UMinho|2014 Hugo Luís da Costa Delgado Estratégia de Internacionalização e Competitividade do Vinho Alvarinho Universidade do Minho Escola de Economia e Gestão Hugo Luís da Costa Delgado Estratégia de Internacionalização e Competitividade do Vinho Alvarinho janeiro de 2014 Universidade do Minho Escola de Economia e Gestão Hugo Luís da Costa Delgado Estratégia de Internacionalização e Competitividade do Vinho Alvarinho Dissertação de Mestrado Mestrado em Marketing e Gestão Estratégica Trabalho realizado sob a orientação do Professor Doutor Vasco Eiriz janeiro de 2014 Declaração Nome: Hugo Luís da Costa Delgado Endereço eletrónico: [email protected] Telefone: 966 565 816 Número do Bilhete de Identidade: 11006741 Título da dissertação: Estratégia de Internacionalização e Competitividade do Vinho Alvarinho Orientador: Professor Doutor Vasco Eiriz Ano de conclusão: 2014 Designação do Mestrado: Mestrado em Marketing e Gestão Estratégica É AUTORIZADA A REPRODUÇÃO INTEGRAL DESTA DISSERTAÇÃO APENAS PARA EFEITOS DE INVESTIGAÇÃO, MEDIANTE DECLARAÇÃO ESCRITA DO INTERESSADO, QUE A TAL SE COMPROMETE. Universidade do Minho, 03/ 01/ 2014 Assinatura: ____________________________ ii Agradecimentos O primeiro agradecimento é dirigido ao Professor Doutor Vasco Eiriz, orientador desta dissertação, a quem agradeço o espirito crítico e a capacidade para, de forma interventiva, assegurar que todas as etapas fossem vencidas. Um especial agradecimento a todos os que contribuíram para a elaboração desta dissertação através da informação disponibilizada e conhecimentos transmitidos, em particular a todos os entrevistados, pela sua disponibilidade e cordialidade. À minha família, Luís, Cidália e Sara, e à Rita, um profundo obrigado pela compreensão e pelo inestimável apoio sem o qual seria tremendamente mais difícil concluir este desígnio que sempre procurei alcançar. iii Resumo Estratégia de Internacionalização e Competitividade do Vinho Alvarinho O setor dos vinhos em Portugal enfrenta nos últimos anos uma estagnação do consumo e, por outro lado, a opção por parte dos consumidores por vinhos com um preço mais baixo. Em sentido oposto as exportações nacionais têm vindo a registar aumentos na ordem dos 7% ao ano. Este cenário obriga as empresas portuguesas, em particular as pequenas e médias empresas (PME’s) a adotarem estratégias de negócio mais eficazes e eficientes, de forma a manterem níveis de competitividade superiores. Para as empresas produtoras de Alvarinho da sub-região de Monção e Melgaço, estes aspetos assumem especial relevância porque, sendo empresas de dimensão reduzida e com baixos volumes de produção, só a aposta em produtos diferenciadores e de elevada qualidade lhes permitirá enfrentar a concorrência dos restantes vinhos nacionais e internacionais. A cooperação entre estas empresas parece, também, significar um aumento da sua capacidade para obterem sucesso nos mercados. Numa outra dimensão, estas empresas devem optar por um modelo de internacionalização sequencial baseado nas exportações, uma vez que acarreta menos riscos para as suas estruturas. Esta investigação adota uma metodologia qualitativa, através de entrevistas em profundidade, aplicadas a agentes institucionais e a empresas. Tendo por base as proposições formuladas foi possível confirmar a capacidade das entidades do sistema científico e tecnológico para contribuírem para a valorização das estratégias de marketing das empresas e que a exportação parece ser o modo mais adequado para as empresas internacionalizarem. Não foi possível confirmar a adequação das políticas públicas para a sustentabilidade do setor; que a cooperação, nomeadamente no seio de um cluster, seja potenciadora da capacidade de internacionalização das empresas; e que a identificação de boas práticas nacionais e internacionais, passíveis de ser adotadas pela sub-região, possam contribuir para a potenciação do setor. Palavras chave: Competitividade, internacionalização, v cooperação, cluster. Abstract Internationalization Strategy and Competitiveness of Alvarinho Wine The wine industry in Portugal faces, in recent years, a consumption stagnation and, on the other hand, consumers appears to choose wines with lower prices. At the same time, national exports have recorded increases of 7% per year. These facts oblige Portuguese companies, in particular small and medium enterprises to adopt more efficient and effective business strategies in order to maintain higher levels of competitiveness. For companies producing Alvarinho at the sub region of Monção and Melgaço, these aspects are particularly relevant because, being small sized and having low production volumes, only betting on differentiated and high-quality products companies will be enabled to face competition from other domestic and international wines. The cooperation between these companies also seems to mean an increase in their ability to succeed in the markets. In another dimension, these companies should opt for a model of sequential internationalization based on exports, as it entails less risk for their structures. This research adopts a qualitative methodology, through indepth interviews, applied to institutional agents and companies. Based on the propositions formulated, it was possible to confirm the capacity of scientific and technological system’s entities to contribute to the development of companies’ marketing strategies, and also to confirm that exportation seems to be the most appropriate way for companies’ internationalization. It wasn’t possible to confirm the adequacy of public sector policies to sector’s sustainability; that cooperation, including the development of the cluster, could be a provider of internationalization capability of enterprises; and that the identification of national and international good practices, capable to be adopted by the sub-region, may contribute to the potentiation of the sector. Keywords: Competitiveness, internationalization, cooperation, cluster. vii Índice Declaração .........................................................................................................................ii Agradecimentos................................................................................................................ iii Resumo .............................................................................................................................. v Abstract ........................................................................................................................... vii Índice ................................................................................................................................ ix Índice de figuras ............................................................................................................. xiii Índice de gráficos ............................................................................................................. xv Índice de tabelas ............................................................................................................ xvii Capítulo 1. Introdução ...................................................................................................... 1 1.1. Enquadramento do tema de investigação e motivação para a sua escolha ....... 1 1.2. Objetivos de investigação .................................................................................... 3 1.3. Metodologia de investigação ............................................................................... 4 1.4. Estrutura da dissertação ...................................................................................... 5 Capítulo 2. A competitividade de um setor ...................................................................... 7 2.1. Introdução ............................................................................................................ 7 2.2. A competitividade e os seus determinantes ........................................................ 7 2.3. A competitividade das micro-empresas e PME’s ............................................... 10 2.4. Criação de um cluster ......................................................................................... 13 2.5. Cooperação entre atores de um cluster............................................................. 16 2.6. Conclusão ........................................................................................................... 19 Capítulo 3. O processo de internacionalização .............................................................. 21 3.1. Introdução .......................................................................................................... 21 3.2. Decisões de internacionalização ........................................................................ 21 ix 3.3. Fatores impulsionadores e principais barreiras da internacionalização ........... 25 3.4. Modos de entrada e modelos de internacionalização ....................................... 28 3.5. Estratégia de marketing e de comunicação internacionais ............................... 31 3.6. Conclusão ........................................................................................................... 34 Capítulo 4. Metodologia ................................................................................................. 37 4.1. Introdução .......................................................................................................... 37 4.2. Método de estudo .............................................................................................. 37 4.3. Técnicas de recolha e o tratamento dos dados ................................................. 39 4.4. Conclusão ........................................................................................................... 47 Capítulo 5. Contextualização .......................................................................................... 49 5.1. Introdução .......................................................................................................... 49 5.2. O vinho verde ..................................................................................................... 49 5.3. O Alvarinho na sub-região de Melgaço e Monção ............................................. 53 5.4. Os vinhos portugueses e a sua internacionalização .......................................... 56 5.5. Conclusão ........................................................................................................... 61 Capítulo 6. A perspetiva dos agentes institucionais ....................................................... 63 6.1. Introdução .......................................................................................................... 63 6.2. O setor do vinho Alvarinho de Monção e Melgaço ........................................... 63 6.3. Do noroeste de Portugal para o Mundo ............................................................ 70 6.4. A cooperação e o cluster .................................................................................... 73 6.5. A promoção e a comunicação do vinho Alvarinho ............................................ 75 6.6. Conclusão ........................................................................................................... 77 Capítulo 7. A perspetiva das empresas .......................................................................... 79 7.1. Introdução .......................................................................................................... 79 7.2. O setor do vinho Alvarinho de Monção e Melgaço ........................................... 79 x 7.3. Do noroeste de Portugal para o Mundo ............................................................ 84 7.4. A cooperação e o cluster .................................................................................... 86 7.5. A promoção e a comunicação do vinho Alvarinho ............................................ 88 7.6. Conclusão ........................................................................................................... 90 Capítulo 8. Conclusão ..................................................................................................... 91 8.1. Introdução .......................................................................................................... 91 8.2. Principais conclusões.......................................................................................... 91 8.3. Limitações e recomendações para investigações futuras ................................. 96 Referências bibliográficas ............................................................................................... 99 xi Índice de figuras Figura 1 - Estrutura da dissertação ................................................................................... 6 Figura 2 – Sub-regiões da Região dos Vinhos Verdes..................................................... 51 xiii Índice de gráficos Gráfico 1 – Peso do Alvarinho no total da produção das empresas da sub-região de Monção e Melgaço ......................................................................................................... 56 Gráfico 2 - Evolução da produção de vinho em Portugal Continental, em milhares de hectolitros, no período 1909-2009................................................................................. 57 Gráfico 3 - Evolução da Produção e Consumo de Vinho em Portugal, em milhares de hectolitros, para as campanhas de 2000/2001 a 2009/2010 período 1909-2009......... 58 Gráfico 4 – Evolução das exportações mundiais de vinho dos principais países exportadores (Top 10), em volume (mhl) ...................................................................... 59 xv Índice de tabelas Tabela 1 - Definições de competitividade ........................................................................ 8 Tabela 2 – Guião de entrevista ....................................................................................... 42 Tabela 3 – Informação genérica sobre as entrevistas realizadas ................................... 46 Tabela 4 - Castas para vinho verde................................................................................. 52 Tabela 5 – Rendimento, graduação e estágio do “vinho verde”.................................... 53 Tabela 6 - Posição relativa nos principais mercados de exportação dos vinhos de Portugal .......................................................................................................................... 61 Tabela 7 – Validação global das proposições formuladas .............................................. 95 xvii Capítulo 1. Introdução Este capítulo pretende apresentar a dissertação. Assim, a secção 1.1 enquadra o tema de investigação e apresenta as motivações para a sua escolha. Na secção 1.2 são apresentados os objetivos da investigação que suportam a construção da dissertação. A metodologia utilizada nesta investigação é apresentada na secção 1.3 Por fim, na secção 1.4 é apresentada a estrutura da investigação. 1.1. Enquadramento do tema de investigação e motivação para a sua escolha A escolha do tema Estratégia de Internacionalização e Competitividade do vinho Alvarinho assentou em três aspetos fundamentais que na minha perspetiva são essenciais no momento de enveredar por um trabalho desta natureza. O primeiro aspeto prende-se com o interesse científico do tema abordado o qual apresenta a relevância necessária uma vez que a problemática da internacionalização das empresas e dos clusters tem sido objeto, ao longo dos anos, de vários estudos, pesquisas e artigos científicos. Por outro lado, um segundo aspeto importante, na escolha deste tema, diz respeito à importância estratégica que o cluster do vinho Alvarinho pode representar para o desenvolvimento da região do Alto-Minho e para a afirmação dos produtos da região à escala internacional. Por fim, mas não menos importante, devo referir que a escolha deste tema resulta da minha paixão pela região do Alto-Minho, onde vivo, e em relação à qual pretendia, desde logo, aproveitar esta dissertação para contribuir de forma concreta para a melhoria da sua notoriedade e competitividade. No que à escolha do tema do cluster do vinho Alvarinho esta deve-se ao facto de se tratar de um produto de qualidade reconhecida e que, à partida para esta dissertação, tudo indica deter um forte potencial de crescimento no mercado externo. Importa desde já referir que o estudo será enquadrado na sub-região de Monção e Melgaço. Esta clarificação é fundamental uma vez que a Região dos Vinhos 1 Verdes tem atualmente 1300 hectares de Alvarinho, em 10 concelhos. Esta dispersão geográfica começa a levantar algumas questões, nomeadamente no que respeita à designação Denominação de Origem Controlada (DOC) que, no quadro legal vigente, apenas pode ser utilizada no vinho Alvarinho produzido na sub-região de Monção e Melgaço, embora já se discuta o alargamento desta designação a toda a Região dos Vinhos Verdes. Nesta sub-região as empresas são maioritariamente PME’s, que são empresas cuja definição em Portugal corresponde a micro, PME’s que se enquadram nos critérios previstos na Recomendação n.º 2003/361/CE, da Comissão Europeia, de 6 de Maio e surgem no Decreto-Lei n.º 372/2007 de 6 de Novembro. A legislação referida define assim as empresas que empregam menos de 250 pessoas e cujo volume de negócios anual não excede 50 milhões de euros ou cujo balanço total anual não excede 43 milhões de euros como enquadráveis nas categorias de micro, PME’s. Assim, uma pequena empresa caracteriza-se por empregar menos de 50 pessoas e deter um volume de negócios anual ou balanço total anual que não excede 10 milhões de euros. Por outro lado, as empresas que empregam menos de 10 pessoas e cujo volume de negócios anual ou balanço total anual não excede 2 milhões de euros são consideradas micro-empresas. Eiriz et al. (2010) apontam para o facto de o conceito de competitividade ser muitas vezes confundido e comparado com desempenho, vantagem competitiva, competição e equilíbrio. Importa então clarificar o conceito e destacar as suas determinantes uma vez que a competitividade do cluster do vinho Alvarinho é um aspeto chave para que o processo de internacionalização decorra de forma sustentada. Na identificação dos assuntos a estudar foi, ainda, considerada a importância dos vinhos portugueses no contexto internacional. Segundo Marcelino (2013), as exportações nacionais de vinho atingiram, em 2012, um valor de 706 milhões de euros mantendo-se assim uma tendência crescente em relação ao ano anterior. Afigura-se, assim, como relevante, analisar o comportamento do vinho Alvarinho da sub-região de Monção e Melgaço neste contexto atual. 2 1.2. Objetivos de investigação Esta dissertação está baseada em seis objetivos fundamentais, a saber: análise do setor dos vinhos em Portugal, em particular do vinho Alvarinho; identificação de barreiras à internacionalização do vinho Alvarinho; identificação de modelos de internacionalização adotados pelas empresas de vinho Alvarinho; avaliar a importância da distribuição no desenvolvimento das operações do cluster; avaliar o nível de cooperação entre os diversos stakeholders como fonte propulsora da internacionalização do setor; identificação de boas práticas, nacionais e internacionais, de marketing e de comunicação que possam servir de base à internacionalização do vinho Alvarinho. O trabalho desenvolvido relativamente a cada um destes objetivos será o fio condutor da dissertação onde, de forma direta ou indireta, procurarei trabalhar vários aspetos que entendo pertinentes na definição de uma estratégia de internacionalização que promova a competitividade das empresas envolvidas e do produto vinho Alvarinho. Seguidamente, para cada um dos objetivos, apresentam-se alguns aspetos que serão tidos em conta ao longo da dissertação. Em relação ao primeiro objetivo, importa referir que setor dos vinhos detém características distintivas que importa caracterizar. Desta forma, proponho-me a elaborar uma análise estratégica do setor (Eiriz e Barbosa, 2004) procurando, assim, posicionar o vinho Alvarinho no contexto do setor. Partindo desta caracterização será possível identificar o conjunto de recursos e competências do cluster do vinho Alvarinho que poderão contribuir para a sua afirmação internacional. Assim, tendo por base o guia proposto pelos referidos autores procurarei analisar a suas diversas dimensões, efetuando uma descrição geral do setor, do produto, da estrutura do setor, dos diversos atores (produtores, empresas, fornecedores, clientes e fornecedores). O segundo objetivo deve considerar que a internacionalização de qualquer empresa, conforme defendido por Bernetti et al. (2006) pode ser impulsionada por diversos fatores, dos quais destacaria a qualidade, na medida que esta pode representar a sobrevivência no mercado dos vinhos. É também assumido que em 3 mercados globais cada vez mais competitivos torna-se praticamente impossível ao cluster do vinho Alvarinho competir pelos custos. Assim, o sucesso de uma estratégia de internacionalização deste cluster deve assentar em dois pontos-chave: qualidade e competitividade. O estudo do terceiro objetivo, tendo por base os diferentes modelos de internacionalização apresentados na literatura, apontar as vantagens e desvantagens da adoção dos diferentes modelos de internacionalização com o objetivo de propor aos produtores/empresas e aos decisores políticos o modelo mais adequado. Será também importante identificar os mercados preferenciais para a construção de um processo de internacionalização sustentável. Neste âmbito será interessante identificar quais os aspetos que podem assumir um papel determinante na escolha dos países preferenciais. Serão os aspetos culturais mais ou menos relevantes que a proximidade geográfica no momento de escolher os mercados alvo? Com o quarto objetivo pretende-se avaliar a importância da distribuição no desenvolvimento das operações do cluster e perceber se poderá residir na distribuição ou em alterações sobre esta atividade uma fonte de propulsão do crescimento do setor. Para o quinto objetivo, alguma literatura refere o nível de comprometimento na cooperação entre os diversos agentes de um cluster como fundamental para a internacionalização de PME’s. Desta forma é minha intenção assinalar as áreas em que a cooperação poderá ser indutora de impactos positivos para a internacionalização do vinho Alvarinho. Neste objetivo proponho a uma análise de benchmarking das boas práticas nacionais e internacionais na promoção internacional de produtos substitutos e similares. Com base nesta análise tenciono propor uma estratégia de marketing do vinho Alvarinho orientada para os mercados preferenciais identificados. 1.3. Metodologia de investigação A metodologia utilizada, de natureza qualitativa, procura investigar as opiniões dos agentes que participam no cluster do Alvarinho. O número reduzido de agentes 4 com interesses neste cluster sugere como válida a opção pelo desenvolvimento de um estudo qualitativo. Os procedimentos de pesquisa de dados adotados são as entrevistas em profundidade, procedimentos diretos e não estruturados de obter informação. As fontes utilizadas para a recolha de informação foram a consulta de sítios de produtores, adegas, distribuidores, associações de produtores e cooperativas, dos municípios de Monção e Melgaço e a consulta de sítios da Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes (CVRVV), o Instituto de Apoio às Pequenas e Médias Empresas e à Inovação (IAPMEI) e a Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP); a análise de documentos da CVRVV e publicações identificadas em diversas pesquisas e disponibilizadas pelas entidades supracitadas e por fim as entrevistas em profundidade. 1.4. Estrutura da dissertação A dissertação está dividida em oito capítulos que, por sua vez integram um conjunto de secções. Para permitir ao leitor uma atualização constante da informação apresentada cada capítulo inicia com uma introdução, onde são apresentados os seus principais objetivos, terminando com uma conclusão do mesmo. 5 Figura 1 - Estrutura da dissertação Capítulo 1 Introdução • Este capítulo inclui o enquadramento do tema de investigação e motivação para a sua escolha, os objetivos de investigação, a metodologia de investigação que será utilizada e, nesta secção, a estrutura da dissertação. Capítulo 2 A competitividade de um setor • Este capítulo como objetivo aprofundar os conceitos de competitividade, cooperação e cluster procurando relacioná-los com as PME’s. Capítulo 3 O processo de internacionalização • Este capítulo procura enquadrar teoricamente a internacionalização. Assim, identificam-se um conjunto de temáticas com as quais se pretende estabelecer as bases que tornem a afirmação de um setor ou de um cluster no mercado global. Capítulo 4 Metodologia • Este capítulo corresponde à definição e caracterização das metodológicas que suportam o trabalho de campo desta dissertação. abordagens Capítulo 5 Contextualização • Este capítulo apresenta uma caracterização dos vinhos verdes, em particular do Alvarinho e os respetivos comportamentos nos mercados. Capítulo 6 A perspetiva dos agentes institucionais • Este capítulo apresenta a perspetiva dos agentes institucionais sobre os diversos objetivos definidos para esta dissertação. Capítulo 7 A perspetiva das empresas • Este capítulo apresenta a perspetiva das empresas sobre os diversos objetivos definidos para esta dissertação. Capítulo 8 Conclusão • Este capítulo apresenta de forma resumidas as principais conclusões que resultam da investigação desenvolvida. Fonte: O autor. 6 Capítulo 2. A competitividade de um setor 2.1. Introdução O Capítulo 2, primeiro de revisão de literatura, tem como objetivo aprofundar os conceitos de competitividade, cooperação e cluster procurando relacioná-los com as PME’s. Na secção 2.2 é estudada a diversidade de definições do termo competitividade identificando-se, em simultâneo, as suas implicações quer ao nível de outros indicadores que o explicam quer ao nível da dimensão geográfica onde o conceito é analisado. A secção 2.3 aprofunda a análise da competitividade nas PME’s na medida de que, para além de representarem a totalidade das empresas em foco neste estudo, são consideradas fundamentais para o desenvolvimento económico. Importa então identificar os aspetos que mais influenciam esta competitividade. As secções 2.4 e 2.5 estabelecem a interligação entre a criação de um cluster e a forma como a cooperação pode, no seu interior, potenciar o crescimento e a melhoria dos indicadores económicos das empresas. É, também, analisado contributo da cooperação entre as empresas no seu processo de internacionalização. A secção 2.6 apresenta, de forma resumida, as principais conclusões deste capítulo. 2.2. A competitividade e os seus determinantes A competitividade do cluster do vinho Alvarinho é um aspeto chave para que o processo de internacionalização decorra de forma sustentada e baseada na capacidade dos seus operadores em oferecer um produto de qualidade a preços competitivos. No entanto, o conceito de competitividade é muitas vezes confundido e comparado com performance, vantagem competitiva, competição e equilíbrio (Eiriz et al., 2010). De facto, Buckley et al. (1988) salientam a grande variedade de conceitos de competitividade que inundam a literatura e, ao mesmo tempo, a extrema dificuldade de medi-la, aplicando-os. Os autores aprofundam o estudo deste conceito de competitividade identificando quatro níveis de análise do conceito de competitividade 7 (nacional, indústria, firma e produto) e salientam a imperatividade de identificar qual o nível a que a análise ocorre e o horizonte temporal para medir a competitividade. Também para estes autores a medida da competitividade deve incluir o desempenho competitivo, o potencial e o processo de gestão. Desde então, outros autores têm abordado esta questão, o que se traduz num elevado número de conceitos apresentados ao longo das últimas décadas. Tabela 1 - Definições de competitividade Autores Ano Definição A competitividade é a habilidade ou talento resultantes de Porter (1993) 1993 conhecimentos adquiridos capazes de criar e sustentar um desempenho superior ao desenvolvido pela concorrência. A competitividade é relativa e não absoluta. Depende dos valores do acionista e do cliente, da capacidade financeira que determina a disponibilidade para agir e reagir em contexto Feurer e competitivo e o potencial de recursos humanos e de tecnologia Chaharbaghi 1994 necessários à implementação das mudanças estratégicas (1994) necessárias. A competitividade apenas é sustentável através da manutenção de um equilíbrio entre estes fatores, o que pode ser de natureza conflituosa. Capacidade de uma economia para manter níveis de vida Huggins e 2006 crescentes para as suas populações, através da atração de Davies (2006) empresas com quotas de mercado estáveis ou crescentes. Capacidade de uma firma para atingir de forma sustentável os Chikán (2008) 2008 seus propósitos: responder aos requisitos dos clientes de forma lucrativa. Competitividade é a capacidade de competir em mercados de bens ou serviços. É baseada numa combinação de preço e Black et al. 2009 qualidade. Com qualidade semelhante e um estabelecimento (2009) com reputação as empresas apenas são competitivas se os seus preços são mais baixos que os dos rivais. Eiriz et al. Competitividade é a capacidade para gerar e manter uma 2010 (2010) vantagem competitiva Fonte: Porter (1993), Feurer e Chaharbaghi (1994), Huggins e Davies (2006), Chikán (2008), Black et al. (2009) e Eiriz et al. (2010). O conjunto de definições apresentadas na Tabela 1, bem como outras que se encontram na literatura, permitem confirmar a perspetiva de Cellini e Soci (2012) que afirmam que o conceito de competitividade é desconcertante e que, por isso, resiste à definição. A análise do conceito de competitividade não pode, porém, assentar 8 unicamente na sua definição e implicações importando, ainda, relevar e avaliar a sua dimensão geográfica. Cellini e Soci (2012) analisaram a competitividade em três níveis diferentes: empresa, “sistema local” e país. Para estes autores as empresas procuram a sua segurança e previnem o crescimento de outras procurando inclusivamente a eliminação do seu negócio. Ao nível dos distritos ou regiões verifica-se a relevância do problema da agregação levando os autores a afirmar que o conceito de competitividade emerge de forma complexa contendo diversos aspetos que transcendem a economia. Finalmente, ao nível do país os autores questionam se a sua competitividade deverá ser alcançada em detrimento de outros ou se, pelo contrário, esta resulta de um percurso partilhado. A resposta a esta questão induzirá assim a adoção de políticas protecionistas ou de políticas de maior abertura ao exterior. A resposta à questão das diferenças de performance entre países foi objeto de análise por parte de Fagerberg et al. (2007) que identificaram a tecnologia, a capacidade, a procura e o preço como os principais aspetos distintivos. Os autores concentraram-se no entanto nos três primeiros aspetos que, por dificuldades na sua medição, tendem a ser descurados. Para os autores a competitividade dos países é relativa uma vez que a análise deve ser feita não de forma direta mas comparando a sua performance em relação a outros. Esta competitividade tem para estes autores um duplo significado uma vez que resulta do bem-estar económico dos cidadãos, normalmente medida através do PIB per capita e a balança comercial do país. O estudo destes autores, realizado em 90 países entre 1980 e 2002 permitiu concluir da relevância da tecnologia, da capacidade e da procura para o crescimento económico. Balkyte e Tvaronaviciene (2010) destacam o facto de alguns investigadores entenderem a aplicação do conceito de competitividade como mais apropriado às firmas e aos produtos, enquanto outros destacam a competitividade nacional como uma determinante da competitividade da globalidade das firmas ou na sua perspetiva setorial. Os autores referem a existência de estudos que centram a sua análise em diferentes categorias nomeadamente a competitividade da firma, setorial, regional, nacional, bloco e internacional. 9 Outro aspeto que ressalta da literatura é a relação existente entre a competitividade e a inovação. Clark e Guy (1998), suportados por aquilo que definem como a opinião consensual, apoiada por fortes evidências empíricas, mostram que a inovação tem um efeito positivo na competitividade. Para os autores importa então compreender as políticas de inovação mais adequadas de acordo com o contexto de aplicação recorrendo para isso a uma metodologia experimental e analisando de forma cuidada os seus resultados. 2.3. A competitividade das micro-empresas e PME’s As PME’s são o suporte da economia de muitos países chegando por vezes a representar mais de 90% do conjunto do tecido empresarial em muitos deles (Poon e Swatman, 1999). Singh et al. (2008) observaram que as PME’s são consideradas como a maior fonte do crescimento económico. No entanto, os autores constatam que a ausência de um foco efetivo no desenvolvimento de estratégias, nas quais a maior parte é destinada a objetivos de curto prazo, confirma a prioridade atribuída à gestão do funcionamento. Por outro lado, os autores identificam os recursos limitados e a ausência de inovação no desenvolvimento das capacidades como os fatores que provocam os principais constrangimentos à capacidade exportadora destas empresas. As micro-empresas e as PME’s, como resultado da sua dimensão e da sua flexibilidade na adaptação à mudança, apresentam diversas vantagens em relação às grandes empresas (Salavou et al., 2004). Estes autores afirmam ainda que PME’s orientadas para o mercado e para a aprendizagem, que enfrentam forte concorrência, tendem a ser mais inovadoras. Por outro lado, os autores apresentam critérios como a dimensão, idade, quota de mercado, detenção de capital, intensidade de gestão e gama de produtos como sendo determinantes da inovação organizacional. A literatura apresenta ainda um conjunto alargado de perspetivas sobre a forma como a competitividade destas empresas pode ser analisada. Man et al. (2002) desenvolveram um modelo conceptual procurando relacionar as características dos proprietários e gestores destas categorias de empresas e a performance das suas 10 empresas. Para estes autores as empresas mais pequenas não são empresas de escala menor das grandes empresas uma vez que dependem da estrutura organizacional, da sua envolvente, dos tipos de liderança e da forma como competem com outras firmas. Man et al. (2008) procuraram investigar a relação entre as características empreendedoras e a performance das empresas através da operacionalização de uma teoria sobre a competitividade das PME’s. Esta teoria relaciona assim as competências empreendedoras e a performance com mais dois constructos, âmbito competitivo e capacidades organizacionais. O teste de hipóteses desenvolvido pelos autores juntos de 153 empresários evidenciou a contribuição direta e indireta das competências de oportunidade, relacionamento, inovação, humanas e estratégicas do empreendedor na performance de longo prazo da empresa através do seu âmbito competitivo e das capacidades organizacionais. Um dos aspetos já referido com relevante no sucesso de uma PME assenta nas características e competências da sua liderança. Hannon e Atherton (1998) referem que o desenvolvimento da capacidade, por parte do proprietário ou do gestor, de percecionar estrategicamente o ambiente externo respondendo-lhe apropriadamente favorecerá a eficácia do processo de planeamento para assegurar a competitividade das empresas. Neste contexto, Gunasekaran et al. (2011) apontam a globalização dos mercados e das operações e os avanços tecnológicos como fatores impulsionadores da competição entre as PME’s. Por outro lado a sua sobrevivência, ainda segundo estes autores, depende cada vez mais de um conjunto de fatores, nomeadamente a resiliência para reposicionar as suas estratégias e tecnologias. Outros fatores tais como as mudanças nas tendências dos mercados e o surgimento de novas técnicas de gestão e organizacionais são para Gunasekaran et al. (2011) indispensáveis à capacidade de competir e sustentabilidade das PME’s. Wolff e Pett (2006) realizaram um estudo em 182 PME’s da região CentroOeste dos Estados Unidos da América afirmam que a inovação e a internacionalização, proveniente de novos produtos e da melhoria de outros já existentes, aparentam estar relacionadas com o crescimento. Os autores constataram ainda a relação direta entre 11 a internacionalização e o crescimento e a melhoria dos produtos. Importa ainda referir que este estudo sugere que a inovação desempenha um papel relevante nas melhorias dos produtos e dos processos das PME’s. Os fatores associados às condições competitivas e à vantagem competitivas das PME’s foi estudo por Bennett e Smith (2002) através da realização de um inquérito a 1531 empresas do Reino Unido. Os resultados obtidos pelos autores parecem confirmar que o desenvolvimento de estratégias que visem, por um lado, a especialização e, por outro, a diferenciação da base de clientes é consequência do crescimento do negócio. Este estudo confirma ainda uma associação positiva entre o aumento da força para competir e o aumento da dimensão e da idade da empresa e uma relação negativa entre essa capacidade para competir e os níveis de competências, e o histórico de exportações e inovações. Franco e Haase (2010) procuraram identificar os principais fatores que contribuem para a fraca performance e o insucesso das PME’s. Os autores selecionaram um conjunto de oito empresas portuguesas que enfrentavam resultados fracos tais como, vendas baixas e baixo crescimento. A partir da realização de entrevistas, observações diretas e análise de documentos os autores puderam retirar algumas conclusões relevantes. Assim, o acesso limitado a recursos financeiros, as fracas condições de mercado, estrutura de pessoal inadequada, a falta de apoio institucional bem como de cooperação e relacionamentos foram os principais fatores apontados. Apesar de os fatores externos serem citados com mais frequência a análise desenvolvida pelos autores permitiu concluir que os fatores internos, embora não fossem devidamente reconhecidos, assumiam um carater iminente. No entanto, alguns dos entrevistados mostraram alguma consciência das fraquezas das suas empresas, nomeadamente a falta de visão e de estratégia, baixos níveis de educação e capital social inadequado. O estudo do tema da competitividade das empresas impõe ainda a análise do trabalho de Porter (2008), onde o autor, atualizando o seu artigo revolucionário de 1979, identifica, para além da rivalidade entre os concorrentes, quatro forças competitivas que podem afetar os lucros futuros das empresas. Efetivamente, a 12 pressão realizada pelos clientes junto da empresa e das suas rivais, que pode forçar a uma baixa de preços; o poder negocial dos fornecedores; a ameaça de novas entradas e a ameaça de substituição por outros produtos ou serviços são aspetos que podem condicionar a competitividade das empresas. Para o autor o gestor que observa a competição como algo que não resulta apenas da concorrência com os rivais detetará um leque mais alargado de ameaças e estará mais preparado para enfrentá-las. Assim, o autor considera que, mais do que nunca, pensar a competição de uma forma estrutural. 2.4. Criação de um cluster Um cluster pode ser definido como uma concentração de empresas e instituições relacionadas entre si numa área de negócio específica e inseridas na mesma localização geográfica que promovem em simultâneo a concorrência e a cooperação oferecendo eficácia, eficiência e flexibilidade (Porter, 1998). Para este autor a formação de um cluster do vinho Alvarinho pode representar um estímulo para a competitividade deste setor na medida que aumentará a competitividade das empresas, contribuirá para a inovação e estimulará a formação de novos negócios. A diversidade de definições relativas ao conceito de cluster existentes na literatura permite identificar três elementos fundamentais (Kuah, 2002). Em primeiro lugar, um cluster consiste num grupo de empresas associadas e interligadas que estão relacionadas vertical e/ou horizontalmente através das suas semelhanças e da complementaridade nos produtos, serviços, inputs, tecnologias e outputs; em segundo lugar os clusters são grupos de empresas interligadas e fisicamente próximas que favorecem a sua formação e proporcionam a criação de valor através das suas interações; por fim a partilha de localização não implica por si só a formação de um cluster quando benefícios como a inovação, produtividade, crescimento ou um nível de competitividade não são demonstrados. Assim, Kuah (2002) define cluster como um conjunto de indústrias concorrenciais e relacionadas, geograficamente próximas e sobre as quais é observável um aumento de performance. 13 Enright (2003) defende que alguns dos requisitos para a formação de clusters são a importância da marca, da distribuição e da investigação e desenvolvimento. Atualmente os sistemas de produção são caraterizados por duas forças principais: a crescente natureza global dos mercados e da economia que resultou no aumento da concorrência e uma nova divisão do trabalho, mais global e, por outro lado, a maior complexidade da tecnologia torna a inovação um aspeto chave para a competitividade das empresas industriais. O estabelecimento de redes de colaboração parece ser importante em ambos os processos (Álvarez et al., 2009). Os autores, através da análise da competitividade em quatro setores diferentes – alimentar, químico, eletrónica e veículos, procuraram analisar, no mercado espanhol, o impacto dos relacionamentos entre as empresas e outras organizações independentes na melhoria da competitividade e a sua vontade para partilhar o conhecimento com os seus concorrentes. Os autores concluíram que a internacionalização crescente dos mercados contribui para uma redefinição da importância do relacionamento cooperativo das empresas. Outra conclusão relevante para as empresas que procuram estabelecer relacionamentos é a importância atribuída à cooperação intraempresa, ao relacionamento entre o produtor e o consumidor e à cooperação entre concorrentes. Para Porter (1998), apesar de a localização se afigurar como fundamental para a concorrência o seu papel é muito diferente daquele que assumia nas gerações anteriores. No seu lugar a vantagem competitiva reside na utilização mais eficiente dos recursos, o que requer uma inovação contínua. O autor sugere que a competição é afetada pelos clusters em três vertentes: através do aumento da produtividade ali inseridas, indicando o rumo e o ritmo da inovação que suporta o crescimento da produtividade e estimulando a formação de novos negócios. Os clusters revelam assim que o ambiente externo das empresas desempenha um papel fundamental. Embora a abordagem de Porter aos clusters se tenha tornado uma referência no meio a popularidade do conceito não garante a sua profundidade (Martin e Sunley, 2003). Estes autores procuraram desconstruir o conceito destacando aspetos como a sua definição, benefícios, vantagens e o seu uso para a definição de políticas. Ainda de 14 acordo com os autores a literatura existente sobre clusters é uma constelação de ideias, algumas importantes para o desenvolvimento económico contemporâneo e outras meramente banais. Existem desta forma duas limitações que importam evidenciar: a primeira resulta do facto de que um conceito de tal forma elástico não pode fornecer um modelo universal e determinístico sobre a forma como a concentração está relacionada com o crescimento económico local e regional; a segunda é que o facto de existir uma associação entre indústrias de crescimento elevado e várias formas de concentração geográfica, isso não significa por si só que seja esta a principal causa do crescimento económico e do sucesso. Krugman (1991) afirma que para conseguirem economias de escala enquanto minimizam os custos de transporte as firmas tendem a localizar-se em regiões com muita procura, no entanto a localização da procura depende também ela da distribuição da produção. Para o autor torna-se fácil desenvolver um modelo de concentração geográfica baseado na interação das economias de escala com os custos de transporte. Belleflamme et al. (2000) observam a formação de clusters como resultado do peso relativo de três fatores distintos: a magnitude das economias de localização, a intensidade da competição de preços e o nível de custos de transporte. Estes autores procuram recolher as ideias de Porter sobre os clusters regionais transportando-as para a realidade da microeconomia. Por outro lado, a abordagem dos autores diverge em vários aspetos da de Krugman. Enquanto Krugman assume a competição monopolística e as externalidades pecuniárias suportadas pela expansão da procura local os autores focam-se nas externalidades tecnológicas e na concorrência de preço. Os autores sugerem ainda que a aglomeração ocorre com maior facilidade no contexto da economia global uma vez que apesar dos seus benefícios não deixam de poder colocar uma parte substancial dos seus produtos em mercados distantes. O conceito de cluster serve de referência para a definição de políticas que promovam a competitividade e a inovação baseadas na especialização e colaboração entre agentes do mesmo setor (Fromhold-Eisebith e Eisebith, 2005). No seu artigo, os autores sugerem que não são apenas as políticas públicas para os clusters que devem 15 ser observadas como favorecedoras dos mesmos mas também as iniciativas resultantes das próprias firmas. Neste quadro de evolução é possível verificar que as políticas de âmbito regional dirigidas às PME’s também mudaram (Diez, 2001). A autora afirma que estas políticas prestam uma maior atenção aos clusters e aos sistemas de inovação regional. Porém, existe um conjunto de fatores que, de acordo com a autora, dificultam a avaliação das políticas orientadas aos clusters tais como os objetivos intangíveis, a complexidade dos relacionamentos, a natureza sistémica e as características da própria região onde são aplicadas. 2.5. Cooperação entre atores de um cluster É frequentemente assumido que a localização em clusters ajuda as empresas a trocar, adquirir e gerar novo conhecimento. No entanto, Malmberg e Power (2005), reconhecem que existem reduzidas evidências de que a cooperação e as transações entre empresas na mesma localização sejam características de empresas de sucesso. Porém, ao mesmo tempo, os autores destacam o papel das dinâmicas do mercado de trabalho e da interação social, ao nível individual, como facilitadoras do processo de criação de conhecimento nas empresas e nos clusters. Os clusters afetam a competição em três vertentes que em conjunto refletem e amplificam as partes do diamante (Porter, 2000). Em primeiro lugar através do aumento da produtividade das empresas que os constituem através do acesso a inputs e recursos humanos especializados, das complementaridades de produtos, de marketing e de atividades de suporte, do acesso a instituições e a bens públicos e através de incentivos e medidas de performance; em segundo lugar através da crescente capacidade das empresas para a inovação e crescimento da produtividade como resultado de uma perceção mais rápida e mais clara das necessidades dos clientes, das tecnologias, das operações e das ações dos concorrentes; e por fim através do surgimento de novos negócios que suportam a inovação e contribuem para expansão do cluster. 16 Navickas e Malakauskaite (2009) investigaram o impacto da atividade dos clusters no desenvolvimento do conjunto de PME’s. De acordo com os autores as empresas tendem a cooperar com o intuito de recolher benefícios das sinergias em várias áreas de operação e melhorar a sua performance no ambiente competitivo. As formas de cooperação vão desde parcerias informais e alianças para o estabelecimento de redes, clusters, associações bem como plataformas tecnológicas complexas. Efetivamente, os autores, destacam o papel dos clusters como ferramentas de melhoria da produtividade e inovação uma vez que quer a produtividade quer a inovação estão fortemente associadas ao aumento da competitividade nos mercados nacionais e globais. Por outro lado, os autores entendem que as PME’s que participam em clusters podem beneficiar de infraestruturas especializadas, maiores possibilidades de penetrar em novos mercados, recursos humanos mais qualificados, capacidade de resposta às necessidades dos seus clientes e redução dos custos de operação. No contexto macroeconómico as políticas de cluster e o podem conduzir ao desenvolvimento económico e social, criando novos empregos e aumentando o nível de vida das pessoas. Para Bititci et al. (2004) uma rede pode ser definida como um modo distinto de organização em que as organizações participantes trabalham conjuntamente em equidade, compromisso e confiança na troca de informações, partilha de atividades e recursos favorecendo desta forma o aumento mútuo das suas capacidades geradoras de benefícios mútuos e os seus objetivos comuns através da partilha de riscos, responsabilidades e recompensas. Estes autores demonstram ainda que redes de empresas colaborativas podem criar uma proposta de valor única complementando, integrando e alavancando as competências e capacidades de cada uma das empresas. A definição de estratégias ao nível de uma rede implica que a heterogeneidade de recursos e a interdependência entre as atividades externas à empresa bem como a colaboração entre as empresas envolvidas devem ser consideradas simultaneamente (Gadde et al., 2003). Os autores advogam que uma empresa deve analisar a sua situação em termos dos seus relacionamentos e conexões. É por isso crucial que a empresa relacione as suas atividades com as atividades das outras empresas por forma 17 a favorecer a sua performance uma vez que é através da contínua combinação e recombinação dos relacionamentos de negócios que são identificadas novas dimensões de recursos. Para estes autores os gestores necessitam de compreender os mecanismos e as contingências que os afetam particularmente em lugar de aplicar regras de forma indiscriminada ou seguir outras firmas cuja situação pode ser substancialmente diferente. Brunetto e Farr-Wharton (2007) através de questionários realizados em 231 empresas australianas mostram que, apesar de os gestores procurarem novas oportunidades de negócio quando aderem a redes, o seu nível de confiança é moderador das suas interações na rede e afeta a sua predisposição para partilhar conhecimento relevante e reconhecer novas oportunidades de negócio. Johanson e Vahlne (2003) apontam para o facto de relacionamentos próximos e duradouros entre as empresas que desenvolvem negócios entre si são vistos por estas como cruciais. Para os autores, a construção destes relacionamentos depende de fatores como o tempo e os recursos. Os autores destacam ainda a necessidade de existir um nível de compromisso adequado com as empresas clientes, fornecedoras, intermediárias e cooperantes. Assim, a primeira preocupação deverá residir no desenvolvimento gradual dos relacionamentos em que as empresas já estão inseridas. A cooperação entre as firmas e a experiência destas na manutenção destes relacionamentos traduz-se em empresas com maior sucesso (Fink e Kessler, 2010). Ainda de acordo com estes autores o carater internacional dos relacionamentos contribui para a performance da empresa. Porém, o número de relacionamentos de cooperação não é, por si só, um fator decisivo para a performance da empresa. A constituição de redes representam por outro lado um conjunto de oportunidades para as pequenas e médias alcançarem uma internacionalização de sucesso (Torkkeli et al., 2012). Os autores procuraram examinar a influência das competências existentes nas PME’s para o estabelecimento de redes na sua propensão para internacionalizar e subsequentemente na sua performance internacional. O estudo, que contemplou um inquérito realizado a 298 empresas finlandesas de cinco setores diferentes, indica que a existência de maiores competências para trabalhar em 18 rede tem um efeito positivo na propensão para internacionalizar e na performance internacional. Assim, as empresas onde se verifica este pressuposto estão mais aptas a internacionalizar e a atingir níveis de performance mais elevados. Fink et al. (2008) analisaram a contribuição do compromisso para a performance de PME’s em contexto de internacionalização cooperativa. Os autores através de uma análise empírica realizada para uma amostra de 146 PME’s austríacas, checas e eslovenas concluíram que a internacionalização com base na confiança é uma alternativa interessante às outras formas de internacionalização, e, particular para as PME’s. A análise revela ainda uma contribuição significativa e positiva para a performance resultante do compromisso entre empresas que cooperam. Che Senik et al. (2011), através da análise de opiniões de especialistas e empreendedores da Malásia, procuraram responder às questões relativas às fontes e de forma as redes apoiam as PME’s a ganhar exposição internacional. Assim, as três fontes principais de relacionamentos são as instituições, os parceiros e as relações públicas, as quais permitem uma distribuição e acesso eficiente à informação sobre oportunidades internacionais. 2.6. Conclusão Este capítulo foi iniciado com a definição do conceito de competitividade, as suas implicações e a sua dimensão geográfica. Através da revisão de literatura realizada conclui-se que o conceito de competitividade foi analisado por inúmeros autores o que se traduz num elevado número de definições. Esta diversidade de definições dificulta inclusivamente a sua medição, de forma direta ou através de comparação, e aplicabilidade quer à empresa quer a uma região ou a um país. Por outro lado, as implicações do conceito são diversas surgindo por vezes relacionado a outros conceitos tais como a performance, vantagem competitiva, desempenho e inovação. O conceito de competitividade quando transportado para o universo das PME’s, que representam grande parte do tecido empresarial de muitos países, é influenciado por outros aspetos como a inovação, liderança e a capacidade empreendedora. Finalmente, atendendo ao facto de que o conceito de cluster, 19 enquanto fator de estímulo da competitividade, assume especial relevância identificam-se os requisitos para a sua formação e as suas características principais. É também analisada a capacidade das políticas públicas para influenciar a criação e sustentabilidade dos clusters e o papel da cooperação, dependendo sempre dos níveis de relacionamento e da amplitude das redes estabelecidas, como fonte de inovação e da produtividade. 20 Capítulo 3. O processo de internacionalização 3.1. Introdução O terceiro capítulo procura analisar a segunda grande área de estudo desta dissertação: a internacionalização. Assim, identificam-se um conjunto de temáticas com as quais se pretende estabelecer as bases que tornem a afirmação de um setor ou de um cluster no mercado global. A secção 3.2 apresenta algumas das evidências que suportam a decisão de internacionalização. A secção 3.3 identifica fatores impulsionadores que alavancam a internacionalização das empresas e as barreiras que se configuram como constrangimentos da mesma. Na secção 3.4 são analisados os modos de entrada e os modelos de internacionalização e as respetivas características e formas de implementação. Os contributos das estratégias de marketing e da comunicação, e de que forma estas podem contribuir para impulsionar um setor ou cluster no mercado global são evidenciados na secção 3.5. Por fim, a última secção, sintetiza as principais conclusões do capítulo. 3.2. Decisões de internacionalização O fenómeno da globalização colocou na ordem do dia a discussão sobre as decisões de internacionalização das empresas. De facto, encontram-se na literatura uma série de contributos que mostram a complexidade associada a este tema. Para Caves (1971), o investimento direto estrangeiro (IDE) ocorre principalmente em indústrias caracterizadas por certas estruturas de mercado, tanto no país de origem como no país estrangeiro. O oligopólio com diferenciação de produto normalmente prevalece onde empresas fazem investimentos "horizontais" para produzir no exterior a mesma linha de produtos que produzem no mercado doméstico. Oligopólio, não necessariamente diferenciado, no mercado doméstico é típico em indústrias que realizam investimentos diretos "verticais" para produzir no exterior matéria-prima ou outros inputs para seu processo de produção nacional. 21 No entanto, mais recentemente tem-se verificado que as decisões de internacionalização não dependem apenas da estrutura de mercado mas outros tais como a performance, a eficácia e o risco. Tallman e Li (1996) examinaram os relacionamentos entre a diversidade internacional e de produto e a performance da firma em empresas multinacionais americanas. De forma consistente foi possível demonstrar uma relação quadrática entre a diversificação do produto e a performance o que já não se verificou quando a relação foi estudada com outras medidas da diversidade internacional. Assim, os autores apresentam evidências sólidas de qua a performance está relacionada com a diversidade do produto de uma forma não linear. Foi ainda possível fornecer algumas evidências de que a performance está positivamente relacionada com o âmbito de operações internacionais mas não com a medida mais utilizada para a intensidade internacional, as vendas por subsidiárias estrangeiras. A sugestão da teoria de que a performance da empresa é inicialmente positiva mas que acaba por estagnar e se torna negativa à medida que a diversificação internacional aumenta é demonstrada pelos resultados (Hitt et al., 1997). Efetivamente, a diversificação de produtos é moderadora da relação entre a diversificação internacional e a performance. Assim, a diversificação internacional relaciona-se negativamente com a performance em empresas não diversificadas, positivamente em empresas com alta diversificação de produtos e de forma curvilínea em empresas de diversificação moderada de produtos. Por outro lado, os autores mostram que a diversificação internacional relaciona-se positivamente com a intensidade de investigação e desenvolvimento, mas que os efeitos da sua interação com a diversificação de produtos é negativa. Os resultados do estudo destes autores fornecem ainda evidências da importância da diversificação internacional para atingir uma vantagem competitiva mas também sugere que as complexidades da sua implementação para estas vantagens em empresas com produtos diversificados. Apesar da existência de múltiplos benefícios potenciais a implementação efetiva e a gestão adequada da diversificação internacional e de produto são fundamentais para se atingirem estes benefícios. Concluem então os autores que as empresas que 22 desenvolvem capacidades internacionais podem alcançar vantagens que não sendo facilmente imitáveis pelos concorrentes torna o desenvolvimento desta capacidade como um fator decisivo e de especial relevância. Mas, segundo Hsu e Boggs (2003), embora tenha havido um desenvolvimento significativo na teoria do comércio internacional e na literatura empírica sobre as causas e os resultados do IDE, ainda parece subsistir uma compreensão limitada de como o grau de internacionalização afeta o desempenho da empresa. É por isso mesmo que os autores decompõem medidas tradicionais de desempenho financeiro, aplicando duas medidas diferentes de grau de internacionalização, country scope e as vendas externas em percentagem das vendas totais, para medir os efeitos sobre desempenho financeiro dos diferentes graus de internacionalização. A evidência sugere que as vantagens da internacionalização são maiores do que as desvantagens nos níveis mais baixos de internacionalização, enquanto a multinacional pode gerir com eficiência seus recursos. Para um maior grau de internacionalização, no entanto, as vantagens são compensadas pelas desvantagens de restrições administrativas e limitação de recursos, ou os problemas de gestão eficiente dos recursos. Katsikea e Skarmeas (2003) identificam na literatura alguns elementos organizacionais e de gestão, que permitem, potencialmente distinguir entre unidades exportadoras mais ou menos eficazes e procuram identificar o perfil, ou seja, as características, das unidades mais eficazes e averiguar como estas se diferenciam de outras unidades de exportação, no que diz respeito a sistemas de controlo de gestão do comportamento das exportações, design organizacional e características e comportamentos dos gestores. Os resultados obtidos pelos autores indicam que, quando comparadas com unidades exportadoras com uma performance inferior, as unidades exportadoras mais eficazes apresentam níveis elevados de controlo de gestão das exportações e design das organizações. Para além disso, apresentam gestores de exportações com atributos comportamentais superiores, sobretudo ao nível do planeamento das vendas, apresentação, adaptação as vendas, suporte das vendas e conhecimentos técnicos; e, 23 ainda, algumas características específicas como a competência profissional e a orientação para o consumidor. Lages e Montgomery (2004) analisam empiricamente dados obtidos de mais de 400 gestores responsáveis pelas principais ventures de exportação das PME’s portuguesas. Estes concluem que a performance ao nível das exportações é um antecedente do compromisso no que respeita às mesmas e, ao mesmo tempo, afeta a forma como os gestores definem as suas estratégias. Especificamente, afeta o grau de adaptação do produto (efeitos indiretos significativos), o preço (efeitos diretos e totais significativos) e a distribuição (efeitos diretos, indiretos e totais significativos). Zaheer (1995) discute as consequências da decisão de internacionalizar e dos riscos associados. No seu estudo, este autor, procurou analisar se as empresas integradas em ambientes globais e competitivos assumem os riscos de internacionalização e se fatores como os países de destino, as especificidades das firmas, as práticas organizacionais ou a cópia de práticas utilizadas por outras empresas podem auxiliar a suplantar estes riscos. Estas preposições foram testadas em 24 dependências bancárias americanas e japonesas, uma vez que se trata de um setor global, extremamente competitivo e com produtos semelhantes o que sugere que os resultados possam ser aplicados em outros setores. Os resultados mostram a existência do risco de internacionalizar e o papel da cultura administrativa de empresa na vantagem competitiva das unidades internacionais. Os resultados, apresentados pelo autor, destacam ainda a dificuldade das empresas em adotar práticas organizacionais de outras empresas pelo que a utilização de práticas intrínsecas à empresa se afigura como a melhor opção para ultrapassar o risco de internacionalização. Um estudo organizacional semelhante do risco de internacionalização sugere que, para além de ser mutável em função do tempo decorrido, as suas consequências são uma performance inferior e um aumento das taxas de insucesso (Zaheer e Mosakowski, 1997). Por outro lado, este risco decresce à medida que a empresa permanece no mesmo local e com o aumento da desregulação e da globalização. Os autores identificaram ainda ambientes que, fruto da elevada proporção de firmas 24 estrangeiras, tendem a ser menos competitivos quer para as empresas nativas quer para as estrangeiras. 3.3. Fatores impulsionadores e principais barreiras da internacionalização O tema da internacionalização das empresas é abordado amplamente na literatura. De entre as diversas questões que são abordadas se alguns autores procuram destacar os seus fatores impulsionadores (e. g. Etemad (2004) ou, por outras palavras, as circunstâncias que levam as empresas a internacionalizar-se outros dedicam a sua atenção às principais barreiras (e. g. Cuervo-Cazurra et al. (2007) e Pinho e Martins (2010)). Hymer (1976) começa por abordar os fatores impulsionadores apontando duas razões principais. A primeira prende-se com o facto de em determinadas situações ser rentável controlar empresas em mais de um país, a fim de eliminar a concorrência entre elas. As empresas de diferentes países estão, frequentemente interligadas entre elas através dos mercados, ligação essa que pode tornar lucrativo ter uma empresa a controlar todas as empresas, em vez de ter firmas separadas em cada país. A segunda resulta de eventuais vantagens que a empresa possa deter numa determinada atividade que possam ser exploradas de forma rentável através da internacionalização. Podem contar-se inúmeros tipos de vantagem: custos mais baixos (que outras empresas) na aquisição de fatores de produção, uma função de produção mais eficiente, melhores linhas de distribuição ou um produto diferente. O autor refere, ainda, uma outra razão, menor, segundo ele, a diversificação porque o controlo da não é necessariamente envolvido. Etemad (2004) apresentou um modelo integrador que conjugasse as forças influenciadoras da internacionalização. O modelo consiste em três constructos teóricos fundamentais, cada um deles com um conjunto de forças e influências, e as respetivas relações bilaterais e multilaterais. Os constructos são denominados por fatores internos (push factors), fatores externos (pull factors) e forças moderadoras da 25 internacionalização. Os fatores internos são a natureza empreendedora e a busca Schumpeteriana para a “criação de oportunidades” principalmente quando a firma detém combinações inovadoras e está apta para coloca-las em prática. Os fatores externos representam aqueles que permitem a competitividade da empresa ou se traduzem em incentivos para a internacionalização. Por fim, o autor destaca as forças mediadoras que resultam da interação entre os fatores internos e externos e que exercem pressão sobre a empresa. No que respeita às barreiras à internacionalização, Hymer (1976) discute as dificuldades de internacionalização como o custo de realizar negócios no exterior. Efetivamente, para este autor, na ausência de caraterísticas distintas as empresas que operam em determinado país são provavelmente empresas do próprio país uma vez que detém vantagens sobre as estrangeiras. De facto, as firmas nacionais têm a vantagem de acederem a melhor informação sobre o país nomeadamente, a economia, a língua, as leis e o sistema político enquanto que para uma empresa estrangeira o acesso a esta informação, embora seja um custo fixo, pode ser considerável. Hymer (1976) aponta ainda uma barreira às operações internacionais, esta de natureza mais permanente, que resulta da discriminação por parte dos governos, dos consumidores e dos fornecedores. A discriminação governamental pode ser extrema envolvendo ações como a proibição de estrangeiros ou restrições severas às atividades que os estrangeiros podem desenvolver. Por outro lado, mas ainda dentro das possibilidades de ações governamentais, estão as expropriações que representam sempre um perigo maior para os estrangeiros do que para os nativos. As operações internacionais das empresas podem ainda estar limitadas por via da legislação existente no país de origem. Outra barreira importante resulta do risco associado à taxa de câmbio cuja variação afeta de forma consideravelmente diferente das empresas estrangeiras e as nativas. Leonidou (2004) analisa 39 barreiras à exportação referidas por diversos estudos empíricos encontrados na literatura, permitindo-lhe, demonstrar amplamente 26 que o percurso das PME’s no sentido da internacionalização enfrenta diversos obstáculos, cada um com determinada severidade e determinada significância. O autor distingue entre obstáculos associados a fraquezas internas (por exemplo, a escassez de capital) e obstáculos que resultam de fatores externos (como acontece quando os hábitos dos consumidores são diferentes). O autor refere, ainda, problemas que surgem na esfera doméstica do exportador (por exemplo, a falta de assistência e ou incentivos por parte do governo) e outros que ocorrem no mercado estrangeiro em que a empresa opera ou pretende operar (como a competição). As dificuldades num processo de internacionalização podem ser separadas em duas dimensões distintas: relacionamento entre os recursos e a vantagem e a especificidade de um recurso para uma empresa (Cuervo-Cazurra et al., 2007). A primeira dimensão, relacionamento com a vantagem, gera três categorias de dificuldades. Estes autores apontam assim a perda de vantagem fruto dos recursos alocados à internacionalização, a criação de desvantagem pelos recursos alocados à expansão e a ausência de recursos complementares para operar no exterior como elementos indutores de constrangimentos num processo de internacionalização. A segunda dimensão – especificidade – diz respeito a separação de cada uma das três categorias anteriores em dois subgrupos em função de as dificuldades estarem relacionadas especificamente com uma empresa ou, se pelo contrário, são comuns a um conjunto de empresas. Pinho e Martins (2010) procuraram, através de modelos paramétricos e semiparamétricos de opções utilizados para analisar os dados, identificar as principais barreiras que melhor podem explicar as decisões das empresas em exportar ou a não fazê-lo. Os resultados mostram que as empresas não exportadoras consideram a falta de conhecimento dos mercados potenciais, a falta de pessoal qualificado em comércio internacional, a falta de adequação técnica, o grau de competitividade do setor, a falta de apoios financeiros governamentais e das instituições financeiras e a falta de recursos humanos qualificados como as principais barreiras á exportação. No entanto, estas limitações parecem não ser entendidas da mesma forma pelas empresas exportadora que tendem a prestar maior atenção ao armazenamento e ao controlo do 27 fluxo do produto no mercado de destino, aos riscos de pagamento dos clientes internacionais e à falta de um espaço físico. Para estes autores, a explicação para esta situação poderá resultar do facto de estas empresas já operarem em mercados externos. 3.4. Modos de entrada e modelos de internacionalização O processo de internacionalização de uma empresa é dotado de grande complexidade; de facto, no âmbito da teoria da multinacionalização das empresas são colocadas diversas questões. Hirsch (1976) salienta duas: 1) quando? e 2) como? Em relação à primeira, o objetivo é determinar o momento ótimo no qual uma empresa (maximizadora do lucro) opta por entrar no mercado estrangeiro; em relação à segunda, pretende-se saber em que condições a empresa pretende servir aquele mercado, se por via da exportação ou através do IDE, isto é, por via de produção no local da entrega (país estrangeiro). Campa (1993) debruça-se sobre o momento ótimo de entrada num mercado estrangeiro, mais precisamente sobre o efeito da evolução esperada da taxa de câmbio na decisão. Para tal, o autor testa os efeitos das flutuações da taxa de câmbio real no IDE nos EUA, durante os anos 1980 e verifica, para a amostra utilizada, que a volatilidade da taxa de câmbio parece estar negativamente correlacionada com o número de investimentos estrangeiros. No que respeita à escolha entre os diferentes tipos de serviço ao mercado externo disponíveis, a literatura sobre a tomada de decisão das empresas tem procurado esclarecer este assunto, nomeadamente, evidenciando os fatores subjacentes a esta decisão estratégica. Johanson e Vahlne (1977) desenvolvem um modelo do processo de internacionalização da empresa, centrado no envolvimento progressivo com o país estrangeiro. Os pressupostos desse modelo baseiam-se na falta de conhecimento como um obstáculo importante para o desenvolvimento de operações internacionais e no reconhecimento das operações no exterior como a principal forma de aumentar 28 esse conhecimento. Para os autores, a internacionalização é o produto de um conjunto de decisões incrementais, pelo que o seu modelo pode dizer-se sequencial (envolvendo um processo escalonado através da exportações, licenciamento no exterior ou subsidiária comercial, antes de passar para o IDE puro). À semelhança de Johanson e Vahlne (1977), outros autores reconhecem que, para a empresa, a escolha do modo como se serve o mercado estrangeiro constitui um problema dinâmico (e. g. Buckley e Casson (1981)). Buckley e Casson (1981) procuram especificar o momento ótimo para comutar o modo de serviço ao mercado internacional, por referência a três variáveis: custos do serviço aos mercados estrangeiros, condições da procura nesse mercado e crescimento do mercado do país de destino. No seu modelo, a comutação envolve custos de ajustamento e a estratégia com menores custos de produção muda ao longo do tempo, devido ao crescimento do mercado estrangeiro favorável a tipos de serviço que envolvem maiores custos fixos e menores custos variáveis no mercado. Neste cenário, o momento ótimo de uma comutação futura, se existir, não é difícil de calcular, porque as variáveis atuais e futuros são conhecidas com certeza. Buckley e Tse (1996) visam a transformação do modelo de internacionalização sequencial, segundo os próprios, bastante ingénuo para algo mais substancial pela incorporação de uma razão lógica quer para o jumping over (e, portanto, missing out) de determinadas etapas quer para o abandono do projeto. Os autores defendem que, para empresas com pouca experiência internacional, a abordagem sequencial parece mais razoável em resultado da aversão ao risco, da reversibilidade e, ainda, porque do ponto de vista da aprendizagem, é uma ideia interessante. Mas, para uma empresa multinacional a abordagem sequencial é menos atraente e, ao mesmo tempo menos aplicada. Em contraste com o padrão tradicional de internacionalização sequencial de Johanson e Vahlne (1977), Knight e Cavusgil (2004) apresentam um outro conceito de internacionalização. Investigam, então, empresas ditas nascidas globais (ou bornglobals), ou seja, que operam internacionalmente desde o início do seu desenvolvimento e as capacidades que estas desenvolvem no sentido de alcançarem 29 um desempenho superior nos mercados internacionais. Destacam, para tal, o papel da inovação, bem como o conhecimento e as capacidades nestas empresas. Segundo estes autores, esta precoce internacionalização é, provavelmente, impulsionada por duas tendências que se manifestam numa redução substancial dos custos de transação da expansão ao mercado externo: a globalização dos mercados e os avanços tecnológicos no domínio das tecnologias de informação e comunicação, métodos de produção, transporte e logística internacional. Também Cuervo-Cazurra (2011) apresenta uma estratégia alternativa: a internacionalização não sequencial, segundo a qual uma empresa seleciona, estrategicamente, um país muito diferente do seu país de origem para a sua primeira expansão ao exterior. O autor defende que uma empresa pode desenvolver, internamente, conhecimento que pode ser útil na superação das dificuldades inerentes à internacionalização. Segundo estes, o conhecimento é a base da internacionalização duma empresa e três tipos de conhecimento – internacionalização, empresarial e institucional – afetam o processo de internacionalização. Assim, algumas empresas desenvolvem aspetos desses três tipos de conhecimento no seu país que lhes permite superar as dificuldades de internacionalização – conhecimento sobre as formas como lidar com a complexidade, conhecimento para gerir as diferenças nas condições competitivas e o conhecimento para gerir as diferenças ao nível dos ambientes institucionais – e, portanto optar por uma internacionalização não sequencial. Ainda em relação à questão como?, Pan e Tse (2000) propõem um modelo hierárquico no que refere à escolha do modo de entrada no mercado externo. Na escolha do modo de entrada, a empresa pode começar por decidir se a estratégia de internacionalização é promovida recorrendo a estratégias equity ou non-equity, resultando desde logo desta opção um trade-off entre o nível de investimento e o grau de controlo das operações. Nas primeiras, a empresa escolhe entre a criação de uma subsidiária detida inteiramente pela empresa ou por uma equity joint venture. Nas segundas, deve escolher entre acordos comerciais ou exportação. 30 Outro aspeto abordado na literatura prende-se com a importância do estabelecimento de relacionamentos entre os responsáveis das diferentes organizações e o seu papel na criação de rotinas entre ambas as empresas (Johanson e Vahlne, 2009). Segundo estes autores estas rotinas são fortalecidas através de trocas sociais originando, como resultado, a acumulação de conhecimento, confiança e o aumento do grau de envolvimento. Finalmente, importa também referir o papel do self-commitment no contexto da cooperação na internacionalização das PME (Fink et al., 2008). Neste trabalho é defendido que o self-commitment como mecanismo de coordenação é manifestamente relevante em contexto de internacionalização cooperativa. Por outro lado, estes autores operacionalizam este conceito levando-o a ser tido em linha de conta em contextos de cooperação internacional. 3.5. Estratégia de marketing e de comunicação internacionais O'Dwyer et al. (2009) constatam que nas PME’s as atividades de marketing são desempenhadas pelos proprietários ou gestores e são definidas tendo por base as táticas para atrair novos negócios, o foco nos concorrentes, os clientes e a envolvente de negócios. Para estes autores as componentes fundamentais de um marketing inovador estão relacionadas com as atividades que rodeiam e se focam nas suas variáveis de marketing, no marketing integrado, no foco no mercado e nos clientes. Desta forma, os proprietários ou os gestores de pequenas ou médias empresas podem alcançar uma vantagem competitiva sustentável ou encorajarem uma forte orientação de mercado que resulta da aplicação de práticas inovadoras – fator chave no nível de lucro, crescimento de longo prazo e sobrevivência das PME’s. Gilmore et al. (2001) reconhecem que as PME’s não podem utilizar o marketing convencional devido aos recursos limitados inerentes às PME’s e também porque os seus proprietários e gestores agem e pensam de forna diferente das decisões de marketing convencional adotadas nas grandes empresas. Para estes autores o marketing baseado em networking é favorecido e melhorado em função do advento da experiência. Os proprietários e os gestores usam as suas forças para ultrapassar as 31 suas fraquezas, aprenderem com os erros e entenderem o que correu mal para evitar os mesmos erros no futuro, aprenderem com os sucessos e para identificar todas as circunstâncias que contribuem para o seu sucesso. Numa análise mais específica, Spawton (1990) procurou caracterizar o marketing de vinhos adaptando o processo de marketing à indústria de vinhos o qual inclui aspetos como a compreensão do mercado, o desenvolvimento de estratégias que visem o crescimento e a vantagem competitiva, o planeamento de marketing, a comunicação e a gestão das marcas da empresa de vinhos. De acordo com Aaker (1996), a construção de uma marca deve observar as seguintes etapas: análise estratégica da marca, definição do sistema de identidade da marca e a implementação da identidade da marca. Estas etapas integram elementos como análises dos consumidores e da concorrência, proposição de valor, credibilidade, e posicionamento. Johnson e Bruwer (2007) estudaram a imagem de marca regional dos vinhos da das regiões da Califórnia e os seus efeitos dessa imagem nas perceções de qualidade dos consumidores quando incluídas nos seus vinhos. O inquérito realizado junto de 570 consumidores de vinhos permitiu concluir que a imagem de marca regional é um fator importante para as suas expetativas aquando da avaliação de marcas de vinhos. Os autores apontam ainda para o facto de os consumidores utilizarem as sugestões, a informação e as imagens da marca da região na sua avaliação comparativa de vinhos. Quase sem exceção a adição de informação regional num rótulo aumentava a confiança na qualidade do produto. Wong e Merrilees (2008) procuraram através de um inquérito realizado junto de 297 PME’s australianas identificar os fatores que afetam as suas comunicações de marketing internacional. O modelo permite assim comprovar a existência de dois fatores: o compromisso internacional e a adaptação da marca. Os resultados apresentados pelos autores sugerem que o compromisso internacional é o fator que mais significativamente afeta as comunicações de marketing internacional. No entanto, é também reconhecido que sem os recursos necessários as firmas estão menos aptas para explorar comunicações de marketing internacional em mercados 32 externos. Importa ainda referir que, para os autores, a adaptação da marca é importante porque permite ajustá-la às características dos mercados externos. Wong e Merrilees (2007) afirmam que a gestão da marca assume um potencial tremendo para o marketing internacional. No entanto, as maiores implicações da globalização dos mercados é, segundo os autores, a necessidade de os profissionais de marketing destrinçarem as suas estratégias por forma a adequá-las às caraterísticas dos diversos ambientes externos. Os autores procuraram examinar os relacionamentos entre diversos temas da gestão da marca, nomeadamente a orientação, o reposicionamento e a performance e os temas do marketing internacional como a estratégia, a performance financeira, o controlo das atividades de marketing internacional, o compromisso internacional e o ambiente macro de marketing. Assim, o inquérito realizado junto de 315 empresas australianas permitiu, aos autores, concluir que a performance da marca representa uma boa medida da performance global das empresas. Com o estudo realizado foi ainda possível identificar dois papeis chave para a gestão da marca como influência na definição da estratégia de marketing internacional. Os dois papéis chave, que as empresas que procuram uma performance internacional mais elevada devem observar, são a orientação da marca e o reposicionamento internacional da marca. Rugman (2001) aconselha os gestores que querem aumentar as suas receitas e lucros internacionais a pensarem de forma regional e a agirem localmente, esquecendo por isso o mercado global. Jeffcoate et al. (2002) destacam o comércio eletrónico como sendo uma boa estratégia para uma associação de empresas divulgar e comercializar os seus produtos. No entanto, os autores adiantam que em primeiro lugar qualquer empresa deve compreender a sua posição no mercado e a dos seus concorrentes. Assim, para as empresas que pretendam alcançar uma performance superior, os autores apontam as etapas para estas empresas identificarem as boas práticas em seu redor: em primeiro lugar é necessário identificar a motivação da empresa e a sua abordagem perante o crescimento; em seguida estabelecer uma estratégia genérica adequada; em terceiro lugar definir um conjunto de objetivos que sirvam de suporte a essa estratégia, e por 33 fim identificar os fatores críticos de sucesso que são relevantes para a motivação, estratégia e objetivos da empresa. Os autores sugerem ainda que as PME’s devem analisar as suas forças e fraquezas de forma continuada comparando-as com os seus concorrentes por forma a avaliar a sua performance numa base regular. Outras abordagens interessantes para a promoção internacional de vinhos são apontadas por Chancy (2002). A autora sugere, por um lado, a combinação do marketing de vinhos com o marketing de outros produtos cuja qualidade seja já reconhecida no mercado alvo e, por outro, a maximização das oportunidades de marketing resultantes das visitas de turistas através do turismo de vinhos, as visitas a caves e as provas de vinhos. 3.6. Conclusão As três primeiras secções deste capítulo pretendem, recorrendo à literatura, identificar um conjunto de aspetos que devem ser equacionados aquando do processo de internacionalização. Como?, quando?, onde? e porquê? são as questões colocadas pelas empresas quando decidem o tipo de entrada no mercado alvo, o momento ótimo para internacionalizar, a escolha do local e os motivos para internacionalizarem ou, pelo contrário, os motivos para efetivarem essa internacionalização. Verifica-se uma influência das estruturas de mercado, de performance, da eficácia, do risco e ainda a diversificação internacional na resposta a estas questões. Se por um lado, fatores como os custos dos fatores de produção e as linhas de distribuição são identificados como fatores impulsionadores da internacionalização; por outro, questões como as desvantagens das empresas estrangeiras no que respeita ao acesso à informação sobre esses países, a escassez de capital, os diferentes hábitos dos consumidores e a falta de incentivos por parte do governo do país de origem constituem as principais barreiras apresentadas na literatura. Todas estas questões têm que ser tidas em consideração aquando da decisão sobre os modos de entrada e os modelos de internacionalização concluindo alguns autores que empresas com pouca experiência internacional, como é o caso das empresas com reduzido a informação, parecem optar por um modelo de internacionalização sequencial ao 34 contrário do que acontece com empresas multinacionais mais experientes. Na última secção analisaram-se as estratégias de marketing e de comunicação que atendendo às especificidades das PME´s, nomeadamente a falta de recursos técnicos, financeiros e humanos, devem potenciar os seus recursos através da implementação de ações efetivas e da escolha de meios adequados à promoção e disseminação da marca. 35 Capítulo 4. Metodologia 4.1. Introdução O Capítulo 4 que aqui se inicia corresponde à definição e caracterização das abordagens metodológicas que suportam o trabalho de campo desta dissertação. Na secção 4.2 é apresentado o procedimento de pesquisa de dados adotado – a entrevista – e apontadas as suas principais características, vantagens e limitações. A secção 4.3 delimita a área geográfica do estudo que incidirá nos concelhos onde é produzido o vinho Alvarinho. A secção 4.4 apresenta a metodologia utilizada para a recolha de dados e a forma como estes dados serão objeto de tratamento. Relaciona-se ainda nesta secção os objetivos da investigação e os respetivos tópicos de investigação que serviram de base à construção do guião de entrevista. 4.2. Método de estudo Nesta dissertação o estudo do tema apresentado será realizado recorrendo a um estudo de natureza qualitativa procurando descrever as características, ações e as atitudes perante a internacionalização e a competitividade dos principais atores do cluster do Alvarinho. Esta opção pelo desenvolvimento do estudo qualitativo reside essencialmente no reduzido número de agentes que de forma direta ou indireta tem influência e ou interesses neste cluster. Os procedimentos de pesquisa de dados adotados são as entrevistas em profundidade, procedimentos diretos e não estruturados de obter informação. A entrevista carateriza-se pela aplicação de processos fundamentais de comunicação e de interação humana (Quivy e Campenhoudt, 2003). Estes autores defendem ainda que, corretamente valorizados, estes processos permitem retirar das entrevistas informações e elementos de reflexão muito ricos e matizados. Para estes autores a entrevista semiestruturada, que é a mais utilizada em investigação social, não é inteiramente aberta nem encaminhada por um grande número de perguntas 37 precisas. Ainda de acordo com estes autores as principais vantagens deste método são o grau de profundidade dos elementos de análise recolhidos e a flexibilidade o que permite recolher testemunhos e as interpretações dos interlocutores. Por outro lado, a flexibilidade do método, a exigência no tratamento das informações recolhidas e o facto de poder levar a acreditar numa completa espontaneidade do entrevistado e a total neutralidade do entrevistador são apontadas pelos autores como algumas das limitações deste método. Ritchie e Lewis (2003) identificaram quatro características das entrevistas em profundidade que ao serem levadas em conta permitem uma melhor clarificação e operacionalização dos objetivos do estudo. Em primeiro lugar das entrevistas em profundidade espera-se que combinem alguma forma de estrutura com flexibilidade pelo que normalmente são baseadas em algum tipo de guia de tópicos que permitem a abordagem dos assuntos de forma mais conveniente para o entrevistado mas por outro lado para fornecer ao investigador a possibilidade de estimular e aproveitar questões que vão surgindo no decorrer da entrevista. Nesta dissertação, atendendo à diversidade de funções dos entrevistados, esta valência assume uma relevância especial uma vez que permite a adaptação dos diferentes tópicos de investigação a cada um deles. Uma segunda característica prende-se com a natureza interativa deste método uma vez que os dados e informações recolhidos são gerados através da interação entre o investigador e o entrevistado. Esta caraterística traduz-se na possibilidade de explorar temas ou questões que em função dos conhecimentos e interesse dos entrevistados se revelam como uma mais-valia para o estudo. Outra característica deste método reside no facto de permitir ao investigador atingir profundidade nas respostas em termos de penetração, exploração e explicação através da colocação de questões de follow-up para facilitar a compreensão da exposição do entrevistado. Por fim, uma última característica consiste no caráter generativo da entrevista na medida que esta pode contribuir para, em determinado momento, criar novo conhecimento. Em suma, o conjunto destas características das entrevistas qualitativas implicam que estas ocorram de forma presencial uma vez que seria extremamente difícil fazê-lo ao telefone, com o grau de profundidade desejado. 38 À partida para o trabalho de pesquisa, ainda de acordo com Ritchie e Lewis (2003), foram observadas algumas das considerações relativas aos requisitos para um entrevistador qualitativo. A capacidade de ouvir e de processar a informação é fundamental para depois ter as ferramentas necessárias para continuar a investigar. Por outro lado, o investigador necessita de pensar de forma rápida para identificar os pontos-chave focados pelo entrevistado e assim avançar na entrevista da forma mais adequada possível. Por fim, boa memória pode permitir o regresso, em fase posterior da entrevista, a tópicos ou questões que com o evoluir da entrevista necessitem de clarificação ou aprofundamento. 4.3. Técnicas de recolha e o tratamento dos dados A diversidade de atores envolvidos no cluster do vinho Alvarinho e os seus respetivos papéis no desenvolvimento do mesmo implica que a recolha de dados tenha por base diversas fontes. De entre as fontes utilizadas importa destacar as seguintes: a consulta de sítios de produtores, adegas, distribuidores, associações de produtores e cooperativas enquanto entidades diretamente relacionadas com a cadeia de valor do vinho Alvarinho; a consulta de sítios dos municípios de Monção e Melgaço enquanto agentes políticos e de políticas públicas de proximidade ao cluster; e a consulta de sítios de entidades facilitadoras do desenvolvimento do cluster e promotoras do vinho Alvarinho, nomeadamente a CVRVV, o IAPMEI e a AICEP; a análise de documentos da CVRVV e publicações identificadas em diversas pesquisas e disponibilizadas pelas entidades supracitadas e por fim as entrevistas em profundidade. A consulta dos sítios dos diversos atores do cluster e os documentos e as publicações consultados permitiram a recolha de informação relevante para a contextualização do setor e consequentemente do estudo. O sítio oficial da CVRVV localiza a atual Região Demarcada dos Vinhos Verdes estendendo-se por todo o noroeste do país, na zona tradicionalmente conhecida como Entre-Douro-e-Minho. 39 Questões de ordem cultural, microclimas, tipos de vinho, encepamentos e modos de condução das vinhas levaram à divisão da Região Demarcada dos Vinhos Verdes em nove sub-regiões, entre as quais a de Monção e Melgaço que integra os concelhos que lhe dão o nome. Esta região centenária situa-se no noroeste de Portugal e o facto de se encontrar inserida num anfiteatro natural, protegida a norte e a sul, a este e a oeste por fragas e serranias, conferiu-lhe características únicas para a produção de monovarietais de Alvarinho (APA, 2013). Neste contexto o estudo será realizado na sua totalidade nos concelhos de Monção e Melgaço. Exceciona-se aqui as entrevistas realizadas junto de entidades facilitadoras como a CVRVV e a ViniPortugal. No que diz respeito às entrevistas a amostra é constituída pelos atores do cluster do vinho Alvarinho, nomeadamente as empresas, produtores, distribuidores e outros agentes integrantes do cluster. A seleção foi feita através de um método intencional de amostragem, portanto não probabilístico. As entrevistas foram agendadas previamente por telefone e realizadas aos responsáveis ou aos técnicos, de cada uma das empresas e entidades selecionadas, com maior nível de conhecimento nas áreas do estudo. A importância da profundidade, o sentido de cada resposta e a linguagem de cada um dos entrevistados como forma de entender o significado de cada resposta implica que os dados sejam recolhidos na sua forma natural (Ritchie e Lewis, 2003). Desta forma foi utilizado um gravador de áudio de forma a recolher com exatidão as respostas e opiniões de cada um dos entrevistados. Seguindo as regras para este tipo de metodologia foi construído um guião de entrevista que permitisse realizar entrevistas com duração aproximada de 60 minutos cada e aferir com cada um dos entrevistados a informação necessária. A construção do guião, apresentado na Tabela 2, teve por base a necessidade orientar a entrevista no sentido de procurar resposta a cada um dos objetivos da investigação que suportam esta dissertação. Assim, a elaboração do guião de entrevista procurou definir as linhas orientadoras para recolher a informação necessária ao esclarecimento dos seguintes objetivos de investigação: 40 Análise do setor dos Vinhos em Portugal, em particular do vinho Alvarinho da sub-região de Monção e Melgaço; Identificação das principais barreiras à internacionalização do vinho Alvarinho da sub-região; Identificação dos modelos de internacionalização mais adequados; Avaliar a importância da distribuição no desenvolvimento das operações do cluster; Avaliar o nível de cooperação entre os diversos stakeholders como fonte propulsora da internacionalização do setor. Apresentação de orientações de marketing e de comunicação de apoio à internacionalização do vinho Alvarinho da sub-região. Na Tabela 2 é, então, apresentado o referido guião que relaciona os objetivos de investigação e os tópicos orientadores do mesmo e ainda as questões formuladas. 41 Tabela 2 – Guião de entrevista Objetivo de Investigação Tópico O setor: indicadores quantitativos e qualitativos Políticas públicas Análise do setor dos Vinhos em Portugal, em particular do vinho Alvarinho I&D, Inovação e Conhecimento Marcas e embalagens Questão Como caracteriza o setor dos vinhos verdes Alvarinhos em Portugal? E quais as perspetivas de futuro? Qual a maior mais-valia que os vinhos Alvarinhos oferecem? Como avalia a performance dos vinhos Alvarinhos no contexto vinícola nacional e internacional? Como avalia os níveis de produção atuais da sua empresa? Caso necessário existe capacidade instalada para aumentar essa produção? Qual a sua avaliação das políticas públicas existentes para o setor(apoios, promoção, etc.) nomeadamente nos vinhos Alvarinhos? Em que tipologia de ações acha fundamental a colaboração e/ou a presença das autoridades locais? Em sua opinião que políticas, estratégias e orientações deveriam ser seguidas pelas autoridades nacionais de forma a reforçar a sustentabilidade e crescimento do setor? Que importância atribui a estas enquanto potenciadoras do crescimento e competitividade do setor? Em que áreas entende como relevante a colaboração das entidades com competências em I&D, inovação e conhecimento? Quais os produtos com mais capacidade de penetração no mercado (caso exista mais que uma Marca)? Em contexto de internacionalização pondera criar novas Marcas por forma a reforçar a qualidade e quantidade da oferta atual? Pratica algum tipo de segmentação de mercado? Estratégia comercial e de marketing Que meios de comunicação utilizam na promoção dos produtos? Na promoção internacional costuma marcar presença em feiras ou que outro tipo de meios de comunicação utiliza? Com que objetivos? 42 Objetivo de Investigação Identificação das principais barreiras à internacionalização do vinho Alvarinho Tópico Dificuldades na internacionalização Presença no mercado externo Identificação dos modelos de internacionalização mais adequados Capacidade interna/potencial de crescimento nestes e em outros mercados Formas de internacionalização adotadas Avaliar a importância da distribuição no desenvolvimento das operações do cluster Importância da distribuição na estrutura da empresa e no crescimento dos seus negócios Questão Atualmente efetua exportação de vinhos Alvarinhos? Se não, porquê? Quais as maiores dificuldades que encontra na penetração no mercado externo? Os clientes/encomendas nacionais representam, de alguma forma, um obstáculo à internacionalização? Quais os países em que comercializa os seus vinhos? Que razões o levaram a escolher estes países? Considera existirem as condições internas (empresa) e externas (conjuntura económica entre outras) para aumentar as exportações? Em que regiões/países entende que se deveria apostar? De que forma comercializa e distribui os seus produtos nos mercados internacionais? Quais os aspetos/fatores que teve em conta quando optou por este modelo de comercialização e distribuição? Equaciona alterar a estratégia de comercialização e/ou distribuição nos mercados externos. Considera a distribuição um aspeto central para o sucesso no mercado nacional e internacional? Porquê? Costuma procurar alternativas de distribuição? Com que frequência? 43 Objetivo de Investigação Avaliar o nível de cooperação entre os diversos stakeholders como fonte propulsora da internacionalização do setor Apresentação de uma estratégia de marketing e de comunicação de apoio à internacionalização do vinho Alvarinho Tópico Questão Níveis de relacionamento com os outros agentes e atitude perante a possibilidade de formação de um cluster Existe algum tipo de relacionamento com outros operadores do setor por forma a potenciar a comercialização dos vinhos nos mercados externos? Quais? Como avalia a possibilidade do desenvolvimento do cluster por forma a definir políticas integradas de ação? Considera a concertação de esforços importante para a maximização das vendas Importância de no mercado externo? concertação de esforços para a Estaria disposto a partilhar contatos, boas internacionalizaç práticas e estratégias com outros ão operadores em nome do "bem comum" e numa perspetiva de cooperação? Identificação de boas práticas seguidas por Do seu conhecimento, no que respeita a outros estratégias de marketing e à promoção, produtores quais as boas práticas que identifica em internacionais produtores de outros vinhos nacionais e de vinhos na internacionais? promoção dos seus produtos Fonte: O autor. Com este guião procurou-se reunir as informações necessárias para responder às proposições formuladas. A sua formulação teve como objetivo confirmar a perspetiva dos diversos agentes sobre a realidade do setor e as dinâmicas que lhe são subjacentes. As proposições formuladas são apresentadas de seguida: P.1. As políticas públicas, de apoio ao setor, vigentes são as adequadas para a sustentabilidade do setor. P.2. A estratégia de marketing das empresas pode ser valorizada através da colaboração com entidades do sistema científico e tecnológico nacional. P.3. As decisões relativas à internacionalização das empresas estão em conformidade com a sua dimensão e o funcionamento do mercado global. 44 P.4. A cooperação, no seio de um cluster, potencia a capacidade de internacionalização das empresas. P.5. Existem boas práticas de comunicação, nacionais e internacionais, que, adotadas na sub-região, possam contribuir para o aumento do reconhecimento e da notoriedade dos vinhos. As questões relacionadas a cada tópico representaram um apoio claro para o desenrolar da entrevista e revelaram-se fundamentais para a condução das mesmas. As entrevistas, embora partilhando objetivos e tópicos de investigação comuns, foram, no que diz respeito às questões, desenhadas em função da tipologia de entidade. Essencialmente importa identificar dois grupos como os mais relevantes para a distinção quer das questões colocadas, quanto à forma e à substância, quer dos resultados que se pretendem alcançar. Assim, enquanto o primeiro grupo inclui todas as entidades facilitadoras e promotoras do funcionamento do cluster do vinho Alvarinho; o segundo grupo engloba os produtores, as adegas, os distribuidores e as cooperativas. A Tabela 3 apresenta informação genérica sobre as entrevistas realizadas. 45 Tabela 3 – Informação genérica sobre as entrevistas realizadas Entidade Adega Cooperativa Regional de Monção Associação de Produtores de Alvarinho Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes Instituto Politécnico de Viana do Castelo Município de Monção Palácio da Brejoeira PROVAM Produtores de Vinhos Alvarinhos de Monção Quinta de Soalheiro ViniPortugal Data de Duração Realização da (minutos) Entrevista Tipologia Nome do Entrevistado Função Empresa Armando Fontainhas VicePresidente 24-10-2013 41 Institucional Miguel Queimado Presidente 03-12-2013 59 Institucional Manuel Pinheiro Presidente 01-10-2013 47 Institucional Ana Paula Vale Diretora da Escola Superior Agrária 29-11-2013 44 Presidente 03-12-2013 55 Administrador 25-09-2013 47 Institucional Empresa Augusto Domingues Emilio Magalhães Empresa Ana Sofia Rodrigues Sócia-Gerente 16-10-2013 50 Empresa António Cerdeira Empresário 21-11-2013 43 01-10-2013 45 Gestora de Institucional Tânia Oliveira Mercados Internacionais Fonte: O autor. O tratamento dos dados foi dividido em três fases. A primeira fase consistiu na audição e transcrição das entrevistas previamente gravadas. Na fase seguinte, foi analisado o seu conteúdo procurando reunir a informação necessária para apresentar a perspetiva de cada um dos grupos de entrevistados relativamente aos objetivos da investigação. Por fim, a informação recolhida junto de cada grupo foi cruzada procurando encontrar resposta para as proposições formuladas. 46 4.4. Conclusão Neste capítulo iniciou-se pela apresentação do método de estudo utilizado. De facto, atendendo ao número reduzido de atores do cluster optou-se pela realização de um estudo qualitativo. A entrevista, pela profundidade dos dados recolhidos e pela sua flexibilidade afigurou-se como o formato mais adequado. Na secção 4.3 são identificadas as fontes de recolha de dados destacando-se aqui a informação recolhida em sítios de diversas entidades envolvidas no cluster, a análise de documentos e publicações, as entrevistas e os estudos de caso. De seguida, partindo dos objetivos definidos para a investigação estes foram relacionados com os tópicos de investigação para que fosse possível recolher a informação para resposta às proposições formuladas. Por fim, apresentou-se a forma de tratamento dos dados. 47 Capítulo 5. Contextualização 5.1. Introdução Com o presente capítulo pretende-se enquadrar o estudo realizado no âmbito desta dissertação no contexto nacional de produção de vinho, nomeadamente dos vinhos verdes e, em particular do vinho Alvarinho, procurando evidenciar não só as suas características, como também identificar o seu potencial de internacionalização. Assim, na secção 5.2 será apresentada uma breve descrição dos vinhos verdes e da sub-região de Melgaço e Monção onde estes são produzidos. Na secção 5.3 é apresentado o vinho Alvarinho salientando, nomeadamente as especificidades próprias que o tornam único. Na secção 5.4 é apresentado um resumo do cenário de exportação de vinhos portugueses, procurando mostrar o futuro da internacionalização dos mesmos. A secção 5.55.4 apresenta algumas conclusões sobre o contexto do setor. 5.2. O vinho verde Em 1908, a Carta de Lei de 18 de Setembro e o Decreto de 1 de Outubro do mesmo ano demarcam a “Região dos Vinhos Verdes” (CVRVV, 2013) onde, como o próprio nome indica se produz o chamado “vinho verde” Caracterizado por possuir um conjunto de fatores muito específicos que definem a sua tipicidade (IVV, 2013), segundo a CVRVV (2013), trata-se de um vinho “naturalmente leve e fresco”, com baixo teor alcoólico, frutado, fácil de beber e ótimo como aperitivo ou no acompanhamento de refeições leves e equilibradas, como saladas, peixes, mariscos, carnes brancas e, ainda, alguns pratos internacionais, como tapas, sushi, sashimi. As especificidades, que diferenciam o vinho verde dos restantes vinhos do mundo são fruto, “por um lado, das características do solo, clima e fatores sócio- 49 económicos da Região dos Vinhos Verdes, e, por outro, das peculiaridades das castas autóctones da região e das formas de cultivo da vinha” (CVRVV, 2013). Neste sentido, é importante o reconhecimento da Denominação de Origem, apresentado ao Office International de la Vigne et du Vin (OIV), em Paris (1949), e posteriormente, o reconhecimento do registo internacional desta Denominação de Origem pela Organização Mundial da Propriedade Intelectual (OMPI), em Genebra (1973), que confere a exclusividade do uso da designação “vinho verde” a “um vinho com características únicas, devidas essencialmente ao meio geográfico, tendo em conta os fatores naturais e humanos que estão na sua origem” (CVRVV, 2013). Curiosamente, a história aponta para um desempenho internacional dos vinhos verdes significativo desde longa data, acreditando-se que estes terão sido “os primeiros vinhos portugueses conhecidos nos mercados europeus”, nomeadamente em Inglaterra, Flandres e Alemanha (CVRVV, 2013). Atualmente, a Região Demarcada dos Vinhos Verdes estende-se por todo o noroeste do país, na zona de Entre-Douro-e-Minho, estando, delimitada a norte pelo rio Minho (fronteira com a Galiza), a nascente e a sul zonas montanhosas que constituem a separação natural entre o Entre-Douro-e-Minho Atlântico e as zonas do país mais interiores de características mais mediterrânicas, e por último o Oceano Atlântico que constitui o seu limite a poente, ocupando uma áreas de 21 mil hectares, o que corresponde a 15% da área vitícola nacional (CVRVV, 2013). A Região Demarcada dos Vinhos Verdes divide-se, ainda, em nove sub-regiões, em resposta a “questões de ordem cultural, microclimas, tipos de vinho, encepamentos e modos de condução das vinhas”: Amarante, Ave, Baião, Basto, Cávado, Lima, Monção e Melgaço, Paiva e Sousa. A Figura 2 apresenta a distribuição geográfica das nove regiões. 50 Figura 2 – Sub-regiões da Região dos Vinhos Verdes 1. vinho verde a) Sub-região Monção e Melgaço b) Sub-região Lima c) Sub-região Cávado d) Sub-região Basto e) Sub-região Ave f) Sub-região Amarante g) Sub-região Sousa h) Sub-região Baião i) Sub-região Paiva Fonte: IVV (2013). A região apresenta algumas características que a distinguem de outras. O clima, no que respeita ao regime anual de chuvas, caracteriza-se por “totais anuais bastante elevados - em média 1500 mm”, distribuídos de forma irregular ao longo do ano, com uma maior concentração no Inverno e na Primavera. Em relação à temperatura do ar, as temperaturas mais altas coincidem, durante o ano, com as precipitações mais baixas e as temperaturas mais baixas com as precipitações mais altas. Apresenta, portanto, um final da Primavera e Verão quentes e secos e Invernos frios e chuvosos A temperatura média anual e as médias das máximas e as médias das mínimas permitem caracterizar o clima como ameno. Quanto ao relevo, a região apresenta uma topografia bastante irregular, sendo “recortada por uma densa rede de vales associada à rede fluvial, aspeto que se acentua do litoral para o interior”. A maior parte da região assenta em formações graníticas e, portanto, o solo caracteriza-se, fundamentalmente, pela “pouca profundidade, texturas predominantemente arenosas a franco-arenosas (ligeiras), acidez naturalmente elevada e pobreza em fósforo” (CVRVV, 2013). Finalmente, a lista das castas aptas à produção de vinho em Portugal e a respetiva nomenclatura é aprovada pela Portaria n.º 428/2000 de 2000/7/17 (CVRVV, 2013). A Tabela 4 resume as castas aptas para a produção de vinho verde. 51 Tabela 4 - Castas para vinho verde Castas Brancas Principais Outras Alvarinho Pintosa Avesso Cainho de Moreira Azal Cascal Batoca Tália (Douradinha) Loureiro Esganinho Arinto Sercial (Esgana-Cão) (Pedernã) Esganoso Trajadura Fernão-Pires (MariaGomes) Lameiro Rabigato S. Mamede Semilão Fonte: (CVRVV, 2013). Castas Tintas Principais Amaral (Azal Tinto) Borraçal Alvarelhão (Brancelho) Espadeiro Padeiro Pedral Rabo-de-Anho (Rabo-de-Ovelha) Vinhão Outras Doçal Doçal de Refóios Espadeiro Mole Labrusco Mourisco Pical Pôlho Sousão Verdelho Tinto Finalmente, a Tabela 5 apresenta algumas características dos produtos enquadrados na Denominação de Origem Protegida (DOP)1. 1 Segundo o IVV (2011), “DOP é a designação comunitária adotada para os produtos vitivinícolas cuja originalidade e individualidade estão ligados de forma indissociável a uma determinada região, local, ou denominação tradicional, e cujas qualidade ou características específicas, são devidas ao meio geográfico, fatores naturais e humanos. Estes produtos estão sujeitos a regras específicas de controlo que visam garantir a autenticidade e qualidade e podem ser rotulados como DOC. As Denominações de Origem Protegidas para os produtos vitivinícolas europeus integram um registo comunitário único”. 52 Tabela 5 – Rendimento, graduação e estágio do “vinho verde” Produtos Rendimento Máximo (hl/ha) Vinhos de Qualidade Produzidos em Região Determinada “vinho verde” Tinto 80 Branco 80 Rosado 80 Vinhos Espumantes de Qualidade Produzidos em Região Determinada “vinho verde - Espumante” 80 Aguardentes “Aguardente de Vinho da Região dos Vinhos Verdes” “Aguardente Bagaceira da Região dos Vinhos Verdes” Vinagre “Vinagre de vinho verde” MONÇÃO E MELGAÇO / CASTA ALVARINHO Vinhos de Qualidade Produzidos em Região Determinada “vinho verde Alvarinho” 69,329 Vinhos Espumantes de Qualidade Produzidos em Região Determinada “vinho verde Alvarinho 69,329 Espumante” Aguardentes “Aguardente de Vinho da Região dos Vinhos Verdes de Alvarinho” “Aguardente Bagaceira da Região dos Vinhos Verdes de Alvarinho” Título Alcoométrico Mínimo (% Vol.) Estágio Mínimo Obrigatório (Meses) 8 Adq.(1) 8 Adq.(1) 8 Adq.(1) 80 80 80 10 Adq. 9(2) 37,5 - 40 - - - 11,5 Adq. - 1,5 Adq. 9(2) 37,5 - 40 - (1) No caso das sub-regiões, o Título Alcoométrico Volúmico Adquirido é de 9%. (2) Após engarrafamento. Fonte: IVV (2011). 5.3. O Alvarinho na sub-região de Melgaço e Monção Como vimos no subcapítulo anterior, o Alvarinho é uma casta branca autóctone da sub-região de Monção e Melgaço, “medianamente vigorosa mas bastante rústica, 53 com um elevado índice de fertilidade” e “apresenta com frequência 3 inflorescências por lançamento, dando origem a cachos muito pequenos, alados e medianamente compactos”, tornando a casta pouco produtiva. Esta casta verifica, portanto, um rendimento máximo por hectare inferior às restantes (APA, 2013b). A especificidade do Alvarinho foi introduzida em 1973 pelo Decreto-lei nº 275 que “reserva o uso da designação de ‘Alvarinho’ para Vinhos Verdes brancos da subregião de Monção”2. Atualmente pelo artigo 3º da Portaria n.º 668/2010 de 11 de Agosto, o uso da indicação da casta Alvarinho é exclusivo para os produtos da subregião de Monção e Melgaço, devendo ser utilizada em conjugação com a indicação expressa da sub-região e no caso de a rotulagem indicar apenas a casta Alvarinho o produto deve ser 100 % proveniente desta casta. Segundo a APA (2013b), “os monovarietais de Alvarinho de Monção e Melgaço distinguem-se pela sua riqueza aromática, elegância e complexidade no sabor, por ser um vinho de corpo inteiro, com teores alcoólicos relativamente elevados e com uma acidez equilibrada.” Apresenta “uma cor intensa, palha, com reflexos citrinos, aroma intenso, distinto, delicado e complexo, que vai desde o marmelo, pêssego, banana, limão, maracujá e líchia, a flor de laranjeira e violeta, a avelã e noz e a mel, sendo o sabor complexo, macio, redondo, harmonioso, encorpado e persistente”. A sub-região de Monção e Melgaço situa-se na parte de maior relevo do Maciço Ibérico, nomeadamente, “num dos vales encaixados que o caracterizam, o vale do Rio Minho”. Nesta região predomina o granito, no entanto a noroeste verifica-se a existência de grandes quantidades de sedimentos, bem como a existência de uma faixa de xisto na parte central da região. O clima, “condicionado pelo facto de esta região ser cortada a sul, pela cadeia montanhosa do Vale do Minho”, faz com que não sofra a “típica influência Atlântica da Região do Vinhos Verdes, característica que condiciona a especificidade do vinho verde”. Juntamente com os alinhamentos montanhosos da Serra da Galiza a norte, forma-se “uma cintura montanhosa responsável pela existência de um microclima único”, isto é, um clima tipo continental, com Invernos frios e chuvosos e um Verão quente e seco. Ainda assim, as amplitudes térmicas são 2 O âmbito de aplicação da ”reserva” era nacional e não apenas à região do vinho verde. 54 reduzidas, um vez que “a presença de um conjunto significativo de superfícies de água (Rio Minho e principais afluentes) induz uma regulação das temperaturas”., o que faz com que as amplitudes térmicas sejam diminutas. Estas características criam as condições necessárias para a produção do famoso vinho Alvarinho de Monção e Melgaço, “produto único no mundo” (APA, 2013a). A caracterização deste setor, constituído por, aproximadamente, 40 empresas, resulta da existência de três tipos de empresas: cinco com alguma dimensão, sempre relativa no quadro da região, num segundo nível verifica-se a presença de algumas empresas com produção na ordem dos 100 mil litros e, por último, um grande grupo de empresas com produções entre os cinco e os 10 mil litros. Esta amplitude de dimensão de empresas onde as cinco maiores controlam 90% do negócio e nestas duas controlam 60% representa desde logo uma primeira característica que, como será possível observar adiante, tem representado um dos constrangimentos deste setor. De facto, verifica-se a presença de duas dimensões de negócio com empresas que produzem entre 200 a 500 mil garrafas e depois as empresas de pequena dimensão, com produções na ordem dos 10 mil litros, que são empresas familiares e onde a componente família é muito importante quer no setor da vinha quer na vinificação e na venda e também com uma forte relação ao enoturismo. Deve-se referir que, sendo uma componente importante, o enoturismo ainda não é o enoturismo profissional e charmoso que se pretende e para o qual os diversos agentes têm vindo a trabalhar. Esta relação entre o Alvarinho e o enoturismo deve ser feita porque, para além de representar uma fonte de receitas relevante e com investimentos privados importantes, demonstra a complementaridade entre estas duas atividades (APA, 2013). O conjunto destes 40 operadores representa uma produção de 6 milhões de litros onde 1,7 milhões de litros são engarrafados como Alvarinho, em resultado das exigências legais, em particular as relativas à graduação. O Gráfico 1 representa o peso do Alvarinho no total da produção destas empresas. Atualmente apenas 10% desta produção se destina aos mercados externos. No entanto, para além das exigências legais importa destacar a importância dos sucedâneos, em particular a marca 55 Muralhas, que com um preço inferior mas com muita notoriedade, assumem um papel relevante (CMM, 2013). Gráfico 1 – Peso do Alvarinho no total da produção das empresas da sub-região de Monção e Melgaço Alvarinho 28% Outros 72% Fonte: O autor. Outro aspeto que importa analisar neste contexto relaciona-se com a produção de uva e a sua valorização uma vez que o Alvarinho é uma forma de criação de riqueza para os produtores de uva dos concelhos de Monção e Melgaço. Na última década o preço da uva desceu em termos reais o que resulta do facto de se ter vindo a plantar cada vez mais Alvarinho ao qual não corresponde um aumento de preço na prateleira e do mesmo modo não há um aumento de preço da uva. Atualmente o preço da uva encontra-se em valores aproximados aos do ano de 2000. O preço da uva e a existência de muitos viticultores levam a que os viticultores acabem eles próprios por engarrafar o vinho levando a uma proliferação de marcas acaba por não ser benéfico, nomeadamente para os mercados internacionais, uma vez que não há massa crítica e, por outro lado, não permite que se invista de forma coerente na construção das marcas. Neste cenário não é possível descurar as compras efetuadas diretamente aos produtores que representam uma parte relevante do negócio (APA, 2013). 5.4. Os vinhos portugueses e a sua internacionalização A produção de vinho em Portugal Continental tem apresentado, ao longo do último centenário uma evolução irregular, apresentando, inicialmente, uma tendência 56 crescente, que embora se inverta entre meados da década de 60 e finais da década de 90, parece ser retomada a partir do início do século XXI, como se pode observar pela análise do Gráfico 2. Gráfico 2 - Evolução da produção de vinho em Portugal Continental, em milhares de hectolitros, no período 1909-2009 Fonte: IVV (2011). No Gráfico 3 é comparada a evolução da produção de vinho em Portugal com a evolução do seu consumo. Verifica-se, que no período de 2000-2010, embora o consumo se tenha mantido relativamente estável, não tendo, salvo na campanha de 2002-2003, descido abaixo dos 4400 mil hectolitros, nem subido acima dos 5000 mil hectolitros, a produção, bastante mais irregular, apresentou entre as campanhas de 2001/2002 e 2009/2010 um decréscimo de quase 2000 mil milhões de hectolitros. Esta convergência pode pôr em causa a capacidade exportadora nacional, nomeadamente, o desenvolvimento internacional do setor. 57 Gráfico 3 - Evolução da Produção e Consumo de Vinho em Portugal, em milhares de hectolitros, para as campanhas de 2000/2001 a 2009/2010 período 1909-2009 9.000 8.000 7.000 6.000 5.000 4.000 3.000 2.000 1.000 0 Produção Consumo * Valores provisórios Fonte: IVV (2011). No que respeita à trocas mundiais de vinho, Em 2011 o mercado mundial de vinho atingiu 1104 biliões de caixas (9 litros), representando um acréscimo de 7,9% face ao ano anterior, confirmando uma tendência crescente verificada desde 2009. Também em 2009, a tendência de queda das exportações dos 5 maiores países exportadores da União Europeia (Itália, Espanha, França, Alemanha e Portugal) foi invertida, apresentando um crescimento de 9% até 2011, ao contrário das exportações dos países do Hemisfério Sul e EUA (ViniPortugal, 2013), como se pode observar no Gráfico 4. 58 Gráfico 4 – Evolução das exportações mundiais de vinho dos principais países exportadores (Top 10), em volume (mhl) Fonte: ViniPortugal (2013). Em 2012, a exportações de vinhos portugueses atingiram um valor de 706 milhões de euros, o que representa um acréscimo de 50 milhões em relação ao ano anterior, uma tendência crescente que parece manter-se no presente ano (tendo em conta o primeiro semestre do ano) (Marcelino, 2013). Angola, Estados Unidos da América (EUA), Alemanha, Reino Unido, Canadá, Brasil, China e os países nórdicos são os países que na última década se destacaram na compra de vinhos portugueses (Marcelino, 2013). Angola é, atualmente, o maior mercado de exportação de vinhos portugueses, com uma quota de 67,5%, apresentando, mesmo assim, potencial de crescimento, como pode ser provado por um investimento de cerda de 400 mil euros cujo objetivo é potenciar um crescimento dos vinhos portugueses (em valor) em 19%, em três anos (Marcelino, 2013). Em relação aos EUA, apresentam-se em 2012 como os maiores importadores mundiais de vinho, constituindo, ao mesmo tempo, o quarto maior importador de vinho português, com um crescimento de cerca de 8% (em valor) em 2012. “É o alvo 59 do maior investimento da promoção internacional de vinho português, no valor de 2 milhões de euros” (Marcelino, 2013). O mercado alemão tem vindo, também segundo o Marcelino (2013), a crescer a taxas anuais bastante elevadas. Por sua vez, o Reino Unido constitui o segundo mercado de exportação dos vinhos portugueses em valor, registando, em 2011, um aumento das exportações de 4,7% em volume (ViniPortugal, 2013). Relativamente ao Canadá, o facto de cerca de 66,4% dos vinhos consumidos pelo país serem importados torna-se num mercado bastante atrativo para as empresas portuguesas, no entanto, te ainda que ser explorado, pois, embora seja um bom mercado em termos de preço médio, Portugal apenas possui uma quota de mercado de 3,43%. A resposta parece estar na exploração da faixa jovem dos consumidores deste país (ViniPortugal, 2013). Já o mercado brasileiro, continua a ser um dos principais mercados para os vinhos portugueses, apresentando taxas elevadas de crescimento das exportações. As exportações aumentaram de 20 milhões em 2010 para 24 milhões em 2011. Os vinhos portugueses conseguiram um posicionamento alto no mercado brasileiro e Portugal está no grupo dos cinco fornecedores de vinho do Brasil (ViniPortugal, 2013). O mercado do vinho na China está a crescer e tem excelentes perspetivas para os principais produtores, posicionando-se como o quinto principal mercado dos vinhos nacionais, fora do espaço europeu, não incluindo os vinhos do Porto e Madeira. A China é um dos alvos prioritários da produção nacional, pois representa 13,7 milhões de euros em valor para as exportações nacionais. Em 2011 assistiu-se a um aumento de 91,7% no valor das exportações de vinhos nacionais para este mercado (ViniPortugal, 2013). Em relação aos países nórdicos, nomeadamente, Suécia, Noruega e Finlândia, Portugal continua empenhado em continuar a crescer nestes mercados, procurando responder à crescente recetividade dos vinhos portugueses (ViniPortugal, 2013). Finalmente, a Tabela 6 resume a posição relativa de alguns dos principais mercados de exportação dos vinhos de Portugal. 60 Tabela 6 - Posição relativa nos principais mercados de exportação dos vinhos de Portugal Volume USA Canadá Japão China Brasil Alemanha UK Fonte: ViniPortugal (2013). Peso das Exportações de Portugal nas Importações Globais do País 0,6% 1,0% 0,4% 2,3% 18,4% 1,3% 1,6% Peso das Exportações de Portugal nas exportações da EU para o País 1,3% 2,1% 0,9% 4,7% 38,3% 1,5% 3,4% Considerando os mercados de destino das exportações portuguesas e o seu peso nas importações globais de cada país, constata-se que é sobretudo no Brasil que Portugal detêm uma posição relevante com uma quota de 18,4% do global e de 38,3%, no que se refere ao peso das exportações comunitárias (ViniPortugal, 2013). 5.5. Conclusão O vinho verde é produzido na Região dos Vinhos Verdes, demarcada em 1908. A sua riqueza e preponderância são bem evidentes nos 21 mil hectares de plantação, espalhados por 9 sub-regiões e com 36 castas aptas para a sua produção. O vinho Alvarinho é uma casta branca proveniente da sub-região de Melgaço e Monção da Região Demarcada dos Vinhos Verdes, que se distingue pela sua riqueza aromática, elegância e complexidade no sabor, características que, entre outras, o tornam famoso e o identificam como um produto único no mundo. O setor do vinho Alvarinho nesta sub-região caracteriza-se pela diferença de dimensão das suas 40 empresas, onde cinco delas controlam 90% do negócio. No contexto atual, no qual se verifica um nível de produção superior ao consumo, as empresas devem olhar o mercado externo como uma alternativa viável. Sintomático deste facto é o crescimento das exportações de vinhos portugueses, que em 2012 atingiram os 706 milhões de euros. 61 As especificidades desta casta e o respetivo reconhecimento, quando enquadradas num contexto de crescimento do mercado mundial de vinho e das exportações de vinhos portugueses parecem evidenciar a necessidade de observar qual o papel do Alvarinho na internacionalização dos vinhos portugueses. 62 Capítulo 6. A perspetiva dos agentes institucionais 6.1. Introdução Com este capítulo inicia-se a apresentação e discussão dos resultados da investigação. A estrutura definida para este capítulo, que será replicada no capítulo seguinte, pretende em cada uma das secções apresentar a perspetiva dos agentes institucionais sobre os diversos objetivos definidos para esta dissertação. Assim, na secção 6.2 é analisado o setor do vinho Alvarinho, em particular nos Municípios de Monção e Melgaço, nomeadamente em aspetos como a produção, a performance, as políticas públicas, a inovação e o conhecimento, as marcas e as estratégias comerciais e de marketing. Com esta secção pretende-se encontrar respostas às proposições P.1 e P.2 A secção 6.3., que visa recolher informação relativa à proposição P.3 focaliza-se nas questões relacionadas com a internacionalização e, em particular, nas principais barreiras à internacionalização do vinho Alvarinho, nos modelos de internacionalização mais adequados e na avaliação da importância da distribuição para o sucesso da empresa no mercado nacional e internacional. Com a secção 6.4 introduz-se os temas da cooperação e dos relacionamentos entre os diversos agentes, bem como a possibilidade de formação de um cluster. Esta secção termina com a avaliação da importância da concertação de esforços como fonte propulsora da internacionalização. Com isto será possível responder à proposição P.4 A 6.5 procura identificar um conjunto de boas práticas na comunicação e promoção de outros vinhos nacionais e internacionais no sentido de fornecer algumas indicações sobre estratégias a adotar e, desta forma, clarificar a proposição P.5 A secção 6.6 apresenta, de forma resumida, as principais conclusões deste capítulo. 6.2. O setor do vinho Alvarinho de Monção e Melgaço O setor do vinho verde Alvarinho enquadra-se na sub-região de Monção e Melgaço onde se produzem monovarietais de Alvarinho sob a denominação de origem 63 vinho verde. No entanto, verifica-se que hoje em dia produz-se monovarietais de Alvarinho em outros locais do país e pelo mundo inteiro o que representa uma nova fase para este setor e em particular para a sub-região uma vez que, como afirma Miguel Queimado da Associação de Produtores de Alvarinho, “já deixamos de ser os únicos a produzir monovarietais de Alvarinho”. Ainda segundo Miguel Queimado este problema agrava-se pela “decisão tardia de associar a comunicação do Alvarinho ao território o que se revelou um erro estratégico tal como o é a organização de concursos para dar visibilidade a outras regiões que produzem Alvarinho. Ana Paula Vale do Instituto Politécnico de Viana do Castelo afirma mesmo que “sendo o Alvarinho um produto de referência da região não se pode de maneira nenhuma perdê-lo” e que para isso seja possível “é fundamental a associação ao território para facilitar a sua defesa”. As limitações resultantes da sub-região onde está inserido não permitem assim ao seu Alvarinho ter empresas com dimensão internacional e por isso não consegue ter alavancas de negócio que suportem o seu crescimento. Não é por isso surpreendente, tal como afirma Manuel Pinheiro da CVRVV, “que nos últimos anos as vendas de vinho verde Alvarinho tem vindo a descer em contraposição com outros vinhos Alvarinhos de outros pontos do país”. Esta opinião é partilhada por Tânia Oliveira da ViniPortugal para quem “o vinho Alvarinho é uma das grandes bandeiras dos vinhos de Portugal” mas para quem “a ligação do Alvarinho à região de Monção e Melgaço tem vindo a ser esbatida”. A dicotomia entre a quantidade e a qualidade produzida assume especial relevância e por causa disso começa-se agora a discutir a extensão da designação DOC, atualmente confinada à sub-região, a toda a região dos vinhos verdes. A casta de Alvarinho é reconhecida de forma unânime por todos os entrevistados como possuidora de características extremamente interessantes o que se traduz num vinho branco que, enquanto casta branca, é muito interessante ao nível do nariz e da boca. Para Miguel Queimado é “sempre complicado ao nível das castas brancas fazer um monovarietal de uma casta só e que essa casta produza bom nariz e boa boca”. Esta situação leva a que geralmente se compense a produção de lotes com outras castas o que não acontece com o Alvarinho. Para Tânia Oliveira estas 64 características tornam o Alvarinho “um vinho top of mind com uma relação preço/qualidade invejável e uma casta que tem muita facilidade em agradar a profissionais e a consumidores”. O Alvarinho da sub-região de Monção e Melgaço é assim um produto de excelência e identificativo da região classificado por Augusto Domingues como “o melhor vinho branco do mundo”. Manuel Pinheiro afirma que para além da casta “também a qualidade da uva e da viticultura permitem conseguir-se o melhor de uma casta que já por si é muito boa”. De facto, o monovarietal de Alvarinho desta subregião é diferente e tem caraterísticas únicas. Esta diferenciação deve-se ao facto de as populações destes municípios trazerem esta casta há cem anos sendo por isso uma região inteiramente dedicada à casta. Para Miguel Queimado é nesta sub-região que “a casta atinge as suas potencialidades uma vez que se desenvolveu nesta região e na qual está adaptada a que se aliam a tradição e toda a experiência que esta região tem na produção desta casta ”. Por outro lado, esta sub-região tem características únicas uma vez que está inserida num vale que tem barreiras a oeste, este, a norte e a sul que proporcionam um clima mais continentalizado e menos mediterrânico o que origina verões quentes e frios e invernos frios e algo chuvosos. Este contexto natural é reforçado pela presença de uma massa de água muito interessante que permite alguma termorregulação da temperatura proporcionando noites frescas no verão que é o ideal para produzir estes vinhos, extremamente aromáticos e muito interessantes. A performance do vinho Alvarinho no mercado nacional, onde é consumido a sua maior parte, tem vindo a decrescer com destaque para uma perda de mercado e de volumes bem como uma redução dos preços médios. De facto, segundo Manuel Pinheiro o vinho Alvarinho tem em Portugal uma grande imagem mas não tem por trás um volume de negócios que corresponda a essa grande imagem. Miguel Queimado afirma por outro lado que “os consumidores continuam a procurar muito o Alvarinho de Monção e Melgaço e que não existem problemas de stock. Este agente refere ainda que “esta crise, que se espera conjetural, tem impacto na procura e daí a necessidade de algumas marcas internacionalizarem”. Um excelente barómetro da performance são as revistas nacionais e internacionais onde os Alvarinhos desta região estão 65 sempre em posições de destaque. No mercado internacional o Alvarinho tem a vantagem de ser uma casta que também é promovida pela região espanhola da Galiza. Os agentes entrevistados são também unânimes a reconhecer que atualmente se observa uma situação em que a oferta é superior à procura e perante a qual Manuel Pinheiro constata que um aumento da produção “só pioraria o problema”. Aprofundando ainda mais este assunto Miguel Queimado “não acredita na ideia da necessidade de escalas” até porque “nem todos os produtores juntos conseguem ter escala quando comparados com os grandes produtores mundiais”. Neste sentido a solução passará acima de tudo pela capacidade das empresas em profissionalizar-se, em perceber o seu caminho, os mercados que vão atacar e a sua forma de distribuição. De qualquer forma verifica-se que a produção de uva está a 50% do seu potencial produtivo. As políticas públicas locais existentes, levadas a cabo pelos municípios da subregião, são consequência da importância que é atribuída a esta fileira existindo um investimento considerável. A autarquia de Monção, por exemplo, colabora na potenciação deste produto com a execução de algumas medidas tais como a criação do Museu do Alvarinho para o qual já existe financiamento e que estará concluído até ao final de 2014 e a organização da Feira do Alvarinho de Monção na qual são investidos 100 mil euros anuais e onde 90% desse investimento é da responsabilidade do Município. Augusto Domingues refere no entanto que a feira é ainda um “certame popular e não profissional” pelo que urge investir no sentido da sua profissionalização. O município de Monção está ainda a trabalhar na modernização da produção do vinho através do emparcelamento e para o qual existem dois projetos neste sentido. Miguel Queimado, embora reconheça que é sempre possível melhorar, afirma que “se há setor que pode estar feliz com a forma de organização que tem e como utiliza todos os dinheiros públicos para a sua promoção é o setor do vinho”. Numa perspetiva global é entendimento dos agentes que os agentes políticos não têm que estar em lado nenhum à exceção da promoção. Neste tema, Ana Paula Vale destaca o papel dos Municípios na promoção até porque é fundamental apostar naquilo que os caracteriza e que tem qualidade contribuindo assim para atrair público e turismo 66 valorizando em simultâneo a paisagem e a gastronomia “tal como fez o Município de Ponte de Lima com o Sarrabulho”. Apontando ao futuro, Ana Paula Vale refere que a Comissão de Coordenação os Municípios devem reforçar os apoios aos pequenos produtores no sentido de os convencer a associarem-se. A profissionalização dos produtores é também apontada como uma necessidade pelo que são urgentes políticas para dar mais formação aos produtores. Em sentido contrário é também reconhecido por vários agentes o erro estratégico que resultou do facto de se promover o Alvarinho sem a ligação ao território. Parte desta responsabilidade é atribuída aos Municípios criaram no consumidor a ideia que Alvarinho tem valor induzindo ao investimento na casta pelo país fora. Para Manuel Pinheiro “ao prescindir da relação ao território perde-se o argumento do este é o original os outros são cópias”. A informação recolhida permite confirmar que as políticas públicas vigentes são de facto adequadas para a sustentabilidade do setor uma vez que existem medidas para o setor dos vinhos quer ao nível da sua organização, quer ao nível dos investimentos em diversas atividades, que contribuem para o seu crescimento e notoriedade. Inclusivamente, o erro estratégico cometido, no passado, pela ausência de políticas que associassem a comunicação do Alvarinho ao território e a mudança de orientação entretanto verificada confirma também a adequação das decisões políticas neste setor. Assim, estes agentes parecem validar a primeira proposição (P.1). Foi ainda objeto de estudo no âmbito desta investigação identificar a importância da investigação e desenvolvimento, do conhecimento e da inovação para o crescimento e competitividade do setor. Importa aqui destacar um projeto, em fase de concurso do loteamento, para a criação do Minho Parque em Monção que é um investimento estruturante para Monção na ordem dos 13 milhões de euros. Neste parque existe o objetivo de criar uma incubadora de empresas onde que incluirá uma área do vinho e onde se prevê a criação uma linha engarrafadora comum a vários produtores de pequena dimensão. Este investimento de acordo com Augusto Domingues “permitirá a criação de uma marca única de valor acrescido e com stock 67 considerável que exponencie a internacionalização”. Verifica-se de resto a necessidade de reforçar o número de parcerias nesta área tendo por base a dicotomia necessidadeconhecimento uma vez só com o conhecimento é que é possível inovar e colocar produtos de qualidade no mercado. Ana Paula Vale destaca o papel das instituições de ensino superior e de outras unidades de investigação na potenciação das características do produto e na apresentação dos vinhos, nomeadamente a garrafa e a rotulagem. A formação é outra área onde o papel destas entidades deve ser relevante uma vez que não é possível falar em desenvolvimento do setor sem termos bons enólogos no mercado. Esta mudança de paradigma constata-se ao verificar a aposta nos jovens produtores que já tem outro conhecimento e outra forma de trabalhar. As respostas obtidas sugerem a validação da segunda proposição (P.2) uma vez as entidades do sistema científico e tecnológico podem contribuir para a valorização dos processos produtivos e dos produtos, nomeadamente ao nível da garrafa e da rotulagem. Desta forma, afigura-se como válida a P.2. Outro aspeto que importa analisar prende-se com o potencial de penetração de mercado das diferentes marcas sendo que importa distinguir, desde logo, a notoriedade das marcas do seu volume de vendas efetivo. É assim fundamental trabalhar as marcas existentes e optar-se por uma estratégia de push. Porém o Alvarinho debate-se atualmente com um problema que resulta da existência de dois segmentos (as grandes superfícies e a pequena distribuição) não existindo níveis intermédios o que leva os produtores de dimensão média a enfrentarem enormes dificuldades uma vez que o Alvarinho já não é um produto de nicho nem um produto de massas. O posicionamento das diversas marcas varia assim entre as que tem um preço de venda ao público entre os 6 e os 10 euros e as marcas de lotes de Alvarinho com outra casta e onde o preço de venda ao público passa para os 3-4 euros. A possibilidade de criação de novas marcas parece também não representar uma solução no sentido de reforço da quantidade e qualidade do produto dirigido ao mercado externo. Efetivamente, a proliferação das marcas já existentes acaba por dificultar o trabalho dessas mesmas marcas até porque, segundo Tânia Oliveira, “os produtores têm muita paciência na vinha e na adega e depois na venda reina a 68 impaciência onde não existe a preocupação de construir marcas e parcerias”. No entanto, a criação de marcas conjuntas poderá ser um caminho para os produtores de pequena dimensão que, apesar da aversão existente à perda de identidade, deveriam caminhar no sentido da associação por forma a ganharem dimensão. A segmentação de mercado, embora para os produtores desta sub-região o seu Alvarinho por si só já representar uma segmentação, deverá depender sempre do negócio e da quantidade produzida pelo agente em questão. No entanto, para Miguel Queimado, “embora existam produtores que apresentam uma segmentação bem definida esta não é a regra”. E a complexidade desta questão é reforçada pelo facto porque não sendo o Alvarinho um produto de produção ao longo do ano as decisões que que são tomadas em setembro repercutem-se em todo o ano. Isto assume especial importância nos vinhos brancos que, ao contrário dos tintos, são vinhos para vender no espaço de um ano. Este facto verifica-se, apesar de os Alvarinhos terem a capacidade de estagiar em garrafa por períodos superiores, uma vez que os consumidores parecem preferir o Alvarinho no seu primeiro ano. Neste cenário assume especial relevância a necessidade de uma segmentação correta e clara porque caso contrário obriga os produtores a colocar o produto de qualquer forma e a abdicar da segmentação idealizada. Por fim procurou-se identificar os meios de comunicação e promoção mais utilizados por estes agentes e dos quais se destacam a educação e a experimentação do produto e as ações de formação. Porém não existe uma comunicação específica do Alvarinho que é comunicado pela região dos vinhos verdes através de spots publicitários, revistas e muppies. Na promoção internacional a presença destes agentes institucionais em feiras do setor tem como principais objetivos o apoio aos produtores quer à realização de negócios quer na identificação de distribuidores. Mais uma vez a dimensão dos produtores é apontada como um obstáculo à sua participação em feiras internacionais até por questões financeiras. 69 6.3. Do noroeste de Portugal para o Mundo A internacionalização pode representar, no clima cada vez mais concorrencial do setor dos vinhos, uma oportunidade para as empresas reforçarem as bases do seu negócio e, em simultâneo, criarem condições para o seu crescimento. No entanto verifica-se que muitas delas não estão presentes nos mercados externos. As principais razões para estas empresas não exportarem relacionam-se com a falta de know-how, uma vez que existe um défice de formação nas áreas de internacionalização, marketing e comercialização, a falta de volumes de produção e capacidade técnica e financeira. Verifica-se em outro nível a existência de empresas que embora pretendam marcar presença em mercados externos, chegando inclusivamente a participar em feiras internacionais do setor, não possuem uma estratégia sólida. De facto, não faz sentido que os produtores marquem presença em feiras sem que exista um contato prévio com distribuidores preparando a apresentação dos produtos e se não forem produzidos materiais para distribuir nessas mesmas feiras. Este fenómeno assume alguma dimensão levando Miguel Queimado a afirmar que, embora a presença em feiras seja fundamental e que a sua preparação tenha por base uma perspetiva de longo prazo, “os produtores por vezes não sabem trabalhar as feiras”. Numa outra dimensão, importa identificar as dificuldades enfrentadas pelos produtores que estão nos mercados internacionais. Torna-se desde logo claro que, se existem razões que são de facto estruturais e resultam da dimensão das empresas outras são de carater mais específico, e embora se relacionem com os produtores individualmente, não representam por isso uma influência menor. Assim, numa perspetiva mais global importa destacar a falta de recursos técnicos e financeiros; as diferenças culturais nos vários países, que obrigam a um investimento em cada um dos mercados; o volume de produção, na medida que um produto para ter sucesso necessita de estar todo ano na prateleira; a pressão verificada sobre o preço, uma vez que enquanto no mercado interno se consegue um melhor preço, esta situação não se verifica no mercado externo já que o Alvarinho não goza ainda da mesma notoriedade; os processos burocráticos para entrar em países fora da União Europeia; a concorrência, grande obstáculo quando falamos de um produto com um 70 posicionamento superior e com preço elevado mas com notoriedade ainda reduzida; e ainda a falta de conhecimento dos mercados e dos seus canais de comercialização, o que leva as empresas a ter dificuldades em escoar o produto. No decurso desta investigação procurou-se ainda perceber a possibilidade de os clientes nacionais, bem como as suas encomendas, constituírem algum tipo de constrangimento à internacionalização. Estes agentes são taxativos ao afirmar que não existe, de facto, nenhum obstáculo induzido pelo mercado nacional embora este mercado, e o seu consumo, apesar de na conjuntura de crise atual ter vindo a decrescer, permita escoar bastante da produção existentes. Importa, no entanto ressalvar duas questões que se afiguram como relevantes, em primeiro lugar o facto de, historicamente, se ter verificado a tendência de exportar os vinhos com pior qualidade o que afetou o posicionamento e o que exigiu um trabalho redobrado na construção da notoriedade das marcas de qualidade que existem atualmente; em segundo lugar o próprio consumo nacional constituía uma almofada para a maior parte dos produtores o que levou, segundo Miguel Queima “que muitos deles não olhassem de forma séria para o mercado externo” o que se traduziu em anos perdidos e nos quais se podia ter começado a construir as marcas de forma mais efetiva. No entanto verifica-se que mesmo num cenário de recuperação do mercado interno, dificilmente as empresas recuarão na internacionalização até porque o mercado externo tem a grande vantagem dos pagamentos se fazerem em momento prévio ao envio do produto. A presença destes agentes institucionais, quer na promoção dos vinhos, quer no apoio aos produtores, verifica-se primordialmente nos seguintes países: Alemanha, Angola, Brasil, Canadá, China, Estados Unidos da América, Finlândia, Noruega, Reino Unido, Suécia e Suíça. Estas escolhas têm por base os vinhos que se produzem, a forma de consumo nos mercados, as suas taxas de crescimento e a posição relativa de Portugal nesses mesmos mercados. A ViniPortugal presta também muita atenção às questões legais, nomeadamente políticas fiscais. Relativamente aos mercados em que as empresas devem investir no futuro foi possível desde logo verificar os fatores que devem ser analisados na tomada destas 71 decisões. Assim, afigura-se como óbvio que a primeira preocupação deve passar pelo reforço dos mercados existentes até porque, como afirma Manuel Pinheiro, “é um erro as empresas de pequena dimensão abrirem novos mercados quando já tem portas abertas, por si ou por outras empresas em determinados países”. Outro fator que deve ser considerado prende-se, de acordo com Ana Paula Vale, com o aproveitamento dos benefícios do “mercado da saudade que não sendo a solução poderá representar um excelente veículo e complemento para o crescimento das vendas no mercado externo”. Partindo destes pressupostos foi possível concluir que a aposta das empresas portuguesas deverá passar por países como Alemanha, Canadá, EUA, Finlândia, Noruega, Suécia e Rússia uma vez que são países com muitos consumidores de vinhos brancos. Por outro lado, a decisão de apostar em países como Angola, Brasil e China, à exceção de um trabalho efetuado a partir do território de Macau, já não recolhe tantos pareceres favoráveis. Se no que à China diz respeito, atendendo às dificuldades de entrada nestes mercados, à complexidade da língua e ao próprio sistema judicial, as razões para as dúvidas que este mercado levanta se afigurarem como razoáveis o mesmo parece não se verificar em países como Angola e Brasil. De facto estes países não são tão atrativos como se pensa porque embora exista a ligação a Portugal e tenham climas interessantes o consumo de vinhos é maioritariamente orientado para os tintos, cerca de 70% segundo Miguel Queimado. Esta opção, ainda de acordo com Miguel Queimado deve-se ao facto de que, estes consumidores, “sendo incultos ao nível do consumo do vinho consomem o tinto apenas pelo status”. A comercialização e distribuição dos vinhos destas empresas devem, na opinião destes agentes institucionais, ter por base uma análise e identificação de 2, 3 ou 4 mercados, e após uma análise detalhada dos mesmo adaptar a distribuição consoante o tipo de marcado. No entanto, até em função da dimensão das empresas, a solução terá sempre que passar pelo esquema de importador, distribuidor e retalhista. A existência de distribuidores é assim fundamental tal como o é a atenção que deve ser prestada aos canais de venda. A importância que é atribuída à distribuição pode ser verificada através do conjunto de ações que são desenvolvidas pelas entidades ligadas ao vinho no sentido de melhorar esta componente. De facto, um erro que é por vezes 72 cometido é o facto de se colocar o produto no importador e não se acompanhar o resto da cadeia até à prateleira que é “precisamente o ponto onde e efetiva o negócio” como diz Manuel Pinheiro. Tânia Oliveira reforça este ponto afirmando que se deve “abordar o mercado de forma a atingir os clientes que olham para o vinho como um produto de qualidade e não uma commoditie”. No entanto, os produtores já perceberam a necessidade de acompanhar o trabalho dos importadores e dos distribuidores garantindo a oferta de um produto de valor acrescentado uma vez que não tendo preço e quantidade apenas resta a via da qualidade. Por fim é também unânime que não é importante que os produtores procurem outras formas de distribuição até pela sua dimensão que não lhes permite explorar outras soluções como por exemplo abrir empresas de distribuição nesses países ou participar no capital de distribuidoras. Neste caso, o que realmente é importante é trabalhar os parceiros existentes no sentido de criar um relacionamento baseado na solidez e confiança procurando fomentar um futuro de longo prazo. Atendendo à dimensão do setor e das empresas que o constituem os dados recolhidos sugerem a confirmação da terceira proposição (P.3) uma vez que não faz sentido adotar qualquer outra estratégia ou modelo de internacionalização. 6.4. A cooperação e o cluster A sustentabilidade e o crescimento deste setor depende consideravelmente da capacidade das suas empresas se relacionarem entre si de forma efetiva potenciando assim a sua atividade, nomeadamente a comercialização dos vinhos no mercado externo. A opinião comum é, no entanto, que os produtores não têm por hábito cooperarem entre si verificando-se inclusivamente uma cultura de individualidade que, apesar dos esforços dos diversos agentes, leva Augusto Domingues a considerar que predomina a “mentalidade do minifúndio e muitas vezes a divisão que existe no terreno existe muitas vezes no cérebro de cada um”. Outro problema que é apontado prende-se com as diferenças de dimensão entre as empresas que torna difícil a definição de políticas integradas e que gera desunião. De facto, se antigamente a “luta” era entre Monção e Melgaço atualmente é entre empresas grandes e pequenas. 73 Atualmente está a ser um trabalho assertivo no sentido de se voltar a verificar a integração das grandes empresas, que entretanto haviam abandonado a Associação de Produtores Alvarinho (APA), percebendo os objetivos individuais e comuns e seguidamente partir para a definição de uma estratégia. Este não será certamente o caminho uma vez que é extremamente importante que os produtores falem uns com os outros e que conheçam as respetivas experiências. Verificou-se, no entanto, a existência de alguns casos de troca de informações para a comercialização e a existência de algumas parcerias entre produtores de Alvarinho e produtores de outras regiões. Na sub-região existe uma realidade económica muito relevante mas não existe um cluster uma vez que, de acordo com Manuel Pinheiro, “não se verifica o contributo de entidades que façam um trabalho complementar”. Urge então criar condições para alterar este contexto e a possibilidade do desenvolvimento do cluster parece ser uma solução interessante uma vez que quanto maior for a cooperação melhores serão os resultados. Veja-se o exemplo dos Douro Boys cuja associação tem como objetivo a obtenção de um nível superior de retorno. A construção do cluster depende então da integração de várias entidades, nomeadamente entre as empresas, as entidades de produção de conhecimento e todas as entidades com intervenção na fileira. Miguel Queimado entende que existem “todas as condições para que isso aconteça porque temos dois concelhos, com 2 mil viticultores, 60 empresas todos dedicados a uma casta e a um só vinho e isto é único e onde se junta a história”. Cumulativamente existem no território instituições de ensino superior e uma confederação de empresas que, juntamente com o interesse dos Municípios e da Comissão de Coordenação da Região Norte, podem criar todas as condições necessárias para a canalização de fundos comunitários que no próximo quadro, Horizonte 2020, terão uma forte componente dedicada às empresas. A partilha de informação e de estratégias entre os diferentes agentes, a sua disponibilidade para o fazerem, será também importante. Neste caso organismos como a ViniPortugal, a Comissão dos Vinhos Verdes e a Associação de Produtores de Alvarinho são importantes na busca de condições que permitam “sentar à mesa” os 74 produtores colocando-os a discutir, de forma aberta e transparente, as diversas temáticas relacionadas com o Alvarinho. A verdade é que tendo-se já perdido a batalha do preço (com uma ou duas exceções os Alvarinhos de fora da sub-região são mais caros) e caminhando-se para a perda da luta da quantidade é imperioso criar condições para, acima de tudo, reforçar a aposta na qualidade. Miguel Queimado defende que “existe disponibilidade total dos produtores para trocar informação e experiências” embora não exista de forma expositiva uma vez que se a questão for colocada de forma direta muitas empresas responderão negativamente. Falta portanto a visão conjunta e estratégica da cooperação e das suas vantagens. Torna-se claro que o papel da APA será fundamental no lançamento destes desafios e na construção das bases para o futuro. A concertação de esforços parece, também, ser um fio condutor importante no sentido das empresas maximizarem as vendas no mercado externo uma vez que é necessário que exista massa crítica. Atendendo à dimensão dos produtores faz então todo o sentido que existam ações comuns se possam traduzir no bem comum. Manuel Pinheiro vai mais além afirmando que “uma concertação de esforços seria revolucionária no sentido de maximizar o mercado internacional” registando no entanto que esse cenário não será de fácil implementação. Observou-se no entanto que, previamente, será forçoso definir uma estratégia e uma comunicação conjuntas que apresentem de forma coerente e integrada os valores genéricos do Alvarinho de Monção e Melgaço. Considerando o exposto é possível decidir pela confirmação da quarta proposição (P.4) uma vez que esta procurava confirmar a capacidade da cooperação em potenciar a internacionalização das empresas 6.5. A promoção e a comunicação do vinho Alvarinho A definição de uma estratégia de comunicação de apoio à internacionalização do vinho Alvarinho poderá ser iniciada com a identificação de um conjunto boas práticas seguidas por outros produtores, nacionais e internacionais, de vinhos na promoção dos seus produtos. Importa desde logo que os produtores se organizarem e 75 um trabalho como o desenvolvido pelos Douro Boys seria um benchmarking interessante tal como as ações que são desenvolvidas pelos produtores das Rias Baixas. Acima de tudo, tratando-se de um produto que não tem escala, deverão ser desenvolvidas estratégias para um posicionamento mais premium. A comunicação efetuada pela região de Bordéus, onde tudo é alusivo ao vinho e à sua história, poderá ser uma visão interessante para reforçar aquilo que Miguel Queimado caracteriza como a “paixão e a loucura que o Alvarinho representa nesta região”. Outro exemplo interessante diz respeito ao que está a acontecer no Alentejo onde, sendo uma região com elevada dispersão geográfica e com muitos produtores de pequena dimensão, foi desenvolvida uma Carta Gastronómica da região. Por outro lado, a definição de uma estratégia para o Alvarinho da sub-região de Monção e Melgaço deve basear-se em cada uma das empresas através da clarificação das respetivas estratégias de produto, com base nas necessidades dos clientes, organizando a empresa em função dessa mesma estratégia ajustando-a à sua dimensão. Assim, é urgente apresentar uma estratégia de comunicação do território, com ligação ao vinho e à casta. Para Miguel Queimado “devemos aprender com outras regiões onde também o vinho faz parte da sua história e onde tudo é motivo para comunicar o seu vinho”. Efetivamente, no quadro da região dos vinhos verdes a estratégia está bem montada, e a comprová-lo estão os diversos programas de marketing anuais com orçamentos de cerca de 2,5 milhões de euros e com cerca de 100 ações. Desta forma, o foco deve ser nos próprios produtores e na nossa região e, com uma abordagem mais proactiva e coerente, apresentar conjuntamente com os municípios uma comunicação sólida. Neste ponto deve referir-se que apesar da importância das atividades de marketing e de comunicação a dimensão do setor cria alguns constrangimentos ao investimento nestas atividades. O papel das associações é por isso fundamental não existindo outro caminho atendendo à escala deste produto. Definida a estratégia sólida, coerente e transversal pretendida a promoção poderá passar pelos media embora a dimensão dos produtores não permita grandes ambições. Augusto Domingues acredita que “a promoção deve privilegiar o triângulo Porto, Guimarães e Vigo onde estão milhões de pessoas” com a preocupação sempre 76 presente de promover não só Alvarinho mas também o território por forma a criar a ligação do vinho enquanto casta ao território investindo, em simultâneo, em áreas diversas como as ecovias/ecopistas que criem condições suplementares para a atratividade dos Municípios. Outra solução apresentada e que poderá ser interessante passa pela criação de uma carta de enogastronomia da nossa região que permita a promoção e a venda não só do vinho Alvarinho mas também de outros produtos endógenos, como os alimentos. Segundo Ana Paula Vale “apenas com a ligação ao território, como forma de salvaguarda do património que temos, será possível garantir a sustentabilidade de uma região de pequena dimensão. As respostas obtidas sugerem assim a confirmação da quinta proposição (P.5.) na medida que foram identificadas diversas boas práticas com potencial de replicação na sub-região. 6.6. Conclusão Este capítulo, dedicado à perspetiva dos agentes institucionais, permitiu verificar para além do conhecimento aprofundado que detém os entrevistados, na sua generalidade, partilham opiniões semelhantes. É possível então concluir que a casta de Alvarinho da sub-região de Monção e Melgaço tem um potencial diferenciador que resulta das condições geográficas e climáticas onde se insere e que permite a produção de vinhos de excelência. No entanto, hoje produz-se monovarietais de Alvarinho em outros locais o que associado aos erros que foram cometidos pela ausência de uma estratégia de associação do Alvarinho ao território coloca o Alvarinho desta sub-região sob ameaça. Outro aspeto central prende-se com a discussão sobre a extensão da designação DOC, que para além de levantar objeções a estes agentes leva-os a perspetivar alguma instabilidade entre as empresas. É neste clima de alguma incerteza, aliado à crise económica que vivemos, que a internacionalização surge como uma alternativa favorável para o crescimento e sustentabilidade das empresas. Porém devido à dimensão das empresas e a outros fatores como a falta de know-how e a capacidade financeira reduzida algumas empresas observam sérias dificuldades à exportação. 77 A cooperação e o desenvolvimento do cluster parece assim representar uma forma dos produtores ganharem dimensão e, por outro lado, criarem condições para a definição de estratégias de negócio e de comunicação que potenciem a associação ao território e as vendas de cada uma das empresas. 78 Capítulo 7. A perspetiva das empresas 7.1. Introdução Este capítulo procura analisar a perspetiva das empresas para cada um dos temas em análise. Sendo as empresas agentes fundamentais para a existência do setor e do cluster importa identificar de forma mais pormenorizada as dificuldades, anseios e estratégias de cada uma das empresas. Assim, na secção 7.2. é analisado o setor do vinho Alvarinho, em particular nos Municípios de Monção e Melgaço. Com esta secção pretende-se encontrar respostas às proposições P.1. e P.2. A secção 7.3. visa recolher informação relativa à proposição P.3. e focaliza-se nas questões relacionadas com a internacionalização e distribuição. A secção 7.4. introduz os temas da cooperação e dos relacionamentos entre os diversos agentes, bem como a possibilidade de desenvolvimento do um cluster. Esta secção termina com a avaliação da importância da concertação de esforços como fonte propulsora da internacionalização. Com isto será possível responder à proposição P.4. A 7.5. procura identificar um conjunto de boas práticas na comunicação e promoção de outros vinhos nacionais e internacionais e, desta forma, clarificar a proposição P.5. A secção 7.6 apresenta, de forma resumida, as principais conclusões deste capítulo. 7.2. O setor do vinho Alvarinho de Monção e Melgaço As empresas caracterizam esta sub-região como sendo detentora da riqueza de uma casta que é muito importante para a Região dos Vinhos Verdes. Centrando-se essencialmente em pequenos produtores existem já alguns com alguma relevância. O papel da Adega de Monção é salientado uma vez que ajuda a dinamizar e a proliferar o setor através das suas marcas, nomeadamente na colocação, venda e dinamização da casta Alvarinho. Existe a perceção generalizada de que hoje os diversos agentes estão mais conscientes do que é necessário fazer na vinha, nas vindimas e na adega, onde a 79 qualidade aumentou substancialmente. Atualmente, existe uma grande pressão junto da CVRVV e do Instituto da Vinha e do Vinho para o alargamento do Alvarinho a outras regiões, situação que preocupa os vários empresários, e que, de acordo com Ana Sofia Rodrigues da PROVAM “será a destruição de um terroir característico, único no mundo e de tão forte associação de uma casta a uma região e ao seu solo e clima. O preço parece ser outra das preocupações destes agentes atendendo ao facto do vinho verde Alvarinho ter um posicionamento superior, onde se verificam as maiores quebras de consumo, o que torna bastante pressionado principalmente devido à crise uma vez que é o segmento onde se verifica a maior quebra de consumo. Neste contexto, Armando Fontainhas, da Adega Cooperativa de Monção, antevê “dificuldades para o futuro com o desvio do consumo para vinhos com um range de preços mais baixo”. Opinião diferente é partilhada por António Cerdeira, da Quinta de Soalheiro, que perspetiva o futuro de forma positiva como resultado do trabalho feito à volta da diferenciação da sub-região de Monção e Melgaço, o que “dá frutos porque há um reconhecimento da qualidade dos vinhos e dessa qualidade por quem os compra”. Para este empresário o setor tem potencial de crescimento desde que exista um trabalho para o correto posicionamento dos vinhos. O vinho Alvarinho desta sub-região distingue-se devido à montanha que fecha o vale do Minho desde o rio até ao interior o que se traduz num vale fechado, protegido dos ventos atlânticos. Estes condicionalismos territoriais traduzem-se num clima mais quente e seco no verão e mais chuvoso no inverno. Por isso os vinhos têm uma complexidade aromática e uma estrutura muito diferente. Por outro lado, a generalidade dos empresários refere a riqueza da casta que do ponto de vista das castas internacionais de vinhos assume um perfil particular e diferenciador. Ana Sofia Rodrigues destaca que apesar de existirem “terroires noutros locais nacionais e no resto do mundo estes não estão associados a uma só casta e isso é que é diferenciador”. Percebe-se assim que estamos na presença de vinhos brancos que se destacam pelo perfil de aromas muito florais e frutados com mineral mas ao mesmo tempo frescos, com potencial de envelhecimento em garrafa (ao contrário da maioria do brancos) e ligeiramente mais alcoólicos do que a maioria dos vinhos verdes. 80 Sendo uma casta com tamanha riqueza é importante que todos os dias se evolua perante ela. Neste âmbito é fulcral que o desenvolvimento tecnológico seja colocado ao serviço da casta e não sejam colocados, como adianta Emilio Magalhaes, do Palácio de Brejoeira, “ao serviço dessa casta sabores e aromas que não pertencem à casta e isto infelizmente aqui, como em outras regiões, acontece”, nomeadamente através da mistura de Alvarinho com outras castas. De facto, de acordo ainda com este Administrador a “casta tem uma longevidade e uma riqueza enorme e por isso temos que ter muito respeito por ela”. O comportamento dos Alvarinhos no contexto vinícola nacional e internacional registou grandes crescimentos nos últimos 10 anos, até Portugal entrar em crise. Com a crise o mercado interno está a ressentir-se. No mercado internacional é um vinho que se vende em alguns segmentos de mercado mas que dado o seu elevado preço é um vinho que entra em mercados mais de nicho. De facto sendo um vinho branco com um posicionamento de preço acima dos 6€, na grande distribuição nacional, que pode ir até aos 15€ em restaurantes e para valores superiores aos 20€ em garrafeiras internacionais tem tido muita dificuldade de vendas porque atualmente o consumo posiciona-se mais em vinhos abaixo deste valor. Mesmo no mercado internacional a concorrência de vinhos mais baratos é muito grande uma vez que se trata de vinhos muito competitivos, com elevados volumes de produção e produção altamente mecanizada. Importa então, promover o seu território porque não é apenas a casta que é excecional mas é nesta sub-região que atinge o seu potencial máximo. Em jeito de conclusão Emilio Magalhães afirma que não se “estando na presença de um vinho de massas no espaço em que ocupa quando com outros vinhos brancos nacionais a performance tem sido positiva”. Os volumes de produção das empresas analisadas são bastante diferentes verificando-se no entanto que todas as empresas têm capacidade para aumentar os seus níveis de produção. De qualquer forma, a existir um problema esse dirá respeito ao excesso de produção. O Palácio da Brejoeira tem uma estratégia muito específica resultante da sua postura châteaux e à sua conotação com um património valioso no Alto Minho. A sua produção é de 40 mil garrafas procurando apresentar crescimentos 81 na ordem dos 5% ao ano porque de acordo com Emilio Magalhães “colocar vinho no mercado a qualquer preço e de qualquer forma não é a nossa política”. A Quinta de Soalheiro por seu lado tem produções médias anuais na ordem das 150 mil garrafas por ano. Por fim, a PROVAM produz 600 mil garrafas das quais 80 mil são vinho Alvarinho e 20 mil são de espumante Alvarinho. No que diz respeito à avaliação das políticas públicas existentes para o setor foi possível verificar que as empresas não partilham de opiniões similares. Na verdade, enquanto Armando Fontainhas e Ana Sofia Rodrigues classificam estas políticas como “não existentes” e “muito fracas” respetivamente, António Cerdeira admite a “existência de muitos apoios quer ao nível da Rota dos Vinhos Verdes e da Rota do Alvarinho, apoios para a participação em feiras internacionais e apoios ao investimento”. Para os que fazem uma avaliação negativa das políticas as razões apontadas relacionam-se com a pouca atenção dada às empresas pelas entidades do setor, a falta de coordenação entre estas entidades, e ao carater generalista da promoção que conduz ao esmagamento do Alvarinho. Por outro lado, existe uma perceção clara, por parte das empresas sobre a tipologia de ações em que a presença das autoridades locais e nacionais é fundamental destacando-se aqui a presença nas feiras, na facilitação dos contatos internacionais e no desenvolvimento de ações de comunicação da imagem genérica. Numa perspetiva de futuro estas empresas esperam das autoridades públicas um papel mais efetivo na facilitação das exportações, reduzindo a burocracia, no reforço das condições e infraestruturas de apoio à produção, no reforço da presença internacional e ao nível das políticas de taxas e impostos. Perante o quadro traçado pelos entrevistados não é possível confirmar a primeira proposição (P.1) na medida que parte dos operadores classifica negativamente as políticas públicas existentes. A colaboração com entidades promotoras da investigação e desenvolvimento, da inovação e do conhecimento é para estas empresas fundamental porque permite ter acesso ao conhecimento que, de acordo com António Cerdeira, é “o único caminho para conseguir inovar”. De facto, é consensual a ideia que só é possível criar valor com 82 uma inovação constante ao nível da qualidade e do produto. Desta forma a colaboração com estas entidades é importante nomeadamente na viticultura, na seleção colonal, no desenvolvimento de embalagens e no desenvolvimento de novos produtos vínicos. Esta realidade parece confirmar desta forma a segunda proposição (P.2). Perante a análise das suas marcas e da respetiva penetração no mercado os empresários tem ideias muito claras e concretas, já no que diz respeito à possibilidade de criação de novas marcas no sentido de reforçar a capacidade de internacionalização as opiniões dividem-se. Das empresas analisadas as marcas Deu-la-Deu, Palácio da Brejoeira, o estilo de Alvarinho mais clássico que é um estilo mais fresco e mais frutado e o Portal do Fidalgo são respetivamente as marcas com maior penetração de mercado da Adega de Monção, Palácio da Brejoeira, Quinta de Soalheiro (tem apenas uma marca com 3 estilos diferentes) e PROVAM. Relativamente à possibilidade de criação de novas marcas para a internacionalização enquanto que a Adega de Monção e a PROVAM são favoráveis a essa possibilidade a Quinta de Soalheiro e o Palácio da Brejoeira não equacionam esse cenário. A definição de um posicionamento correto e uma segmentação de mercado eficaz parece ser uma preocupação comum à quase totalidade das empresas. O posicionamento é função, em primeiro lugar, do preço do verificando-se a preocupação de para cada segmento, como afirma Armando Fontainhas, “não puxar o preço para baixo”. A segmentação corresponde muitas vezes à qualidade das diferentes marcas de cada uma das empresas, nomeadamente os Alvarinhos mais clássicos, os Alvarinhos de vinhas velhas e as reservas. É nos meios de comunicação utilizados que residem as grandes diferenças resultantes da dimensão de cada uma da empresa. Efetivamente, se por um lado grandes empresas como a Adega de Monção realizam campanhas de publicidade no verão na imprensa escrita e campanhas na rede de multibanco os outro operadores apostam nas garrafeiras online, mailing list, redes sociais, em provas organizadas para clientes e distribuidores, campanhas nos pontos de venda e divulgação das colheitas junto de líderes de opinião e parceiros, nomeadamente restauração 83 A participação em feiras internacionais é também comum a todas as empresas, à exceção do Palácio da Brejoeira que, fruto do seu nível de produção não observa dificuldades na colocação do produto. As empresas que participam fazem-no a título individual, através da ViniPortugal ou através dos importadores e distribuidores. Os objetivos são também eles comuns a todas as empresas: reforçar a notoriedade das marcas e incrementar a penetração de mercado. 7.3. Do noroeste de Portugal para o Mundo As empresas analisadas no âmbito desta investigação dedicam, todas, uma parte da sua produção aos mercados externos. Desta forma, foi possível recolher um conjunto sólido e coerente de dificuldades que estas mesmas empresas enfrentam nos mercados externos. De entre os problemas elencados importa destacar o problema do preço, uma vez que o preço médio é um pouco elevado para o que é normal nas exportações de vinho verde, as dificuldades burocráticas, o posicionamento dos vinhos, sendo um posicionamento superior, de acordo com Emilio Magalhães, “baralha o mercado quando existem vinhos da mesma casta com um terço do preço” e as dificuldades em ajustar o crescimento aos volumes necessários. Outra dificuldade apontada resulta de um histórico de uma região onde, como afirma Emilio Magalhães, “até há uns anos atrás se faziam algumas tropelias” que condicionaram em termos futuros a imagem dos nossos vinhos. Numa outra perspetiva todas as empresas afirma que os clientes nacionais não representam qualquer um obstáculo à internacionalização funcionando, inclusivamente, como um veículo importante para a internacionalização. O conjunto das empresas que participou neste estudo está presente em aproximadamente 40 países. Importa referir alguns deles nomeadamente, Angola, Brasil, Canadá, China, Eslováquia, Espanha, Estados Unidos da América, França, Inglaterra, Japão, Luxemburgo, Moçambique e Rússia. As razões que levaram as empresas a escolher estes países são diversas e relacionam-se com estratégias de proximidade e consequente alargamento, questões culturais e a presença de comunidades portuguesas. Foram também apontadas outras razões como as apostas 84 das próprias empresas em determinados mercados e a existência de contactos oriundos dos próprios países. Numa outra dimensão foi possível verificar que estas empresas estão perfeitamente disponíveis para aumentar os seus volumes de vendas para os mercado externos até porque, como refere Armando Fontainhas, o “caminho é aumentar as exportações uma vez que o mercado interno está em retração”. No entanto, existe também nas empresas a consciência de que todo e qualquer crescimento têm que ser correspondido com o aumento do consumo para que o negócio continue sustentável Perspetivando o futuro procurou-se identificar as regiões e os países em que estas empresas pretendem apostar de forma a fortalecer os seus negócios. Curiosamente, neste ponto surgem novamente algumas divergências entre as diferentes empresas. De facto, se países como a Alemanha, a Rússia, a França e os Estados Unidos parecem ser mercados atrativos para todos, até pelo histórico e notoriedade que os vinhos brancos já detém nestes países, outros como Angola, Brasil e China são países com poucas tradições de consumos de vinhos brancos pelo que estes mercados se encontram, de acordo com António Cerdeira, “demasiado crus”. Relativamente ao modo de comercialização dos vinhos nos mercados internacionais volta a existir consenso uma vez que todas as empresas operam numa lógica de importador-distribuidor-retalhista. As preocupações das empresas neste ponto resumem-se à tentativa de assegurar a existência de um único agente por país/ou zona de grande dimensão garantindo, em simultâneo que esses agentes trabalhem apenas os Alvarinhos de cada uma das empresas. A opção das empresas por este modelo de distribuição resultou de aspetos a montante, tal como a dispersão de representantes que se verificava em alguns mercados, a história da construção de algumas marcas e da respetiva estratégia de distribuição e a jusante a possibilidade de escolher representantes com afirmação nos segmentos das marcas que as empresas detém e que, em simultâneo, garantam as condições financeiras e de seguimento para o desenvolvimento dos relacionamentos. Neste sentido, é fácil de entender o facto de as empresas não equacionarem a alteração dos seus modelos de comercialização e 85 distribuição mas, pelo contrário, trabalharem para reforçar os relacionamentos existentes. A distribuição, enquanto função da cadeia de valor, é assim reconhecida como fulcral para o sucesso no mercado nacional e no mercado internacional. Efetivamente, para estas empresas a distribuição é indispensável para o sucesso das marcas uma vez que se o produto não estiver disponível não vende e, para isso, a visibilidade resultante do contato diário com as lojas é fundamental. António Cerdeira afirma mesmo que a distribuição “é tão importante como o viticultor e o produtor uma vez que é responsável por grande parte da comunicação do vinho”. O histórico de cada uma das empresas e o nível de satisfação com as decisões relativas à internacionalização confirmam claramente a terceira proposição. 7.4. A cooperação e o cluster A existência de algum tipo de relacionamento entre as empresas parece estar ainda muito longe do termo “cooperação”. Desde logo surge o constrangimento que resulta da diferença de dimensão das diversas empresas que provoca afastamentos. Por outro lado, as mentalidades e o “bairrismo” são uma característica do Minho o que dificulta a criação de relações entre as empresas. Emilio Magalhães advoga a necessidade de “se fazer sempre tudo pelo bem da casta” o que implica a construção de uma marca, a decisão do modelo de distribuição e a definição do posicionamento. em termos do preço que deve ser vendido pelo seu valor. Acontece então que, por questão cultural, algumas empresas tendem a ceder pelo preço para colocar o produto no mercado o que acaba por se traduzir num erro. De factos, algumas empresas não conseguem resistir à tentação de, num curto espaço de tempo, ver os resultados daquilo que demora no mínimo 10 anos a construir que é construir uma marca. Tornase assim clara a dificuldade em associar os produtores para que todos falem no mesmo tom e de acordo com estratégias concertadas. Emilio Magalhães afirma que “ao contrário dos espanhóis nós aqui quando se trata de associativismo é um desastre” opinião que é corroborada por António Cerdeira que reconhece que “ao nível local não existe qualquer tipo de relacionamento. Ana Sofia Rodrigues afirma que apenas 86 existem “contatos residuais e muito pontuais” mas apenas com o objetivo de se conseguirem volumes mínimos perante satisfazer determinadas encomendas. Neste contexto, o desenvolvimento do cluster, de forma a permitir a definição de políticas integradas, é fundamental até porque a produção de Alvarinho está em níveis excessivos e era vital que os produtores chegassem a um entendimento. Por outro lado, é necessário reforçar a cooperação ao nível da comunicação das marcas da sub-região começando o processo pela comunicação do vinho verde e, em fase posterior orientando-a para a sub-região. E aqui, António Cerdeira, afirma que “é fundamental o papel da associação de produtores para todos comunicarem da mesma forma a sub-região”. No entanto, a referida falta de entendimento provoca, inclusivamente, reflexos no funcionamento da Associação de Produtores de Alvarinho uma vez que as associações devem ser pensadas no sentido de trabalharem e a realidade mostra que alguns dos associados não se importa. Armando Fontainhas, reconhecendo que “a cooperação talvez seja mais benéfica se realizada entre players de dimensão similar” classifica como fundamental “que os pequenos produtores se associem para realizarem um trabalho conjunto”. Para a efetivação de um cluster parece fundamental que as diferentes empresas estejam conscientes dos seus objetivos e na disposição de aceitar uma estratégia comum para o cumprimento desses mesmos objetivos porque, como afirma Emilio Magalhães “os rasgos individuais não funcionam e é necessário o associativismo para atingir um bem comum”. Neste quadro o futuro poderá ser portador de mudanças importantes porque o nível cultural na produção está a aumentar, fruto de muitos jovens que estão a regressar à atividade agrícola, o que levará a produção a evoluir fruto da maturidade e do conhecimento. A concertação de esforços entre as empresas é ainda assumida como vital para a maximização das vendas no mercado externo desde que integrada numa estratégia comum que resulte do próprio cluster. A fobia da exportação que se vive em Portugal leva, muitas vezes, a que se exporte muitas quantidades às quais não corresponde um aumento proporcional de valor. Isto deve-se à pressão que se observa na colocação do produto sem, que a ela, esteja associada uma estratégia de médio e longo prazo. A existência de uma estrutura comercial conjunta, que reúna os pequenos produtores, e 87 onde as associações tenham capacidade para formar os empresários menos esclarecidos sobre os assuntos relativos ao mercado internacional pode ser uma alavanca de qualidade para este setor. Este assunto é tão determinante que Emilio Magalhães quase se atreve a afirmar “que para exportar a empresa devia ser certificada porque está em causa o bom nome do país da marca e da região”. Esta consciencialização generalizada de que o desenvolvimento do cluster seria indutor de benefícios, diretos e indiretos, no crescimento e sustentabilidade do setor fazem crer que as empresas estariam dispostas a partilhar contatos, boas práticas e estratégias com outros operadores em nome do "bem comum" e numa perspetiva de cooperação. No entanto, verifica-se que embora existam empresas que se mostram completamente disponíveis outras não o assumem com a mesma convicção. De facto se, para determinadas empresas, alguns assuntos como a troca de contactos de clientes parecem ser passiveis de troca o mesmo não se verifica quando se fala da construção das marcas e dos processos produtivos. O estudo permitiu ainda concluir que as empresas não estão disponíveis para fazer convergir os seus preços de venda ao público para um valor comum na medida que essa decisão adulteraria as respetivas estratégias individuais e o trabalho de anos efetuado na definição do posicionamento do produtos e na identificação dos segmentos de mercado mais favoráveis. Considerando os dados recolhidos não é claro que existam condições que permitam confirmar a quarta proposição (P.4). De facto, opiniões divergentes quer ao nível do desenvolvimento do cluster, quer ao nível dos relacionamentos entre as empresas parecem não validar esta proposição. 7.5. A promoção e a comunicação do vinho Alvarinho O vinho Alvarinho da sub-região de Monção e Melgaço é único e tem, forçosamente, de ser promovido pela diferença. Naturalmente que não faz sentido que os produtores entrem em comparações com os Alvarinhos de outras regiões e que muito menos as estabeleçam com outras marcas da sub-região. A questão neste ponto, como refere Armando Fontainhas, não reside no facto de identificar se “somos melhores ou piores mas sim afirmar a nossa diferença”. Consequentemente as 88 empresas consideram que a organização de concursos de Alvarinhos não beneficia em nada a sub-região e os seus vinhos. Admitindo que ainda se estão a construir caminhos e a definir rumos de orientação resulta claro que a aposta terá assim que residir na promoção da região e não da casta estabelecendo as ligações à história, ao património e às gentes da subregião. No entanto, todos os agentes devem procurar explicar a sub-região da mesma forma permitindo assim, de acordo com António Cerdeira, que “o trabalho de comunicação de cada um se traduza em benefícios de todos”. Existe no entanto, um longo caminho a percorrer e deve ser implementado um processo de aprendizagem eficaz porque, na verdade, tal como defende Emilio Magalhães, “temos muito a aprender com os outros”. Para este agente a falta de associativismo tem sido a razão para a derrota do vinho Alvarinho da sub-região, nomeadamente no que diz respeito à sua comunicação e promoção. Atualmente verifica-se a existência de um número cada vez maior de produtores com preocupações na afirmação das suas marcas. Adicionalmente, muitos já perceberam, inclusivamente a observar os erros cometidos por outras empresas que levaram à sua extinção ou perda de competitividade, que é preferível vender menos mas de acordo com uma estratégia sustentada. Verifica-se assim a necessidade premente da aposta na formação e no conhecimento. Esta aposta permitiu aos produtores espanhóis, em particular os das Rias Baixas, a tomada de decisões mais acertadas nomeadamente as relacionadas com a forma de venda, os locais de venda e os segmentos de mercado desejados. No decorrer desta investigação foi ainda levantada a questão da designação “sub-região de Monção e Melgaço” ser demasiado extensa o que criava dificuldades adicionais à sua comunicação. No entanto, e considerando as respostas da maior parte das empresas a designação acaba por ser merecida pelo Município de Monção e a focalização neste assunto, tal como afirma António Cerdeira, não será mais do que “uma perda de tempo”. A informação recolhida não permite confirmar a quinta proposição (P.5) uma vez que a maior parte dos produtores orienta as suas preocupações para o interior da 89 sub-região e para os erros cometidos pelos seus agentes levando-os, inclusivamente, a ignorar, ou desconhecer, as boas praticas de comunicação e promoção existentes no mercado nacional e internacional. 7.6. Conclusão Torna-se novamente clara a relevância atribuída a uma casta que é muito importante para a Região dos Vinhos Verdes e da qual resultam vinhos com enorme potencial. Conforme já foi referido, é forçoso que as empresas apostem de forma decisiva na inovação e no conhecimento transportando as suas marcas para uma notoriedade e reconhecimento superior e onde, não sofrendo a pressão do preço, permita aos diversos agentes da cadeia de valor garantir a sustentabilidade das suas atividades. Outra conclusão relevante resulta do facto de a dimensão das empresas, com níveis de produção tão díspares, terem dificuldades em encontrar estratégia que sejam favoráveis aos objetivos individuais de cada uma. A cooperação entre as pequenas empresas, por forma a ganharem alguma escala, poderá ser uma das soluções que permita uma abordagem mais eficaz aos mercados externos e por outro lado que favoreça a criação de um cluster em que seja possível trabalhar a comunicação do vinho Alvarinho associado ao território e de forma integrada e transversal. 90 Capítulo 8. Conclusão 8.1. Introdução O estudo realizado nesta dissertação procurou, relativamente ao setor do vinho Alvarinho da sub-região de Monção e Melgaço, atender a um conjunto de objetivos de investigação e de acordo com os quais foram formuladas cinco proposições. Pretendeu-se assim perceber de que forma temas como a performance, a sustentabilidade, as políticas públicas, a inovação e conhecimento, as estratégias de marketing, a cooperação, o desenvolvimento do cluster, a internacionalização e a promoção e comunicação influenciam a competitividade e a internacionalização das empresas. Nos primeiros capítulos da dissertação procedeu-se a uma revisão da literatura existente sobre os temas da competitividade e da internacionalização e de um conjunto de outros temas que com estes se relacionam. Esta componente da investigação permitiu, em fase posterior, a formulação das proposições. Através da realização de 9 entrevistas a diferentes agentes do setor foi possível responder aos objetivos da investigação. A secção 8.2 apresenta as principais conclusões resultantes da investigação realizada. Na secção 8.3 identificam-se as limitações do estudo e, aop mesmo tempo, apontam-se algumas recomendações para investigação futura. 8.2. Principais conclusões Esta secção procura apresentar de forma estruturada as principais conclusões obtidas ao longo da investigação realizada, quer na revisão de literatura quer na realização e análise das entrevistas. Partindo do título da dissertação, Estratégia de Competitividade e Internacionalização do Cluster do Vinho Alvarinho, procurou-se analisar os principais conceitos relacionados com este tema. Importa referir, que o objetivo do estudo estava centralizado na sub-região de Monção e Melgaço, detentora da DOC. 91 Na revisão de literatura, constituída pelos capítulos 2 e 3, fez-se uma abordagem à competitividade, à criação de clusters, à cooperação, ao processo de internacionalização e às estratégias de marketing e comunicação. A competitividade foi objeto de estudo por inúmeros autores o que conduziu a um elevado número de definições o que acaba por dificultar a sua medição, quando tão diversos são os seus parâmetros e as suas variáveis. Cellini e Soci (2012) afirmaram que, por isso, o conceito de competitividade é desconcertante. No entanto a definição apresentada por (Porter, 1993) em que o autor caracteriza a competitividade como a habilidade ou talento resultantes de conhecimentos adquiridos capazes de criar e sustentar um desempenho superior ao desenvolvido pela concorrência parece responder a grande parte das restantes definições existentes na literatura. Este conceito de competitividade quando transportado para o universo das PME’s, que representam grande parte do tecido empresarial de muitos países, entre os quais Portugal e a sub-região onde este estudo foi realizado, é influenciado por outros aspetos como a inovação, liderança e a capacidade empreendedora. Foi também analisada a capacidade das políticas públicas para influenciar a criação e sustentabilidade dos clusters e o papel da cooperação, dependendo sempre dos níveis de relacionamento e da amplitude das redes estabelecidas, como fonte de inovação e da produtividade. Tornou-se no entanto claro que a cooperação entre empresas e a busca de relacionamento duradouros traduz-se em empresas com maior sucesso (Fink e Kessler, 2010). No capítulo seguinte, dedicado às questões da internacionalização, procurou-se analisar os aspetos que as empresas devem equacionar quando se preparam para enfrentar um processo de internacionalização. Segundo a literatura relevante, as empresas sofrem de um conjunto de influências internas, como os custos dos fatores de produção, ou externas, como os incentivos à internacionalização que condicionam as suas decisões. É possível concluir que questões como estas devem ser objeto da máxima atenção aquando da preparação de um processo de internacionalização. A literatura permite ainda concluir que empresas com pouca experiência internacional, como é o caso das empresas com acesso reduzido a informação, parecem optar por um modelo de internacionalização sequencial. Esta conclusão torna-se ainda mais 92 relevante uma vez que, conforme poderá ser verificado em outros capítulos da dissertação, esta realidade é perfeitamente ajustável às condições que as empresas da sub-região de Monção e Melgaço enfrentam. Este capítulo que analisou, também, as atividades de marketing e de comunicação nas PME’s evidencia que, sendo estas, muitas vezes, responsabilidade dos seus proprietários, não conseguem os níveis os níveis desejados devido à limitação de recursos e às formas de agir e de pensar dos mesmos. Nos capítulos 6 e 7 foram apresentados os resultados do estudo empírico que, para além de procurarem responderem aos objetivos da investigação, recolheram informação relevante para a resposta às proposições formuladas. Importa então analisar, à luz das proposições apresentadas, a informação obtida fazendo a ponte entre a opinião dos agentes institucionais e a opinião das empresas. Relativamente às políticas públicas vigentes de apoio ao setor não foi possível validar a sua adequação à sustentabilidade do setor. De facto, enquanto os agentes institucionais parecem confirmar esta proposição o mesmo não se verifica por parte das empresas. Na realidade, a maior parte das empresas considera que as políticas públicas são manifestamente insuficientes e equacionam mesmo a possibilidade de, uma vez que não existem políticas mais específicas, do “esmagamento” do setor do Alvarinho. No que diz respeita ao papel das entidades do sistema científico e tecnológico e a sua capacidade de contribuir para a valorização das estratégias de marketing das empresas esta proposição foi claramente confirmada. Tornou-se claro que, em atividades em que as competências técnicas das empresas sejam deficitárias, a colaboração com estas entidades pode contribuir para melhoria nos processo, nos produtos e na promoção. As decisões tomadas relativas à internacionalização parecem estar em conformidade com a dimensão das empresas da sub-região e o funcionamento do mercado global. Neste ponto, as duas tipologias de agentes são unânimes na defesa da exportação e num esquema de distribuição baseado em importadores e distribuidores até porque existe já um histórico e as empresas estão satisfeitas com estas opções. 93 A cooperação, nomeadamente o desenvolvimento do cluster, não parece ser potenciadora da capacidade de internacionalização das empresas. Na verdade, se para os agentes institucionais este parece ser até um caminho revolucionário e claramente benéfico; para as empresas problemas identificados ainda mais a montante, como é o caso da disponibilidade para aumentar o nível de relacionamentos e a partilha de informações parecem inibir desde logo qualquer processo de cooperação. Quando questionados sobre a importância da identificação de boas práticas nacionais e internacionais, passiveis de ser adotadas pela sub-região, de forma a potenciar a imagem dos vinhos a informação recolhida não permitiu confirmar a proposição formulada. Enquanto que os agentes institucionais reconhecem a importância do benchmarking da comunicação e da promoção, chegando mesmo a apontar alguns exemplos, as empresas não parecem atribuir grande importância a estas dimensões. A tabela seguinte apresenta, de forma sintética, as conclusões resultantes da conjugação das perspetivas dos agentes institucionais e empresariais para cada uma das proposições formuladas. 94 Tabela 7 – Validação global das proposições formuladas Proposição Perspetiva Institucional Perspetiva Empresarial Conclusão × × × × × P.1. As políticas públicas, de apoio ao setor, vigentes são as adequadas para a sustentabilidade do setor. P.2. A estratégia de marketing das empresas pode ser valorizada através da colaboração com entidades do Sistema Cientifico e Tecnológico nacional. P.3. As decisões relativas à internacionalização das empresas estão em conformidade com a sua dimensão e o funcionamento do mercado global. P.4. A cooperação, no seio de um cluster, potencia a capacidade de internacionalização das empresas. P.5. P.5. Existem boas práticas de comunicação, nacionais e internacionais, que, adotadas na subregião, possam contribuir para o aumento do reconhecimento e da notoriedade dos vinhos. Valida × Não Valida Valida parcialmente Fonte: O autor. Resulta da tabela acima a validação das proposições P.2 e P.3 uma vez que em ambas as perspetivas elas são validadas. Relativamente a P.1, uma vez que os agentes institucionais validam a proposição e os agentes empresariais não o fazem concluiu-se pela não validação da proposição, uma vez que a perspetiva empresarial se afigura como determinante, na medida em que são estes agentes que enfrentam no terreno e no seu quotidiano as dificuldades inerentes ao futuro dos seus negócios. Da mesma forma, concluiu-se pela não validação de P.4 uma vez que o desenvolvimento do cluster apenas será possível através do contributo determinante das empresas no sentido do fomento da cooperação o que, no momento atual, não parece ser uma 95 prioridade. Por fim, conclui-se pela validação parcial de P.5. De facto, apesar de esta proposição ser validada na perspetiva institucional e de não o ser na perspetiva empresarial afigura-se como preponderante neste âmbito a perspetiva dos agentes institucionais. Na verdade, tendo em consideração que grande parte do trabalho de promoção e comunicação dos vinhos é realizado por estes agentes torna-se claro o papel determinante destes na gestão e liderança destes processos e no subsequente arrastamento dos agentes empresariais. Uma conclusão interessante que se pode retirar deste estudo resulta do facto de as proposições formuladas terem sido confirmadas na sua totalidade junto dos agentes institucionais oque não se verificou nas empresas, onde apenas duas das proposições foram confirmadas. Estes resultados parecem sugerir uma maior abertura dos agentes institucionais para as questões da competitividade, cooperação e estratégias de marketing ao passo que nas empresas, provavelmente por falta de know-how, disponibilidade de recursos ou aversão à mudança estes temas não parecem consensuais. 8.3. Limitações e recomendações para investigações futuras A dissertação que resulta desta investigação foi desenvolvida procurando respeitar os padrões de qualidade e profissionalismo exigidos para um trabalho desta dimensão. No entanto, verificaram-se um conjunto de limitações que não podem deixar de merecer registo. Em primeiro, lugar o facto de o estudo ter incidência numa área geográfica de dimensão reduzida as respostas obtidas não são passíveis de generalizações aos vinhos de outras regiões. Por outro lado, verificou-se que das 40 empresas produtoras de Alvarinho que foi possível contatar apenas 13 responderam ao primeiro contato. No entanto, apenas quatro se disponibilizaram para a marcação da entrevista. De facto, ao passo que as entrevistas realizadas aos agentes institucionais permitiram obter uma perspetiva abrangente das questões em análise no estudo, o número de entrevistas realizado a empresas pode condicionar a extrapolação dos resultados para a realidade da sub-região. 96 Da limitação resultante do número de empresas que aceitaram participar neste estudo é possível retirar uma recomendação para investigações futuras que reside precisamente na tentativa de alargar o âmbito deste estudo a um leque de empresas mais representativo. Como consequência dos resultados obtidos no âmbito desta investigação é ainda possível apresentar outras recomendações para futuro. Assim, poderá ser interessante aprofundar em que medida a intervenção das autoridades públicas pode contribuir para o aumento da cooperação entre as empresas. 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