XIII JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2013 – UFRPE: Recife, 09 a 13 de dezembro. UMIDADE DO SOLO SOB USO DA MESA DE TENSÃO E DO FUNIL DE HAINES Marcos Adriano Marques Pessôa Sales 1, Evanilson Paulino da Silva 2, Kairon Rocha Andrade 3, Wagner Luís da Silva Souza 4, Brivaldo Gomes de Almeida 5. Introdução A curva característica de retenção de água do solo (CCRAS) é uma importante ferramenta utilizada para o estudo do comportamento hídrico do solo, avaliando a capacidade de retenção de água dos diferentes tamanhos de poros do solo, sob as diversas tensões, ocasionadas pela variação do potencial mátrico do solo. Segundo Cichota & Jong van Lier (2004), a CCRAS pode ser considerada como uma parte fundamental da caracterização físico - hídrica do solo. Para a determinação da CCRAS várias metodologias já foram descritas baseando-se no princípio do contato hidráulico gerado entre o solo e um meio provido de poros tão pequenos que favorecem a permanência do solo em estado de saturação, até que uma elevada tensão ou pressão seja estabelecida (Townend et al., 2000), ocasionando a drenagem do solo. Dentre as metodologias, destacam-se a mesa de tensão, câmara de Richards e funil de Haines, que embora difundidos e utilizados no meio físico, apresentam limitações que podem influenciar na eficiência do processo e na confiabilidade dos dados na geração da CCRAS. A mesa de tensão proposta por Leamer & Shaw (1941) e, no Brasil, por Oliveira (1968), apresenta como principal desvantagem a necessidade da troca constante do papel tipo mata-borrão, além de não suportar a aplicação de altas tensões, funcionando, confiavelmente, até tensões próximas à capacidade de campo, isto é, até 1,0 metro de coluna de água (mca). A câmara de Richards, embora não tenha restrições sobre aplicações de altas pressões (funcionando de 3 até 150 mca), é pouco precisa quando se pretende usá-la com baixas pressões, devido ao manômetro não favorecer a aplicação de tais pressões. Além disso, oferece dificuldades para o estabelecimento do ponto de equilíbrio entre a pressão aplicada e a água drenada, exigido longo tempo para os ensaios (até dois meses), além do alto custo do equipamento (Almeida, 2008; Tavares et al.,2008). Estes dois métodos têm como principal vantagem o número de amostra por ensaio, podendo chegar a 50 amostras na mesa de tensão e mais de 70 para a câmara de Richards. Por fim, o funil de Haines (1930), embora não exija o uso de balança para obtenção do volume drenado, tem a desvantagem na quantidade de amostra por ensaio, permitindo o uso de apenas uma amostra de solo por vez, o que torna necessário o emprego de vários funis para agilizar a determinação da curva de retenção, encarecendo todo o processo. Apesar das vantagens e desvantagens de cada método, pairam dúvidas sobre a exatidão dos valores de umidades gerados após cada equilíbrio de tensão/pressão aplicada na construção de CCRAS. Em vista disso, esse trabalho teve como objetivo comparar as metodologias para determinação da curva característica de retenção de água em solos, a partir da mesa de tensão e funil de Haines, buscando o estabelecimento do método mais adequado em termos de eficiência de execução, exatidão e precisão na obtenção dos dados da curva. Material e Métodos Solo: Localização, Classificação e Coleta Para os ensaios da umidade retida a determinada tensão foi utilizado solo classificado como Latossolo Amarelo distrocoeso (EMBRAPA, 2006), coletado e localizado na unidade sucroenergética da Usina Trapiche, situada no município de Sirinhaém, distante 80 km de Recife-PE. Um perfil foi aberto para a descrição do solo, sendo georreferenciado (08º34’10.1’’ S / 35º08’42.33’’ W) e posteriormente procedido a coleta do solo, em forma de blocos, com dimensões variando conforme a ocorrência dos horizontes, sendo em média: 40 cm de comprimento x 40 cm de largura x profundidade dada pela espessura do horizonte. Após a retirada dos blocos de cada horizonte, os blocos foram revestidos com plástico filme e plástico bolha, e colocados em caixas de isopor, com o intuito de reduzir ao máximo os impactos mecânicos durante o transporte do campo para o laboratório de Física do Solo/DEPA/UFRPE. No laboratório, foram coletadas seis amostras, utilizando-se de anéis cilíndricos metálicos (com dimensões 2,5 cm de altura x 5 cm de diâmetro), inseridas sem impacto nos blocos de cada horizonte, de modo a preservar a estrutura original do solo. 1 Primeiro Autor é Graduando em Engenharia Agrícola e Ambiental, Bolsista PIBIC, Universidade Federal Rural de Pernambuco. Av. Dom Manoel de Medeiros, s/n, Dois Irmãos, Recife-PE, CEP 52171-900. E-mail: [email protected] Segundo Autor é Graduando em Agronomia do Departamento de Agronomia, Universidade Federal Rural de Pernambuco. Av. Dom Manoel de Medeiros, s/n, Dois Irmãos, Recife-PE, CEP 52171-900. 3 Terceiro Autor é Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Ciências do Solo, Universidade Federal Rural de Pernambuco. Av. Dom Manoel de Medeiros, s/n, Dois Irmãos, Recife-PE, CEP 52171-900. 4 Quarto Autor é Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Ciências do Solo, Universidade Federal Rural de Pernambuco. Av. Dom Manoel de Medeiros, s/n, Dois Irmãos, Recife-PE, CEP 52171-900. 5 Quinto Autor é Professor Adjunto do Departamento de Agronomia, Universidade Federal Rural de Pernambuco. Av. Dom Manoel de Medeiros, s/n, Dois Irmãos, Recife-PE, CEP 52171-900. 2 XIII JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2013 – UFRPE: Recife, 09 a 13 de dezembro. Para este estudo, selecionou-se o horizonte BA. Após inserção dos anéis, os excessos de solo nas bordas foram retirados com auxílio de uma espátula. A parte inferior do anel foi envolvida com pano poroso e presa com uma liga de borracha, com intuito de evitar a perda de solo durante os ensaios, além de aumentar o contato entre o solo e o material usado para aplicação da tensão. Em seguida, as amostras foram saturadas por capilaridade, durante um período de 24 horas. Pesaram-se as amostras (conjunto “anel+pano+liga+solo+água de saturação”) para a determinação do conteúdo de água da amostra no ponto de saturação. Determinação da Umidade pelo uso da Mesa de tensão e do Funil de Haines Umidade x Mesa de tensão Após a saturação das amostras, três delas foram pesadas e colocadas sobre a mesa de tensão, conforme descrito em Oliveira (1968). Nesta mesa, as amostras são colocadas sobre o papel mata-borrão e cobertas com o tampão de vidro para evitar evaporação durante o processo de aplicação de tensão. Em seguida, foram aplicadas tensões de 10, 20, 30, 40, 50, e 60 cm de coluna de água (cca). Após cada tensão aplicada, esperou-se o equilíbrio da tensão, que era obtido quando cessada a drenagem de água dos poros do solo. Atingido o equilíbrio, cada conjunto “anel+pano+liga+solo+água equilibrada na tensão aplicada” foi pesado, e retornado imediatamente para a mesa de tensão, para que se aplicasse a tensão seguinte. Ao término do equilíbrio da última tensão aplicação (60 cca) e sua respectiva pesagem, os conjuntos “anel+pano+liga+solo+água equilibrada na tensão aplicada” foram levados à estufa (por 24 horas, a 105ºC), colocados em dessecadores e pesados, obtendo-se assim o peso de cada conjunto “anel+pano+liga+solo à 105ºC”. Com os dados gerados, cada umidade gravimétrica (U) foi calculada utilizando-se a equação (01), conforme sugere (EMBRAPA, 2011). As tensões aplicadas foram: 10; 20; 30; 40; 50 e 60 cca. 𝑈(%) = ( 𝑚𝑎𝑠𝑠𝑎 á𝑔𝑢𝑎 𝑒𝑞𝑢𝑖𝑙𝑖𝑏𝑟𝑎𝑑𝑎 à 𝑑𝑒𝑡𝑒𝑟𝑚𝑖𝑛𝑎𝑑𝑎 𝑡𝑒𝑛𝑠ã𝑜 ) × 100 𝑚𝑎𝑠𝑠𝑎 𝑑𝑒 𝑠𝑜𝑙𝑜 𝑠𝑒𝑐𝑜 à 105℃ (01) Umidade x Funil de Haines As três amostras restantes da saturação foram colocada uma em cada Funil de Haines, previamente saturado e montado com sistema de vácuo criado pela aplicação de sistema tipo sifão, típico para funcionamentos destes funis no processo de remoção de água dos poros de solo. Neste sistema, deve haver o contato hidráulico da amostra de solos com a placa porosa, mantendo-se o nível de água da pipeta no mesmo nível da placa saturada do funil. A tensão é aplicada quando abaixa-se a mangueira flexível contento uma bureta na sua extremidade até que, o menisco da bureta coincida com o valor da tensão desejada, dada em cm de coluna de água (cca). Com o desnível, ocorre a drenagem da água presente nos poros da amostra do solo, até que a condição de equilíbrio seja alcançada, momento em que o nível do menisco não varie mais da tensão aplicada. Na condição de equilíbrio, obtem-se o valor do volume de água drenado sob a tensão aplicada. Do mesmo modo como feito para a mesa de tensão, após cada equilíbrio, aplica-se a próxima tensão, até concluir todo o processo. Ao término do equilíbrio da última tensão aplicação (60 cca) e sua respectiva pesagem, os conjuntos “anel+pano+liga+solo+água equilibrada na tensão aplicada” foram levados à estufa (por 24 horas, a 105ºC), colocados em dessecadores e pesados, obtendo-se assim o peso de cada conjunto “anel+pano+liga+solo à 105ºC”. Com os dados gerados, cada umidade gravimétrica (U) foi calculada utilizando-se a equação 01. Para efeito comparativo, foram aplicadas as mesmas tensões usadas na mesa de tensão. Análise Estatística dos Dados Para a análise estatística, foram aplicados os testes de normalidade (Shapiro-Wilk) e homocedase (Levene) nos dados de umidade, como também se aplicou o teste Tukey à 5% para comparação das médias de umidade, utilizando o programa estatístico SAS Learning Edition versão 2.0 (SAS Institute, 2008). Resultados e Discussão Os valores das diferentes umidades gravimétricas, obtidos a partir do equilíbrio das tensões aplicadas via mesa de tensão e funil de Haines, são observados na Tabela 1. Observa-se que, até 50 cca, não houve diferenças entre os valores médios das umidades gravimétricas determinadas tanto pela mesa de tensão, como pelo funil de Haines. Os valores só diferiram quando da aplicação da última tensão, isto é, 60 cca. Estes resultados comprovam que, para baixas tensões, até 50 cca, o método usado não interfere nos resultados das umidades gravimétricas. Como a mesa de tensão comporta mais amostra que o funil de Haines, é recomendado que, nestas condições use-se a mesa de tensão, que, aliado ao baixo custo para sua obtenção e manutenção, se apresenta como uma alternativa mais viável para a obtenção de dados na construção da CCRAS. Com o aumento da tensão aplicada, a água ficará retida, cada vez mais, em poros com menores tamanhos, sendo mais difícil a sua remoção. Com relação a isto, às diferenças entres os valores das umidades gravimétricas (U) obtidos a partir do equilíbrio na tensão de 60cca (apenas microporos retendo água), pode-se concluir que o funil de Haines, por XIII JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2013 – UFRPE: Recife, 09 a 13 de dezembro. apresentar menores de U (Tabela 1), foi mais eficiente na remoção da água dos menores poros do solo (microporos). Esta deficiência na manutenção da tensão, fazendo com que a mesa de tensão tenha limitação na transmissão da sucção do pepel mata-borão aos poros do solo, pode ser explicada pelo entupimento dos poros do papel, promovido pela condução de parte de argilas dispersas no processo de drenagem da água dos poros do solo. Aparentemente, como foram usadas as mesmas amostras, isto também deveria ocorrer no funil de Haines. Entretanto, o papel usado no ensaio da mesa de tensão já estava como mais de um mês de uso, o que pode ter contribuído para sua deterioração e ineficiência de sucção. Portanto, sugere-se que na montagem da mesa de tensão seja usado um novo papel, sendo trocado após cada ensaio. Esta precaução poderá gerar dados similares aos do funil de Haines, comprovando seu melhor uso. Ensaios posteriores, atualmente em processo, poderão confirmar tais expectativas. Agradecimentos Ao CNPq/UFRPE, órgãos financiadores do Projeto/Bolsa PIBIC disponibilizada para o primeiro autor. Referências CICHOTA, R; JONG van LIER, Q. Análise da variabilidade espacial de pontos amostrais da curva de retenção de água no solo. R. Bras. Ci. Solo, 28:585-596, 2004. EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA - EMBRAPA, Manual de métodos de análise de solo. Rio de Janeiro: Embrapa Solos, 230 p. < http://www.cnps.embrapa.br/publicacoes/ > 2011 EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA - EMBRAPA. Centro Nacional de Pesquisa de Solos. Sistema brasileiro de classificação de solos. 2.ed. Rio de Janeiro, 306p. 2006. LEAMER, R.W.; SHAW, B. A simple apparatus for measuring noncapillary porosity an extensive scale. J. Am. Soc. Agron., 33:1003-1008, 1941. OLIVEIRA, L. B. Determinação da macro e microporosidade pela “mesa de tensão” em amostras de solo com estrutura indeformada. Pesq. Agropec. Bras., v. 3, p. 197-200. 1968. SAS Institute. User’s Guide. versão 2.0, versão para Windows. Cary, NC, USA, 2008. Tavares, M.H.F.; Feliciano, J.J.S.; Vaz, C.M.P. Análise comparativa de métodos para determinação da curva de retenção de água em solos. Irriga, 13:517-524, 2008. TOWNEND, J.; REEVE, M.J.; CARTER, A. Water release characteristic In: SMITH, K.A., ed. Soil and environmental analysis: Physical methods. 2.ed. New York, Marcel Dekker Incorporated, 2000. p.95-140. Tabela 1. Valores das diferentes umidades gravimétricas, obtidos a partir do equilíbrio das tensões aplicadas via Mesa de Tensão e Funil de Haines Umidade Gravimétrica (U) Funil de Haines Mesa de Tensão Uà10cm = 37,42 Aa 38,73 Aa Uà20cm = 36,16 ABa 36,98 ABa Uà30cm = 34,31 Ba 35,72 Ba Uà40cm = 33,31 Ba 34,54 Ba Uà50cm = 32,45 Ba 34,16 Ba Uà60cm = 29,46 Ca 33,53 Bb Médias seguidas de letras maiúsculas distintas na mesma coluna e de letras minúsculas distintas na mesma linha, não diferem significativamente entre si pelo teste Tukey à 5% de probabilidade.