Lista 1 de Microeconomia I Professor: Carlos E.L. da Costa Monitor: Vitor Farinha Algumas Preliminares Matemáticas Nas próximas páginas apresentam-se alguns conceitos matemáticos e teoremas que serão úteis ao curso de Micro I. Como o objetivo aqui é apresentar rapidamente alguns instrumentos que serão estudados mais profundamente nos cursos de Análise, omitem-se as principais provas. Algumas boas referências sobre os assuntos aqui abordados são: 1. MWG, Apêndice Matemático. 2. Lima, Elon. Análise Real, vols. 1 e 2. 3. Simon e Blume. Matemática para economistas. 4. http://mathworld.wolfram.com/ 5. Sundaram, Rangarajan. A First Course in Optimization Theory. 6. Cysne e Moreira. Matemática para economistas. Norma Euclidiana Tipicamente estaremos trabalhando no espaço euclidiano Rn , munido da norma euclidiana usual De…nição 1 Seja x = (x1 ; :::; xn ) Rn , a norma euclidiana é a função k:k : Rn ! R dada por !1=2 n X 2 xi kxk = i=1 Que de…ne também a noção de distância (métrica) usual desse espaço, sendo a distância entre os pontos x e y dada por d(x; y) = kx yk. Que atende a conhecida "desigualdade triangular" (essa desigualdade é, na verdade, parte da própria de…nição de norma), kx yk + ky zk kx zk : Bolas Abertas, Conjuntos Abertos e Conjuntos Fechados De…nição 2 Uma bola aberta com centro no ponto x e raio r é dada por B(x; r) = fy 2 Rn jd(x; y) < rg: Ou seja, B(x,r) é o conjunto de todos os pontos do Rn que distam de x em estritamente menos que r. Se substituímos a desiguldade estrita(<) pela desigualdade fraca( );então temos a bola fechada B(x,r) De…nição 3 O conjunto S no Rn é dito aberto se, para todo ponto x 2 S; existe r tal que B(x; r) S:Intuitivamente, todo o ponto de um conjunto aberto está em seu interior, sendo possível deslocar-se pequenas distâncias em qualquer direção sem que deixemos o conjunto S. De…nição 4 O conjunto S no Rn é dito fechado se seu complementar é aberto. O teorema abaixo torna possível uma de…nição alternativa, possivelmente mais clara, usando a noção de seqüências convergentes. Teorema 1 Um conjunto S Rn é fechado se, e somente se, para toda seqüência {xk g tal que xk 2 S para todo k e xk ! x, tem se que x 2 S: Ou seja, o limite de qualquer seqüência convergente formada por pontos em S também é um ponto de S. 1 Conjuntos limitados e conjuntos compactos De…nição 5 Um conjunto S Rn é dito limitado se existe r>0 tal que S De…nição 6 Um conjunto S Rn é dito compacto se é limitado e fechado. B(0; r): Combinações Convexas e Conjuntos Convexos Dada qualquer coleção …nita de pontos x1 ; x2 ; :::; xm 2 Rn ; um ponto z 2 Rn é dito umaP combinação convexa m dosPpontos (x1 ; :::; xm ) se existe 2 Rm satisfazendo (i) i 0; i = 1; 2; :::; m e (ii) i=1 i = 1; tal que m z= i=1 i xi : De…nição 7 Um conjunto S Rn é dito convexo se qualquer combinação convexa de quaisquer dois pontos de S também está em S. Ou seja, se qualquer linha reta que liga dois pontos de S estiver completamente contida nele. Continuidade De…nição 8 Tome f : S ! T; em que S Rn e T Rl :Então, f é dita contínua em x2 Rn se para todo " > 0; existe > 0 tal que ao tomar-se y 2 S com d(x; y) < , valerá d(f (x); f (y)) < ": Em termos de seqüências, f : S ! T é contínua em x se para todas as seqüências fxk g com xk 2 S para todo k e limk!1 xk = x tem-se limk!1 f (xk ) = f (x): Intuitivamente, f é contínua em x se, ao nos aproximarmos deste ponto, obtivermos aproximações sucessivamente melhores para o valor de f(x). Uma função é dita contínua se é contínua em todos os pontos de seu domínio. Teorema 2 (Weierstrass) Tome D Rn compacto e f : D ! R uma função contínua em D. Então f atinge um máximo e um mínimo em D, i.e., exitem pontos z1 ; z2 2 D; tais que f (z1 ) f (x) f (z2 ) 8x 2 D Convexidade e Quase-Convexidade De…nição 9 Seja X e x,y 2 X tivermos Rn um conjunto convexo. Uma função f : X ! R é convexa se para todo f ( x + (1 )y) f (x) + (1 2 [0; 1] )f (y): Analogamente, é dita estritemente convexa se o sinal da desigualdade for estrito (< ao invés de ). De…nição 10 Seja X Rn um conjunto convexo. Uma função f:X! R é côncava se -f é convexa. Ou seja,f : X ! Ré côncava se para todo 2 [0; 1] e x,y 2 X tivermos f ( x + (1 )y) f (x) + (1 )f (y):Analogamente, é dita estritemente côncava se o sinal da desigualdade for estrito. De…nição 11 Sejam D Rn um conjunto convexo e f : D ! R:O conjunto de contorno superior de f em a, denotado por C+ a ou Uf (a); é de…nido como Uf (a) = fx 2 Djf (x) ag: O conjunto de contorno inferior de f em a, por sua vez, denotado por Ca ou Lf (a);é de…nido como Lf (a) = fx 2 Djf (x) ag: A função f é dita quase-côncava se Uf (a) é convexo para todo a. Analogamente, é dita quase-convexa se Lf (a) é convexo para todo a. 2 Figure 1: Curvas de nível e conjuntos de contorno de uma função quase-côncava, porém não côncava. Figure 2: Uma função côncava, uma apenas quase-côncava e uma que não apresenta globalmente nenhum dos comportamentos citados. Teorema 3 A função f:D! R é quase-côncava em D se, e somente se, para todo x,y2 D e para todo 2 (0; 1); vale f [ x + (1 )y] minff (x); f (y)g: A função f é quase-convexa em D se, e somente se, para todo x,y 2 D e para todo f [ x + (1 )y] 2 (0; 1); vale maxff (x); f (y)g: Os grá…cos a seguir, retirados de http://are.berkeley.edu/courses/ARE211/currentYear/lecture_notes/mathGraphical305.pdf, ajudam a melhor compreender os conceitos de concavidade e quase-concavidade. Homogeneidade e Homoteticidade De…nição 12 Uma função é dita homogênea de grau k se: f (tx) = tk f (x) para todo t>0. Teorema 4 Seja f:D! R uma função C1 de…nida em um cone aberto do Rn : Se f é homogênea de grau k, suas derivadas parciais são homogêneas de grau k-1. 3 Proof. Por hipótese temos: f (tx) = tk f (x): Diferenciando em relação a x obtemos: rf (tx)t = tk rf (x) ) rf (tx) = tk 1 rf (x) Homogeneidade de grau 1 Teorema 5 (Fórmula de Euler) Suponha f(x) homogênea de grau k e diferenciável. Então, para qualquer x, temos X @f (x) :xn = kf (x) @xn n ou, em notação matricial, rf (x):x = k:f (x) Proof. De maneira semelhante à prova anterior, agora diferenciamos a de…nição, f (tx) = tk f (x) em relação a t, obtendo rf (tx) x = ktk 1 f (x) Avaliando em t=1, tem-se: rf (x) x = kf (x) Se uma função f (:) homogênea é transformada por uma função crescente de uma única variável L(:), a resultante L(f (x)) é dita homotética. Note que a família das curvas de nível de L(f (:)) é a mesma que a família das curvas de nível de f (:). Matrizes Semi-De…nidas e De…nidas De…nição 13 A matriz MnXn é dita negativa semi-de…nida se z0M z 0; para todo z 2 Rn :Se a desigualdade é estrita para todo z 6= 0, então M é negativa de…nida(inverterndo as desigualdades, obtemos os conceitos de matriz positiva semi-de…nida e de…nida). Teorema 6 A função f : D ! R de classe C 2 é côncava se e somente se a hessiana de f(.) (matriz de segundas derivadas) é negativa semi-de…nida para todo x 2 D. Se a hessiana é negativa de…nida para todo x 2 D; então a função é estritamente côncava (observe que a volta não vale). Otimização com restrições de igualdade Considere o seguinte problema: max f (x) x2Rn sa gk (x; ) = bk k=1,...,K No estudo de problemas como este, são relevantes dois objetos: 1. O conjunto solução x ( ) = arg que dá a(s) solução(ões) para cada parâmetro é um conjunto com diversos elementos). max sa restrições 2 f (x; ) (se o problema tem múltiplas soluções, então x ( ) 2. A função valor V( )= max sa restrições que dá o valor da função para cada parâmetro 2 4 f (x; ) (V ( ) = f (y; ) para todo y2 x ( )): Teorema 7 (Teorema de Lagrange) Sejam f : Rn ! R e gk : Rn ! R funções de classe C 1 ; k = 1; :::; K:Suponha que x seja um máximo ou mínimo local de f no conjunto D = U \ fxjgk (x) = bk ; k = 1; :::; Kg em que U Rn é aberto. Suponha também que (Dg(x )) = K: Então, existe um vetor RK tal que K X Df (x ) + k Dgk (x ) = 0: =( 1 ; :::; K) 2 k=1 Teorema 8 (Teorema do Envelope) Considere o problema de maximização proposto no início desta seção e suponha que (i) f(),g1 (); :::; gK () são continuamente diferenciáveis em (x, ) e (ii)x é diferenciável em uma vizinhança A de ^:Então, 1. V(.) é diferenciável em A. ^ 2. Para i=1,...,s @V@ (i ) = ciado a x (^): f (x (^);^) i PK k=1 g(x (^);^) k i ; em que é o multiplicador de Lagrange asso- Simpli…cando, este teorema nos diz que não é necessário observar os efeitos indiretos da variação dos parâmetros sobre a variação da função valor, podendo-se derivá-la diretamente no ótimo. Exercícios da Lista 1 Exercício 1 Responda verdadeiro ou falso, justi…cando: a) Toda função côncava é quase-côncava. b) Toda função quase-côncava é côncava. c) A soma de duas funções côncavas é côncava. d) A união de 2 conjuntos convexos é um conjunto convexo. e) A interseção de 2 conjuntos convexos é um conjunto convexo. f) Seja f : R ! R diferenciável e estritamente crescente; então f 0 (x) > 0 para todo x 2 R: g) A união de 2 conjuntos abertos é um conjunto aberto. h)A interseção de 2 conjuntos abertos é um conjunto aberto. i) O conjunto A f(x; y) : x2 + y 2 = 1gé um conjunto convexo. j)O conjunto A f(x; y) : x2 + y 2 1gé um conjunto convexo. Exercício 2 Mostre a equivalência das duas de…nições de quase-concavidade. Exercício 3 Mostre que a função f(x,y)=min{ax,by} é quase-côncava se a,b>0 Exercício 4 Seja f : Rn+ ! R uma função côncava. Seja g : R ! R estritamente crescente. Mostre que h(x) = g(f (x)) é uma função quase-côncava. Exercício 5 Mostre que a inclinação das curvas de nível de uma função homotética não muda ao longo de um raio que parte da origem. 5 Exercício 6 Considere um problema de…nido por: V (p; y) = maxU (x) sa y = p x Mostre que @V =@y = ; em que é o multiplicador de Lagrange associado ao problema de maximização. Exercício 7 Considere as relações de preferências racional e são transitivas, mas não são necessariamente completas. sobre X. Mostre que as relações binárias ~ Exercício 8 Mostre que se uma relação de preferências satisfaz a propriedade de monotonicidade, então também satisfaz a propriedade de não-saciedade local. Pode-se a…rmar que não saciedade local implica monotonicidade estrita? Justi…que. Exercício 9 A ordenação lexicográ…ca para X = R2+ é de…nida por: x; y 2 R2+ ; x x1 = y1 e x2 y2 : y se x1 > y1 ou se a) Mostre que a relação binária acima é uma relação de preferências racional. b)Mostre que as preferências lexicográ…cas são monótonas estritas. c) Mostre que as preferências lexicográ…cas não são contínuas. d) Por que esta relação de preferências não é muito interessante do ponto de vista econômico? Exercício 10 Seja a relação de…nida a partir de % por ~ (x simétrica se, e somente se, % é completa. y) , y % x. Então prove que Obs.: x) : é assimétrica se 8x; y 2 X temos que ~ (x y) ou ~ (y Exercício 11 Prove que, se % é racional e estritamente convexa, para qualquer cojunto C conjunto C 0 = fx 2 Cjx % y; 8y 2 Cg é vazio ou unitário. 6 é as- X convexo, o