Verdes sem medo

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ID: 36385889
08-07-2011 | Outlook
Tiragem: 19667
Pág: 20
País: Portugal
Cores: Cor
Period.: Semanal
Área: 26,63 x 35,32 cm²
Âmbito: Economia, Negócios e.
Corte: 1 de 2
VINHOS
Verdes sem medo
Alvarinho era o mote, hoje temos declinações. Loureiros, trajaduras, azais e outros que tais.
O vinho verde define uma das mais modernas regiões de Portugal. O que nos ensinam as crises
TEXTO L U I S A N T U N E S
tempo traz sempre a mudança, ou é feito dela, como cantava Camões. Muitos de nós
enófilos começámos a beber
vinho atacando garrafas ou
mesmo taças de vinho verde.
Sabores simples, directos, onde não há
grande mistério, nem complicação. Agressividade moderada, muitas vezes vinda
apenas de uma acidez que podia ser cortante, mas podia também ser o complemento
bem-vindo de definição de um vinho que
representava a transição de fermentados
mais acessíveis para outros mais adultos. Se
é que me faço entender...As marcas então
populares ainda hoje existem, razão porque
não as menciono. Passados 25 anos nem
acho que fossem tão boas as primeiras garrafas que ajudei a consumir acriticamente,
nem acho hoje, crítico dedicado e publicado, que sejam assim tão más. Deixemo-las
para cumprir a sua missão, que a minha hoje
vai um pouco mais longe à descoberta.
O que aconteceu nestes 25 anos chama-se “o vinho português.” A região do Vinho Verde foi criada em 1908 e é a mais extensa DOC portuguesa, ocupando todo o
Noroeste do país, desde o Rio Minho até
quase ao Vouga, em Aveiro, e desde a costa
atlântica até ao eixo Melgaço-Basto-Re-
O
ADORAZ
ALVARINHO
TRAJADURA
BRANCO 2010
Os vinhos verdes
são naturalmente
leves e frescos,
muitas vezes
com teores
de álcool
notavelmente
baixos, como
os quatro
que hoje escolho
QN BRANCO
2010
sende, já junto à DOC Douro. Influência
marítima, uma intrincada rede fluvial e
solos pobres mas que séculos de incorporações orgânicas tornaram muito férteis
explicam o carácter dos vinhos.
Tradicionalmente, as vinhas eram afastadas do solo, para poupar espaço para outras culturas. A vinha de enforcado faz parte da paisagem do Minho: as videiras são
plantas trepadeiras, e apoiam-se numa árvore grande para crescer em altura. Naturalmente, com a produção centrada na
quantidade, os vinhos não poderiam ser
maduros. Os vinhos verdes assim se chamaram por serem feitos de uvas que não
conseguiam amadurecer totalmente, e a
sua alta acidez e baixo teor alcoólico a isso
se devia. Nestes tempos, alguns produtores
de vinhos verdes confessavam-me que
essa menção não era bem vinda nos seus
rótulos, porque comercialmente era preferível ostentar “Regional Minho.”
Tudo mudou muito depressa. Com a
modernização das vinhas e a adopção de
modernas técnicas enológicas, os vinhos
verdes rapidamente reencontraram o seu
mercado. O Alvarinho, talvez a melhor
casta branca portuguesa, liderou as naus,
mas na verdade temos uma bela flotilha de
castas brancas. Vejamos as recomenda-
das: Alvarinho, Avesso, Azal –Branco, Batoca, Loureiro, Pedernã (Arinto) e Trajadura. Vinificadas estremes, umas terão
mais interesse do que outras, mas em lote
elas brilham como equipa. O Alvarinho
está muito confinado geograficamente
(sub-zona de Monção e Melgaço), e nem
todos os anos o Alvarinho consegue brilhar. Em 2009 e 2010 outras castas vieram
mostrar os progressos da região. É o caso
do Loureiro, mas também há belos vinhos
de Avesso, de Pedernã, ou mesmo de Trajadura ou Azal. E depois, os lotes feitos
com maestria por quem nunca deixou de
acreditar nos vinhos verdes. Se uma casta
tem mais álcool, outra traz acidez; se uma
tem mais doçura, outra traz tons herbáceos a equilibrar.
Os vinhos verdes são naturalmente leves
e frescos, muitas vezes com teores de álcool
notavelmente baixos, como os quatro que
hoje escolho. São por vezes vinhos de esplanada, frívolos e simples, onde tanto podemos bebê-los a solo como convidar a um
petisco. A sua acidez natural elevada e por
vezes um pouquito de gás carbónico (não
sejamos fundamentalistas) ajudam a refrescar, limpar o palato para a próxima garfada,
ou o próximo copo. São certamente vinhos
de Verão, para acompanhar pratos estivais,
FOLLIES
ALVARINHO
LOUREIRO
BRANCO 2010
Um verdadeiro achado,
oriundo da zona de Fafe.
Cítrico e muito puro, com
fruta branca, minerais
suaves, folhas. Muito bem na
boca, leve, acidez alta muito
bem domada, redondo e
saboroso, quase cremoso,
até ao final bem definido.
Citrinos maduros, como
laranja e toranja, maçã
verde, ligeiros fumados,
calcário. Redondo na boca,
com acidez muito bem
envolvida , corpo redondo,
final longo, agridoce.
DOC VINHO VERDE (12%)
SOC. AGR. CASA PINHEIRO
PREÇO APROX. 3,30 €
DOC VINHO VERDE (10.5%)
SOC. AGR. QUINTA DE
NAÍDE
PREÇO APROX. 2 €
REGIONAL MINHO (11.5%)
SOC. AGR. QUINTA DA
AVELEDA
PREÇO APROX. 8 €
> 16 VALORES
> 16 VALORES
> 16 VALORES
Fruta branca de caroço,
citrinos, vagem de baunilha,
especiarias, minerais,
complexo e muito elegante.
Bom volume na boca, acidez
viva muito bem integrada,
todo redondo e afinado, final
longo, muito delicado.
ID: 36385889
08-07-2011 | Outlook
Tiragem: 19667
Pág: 21
País: Portugal
Cores: Cor
Period.: Semanal
Área: 9,06 x 33,40 cm²
Âmbito: Economia, Negócios e.
Corte: 2 de 2
com peixes, mariscos, saladas, sem engelhar o nariz a carnes brancas em confecções
simples. São ainda, por via da optimização
das técnicas de cultivo e vinificação, notavelmente baratos. Finalmente, são vinhos
com uma marcada origem portuguesa, uma
especificidade com reconhecimento mundial. Esta identidade própria, aliada à melhoria fenomenal da qualidade ocorrida nos
últimos anos, levou a um recrudescimento
do interesse internacional nos Vinhos Verdes. Isto tanto para os turistas que nos visitam e provam despreocupadamente, como
para os enófilos mais atentos, que encontram no Vinho Verde uma característica rara
no mundo dos vinhos: a pureza. E em Portugal? Graças ao trabalho dedicado da CVRVV,
também os portugueses redescobrem o
prazer de um vinho único.
Agora, atenção: os vinhos não se dividem
em maduros e verdes, tal como não se dividem em tintos, brancos e verdes. Vinho
Verde é o vinho da região com esse nome, e
existe nas cores tinto, rosé e branco. Se o
branco me fascina, como tentei explicar, sei
que o tinto também procura dar passos a caminho da sua renovação. Para mim, ainda
não chegou ao patamar de qualidade que
mo faça cobiçar, mas admito que as melhorias são já perceptíveis.
MUROS ANTIGOS
ESCOLHA
BRANCO 2010
Toranja, flores, frutos
tropicais domados, ervas
aromáticas. Muito apelativo
e elegante. Acidez muito
bem casada a dar excelente
frescura, textura rugosa, boa
secura, muito equilibrado,
termina longo e bem
definido.
DOC VINHO VERDE (12%)
ANSELMO MENDES
VINHOS
PREÇO APROX. 4,50 €
> 16.5 VALORES
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