Pelazza O Enfermeiro e a Tonometria de Aplanação Artigo de Revisão Rev Bras Cardiol. 2013;26(6):489-95 novembro/dezembro O Enfermeiro no Monitoramento da Pressão Central dos Hipertensos através da Tonometria de Aplanação Role of the Nurse for Monitoring Central Blood Pressure among Hypertensive Patients by Applanation Tonometry Artigo de Revisão 1 Bruno Bordin Pelazza Resumo Abstract O diagnóstico e o controle da hipertensão arterial sistêmica, se baseados exclusivamente nos níveis obtidos pela pressão arterial braquial (PAb) por método indireto (oscilométrico e/ou auscultatório) podem ser postergados em pelo menos uma década, prejudicando o início do tratamento. Pacientes com pressão arterial central (PAc) elevada mas com a PAb normal podem ser identificados, pelo enfermeiro, como normotensos e, portanto, terem seus riscos cardiovasculares subestimados. Diagnósticos médicos incorretos implicam uso abusivo ou indiscriminado de medicações anti-hipertensivas, expondo o paciente a efeitos colaterais sérios, com prejuízos na sua qualidade de vida. Ensaios clínicos têm demonstrado que a PAc é melhor preditor de risco cardiovascular futuro do que a PAb. As medidas obtidas da PAc pela tonometria de aplanação (TA), método não invasivo e bastante moderno, são mais seguras, diminuindo as complicações cardíacas e o risco de infecção. O aparelho é portátil e fácil de manusear. Os estudos pesquisados apontam a TA como melhor método para a avaliação e controle da PAc. Há necessidade de mais estudos com a utilização desse recurso diagnóstico na população brasileira. When based solely on brachial blood pressure (BBP) levels measured through indirect (oscillometric and/or auscultatory) methods, diagnosis and control of hypertension may be delayed by at least a decade, adversely affecting the start of treatment. Patients with high central blood pressure (CBP) and normal BBP may be identified by nurses as normotensive, thus underestimating their cardiovascular risks. Incorrect diagnoses may lead to abusive or indiscriminate use of antihypertensive medications, exposing patients to severe side effects that undermine their quality of life. Clinical trials have demonstrated that CBP is a better predictor of future cardiovascular risk than BBP. CBP measurements obtained through applanation tonometry (AT), which is a fairly modern noninvasive method, are more trustworthy, lessening cardiac complications and risks of infection. This portable device is easy to handle. The researched studies indicate AT as the best method for assessing and controlling CBP. Further studies are needed, exploring the use of this diagnostic tool in the Brazilian population. Palavras-chave: Hipertensão; Pressão arterial; Rigidez vascular; Cuidados de enfermagem; Assistência ao paciente; Monitores de pressão arterial Keywords: Hypertension; Blood pressure; Vascular stiffness; Nursing care; Patient care; Blood pressure monitors Departamento de Pós-graduação em Ciências da Saúde - Universidade Federal de Uberlândia - Uberlândia, MG - Brasil Correspondência: Bruno Bordin Pelazza E-mail: [email protected] Rua Manoel Serralha, 1075 - Santa Mônica - 38408-246 - Uberlândia, MG - Brasil Recebido em: 12/09/2013 | Aceito em: 10/11/2013 489 Rev Bras Cardiol. 2013;26(6):489-95 novembro/dezembro Introdução A pressão arterial sistêmica (PAS), medida pela técnica auscultatória proposta há mais de um século por Riva-Rocci-Korotkoff, é um dos procedimentos de enfermagem mais difundidos e realizados nas práticas clínicas. É uma das ações da equipe multidisciplinar de saúde mais importantes e fundamentais tanto em situações de urgência quanto no consultório1. Seguramente, a medida da PAS resulta em benefícios inquestionáveis aos pacientes quando adequadamente bem realizada. Esse procedimento foi descrito nas recomendações internacionais, no Seventh Report of the Joint Nacional Committee on Prevention, Detection, Evaluation, and Treatment of High Blood Pressure2 e nacionais, nas VI Diretrizes Brasileiras de Hipertensão3, que divulgam a rotina para padronização da medida da PAS. A PAS tem importante valor preditivo para eventos cardiovasculares. A mensuração indireta dos níveis de PAS por meio de aparelhos conectados em membros superiores (MMSS) tem sido utilizada em pesquisas com grandes amostras populacionais4. A tendência de abandonar o esfigmomanômetro de mercúrio é progressiva, devido à poluição causada pelo metal e à facilidade do manuseio de métodos de aferição da PAS com equipamentos automáticos ou semiautomáticos. Além disso, esses dispositivos não sofrem influência do enfermeiro observador, são relativamente de baixo custo e fáceis de usar no contexto clínico e residencial, e proporcionam ao individuo melhor avaliação do controle pressórico4,5. Os avanços tecnológicos na aferição da PAS permitem diagnósticos médicos mais precisos, tratamentos mais eficazes e conhecimentos epidemiológicos mais confiáveis. Dessa forma, proporcionam maiores possibilidades de prevenção e tratamento para os pacientes portadores de hipertensão arterial sistêmica (HAS)4,5. A medida da pressão arterial braquial (PAb) aferida pelo enfermeiro por meio de esfigmomanômetro acoplado nos MMSS sobre a artéria braquial, como método diagnóstico da HAS, está firmemente estabelecida 3 . Alguns autores, entretanto, têm demonstrado que a pressão arterial central (PAc) obtida pela velocidade da onda de pulso está mais fortemente relacionada a doenças cardiovasculares (DCV) do que a PAb6,7. A PAc pode ser aferida através de métodos invasivos, utilizando cateteres intra-arteriais ou por métodos não invasivos, utilizando diferentes tipos de metodologia, tais como a tonometria de aplanação (TA)8. As medidas invasivas não podem ser aplicadas em grandes estudos populacionais, têm limitações 490 Pelazza O Enfermeiro e a Tonometria de Aplanação Artigo de Revisão técnicas importantes, alto custo e implicações éticas a serem consideradas e por isso, fica restrita a pequenos grupos de indivíduos selecionados em centros de pesquisa que possuem infraestrutura adequada8. Realizou-se uma revisão sistemática de artigos científicos publicados no período de 1998 a 2013, em periódicos nacionais e internacionais, sobre as ações de enfermeiros no controle da PAc em hipertensos utilizando a tonometria de aplanação, consultando as bases de dados: SciELO (Scientific Electronic Library Online), LILACS (Centro Latino-Americano e do Caribe de Informações em Ciências da Saúde) e BDENF (Base de dados de Enfermagem). Foram utilizados os seguintes descritores: hipertensão, pressão arterial, rigidez vascular, cuidados de enfermagem, assistência ao paciente e monitores de pressão arterial. Cada artigo selecionado foi analisado e examinado criteriosamente, através de uma análise sintética do material. Esse procedimento permite visualizar os textos de forma integrada, podendo relacioná-los e sintetizá-los, observando as convergências, divergências e semelhanças existentes sob a ótica de diferentes autores. Foram encontrados 29 artigos e somente 2 trouxeram evidências do uso da TA no Brasil, uma vez que se trata de metodologia mais empregada em países desenvolvidos A TA é uma medida indireta, não invasiva, reprodutível e validada para estimar a velocidade da onda de pulso, gerando valores da PAc8. Portanto o enfermeiro pode mensurar a PAc de maneira rápida e segura, sem risco de infecções ou sangramentos, necessitando somente de uma sala para o procedimento. A velocidade da onda de pulso é gerada por uma amplitude das ondas de distensão da artéria carótida e radial sendo obtida por um tipo especial de ultrassom. Esse método fornece informações úteis para o diagnóstico e tratamento de diversas entidades nosológicas, como por exemplo: mudanças associadas com a HAS, envelhecimento, doença cardiovascular (DCV), diabetes mellitus (DM) e tabagismo9. Além disso, estudos clínicos, tanto observacionais quanto de intervenção, utilizam o método da TA. Esse método é reconhecido pela European Society of Hypertension (ESH) e pela European Society of Cardiology (ESC) 4 que o certificam para uso do enfermeiro. Portanto, a análise da onda de pulso não traz apenas uma estimativa correta do risco cardiovascular, mas trata-se de ferramenta útil para monitoração hemodinâmica dos pacientes, possibilitando uma estratégia terapêutica individual4,10. Pelazza O Enfermeiro e a Tonometria de Aplanação Artigo de Revisão Com o envelhecimento, há uma progressiva elevação da PAS, ocorrendo maior aumento na pressão arterial sistólica (PS) em relação à pressão arterial diastólica (PD)11. A PS eleva-se progressivamente com o avançar da idade, principalmente devido à diminuição da elasticidade dos grandes vasos, enquanto a PD aumenta 10-15 mmHg até a sexta década, para então se estabilizar ou reduzir gradativamente11. A HAS é um problema grave de saúde pública no Brasil e no mundo, um dos mais importantes fatores de risco para o desenvolvimento de DCV, cerebrovasculares e renais, responsável por pelo menos 40 % das mortes por acidente vascular encefálico, 25 % das mortes por doença arterial coronariana e, em combinação com o DM, 50 % dos casos de doença renal crônica (DRC)12. Com o critério atual de diagnóstico de HAS (PAS > 140/90 mmHg), a prevalência na população urbana adulta brasileira varia de 22,3 % a 43,9 % e mais de 50,0 % dos idosos, dependendo do local onde o estudo foi conduzido12. A principal relevância da identificação e controle da HAS reside na redução de suas complicações, tais como: doença cerebrovascular, doença arterial coronariana, insuficiência cardíaca, doença renal crônica e doença arterial periférica12. A rigidez arterial central é um determinante da HAS, que está presente em portadores de DM, hipercolesterolemia, DRC, DCV13 e idosos. Atualmente já se pode quantificar a rigidez arterial com muito detalhe ao se medir a velocidade da onda de pulso gerada pela ejeção ventricular esquerda, através da sua propagação das artérias centrais até as artérias periféricas. Essa onda de pulso se propaga até a periferia e após isto é gerada uma onda de reflexão. A análise das características da onda gerada e sua reflexão é capaz de determinar os valores da PAc14,15. Estudos populacionais que envolvem pacientes com HAS, como o NHANES III (National Health and Nutrition Examination Survey)16, mostraram que 74,0 % dos hipertensos americanos têm mais de 50 anos. No Brasil aproximadamente 65,0 % dos idosos são portadores da HAS, sendo que, entre as mulheres com mais de 65 anos, essa prevalência pode chegar a 80,0 %3,12. A pressão de pulso (PP) é calculada pela diferença entre a PS e a PD e considerada melhor preditora de eventos cardiovasculares do que a PS ou PD isoladamente. A PP reflete a complexa interação intermitente entre a fração de ejeção e as propriedades hemodinâmicas das grandes artérias17. A PP é determinada por dois componentes: o efeito direto da ejeção ventricular (interagindo com as Rev Bras Cardiol. 2013;26(6):489-95 novembro/dezembro propriedades viscoelásticas das grandes artérias) e o efeito indireto da onda de reflexão. Em outras palavras, a PP expressa, de forma mais adequada, a onda de ejeção, a velocidade e a magnitude da onda de reflexão. A PP aumenta a partir dos 50 anos e mantém-se elevada com o avançar da idade, em função das modificações estruturais dos diferentes componentes da parede arterial. Essas modificações são decorrentes da redução da complacência dos grandes vasos arteriais, devido à diminuição de fibras elásticas e ao aumento no conteúdo de íons cálcio e fibras colágenas1. Quando elevada, a PP indica rigidez de grandes artérias e consequentemente aumento da velocidade da onda de pulso, especialmente em indivíduos idosos18. A PP tem sido considerada um determinante independente da mortalidade cardiovascular, e quando >65 mmHg é acompanhada de aumento do risco coronariano, mesmo que os valores absolutos de PS e/ou PD não estejam acima dos limites superiores da normalidade. Resultados similares foram demonstrados em alguns estudos, notadamente na população de Framingham11. A diferença entre as pressões central e braquial são influenciadas pela idade e por diferenças genéticas. Em indivíduos jovens saudáveis, a pressão arterial sistólica central na raiz da aorta é cerca de 20 mmHg mais baixa do que a pressão arterial sistólica braquial, enquanto que a PD permanece estável ao longo da árvore arterial19. Entre os componentes da PAc e PAb, especificamente a pressão de pulso central (PPc) tem demonstrado que é preditor independente de eventos cardiovasculares7,8,20,21. Dados sugerem que a PPc pode estar estreitamente correlacionada à hipertrofia ventricular esquerda 20 devido ao aumento da espessura da camada íntima e média dos vasos1. Outros estudos também demonstraram que a PPc é preditor independente de risco cardiovascular, superando a pressão de pulso braquial (PPb)21. A utilização da TA fornece dados hemodinâmicos rápidos e confiáveis, favorecendo a identificação precoce dos riscos cardiovasculares e proporcionando melhores diagnósticos8. O diagnóstico e o controle da HAS, se baseados exclusivamente nos níveis obtidos pela PAb podem ser postergados em pelo menos uma década8. As equipes multidisciplinares obterão vantagens no planejamento e nas tomadas de decisões terapêuticas frente a cada paciente portador de HAS12,22, insuficiência cardíaca sistólica/ d i a s t ó l i c a 10, D M 23, D C V 24, D R C 23 e n a hipercolesterolemia25. 491 Rev Bras Cardiol. 2013;26(6):489-95 novembro/dezembro Pacientes com HAS têm aumento do risco relativo de duas a três vezes maior no desenvolvimento de eventos cardiovasculares do que pacientes normotensos. Os pacientes hipertensos estão expostos a aumento significativo no surgimento das DCV, como o acidente vascular encefálico e a insuficiência cardíaca. A HAS leva o paciente a ter uma sobrevida menor de aproximadamente cinco anos22. A PAc e medidas da rigidez arterial têm se mostrado poderosos preditores de eventos cardiovasculares, mais do que os fatores de risco tradicionais23. O aumento da rigidez arterial está correlacionado à deterioração da função renal, levando consequentemente à doença renal terminal 23 . Pacientes com hipercolesterolemia apresentam rigidez arterial e valores de PPc elevados, e essas alterações hemodinâmicas podem contribuir para o aumento do risco de DCV25. O ideal seria que a medida indireta da PAb, feita pelos enfermeiros através dos métodos tradicionais, espelhassem os valores da PAc, pois evitaria medidas invasivas e suas possíveis complicações clínicas. Nos pacientes hipertensos devido às alterações fisiopatológicas da parede vascular, é possível que existam diferenças significantes entre a PAc e a PAb8. É necessário que nessa população especial de pacientes estabeleça-se qual é a magnitude dessas diferenças em cada faixa etária. Assim, existe a possibilidade de nos pacientes hipertensos, ao se avaliar a PAb, se estar, de fato, aferindo os valores de PAc, surgindo então possíveis problemas para o médico indicar o correto tratamento com drogas anti-hipertensivas. Tonômetro de aplanação A onda de pulso é o principal fator avaliado para diagnosticar se há ou não aumento na rigidez arterial. Sendo assim, a idade avançada e a elevação da PAS são as duas variáveis mais importantes para o espessamento arterial18. As ondas de pulso são geradas a cada ejeção de sangue realizada pelo ventrículo esquerdo e se propagam por toda a árvore arterial de forma cíclica. Essas ondas podem ser registradas de forma não invasiva pelo enfermeiro, utilizando a TA da artéria radial. Esse método oferece informações sobre a condição funcional do vaso arterial, detectando e calculando a razão entre a onda refletida e a onda de ejeção19. Esse sistema consegue predizer, por meio de cálculos matemáticos, o risco cardiovascular aumentado em determinados indivíduos, ou seja, funciona como biomarcador de risco cardiovascular de alta confiabilidade para os profissionais da área da saúde26. Partindo dessa premissa, quanto mais rígida for a parede arterial, maior será a velocidade em que essas ondas percorrerão esses vasos. Assim, distúrbios 492 Pelazza O Enfermeiro e a Tonometria de Aplanação Artigo de Revisão endoteliais com redução funcional podem ser detectados pelo sistema de TA26,27 (Figura 1). Figura 1 SphygmoCor Clinical - A tonometria de aplanação é realizada por colocação de um sensor de pressão sobre a artéria radial. Imagem do dispositivo SphygmoCor de avaliação PWA, cedida por AtCor Medical, Sydney, Austrália). O enfermeiro na mensuração e controle da pressão central através da tonometria de aplanação Para análise da TA, o paciente deve ser encaminhado pelo enfermeiro até um consultório, obedecendo ao estado de jejum de pelo menos quatro horas e sem ter ingerido bebida alcoólica, café, nem ter fumado nas horas que antecedem o exame1; também deve estar com a bexiga vazia e ser colocado em ambiente tranquilo, confortável e submetido a repouso de cinco minutos3. A TA é feita pelo posicionamento de um tonômetro (transdutor de pressão portátil) sobre a artéria radial, aplicando-se uma compressão discreta sobre artéria “achatando-a” ou “aplainando-a”. A pressão na artéria aplainada é transmitida do vaso por um sensor a um equipamento que, por algoritmo, permite calcular a PAc28. É importante o tonômetro estar posicionado corretamente para assegurar um sinal forte, constante e reprodutível da PAc, finalizando a mensuração em até 10 segundos 26. Portanto tonometria significa Pelazza O Enfermeiro e a Tonometria de Aplanação Artigo de Revisão mensuração da PAS enquanto aplanação ou achatamento da mesma6,28. No monitor é possível visualizar gráficos dos dados hemodinâmicos capturados em forma de ondas de pressão, relatórios são gerados automaticamente da pressão central e braquial melhorando a qualidade dos dados obtidos26,28. Esse aparelho fornece aos enfermeiros e investigadores uma comparação e identificação das variadas formas de onda de pulso, facilitando a análise da tendência dos parâmetros do paciente, evidenciando o tratamento que deve ser adotado para melhor eficácia. Esse aparelho usado na mensuração da PAc e na avaliação da rigidez arterial permite medidas de forma não invasiva, fornecendo dados imediatos, precisos e indolores26,28. A atuação do enfermeiro nesse momento é de fundamental importância na prevenção e no diagnóstico precoce das complicações e na manutenção do conforto do paciente, com observação rigorosa, detalhada e sistematizada do mesmo26,28 (Figura 2). Figura 2 Sistema SphygmoCor - CPV - Aparelho de tonometria de aplanação. Imagem do dispositivo SphygmoCor - CPV cedida por AtCor Medical, Sydney, Austrália). Alguns países como os Estados Unidos da América, Japão, Austrália e da Europa utilizam o método da TA26 para obtenção do melhor controle da PAc, e tem sido destaque em mais de 1400 publicações27 tanto em revistas médicas como em ensaios clínicos farmacêuticos em todo o mundo. Limitações do uso do tonômetro de aplanação O TA é um aparelho de alto custo, com valor estimado em U$20,000 (vinte mil dólares), ou seja, Rev Bras Cardiol. 2013;26(6):489-95 novembro/dezembro R$48.000,00 (quarenta e oito mil reais) considerando o câmbio vigente, não incluídas as taxas de importação. Para o eficiente manuseio do equipamento há necessidade de um enfermeiro altamente capacitado, pois o ponto de medida da PAc é bastante específico. Outro fator limitante diz respeito à reposição de peças quando o aparelho estiver danificado.. O enfermeiro deverá orientar o paciente quanto à proibição do uso de suplementos vasoativos, descongestionantes, bebida alcoólica, cafeína, nicotina ou exercício físico antes do exame, podendo tais substâncias influenciar na reatividade vascular, e invalidar os resultados28. No Brasil, as limitações na utilização da TA se referem à falta de conhecimento dessa tecnologia por parte dos próprios enfermeiros e das outras categorias da saúde. Outra limitação são as funções de transferência geral, ferramentas para estimar a PAc, podendo representar uma gama de erro. No entanto, a margem de erro é menor do que a PAb por aferições-padrão pelos métodos auscultatórios e/ou oscilométricos, mesmo em pacientes obesos26,29. A PAS deve ser mensurada de acordo com o Seventh Report of the Joint Nacional Committee on Prevention, Detection, Evaluation, and Treatment of High Blood Pressure2 e pela VI Diretrizes Brasileiras de Hipertensão3. As medidas obtidas da PAc pela TA é mais segura e bastante moderna, é por método não invasivo, diminuindo assim complicações cardíacas e o risco de infecção, e este aparelho é portátil e fácil de manusear. Além disso, a identificação e compreensão dos riscos cardiovasculares envolvidos na HAS podem propiciar recomendações mais específicas sobre novas formas de controle, visando não só a melhoria da qualidade de vida, mas também a redução da morbidade e mortalidade nesta população. Com a TA pode se criar várias linhas de pesquisa na área temática da HAS, DM e DRC, favorecendo aos novos e futuros investigadores o desenvolvimento de mais pesquisas. O diagnóstico da HAS é geralmente obtido através de métodos indiretos utilizando-se de aparelhos oscilométricos e/ou auscultatórios posicionados em MMSS dos pacientes1-3,5. Estudos epidemiológicos assumem que a PAb é proporcional ao risco cardiovascular23. Recentemente, ensaios clínicos têm demonstrado que a PAc é melhor preditor de risco cardiovascular do que a PAb14,21. Na verdade, os valores da PAc e da PAb podem diferir significativamente8. O estudo CAFE, que comparou o atenolol com a amlodipina, concluiu que o bloqueador beta-adrenérgico foi menos eficaz na redução da PAc14, seria muito útil verificar os efeitos 493 Rev Bras Cardiol. 2013;26(6):489-95 novembro/dezembro das drogas anti-hipertensivas utilizando a TA pois instantaneamente seria possível acompanhar a PAc e os efeitos dos bloqueadores beta-adrenérgicos, propondo melhores terapias medicamentosas para este paciente. Pelazza O Enfermeiro e a Tonometria de Aplanação Artigo de Revisão 5. 6. Conclusão Os estudos pesquisados apontam a TA como melhor método para a avaliação e controle da PAc. Há necessidade de mais estudos com a utilização desse recurso diagnóstico na população brasileira. 7. 8. Potencial Conflito de Interesses Declaro não haver conflitos de interesses pertinentes. Fontes de Financiamento O presente estudo não teve fontes de financiamento externas. Vinculação Acadêmica O presente estudo não está vinculado a qualquer programa de pós-graduação. 9. 10. 11. Referências 1. Nichols WW, O’Rourke MF. McDonald’s blood flow in arteries: theoretical, experimental and clinical principles. 5th ed. London: Hodder Arnold; 2005. 2. Chobanian AV, Bakris GL, Black HR, Cushman WC, Green LA, Izzo JL Jr, et al; National Heart, Lung, and Blood Institute Joint National Committee on Prevention, Detection, Evaluation, and Treatment of High Blood Pressure; National High Blood Pressure Education Program Coordinating Committee. The Seventh Report of the Joint National Committee on Prevention, Detection, Evaluation, and Treatment of High Blood Pressure: the JNC 7 report. JAMA. 2003;289(19):2560-72. Erratum in: JAMA.2003;290(2):197. 3. Sociedade Brasileira de Cardiologia; Sociedade Brasileira de Hipertensão; Sociedade Brasileira de Nefrologia. VI Diretrizes Brasileiras de Hipertensão. Arq Bras Cardiol. 2010;95(1 supl. 1):1-51. Erratum in: Arq Bras Cardiol. 2010;95(4):553. 4. Mancia G, Fagard R, Narkiewicz K, Redón J, Zanchetti A, Böhm M, et al; Task Force Members. 2013 ESH/ESC Guidelines for the management of arterial hypertension: the Task Force for the management of arterial hypertension of the European Society of Hypertension (ESH) and of the European Society of Cardiology (ESC). J Hypertens. 2013;31(7):1281-357. 494 12. 13. 14. 15. 16. Ogihara T, Hiwada K, Morimoto S, Matsuoka H, Matsumoto M, Takishita S, et al. Guidelines for treatment of hypertension in the elderly—2002 revised version. Hypertens Res. 2003;26(1):1-36. McEniery CM, Yasmin, McDonnell B, Munnery M, Wallace SM, Rowe CV, et al; Anglo-Cardiff Collaborative Trial Investigators. Central pressure: variability and impact of cardiovascular risk factors: the Anglo-Cardiff Collaborative Trial II. Hypertension. 2008;51(6):1476-82. Roman MJ, Devereux RB, Kizer JR, Lee ET, Galloway JM, Ali T, et al. Central pressure more strongly relates to vascular disease and outcome than does brachial pressure: the Strong Heart Study. Hypertension 2007;50(1):197-203. Pelazza BB, Rosa CA, Ferreira Filho SR. Comparação entre os valores da pressão arterial central e braquial de pacientes com hipertensão arterial submetidos à cineangiocoronariografia. J Bras Nefrol. 2012;34(3):266-71. Philippe F, Chemaly E, Blacher J, Mourad JJ, Dibie A, Larrazet F, et al. Aortic pulse pressure and extent of coronary artery disease in percutaneous transluminal coronary angioplasty candidates. Am J Hypertens. 2002;15(8):672-7. Bortolotto LA. Pressão central: como interpretar na prática clínica. Rev Bras Hipertens. 2009;16(1):46-7. Haider AW, Larson MG, Franklin SS, Levy D; Framingham Heart Study. Systolic blood pressure, diastolic blood pressure, and pulse pressure as predictors of risk for congestive heart failure in the Framingham Heart Study. Ann Intern Med. 2003;138(1):10-6. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Série Cadernos de Atenção Básica nº 15. Hipertensão arterial sistêmica. Brasília: Ministério da Saúde, 2006. Sharman JE, Marwick TH, Abhauaratna WP, Stowasser M. Rationale and design of a randomized study to determine the value of central Blood Pressure for GUIDing managEment of hypertension: The BP GUIDE study. Am Heart J. 2012;163(5):761-7. Williams B, Lacy PS, Thom SM, Cruickshank K, Stanton A, Collier D, et al; CAFE Investigators; AngloScandinavian Cardiac Outcomes Trial Investigators; CAFE Steering Committee and Writing Committee. Differential impact of blood pressure-lowering drugs on central aortic pressure and clinical outcomes: principal results of the Conduit Artery Function Evaluation (CAFE) Study. Circulation. 2006;113(9):1213-25. Haller MJ, Samyn M, Nichols WW, Brusko T, Wasserfall C, Schwartz RF, et al. Radial artery tonometry demonstrates arterial stiffness in children with type 1 diabetes. Diabetes Care. 2004;27(12):2911-7. National Institutes of Health. Clinical Guidelines on the Identification, Evaluation, and Treatment of Overweight and Obesity in Adults - The Evidence Report. National Institutes of Health. Obes Res. 1998;6(Suppl 2):51S-209. Erratum in: Obes Res. 1998;6(6):464. Pelazza O Enfermeiro e a Tonometria de Aplanação Artigo de Revisão 17. Bortolotto LA, Safar ME. Perfil da pressão arterial ao longo da árvore arterial e genética da hipertensão. Arq Bras Cardiol. 2006;86(3):166-9. 18. Safar ME, Levy BI, Struijker-Boudier H. Current perspectives on arterial stiffness and pulse pressure in hypertension and cardiovascular diseases. Circulation. 2003;107(22):2864-9. 19. Benetos A, Safar ME. Genetic aspects of arterial stiffness and pulse pressure in clinical hypertension. In: Safar ME, Birkenhäger WH, Reid JL, O’Rourke MF, eds. Handbook of hypertension: arterial stiffness in hypertension. Oxford: Elsevier; 2006. 20. Safar ME. Pulse pressure, arterial stiffness, and cardiovascular risk. Curr Opin Cardiol. 2000;15(4):258-63. 21. Safar ME, Blacher J, Pannier B, Guerin AP, Marchais SJ, Guyonvarc’h PM, et al. Central pulse pressure and mortality in end-stage renal disease. Hypertension. 2002;39(3):735-8. 22. Roger VL, Go AS, Lloyd-Jones DM, Adams RJ, Berry JD, Brown TM, et al; American Heart Association Statistics Committee and Stroke Statistics Subcommittee. Heart Disease and stroke statistics - 2011 update: a report from the American Heart Association. Circulation. 2011;123(4):e18-209. Erratum in: Circulation. 2011;124(16):e426. Circulation. 2011;123(6):e240. 23. Lewington S, Clarke R, Qizilbash N, Peto R, Collins R; Prospective Studies Collaboration. Age-specific relevance of usual blood pressure to vascular mortality: a meta-analysis of individual data for one million adults Rev Bras Cardiol. 2013;26(6):489-95 novembro/dezembro 24. 25. 26. 27. 28. 29. in 61 prospective studies. Lancet. 2002;360(9349): 1903-13. Erratum in: Lancet. 2003;361(9362):1060. Marochi LH, Campos CW, Marconti FP, Moreira DM. Comparação de fatores de risco cardiovascular entre médicos cardiologistas e não cardiologistas. Rev Bras Cardiol. 2013;26(4):248-52. Wilkinson IB, Prasad K, Hall IR, Thomas A, MacCallum H, Webb DJ, et al. Increased central pulse pressure and augmentation index in subjects with hypercholesterolemia. J Am Coll Cardiol. 2002;39(6):1005-11. Papaioannou TG, Protogerou AD, Stamatelopoulos KS, Vavuranakis M, Stefanadis C. Non-invasive methods and techniques for central blood pressure estimation: procedures, validation, reproducibility and limitations. Curr Pharm Des. 2009;15(3):245-53. Pauca AL, O´Rourke MF, Kon ND. Prospective evaluation of a method for estimating ascending aortic pressure from the radial artery pressure waveform. Hypertension. 2001;38(4):932-7. Nelson MR, Stepanek J, Cevette M, Colvalciuc M, Hurst RT, Tajik AJ. Noninvasive measurement of central vascular pressures with arterial tonometry: clinical revival of the pulse pressure waveform? Mayo Clin Proc. 2010;85(5):460-72. O’Brien E, Waeber B, Parati G, Staessen J, Myers MG. Blood pressure measuring devices: recommendations of the European Society of Hypertension. BMJ. 2001;322(7285):531-6. 495