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MULTICULTURALISMO E EDUCAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS NA
FORMAÇÃO DE PROMOTORES POPULARES.
Gilda Alves Batista – Novamerica – PUC-Rio
INTRODUÇÃO
Parece não ser possível pensar uma sociedade justa e igualitária, sem o respeito
aos Direitos Humanos. Do mesmo modo, é impossível fugir da premissa de que a
educação tem um papel fundamental no processo de socialização e respeito a estes
direitos.
A educação, durante muito tempo foi confundida com escola e ambas as palavras
eram, muitas vezes, compreendidas como sinônimos. Felizmente, esta compreensão
vem se modificando, e podemos perceber tal efeito pelo número de adjetivos que vêm
sendo colocados junto à palavra e ao contexto educacional, como: educação para saúde,
para o trânsito, ambiental, para os direitos humanos e tantos outros.
Entendemos que a escola é um espaço privilegiado onde a sociedade pode buscar
efetivar os processos de aprendizagem e incorporação dos Direitos Humanos à cultura,
não sendo, no entanto, o único agente de formação em Direitos Humanos. O locus
privilegiado deste tipo de educação tem, de fato, sido o âmbito da educação não formal.
O termo educação não formal começa a aparecer relacionado ao campo
pedagógico ao mesmo tempo em que se verifica uma série de críticas ao sistema formal
de ensino. Em um momento histórico compreendido como “crise do sistema escolar”,
em que começa a ser percebido (não somente pelo campo pedagógico, como também
por diferentes setores da sociedade mais ampla, os movimentos sociais, por exemplo)
como impossibilitado de responder todo ás demandas sociais que lhes são impostas,
delegadas, desejadas.
Gohn (1999) considera que entre os fatores importantes para o surgimento da
educação não - formal, estão tanto as mudanças ocorridas na estrutura familiar quanto
naquelas resultantes das relações próprias do trabalho. Entretanto, o que é importante
salientar é que à educação disseminada pela escola e pela família já não davam conta da
realidade social atual, mas ainda, não havia conhecimento, credibilidade e
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amadurecimento das propostas criadas para preencher o vazio entre as ações da escola e
as novas necessidades sociais.
As necessidades vieram de diferentes demandas: formação, ambientes seguros e
profissionais qualificados, socialização e outros. Todas essas demandas expandidas
recaem sobre o setor educacional, portanto a diferença está no fato de terem se
modificado, ou estarem se modificando as instâncias responsáveis pela educação no
mundo atual. Uma função social que não mais se restringe à família e à escola
Estas modificações tanto no contexto do trabalho, como na vida urbana e rural,
desmontaram a forma tradicional em que a sociedade se estruturava e organizava a vida
social e trouxe a necessidade dessa mesma sociedade se re-organizar e responder as
mudanças, inclusive no campo educacional.
É característico da educação não formal, um outro jeito de organizar e perceber a
relação ensino-aprendizagem, educador / educando e produção de conhecimento no
processo educacional. Uma dessas características é a importância e relevância das ações
da prática dos saberes e fazeres cotidianos.
Especificamente no Brasil, a educação não formal nos últimos anos, vem se
caracterizando por propostas de trabalho voltadas para a camada mais pobre da
população, sendo algumas promovidas por ongs (Organizações não governamentais).
Cabe salientar que o surgimento da educação não-formal não se dá com o
objetivo de ocupar o espaço ou substituir o papel da educação formal, mas para dividir e
partilhar os diferentes fazeres desse novo tempo.
Neste sentido, parece-nos fundamental gerar processos educativos que incentivem
e promovam atitudes solidárias que contemplem o bem coletivo. Neste ponto,
salientamos a importância de se incorporar práticas que façam uma reflexão e ação
acerca da possibilidade de um diálogo multi/intercultural. Em outras palavras: promover
uma educação que incorpore o “outro”. Nesta perspectiva, a educação pressupõe mais
do que partilhar informações. Ela supõe um processo de diálogo, trocas, tendo como
objetivo uma transformação da realidade.
1. EDUCAÇÃO MULTICULTURAL: O MULTICULTIRALISMO CRÍTICO
Parece-nos que buscar construir hoje uma perspectiva multi/intercultural da
Educação vai exigir, antes de tudo, uma tomada de posição no que se refere ao conceito
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de multiculturalismo. Um conceito também polissêmico e que, por isso mesmo, têm
despertado grandes debates.
Assim, creio que seja necessário trazer, neste momento, as contribuições de
Maclaren (2000), que aponta quatro tipos de multiculturalismo: conservador ou
empresarial, humanista liberal, liberal de esquerda e crítico e de resistência. De modo
bastante resumido eis algumas das suas considerações, quanto a essas concepções.
Para Maclaren, o multiculturalismo conservador refere-se a visões coloniais
acerca do “outro”. Trata-se de uma visão assimilacionista, na medida em que entende
diversos grupos étnicos como “reduzidos a acréscimos à cultura dominante” (p.115),
entendida no contexto de uma visão consensual de cultura.
Por sua vez, o multiculturalismo humanista liberal fala de uma igualdade
intelectual natural entre grupos étnicos, o que permitiria uma competição igual entre,
por exemplo, brancos e negros, em uma sociedade capitalista.
Já o multiculturalismo liberal de esquerda dá ênfase à diferença cultural,
sugerindo que a idéia de igualdade dos grupos étnicos abafa diferenças culturais
importantes que existem entre elas e que “são responsáveis por comportamentos,
valores, atitudes e práticas sociais diferentes”.
Quanto ao multiculturalismo crítico e de resistência “compreende as
representações de raça, classe e gênero como resultado de lutas sociais mais amplas
sobre signos e significações e, neste sentido, enfatiza não apenas o jogo textual e o
deslocamento metafórico como forma de resistência, mas também a tarefa central de
transformar relações sociais, culturais e institucionais nas quais os significados são
gerados” (p.123).E, neste contexto, as diferenças sociais não são obscurecidas e a
cultura é vista como espaço de conflitos. Além disso, a diversidade não é uma meta,
mas algo a ser afirmado “dentro de uma política de crítica e compromisso com a justiça
social” (p.123), bem como produto da história, da cultura, da ideologia e do poder.
Por outro lado, afirmamos que uma opção pelo multiculturalismo crítico, está
alicerçada na idéia de que é preciso avançar sim na perspectiva de um projeto de
transformação, de caráter emacipador. Um projeto que reescreva “a diferença como
diferença em relação, seguida por tentativas de mudanças dramáticas das condições
materiais que permitem que as relações de dominação prevaleçam, sobre as relações de
igualdade e justiça social” (Maclaren, 200, p. 134). Neste sentido acreditamos que se
possa articular educação, nesta perspectiva do multiculturalismo crítico.
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Um outro autor americano, profundamente envolvido com a questão das relações
entre multiculturalismo e educação é James A. Banks. Em sua visão, a educação
multicultural é um movimento destinado a realizar grandes mudanças no sistema
educacional. Propõe um modelo próprio de educação multicultural, baseado em cinco
dimensões interligadas, que assim são explicitadas: Integração de conteúdo, processo de
construção do conhecimento, pedagogia da eqüidade, redução do preconceito e uma
cultura escolar e estrutura social que reforcem o empoderamento de diversos grupos.
Desse modo, numa visão de educação multicultural proposta por Banks, cada
atividade desenvolvida torna-se importante, na medida em que esteja integrada numa
proposta ampla, ou seja, que não se constitua em uma iniciativa isolada.
2. O CARÁTER DA EDUCAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS
A realidade da maioria dos países do mundo tem sido o de constantes violações
dos Direitos Humanos, sobretudo na América Latina. O processo de globalização
disseminou também estes contextos de violações, propagada por uma ideologia
neoliberal que incentiva o individualismo e consumismo como única forma de
felicidade possível. Pensar a alteridade, neste cenário é pouco provável. Falar de
Direitos Humanos neste contexto, não passa de uma retórica, uma falácia. Desse modo,
parece-nos fundamental incentivar e gerar processos educativos que incentivem e
promovam atitudes alternativas a esta proposta neoliberal.
A educação em Direitos Humanos é caracterizada como uma prática, que nasce
na América Latina, vinculada à necessidade de afirmação de processos democráticos
após as violações cometidas pelos regimes ditatoriais e a afirmação da importância do
respeito à dignidade humana e da urgência da efetivação dos Direitos Humanos.
A educação nesta perspectiva tem um papel fundamental. Segundo Freire (1996),
ela se constitui como uma ação dialógica, onde o educador adota posturas que levem a
colaboração, união, organização, síntese cultural e construção de conhecimentos,
superando comportamentos tais como: sedução, manipulação, concorrência e imposição
de valores e de conhecimentos.
Desse modo, para cumprir com estes desafios, torna-se necessário que a
sociedade como um todo, tome parte, através das organizações e instituições
organizadas, possibilitando a efetivação do respeito aos Direitos Humanos.
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Neste sentido, podemos afirmar que a Educação em Direitos Humanos é uma
educação para justiça e a paz. Ela só tem efetividade, quando uma pessoa dimensiona
seus direitos a partir do reconhecimento dos direitos alheios, sobretudo aqueles que são
fundamentais a sobrevivência humana. Dessa forma, o centro do processo educacional
deve ter, como eixo, aqueles que mais têm os direitos essenciais negados.
Cidadania, Democracia e Participação Social são conceitos, dentre outros,
fundamentais na compreensão da dinâmica da educação em Direitos Humanos, assim
como Multiculturalismo. A história política brasileira recente nos ajuda a perceber que,
para além do conteúdo social e político, estes conceitos, especialmente quando
articulados, funcionam como vetores em processos sociais, mobilizados e deflagrados
com objetivos bem definidos.Além disso, fornecem elementos para o desenvolvimento
de propostas que visem à sensibilização e a tomada de consciência sobre as condições
sociais em contextos de subalternização de sujeitos sociais.
Nesta perspectiva, a educação em Direitos Humanos está comprometida com
estes conceitos, na medida em que seu objetivo último é construir uma sociedade onde
haja espaço para as diferenças.
3. CIDADANIA EM REDE: UMA PROPOSTA DE EDUCAÇÃO EM DIREITOS
HUMANOS. UMA PERSPECTIVA MULTICULTURAL?
A Novamerica (o nome escolhido expressa o horizonte em que se situa a missão
institucional da ONG: a construção da integração latino-americana, de uma “nova
América”) é uma organização não governamental (ONG), sem fins lucrativos, criada em
1991, que realiza atividades no campo da Educação em Direitos Humanos no Estado do
Rio de Janeiro.
A concepção de Educação em Direitos Humanos da Novamerica pode ser
resumida da seguinte forma:
“Uma proposta de Educação em Direitos Humanos não pode reduzir-se a uma série de
técnicas didáticas ou dinâmicas de grupos. Nela pode estar implicada toda uma postura
pedagógica. Também não pode ser reduzida a uma série de acontecimentos ou
atividades isoladas. Trata-se de uma postura que deve penetrar as diversas dimensões
da ação educativa. Não pode estar desvinculada das práticas sociais. Tem de se
expressar em atitudes, saberes, comportamentos e compromissos, no exercício da
cidadania e na vida cotidiana em seus diferentes âmbitos. Compromete nossos
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sentimentos, desejos e sonhos. Esta é a perspectiva que nos parece importante ter
presente na hora de desenvolver qualquer proposta de educação em Direitos Humanos,
na escola ou em âmbitos de educação não formal”.(Candau, 1999).
Tem por finalidade “promover a construção da democracia como estilo de vida e
a participação na sociedade covil, favorecer o desenvolvimento de uma consciência
latino-americana e de uma ética da solidariedade, estimular o reconhecimento e
valorização das diferentes culturas, no âmbito nacional e internacional, através da
promoção de processos educativos e culturais orientados à formação de diferentes
agentes sociais multiplicadores, prioritariamente pertencentes a grupos populares e
excluídos”. Desenvolve três programas de trabalho. São eles: “Integração LatinoAmericana e Construção Democrática”, “Direitos Humanos, Educação e Cidadania” e
“Educação Popular”. O Programa “Direitos Humanos, Educação e Cidadania” está
dividido em dois sub-programas: “Escola e Cidadania” e “Formação de Promotores
Populares”.
O primeiro sub-programa está relacionado à educação formal, e trabalha com
professores das escolas públicas do Estado do Rio de Janeiro. O segundo refere-se à
educação não formal, e trabalha com líderes e participantes de movimentos sociais,
organizações populares, associação de bairros, promotores populares, líderes de
comunidades rurais, membros de comunidades de base e grupos de mulheres. Objetiva
fortalecer a sociedade civil, através da formação política de atores sociais
multiplicadores, principalmente de caráter popular contribuindo para consolidação da
democracia.Deteremos nossa análise neste sub-programa.
A partir de uma experiência de mais de dez anos de prática formativa com
diferentes agentes sociais, a equipe da Novamerica, responsável pelo sub-programa
“Formação de Promotores Populares”, buscou estruturar um projeto que contribuísse
principalmente com processos educativos que se desenvolvem de maneira crítica e
permanente. Busca-se favorecer, através de diferentes atividades e iniciativas, o acesso a
informações, a reflexão em grupo, a experiência concreta de uma cidadania ativa e de
uma prática social que procure promover os direitos humanos.
Foi a partir da constatação de uma dificuldade de mobilização dos setores
populares e da fragilidade de seus movimentos e organizações nos últimos anos,
marcados pela competitividade do mercado e pelas políticas neoliberais, que a Equipe
Novamerica identificou como uma urgência de nosso tempo contribuir com a formação
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de cidadãos/ ãs conscientes e atuantes, através de processos educativos sistemáticos e
contínuos.
Os objetivos gerais de “Cidadania em Rede: Escola de Formação Para
Democracia” são: (1) Promover processos de formação para a cidadania, favorecendo
uma consciência prática dos Direitos Humanos na sociedade brasileira. A maior parte
dos cidadãos latino-americanos têm pouca consciência de que são sujeitos de direitos.
As pessoas, muitas vezes adotam um caráter paternalista e autoritário, achando que os
direitos são dádivas.Trata-se de favorecer o reconhecimento de si mesmo como sujeito
de direito e, ao mesmo tempo, do reconhecimento do “outro” também com o sujeito de
direitos;
(2) Colaborar na formação de sujeitos sociais comprometidos com a construção da
democracia em todos os âmbitos da vida social, privilegiando a articulação entre a teoria
e a prática social dos participantes;
(3) Desenvolver programas de educação em / para a cidadania para grupos, movimentos
e organizações populares, apoiando processos formativos que fortaleçam o pleno
exercício da cidadania.
Através da metodologia de oficinas pedagógicas, pretende-se que se reforcem a
conscientização e a dimensão ética dos participantes, promovam o empoderamento dos
grupos sociais e assim favoreçam o aprofundamento no compromisso sócio-político
inerente à luta pelos direitos de todos/as, visando construir sociedades verdadeiramente
democráticas, justas e solidárias. Além das oficinas, são também realizados seminários,
palestras, vídeo-fórum, entrevistas, entre outras atividades.
A principal atividade da Escola é o Curso de Formação Política e Social. O curso
está estruturado a partir destas oficinas. Além da metodologia, outro aspecto importante
no que se refere ao trabalho e que é um elemento que configura e promove a identidade
da proposta é a idéia de rede. A rede é um objetivo e ao mesmo tempo um método no
que diz respeito às atividades da Escola.
A escola é uma forma sistemática e estruturada de formação política e
social.Atualmente a “Cidadania em Rede” funciona com quatro núcleos da Escola de
Formação, localizados em diferentes pontos do Estado do Rio de Janeiro e constituídos
com diferentes parcerias. Suas atividades tiveram início no ano de 2000, com a
inauguração de um núcleo na cidade de Volta Redonda, sul do Estado, e lá a
Novamerica tem como parceiro o Movimento Ética na Política. O segundo núcleo
funciona na cidade do Rio de Janeiro, na sede da Novamerica e é chamado de Projeto
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Entre Nós. O terceiro núcleo funciona da cidade de Duque de Caxias, na região da
baixada fluminense, tendo como parceria a Diocese de Duque de Caxias. O quarto
núcleo funciona na cidade de Barra do Piraí, sul do Estado, tendo como parceiro o
Movimento Fé e Política.
3.1- A Metodologia privilegiada
Neste trabalho a metodologia privilegiada é a de oficinas pedagógicas. Por
oficinas pedagógicas entendemos um tempo-espaço para vivência, reflexão e construção
coletiva de saberes, com o objetivo de promover a síntese entre o pensar, o sentir e o
agir. Com esta metodologia, os participantes são levados a confrontar sua prática
cotidiana com as questões que envolvem a problemática dos Direitos Humanos e da
Cidadania. Pretende-se que as oficinas reforcem a conscientização e a dimensão ética
dos participantes, promovam o empoderamento dos grupos sociais e assim favoreçam o
aprofundamento no compromisso sócio-político inerente à luta pelos direitos de
todos/as, visando construir sociedades verdadeiramente democráticas, justas e
solidárias.
Principalmente orientados aos atores sociais que historicamente tiveram menos
poder na sociedade, ou seja, menos espaços para influir nas decisões e nos processos
coletivos. O “empoderamento” começa por liberar a possibilidade, o poder. A potência
que cada pessoa tem para que ela possa ser sujeito de sua vida e ator social. O
“empoderamento” tem também uma dimensão coletiva, trabalha com grupos sociais
minoritários, discriminados, marginalizados, etc., favorecendo sua organização e
participação ativa na sociedade civil. Além das oficinas, são também realizados
seminários, palestras, vídeo-fórum, entrevistas, entre outras atividades.
Neste sentido, a proposta metodológica está orientada a criar as condições de
aprendizagem que facilitem o processo educativo e a aprofundar na temática focalizada
através de diferentes atividades. A análise da realidade, a reflexão, o desenvolvimento
de atitudes pessoais e grupais e a capacidade de assumir compromissos são trabalhados
a partir da experiência cotidiana dos participantes. Este processo pretende facilitar a
compreensão atualizada das problemáticas, dos integrantes, dificuldades, e desafios
encontrados na experiência da vida cotidiana. Enfatiza-se a criação de um clima que
estimule o respeito às diferentes opiniões, posturas e modos de agir dos participantes, de
maneira que as pessoas possam expressar sua opinião espontaneamente e confrontá-la
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com as opiniões dos outros, no âmbito do grupo. Esta dinâmica favorece o abandono de
posturas rígidas e, especialmente, de posturas autoritárias ainda muito presentes na
sociedade brasileira.
Prestam-se particular atenção ao desenvolvimento de atitudes, capacidades,
comportamentos e ações que estimulem e reforcem o compromisso pessoal e coletivo
orientado à transformação da sociedade atual nos diferentes campos de atuaçãoeconômica, político, religioso, familiar, do trabalho – seja na própria comunidade, como
no contexto regional, nacional e, inclusive internacional.
Para estimular estas atitudes procuramos favorecer o reconhecimento e a
valorização do processo que as pessoas e os grupos têm feito, assim como a existência
do grupo como tal, a permanência sistemática na realização de suas atividades, as
dificuldades e os avanços na organização e construção coletivas.
As áreas temáticas mais trabalhadas no conjunto dos ciclos de oficina são,
basicamente: a fundamentação teórica sobre os Direitos Humanos, o fortalecimento da
cidadania e da democracia; a formação de lideranças comunitárias, criando condições
que lhes permitam refletir sobre a sua prática e compreender a sua inserção na
sociedade.
A partir dos processos educativos desenvolvidos, constatamos que as oficinas:
(1) reformam a identidade (comunitária, social, de gênero, de etnia, etc) dos
participantes e favorecem uma auto-estima mais positivo;
(2) estimulam o desenvolvimento da capacidade de diálogo, escuta e comunicação;
(3) desenvolvem a consciência do poder dos diferentes grupos (“empoderamento”);
(4) questionam e/ou enriquecem, com novos conteúdos, as concepções prévias sobre a
cidadania e democracia, reforçando os valores de igualdade e participação e valorizando
a diversidade;
(5) capacitam para o exercício mais consciente e ativo do compromisso político das
pessoas e grupos, assim como sua organização, especialmente nos âmbitos cotidianos e
locais.
A proposta educativa enfatiza uma perspectiva do conhecimento que implica na
relação entre sujeitos do conhecimento e a realidade conhecida buscando favorecer a
transformação a partir do ato de conhecer. No que diz respeito ao tema dos Direitos
Humanos, isso se refere, ao processo de tomada de consciência dos sujeitos sobre o que
são direitos humanos. Junto com a compreensão sobre o que são direitos humanos uma
distinção básica quanto a quem é sujeito e quem é parceiro é efetuado para que com isso
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seja possível um posicionamento por parte dos participantes. Esse é um momento
fundamental do processo. É da compreensão sobre quem é sujeito e quem é parceiro que
a noção de luta pela promoção dos direitos humanos começa a fazer sentido para muitas
pessoas. Como uma oficina se configura como um espaço-tempo, torna-se necessário
nortear esta reflexão a partir do respeito aos direitos humanos.Os conteúdos são
definidos a partir da temática que se pretende abordar.
O programa de estudos de Cidadania em Rede está concebido como um espaço e
um tempo plurais e se desenvolve tendo em vista diferentes atividades tais como: O
Curso de Formação Política e Social, com duração de 90 horas, ministrado durante um
ou dois semestres e estruturado da seguinte forma: Ciclo Básico (32 horas); Ciclo
Eletivos (48 horas) e Atividades de Enriquecimentos (10 horas).
O Ciclo Básico visa oferecer uma fundamentação teórica, além de possibilitar o
envolvimento, a animação e o engajamento dos participantes para cumprirem todo
processo formativo. Tem ainda como objetivo propiciar a análise da realidade social, o
entendimento de alguns mecanismos sociais e políticos e a articulação entre Cidadania e
Direitos Humanos. O Ciclo Básico intitulado “Direitos Humanos, Cidadania e Política”,
consta de oito oficinas, cada uma com quatro horas de duração, com os seguintes temas:
(1) A Sociedade em Que Vivemos; (2) O que são Direitos Humanos?; (3) A Luta pelos
Direitos Humanos Através da História “; (4) Fazemos Política?; (5) Construtores de
Cidadania; (6) Participar: Um Exercício de Cidadania; (7) O que é Democracia?; (8)
Democracia: Realidade e sonho”.
Também é oferecida uma série de Ciclos Eletivos, entre os quais os participantes
escolhem participar de pelo menos três para cumprirem as exigências do curso. Os
Ciclos Eletivos são: (1) Liderança e Organização; (2) Construindo um Brasil Diferente;
(3) Direitos Humanos Hoje; (4) Cidadania Ativa; (5) Globalização e Neoliberalismo; (6)
Violência e Discriminação; (7) Dignidade Humana e Paz; (8) Doutrina Social da Igreja
e Direitos Humanos; (9) Os Direitos Humanos na Bíblia; (10) Instrumentos Legais de
Defesa dos Direitos Humanos.
Cada Ciclo Eletivo tem 16 horas de duração, com quatro oficinas que buscam
aprofundar o tema proposto. Além das 80 horas de trabalho em oficinas, os participantes
deverão cumprir 10 horas de Atividades de Enriquecimento, tais como: seminários,
palestras, vídeo-fórum, entrevistas, visitas, atividades culturais, manifestações, entre
outras, que serão propostas pela coordenação da Escola. Um aspecto importante a esse
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respeito tem que ver com os recursos a serem utilizados como subsídio para que o
processo de construção do saber, bem como a análise da realidade possa acontecer.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Parece-nos que o efetivo respeito e a construção social de uma cultura de Direitos
Humanos passa pelo processo educativo. Contudo, não devemos ser ingênuos a ponto
de acreditar que aprender a viver em Democracia e a respeitar os Direitos Humanos é
uma aprendizagem que se adquire só pelo fato de se viver em uma sociedade
democrática.
Todavia, não se trata de supervalorizar a cultura a ponto de mascarar os conflitos
decorrentes da estrutura de classe e dos diversos componentes estruturais que são
determinantes da sociedade hoje em dia. A proposta é, portanto, reafirmar a dimensão
cultural (tanto a nível individual, como coletivo) como configuradora do humano, sem
deixar de considerar significativas as demais dimensões (social, econômica, política,
ideológica), bem como as possíveis inter-relações entre estas dimensões e a própria
dimensão cultural. Neste sentido, o trabalho desenvolvido pela Novamerica, destaca-se,
sobretudo, por conseguir articular direitos Humanos e Educação Multicultural.
Os principais avanços identificados no projeto “Cidadania em Rede” têm sido a
intensa participação daqueles que integram o projeto. Em suas avaliações, os
participantes destacam o crescimento alcançado através das informações obtidas e dos
debates realizados, sempre de maneira acessível e crítica, propiciando um melhor
entendimento da realidade social, bem como uma melhor capacitação para atuar como
um/a líder popular, defensor/a dos direitos humanos e da cidadania para todos e todas.
Neste ponto, um desafio: pensar e viver práticas educativas que incorporem a
reflexão e a ação acerca das possibilidades desse diálogo multi/intercultural. Em outras
palavras: promover uma educação que incorpore o outro, que é plural tem diferentes
rostos, marcados por uma multiplicidade de dimensões -social, político, cultural - sem
abrir mão de um projeto emancipador que promova a construção de uma sociedade mais
justa, solidária e, por que não, mais feliz.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CANDAU, V. Educação em Direitos Humanos: uma proposta de trabalho. In: Candau,
V. e Zenaide, M. (org). Oficinas: Aprendendo e ensinando Direitos Humanos. João
Pessoa: Programa Nacional de Direitos Humanos, 1999.
CANDAU,V. (Org.) Sociedade, Educação e Cultura(s): questões e propostas.Petrópolis,
RJ Vozes, 2002.
FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: Saberes necessários à prática educativa. São
Paulo: Ed. Paz e Terra, 1996.
GOHN, M.G. Educação não-formal e cultura política.São Paulo: Cortez, 1999.
MACLAREN, Peter. O Multiculturalismo Crítico, São Paulo, Cortez, Instituto Paulo
Freire, 200, 3ª edição.
NOVAMERICA. Direitos Humanos, Educação e Cidadania: Uma Proposta de
Trabalho. Novamerica, Rio de Janeiro, 1995.
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