinity on grapefruit quality. Journal of American Society of Horticulture Science. v.104, p.3569, 1979. MARLER, T.E., DAVIES, F.S. Soil water content and leaf gas exchange of young fiel-grown ‘Hamlin’ orange tree. Proceedings of the Interamerican Society of Tropical Horticulture, n.32, p.51-4, 1988. MONTENEGRO, H.W.S. Contribuição ao estudo do sistema radicular das plantas cítricas. Piracicaba, 1960. 189p. Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz – USP. MOREIRA, C.S. Estudo da distribuição do sistema radicular da laranjeira Pêra (Citrus sinensis Osbeck) com diferentes manejos do solo. Piracicaba, 1983. 97p. (Tese de Livredocência) - Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, USP. MORESHET, S., COHEN, Y., FUCHS, M. Response of mature Shamouti orange trees to irrigation of different soil volumes at similar levels of available water. Irrigation Science, v.3, p.223-36, 1983. OLITTA, A.F.L. Projeto de Irrigação localizada. In: Elaboração de projetos de irrigação. Brasília: PRONI/CTH, 1986. Tomo 11, p.15. ORTOLANI, A.A., PEDRO JUNIOR, M.J. ALFONSI, R.R. Agroclimatologia e o cultivo dos citros. In: RODRIGUEZ, O. et al.(ed.). Citricultura Brasileira. Fundação Cargill, v.1, 1991. p.153-95. 34 PEREIRA, L.S., ALLEN, R. Novas aproximações aos coeficientes culturais. Engenharia Agrícola, Jaboticabal, v.16, n.4, p.118-43, 1997. RODRIGUEZ, O. Ecofisiologia dos citros. In: CASTRO, P.C., (ed.) Ecofisiologia da produção agrícola. Piracicaba, Associação Brasileira para Pesquisa da Potassa e do Fosfato, 1987. p.149-64. SHALHEVET, J., LEVY, Y. Citrus trees. In: STEWART, B.A., NIELSEN, D.R. (ed.). Irrigation of agricultural crops. Madison: Series Agronomy, p.951-86, 1990. 1218p. SILVA, J.A.A., SEMPIONATO, O.R., PAROLIN, L.G. Efeitos de níveis de irrigação na produção de laranja Pêra. In: SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE CITROS –TRATOS CULTURAIS, 5, Bebedouro. Resumos... 1998. p.22-3. SMAJSTRLA, A. G., KOO, R. C. J. Effects of trickle irrigation methods and amounts of water applied on citrus yields. Proceedings of the Florida State Horticultural Society, v.97, p.3-7, 1984. VIEIRA, D.B. Irrigação em citros. In: RODRIGUES, O. et al. (ed.). Citricultura brasileira. Fundação Cargill, v.2, 1991. p.519-41. WILLIS, L.E., DAVIES, F.S., GRAETZ, D.A. Fertigation and growth of young ‘Hamilin’ orange trees in Florida. HortScience, v.26, p.106-9, 1991. 35