DIAGNÓSTICO DE GESTAÇÃO E FETOMETRIA DURANTE OS PRIMEIROS 90 DIAS DE GESTAÇÃO EM CAPRINOS DA RAÇA SERRANA Relatório Final de Estágio Licenciatura em Engenharia Zootécnica DIANA RAQUEL GASPAR ABREU UNIVERSIDADE DE TRÁS-OS-MONTES E ALTO DOURO VILA REAL, 2006 Aos meus Pais. Ao Miguel. A todos os meus familiares e amigos. “As doutrinas do presente trabalho são da responsabilidade do autor.” Diagnóstico de Gestação e Fetometria Durante os Primeiros 90 Dias de Gestação em Caprinos da Raça Serrana Índice Agradecimentos 5 Lista de abreviaturas 6 A – Revisão bibliográfica 7 1 – Introdução 7 2 – A raça caprina Serrana 9 2.1 – Origem e solar 9 2.2 – Solar e área de dispersão 9 2.3 – Caracterização da raça 10 2.3.1 – Características morfológicas 10 2.3.2 – Características funcionais 12 2.3.3 – Características produtivas 12 2.3.4 – Efectivos 13 2.4 – Sistemas de produção 14 2.5 – Potencialidades da caprinicultura transmontana 15 3 – Ultrassonografia – princípios de funcionamento e interpretação de sonogramas 16 3.1 – Princípios básicos da ultrassonografia 16 3.2 – Cuidados com o equipamento e maneio dos animais 19 3.2.1 – Manuseamento do ecógrafo 19 3.2.2 – Maneio dos animais 19 3.3 – Planos seccionais e acessibilidade fetal 21 3.4 – Terminologia e interpretação de imagens 23 3.5 – Critérios de escolha de um ecógrafo 28 3.6 – Aplicações da ultrassonografia em reprodução animal 29 4- Desenvolvimento embrionário 30 4.1 – Fecundação 30 4.1.1 – Local de fecundação 30 4.1.2 – Duração da viabilidade dos gâmetas 31 4.1.3 – Etapas da fecundação 32 4.1.3.1 – Penetração do espermatozóide no oócito 32 4.1.3.2 – Formação dos pró-núcleos 34 4.1.3.3 – Singamia – fusão dos pró-núcleos 35 1 Diagnóstico de Gestação e Fetometria Durante os Primeiros 90 Dias de Gestação em Caprinos da Raça Serrana 4.1.3.4 – Activação do oócito 35 4.1.3.5 – Bloqueio da polispermia 35 4.1.4 – Gemeralidade 36 4.2 – Clivagem – segmentação 36 4.2.1 – Marcha normal da segmentação 38 4.2.2 – Características da clivagem 40 4.2.3 – Ritmo da clivagem 40 4.2.4 – O blastocisto 41 4.2.4.1 – Distribuição dos embriões no útero 42 4.3 – Gastrulação 42 4.3.1 – Formação e função dos anexos embrionários 43 4.3.2 – Diferenciação da área embrionária 45 4.3.2.1 – Derivados dos folhetos 47 4.3.2.1.1 – Evolução do ectoblasto 48 4.3.2.1.2 – Evolução do cordo-mesoblasto 49 4.3.2.1.3 – Evolução do endoblasto 50 4.4 – Implantação ou nidação 51 4.4.1 – Preparação do útero para a implantação 51 4.4.2 – Marcha da implantação 52 4.5 – Placentação 52 4.6 – Organogénese – Formação dos órgãos 54 4.7 – Indução embrionária 56 4.8 – Desenvolvimento fetal dos caprinos nos primeiros três meses de gestação 56 4.9 - Mortalidade embrionária e fetal 5 – Diagnóstico de gestação e determinação do número de embriões 57 60 5.1 – Métodos de diagnóstico de gestação 60 5.1.1 – Métodos laboratoriais 61 5.1.1.1 – Doseamento da progesterona 61 5.1.1.2 – Doseamento de sulfato de oestrona 62 5.1.1.3 – Doseamento de glicoproteínas associadas à gestação 63 5.1.2 – Métodos físicos 63 5.1.2.1 – Radiografia 63 5.1.2.2 – Laparoscopia 64 5.1.2.3 – Palpação abdominal 64 2 Diagnóstico de Gestação e Fetometria Durante os Primeiros 90 Dias de Gestação em Caprinos da Raça Serrana 5.1.2.4 – Palpação recto-abdominal 64 5.1.2.5 – Ultrassonografia 65 5.1.2.5.1 – Ultrassonografia modo A 65 5.1.2.5.2 – Doppler 66 5.1.2.5.3 – Ultrassonografia em tempo real – Modo B 67 5.1.2.5.3.1 – O Diagnóstico de gestação 69 5.1.2.5.3.2 – Diagnóstico de alterações na viabilidade embrionária e fetal 71 5.1.2.5.3.3 – Determinação do número de embriões 73 5.2 – Critérios para a escolha de um método de diagnóstico de gestação 74 6 – Fetometria 75 6.1 – Aparecimento e desenvolvimento dos órgãos embrionários e fetais 75 6.1.1 – Comprimento crânio-caudal 76 6.1.2 – Diâmetro do tronco embrionário 77 6.1.3 – Diâmetro biparietal 78 6.1.4 – Comprimento occipito-nasal 79 6.1.5 – Diâmetro das órbitas fetais 80 6.1.6 – Diâmetro do cordão umbilical 81 6.1.7 – Mensuração dos placentomas 81 6.1.8 – Mensuração do coração 84 6.1.8.1 – Mensuração dos batimentos cardíacos 85 6.1.9 – Outras estruturas 86 B – Parte Experimental 88 1. Caracterização da exploração 88 2. Material e métodos 88 2.1 Período A 89 2.2 Período B 90 3. Resultados 91 3.1 Período A 91 3.2 Período B 95 4. Discussão 100 4.1 Período A 100 4.2 Período B 104 5. Conclusão 107 6. Bibliografia 108 3 Diagnóstico de Gestação e Fetometria Durante os Primeiros 90 Dias de Gestação em Caprinos da Raça Serrana 7. Cibergrafia 112 Anexos 113 Anexo 1 114 Anexo 2 115 4 Diagnóstico de Gestação e Fetometria Durante os Primeiros 90 Dias de Gestação em Caprinos da Raça Serrana Agradecimentos Ao Professor José Carlos Almeida pelos comentários e sugestões que fez ao texto e pelas muitas conversas que contribuíram largamente para clarificar e melhorar o relatório. Ao Professor João Simões pela transmissão de conhecimentos na parte experimental e pelas sugestões que fez ao texto. Ao Eng.º Paulo Fontes pela ajuda e paciência demonstrada durante a parte experimental. Ao Professor Severiano Silva pela ajuda no tratamento estatístico dos dados. A todos os que, por variadas formas, tornaram possível a realização do estágio e do relatório final. 5 Diagnóstico de Gestação e Fetometria Durante os Primeiros 90 Dias de Gestação em Caprinos da Raça Serrana Lista de Abreviaturas CCC – Comprimento craneo-caudal CF – Comprimento do fémur CN – Cobrição Natural COM – Comprimento Occipito-Nasal CU – Comprimento do úmero DBP – Diâmetro biparietal DCU – Diâmetro do Cordão Umbilical DGest – Dias de gestação DOF – Diâmetro das Órbitas Fetais DP – Diâmetro dos placentomas DTE – Diâmetro do Tronco Embrionário DT1 – Diâmetro torácico 1 DT2 – Diâmetro torácico 2 IA – Inseminação Artificial OOC – Oócito PAG – Glicoproteínas associadas à gestação (pregnancy associated glicoprotein) P4 – Progesterona SPZ – Espermatozóide UTR – Ultrassonografia em tempo real VE – Vesícula embrionária 6 Diagnóstico de Gestação e Fetometria Durante os Primeiros 90 Dias de Gestação em Caprinos da Raça Serrana A – Revisão Bibliográfica 1- Introdução No norte de Portugal, a produção caprina realiza-se principalmente em regiões caracterizadas por pequenas parcelas, de difícil mecanização, solos de fraca aptidão agrícola ou uso exclusivo de floresta e ainda terrenos compostos essencialmente por matos (Monteiro et al., 2005). Nos últimos anos, descobriu-se, tanto em caprinos como em ovinos, um potencial produtivo interessante em sistemas de exploração com maior uso de recursos e de tecnologia (Parraguez et al., 1999). Segundo Santa Maria et al. (1990), citado por Parraguez et al. (1999), o recurso a sistemas mais eficientes na produção caprina, é facilitado pela capacidade que a cabra possui em responder a modificações favoráveis das condições de maneio, aumentando os níveis de produção e melhorando a sua eficiência reprodutiva, especialmente em produção intensiva de leite. Assim, o futuro da caprinicultura terá de passar naturalmente pela optimização de recursos e melhoria dos sistemas de produção, em que um dos pontos principais a ter em consideração é a reprodução, nomeadamente o controlo do ciclo éstrico, a detecção precoce de gestação, o acompanhamento do desenvolvimento do feto/embrião, a determinação da idade fetal e também a verificação da existência ou não de problemas do foro reprodutivo. O diagnóstico precoce de gestação é essencialmente útil, uma vez que torna possível diminuir perdas económicas associadas aos animais não gestantes (Quintela et al., 1999). A fetometria, por seu lado, possibilita a monitorização do desenvolvimento fetal o que, quando a data da cobrição não é conhecida, permite estimar a idade gestacional. No entanto, quando a mesma data é conhecida, a fetometria revela-se útil para estudar a normalidade ou anormalidade no crescimento e desenvolvimento fetal (Bulnes et al., 1999). A realização do diagnóstico precoce é uma das ferramentas que mais contribui para optimizar os rendimentos produtivos em explorações de pequenos ruminantes, reduzindo de forma eficaz o intervalo entre o parto e a cobrição fértil seguinte. Além disso, o conhecimento do estado reprodutivo de cada fêmea integrante de um rebanho permite melhorar o maneio alimentar dos animais e prestar-lhes os cuidados necessários (Bulnes et al., 1999), e possibilita também o refugo de animais improdutivos (Aiumlamai et al., 1992). 7 Diagnóstico de Gestação e Fetometria Durante os Primeiros 90 Dias de Gestação em Caprinos da Raça Serrana De acordo com Smith et al. (1996), citado por Chalhaub et al. (2001), existem duas categorias de perda reprodutiva: animais que morrem durante a gestação ou que falham em parir, sendo estes últimos os que mais contribuem para as perdas reprodutivas do rebanho. Assim sendo, a realização de exames ultrassonográficos oferece vantagens em termos de tempo e precisão na detecção da gestação e de problemas que possam surgir (Aiumlamai et al., 1992; citado por Chalhaub et al., 1998). A ecografia, efectuada por via transrectal ou transabdominal, pode substituir com sucesso outras técnicas directas ou indirectas de diagnóstico de gestação, mas também pode ser utilizada apenas para complementar estas últimas, quando as mesmas não permitem obter diagnósticos definitivos ou quando a gestação não evolui de forma normal (Simões et al., 2004). 8 Diagnóstico de Gestação e Fetometria Durante os Primeiros 90 Dias de Gestação em Caprinos da Raça Serrana 2- A Raça Caprina Serrana Os animais da raça caprina Serrana têm desempenhado um importante papel na fixação das populações ao meio rural, pois tem algum impacto na actividade agro-pecuária das regiões onde se encontram (Monteiro et al., 2005). A sua elevada rusticidade associada à grande capacidade para seleccionar e “ingerir” as partes mais digestíveis das plantas faz deste animal a “vaca das zonas pobres” (Monteiro et al., 2005). 2.1 – Origem e Solar A origem da cabra Serrana perde-se no tempo, sendo de difícil determinação, mas crê-se que terá tido origem em três tipos de cabras selvagens do período quaternário: Capra prisca, Capra aegagrus e Capra falconeri (Monteiro et al., 2005). A Capra aegagrus pertencia ao tronco europeu, a Capra falconeri e a Capra prisca ao tronco asiático A Capra aegagrus será, segundo alguns autores, a única ascendente das cabras domésticas. Actualmente aceita-se que a raça Serrana tenha origem na Serra da Estrela e proceda da Capra pyrenaica, ou cabra dos Pirinéus pertencente ao tronco europeu, antecessora das raças caprinas portuguesas e espanholas (Almendra, s.d.). 2.2 – Solar e Área de Dispersão De acordo com Monteiro et al. (2005), a raça caprina Serrana representa cerca de 45% do efectivo caprino nacional. Consideram-se ainda algumas variedades dentro da raça Serrana: a Transmontana, a Jarmelista, a da Serra e a Ribatejana, cada uma com características especificas principalmente no aspecto morfológico destacando-se a cor da pelagem (Cardigos, s.d.) encontrando-se o ecotipo da Serra em riscos de extinção (Monteiro et al., 2005). As áreas geográficas de dispersão da cabra Serrana e de cobertura das Associações de Criadores responsáveis pelo Registo Zootécnico dos seus animais estão ilustradas no mapa seguinte (Fig. 2.1) (Cardigos, s.d.). 9 Diagnóstico de Gestação e Fetometria Durante os Primeiros 90 Dias de Gestação em Caprinos da Raça Serrana Fig. 2.1 – Distribuição geográfica da cabra Serrana 2.3 – Caracterização da Raça 2.3.1 – Características Morfológicas Os caprinos da raça Serrana caracterizam-se pela estatura média, explorada principalmente pela sua aptidão leiteira, embora a produção de carne possua também um importante papel, principalmente em Trás-os-Montes (Monteiro et al., 2005). Cabeça (Fig. 2.2): grande, comprida, de perfil subcôncavo, fronte ampla e ligeiramente abaulada; face triangular; chanfro largo, rectilíneo e com depressão na união com o frontal, focinho fino; boca pequena e lábios finos; orelhas relativamente curtas e horizontais, cornos de secção triangular, rugosos, dirigidos para trás em forma de sabre, com hastes paralelas ou divergentes, ou ligeiramente dirigidas para trás, divergentes ou espiraladas. Barba predominantemente nos machos (Almendra, s.d.). 10 Diagnóstico de Gestação e Fetometria Durante os Primeiros 90 Dias de Gestação em Caprinos da Raça Serrana Fig. 2.2 – Pormenor da cabeça de um caprino da raça Serrana. Pescoço (Fig. 2.3): Comprido, mal musculado, bordos rectilíneos com ou sem brincos (Almendra, s.d.). Fig. 2.3 – Pormenor do pescoço de uma cabra Serrana. Tronco: Linha dorso-lombar quase direita ou ligeiramente oblíqua, dorsos e rins descarnados e rectilíneos; garupa descaída, cauda curta e arrebitada. Tronco ligeiramente arqueado; abdómen desenvolvido (Almendra, s.d.). Úbere: Bem desenvolvido, globoso, por vezes pendente; tetos pequenos e cónicos dirigidos para a frente ou ligeiramente para os lados (Almendra, s.d.). 11 Diagnóstico de Gestação e Fetometria Durante os Primeiros 90 Dias de Gestação em Caprinos da Raça Serrana Membros: Finos, resistentes, com unhas pequenas e rijas (Almendra, s.d.). Pelagem: pode ser preta, castanha e ruça, podendo apresentar coloração amarela em algumas regiões, sendo a única raça caprina autóctone de pelo comprido (Almendra, s.d.). Peso vivo adulto: Machos – 35 a 50 kg; Fêmeas – 25 a 40 kg. (Almendra, s.d.). 2.3.2. Características Funcionais A raça Serrana é utilizada para produção de leite ou leite e carne. Em função do ecotipo vai decrescendo a sua importância leiteira em favor da aptidão carne: Ribatejano, Jarmelista, da Serra e Transmontano (Almendra, s.d.). A raça Serrana, tal como as outras raças autóctones não apresenta estacionalidade reprodutiva sazonal, podendo ser coberta em qualquer época do ano, permitindo uma elevada intensificação reprodutiva. No entanto verifica-se uma concentração de partos entre os meses de Dezembro e Maio (Almendra, s.d.). As diversas características reprodutivas encontram-se resumidas na tabela 2.1. Tabela 2.1: Caracterização dos parâmetros reprodutivos. (Fonte: www.ovinosecaprinos.com; ANCABRA, 2001). Parâmetros Reprodutivos Valor Taxa de Fertilidade: 92 - 95% Taxa de Prolificidade: 1,65 – 1,92 Taxa de Fecundidade: 152 – 182% Idade ao primeiro parto (meses): 15 – 18 Idade à puberdade (meses): 8 – 12 2.3.3. Características Produtivas 2.3.3.1. Produção de carne A cabra Serrana produz cabritos criados exclusivamente com o seu próprio leite, que no caso do ecotipo transmontano são abatidos entre as quatro e as doze semanas apresentando um peso médio de 7,5 kg aos 45 dias. A carne “Cabrito Transmontano” possui Denominação de Origem Protegida (DOP). A tabela 2.2 apresenta as principais características da produção de carne. 12 Diagnóstico de Gestação e Fetometria Durante os Primeiros 90 Dias de Gestação em Caprinos da Raça Serrana Tabela 2.2: Algumas características da produção de carne (Fonte: www.ovinosecaprinos.com). Características Valor Peso médio ao nascimento: 2,2 – 3 kg Peso médio aos 30 – 40 dias: 6 – 8 kg Peso médio aos 60 dias: 11 kg GMD em regime extensivo: 120 g/dia Peso de abate tradicional: 6 – 8 kg Idade de abate tradicional: 30- 40 dias Época principal de abate: Natal, Páscoa e Agosto 2.3.3.2. Produção de Leite Na produção de leite encontra-se uma grande variação, o que reflecte por um lado a variabilidade genética da raça e por outro o sistema de produção tradicional, dependente obviamente da região da exploração. As principais características da produção de leite do ecotipo transmontano são mencionadas na tabela 2.3. Tabela 2.3: Algumas características da produção de leite (Fonte: www.ovinosecaprinos.com). Características Valor Produção de leite aos 150 dias: 103,1 litros Produção de leite total: 123,0 litros Produção média diária: 0,68 litros Duração da lactação: 181 dias Teor butiroso: 3,5 % Teor proteico: 3,3 % 2.3.4. Efectivos De acordo com dados (2005) fornecidos pela Associação Nacional de Caprinicultores da Raça Serrana (ANCRAS), existe um efectivo de 19300 cabras Serranas inscritas no livro genealógico, distribuídas por 242 explorações. Na fig. 2.4 são apresentadas as percentagens de efectivos por associação. 13 Diagnóstico de Gestação e Fetometria Durante os Primeiros 90 Dias de Gestação em Caprinos da Raça Serrana AGRIGUARDA 12% COVICÔA 6% ACORO 8% ANCRAS 65% ACRO 9% Fig. 2.4 – Percentagem de efectivos por associação.Adaptado de Cardigos, s.d. 2.4. Sistema de produção De acordo com Bourbouze (1991), citado por Almendra (s.d.), o sistema de produção caprina é um conjunto de elementos de interacção (factores e condições de produção) adequados à exploração agrícola (terra, capital, trabalho, informação, outros rebanhos, família, etc.) e que englobam essa exploração (meio físico, espaço, baldios, meio económico, meio histórico-social, etc.). Elementos que organizados pelo criador determinam as condições da conduta e de produção da cabrada para satisfazer as necessidades (leite, carne, peles, fumeiro, capital, trabalho, etc.). Os sistemas de produção variam em função da região onde a cabra Serrana é explorada e dentro de cada região, variam em função das condições edafo-climáticas (montanha, vales sub-montanos, planalto, etc.), da tradição de exploração local e da valorização monetária dos produtos e da sua facilidade de comercialização (Almendra, s.d.). A produção de caprinos da raça Serrana em Trás-os-Montes segue uma produção extensiva tradicional, que recorre ao pastoreio livre de percurso, onde os rebanhos aproveitam os recursos naturais da região. Os animais podem também ser estabulados, sendo-lhes fornecido o alimento à manjedoura (Monteiro et al., 2005). (Fig. 2.4) 14 Diagnóstico de Gestação e Fetometria Durante os Primeiros 90 Dias de Gestação em Caprinos da Raça Serrana Fig. 2.5 – Produção de caprinos da raça Serrana em pastoreio e em confinamento. 2.5 – Potencialidades da Caprinicultura Transmontana A raça Caprina Serrana possui um atributo de elevada importância, uma vez que consegue sobreviver e ainda produzir em regiões de clima adverso. É razão fundamental da sua boa resposta à intensificação, pois consegue produzir em sistemas de exploração em que as carências alimentares predominam e o maneio reprodutivo nem sempre é o mais correcto e ajustado ás disponibilidades alimentares e necessidades fisiológicas. Ao melhorar o sistema de produção é normal que a capacidade produtiva do animal se manifeste, com uma aumento significativo da produção (Almendra, s.d.). Uma das principais características dos caprinos é a elevada eficiência que possuem na produção de leite, que associada ao valor nutritivo e dietético do leite e do queijo tem incentivado a intensificação da exploração de caprinos. Assim, a produção caprina é uma fonte de entrada permanente de receitas no sistema de produção tradicional. Destaca-se ainda o interesse desta espécie, não só por sobreviver e produzir em terrenos de escassa capacidade para a produção agrícola, mas também por conseguir aproveitar a fibra vegetal com grande eficácia (Almendra, s.d.). 15 Diagnóstico de Gestação e Fetometria Durante os Primeiros 90 Dias de Gestação em Caprinos da Raça Serrana 3. Ultrassonografia – Princípios de Funcionamento e Interpretação de Sonogramas A ecografia é uma técnica baseada na produção e emissão de ultra-sons, ondas sonoras não perceptíveis ao ouvido humano, uma vez que a sua frequência de vibração é superior a 30000 Hz (Bulnes et al., 1999). Entre os diferentes modos de ecografia, o mais usado na actualidade é o modo B, ou em tempo real, que consiste numa técnica não invasiva que fornece, sem diferimentos no tempo, imagens, das estruturas interna e externa dos órgãos reprodutivos e tecidos e caracteriza ainda eventos reprodutivos como, por exemplo, a ovulação ou a transição da eco-textura do útero em diestro para o útero em estro (Griffin e Ginther, 1992). As imagens obtidas pelos aparelhos ecográficos actuais apresentam uma resolução elevada, mas muitas vezes produzem-se artefactos ou imagens que não correspondem a estruturas reais e que devem ser conhecidas para evitar erros na sua interpretação (Bulnes et al., 1999). 3.1. Princípios Básicos da UTR A UTR ou ecografia em modo B é um mecanismo que utiliza ondas de ultra-sons (sons de alta frequência) que são emitidos através de cristais piezoeléctricos existentes no transdutor (cristais capazes de converter a energia eléctrica em energia radiante mecânica e vice-versa). Consoante o tipo de tecido que atravessa, essas ondas são devolvidas como ecos, os quais são captados pelo mesmo cristal (Bellanda, s.d.), e são processados em conjuntos de pontos de brilho de diferentes intensidades de modo a formar uma imagem bidimensional ou sonograma (Simões et al., 2004). Esta imagem ecográfica representa um plano tomográfico da morfologia e anatomia dos tecidos ou órgãos explorados (Simões et al., 2004). Os ultra-sons são emitidos através do transdutor e propagam-se através dos tecidos (Goddard, 1994). A velocidade de propagação é independente da frequência mas depende das características dos tecidos (Goddard, 1994). Actualmente os transdutores/sondas (responsáveis pela emissão e recepção dos sinais ultrassonográficos) emitem feixes sequenciais ou segmentares de ultrassons obtendo-se no mesmo instante a imagem correspondente aos ecos. Nestas condições 16 Diagnóstico de Gestação e Fetometria Durante os Primeiros 90 Dias de Gestação em Caprinos da Raça Serrana denomina-se UTR modo B ou em tempo real (Simões et al., 2004). Através do princípio dos ecos, a imagem pode ser produzida no ecrã do ecógrafo que transmite a impedância acústica encontrada entre os tecidos, pelo brilho ultrassonográfico e pela distância/profundidade da interface dos tecidos (Goddard, 1994). De referir a existência de outros modos de imagem ou sistemas de ultra-sons: modo A ou modo de amplitude e modo M (movimento) também denominado TM (“tempomovimento”) e mais recentemente o modo V (volume), com imagem tridimensional. A UTR por efeito doppler foi (e ainda é nalguns locais) bastante utilizada, principalmente em suínos mas também em pequenos ruminantes. O efeito doppler baseia-se na detecção de movimento cardíaco fetal, movimento dos fetos ou ainda nos fluxos sanguíneos das artérias placentárias (El Amari et al., 2003ª - Simões et al., 2004). Em medicina veterinária, para trabalhos de diagnóstico são adoptadas sondas com frequência compreendida entre 1 e 10 MHz (Goddard, 1994). No entanto, para a generalidade dos exames de rotina do foro reprodutivo, as frequências entre os 3,5 e os 7,5 MHz são as mais adequadas (Simões et al., 2004). Os transdutores de diversas frequências são seleccionados com base no tamanho e localização das estruturas a estudar (Griffin e Ginther, 1992). Estruturas pequenas que se encontram relativamente perto do transdutor (ex.: folículos ováricos) são facilmente visualizadas com sondas de 5 ou 7,5 MHz de frequência. Pelo contrário, estruturas de maior dimensão que se distanciam mais do transdutor (ex.: feto e útero em gestações avançadas) são detectadas com maior facilidade com sondas de 3,5 MHz, visto que a profundidade da penetração é mais importante que a obtenção de uma imagem detalhada (Griffin e Ginther, 1992). As imagens são normalmente geradas por um sistema de conversão scanner, o qual processa os ultra-sons reflectidos numa forma capaz de ser apresentada no monitor (Goddard, 1994). De acordo com Griffin e Ginther (1992), a frequência é um bom indicador da resolução mas não da qualidade da imagem, ou seja, quanto maior a frequência (a resolução acústica aumenta com o aumento da frequência), menor será a sua capacidade de penetração nos meios de propagação. A atenuação é a principal limitação ao uso da ecografia em tecidos ou órgãos profundos (Simões et al., 2004). A qualidade da imagem varia com o número de cristais existentes no transdutor, com o número de imagens por segundo, com os métodos de focagem e com alguns aspectos de design (Griffin e Ginther, 1992). 17 Diagnóstico de Gestação e Fetometria Durante os Primeiros 90 Dias de Gestação em Caprinos da Raça Serrana Os transdutores lineares consistem num número de cristais piezoeléctricos (64-254) alinhados de forma precisa ao longo do eixo longitudinal da sonda (Goddard, 1994). Estes cristais, por deformação, podem receber as ondas reflectidas e transformá-las em energia eléctrica (Simões et al., 2004). Os transdutores lineares requerem uma área de contacto relativamente larga contrariamente ao que sucede com os transdutores sectoriais que facilitam a visualização de algumas estruturas inacessíveis às sondas lineares (Goddard, 1994). As sondas sectoriais consistem num pequeno número de cristais rotativos e apenas um cristal fixo ou oscilante ou num cristal oscilante (Goddard, 1994). Os ultra-sons são recebidos pelos mesmos cristais que os emitiram. Após detecção, os impulsos são transformados em corrente eléctrica proporcional à sua intensidade. Estes sinais eléctricos são amplificados e processados para posterior visualização (Stroud, 1994, citado por Simões et al., 2004). A qualidade do brilho dos ultra-sons reflectidos depende de numerosos factores, sendo os mais importantes a diferença da impedância acústica dos diversos tecidos, o ângulo entre o limite dos tecidos e a sonda e a distância a que se encontra o transdutor (Goddard, 1994). Segundo Rantanen e Ewing (1981), citado por Simões et al. (2004), os tecidos oferecem resistência à propagação dos ultrassons denominada de impedância acústica, que é proporcional á velocidade de propagação e à densidade dos tecidos. Uma vez que a velocidade de propagação nos tecidos moles sofre variações pouco significativas, a impedância acústica depende principalmente da densidade dos tecidos. São as diferenças de impedância acústica entre dois meios adjacentes que determinam os graus de intensidade de transmissão e de reflexão de ultra-sons (Cartee, 1995, citado por Simões et al., 2004). De acordo com Nyland et al. (1995), citado por Simões et al. (2004), quanto maior for esta diferença, maior será a intensidade das ondas reflectidas, diminuindo a possibilidade de propagação dos ultra-sons aos tecidos situados distalmente em relação à interface, que nos tecidos moles tem pequenas diferenças acústicas, o que permite o retorno dos ecos de intensidade variável, constituindo estas interfaces boas fontes de informação. Quando os ultra-sons se propagam através de estruturas homogéneas não existe reflexão, embora em tecidos como o fígado (tecido homogéneo), a presença de pequenas estruturas e variações de densidade produzam uma imagem de brilho aparentemente uniforme (Goddard, 1994). 18 Diagnóstico de Gestação e Fetometria Durante os Primeiros 90 Dias de Gestação em Caprinos da Raça Serrana Nas interfaces teciduais o gradiente de densidade pode ser observado (quando existe uma grande diferença de impedância acústica) e nessas áreas é gerado um forte eco. Por outro lado, tecidos com densidade acústica semelhante não são facilmente diferenciados a não ser que existam fortes linhas de demarcação (Goddard, 1994). De acordo com Ferray et al. (1991), citado por Simões et al. (2004), as interfaces em que um dos meios tem elevada densidade acústica (p. ex. as constituídas entre tecidos moles e tecido ósseo ou mineralizado) ou de baixa impedância acústica (geralmente entre tecidos moles e gases), apresentam uma intensidade de reflexão extremamente elevada bloqueando a progressão dos ultra-sons aos tecidos situados distalmente em direcção a estas estruturas. Estas interfaces constituem uma importante limitação à exploração ultrassonográfica desses tecidos (Simões et al., 2004). 3.2. Cuidados com o Equipamento e Maneio dos Animais 3.2.1. Manuseamento do Ecógrafo É conveniente tomar determinadas precauções quando se utiliza o ecógrafo e também depois do trabalho de diagnóstico estar concluído (Bellanda, s.d.). O ecógrafo deve colocar-se numa zona protegida e com fraca luminosidade ambiente de modo a obter um maior contraste na visualização da imagem no monitor (Simões et al., 2004). Posteriormente, as ligações do ecógrafo devem realizar-se com o equipamento desligado, inclusive quando pretendemos trocar o transdutor. Em caso de estudos com sondas transrectais, estas devem estar protegidas com uma luva adequada ao efeito, prevenindo assim o seu contacto directo com as fezes dos animais em observação e deve também ser aplicado um gel acústico sobre a zona de cristais para obtenção de uma melhor imagem, pois o gel constitui um bom meio de propagação de ultra-sons e não provoca interferências significativas (Simões et al., 2004). Depois do diagnóstico é recomendável limpar o ecógrafo com um pano limpo e húmido e a sonda deve ser lavada (Bellanda, s.d.). 3.2.2. Maneio dos Animais Os animais sujeitos à exploração ecográfica por via transrectal devem estar devidamente contidos em posição de estação. As fezes devem ser removidas do recto para 19 Diagnóstico de Gestação e Fetometria Durante os Primeiros 90 Dias de Gestação em Caprinos da Raça Serrana que o contacto entre o transdutor e a mucosa rectal dos animais seja optimizado (Freitas e Simplício, 1999). O transdutor devidamente lubrificado é inserido no recto sofrendo lentas rotações de forma a percorrer todo o útero (Ishwar, 1995). Quando se realiza o diagnóstico transabdominal, a sonda é colocada na zona inguinal do lado direito, uma vez que o rúmen ocupa grande parte do lado esquerdo. Para facilitar uma boa transmissão dos ultra-sons entre o transdutor e a pele, para além de utilizar o gel acústico, em algumas raças é necessário depilar parcialmente (tricotomia) a região inguinal dos animais (Simões et al., 2004). Embora no exame transrectal seja conveniente remover as fezes da ampola rectal, de modo a facilitar o contacto com a sonda, é possível (e mais prático) inserir a sonda com o transdutor virado para cima, rodando-a posteriormente 180º, emitindo os feixes para baixo (Simões et al., 2004a). Assim, a bexiga urinária e o útero são facilmente localizados sem a necessidade de remover as fezes da ampola rectal (Simões et al., 2004). Em alguns casos os animais são sujeitos a um período de jejum, anterior ao exame, de forma a evitar um excesso do conteúdo ruminal e intestinal (Bulnes et al., 1999). Nos pequenos ruminantes o diagnóstico de gestação é muitas vezes realizado com sondas transabdominais (Fig. 3.1), utilizando sondas de 5 ou 3,5 MHz de frequência (Simões et al., 2004), actualmente a UTR por via transrectal começa a “ganhar terreno”, pois de acordo com Haibel (1990), oferece uma maior precocidade e precisão no diagnóstico de gestação (Ishwar, 1995). Fig. 3.1 – Exploração ecográfica por via transabdominal em pequenos ruminantes (adaptado de Bulnes et al., 1999). 20 Diagnóstico de Gestação e Fetometria Durante os Primeiros 90 Dias de Gestação em Caprinos da Raça Serrana A exploração ecográfica deve ser realizada de forma a obter diferentes planos ultrassonográficos com o objectivo de obter imagens mais representativas das estruturas embrionárias ou fetais (Simões et al., 2004). Os exames ecográficos por via transrectal (Fig. 3.2) podem ser realizados até cerca dos 90 dias de gestação, uma vez que, passado este período, o útero e o feto se tornam menos acessíveis por esta via (Simões et al., 2004). Posteriormente pode-se recorrer à utilização de sondas transabdominais. Estas últimas têm como principal inconveniente o diagnóstico mais tardio de uma gestação (Haibel (1990); Freitas e Simplício (1999)), só sendo possível a sua utilização a partir dos 22 dias (através da visualização da vesícula embrionária) (Hesselink y Taverne, 1994) ou dos 25-30 dias (Gearhart et al., 1988; Bretzlaff et al., 1993) (pela visualização do embrião), enquanto que com sondas transrectais a gestação se possa detectar a partir dos 11 dias (diagnóstico de gestação incompleto, apenas baseado na presença da vesícula embrionária) ou aos 19 dias (Bulnes et al., 1999). Fig. 3.2 – Ecografia transrectal. Adaptado de Simões et al. (2004), citando Pierson et al. (1988). 3.3. Planos Seccionais e Acessibilidade Fetal De acordo com Simões et al. (2004), o diâmetro relativamente pequeno da ampola rectal e a utilização de um transdutor linear posicionado ao longo do eixo longitudinal da 21 Diagnóstico de Gestação e Fetometria Durante os Primeiros 90 Dias de Gestação em Caprinos da Raça Serrana ampola são factores que contribuem para a limitação dos movimentos da sonda. Por outro lado, segundo os mesmos autores, a acessibilidade fetal (ou do conteúdo uterino) também é uma condicionante à obtenção dos planos ecográficos. A nomenclatura utilizada para descrever os diversos planos ecográficos é baseada no modelo fetal de apresentação normal (eixo longitudinal da coluna vertebral do feto é paralelo ao eixo longitudinal da mãe) dentro do útero (Kanh, 1994, citado por Simões et al., 2004). Normalmente esta nomenclatura também é utilizada para caracterizar outras estruturas uterinas (Simões et al., 2004). Os planos existentes são os seguintes (Fig. 3.3): 2.3.1 Planos longitudinais ou sagitais 2.3.1.1 Plano mediano: plano ultrassonográfico posicionado exactamente entre a linha branca e a espinal-medula. 2.3.1.2 Plano paramediano: secções paralelas ao plano anterior 2.3.2. Plano horizontal: secção latero-lateral do feto 2.3.3.Plano transversal: secção perpendicular ao plano mediano (vertical ao eixo do corpo). A observação dos órgãos e partes do corpo fetal depende do tempo de gestação, da posição do feto relativamente ao transdutor e da espécie animal à qual se realiza o diagnóstico (animais de grande porte versus animais de pequeno porte) (Simões et al., 2004). As apresentações fetais podem ser classificadas em anteriores, posteriores e transversais. Nas primeiras duas, o eixo longitudinal da coluna vertebral do feto é paralelo ao da mãe, estando a diferença na extremidade do feto que se encontra direccionada para a cavidade pélvica da mãe. A apresentação transversal é definida quando o eixo da coluna vertebral do feto está em posição transversal relativamente à mãe (Simões et al., 2004). Estas apresentações são importantes para a acessibilidade dos diversos órgãos fetais, uma vez que o transdutor só pode ser colocado na parte inicial dos cornos uterinos. Nos primeiros meses de gestação é possível visualizar um maior nível de alterações nas apresentações fetais, diminuindo à medida que o feto aumenta de volume (Simões et al., 2004). 22 Diagnóstico de Gestação e Fetometria Durante os Primeiros 90 Dias de Gestação em Caprinos da Raça Serrana Fig. 3.3 – Planos seccionais. Adaptado Simões et al. (2004), citando Kanh (1994). 3.4. Terminologia e Interpretação de Imagens Os tecidos ou órgãos são constituídos por múltiplas interfaces acústicas. A capacidade de reflectirem em maior ou menor grau os ultra-sons denomina-se de ecogenicidade (Simões et al., 2004). A representação dos ecos de retorno como pontos de brilho sobre um fundo negro é feita através de uma escala de cinzentos. Esta escala de cinzentos tem como extremos o branco e o preto. O primeiro representa a reflexão ou retorno máximo dos ecos, cujos exemplos mais claros são os ossos e os gases. Estas estruturas denominam-se hiperecogénicas ou hiperecóicas, devido à grande quantidade de ecos que produzem; no caso do osso por causa da sua densidade, no caso dos gases devido à dispersão das partículas que impedem a condução dos ultra-sons. O preto representa a inexistência de reflexão, que se produz por exemplo nos líquidos. Estas estruturas denominam-se anecogénicas ou anecóicas, devido à inexistência de ecos (Bulnes et al., 1999). Quando estamos perante uma baixa reflexão (Bulnes et al., 1999), quando a intensidade dos ecos é 23 Diagnóstico de Gestação e Fetometria Durante os Primeiros 90 Dias de Gestação em Caprinos da Raça Serrana menor que a dos tecidos adjacentes (Simões et al., 2004), denominam-se os tecidos ou órgãos de hipoecogénicos ou hipoecóicos. Esta denominação pode ser utilizada quando se quer comparar a ecogenicidade de uns tecidos em relação a outros (Bulnes et al., 1999). Quando a intensidade dos ecos é igual à dos tecidos adjacentes, os órgãos ou tecidos denominam-se isoecogénicos (Simões et al., 2004). Segundo Cartee et al. (1993), citado por Simões et al., (2004), a designação da ecogenicidade dos órgãos ou tecidos é portanto, relativa às diferenças de densidade dos meios adjacentes. Para obter uma maior fiabilidade da escala de cinzentos e optimizar a imagem representada no monitor, o ecógrafo calcula electronicamente o tamanho, a forma e a localização das interfaces e estruturas exploradas com base na velocidade do som e no tempo de retorno (Bulnes et al., 1999). Os ecografos actuais possuem a capacidade de controlo de variação da intensidade dos ultra-sons reflectidos. Esta característica denominada ganho geral (gain), permite diminuir ou aumentar a intensidade geral dos ecos visualizados, optimizando o contraste entre os diversos pontos. Estes aparelhos apresentam ainda a possibilidade de controlar a variação de intensidade proximal ou distal, denominando-se ganho proximal (near gain) ou ganho distal (far gain) respectivamente. Esta designação é particularmente útil para corrigir as diferenças de intensidade de estruturas isoecogénicas situadas a diferentes profundidades pois, normalmente, os ecos provenientes de estruturas mais profundas são as de menor intensidade devido ao efeito de atenuação da maior distância do meio percorrido (Rantanen e Ewing, 1981 – citado por Simões et al., 2004). O controlo dos ganhos é especialmente importante quando s pretende distinguir entre estruturas reais e artefactos (Simões et al., 2004). De acordo com Burk e Ackerman (1996), citado por Simões et al. (2004), uma vez que os pontos de brilho representam a ecogenicidade e o posicionamento relativo das interfaces acústicas é possível avaliar certas características dos tecidos e órgãos explorados, como o tamanho, a conformação, a posição e a arquitectura ou ecotextura ecogénica. As três primeiras podem ser avaliadas de forma objectiva, através da mensuração e observação dos limites dos tecidos ou órgãos, o que não acontece quando se pretende avaliar a ecotextura. Segundo Nyland et al. (1995), a arquitectura ecogénica é constituída por ecos provenientes de reflexões especulares (o ângulo de reflexão é igual ao ângulo de incidência) e não especulares (restantes reflexões), embora o processo da sua formação seja pouco conhecido (Simões et al., 2004). Quando se pretende avaliar esta característica é necessário fazer uma apreciação da homogeneidade, granulação ou 24 Diagnóstico de Gestação e Fetometria Durante os Primeiros 90 Dias de Gestação em Caprinos da Raça Serrana irregularidade das interfaces acústicas (Burk e Ackerman, 1996), ou seja, do tamanho, espaçamento e irregularidade dos pontos (Simões et al., 2004). O “software” incorporado no aparelho ultrassonográfico faz as mensurações das estruturas exploradas, que muitas vezes podem surgir distorcidas na imagem ecográfica, devido à obtenção de planos ultrassonográficos inadequados (órgãos demasiado grandes para a área de exploração do transdutor) ou por causa da pressão exercida sobre as estruturas exploradas (Burk e Ackerman, 1996; citado por Simões et al., 2004). Para interpretar uma imagem ecográfica é necessário ter em atenção a qualidade da imagem e a sua fiabilidade pois estas, muitas vezes encontram-se afectadas pelo aparecimento de artefactos na visualização das estruturas. Um artefacto é definido como uma imagem ultrassónica que não corresponde ao eco real do tecido submetido a observação (Bulnes et al., 1999). A sua ocorrência deve-se à visualização de ecos que retornam ao transdutor de forma errada ou, simplesmente, à ausência do seu retorno (Wrigley, 1998; citado por Simões et al., 2004). Segundo Bru (1994), citado por Simões et al. (2004), os artefactos podem representar 30 a 90 % dos ecos observados. Apesar de, na maioria dos casos, dificultarem o diagnóstico ecográfico, a sua presença também pode ser associada a determinadas patologias, o que pode ajudar na sua identificação (Bulnes et al., 1999). Assim, o reconhecimento dos artefactos é importante, de forma a determinar quais possuem valor diagnóstico e, quando tal não acontece, tentar minimizá-los, o que é possível através do reajustamento dos controlos do aparelho ou do direccionamento dos feixes de ultra-som (Simões et al., 2004). Algumas interferências na imagem não se devem só à interacção física dos ultrasons com os tecidos, mas podem ser induzidas por aparelhos com radiações electromagnéticas provenientes de aparelhos eléctricos situados na proximidade ou pelo próprio utilizador (mau contacto do transdutor com a superfície do animal provoca bloqueio dos ultra-sons, ocorre a separação do eco, aparecendo linhas rectas com descontinuidade na imagem (Bulnes et al., 1999) (Fig. 3.4), podem também resultar do uso de baixas frequências ou tecidos proximais, que diminuem a resolução ou pela compensação incorrecta dos ganhos (intensidades) que também provoca alterações na imagem (Kirberger, 1995; citado por Simões et al., 2004). Os ganhos proximais excessivos podem esconder estruturas hipoecogénicas superficiais, enquanto que baixos ganhos podem originar áreas anecogénicas ou hipoecogénicas adventícias (Simões et al., 2004). 25 Diagnóstico de Gestação e Fetometria Durante os Primeiros 90 Dias de Gestação em Caprinos da Raça Serrana Fig. 3.4 – Artefacto ecográfico à direita de um placentoma, resultante do mau contacto entre o transdutor e a superfície animal. Os artefactos mais importantes e os observados com maior frequência em reprodução são: 3.4.1. Ângulo de Incidência Anormal ou Sombra Lateral O ângulo de incidência anormal, que se produz especialmente nas margens dos órgãos, leva a uma omissão do eco ou sombra lateral, aparecendo as estruturas incompletas. Neste caso a solução passa simplesmente por alterar o ângulo de observação (Bulnes et al., 1999). Este artefacto resulta da interacção dos ultra-sons com as interfaces curvas dessas estruturas: uma parte destes é reflectida para os tecidos adjacentes e a restante sofre refracção (Nyland et al., 1995), impedindo, desta forma, que regressem ao transdutor (Simões et al., 2004). 3.4.2. Reverberação acústica Consiste na produção de falsos ecos devido à presença de duas ou mais superfícies reflectoras no trajecto da propagação dos ultrassons (Penninck, 1995; citado por Simões et al., 2004). Este artefacto ocorre quando os ecos de alta intensidade, ao retornarem ao transdutor ou a uma superfície reflectora mais proximal, serem reflectidos por estes, voltando a propagar-se aos tecidos e sendo finalmente reflectidos em direcção ao transdutor (Fig. 3.5). De acordo com Kirberger (1995), citado por Simões et al. (2004), o 26 Diagnóstico de Gestação e Fetometria Durante os Primeiros 90 Dias de Gestação em Caprinos da Raça Serrana sinal eléctrico é processado como tendo feito um único percurso, apresentando o dobro da distância relativamente à das interfaces originais. Fig. 3.5 – Representação esquemática das reverberações acústicas. (Adaptado de Simões et al., 2004) 3.4.3. Sombra Acústica A sombra acústica (Fig. 3.6) deve-se a uma reflexão ou atenuação completa dos ecos por estruturas como os ossos ou gases, que produzem uma reflexão total dos ultrasons e que impedem a visualização do que se encontra debaixo delas, criando uma zona anecogénica artificial (Bulnes et al., 1999). Fig. 3.6 – Representação esquemática da sombra acústica. (Adaptado de Simões et al., 2004) 27 Diagnóstico de Gestação e Fetometria Durante os Primeiros 90 Dias de Gestação em Caprinos da Raça Serrana 3.4.4. Reforço Posterior ou Transmissão Directa Este artefacto é causado por uma fraca atenuação dos ecos em estruturas com líquidos (por exemplo: bexiga urinária, grandes folículos e vesículas embrionárias), e que se traduz numa área de ecos brilhantes e densos, devido à presença de várias ondas de som presentes nesta zona em comparação com outras à mesma profundidade, mas não por baixo do líquido (Bulnes et al., 1999). Segundo Penninck (1995), citado por Simões et al. (2004), o reforço posterior contribui para a diferenciação de estruturas quísticas de massas sólidas hipoecogénicas tais como corpos lúteos e estruturas foliculares, apresentando portanto, valor diagnóstico. 3.4.5. Artefacto das “seis e doze horas” De acordo com Simões et al. (2004), quando alguns feixes de ultra-sons incidem perpendicularmente nas superfícies proximal e distal de estruturas esféricas com conteúdo líquido podem produzir reflexões especulares. Estes ecos hiperecogénicos estão situados em ambas as superfícies às seis e doze horas, daí a sua denominação. 3.5. Critérios de Escolha de um Ecógrafo É muito importante ter em consideração determinados factores antes de escolher o equipamento para ecografias, e o primeiro a ter em conta é o tipo de aplicação (Bellanda, s.d.). Este critério está principalmente relacionado com o tipo de sonda a eleger, uma vez que o corpo do aparelho, na prática veterinária, está mais em função das possibilidades económicas. O ecógrafo deve possuir essencialmente uma boa resolução, ou seja, a qualidade da imagem fornecida pelo ecrã deve ser bastante nítida. Como requisitos mínimos, o ecógrafo deve dispor de um controlo de congelação da imagem no ecrã, ter a possibilidade de variar a escala de representação da imagem, com a finalidade de poder observar mais detalhadamente algumas estruturas, e um terceiro ponto muito importante, é a possibilidade de realizar mensurações através de calipers. Existem ainda outras funções disponíveis em alguns modelos de ecografos, tais como a possibilidade de memorizar e armazenar algumas imagens, variar a velocidade de emissão e recepção de ultra-sons em órgãos móveis para obter melhores imagens (Bulnes et al., 1999). Quanto ao transdutor, o desenho (linear ou sectorial; externo ou intrarectal) e a frequência, são os critérios principais na sua selecção (Bulnes et al., 1999). 28 Diagnóstico de Gestação e Fetometria Durante os Primeiros 90 Dias de Gestação em Caprinos da Raça Serrana 3.6. Aplicações da UTR em reprodução animal O campo de aplicações da UTR é muito vasto, tendo aumentado as mesmas nos últimos anos através da biotecnologia da reprodução. Segundo Bellanda (s.d.), alguns dos variados usos que o ecógrafo pode ter nesta área são: Estudo dos ovários e útero durante o ciclo éstrico e gestação – Diagnóstico de patologias do aparelho reprodutor; Diagnóstico precoce de gestação; Determinação precoce do sexo do feto Estudo da dinâmica folicular; Guia de aspiração folicular e colheita de oócitos; Estudo da viabilidade embrionária; Determinação da idade de gestação; Avaliação ginecológica de dadoras e receptoras de embriões; Determinação do momento do inicio da superovulação das dadoras de embriões; Estimativa da resposta superovulatória; Estudo do momento apropriado à aplicação de agentes luteolíticos para sincronizar cios; Avaliação da resposta do ovário a outros sistemas de sincronização de cio; Determinação de gestações duplas Aplicação em machos, para estudo das glândulas acessórias, testículos e epidídimo. 29 Diagnóstico de Gestação e Fetometria Durante os Primeiros 90 Dias de Gestação em Caprinos da Raça Serrana 4. Desenvolvimento Embrionário 4.1. Fecundação Nas espécies de reprodução sexuada, a formação de um novo ser implica a união de um gâmeta masculino e de um gâmeta feminino (Simões, 1984), é essencial o contacto entre o OOC e o SPZ em suspensão no líquido seminal (Costa e Morato, 1984). O conjunto de acções desencadeadas pelo gâmeta masculino no gâmeta feminino, levando esta união à formação do ovo ou zigoto, designa-se de fecundação (Simões, 1984). Posteriormente, o zigoto sofre um processo ontogénico cuja manifestação inicial é a segmentação do ovo (Costa e Morato, 1984). Nos mamíferos a inseminação é interna e é ao macho que compete, através de um contacto mais ou menos prolongado, consoante a espécie, a introdução do líquido seminal (inseminação) nas vias genitais da fêmea (Costa e Morato, 1984). A primeira consequência da fecundação é, portanto, o restabelecimento da diploidia. O SPZ é haplóide. O óvulo também. Logo a mistura dos lotes cromossómicos de ambos forma uma célula diplóide, o zigoto (Uzanian e Birner, 2001). A segunda consequência é a determinação do sexo, uma ocorrência particularmente importante nos mamíferos. A terceira consequência da fecundação é que a própria desencadeia uma série de eventos que permitiram o desenvolvimento do zigoto em futuro embrião (Uzanian e Birner, 2001). 4.1.1. Local de Fecundação Nas espécies pecuárias, a fecundação ocorre na porção distal da ampola tubárica (fig. 4.1) (Simões, 1984). Ao chegar à ampola, o OOC encontra-se rodeado pela membrana pelúcida e por uma cobertura de células foliculares que formam a corona radiata (Simões, 1984). Aguardando o OOC, encontram-se, há muito, os SPZ já capacitados (nas espécies em que este procedimento é essencial). Embora os SPZ se encontrem em elevado número, representam apenas uma reduzida fracção daqueles que penetram no aparelho genital feminino (Simões, 1994) e normalmente muito poucos ou mesmo só um, conseguem penetrar o OOC (Costa e Morato, 1984). 30 Diagnóstico de Gestação e Fetometria Durante os Primeiros 90 Dias de Gestação em Caprinos da Raça Serrana Fig. 4.1. – Recolha dos OOC. Migração do concepto. Adaptado de Simões, 1984. Amp – Ampola tubárica; Ft – Fímbrias tubáricas; Ov – Oviducto; Ut – Cavidade uterina; U-T – Junção útero-tubárica; Zp – Zona pelúcida. Início do desenvolvimento do concepto: 1- Fase dos pró-núcleos; 2 – 1º fuso; 3 – Ovo; 4 e 5 – Fases sucessivas de segmentação; 6 – Mórula; 7 - Blastocisto 4.1.2. Duração da Viabilidade dos Gâmetas A vida útil dos gâmetas é bastante limitada. Na maioria das espécies pecuárias a fertilidade dos gâmetas masculinos é apreciavelmente reduzida ou quase extinta nas primeiras 48 horas (Simões, 1984). Por outro lado, a senescência dos SPZ conduz a um rápido incremento na incidência de embriões inviáveis (208, citado por Simões, 1984). A viabilidade dos OOC é ainda mais reduzida, normalmente perdem a sua capacidade de desenvolvimento normal em 24 horas (Simões, 1984). Assim, com a viabilidade dos gâmetas comprometida, a inseminação tardia conduz a perturbações no processo de fecundação, ou à fecundação de OOC envelhecidos, o que pode originar um desenvolvimento anormal do embrião, cujo destino é a reabsorção ou a expulsão prematura (Simões, 1984). Para que a fecundação ocorra dentro dos parâmetros normais, em pequenos ruminantes, é essencial realizar a inseminação pelo menos 6 a 8 horas antes do final do cio, proporcionando desta forma uma fertilidade máxima (Simões, 1984). 31 Diagnóstico de Gestação e Fetometria Durante os Primeiros 90 Dias de Gestação em Caprinos da Raça Serrana 4.1.3. Etapas da Fecundação Para a fecundação se realizar é necessário seguir 4 passos (Fig. 4.2.) 1. Penetração do SPZ no OOC; 2. Formação dos pró-núcleos; 3. Fusão dos pró-núcleos; 4. Reactivação da célula feminina. Fig. 4.2. – Penetração do SPZ no OOC e fenómenos subsequentes. Adaptado de Simões, 1984. 1 – Encontro de gâmetas; 2 – Franqueada a zona pelúcida; 3 – Travessia da membrana vitelina; 4 – Iminente a emissão do 2º glóbulo polar; 5 – aparecimento do pró-núcleo masculino; 6 – Aproximação dos dois pró-núcleos. C – Cabeça do SPZ; Ep – Espaço perivitelino; Gp I – 1º glóbulo polar; Gp II – 2º glóbulo polar; Pf – Pró-núcleo feminino; Pm – Pró-núcleo masculino; Zp – zona pelúcida. Penetração do SPZ no OOC É evidente que o fenómeno mais característico da fecundação é a penetração do SPZ no OOC (Fig. 4.3.), o que se realiza de diferentes modos de acordo com a espécie (Costa e Morato, 1984). 32 Diagnóstico de Gestação e Fetometria Durante os Primeiros 90 Dias de Gestação em Caprinos da Raça Serrana De uma maneira geral, o óvulo das diferentes espécies animais possui alguns invólucros protectores, além, claro, da membrana plasmática do mesmo. É comum a existência de uma membrana vitelina muito delgada, por fora da membrana plasmática do óvulo. Externamente a essa membrana vitelina existe ainda um invólucro gelatinoso conhecido como zona pelúcida (Uzanian e Birner, 2001). A corona radiata é precocemente dispersa; a sua completa remoção não é imprescindível à activação do OOC, mas acontece mesmo quando não ocorre fecundação. A libertação de células constituintes da corona radiata provém do desencaixe dos respectivos prolongamentos afundados na substância da zona pelúcida e até no ooplasma. A zona pelúcida passa assim a ser a camada mais externa do OOC (Simões, 1984). Cauda Mitocôndria Núcleo Acrossoma Zona Pelúcida Memb. Vitelínica Memb. Plasmática Grânulos ovulares Cromossomas Fig. 4.3. – O ingresso do SPZ no OOC. Adaptado de Uzanian e Birner, 2001. Todos os invólucros referidos constituem um eficiente revestimento protector, mas ao mesmo tempo exigem que o SPZ seja dotado de um sistema perfurador capaz de vencer os obstáculos à fecundação (Amabis e Martho, 2003). Tal como acontece nos OOC, também o SPZ possui características próprias e fundamentais para tornar possível a fecundação (Uzanian e Birner, 2001). Um elemento fundamental para a penetração do SPZ no OOC é indiscutivelmente o acrossoma, que actua essencialmente através de enzimas que, em contacto com a membrana gelatinosa (zona pelúcida) do OOC, são libertadas 33 Diagnóstico de Gestação e Fetometria Durante os Primeiros 90 Dias de Gestação em Caprinos da Raça Serrana (Uzanian e Birner, 2001). Essas enzimas digerem o invólucro gelatinoso e abrem passagem. A seguir, proteínas da classe das actinas efectuam a ligação da membrana plasmática do SPZ com a membrana vitelina; outras proteínas efectuam o contacto do SPZ com a membrana plasmática do óvulo (Uzanian e Birner, 2001). O processo é complexo, uma vez que as proteínas libertadas são particulares de cada espécie e garantem que a penetração do SPZ só ocorrerá se o óvulo pertencer à mesma espécie (Uzanian e Birner, 2001). Como consequência da penetração do SPZ, contam-se a actividade metabólica do OOC, o recomeço da meiose com emissão do 2º glóbulo polar na maioria das espécies, o bloqueio da polispermia e a formação dos pró-núcleos (Simões, 1984). Formação dos Pró-núcleos Com o avanço do SPZ para zonas mais profundas, ocorre um aumento do seu volume que excede o da maioria das células, devido à descondensação do núcleo. Ao mesmo tempo libertam-se os fios cromossómicos e vão aparecendo nucléolos que coalescem, enquanto se organiza igualmente uma membrana nuclear (Simões, 1984). O desenrolar destes processos conduz à formação do pró-núcleo masculino (Simões, 1984). Na célula feminina, ocorre a fusão da sua membrana com a de uma das inclusões periféricas do OOC, nas quais se encontram aglomerados – os grânulos corticais (Simões, 1984). Segundo Vaissaire (1977) e Hunter (1980), citados por Simões (1984), é através da consequente ligação destes no espaço perivitelino que se estabelece uma barreira à futura penetração de SPZ, fenómeno conhecido por bloqueio da polispermia. O pró-núcleo feminino inicia a sua formação após a conclusão da segunda divisão reducional e de expulso o segundo glóbulo polar, sendo a sua formação mais tardia que a do pró-núcleo masculino (fig. 4.2) (Simões, 1984). A formação do pró-núcleo feminino, consequência da activação induzida pelo SPZ, caracteriza-se pelo aparecimento de uma membrana envolvendo o material cromossómico de origem materna, (Vaissaire, 1977, citado por Simões, 1984). Embora semelhantes entre si, o pró-núcleo masculino distinguese do feminino por ser o mais volumoso (Simões, 1984). 34 Diagnóstico de Gestação e Fetometria Durante os Primeiros 90 Dias de Gestação em Caprinos da Raça Serrana Singamia – Fusão dos Pró-núcleos Ao atingir o seu máximo desenvolvimento, o pró-núcleo masculino migra, através de vários microtúbulos, para o centro da célula, aproximando-se do feminino (Uzanian e Birner, 2001). Os pró-núcleos migram até ao centro do ovo provavelmente devido a rearranjos no ovo após a activação (Hafez, 1993). Os pró-núcleos haplóides, após uma redução em número e volume dos respectivos nucléolos, enrugam-se e encostam-se (Austin, 1973 e Mclaren, 1974, citados por Simões, 1984). Assim que ambos os prónúcleos se encontram em contacto, os invólucros nucleares dispersam-se, permitindo a mistura dos cromossomas (Hafez, 1993). A fusão dos pró-núcleos, cariogamia ou singamia (Simões, 1994), leva à formação de uma célula diplóide, o zigoto (Uzanian e Birner, 2001). Os dois grupos de cromossomas, que inicialmente se tornam menos distintos, condensam-se e reúnem-se na proximidade da primeira divisão da clivagem, formando-se um único grupo que representa a profase da primeira mitose do ovo (Simões, 1994). Subsequentemente dá-se a sua divisão longitudinal e afastam-se para as extremidades do fuso (Simões, 1984). Começa a multiplicação do zigoto em inúmeras células filhas. Iniciase aqui o longo caminho que levará à formação do embrião (Uzanian e Birner, 2001). Activação do OOC De acordo com Austin (1973), citado por Simões (1984), em consequência da instalação de uma inibição, na maioria das espécies entram em acentuado declínio os processos metabólicos do OOC ao ser atingida a metáfase da segunda divisão meiótica. O mesmo autor refere que, uma vez realizada a penetração do SPZ, o OOC sofre uma reactivação que consistiria precisamente na supressão da inibição. A activação iniciase precocemente e está completa num período de 6 a 8 horas (Hunter, 1974, citado por Simões, 1984). Bloqueio da Polispermia No espaço perivitelino podem surgir SPZ, para além daquele que participa na fecundação; são os SPZ suplementares (Simões, 1984). Assim, imediatamente após a fecundação, a superfície do ovo sofre alterações de forma a prevenir uma fusão adicional 35 Diagnóstico de Gestação e Fetometria Durante os Primeiros 90 Dias de Gestação em Caprinos da Raça Serrana de SPZ (livro B). Depois do SPZ fecundante mergulhar no vitelo, a superfície do mesmo torna-se refractária ao acesso de outros SPZ (Simões, 1984). Quando este mecanismo falha, a fertilização polispérmica pode resultar na formação de embriões poliplóides, o que pode conduzir à mortalidade embrionária ou a um desenvolvimento anormal do embrião (Hafez, 1993). O bloqueio da polispermia ocorre na zona pelúcida na maioria dos mamíferos (ex: ovinos, suínos) (Hafez, 1993). Gemeralidade A gemeralidade consiste no desenvolvimento intra-uterino simultâneo de mais do que um indivíduo, em espécies que tal não ocorre frequentemente (Simões, 1984). Segundo Mclaren (1974), citado por Simões (1984), os embriões em semelhantes condições, designados de gémeos, distribuem-se quanto à sua génese por dois grandes grupos: os monozigóticos, univitelinos ou idênticos e os plurizigóticos, plurivitelinos ou fraternos. Os embriões univitelinos derivam de um único ovo, e assim sendo, são muito semelhantes entre si e pertencem, obrigatoriamente, ao mesmo sexo. Os gémeos plurivitelinos provêm de mais do que uma ovulação, em espécies habitualmente de gestação simples. A semelhança dos embriões é tanta quanto aquela que ocorre entre irmãos produzidos em gestações distintas (Mclaren, 1974), e tal como estes, provêm do OOC e SPZ diferentes, só que no caso dos plurizigóticos os OOC provêm de ovulações produzidas dentro do mesmo ciclo (Simões, 1984). Nos ovinos e caprinos a gestação múltipla é relativamente frequente, atingindo mesmo, em algumas raças, especial relevância (Simões, 1984). 4.2. Clivagem – Segmentação Consumada a singamia, o concepto, por um período que varia com a espécie, vai ficar livre no início da trompa, e depois no útero (Simões, 1984). Nesta fase destacam-se duas ordens de factos: a deslocação do concepto em direcção à matriz e as sucessivas divisões a que está sujeito (Simões, 1984). O zigoto, uma célula única e volumosa possui uma baixa relação entre o material citoplasmático e o nuclear (Livro B). 36 Diagnóstico de Gestação e Fetometria Durante os Primeiros 90 Dias de Gestação em Caprinos da Raça Serrana Os oócitos dos mamíferos possuem um limitado número de nutrientes, materiais de reserva que se acumulam sob a forma de deutoplasma, deutocélio ou vitelo, contidos no citoplasma (Neimann-Sørensen, 1993). Embora limitados, estes nutrientes são suficientes para fornecer energia e os materiais necessários à primeira fase de divisões, à clivagem (Fig. 4.4) (Neimann-Sørensen, 1993). No entanto, assim que o número de células embrionárias começa rapidamente a aumentar até atingir os estados de mórula e de blastocisto, o zigoto está apto a absorver e metabolizar os materiais contidos no fluido uterino. Todo o desenvolvimento inicial à fase intermédia de blastocisto ocorre quando o zigoto ainda se encontra dentro da zona pelúcida (Neimann-Sørensen, 1993). Fig. 4.4 – Estádios do desenvolvimento embrionário do Anfioxo (animal padrão dos estudos de Embriologia; quase um esquema geral de vertebrado, embora não possua vértebras) (retirado de Amabis e Martho, 2003). 37 Diagnóstico de Gestação e Fetometria Durante os Primeiros 90 Dias de Gestação em Caprinos da Raça Serrana Em cada etapa da clivagem, o número de blastómeros (células resultantes das sucessivas divisões que ocorrem no zigoto - Simões, 1984) duplica, embora o seu tamanho individual seja reduzido, assim sendo, o tamanho do zigoto não sofre alterações (NeimannSørensen, 1993). Embora seja usual descrever o desenvolvimento embrionário em fases de 2, 4, 8, 16, etc células, as divisões que as mesmas sofrem não ocorrem exactamente ao mesmo tempo, por isso em determinadas alturas um número intermédio de blastómeros é frequentemente observado (Neimann-Sørensen, 1993). As primeiras divisões ocorrem quando o zigoto passa no oviducto e existe uma considerável variação no tempo de transporte e no estado de desenvolvimento quando o embrião atinge o útero (NeimannSørensen, 1993). Este processo de divisão que não é acompanhado de significativo aumento de volume do conjunto, recebe a designação de clivagem ou segmentação. Nos mamíferos placentários, a clivagem é do tipo holoblástico ou total (uma vez que as divisões celulares que se processam atingem todo o ovo – Costa e Morato, 1984), mas como os blastómeros diferem ligeiramente em volume a clivagem diz-se sub-igual (Simões, 1984). A massa celular constituída pelos blastómeros, quando sólida passa a designar-se mórula; quando é cavitária, isto é, quando nela existe uma cavidade cheia de líquido (cavidade de segmentação), denomina-se blástula (Costa e Morato, 1984). 4.2.1. Marcha Normal da Segmentação De acordo com Simões (1984), o oócito apresenta um certo grau de polaridade e eixo de simetria (mesmo anterior à fecundação) distinguindo-se um pólo animal e um pólo vegetativo (Fig. 4.5). O pólo animal situa-se na zona onde existe o núcleo e o citoplasma, os quais constituem o protocélio, e o pólo vegetativo no hemisfério oposto, onde se acumula uma maior quantidade de deutocélio (Silva et al., 1998). Fig. 4.5 – Ovo evidenciando polaridade (Adaptado de Silva et al., 1998). P.A. – Pólo Animal; P.V. – Pólo Vegetativo. 38 Diagnóstico de Gestação e Fetometria Durante os Primeiros 90 Dias de Gestação em Caprinos da Raça Serrana A clivagem do zigoto inicia-se com uma divisão vertical através do eixo principal do ovo, desde o pólo animal até ao pólo vegetativo (Hafez, 1993). Logo após esta divisão formam-se dois blastómeros desiguais em volume (Simões, 1984), um pequeno e escuro e outro mais claro e maior (Costa e Morato, 1984). De acordo com Mclaren (1974), citado por Simões (1984), o plano da segunda divisão é perpendicular ao precedente e o da terceira perpendicular aos anteriores. Com o desenrolar da segmentação, a desigualdade volumétrica entre blastómeros, já bem evidente a partir da terceira divisão, permite destacar umas maiores – os macrómeros, que tendem a reunir-se num pólo, e os menores – os micrómeros que se aglomeram no outro (Simões, 1984). Os micrómeros rodeiam os macrómeros, dando ao conjunto um aspecto em que o grupo central, que constitui o botão embrionário ou embrioblasto, fica envolvido pela camada periférica, designada por trofoblasto (folheto germinativo), por lhe ser atribuída a função de assegurar a nutrição do embrião (Simões, 1984) (fig. 4.6 - a). Esta camada envolvente dá origem apenas a órgãos anexos ao embrião, constitui o esboço do aparelho de fixação e nutrição do embrião, é precursor do córion e da placenta (Costa e Morato, 1984; Simões, 1984). À cavidade do trofoblasto dá-se o nome de blastocélio (Silva et al., 1998). Nos estádios de 8 a 32 células, estas encontram-se comprimidas na zona pelúcida, formando uma esfera mais compacta que se designa mórula, e na qual se observa uma organização óbvia das células em camadas ou extractos (Simões, 1984). A dada altura, os líquidos provenientes da actividade celular, assim como, provavelmente líquidos do meio em que está o ovo e que neste penetram, começam a afastar as células umas das outras, levando à produção de cavidades que rapidamente se juntam numa só. Simultaneamente, as células centrais da mórula degeneram em parte e desagregam-se, contribuindo desta forma para a formação da cavidade central. Através destes processos a mórula transforma-se em blástula, com uma constituição muito particular: a sua parede não é uniforme, mas constituída na sua maior extensão, por epitélio simples, que, em certo ponto, tem anexa uma massa celular que faz saliência para dentro da cavidade. A esta blástula especial, característica dos mamíferos dá-se o nome de blastocisto (Costa e Morato, 1984). Todas as fases de evolução embrionária que se descrevem passam-se enquanto o ovo fecundado é impulsionado ao longo da trompa, em direcção ao útero. A cronologia das dos acontecimentos é descrita no quadro 4.1. 39 Diagnóstico de Gestação e Fetometria Durante os Primeiros 90 Dias de Gestação em Caprinos da Raça Serrana 4.2.2. Características da Clivagem A segmentação nos mamíferos é, segundo Simões (1984), do tipo indeterminado, ou seja, até uma determinada altura do desenvolvimento não existe qualquer pré-definição do tipo de órgãos ou tecidos que derivarão de uma célula; acresce ainda que, nas primeiras fases de desenvolvimento embrionário, cada blastómero é dotado de totipotencialidade, isto é, possui a capacidade de originar um indivíduo completo. Quadro 4.1. – Dados cronológicos relativos ás fases iniciais do concepto (parcialmente retirado de Simões, 1984). Intervalo Espécie Chegada Dias Caprina 3,5 – 5 ao Ovulação útero Implantação Fase (Dias) 10-13 10 – 19 ? – Idade primeiras fases de desenvolvimento 2 cél. 4 cél. 8 cél. Mórula Blastocisto (dias) (h) (h) (h) 36 48 72 5d 5-6 células De acordo com o mesmo autor, existem espécies em que a origem do trofoblasto parece estar relacionada com a localização das células donde provém, ou seja, a condição periférica das células é aparentemente determinante da sua transformação em trofoblásticas, enquanto a localização central predispõe à evolução para os órgãos e tecidos do adulto. No entanto, nos caprinos a massa celular interna deriva de um grupo celular em que as divisões se processam a um ritmo mais lento, num pólo, enquanto as células menores, do pólo oposto, se multiplicam mais activamente e se espalham sobre as primeiras para, ao formarem uma camada externa ao embrião, darem origem ao trofoblasto. Assim, nestas espécies, a situação central ou periférica dos blastómeros não parece ter a ver com o seu ulterior destino, somático ou anexial (Simões, 1984). 4.2.3. Ritmo de Clivagem Nos mamíferos, o ritmo de clivagem é lento, ao contrário do que sucede com os vertebrados inferiores. Nos ungulados domésticos o estádio de 2 células é atingido pelas 24 horas pós-ovulação (exceptuando os suínos). O estádio de blastocisto é atingido um pouco antes da primeira semana após a ovulação (Simões, 1984). 40 Diagnóstico de Gestação e Fetometria Durante os Primeiros 90 Dias de Gestação em Caprinos da Raça Serrana O ritmo de clivagem depende de diversos factores, exógenos e endógenos (Simões, 1984). 4.2.4. O Blastocisto Posteriormente à fase de mórula surge, ainda que precocemente, a fase de blastocisto. Inicialmente, este apresenta-se como um esferóide oco, em que, ligada a um dos pólos se encontra uma massa celular interna (botão embrionário), donde provirá o embrião propriamente dito, além de uma cavidade central – o blastocélio (fig. 4.6 – a) (Simões, 1984). A fase de blastocisto é atingida, nos ungulados domésticos, como referido anteriormente, por volta da primeira semana de gestação (Simões, 1984). Um outro fenómeno das fases iniciais de desenvolvimento é a eliminação da zona pelúcida, fenómeno também designado por eclosão do blastocisto (Fig. 4.6 – b), que ocorre normalmente por volta dos 4 – 8 dias após a ovulação (livro B). Endoblasto Trofoblasto Blastocélio Fig. 4.6 – a) Blastocisto. Adaptado de Simões, 1984. b) Eclosão do blastocisto. Adaptado de Hafez, 1993. Após a eclosão, a zona pelúcida sofre provavelmente degenerescência, com subsequente lise do útero, sendo possível a sua incorporação no trofoblasto ou no endométrio (Simões, 1984). A expansão do blastocisto envolve simultaneamente hiperplasia celular e acumulação de fluidos no blastocélio (Hafez, 1993). 41 Diagnóstico de Gestação e Fetometria Durante os Primeiros 90 Dias de Gestação em Caprinos da Raça Serrana 4.2.4.1. Distribuição dos Embriões no Útero Quando existe uma gestação múltipla, os embriões vão sendo distribuídos pelo endométrio, predominantemente por acção das contracções matriciais, as quais, muitas vezes podem levar o embrião a implantar-se no corno que não corresponde à trompa em que a fecundação teve lugar. Este processo designa-se migração transuterina ou migração interna. A grandeza dos blastocistos parece constituir um factor importante para a regularidade da sua distribuição (Simões, 1984). 4.3. Gastrulação O ovo dos mamíferos placentários segmenta-se na trompa uterina e chega ao útero na fase de blastocisto (Costa e Morato, 1984). O desenvolvimento do ovo passa-se em estrito contacto com a mucosa uterina, assim, a sua nutrição é realizada através dos tecidos maternos; este facto imprime à sua evolução um carácter muito acentuado. Se a implantação ou fixação do ovo na mucosa uterina for muito precoce e íntima, a formação dos anexos será também precoce e precederá ou acompanhará a gastrulação (Costa e Morato, 1984). Como referido anteriormente, o blastocisto, filiforme nos ruminantes, apresenta o botão embrionário ou embrioblasto e o blastocélio. Rodeando o conjunto encontra-se uma camada externa de células, o trofoblasto (Simões, 1984) (Fig. 4.6 - a). Através de um complexo processo de multiplicação celular e movimentação de grupos de células, originar-se-ão três folhetos ou lâminas, que posteriormente se integram em diferentes órgãos e tecidos (Simões, 1984). Os folhetos são o ectoblasto, o cordomesoblasto e o endoblasto (Simões, 1984). Inicialmente, no botão embrionário, que mais ou menos se torna discóide, diferenciam-se duas camadas: uma correspondente ao pavimento da vesícula amniótica, constituída por células altas, e outro que corresponde ao tecto da vesícula vitelina, composta por um único extracto de células achatadas. Estas duas camadas são geralmente consideradas como ectoblasto e endoblasto, isto é, como folhetos germinativos primários (Costa e Morato, 1984). Neste estágio surge uma nova cavidade, delimitada pela endoderme, designada de arquêntero ou intestino primitivo (Silva et al., 1998). O arquêntero comunica com o meio exterior através de um orifício, o blastóporo ou boca primitiva (Silva et al., 1998). 42 Diagnóstico de Gestação e Fetometria Durante os Primeiros 90 Dias de Gestação em Caprinos da Raça Serrana 4.3.1. Formação e Função dos Anexos Embrionários Durante todo o processo de desenvolvimento o embrião faz-se acompanhar de uma série de anexos que, juntamente com ele, formam-se também da segmentação do ovo, ma que não farão parte do seu corpo após o nascimento. Isto acontece porque os anexos se destinam apenas a servir o embrião durante o desenvolvimento embrionário. Os mamíferos possuem um conjunto de anexos mais completo que qualquer outro animal (www.vestibular1.com.br). Os principais anexos embrionários são o âmnio, o córion ou serosa, o saco ou vesícula vitelina, o alantóide, e ainda, no caso dos mamíferos placentários, a placenta e o cordão umbilical (Carvalho et al., 1984). O âmnio é uma estrutura membranosa de origem ectodérmica (www.vestibular1.com.br), resulta da dobra interna da ectoderme, que é forrada com o folheto parietal da mesoderme (Silva et al., 1998). O âmnio delimita a cavidade amniótica que envolve o embrião (Carvalho et al., 1984). A cavidade amniótica acumula um líquido claro, o líquido amniótico (Carvalho et al., 1984), no qual o embrião fica mergulhado. Este anexo é responsável pela protecção do embrião e impede o mesmo de contrair qualquer infecção por micróbios provenientes do meio externo, atenua qualquer traumatismo que, a tingindo o ventre materno, possa alcançar o embrião (www.vestibular1.com.br) e permite também o seu crescimento e liberdade de movimentos (Carvalho et al., 1984). Em consequência da formação do âmnio, a dobra mais externa da ectoderme e do folheto parietal da mesoderme desenvolve-se, acabando por circundar o âmnio e a vesícula vitelina (Silva et al., 1998). Esta dobra forma o córion e delimita uma cavidade designada por celoma extra-embrionário (Silva et al., 1998). Segundo Carvalho et al. (1984), a serosa desenvolve numerosas vilosidades, com abundante vascularização (Fig. 4.7), que possibilitam o contacto íntimo da mesma com a parede uterina. O alantóide tem origem na endoderme, a partir da qual um grupo de células começa a proliferar-se, formando uma pequena bolsa que cresce gradualmente (www.vestibular1.com.br). O alantóide nos mamíferos é pequeno (Carvalho et al., 1984), e vai-se acomodando na estrutura que dará origem ao cordão umbilical (www.vestibular1.com.br), responsável pela ligação circulatória entre o embrião propriamente dito e a placenta (Carvalho et al., 1984). 43 Diagnóstico de Gestação e Fetometria Durante os Primeiros 90 Dias de Gestação em Caprinos da Raça Serrana Fig. 4.7 – Corte longitudinal dos anexos embrionários de um mamífero (retirado de Carvalho et al., 1984) C.u – cordão umbilical; Vi.c – vilosidades do córion; Al – alantóide; Am – âmnio; C. am – cavidade amniótica; Ce.ex – celoma extra-embrionário; S – serosa ou córion; S.v – saco vitelino. A vesícula vitelina tem origem na endoderme e no folheto visceral da mesoderme (Silva et al., 1998). A sua principal função é armazenar substâncias nutritivas (vitelo) para o embrião durante o seu desenvolvimento (www.vestibular1.com.br) Nos mamíferos placentários, este anexo torna-se desnecessário e por isso começa a atrofiar, desaparecendo quase por completo. Na época do parto, encontra-se, juntamente com o alantóide, reduzido (www.vestibular1.com.br). a Durante vestígios as na primeiras estrutura semanas do do cordão umbilical desenvolvimento embrionário, a vesícula vitelina ainda é razoavelmente grande para o concepto e apresentase como o primeiro órgão hematopoético, pois é ali que são formadas as primeiras hemácias do embrião (www.vestibular1.com.br). A área de ligação entre o embrião e a parede uterina, anteriormente estabelecida pelo córion, desenvolve-se na placenta que tem, portanto, uma parte de origem fetal e outra materna (Carvalho et al., 1984). A placenta caracteriza-se como um corpo discóide, achatado, que possui uma face lustrosa, voltada para o feto e recoberta por membranas. Nesta face localizam-se os vasos sanguíneos. A outra face da placenta, esponjosa, é implantada na parede uterina. Nesta face encontram-se as vilosidades coriais, cujos vasos (pertencentes à circulação fetal) estão em íntima vizinhança com os vasos uterinos (pertencentes à circulação materna). Mãe e filho apenas trocam substâncias ao nível da placenta, mas elementos do sangue não são trocados (www.vestibular1.com.br). 44 Diagnóstico de Gestação e Fetometria Durante os Primeiros 90 Dias de Gestação em Caprinos da Raça Serrana A placenta tem origem trofoblástica (www.vestibular1.com.br), e surge a partir das vilosidades do córion do embrião e também do endométrio do útero materno, em cujas lacunas as vilosidades mergulham (Silva et al., 1998). A placenta é responsável pelas trocas de nutrientes e excreções entre o feto e a mãe (Silva et al., 1998). A estrutura funicular de conexão do feto com a placenta – o cordão umbilical – está precocemente presente no desenvolvimento embrionário (Vatti, 1969, citado por Simões, 1984). O cordão umbilical compreende as artérias umbilicais, as duas veias umbilicais, a porção extra-abdominal do canal alantoideu, o canal vitelino com os restos da vesícula umbilical, o canal do úraco que prolonga o fundo do saco anterior da bexiga e a gelatina de Warthon que rodeia todo o conjunto (Simões, 1984). 4.3.2. Diferenciação da Área Embrionária O botão ou disco embrionário (Fig. 4.8), primitivamente plano na sua face superior, começa lentamente a adquirir uma forma ovóide, fazendo com que o eixo maior corresponda ao futuro eixo craneo-caudal do embrião (Simões, 1984). Quando se observa a área embrionária, verifica-se a aparição de um nódulo denso, junto ao seu bordo posterior, o que marca o início da formação do corpo do embrião (Costa e Morato, 1984). A uma certa distância desse nó, posterior e para diante, mais próximo do centro da área, aparece pouco depois outro nódulo, anterior ou de Hensen, e um traço escuro, mediano, que reúne os dois nós, marcando o eixo médio da metade posterior da região embrionária: é a linha primitiva ou sulco primitivo (Costa e Morato, 1984), que se forma em consequência de uma maior multiplicação celular (Simões, 1984). Tanto a linha primitiva como os seus nós correspondem a espessamentos do ectoblasto no eixo mediano antero-posterior do embrião (Simões, 1984). Deste espessamento axial migram células que vão insinuar-se entre os dois folhetos primários e constituir o cordo-mesoblasto (Costa, 1957, citado por Simões, 1984), que originará a corda dorsal ou notocórdio e a mesoderme (Silva et al., 1998). Quando a linha primitiva atinge o seu comprimento, forma-se, a partir do nó de Hensen uma estrutura linear que se desenvolve, em direcção anterior, no mesmo eixo da linha primitiva, é o prolongamento cefálico (lingueta celular, maciça ao principio, metida entre os dois folhetos primários – Fig. 4.8) (Costa e Morato, 1984). 45 Diagnóstico de Gestação e Fetometria Durante os Primeiros 90 Dias de Gestação em Caprinos da Raça Serrana Fig. 4.8 – Disco embrionário em diversas fases da gastrulação (retirado de Simões, 1984). A – bordo do âmnio seccionado; Lp – linha primitiva; Mc – futura membrana cloacal; Mf – futura membrana faríngea; NH – nó de Hensen; Pc – prolongamento cefálico. Com o prolongamento do embrião a linha primitiva começa a regredir, donde aparentemente resulta uma deslocação do nó de Hensen para a extremidade posterior do disco germinativo (Simões, 1984). O cordo-mesoblasto começa a estender-se entre o ectoblasto e o endoblasto, exceptuando numa área anterior e noutra posterior, respectivamente, à membrana faríngea (zona mediana, em que o ectoblasto e endoblasto estão em contacto, sem interposição do cordo-mesoblasto - Costa e Morato, 1984) e à membrana cloacal (a linha primitiva gasta-se por os seus elementos migrarem para o prolongamento cefálico e para o cordo-mesoblasto embrionário, assim, da mesma resta apenas a extremidade posterior, adiante de uma zona em que o ectoblasto e o endoblasto estão encostados um ao outro, zona que é a futura membrana cloacal - Costa e Morato, 1984) (Simões, 1984). Entre as membranas faríngea e cloacal estende-se, na linha mediana do embrião, a placa axial constituída pela linha primitiva e o seu prolongamento cefálico (Costa e Morato, 1984). De ambos os lados está mesoblasto que no início é constituído por células ramificadas e seus prolongamentos, que apresentam a disposição própria do tecido embrionário, o mesênquima (Costa e Morato, 1984). Posteriormente, ao nível do tronco, o mesoblasto condensa-se em segmentos dispostos metamericamente, que se formam 46 Diagnóstico de Gestação e Fetometria Durante os Primeiros 90 Dias de Gestação em Caprinos da Raça Serrana sucessivamente, uns após os outros, no espaço e no tempo, sendo designados de sómitos ou segmentos primitivos (Costa e Morato, 1984). Na maior parte da cabeça não ocorre a segmentação do mesoblasto, apresentando-se este sob a forma mesênquimatosa, constituindo portanto o mesênquima cefálico (Costa e Morato, 1984). No resto do corpo o mesoblasto sofre segmentação, mas apenas o para-axial; mais para os lados o mesoblasto forma um primeiro pedículo, depois delamina-se em duas camadas: a somatopleura e a esplancnopleura (Fig.4.9), entre as quais se encontra o celoma embrionário (Costa e Morato, 1984). No final da gastrulação o embrião é então constituído por três folhetos germinativos, ectoderme, mesoderme e endoderme (Silva et al., 1998), e possui já formadas, a placa neural e a corda dorsal (Costa, 1957, citado por Simões, 1984). Fig. 4.9 – Disco embrionário e suas relações, segundo Simões, 1984. 4.3.2.1. Derivados dos Folhetos A partir dos três folhetos embrionários ocorre uma diferenciação em tecidos, órgãos e sistemas de órgãos (Fig. 4.10). Esta diferenciação é feita de forma semelhante nos diferentes vertebrados, originando estruturas idênticas (Silva et al., 1998). 47 Diagnóstico de Gestação e Fetometria Durante os Primeiros 90 Dias de Gestação em Caprinos da Raça Serrana Canal Neural Ectoderme Epidérmica Epiderme da pele Pelos e unhas Esmalte dos dentes Ectoderme Neural Cérebro Medula Mesoderme Endoderme Músculos Sistema Circulatório Ossos Rins Sistema Reprodutor Peritónio Revestimento do Sist. Digestivo Bexiga Revestimento do Sist. Respiratório (pulmões, traqueia) Fig. 4.10 – Origem embrionária de diversos órgãos e sistemas de um cordado, segundo Uzanian e Birner, 2001. 4.3.2.1.1. Evolução do Ectoblasto A formação do tubo nervoso é um evento marcante no desenvolvimento embrionário. É nesse momento que se define o sistema nervoso, responsável pelo grande sucesso da estratégia da sobrevivência do animal (Amabis e Martho, 2003). Segundo David e Haegel (1975), citado por Simões (1984), o tecido nervoso é proveniente da fracção neuroblástica ou neuroblasto, que não é mais do que uma parte do ectoblasto, situado no plano médio do embrião, na direcção do prolongamento cefálico. Nesta região começa-se a formar uma placa, a placa neural (Uzanian e Birner, 2001). Progressivamente a placa afunda e novas células ectodérmicas passam a cobri-la, escondendo a placa na região dorsal do embrião (Uzanian e Birner, 2001). Posteriormente, os bordos laterais da placa neural fundem-se e dá-se a sua conversão num tubo, o tubo neural (Uzanian e Birner, 2001). De acordo com Costa (1957), citado por Simões (1984), os movimentos celulares que, na superfície do embrião, conduzem à formação da placa neural, são contemporâneos da invaginação dos folhetos internos. A neurulação representa o fim da gastrulação (Simões, 1984). 48 Diagnóstico de Gestação e Fetometria Durante os Primeiros 90 Dias de Gestação em Caprinos da Raça Serrana 4.3.2.1.2. Evolução do Cordo-mesoblasto Deste terceiro folheto são de destacar duas fracções: o notocórdio e a mesoderme (Simões, 1984). Simultaneamente ás transformações na placa neural, na região superior do cordomesoblasto um conjunto de células começa a isolar-se ao longo de todo o comprimento do embrião, determinando a sua diferenciação em mesoderme e notocórdio ou corda dorsal (Uzanian e Birner, 2001). O notocórdio é constituído por um cordão bem maciço, localizado logo abaixo do tubo neural em formação (Amabis e Martho, 2003). O notocórdio é, sem dúvida, uma estrutura de grande importância para o desenvolvimento embrionário, pois as suas células produzem substâncias gelatinosas e consistentes, transformando-o num tubo semi-rígido que exerce função esquelética (Amabis e Martho, 2003). Além de definir o eixo corporal, a corda dorsal dá suporte ao tubo nervoso, impedindo assim que o mesmo venha a sofrer danos nas torções a que o embrião possa eventualmente estar sujeito (Amabis e Martho, 2003). Um outro grupo de células situa-se dos lados do eixo formado pelo notocórdio e tubo neural. Estas células organizam o terceiro folheto embrionário, a mesoderme (Uzanian e Birner, 2001). A mesoderme inicialmente forma uma camada compacta de células que se situa de ambos os lados do eixo constituído pelo tubo neural e pelo notocórdio. De seguida ocorre um processo de fragmentação que caracteriza a chamada segmentação da mesoderme. Esta segmentação é bem visível externamente, na região dorsal do embrião. Os segmentos ficam separados uns dos outros por sulcos e possuem a aparência de gomos (Uzanian e Birner, 2001). Por sua vez, em cada bloco mesodérmico, de ambos os lados do embrião, as células separam-se em três porções: dorsal, intermédia e ventral (Uzanian e Birner, 2001). Na zona dorsal do embrião a mesoderme divide-se em blocos, os sómitos (Uzanian e Birner, 2001). É a partir destes que se formarão os ossos da coluna vertebral (as vértebras), a musculatura esquelética e a derme (camada interna da pele) (Amabis e Martho, 2003). De acordo com Costa (1957), citado por Simões (1984), a regularidade que se verifica na formação dos sómitos, permite utilizar o seu número como referência para estimar a idade do embrião. A porção intermediária, chamada mesoderme ou lâmina intermediária (Simões, 1984), será responsável pela origem das gónadas e do sistema excretor (Uzanian e Birner, 2001). 49 Diagnóstico de Gestação e Fetometria Durante os Primeiros 90 Dias de Gestação em Caprinos da Raça Serrana Segundo Giroud e Lelièvre (1971), citado por Simões (1984), além dos sómitos e nefrótomos, externamente aos mesmos, encontra-se uma porção não segmentada da mesoderme que é a placa ou lâmina lateral. Esta placa delamina-se mais tarde em dois folhetos: o externo ou somatopleura, que reveste internamente o ectoblasto; participa na formação dos membros e das paredes do corpo (David e Haegel, 1975, citado por Simões, 1984). O folheto interno recebe a designação de esplancnopleura, que posteriormente fornece elementos conjuntivos e musculares para as vísceras do tronco. Entre estes dois folhetos existe uma cavidade – o celoma (Simões, 1984). Segundo Amabis e Martho (2003), o celoma é a cavidade delimitada pela mesoderme, onde futuros órgãos se virão alojar. A porção ventral do mesoblasto é a responsável pela formação do celoma (Uzanian e Birner, 2001). 4.3.2.1.3. Evolução do Endoblasto Como referido anteriormente, endoblasto originará dorsalmente o intestino primitivo (Simões, 1984). As membranas faríngea e cloacal, compostas unicamente por ectoblasto e endoblasto, que encerram transitoriamente o tubo digestivo nas suas extremidades, desaparecerão mais tarde. O desaparecimento da membrana cloacal, ulterior ao da faringe resulta da divisão da cloaca, que passará a ser constituída por uma porção dorsal – anal, e uma ventral – urogenital (David e Haegel, 1975, citado por Simões, 1984). Segundo com Giroud e Lelièvre (1971), citado por Simões (1984), a região endoblástica, comum ao intestino e ao alantóide, constitui a cloaca, com existência temporária nos mamíferos, consequência da compartimentação efectuada por uma formação especial – o esporão perineal. Quando o esporão (de origem endoblástica, com paredes forradas de mesoblasto) cresce e adere à membrana cloacal, acaba por haver uma divisão da mesma, numa porção dorsal – a membrana anal, e numa porção ventral – a membrana urogenital. Entre a cavidade dorsal – o recto – e a ventral – o seio urogenital, o esporão espessa-se e constitui a região perineal (Giroud e Lelièvre, 1971, citado por Simões, 1984). 50 Diagnóstico de Gestação e Fetometria Durante os Primeiros 90 Dias de Gestação em Caprinos da Raça Serrana 4.4. Implantação ou Nidação Nos estádios iniciais de desenvolvimento, as exigência nutritivas são supridas pelo deutoplasma do ovo e também pelos materiais fornecidos pelas secreções tubáricas e uterinas, que em conjunto com substâncias de baixo peso molecular, glicogénio, lípidos e resíduos celulares, leucócitos e alguns eritrócitos presentes no lúmen uterino, formam o histotrofo ou leite uterino (Simões, 1984). No entanto, tanto o deutoplasma como as secreções não conseguem assegurar a nutrição do concepto por um período mais prolongado. Assim, é necessário um mecanismo adequado que permita, através de um maior contacto físico com a mãe, a recepção de nutrientes e outras substâncias indispensáveis a um desenvolvimento normal do embrião (Simões, 1984). Deste modo, é necessária a produção de um conjunto de fenómenos que confiram ao blastocisto uma posição fixa e condições apropriadas para retirar do útero materno, com progressiva abundância, os nutrientes indispensáveis ao crescimento. A implantação ou nidação refere-se a este conjunto de fenómenos e inclui a orientação do embrião (Simões, 1984) e o início dos fenómenos de adesão e justaposição entre o trofoblasto e o epitélio uterino (Hafez, 1993). A implantação em animais domésticos é superficial e não invasiva (Hafez, 1993). Células do trofoblasto, situadas acima do botão embrionário, proliferam e segregam enzimas que catalizam a digestão de células do endométrio, penetrando o embrião progressivamente na parede uterina (Silva et al., 1998). Por volta do décimo dia, após a fecundação, começa a formação do córion a partir de estruturas provenientes do trofoblasto. As vilosidades formadas pelo córion mergulham em lacunas do endométrio preenchidas pelo sangue materno devido à ruptura dos capilares. Assim, a nidação está completa (Silva et al., 1998). Para a caracterização da implantação é importante assegurar uma adequada preparação do útero e o processamento de toda a fenomenologia preparatória numa sequência cronológica conveniente (Simões, 1984). 4.4.1. Preparação do Útero para a Implantação A preparação do útero para a implantação ocorre desde o início da segmentação (Simões, 1984). Assim, em consequência do corpo lúteo funcional que se formou subsequentemente à ovulação, as modificações fisiológicas que se produzem no útero, nas 51 Diagnóstico de Gestação e Fetometria Durante os Primeiros 90 Dias de Gestação em Caprinos da Raça Serrana fases iniciais de gestação, são as que caracterizam a fase lútea do ciclo éstrico, designadamente o aumento da vascularização do endométrio e o desenvolvimento das glândulas, com incremento da actividade secretora (Simões, 1984). Ao histotrofo, já anteriormente referido, cabe a função primordial de assegurar a nutrição do embrião até à formação da placenta estar concluída (Simões, 1984). 4.4.2. Marcha da Implantação O processo de implantação nos ungulados domésticos decorre de forma relativamente lenta e o relacionamento inicial do trofoblasto com o endométrio é fraco (Simões, 1984). Com a aproximação da nidação há um forte incremento da actividade metabólica do embrião (Simões, 1984). À medida que o blastocisto vai crescendo, perde mobilidade dentro do útero, enquanto a rápida extensão do trofoblasto favorece a absorção do histotrofo e exerce, possivelmente também, um estímulo decisivo para a manutenção do C.L. (Simões, 1984). Nas espécies pecuárias a implantação é do tipo central (Fig. 4.11), que resulta no completo preenchimento do lúmen uterino em consequência da expansão do blastocisto (Simões, 1984). Fig. 4.11 – Implantação do tipo central. Adaptado de Simões, 1984. 4.5. Placentação Segundo King et al. (1982), citado por Neimann-Sørensen (1993), a placentação, em espécies pecuárias progride através de fases de aposicionamento, adesão e ligação de forma a desenvolver uma união física entre o córion e a parede uterina interna. Algumas membranas fetais participam na formação da placenta, dando origem a três tipos de placentação (Hafez, 1993). A placentação característica dos animais pecuários é do tipo corionalantoide (Perry, 1981, citado por Hafez, 1993). Através da fusão da camada externa do alantóide com o córion, na placentação corionalantoide, os vasos fetais 52 Diagnóstico de Gestação e Fetometria Durante os Primeiros 90 Dias de Gestação em Caprinos da Raça Serrana do alantóide permanecem em estrito contacto com as artérias umbilicais e veias localizadas no tecido conjuntivo entre o alantóide e o córion (Hafez, 1993). A forma definitiva da placenta é determinada pela distribuição das vilosidades existentes na superfície do córion. Nos ruminantes, os cotilédones fetais fundem-se com carunculas ou projecções especializadas da mucosa uterina para formar placentomas ou unidades funcionais (Neimann-Sørensen, 1993). As regiões carunculares do endométrio dos ruminantes interactuam com áreas cotiledonares associadas da membrana alantocorion para formar os placentomas. Estes são aspectos óbvios da placenta madura dos ruminantes e a estrutura é classificada como placenta cotiledonar (Fig. 4.12 - b). Isto implica que a placentação definitiva nestas espécies envolva apenas placentomas (Neimann-Sørensen, 1993). As carunculas consistem em áreas ovais ou redondas compostas por um denso tecido conjuntivo, coberto por um simples epitélio colunar. Estas discretas estruturas são separadas umas das outras pelo endométrio glandular intercaruncular. As carunculas apresentam, nos pequenos ruminantes, forma côncava (Fig. 4.12 - a) (Hafez, 1993). Nos caprinos, o número de carunculas varia entre 160 e 180 (Neimann-Sørensen, 1993). Endométrio a b Corionalantóide Fig. 4.12 – a) Placenta epiteliocorial (segundo Hafez, 1993); b) Placenta cotiledonar (cabra, ovelha, vaca) (adaptado de Hafez, 1993). Uma classificação mais sofisticada baseia-se no número de membranas microscópicas que separam o sangue fetal do materno (Amoroso, 1952; Steven, 1975; Björkman, 1986, citados por Neimann-Sørensen, 1993). Estas membranas são normalmente conhecidas como barreira placentária (Hafez, 1993). A placentação, nos ruminantes envolve as áreas caruncular e intercaruncular do endométrio uterino. A aderência de células maternas e fetais (do córion) forma estruturas 53 Diagnóstico de Gestação e Fetometria Durante os Primeiros 90 Dias de Gestação em Caprinos da Raça Serrana semelhantes a dedos, as vilosidades. Estas possibilitam o recurso temporário e a estrutura de absorção ao concepto permitindo um progresso de ligação maior (Hafez, 1993). Em vários mamíferos esta ligação é seguida pela erosão do epitélio uterino e subsequente invasão e encaixe de outras membranas embrionárias no endométrio. Esta invasão e proliferação de células embrionárias no tecido materno constituem a verdadeira implantação (Neimann-Sørensen, 1993). A ligação é caracterizada pelo aparecimento de células binucleadas, surgindo as mesmas de células uninucleadas do trofoblasto. As células binucleadas começam a surgir por volta do décimo sétimo dia de gestação e permanecem até o seu término. Estas células migram e fundem-se com células subjacentes do epitélio uterino para formar células multinucleadas ou um sincício. Este pode ser envolvido na protecção imunológica do embrião ou na transferência do lactogénio placentário sintetizado por células binucleadas (Hafez, 1993). Segundo King (1983), citado por Neimann-Sørensen (1993), a ligação entre o córion e o epitélio uterino dos caprinos pode ser preservada nas regiões caruncular e intercaruncular ao vigésimo dia de gestação. Estes resultados preliminares indicam que a placentação em cabras ocorre ligeiramente mais tarde e com uma menor destruição inicial do epitélio uterino do que acontece com os ovinos (Neimann-Sørensen, 1993). 4.6. Organogénese – Formação dos Órgãos A partir do estádio de nêurula, os tecidos embrionários fundamentais – ectoderme, mesoderme e endoderme – começam a originar os diferentes tecidos, órgãos e estruturas que o animal vai apresentar quando adulto (Silva et al., 1998). Quando o tubo nervoso encerra nas extremidades e a sua parte anterior se desenvolve e aumenta de volume está a ser formado o encéfalo. O resto do tubo nervoso dá origem à medula. A partir do encéfalo e da medula formam-se os nervos, que crescem e se espalham por todas as áreas do corpo (Amabis e Martho, 2003). As paredes do arquêntero começam a formar as glândulas associadas ao futuro aparelho digestivo, que se acomodaram no espaço celómico (Amabis e Martho, 2003). A mesoderme ventral dará origem ao coração, ás artérias, veias e capilares, aos rins, à bexiga e ás vias urinárias. A mesoderme dorsal (sómitos) por sua vez, dará origem aos músculos, coluna vertebral, derme e ossos (Amabis e Martho, 2003). 54 Diagnóstico de Gestação e Fetometria Durante os Primeiros 90 Dias de Gestação em Caprinos da Raça Serrana De acordo com Vaissaire (1977), citado por Simões (1984), os primeiros esboços do aparelho urinário e do aparelho genital estão estritamente relacionados. O aparelho genital passa por uma fase indiferente, qualquer que venha a ser o sexo do concepto. Durante essa fase indefinida além do par de estruturas que devem persistir, embora sofram uma evolução que depende do sexo, coexistem outras em relação ás quais a um desenvolvimento apropriado num sexo corresponde uma involução no oposto (Simões, 1984). A área prospectiva dos membros partilha com outros órgãos (como os olhos ou o coração, por exemplo) o facto de ser um campo morfogenético, que pode ser definido como um conjunto de células já determinadas quanto à sua posição e destino final, mas todavia não diferenciadas (Climent et al., 2004). Antes de se verificar qualquer alteração morfológica, os campos morfogenéticos dos membros podem definir-se como áreas circulares ou elípticas situadas nas paredes laterais do embrião, a nível dos últimos sómitos cervicais e primeiros torácicos para a extremidade anterior, ou ao nível dos últimos lombares e os primeiros sacrais para a posterior (Climent et al, 2004). Os campos morfogenéticos dos membros são divididos em três áreas (Climent et al., 2004): - uma área central, formada por células que originam a porção livre do membro; - uma área intermédia, formada por células que darão origem ás porções proximais da extremidade; - uma área periférica, mais estreita, formada por células que normalmente não se encontram nos membros, mas que possuem uma clara capacidade de regulação, ou seja, que podem reproduzir um novo esboço no caso de as anteriores serem destruídas. O primeiro esboço morfológico dos membros consiste na formação de uma elevação nivelada dorsalmente, produzida pela migração lateral e posterior acumulação de células da somatopleura nas paredes laterais do embrião (Fig. 4.13 - a). Neste engrossamento existem dois tipos de células (Climent et al., 2004): - As células da própria somatopleura, que originarão todos os elementos conjuntivos (incluindo os ossos, ligamentos e tendões) das extremidades - Células do miótomo dos sómitos, que mais tarde darão lugar à totalidade das células musculares da extremidade (Fig. 4.13 - b). 55 Diagnóstico de Gestação e Fetometria Durante os Primeiros 90 Dias de Gestação em Caprinos da Raça Serrana Somatopleura Secção Ectoblasto a b Fig. 4.13 - a) primeiras manifestações do desenvolvimento dos membros de um embrião de mamífero. b) células miogénicas precedentes dos sómitos invadem os esboços dos membros (adaptado de Climent et al., 2004). 4.7. Indução Embrionária A formação de muitos órgãos depende da influência directa de um tecido vizinho. Esta influência foi chamada de indução embrionária (Amabis e Martho, 2003). O desenvolvimento embrionário apresenta-se como uma série de induções sucessivas (Costa e Morato, 1984). No desenvolvimento dos membros, dentes, da retina, do cristalino, da vesícula auditiva, da pré-hipófise, do coração, etc., existem fenómenos de indução embrionária demonstrados pela experimentação (Costa e Morato, 1984). 4.8 – Desenvolvimento fetal dos caprinos nos primeiros três meses de gestação O desenvolvimento fetal de um feto caprino demora cerca de 145 a 155 dias desde a concepção até ao nascimento (http://bouncinghoofs.com/fetusdev.html). A embriogénese ocorre durante as primeiras seis semanas de gestação, e o desenvolvimento fetal estende-se desde o fim da desta até ao termo da gestação (Dixon, 2003). Por volta do vigésimo dia surgem os batimentos cardíacos. Aos trinta dias o embrião mede cerca de 1,4 cm de comprimento. Os esboços dos membros começam a aparecer entre os vinte e oito e os trinta e cinco dias. Aos trinta e cinco dias a parede abdominal fecha. Aos quarenta e dois dias surge a boca, assim como o sexo do embrião se começa a desenvolver; o cérebro também se começa a notar através da presença de uma 56 Diagnóstico de Gestação e Fetometria Durante os Primeiros 90 Dias de Gestação em Caprinos da Raça Serrana membrana que funciona como o topo do crânio (Fig. 4.14). Ao fim dos quarenta e dois dias o embrião entra na fase de feto (http://bouncinghoofs.com/fetusdev.html). Cascos Membranas do crânio Abertura do canal auditivo Esboço do sexo do embriâo Veia jugular Fig. 4.14 – Feto caprino. Retirado de http://bouncinghoofs.com/fetusdev.html. Entre os quarenta e um e os quarenta e nove dias surgem as glândulas mamárias em fetos femininos e um pequeno saco escrotal em fetos masculinos. A veia jugular também se torna visível nesta altura, assim como é possível distinguir os olhos do resto da cabeça. Entre os quarenta e nove e os cinquenta e seis dias o canal auditivo começa a abrir(http://bouncinghoofs.com/fetusdev.html). As veias jugular e facial assim como os vasos do escroto são facilmente visíveis neste período. As narinas começam a abrir aos sessenta e três dias de gestação. Aos noventa dias o feto possui aproximadamente 10 cm de comprimento e começa a crescer pelo na zona abdominal e na cabeça (http://bouncinghoofs.com/fetusdev.html). Na maioria dos mamíferos, a última parte da gestação é caracterizada por um rápido crescimento e desenvolvimento do feto (Ford, 1995, citado por Dixon, 2003). O desenvolvimento do feto ocorre lentamente, aumentando exponencialmente a partir do meio da gestação, e ocorrendo um baixo crescimento perto do final da gestação (Dixon, 2003). 4.9 - Mortalidade embrionária e fetal De acordo com Edey (1969) e Wilkins et al. (1984), citados em www.ilri.agiar.org/infoserv/webpub/, as perdas pré-natais ocorrem em 20 a 30% das gestações durante os primeiros trinta dias. Moor e Bowson (1960) e Quilivan et al. (1966), citados por Dixon (2003), estimam que a maioria das perdas embrionárias ocorrem durante 57 Diagnóstico de Gestação e Fetometria Durante os Primeiros 90 Dias de Gestação em Caprinos da Raça Serrana os primeiros dezoito dias de gestação. As perdas durante este período traduzem uma elevada percentagem de anomalias genéticas durante a clivagem, o reconhecimento materno da gestação, a implantação ou a formação da placenta (Dixon, 2003). A perda embrionária que ocorre em condições normais de gestação (não sujeitas a stress) é denominada de (www.ilri.agiar.org/infoserv/webpub/). mortalidade Bishop embrionária (1964), citado basal em www.ilri.agiar.org/infoserv/webpub/, é da opinião que a mortalidade embrionária basal pode ser uma forma natural de eliminar genótipos impróprios com baixos custos biológicos. Hoje em dia é geralmente aceite que existem diversos factores que podem causar a taxa as perdas embrionárias. Estes factores que incluem a taxa de ovulação, a idade da progenitora, nutrição, condições hormonais, o local da ovulação, o pequeno tamanho da mãe, temperatura e o genótipo. (Macfarlane et al., 1959; Edey, 1970; Braden, 1971; Gunn et al., 1972; Scalon, 1972; Lindsay, 1976; Brien et al., 1981; White et al., 1981; Hanrahan, 1983; Wilmut et al., 1985, citados em www.ilri.agiar.org/infoserv/webpub/). Os períodos de particular vulnerabilidade para o embrião foram também documentados (Robinson, 1951; Moor et al., 1960; Edgar, 1962; Dutt, 1963; Quinlivan et al., 1966; Mattner e Braden, 1967; Edey, 1969, citados em www.ilri.agiar.org/infoserv/webpub/). São estes: o estádio precoce da clivagem (Dutt, 1963, citado em www.ilri.agiar.org/infoserv/webpub/) e durante o tempo de reconhecimento materno da gestação (dia 12) (Edey, 1969, citado em www.ilri.agiar.org/infoserv/webpub/). Geralmente, mais de metade das perdas ocorrem antes do décimo terceiro dia de gestação e outra grande parte antes do décimo oitavo dia (Edey, 1967; 1969; 1976, citado em www.ilri.agiar.org/infoserv/webpub/). As perdas posteriores ao início da implantação podem simplesmente ser a continuação de um processo iniciado muito antes (Robinson, 1951, citado em www.ilri.agiar.org/infoserv/webpub/). A mortalidade embrionária precoce em caprinos é de cerca de 6,6 % (www.ilri.agiar.org/infoserv/webpub/). Sobre condições normais, a perda do concepto desde o final da organogénese, entre o dia trinta e quarenta, até ao final do período fetal, é pequena (≤6%) (Robinson, 1951; Quinlivan et al., 1966; Edey, 1969; 1976; Kelly 1984; 1986; citados em www.ilri.agiar.org/infoserv/webpub/). As perdas fetais traduzem-se em aborto ou mumificação (www.ilri.agiar.org/infoserv/webpub/) que, segundo Bulnes et al. (1999) acontecem quando já se iniciou a ossificação. O aborto consiste na expulsão do útero do feto morto antes da altura do parto (www.ilri.agiar.org/infoserv/webpub/), e pode dever-se 58 Diagnóstico de Gestação e Fetometria Durante os Primeiros 90 Dias de Gestação em Caprinos da Raça Serrana ou não a infecções (Kinne, s.d.). Após o início da formação dos ossos, o feto inicialmente viável, morre e pode mumificar. Se a gestação é levada a termo, o feto mumificado pode passar ou criar um parto distócico (Kinne, s.d.). Poucos autores estudaram as perdas embrionárias tardias e mortalidade fetal extensivamente. O número de perdas entre o décimo oitavo dia de gestação e o parto foi estimado em 9,4% (Hulet et al., 1956, citado por Dixon, 2003). Moor and Rowson (1960), citados por Dixon (2003), sugeriram que a maioria das perdas embrionárias tardias ocorreram após a implantação, aproximadamente ao vigésimo dia de gestação. As perdas embrionárias tardias ou fetais desde o trigésimo dia até ao termo da gestação são baixas (Robinson, 1951; Quinlivan et al., 1966, citados por Dixon, 2003), mas variam com o aumento da taxa de ovulação (Dixon, 2003). A elevada taxa de perda de embriões no dia dezoito foi mais observada em ovinos com dupla ovulação, do que em ovulações simples (Quinlivan et al., 1966, citado por Dixon, 2003). Segundo Rhind et al. (1980ª), citado Dixon (2003), as perdas a partir do quinquagésimo dia de gestação até ao seu termo, foi estimado em 78% em ovelhas com ovulação seis ou mais oócitos comparado com 19% nas ovelhas com ovulação com cinco ou menos oócitos. 59 Diagnóstico de Gestação e Fetometria Durante os Primeiros 90 Dias de Gestação em Caprinos da Raça Serrana 5 - Diagnóstico de Gestação e Determinação do Número de Embriões Nas espécies pecuárias, o reconhecimento da existência ou não de uma gestação reveste-se sempre de grande importância económica, pelo que se procura que o seu diagnóstico tenha lugar precocemente (Simões, 1984). Geralmente, um diagnóstico precoce de gestação é requisitado tão próximo quanto possível da inseminação, para a rápida identificação de animais não gestantes (Hafez, 1993). Para além de permitir a identificação de situações de infertilidade ou esterilidade, o seu precoce tratamento e recuperação, faculta também a opção de um refugo oportuno quando seja essa a decisão mais aconselhável (Simões, 1984). A possibilidade de realização de um diagnóstico precoce de gestação é uma das ferramentas que maior implicação pode trazer a nível do melhoramento dos rendimentos produtivos de explorações de pequenos ruminantes, reduzindo de forma eficaz o intervalo entre o parto e a próxima cobrição fértil (de Bulnes et al., 1999). Além disso, o conhecimento do estado reprodutivo de cada fêmea integrante do rebanho permite a melhoria do maneio mediante a organização dos animais por grupos, induzindo um novo cio em fêmeas vazias ou aumentando os cuidados e suplementando a dieta das gestantes (de Bulnes et al., 1999). 5.1 – Métodos de Diagnóstico de Gestação Ao longo dos anos foram desenvolvidas diversas técnicas para poder diagnosticar precocemente uma gestação (Medan et al., 2004). Métodos como a ultrassonografia, doseamento da progesterona e radiografia são os mais utilizados actualmente (Medan et al., 2004). Laparoctomia, palpação abdominal e palpação recto-abdominal são métodos mais antigos, sendo a sua utilização, hoje em dia, limitada (Medan et al., 2004). As diversas técnicas existentes detectam alterações resultantes da gestação, quer sejam físicas, no caso da palpação e da utilização de ultrassons (acumulação de fluido e presença do feto), quer sejam a nível de variações fisiológicas (nível de progesterona no sangue, proteínas uterinas) (Wildeus, s.d.). O método mais simples consiste na observação de sinais de cio aproximadamente até aos 21 dias depois da cobrição, denominando-se este método de não retorno em cio. Se houver uma falha na fertilização, as fêmeas apresentam sinais de cio no final dos 21 dias, 60 Diagnóstico de Gestação e Fetometria Durante os Primeiros 90 Dias de Gestação em Caprinos da Raça Serrana caso tal não aconteça considera-se que a fêmea está gestante. Contudo este método não é muito viável, pois existem situações em que a fêmea não apresenta quaisquer sinais de cio e não está gestante. São exemplo destes casos a presença de uma pseudogestação, animais com ciclo éstrico de duração irregular, anestro fisiológico quando as cabras sincronizadas são cobertas durante a estação não reprodutiva (Gonzalez et al., 2004). 5.1.1 - Métodos Laboratoriais A mensuração da concentração de hormonas esteróides, tal como o doseamento de progesterona e sulfato de oestrona, e de proteínas associadas à gestação, em tempos específicos, após a inseminação, constituem métodos de diagnóstico de gestação (Tsang, 1978; Tamanini et al., 1986; Worsfold et al., 1968; Murray e Newstead, 1988; Refstal et al., 1991, citados por Ishwar, 1995). Os métodos laboratoriais embora apresentem uma elevada precisão não permitem obter resultados imediatos (Gonzalez et al., 2004). 5.1.1.1 – Doseamento de Progesterona A determinação dos níveis de progesterona (P4) no sangue e no leite, como método de diagnóstico de gestação, assenta no facto de a progesteronémia ter valores mínimos na ocasião do estro e se elevar durante a fase lútea e a gestação (Simões, 1984). A concentração de P4 no sangue e no leite decresce logo após a regressão do C.L. em fêmeas não gestantes. Pelo contrário, fêmeas gestantes possuem elevada concentração de P4, uma vez que o C.L. se mantém funcional (Gonzalez et al., 2004). A concentração de P4 no leite, em caprinos, geralmente reflecte a concentração no plasma, contudo a concentração de P4 no leite é mais elevada (Holdsworth e Davies, 1979; Thibier et al., 1982; Ozsar et al., 1984; Murray e Newstead, 1988; citados por Ishwar, 1995). De acordo com estudos realizados por Thibier et al. (1982), citado por Ishwar (1995) e Gonzalez et al. (2004), o diagnóstico de gestação baseado na determinação de concentração de P4 no sangue é possível nos dias 21-22 posteriores à concepção. A precisão do diagnóstico para gestação e não gestação é de 85,7% e 100% respectivamente (Ishwar, 1995). Segundo Simões (1984), o doseamento de P4 no sangue é possível no período que medeia entre o 19º e o 23º dias consecutivos à inseminação, considerando 61 Diagnóstico de Gestação e Fetometria Durante os Primeiros 90 Dias de Gestação em Caprinos da Raça Serrana como valores positivos os valores de progesteronémia superiores a 2 ng/ml, negativos os inferiores a 1 ng/ml e duvidosos os intermédios. A concentração de P4 no leite igual ou superior a 10 ng/ml, entre o 22º e o 26º dia pós-cobrição ou I.A., é considerada como um sinal positivo de gestação (Ishwar, 1995). Segundo Holdsworth e Davies (1979), citado por Ishwar (1995), o exame é realizado com uma precisão de 85,9% para detecção da gestação e de 100% quando o diagnóstico é negativo. Jain et al. (1980), citados por Ishwar (1995) indicam o nível de 7,25 ng/ml ou mais como sendo um sinal positivo de gestação entre os dias 19 e 27 após a inseminação. De acordo com Simões (1984), o teor de P4 depois dos 16 dias ulteriores à inseminação é proporcional ao número de C.L.. O número de embriões pode portanto, ser determinado com uma precisão de 67,4% através de uma variação na concentração de P4, que é normalmente mais elevada em gestações múltiplas (Weigh et al. 1975; citado por Ishwar, 1995). Em conclusão, a concentração de P4 permite obter um diagnóstico de não gestação eficaz, que possibilita sobretudo voltar a inseminar animais diagnosticados como não gestantes (Amari et al., 2003). Os falsos positivos são frequentes, pois condições como a hidrómetra, piómetra e morte embrionária precoce apresentam níveis de P4 no sangue elevados. Elevadas concentrações de P4 apenas indicam a presença de um C.L. funcional (Ishwar, 1995). A realização deste exame requer o conhecimento preciso da data da inseminação (Amari et al., 2003). 5.1.1.2 – Doseamento do Sulfato de Oestrona A origem de hormonas estrogénicas depende do estado de gestação (Amari et al., 2003). Ao início, elas provêm dos ovários (Amari et al., 2003). Posteriormente, a presença do feto e da placenta viáveis é acompanhada de um crescimento da concentração de sulfato de oestrona no plasma (Karen et al., 2001). O sulfato de oestrona no plasma pode ser detectado entre os 40 e os 50 dias após a cobrição (Ishwar, 1995). O diagnóstico de gestação realizado através do doseamento de sulfato de oestrona é um método de diagnóstico tardio (Amari et al., 2003). O doseamento de sulfato de oestrona, segundo Amari et al. (2003) não permite determinar o número de fetos, devido ás elevadas variações que podem ocorrer entre animais (Worsfold et al. 1986; citado por Amari et al., 2003), embora para Illera et al. 62 Diagnóstico de Gestação e Fetometria Durante os Primeiros 90 Dias de Gestação em Caprinos da Raça Serrana (2000), citado por Amari et al. (2003) a concentração de sulfato de oestrona seja significativamente mais alta em fêmeas com gestações duplas ou triplas. 5.1.1.3 – Doseamento de Glicoproteínas Associadas à Gestação As glicoproteínas associadas à gestação (PAG) são secretadas por células binucleadas do trofoblasto no plasma materno, e permitem uma discriminação precisa entre cabras gestantes e não gestantes (Gonzalez et al., 2004). A determinação de PAG possui elevada precisão aos 24 e 26 dias de gestação (99% e 100% respectivamente) (Gonzalez et al., 2004). O doseamento de PAG pode ser útil para determinar o número de fetos, embora o seja tardiamente. Concentrações mais elevadas de PAG correspondem a gestações gemelares (Amari et al., 2003). 5.1.2 – Métodos Físicos 5.1.2.1 – Radiografia O diagnóstico de gestação e a determinação do número de fetos podem ser realizados com sucesso através da radiologia, dependendo a qualidade do exame do tipo de aparelho, da contenção dos animais e da emissão dos raios X (Amari et al., 2003). Esta técnica baseia-se na demonstração do esqueleto fetal (Simões, 1984). Em cabras leiteiras, a gestação pode ser diagnosticada através de radiografias 58 dias após a inseminação (Borker e Cowley, 1967; citados por Ishwar, 1995). O esqueleto fetal é normalmente rádio-opaco aos 65 dias de gestação (Ishwar, 1995). O alargamento uterino, sugestivo de uma gestação, pode ser detectado mais precocemente do que o esqueleto, mas não se consegue distinguir de casos de hidrómetra ou piómetra (Ishwar, 1995). Setenta dias após a cobrição é possível realizar o exame com uma precisão de 100% para o diagnóstico de gestação e para a contagem do número de fetos (Freitas e Simplício, 1999). A realização do exame radiológico porém, não fornece indicações precoces, é dispendiosa e incompatível com o uso corrente em espécies pecuárias (Simões, 1984). 63 Diagnóstico de Gestação e Fetometria Durante os Primeiros 90 Dias de Gestação em Caprinos da Raça Serrana 5.1.2.2 – Laparoscopia O útero gestante pode ser facilmente palpado através de uma pequena incisão na parede abdominal, sendo que a incisão paramediana ventral e craneal ao úbere é realizada para permitir a entrada de dois dedos (Freitas e Simplício, 1999). O útero com paredes finas, dilatado e contendo fluido é um indicador positivo de gestação (Freitas e Simplício, 1999). De acordo com Smith (1980), citado por Ishwar (1995), a palpação directa do útero fornece diagnósticos com aproximadamente 100% de precisão aos 42 dias de gestação. Nas 4 a 5 semanas após a inseminação, é possível verificar a distensão dos cornos uterinos, e durante a 6ª semana os placentomas são facilmente palpáveis (Ishwar, 1995). O grande inconveniente do uso desta técnica é a maior probabilidade de adquirir infecções, pelo que é necessário garantir óptimas condições assépticas quando se recorre à utilização do laparoscópio como método de diagnóstico de gestação (Ishwar, 1995). A laparoscopia é também um método invasivo e caro. 5.1.2.3 – Palpação Abdominal A palpação abdominal pode ser realizada em caprinos em fases avançadas de gestação e torna-se mais fácil à medida que a gestação avança (Ishwar, 1995). O útero gestante ou o feto podem, algumas vezes ser palpados através da parede abdominal relaxada, colocando as mãos em cada lado do abdómen para poder pressioná-lo ou levantá-lo (Freitas e Simplício, 1999). Em ovinos esta técnica apresenta entre 80 a 90% de precisão aos 90-130 dias de gestação. (Freitas e Simplício, 1999). A maior desvantagem consiste na impossibilidade de realizar um diagnóstico precoce, o que por sua vez pode afectar o maneio reprodutivo do rebanho. 5.1.2.4 – Palpação Recto-Abdominal O princípio da palpação recto-abdominal consiste em evidenciar a massa uterinofetal associando a palpação manual transabdominal e a manipulação de uma vara inserida no recto, com vista ao reconhecimento do útero e do feto eventualmente presente (Amari et al., 2003). A base deste método consiste na resistência criada pelo peso do útero gestante 64 Diagnóstico de Gestação e Fetometria Durante os Primeiros 90 Dias de Gestação em Caprinos da Raça Serrana ás deslocações horizontais da vara quando introduzida no recto, em animais em decúbito dorsal (Simões, 1984). O diagnóstico é positivo quando, através da vara se recolhe a sensação de resistência criada pelo útero e, através da palpação abdominal se reconhece a presença da massa sólida correspondente ao feto. Quando o diagnóstico é negativo, a vara desloca-se facilmente e, a ponta da vara é reconhecida através da palpação abdominal (Simões, 1984). Através desta técnica é possível obter diagnósticos positivos aos 50 dias com 93% de precisão e aos 62 dias com 100% (Simões, 1984). Tal como acontece com a palpação abdominal, também este método possui o inconveniente de fornecer um diagnóstico tardio. Para além desta desvantagem, existe ainda a possibilidade de ocorrerem perfurações no recto e abortos (Simões, 1984). Quando este método é aplicado em caprinos, podem surgir problemas que dificultam o exame de diagnóstico, devido ao difícil temperamento destes animais. Quando estes se encontram excitáveis é contra-indicado o uso deste método (Simões, 1984). 5.1.2.5 – Ultrassonografia A utilização dos ultrassons em produção animal para diagnosticar uma gestação e, posteriormente, analisar o desenvolvimento embrionário, remonta ao fim da década de 60 (Amari et al., 2003). A gestação pode ser detectada, tanto em ovinos como em caprinos, através de três métodos ultrassonográficos, UTR – modo A, Doppler e UTR – modo B ou em tempo real (Ishwar, 1995). 5.1.2.5.1 - Ultrassonografia Modo – A O princípio (amplitude – eco ou amplitude – profundidade versus tempo) da UTR – modo A para diagnóstico de gestação, baseia-se na detecção de uma faixa fluida no útero (Ishwar, 1995). A unidade scan – A emite ondas ultrassonográficas a partir de um transdutor manual colocado externamente contra a pele do abdómen e em direcção ao útero (Freitas e Simplício, 1999). As ondas de ultrassons são reflectidas entre os diferentes tecidos para o transdutor e convertidas em energia eléctrica na forma de sinais audíveis ou visuais (Fig. 5.1) (Freitas e Simplício, 1999). Estas unidades são sensíveis a uma 65 Diagnóstico de Gestação e Fetometria Durante os Primeiros 90 Dias de Gestação em Caprinos da Raça Serrana profundidade de 10 a 20 cm (Ishwar, 1995). O transdutor é colocado por baixo do flanco direito, cranealmente ao úbere da fêmea (Ishwar, 1995). Um sinal audível ou luminoso é emitido pela unidade quando uma faixa da estrutura fluida é registada (Freitas e Simplício, 1999). A ultrassonografia modo – A é considerada um método de diagnóstico de gestação satisfatório em caprinos para uma idade fetal compreendida entre os 50 e 120 dias (Wani, 1981), tendo como principal inconveniente a impossibilidade de determinar a viabilidade fetal e o número de embriões (Freitas e Simplício, 1999). Existe ainda a possibilidade de obter falsos negativos, no inicio ou no termo da gestação, devido à reduzida quantidade de fluido uterino em relação ao volume de tecido fetal (Ishwar, 1995), assim como também é possível obter falsos positivos em animais que apresentam a bexiga urinária extendida ou patologias reprodutivas como a hidrómetra ou a piómetra (Freitas e Simplício, 1999). Fig. 5.1 – Ultrassonografia modo A. http://www.brooksidepress.org/Products/Military_OBGYN/Ultrasound/basic_ultrasound.htm 5.1.2.5.2 - Doppler No principio Doppler, a transmissão de ultrassons proveniente do transdutor é submetida a uma pequena alteração de frequência na presença de movimentos, tais como os batimentos cardíacos do feto, a pulsação sanguínea na artéria uterina e no cordão umbilical e os movimentos fetais (Wani, 1997). De acordo com Freitas e Simplício (1999), existem duas técnicas que obedecem ao princípio Doppler. É possível realizar o Doppler externo, com uma precisão de aproximadamente 100% durante a segunda metade da gestação (Ishwar, 1995), embora na primeira metade a sua eficácia seja reduzida (Lindahl, 1969). Em ovinos, é possível estabelecer o diagnóstico de gestação entre os dias 66 e 122 de gestação (Ishwar, 1995). Existe também a técnica Doppler transrectal, considerada superior à técnica externa ou cutânea, pois é possível avaliar a viabilidade fetal (Freitas e Simplício, 1999), embora, por 66 Diagnóstico de Gestação e Fetometria Durante os Primeiros 90 Dias de Gestação em Caprinos da Raça Serrana outro lado, a precisão na detecção de gestações múltiplas seja baixa (Ishwar, 1995). Esta técnica pode ser aplicada a partir dos 25 dias de gestação, embora possam ainda ocorrer falsos negativos, sendo utilizada com maior precisão entre os 35-40 dias de gestação (Ishwar, 1995). Fig. 5.2 – Exemplo de aparelhos doppler. www.microem.com.br; www.caveca.net. 5.1.2.5.3 - Ultrassonografia em tempo real, Modo – B A ultrassonografia é um método utilizado para estudar diversas características reprodutivas em pequenos ruminantes (Goddard e Russel, 1994) e, segundo Martinez et al., (1996), tem-se revelado uma poderosa ferramenta para realizar o diagnóstico de gestação e o estudo do crescimento embrionário nos mamíferos. A importância da ecografia modo B para melhorar a eficiência reprodutiva nas diferentes espécies animais centra-se não só no diagnóstico de gestação precoce, mas também no controlo do momento da ovulação, avaliação de estruturas e função das gónadas e tracto reprodutivo, detecção de perdas embrionárias e mortalidade fetal, desenvolvimento e crescimento fetal, entre outros (Parreguez et al., 1997). É ainda importante destacar que a ecografia também pode ser usada para estimar a duração da gestação (Haibel, 1988), e estimar a data provável de parto, quando a data de cobrição não é conhecida (Ishwar, 1995). Esta técnica recorre à utilização de um ecógrafo (Fig. 5.3) com funcionamento em modo B (brilho) em tempo real, obtendo imagens resultantes da justaposição de pontos luminosos (Amari et al., 2003). O brilho da imagem é proporcional à variação de impedância acústica entre os diferentes tecidos (Levy et al., 1990). No ecrã do aparelho ecográfico é possível visualizar as diferentes tecidos e órgãos quando atravessados por ultrassons (Amari et al., 2003). 67 Diagnóstico de Gestação e Fetometria Durante os Primeiros 90 Dias de Gestação em Caprinos da Raça Serrana Fig. 5.3 - Exemplos de aparelhos ultrassonográficos modo B. www.vetsales.net3_arquivos; www.vetsales.net_arquivos; www.aloka-europe.com. A utilização desta técnica, para exames de rotina do foro reprodutivo, é normalmente realizada com sondas em que a frequência varia entre os 3,5 e os 7,5 MHz (Simões et al., 2004). Inicialmente, os estudos para diagnóstico de gestação usando o método ultrassonográfico eram realizados com sondas transabdominais (Padilla et al., 2005). Actualmente, tanto se recorre ao uso de transdutores transabdominais como transrectais (Fig. 5.4). (Padillas – Rivas et al., 2005). Utilizando o método transrectal é possível estabelecer o diagnóstico de gestação mais precocemente, dependendo também da frequência da sonda usada (Amari et al., 2003). Segundo Padillas – Rivas et al. (2005), o diagnóstico de gestação efectuado com uma sonda transrectal permite reconhecer os sinais de uma gestação 4 a 5 dias mais cedo, do que o mesmo quando realizado com transdutores transabdominais. Fig. 5.4 – Vários tipos de sondas. www.raus.com.br/catalogo. Esta técnica imagiológica não invasiva, quando usada para exame de tecidos corporais, não tem efeitos biológicos adversos conhecidos, tanto para o animal como para 68 Diagnóstico de Gestação e Fetometria Durante os Primeiros 90 Dias de Gestação em Caprinos da Raça Serrana o operador (Rajamahandron et al., 1994). Por outro lado, a ultrassonografia, como método de diagnóstico, tem sido enquadrada como uma das causas de perda gestacional, embora autores como Ball e Logue, citados por Barros e Visintin (2001), não partilhem da mesma opinião, uma vez que demonstraram a inexistência de uma relação entre perdas embrionárias e a realização do exame precoce de gestação (Barros e Visintin, 2001). O diagnóstico de gestação por ecografia possui uma relação precocidade fiabilidade superior aos outros métodos, uma vez que se realiza em tempo real e permite analisar a viabilidade da gestação, evidenciando a presença ou ausência de batimentos cardíacos e o número de embriões (Bulnes et al., 1999). Para a realização do exame ultrassonográfico transrectal, a sonda lubrificada deve ser inserida no recto e, após a identificação da bexiga (Medan et al., 2004), deve explorar vagarosamente todo o aparelho genital feminino (Ishwar, 1995). Outro aspecto a ter em consideração na realização do exame é a remoção de fezes do recto, possibilitando a obtenção de uma imagem com maior qualidade. (Ishwar, 1995). Como os caprinos por vezes não são muito cooperantes, especialmente quando a sonda é introduzida no recto, é necessário que os mesmos se encontrem imobilizados para não causar quaisquer danos no recto (Gonzalez et al., 2004). O diagnóstico de gestação realizado por UTR é normalmente facilitado quando os animais são sujeitos a um jejum nas 12 a 18 horas que antecedem o exame (Gonzalez et al., 2004). 5.1.2.5.3.1- O Diagnóstico de Gestação Diversos parâmetros devem ser estudados/observados ao longo dos exames ecográficos; os ovários devem ser examinados de forma a detectar a presença do C.L. e o útero deve ser cuidadosamente explorado, procurando 1) áreas anecogénicas (vesículas embrionárias) e determinação do seu diâmetro; 2) presença do embrião e visualização dos batimentos cardíacos; 3) comprimento craneo-caudal do embrião (medido em mm) e 4) frequência dos batimentos cardíacos (nº de batimentos por minuto) (Martinez et al., 1998). Segundo Boyd et al., 1995, citado por Simões et al., 2004, o diagnóstico de gestação através de ultrassonografia baseia-se, durante os estádios iniciais, na detecção da vesícula embrionária e, ocasionalmente do embrião do lúmen uterino ipsislateral ao ovário que possui o corpo lúteo da gestação. A imagem da vesícula embrionária corresponde a uma estrutura circular ou alongada localizada no útero cranealmente à bexiga urinária 69 Diagnóstico de Gestação e Fetometria Durante os Primeiros 90 Dias de Gestação em Caprinos da Raça Serrana (Medan et al., 2004), rodeada por uma parede de ecogenicidade mista que se identifica como a parede uterina (Bulnes et al., 1999). O embrião apresenta-se como uma estrutura hiperecogénica de forma alongada, normalmente situada na zona basal da vesícula gestacional (Parreguez et al., 1999). Os batimentos cardíacos são visualizados como uma mancha, que escurece e aclara com uma frequência regular, na zona torácica (Parreguez et al., 1999). Em fêmeas não gestantes o útero apresenta-se como uma estrutura esférica de ecogenicidade média (Parreguez et al., 1999). O útero das fêmeas vazias pode apresentar ou não, pequenas cavidades centrais, cheias de líquido, com menos de 2 mm de diâmetro (Medan et al., 2004). Assim, a interpretação das imagens pode ser dificultada em estádios muito precoces de gestação, pois a vesícula anecogénica pode ser confundida com fluidos fisiológicos ou patológicos e com estruturas como folículos, vasos sanguíneos e bexiga repleta, que juntos formam um aglomerado, em espaço restrito dentro da cavidade pélvica (Barros e Visintin, 2001). Utilizando uma sonda transrectal de 7,5 MHz, é possível estabelecer o diagnóstico de gestação a partir do dia 11 após a inseminação, mediante a detecção da zona de implantação embrionária, isto é, a vesícula embrionária ou saco gestacional (Bulnes et al., 1999). O mesmo exame, realizado com um transdutor de 5 MHz de frequência, portanto com uma resolução mais baixa, só permite visualizar as vesículas embrionárias ao 18º dia após a inseminação (Martinez et al., 1998). Relativamente ao diagnóstico de gestação baseado na presença do embrião, segundo Bulnes et al. (1999), a utilização de sondas transrectais de 7,5 MHz, possibilita o diagnóstico de gestação, aos 16 dias. Por sua vez, Gonzalez et al., (2004), utilizando transdutores com a mesma frequência, afirma que a detecção do embrião é possível, com precisão máxima, a partir dos 26 dias depois da cobrição, obtendo durante a fase inicial de gestação (entre o 20º e o 22º dia) numerosos falsos negativos (tabela 5.1). A determinação ecográfica do embrião, utilizando uma sonda transrectal de 5 MHz, pode ser realizada a partir do 20º dia de gestação (Parreguez et al., 1999), ou entre os dias 23 e 25 de acordo com Buckrell et al. (1986) e Buckrell (1988). Quando as ecografias são feitas com sondas transabdominais, os primeiros sinais de gestação são visíveis a partir de dia 25 (Gearhart et al., 1988) ou do dia 30 após a inseminação (Bretzlaff et al., 1993). De acordo com Hesselink y Taverne (1994), a presença de fluído no lúmen uterino começa a detectar-se ao 22º dia de gestação. Por 70 Diagnóstico de Gestação e Fetometria Durante os Primeiros 90 Dias de Gestação em Caprinos da Raça Serrana último, Kahn (1992) indica que entre os dias 18 e 30, o diagnóstico de gestação é possível por via transabdominal, sendo mais preciso depois dos 35 dias após a cobrição. Tabela 5.1 – Precisão da UTR no diagnóstico de gestação por via transrectal em caprinos (Gonzalez et al., 2004). Dias após a cobrição Sensibilidade (%)* Especificidade (%)** Precisão (%)*** 20 11,4 100 55,7 22 44,3 100 72,2 24 78,5 100 89,3 26 98,7 100 99,4 *Sensibilidade = (Número de diagnósticos positivos correctos/ Número de fêmeas que parem) * 100 **Especificidade = (Número de diagnósticos negativos correctos / Número de fêmeas que não parem) * 100 ***Precisão = (Número de diagnósticos correctos / Número de diagnósticos totais) * 100 Na prática, é mais aconselhável realizar o diagnóstico de gestação por ecografia em períodos mais tardios, nos quais se possa visualizar o embrião e, especialmente a sua actividade cardíaca como sinal de viabilidade, pois a presença de vesículas embrionárias constitui um diagnóstico incompleto (Bulnes et al., 1999). O diagnóstico por UTR pode revelar-se mais complicado em fêmeas multíparas, e a probabilidade de ocorrerem falsos negativos devido à falha da imagem de todo o tracto genital, é maior. Isto acontece porque os animais mais velhos, com maior número de partos, possuem mais dobras no útero que os mais jovens, e assim, é mais difícil visualizar o embrião ou detectar o seu batimento cardíaco em estádios mais precoces de gestação (Gonzalez et al., 2004). 5.1.2.5.3.2 - Diagnóstico de Alterações na Viabilidade Embrionária e Fetal A utilização da UTR – modo B em tempo real, para além de permitir estabelecer o diagnóstico de gestação, possibilita ainda detectar alterações durante a gestação (Bulnes et al., 1999). Como tal, a ultrassonografia pode constituir um valioso instrumento na determinação da mortalidade embrionária e fetal em caprinos, baseando-se na presença ou ausência de batimentos cardíacos depois do 21º dia após a inseminação (Martinez et al., 1998). Actualmente, é de elevada importância estudar a extensão e o tempo em que ocorrem as perdas embrionárias e fetais com vista a minimizar o impacto negativo na 71 Diagnóstico de Gestação e Fetometria Durante os Primeiros 90 Dias de Gestação em Caprinos da Raça Serrana eficiência reprodutiva do rebanho (Martinez et al., 1998), e consequentemente, minimizar as perdas económicas (Bulnes et al., 1999). A morte intra-uterina é uma alteração que pode passar despercebida ao técnico, principalmente se ocorre antes do início da ossificação e conduz a um processo de reabsorção; outras possibilidades são o aborto e a mumificação (Bulnes et al., 1999). A perda embrionária precoce seguida de reabsorção não pode ser detectada sem um método que permita um diagnóstico de gestação precoce. Por sua vez, quando ocorre um aborto, os sinais clínicos que o acompanham são facilmente detectáveis (Bulnes et al., 1999). Assim, a mortalidade embrionária em estágios iniciais de gestação, pode ser detectada através da ultrassonografia (Martinez et al., 1998), através do desaparecimento da vesícula gestacional presente em observações anteriores (Bulnes et al., 1999). No entanto, a exactidão deste diagnóstico é maior quando já se visualiza o embrião, ao avaliar a ecogenicidade dos tecidos embrionários e os movimentos do embrião em tempo real (Bulnes et al., 1999). Os principais sinais indicadores de perda embrionária são, para além do desaparecimento do embrião relativamente a um exame prévio, a diminuição da ecogenicidade da massa embrionária, a diminuição do tamanho em comparação com outros embriões com a mesma idade gestacional, o colapso das membranas gestacionais e, principalmente, a ausência de batimentos cardíacos. Em alguns casos pode ainda verificarse o desprendimento do embrião da placenta materna (Gearhart, 1988). Normalmente o primeiro sinal da existência de problemas na viabilidade do embrião é a diminuição da frequência cardíaca (Kastelic et al., 1988). A observação destes sinais possibilita a diferenciação da causa primária da morte embrionária, já que, quando se produz uma luteólise, a perda embrionária é rápida e com degeneração mínima, quando a causa primária não está relacionada com nenhuma alteração do CL, observa-se a retenção de tecidos e fluidos gestacionais e a degeneração do embrião (Bulnes et al., 1999). Quando já se produziu a ossificação, só é possível ocorrer o aborto (Bulnes et al., 1999). Nas imagens ultrassonográficas o aborto caracteriza-se pela existência de massas intra-uterinas moderadamente hipoecogécinas que tendem a tornar-se mais homogéneas, até desaparecer lentamente (Bulnes et al., 1999). Em casos onde ocorre a mumificação, observa-se uma massa compacta com focos hiperecogénicos e normalmente uma escassa quantidade de líquido, que se apresenta hipoecogénico com partículas hiperecogénicas (Bulnes et al., 1999). 72 Diagnóstico de Gestação e Fetometria Durante os Primeiros 90 Dias de Gestação em Caprinos da Raça Serrana 5.1.2.5.3.3 – Determinação do Número de Embriões A determinação do número de gestações simples ou múltiplas constitui uma informação muito útil em explorações de pequenos ruminantes, devido ao efeito que as condições pré-natais podem ter na vida pós-natal, como sendo a nutrição da fêmea gestante, que pode influenciar o crescimento fetal e o tamanho das crias ao nascimento (Parreguez et al., 1999). Os gémeos de fêmeas alimentadas como se tivessem apenas uma cria, são mais leves e mais propensos a morrer. Por outro lado, pode haver uma acentuada diminuição da condição corporal da mãe devido ao aumento das suas necessidades de gestação (Dziuk, 1992). Ao contrário, crias únicas de fêmeas alimentadas como se tivessem uma gestação múltipla, adquirem demasiado peso e existe o risco de ocorrer um parto prolongado e difícil (Dawson et al., 1994). Assim, é vantajoso tentar avaliar o número de fetos quando se realiza o diagnóstico de gestação. A possibilidade de identificar fetos múltiplos com a UTR em tempo real, é uma clara vantagem em relação a outras técnicas (Medan et al., 2004). A exactidão da determinação do número de fetos depende também das características técnicas da sonda utilizada (Amari et al., 2003). A determinação do número de embriões realiza-se através do varrimento completo do aparelho genital materno, diferenciando individualmente cada embrião ou feto em diferentes cortes de cada um dos cornos uterinos (Bulnes et al., 1999). O tipo de gestação (simples ou múltipla) pode ser determinado por via transabdominal a partir dos 35-40 dias de gestação, embora só a partir dos 50-55 dias a fiabilidade seja alta. O uso de sondas transrectais de 7,5 MHz apresenta uma exactidão de 100% desde o dia 30 de gestação, sendo possível distinguir com a mesma fiabilidade gestações com dois ou três embriões (Bulnes et al., 1999). Em estudos realizados por Medan et al. (2004), com uma sonda transrectal de 7,5 MHz, o número de fetos pode ser identificado a partir do dia 40 após a cobrição, sendo a sua determinação superior no dia 60. Segundo Padilla et al. (2005), para a mesma experiência, a melhor altura para distinguir entre fetos únicos ou gémeos é entre os dias 28 e 40 de gestação. O mesmo autor refere ainda a dificuldade que por vezes pode existir em distinguir os diferentes fetos. Schrick e Inskeep (1993) referem que a partir do 25º dia após a cobrição, a diferenciação entre gestações simples e múltiplas é possível com uma exactidão de 88%. Com a utilização de uma sonda de 5 MHz este valor diminui (Amari et al., 2003). 73 Diagnóstico de Gestação e Fetometria Durante os Primeiros 90 Dias de Gestação em Caprinos da Raça Serrana 5.2. Critérios para a Escolha de um Método de Diagnóstico de Gestação A escolha do método mais apropriado para o diagnóstico de gestação depende da eficácia do equipamento, do número de dias que decorrem desde a inseminação até à data do exame, da precisão e da experiência do examinador (Ishwar, 1995). Pela comparação dos diferentes métodos existentes, a técnica de diagnóstico de gestação com maior potencial em caprinos é a UTR modo B em tempo real (tabela 5.2) (www.clemson.edu/agronomy/goats/handlock/reproduction.html). A portabilidade do aparelho ecográfico, combinado com as vantagens do seu uso (determinação do número de fetos, determinação de alterações na gestação, estudo de outras características reprodutivas), fazem da sua aplicação uma forma de rentabilizar a produção (www.clemson.edu/agronomy/goats/handlock/reproduction.html). Tabela 5.2. Comparação de diferentes técnicas de diagnóstico de gestação em caprinos. (Tabela parcialmente retirada de www.clemson.edu/agronomy/goats/handlock/reproduction.html) Técnica Momento da Nº de Precisão Aplicação utilização (dias) Fetos (%) prática Palpação abdominal 60 -115 Não 60-90 Elevada Palpação recto-abdominal 50 - 70 Não 90 Moderada Doseamento de progesterona 18 - 22 Não 90-95 Moderada Doseamento de sulfato de oestrona 40-50 Não 90-95 Baixa Doseamento de glicoproteínas associadas 20-30 Sim 95-100 ? Ecografia modo B em tempo real 16-25 Sim 90-95 Elevada Ecografia modo A 50-120 Não 85-95 Elevada Dopller ultrassons 60-90 Não 85-90 Moderada >50 Sim 90-95 Baixa ≈100 Baixa à gestação Radiografia Laparoscopia 40-50 74 Diagnóstico de Gestação e Fetometria Durante os Primeiros 90 Dias de Gestação em Caprinos da Raça Serrana 6 – Fetometria A ultrassonografia, ao ser um método de diagnóstico baseado em imagens, permite não só determinar a existência ou não de gestação mas também realizar um exame mais detalhado das estruturas fetais (Bulnes et al., 1999). Para realizar o diagnóstico da idade gestacional algumas medidas morfológicas são necessárias, medidas que se revelem bons indicadores do estádio de gestação em que se encontra o animal, de forma a relacioná-las consistentemente com o crescimento embrionário e fetal (Mufti et al., 2000). Assim, a fetometria ecográfica permite, além do conhecimento da progressão do crescimento fetal, o diagnóstico de possíveis anomalias fetais, a previsão da data do parto de forma a poder induzir ou observar o parto, melhorando a taxa de sobrevivência neonatal (Reichle e Haibel, 1991 e Kahn, 1992), facilitando ainda o seu maneio alimentar (Bulnes et al., 1999). A utilização da fetometria é especialmente útil quando a data da concepção não é conhecida (Bulnes et al., 1999). A observação do grau de desenvolvimento do embrião ou feto, e a determinação das diferentes medidas de estruturas gestacionais (principalmente a vesícula embrionária, o próprio embrião ou o crânio fetal) permite conhecer não só a sua viabilidade como também detectar o aparecimento de mortes ou anomalias embrionárias ou fetais (Bulnes et al., 1999). As observações podem realizar-se desde que seja possível visualizar o embrião até ao 90º dia de gestação no caso da ecografia transrectal, ou até poucos dias antes do parto com a ecografia transabdominal (Bulnes et al., 1999). 6.1 – Aparecimento e desenvolvimento dos órgãos embrionários e fetais Durante a exploração ecográfica devem ser analisados diversos aspectos importantes que podem servir como referência na altura de determinar a idade do embrião, tais como os batimentos cardíacos, a diferenciação da cabeça, o aparecimento dos placentomas, pontos de ossificação e órgãos fetais (Bulnes et al., 1999). O uso de sondas de alta resolução por via transrectal, devido à sua maior frequência, possibilita a realização de estudos mais detalhados da evolução embrionária e fetal e dos processos organogénicos (Bulnes et al., 1996a e Bulnes et al., 1996b), para além 75 Diagnóstico de Gestação e Fetometria Durante os Primeiros 90 Dias de Gestação em Caprinos da Raça Serrana de permitir a detecção de órgãos em alturas muito semelhantes ao tempo real de aparição (Evans e Sack, 1973; Berdan e Fuquay, 1978; citados por Bulnes et al. 1999). Os períodos de observação das estruturas embrionárias são muito semelhantes na ovelha e na cabra, uma vez que não existem diferenças importantes no desenvolvimento embrionário de ambas as espécies (Buckrell, 1988 e Tainturier et al., 1993). 6.1.1 – Comprimento Crânio-caudal (CCC) O CCC constitui um parâmetro seguro para determinar o crescimento embrionário (Martinez et al., 1998). Segundo o mesmo autor, usando uma sonda transrectal de 5 MHz, o crescimento embrionário pode ser descrito por uma equação de regressão linear (y = 2,23+0,13X; r2=0,94; P <0,01) entre o 19º e o 38º dia após a inseminação, permitindo a estimativa do dia de gestação através da mensuração do CCC. Nos dias 39-40 de gestação, a taxa de crescimento aumenta, não sendo possível descrever o crescimento embrionário através da mesma equação de regressão linear, consequentemente, um modelo de regressão apropriado deve ser usado para descrever o crescimento do embrião depois dos 38 dias de gestação (Martinez et al., 1998). Em ovelhas, Schrik e Inskeep (1993), encontraram uma relação quadrática entre o tempo de gestação e o crescimento após os 40 dias de gestação. O CCC foi frequentemente usado em observações fetais postmortem, em diferentes espécies, tendo sido considerado uma das medidas mais representativas do desenvolvimento embrionário (Evans e Sack, 1973; citados por Bulnes et al. 1998). Em estudos realizados por Bulnes et al., (1998) com recurso à ultrassonografia, a evolução do CCC em relação ao dia de gestação é muito semelhante aos dados obtidos postmortem. De acordo com Sivachelon et al. (1996), citado por Bulnes et al., (1999), o CCC apresentra uma correlação muito elevada com a idade de gestação, e os dados obtidos são muito semelhantes aos descritos em estudos realizados postmortem. Para determinar a longitude crânio-caudal deve-se procurar uma imagem onde apareça o maior corte longitudinal do embrião e, após a mesma ser congelada, coloca-se o caliper em cada extremo da massa embrionária (Bulnes et al., 1999) (Fig. 6.1). 76 Diagnóstico de Gestação e Fetometria Durante os Primeiros 90 Dias de Gestação em Caprinos da Raça Serrana Fig. 6.1 – Determinação do CCC do feto, aos 35 e aos 47 dias de gestação, respectivamente. 6.1.2. – Diâmetro do Tronco Embrionário (DTE) A mensuração do diâmetro do tronco embrionário através da ultrassonografia é normalmente realizada para determinar a idade gestacional em humanos e animais. De acordo com Auimlamai et al., (1992), citado por Lee et al., (2005), o valor do coeficiente entre o diâmetro do tronco embrionário e a idade gestacional em ovelhas é significativo (r=0,80). Lee et al. (2005) obtiveram também uma elevada correlação entre o diâmetro do tronco fetal e a idade gestacional em caprinos da raça Korean Black (r=0,89). De acordo com os mesmos autores, a determinação destas medidas por UTR tem ainda como vantagem a facilidade na sua mensuração em relação a outros parâmetros. O diâmetro do tronco embrionário é medido num corte transversal do abdómen onde a largura é maior (Lee et al., 2005) (Fig. 6.2). Uma vez produzida a organogénese, as medidas realizam-se num corte transversal a nível do fígado e estômago, caudalmente ás últimas costelas, como forma de as normalizar (Bulnes et al., 1999). O diâmetro do tronco é, junto com o diâmetro biparietal (DBP), das medidas que mais indicações pode fornecer, uma vez que pode ser visualizado durante a maior parte da gestação, desde os 23 dias (Bulnes et al., 1999). 77 Diagnóstico de Gestação e Fetometria Durante os Primeiros 90 Dias de Gestação em Caprinos da Raça Serrana Fig. 6.2 – Determinação do diâmetro do tronco embrionário de um feto aos 39 dias de gestação. 6.1.3 – Diâmetro Biparietal (DBP) Em estádios de gestação mais avançados, na maioria das ocasiões, não é possível visualizar o feto por completo, apenas uma parte do mesmo; no entanto, o crânio permanece numa posição favorável à observação ao longo de toda a gestação (Bulnes et al., 1999). Portanto, o diâmetro da cabeça constitui uma boa indicação do desenvolvimento fetal, uma vez que mostra uma elevada correlação com a idade gestacional, sendo possível a sua observação por longos períodos de tempo, a partir dos 36 – 38 dias de gestação (Bulnes et al., 1998) (Fig. 6.3). Mais tarde, Bulnes et al. (1999) afirma que o DBP pode ser visualizado desde os 32 dias de gestação, até quase ao final da gestação, em que a obtenção de medidas é mais difícil devido à hiperecogenicidade dos ossos cranianos e à descida do feto na cavidade abdominal. Para o mesmo autor, as elevadas correlações que se obtêm entre o DBP e a idade gestacional podem dever-se ao facto de as estruturas ósseas serem rodeadas por tecidos moles e assim, ser mais fácil a delimitação do bordo hiperecogénico do osso. Como, normalmente, a cabeça se encontra numa posição favorável à observação, a sua mensuração é realizada sem quaisquer dificuldades (Bulnes et al., 1998). 78 Diagnóstico de Gestação e Fetometria Durante os Primeiros 90 Dias de Gestação em Caprinos da Raça Serrana De acordo com estudos realizados por Haibel (1988), o DBP cresce significativamente com o aumento da idade de gestação em caprinos leiteiros (r2=0,98). Reichle e Haibel (1991) referem a existência de uma elevada correlação entre a fase de gestação e o diâmetro da cabeça quando o mesmo é medido com dois a três dias de intervalo entre o 36º e o 102º dia de gestação em caprinos Pygmy (r2=0,97). Em estudos realizados por Lee et al. (2005), a relação existente entre a idade gestacional e o DBP é um pouco mais baixa (r2=0,81). Fig. 6.3 – Diâmetro biparietal de um embrião aos 74 dias de gestação. 6.1.4 – Comprimento Occipito-nasal (CON) Para além do DBP, o CON (Fig. 6.4) é uma das medidas mais utilizadas para determinar a idade da gestação, podendo observar-se a partir dos 38 dias até quase ao final da gestação (Bulnes et al., 1999). Autores como Kelly e Newnham (1989), citados por Bulnes et al. (1998), consideram que o CON é uma medida ainda mais precisa que o DBP, apresentando crescimento linear até ao 80º dia de gestação (Bulnes et al., 1998). 79 Diagnóstico de Gestação e Fetometria Durante os Primeiros 90 Dias de Gestação em Caprinos da Raça Serrana Fig. 6.4 – Comprimento occipito-nasal de um feto de 36 dias. (Retirado de Bulnes et al., 1999) Em gestações mais avançadas, os ossos inferiores do crânio podem mascarar o DBP, pelo que é necessário ter cuidado na mensuração do mesmo, de forma a obter imagens que não correspondam aos maxilares; é importante assegurar o correcto alinhamento dos calipers entre si e com as paredes do crânio com a finalidade de evitar a obtenção de medidas falsas. Para determinar o CON, os calipers devem colocar-se no limite caudal do osso occipital e no limite craneal dos ossos nasais (Bulnes et al., 1999). 6.1.5 – Diâmetro das Órbitas Fetais (DOF) Um dos primeiros órgãos fetais a ser visualizado é a vesícula óptica (Bulnes et al., 1999). A imagem da vesícula óptica aparece inicialmente como uma cavidade anecogénica. Quando o olho está formado, o globo ocular apresenta forma oval em cortes longitudinais do crânio, ao passo que em cortes transversais apresenta uma forma esférica (Bulnes et al., 1999). Lee et al. (2005), obtiveram uma correlação relativamente elevada entre o DOF e a fase de gestação, entre os 60 e os 135 dias após a cobrição (r=0,87). Segundo os mesmos autores, o diâmetro da vesícula óptica constitui um útil parâmetro para estimar a idade fetal. 80 Diagnóstico de Gestação e Fetometria Durante os Primeiros 90 Dias de Gestação em Caprinos da Raça Serrana 6.1.6 – Diâmetro do Cordão Umbilical (DCU) Tal como sucede na espécie humana, nas cabras Korean Black, a mensuração do DCU apresenta uma correlação algo significante com a idade gestacional (r=0,7074) (Lee et al., 2005). O cordão umbilical é uma estrutura rapidamente reconhecida, e que normalmente constitui uma importante ajuda na localização do embrião ou feto. O cordão umbilical aparece como um pequeno círculo, quando se obtém uma imagem transversal, ou como um longo tubo quando se observa a estrutura longitudinalmente (Fig. 6.5). A imagem ecográfica do cordão umbilical obtém-se com o do varrimento do abdómen, através de uma ligeira alteração do ângulo de inserção da sonda (Russel e Goddard, 1994). Placentomas Cordão Umbilical e veias Fig. 6.5 – Imagem longitudinal do cordão umbilical e suas veias. Adaptado de Goddard, 1995. 6.1.7 – Mensuração de Placentomas Em caprinos, os placentomas podem ser observados pela primeira vez entre os 25 (Kanh, 1994) e os 40 dias de gestação, apresentando-se como estruturas hiperecogénicas (brancas na imagem ecográfica), com uma concavidade central, que aparece e desaparece quando o ângulo da sonda é alterado (Fig. 6.6) (Russel e Goddard, 1994). Segundo Kaulfuss et al. (1996) e Fernandes (1996); citados por Calamari et al. (2003), a observação de placentomas apenas é possível a partir do 27º ou 28º dia após a concepção, 81 Diagnóstico de Gestação e Fetometria Durante os Primeiros 90 Dias de Gestação em Caprinos da Raça Serrana respectivamente. Calamari et al. (2003) obtiveram resultados concordantes com Kanh, (1994), citado por Calamari et al. (2003). Fig. 6.6 – Diâmetro de um placentoma (localizado superiormente a um feto). De acordo com Buckrell et al. (1986), citado por Simões et al. (2004) e Doizé et al. (1997), os placentomas podem ser visualizados pela primeira vez, por via transrectal, entre o 26º e o 28º dia ou a partir do 30º dia, respectivamente. Em caprinos, os placentomas exibem um crescimento lento, atingindo o diâmetro máximo aos 91 dias de gestação (Doizé et al., 1997). A partir desta altura, a medição dos placentomas não é possível devido à variabilidade e dificuldade em obter imagens do útero distendido (Doizé et al., 1997), mesmo que os exames sejam realizados por via transabdominal (Haibel, 1990). Através da ecografia transabdominal apenas é possível visualizar as carunculas a partir do 40º dia de gestação (Haibel, 1990). De acordo com estudos anteriormente realizados, através de necrópsia em diferentes estádios de gestação (Cloete, 1939; citado por Doizé et al., 1997) ou após a expulsão das membranas fetais (Bhattacharyya et al., 1983; citado por Doizé et al., 1997), os placentomas são detectáveis na superfície do endométrio entre os 21 e os 26 dias de 82 Diagnóstico de Gestação e Fetometria Durante os Primeiros 90 Dias de Gestação em Caprinos da Raça Serrana gestação (Doizé et al., 1997). No entanto, através da UTR transrectal com uma sonda de 5 MHz, os placentomas apenas são visíveis a partir dos 32-35 dias (Doizé et al., 1997). Os placentomas são visualizados como pequenos nódulos na superfície do endométrio, aumentando de tamanho em poucos dias até atingir a conformação de semi-lua (Simões et al., 2004). Enquanto a conformação anatómica dos placentomas nos ovinos é semi-esférica, nas cabras os mesmos apresentam uma forma discoide (Simões et al., 2004). Ao contrário dos ovinos, as carunculas dos caprinos apresentam bordos pouco espessos e uma parte central de maior espessura (Doizé et al., 1997). A mensuração dos placentomas deve ser efectuada quando estes apresentam uma conformação circular (em planos longitudinais) ou conformação em C (em planos transversais) (Doizé et al., 1997). Normalmente são visualizados vários placentomas na mesma imagem (Doizé et al., 1997). Numa gestação, normalmente coexistem placentomas de diversos tamanhos ou com diferentes graus de desenvolvimento (Hradacky et al., 1988; citado por Bulnes et al., 1998). De acordo com Jenkinson et al. (1994), citado por Doizé et al. (1997), existe uma variação no desenvolvimento placentário em relação à estação do ano; o número total de placentomas desenvolvidos e o seu peso total é maior em fêmeas cuja cobrição ou I.A. foi efectuada na época reprodutiva, do que naquelas em que a cobrição ocorreu durante a estação de anestro (Doizé et al., 1997). O procedimento da UTR transrectal também pode constituir uma causa para a variação das medidas. Outros autores afirmam ainda que a variação de tamanho dos placentomas possui uma relação com a sua posição nos cornos uterinos (Doizé et al., 1997). Embora tendo em conta a variação existente, Kelly et al. (1987), citada por Bulnes et al. (1998), apontam a mensuração de placentomas como tendo grande potencial para estimar o crescimento da placenta em ovinos. Segundo Doizé et al. (1997), a mensuração de placentomas através de ultrassons durante a gestação é uma ferramenta que permite estimar a idade gestacional. Estudos realizados por Doizé et al. (1997), permitiram obter uma correlação entre o tamanho dos placentomas e a duração da gestação, que é descrita pela seguinte equação: Idade (dias) = 28,74 + 1,80 PL (mm) + e (residual), (r2=0,70), obtendo uma regressão estatisticamente significante (P <0,0001) (Fig. 6.7). Lee et al. (2005), obtiveram uma correlação mais fraca (r=0,57) entre o diâmetro dos placentomas e a idade gestacional. 83 Diagnóstico de Gestação e Fetometria Durante os Primeiros 90 Dias de Gestação em Caprinos da Raça Serrana Tempo de gestação (dias) Diâmetro dos placentomas (mm) Fig. 6.7 – Medidas de dispersão e linha de regressão do diâmetro dos placentomas (mm) e idade gestacional (dias) em caprinos. Retirado de Doizé et al., 1997. É de extrema importância diferenciar correctamente a imagem transversal de um embrião das primeiras imagens de carunculas; estas últimas caracterizam-se por, em imagens ecográficas, aparecerem como massas muito ecogénicas aderentes ao endométrio, já o embrião flutua livre na vesícula embrionária. Esta possível confusão ocorre com mais frequência quando se pretende determinar o número de embriões Bulnes et al. (1999). 6.1.8 – Mensuração do Coração A nível do tórax, o batimento cardíaco é detectado com total segurança desde os 23 dias de gestação (Bulnes et al., 1996a); aos 42 dias de gestação, as estruturas do coração estão completamente formadas e podem-se distinguir aurículas, ventrículos, as válvulas mitral, tricúspide e a saída dos vasos sanguíneos. De acordo com Lee et al. (2005), tanto o eixo maior como o menor do coração podem ser determinados e usados com uma elevada correlação (r=0,92 e r = 0,88) para determinar a fase da gestação. No entanto, o diâmetro do eixo maior apresenta uma correlação mais elevada com a idade gestacional, uma vez que o diâmetro do eixo menor é incerto, pois existe uma variação devido à duração da sístole e da diástole. A mensuração dos eixos do coração deve ser realizada quando se obtém um plano transversal onde se 84 Diagnóstico de Gestação e Fetometria Durante os Primeiros 90 Dias de Gestação em Caprinos da Raça Serrana podem visualizar as quatro câmaras do coração durante a diástole, num período com ausência de movimentos fetais (Lee et al., 2005). 6.1.8.1 – Mensuração dos Batimentos Cardíacos No embrião, o batimento cardíaco é visualizado como uma mancha, que escurece e aclara com uma frequência regular na cavidade torácica (Parraguez et al., 1999). Em ovinos é possível detectar os batimentos cardíacos dos embriões, tanto em gestações simples como em gestações gemelares, utilizando um transdutor transrectal de 7,5 MHz, a partir do décimo oitavo ou décimo nono dia (Schrick e Inskeep, 1993 e Bulnes et al., 1998). Martinez et al. (1998), utilizando uma sonda transrectal de 5MHz, observou pela primeira vez os batimentos cardíacos entre o décimo nono e o vigésimo terceiro dia (20,7±0,5 dias). Os batimentos cardíacos decrescem ao longo da gestação. Os mesmos autores observaram 168,3±2,8 bat./min. no vigésimo primeiro dia de gestação, descendo posteriormente para 158,3±2,0 bat./min. ao quadragésimo dia. (Fig. 6.8). Em trabalhos efectuados por Parraguez et al. (1999) em caprinos, foi possível detectar as pulsações rítmicas a partir do vigésimo dia de gestação. Padilla-Rivas et al. (2005), detectaram os batimentos cardíacos fetais em caprinos da raça Bóer entre o vigésimo e o vigésimo sexto dia de gestação. Normalmente, de acordo com os mesmos autores, o batimento cardíaco fetal só é detectado três ou mais dias depois do aparecimento dos fluidos uterinos acumulados, mas constitui um indicador de gestação mais fiável, uma vez que se apresenta como uma prova mais conclusiva da presença de um feto vivo. Batimentos cardíacos por minuto Dias de gestação Fig. 6.8 – Batimentos cardíacos (média ± erro da média) de vinte embriões de cabras entre os dias 21 e 40 de gestação. (Retirado de Martinez et al., 1998). 85 Diagnóstico de Gestação e Fetometria Durante os Primeiros 90 Dias de Gestação em Caprinos da Raça Serrana 6.1.9 – Outras Estruturas O estudo ecográfico por via transrectal, como já foi anteriormente referido, pode iniciar-se 12 dias depois da inseminação com a visualização da vesícula embrionária, ou aos 19 dias com a imagem do embrião (Bulnes et al., 1996b). O início da ossificação pode observar-se a partir dos 35-37 dias de gestação, observando-se mais pormenorizadamente os ossos desde os 40-44 dias, tanto a nível do crânio, como da coluna vertebral, membros torácico e pélvico (Bulnes et al., 1999). Bulnes et al. (1998), encontraram uma correlação relativamente baixa entre o comprimento do fémur e a idade gestacional (r=0,78), embora tal correlação possa dever-se ás dificuldades em visualizar inteiramente as imagens transversais ou longitudinais. O fémur segue um crescimento exponencial e pode ser mensurado entre os 61 e os 90 dias de gestação (Bulnes et al., 1998). No abdómen pode localizar-se uma única estrutura anecogénica a partir dos 29 dias correspondente ao primórdio gástrico; entre os 61 e 65 dias, os quatro compartimentos já estão definidos (Bulnes et al., 1999). De acordo com Bulnes et al. (1998), a cavidade anecogénica correspondente ao estômago pode ser facilmente monitorizada a partir dos 50 dias após a concepção, apresentando um diâmetro longitudinal de 6mm, crescendo linearmente, atingindo aos 90 dias 37,5 ±0,5mm. O fígado e o mesofrenos podem visualizar-se pela primeira vez ao 32º dia de gestação. Por sua vez, os rins são ecograficamente acessíveis a partir dos 48 dias, e a imagem das zonas cortical, medular e as pirâmides renais é clara a partir do dia 89 após a concepção (Bulnes et al., 1999). A determinação do sexo do feto também é possível, através da observação do genital masculino a partir do 61º dia, podendo ainda mais tardiamente, observar-se os testículos que apresentam uma menor ecogenicidade que o escroto (Bulnes et al., 1999). Na tabela 6.1 são referidas as principais características e medidas em cada estádio de gestação, com a finalidade de fornecer informação orientativa a aplicar na observação de fêmeas gestantes. 86 Diagnóstico de Gestação e Fetometria Durante os Primeiros 90 Dias de Gestação em Caprinos da Raça Serrana Tabela 6.1 – Estruturas e medidas em mm a considerar para estimar a idade de gestação (VE – vesícula embrionária, CCC – Comprimento craneo caudal, DT – diâmetro torácico, DBP – diâmetro biparietal e CON – comprimento occipito-nasal). (Tabela retirada de Bulnes et al., 1999). Idade Órgãos e estruturas observadas Medidas Vesícula embrionária VE= 20-35 Membrana amniótica CCC= 10-20 Embrião DT= 5-12 Primórdio cardíaco Embrião (23-35 dias) VE= 35-50 Diferenciação cabeça – tronco CCC= 20-35 Placentomas DT= 12-15 Embrião tardio (35-40 dias) VE= > 50 Membros CCC= >35 Olho DT= 15-30 Coração DBP= 12-25 Fígado e mesofrenos CON= 15-30 Feto (40-65 dias) Câmaras cardíacas Pulmões DT= 30-80 Pré-estômago DBP= 25-50 Intestino COM= 30-75 Bexiga urinária Feto (65-130 dias) DT= >80 Detalhes de todos os órgãos DBP= >50 COM= >50 Feto (130- ) 87 Diagnóstico de Gestação e Fetometria Durante os Primeiros 90 Dias de Gestação em Caprinos da Raça Serrana B – Parte Experimental 1. Caracterização da Exploração A exploração onde decorreram os ensaios do presente trabalho pertence à Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, em Vila Real (mapa em anexo). O efectivo presente no ovil divide-se em dois grupos, o efectivo ovino (com animais das raças Churra da Terra Quente e Ile-de-France) e o efectivo caprino. O efectivo caprino é constituído por um total de quarenta animais da raça Serrana, do ecotipo Trasmontano, dos quais trinta e sete são fêmeas e três são machos. Das trinta e sete fêmeas onze são primíparas, sendo as restantes vinte e seis multíparas. Os animais existentes nesta exploração são usados essencialmente para estudos realizados pelos alunos e docentes da universidade, não tendo como finalidade principal a produção e obtenção de lucro. Apenas os cabritos podem ser vendidos, embora muitas vezes permaneçam na exploração com a mesma finalidade dos seus progenitores. O método de reprodução correntemente utilizado nesta exploração é a cobrição natural. Apenas quando são efectuados trabalhos de investigação é que se recorre à sincronização de cios, utilizando o método das esponjas, e posteriormente à I.A. As fêmeas são postas à cobrição pela primeira vez por volta dos doze, treze meses de idade. Normalmente as fêmeas seguem o sistema de um parto por ano. O diagnóstico de gestação é realizado com recurso à ultrassonografia transrectal. Os animais permanecem em conjunto, em confinamento, sendo apenas separadas as fêmeas gestantes das outras na altura prevista para o parto. A alimentação do efectivo consiste em feno ad libitum e concentrado, sendo este último aumentado na altura do parto. 2. Material e Métodos Animais – As mensurações foram realizadas em 13 caprinos da raça Serrana, pertencentes à Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, com idade compreendida entre 1 e 5 anos, entre a 1ª e a 3ª gestação e com o peso a variar entre os 25 e os 46kg. Foi realizado um tratamento para indução e sincronização da ovulação recorrendo ao efeito macho. As cabras foram inseminadas entre as 12 e 24 horas após o início do estro 88 Diagnóstico de Gestação e Fetometria Durante os Primeiros 90 Dias de Gestação em Caprinos da Raça Serrana detectado por um bode com arnês marcador (dia da inseminação artificial = dia 0 da gestação). A data de inseminação foi 5 de Abril de 2006. Equipamento Ecográfico – Foi utilizado um ecógrafo (Aloka, 500SSD, Japão). Na primeira parte da experiência (período A) usou-se uma sonda transrectal de 7,5 MHz de frequência, (modelo UST-660-7.5) desenhada para uso prostático em medicina humana. No período B foi utilizada uma sonda transrectal de 5MHz (modelo UST-657-5) de frequência. Exames Ultrassonográficos – Os animas foram submetidos ao exame ecográfico de 2 em 2 dias, entre os 14 e os 42 dias após a inseminação (Período A) e uma vez por semana, entre os 42 e os 90 dias de gestação (Período B). Durante os exames de diagnóstico de gestação e fetometria, os animais foram colocados numa jaula de contenção, em posição de estação. Após lubrificação com gel acústico (que facilita a introdução da mesma no recto e permite a obtenção de uma imagem melhor), a sonda foi introduzida na ampola rectal com o transdutor virado para cima. A sonda é lentamente introduzida no recto até se conseguir visualizar a bexiga urinária (estrutura anecogénica – imagem a preto), usada como ponto de referência, uma vez que os cornos uterinos se encontram cranealmente a esta (Padilla – Rivas et al., 2005). Todo o tracto reprodutivo foi examinado através da rotação da sonda em movimentos lentos. Análise estatística – Os valores médios (média ± desvio padrão), assim como todas as equações de regressão simples ou múltipla foram realizadas através do programa Statview ® 4.53. Os melhores modelos foram seleccionados com base no seu coeficiente de determinação. As medidas efectuadas através de ultrassonografia foram analisadas por ANOVA e as diferenças entre médias determinadas usando o teste de Fisher LSD, sendo consideradas significativas as diferenças de nível P <0,05. 2.1 - Período A Após obtenção dos sonogramas apropriados, cada estrutura embrionária foi medida através do “caliper” do aparelho. Foram mensurados o diâmetro máximo da vesícula 89 Diagnóstico de Gestação e Fetometria Durante os Primeiros 90 Dias de Gestação em Caprinos da Raça Serrana embrionária, o comprimento crânio-caudal do embrião e o diâmetro (abdominal) do embrião. A frequência cardíaca também foi quantificada. Vesícula embrionária: a mensuração desta estrutura foi realizada através do seu maior eixo, utilizando os “calipers” para a sua demarcação. Comprimento crânio-caudal: para obter este parâmetro foi necessário encontrar o maior corte longitudinal do embrião, congelando posteriormente a imagem e recorrendo ao uso dos “calipers”, colocados em cada extremidade da massa embrionária (crânio e parte posterior do corpo). Diâmetro abdominal: esta medida obteve-se de um corte do embrião na zona abdominal de maior largura. Batimentos cardíacos: A frequência (batimentos por minuto) dos batimentos cardíacos dos embriões foi calculada a partir do registo do número de batimentos cardíacos, de cada embrião durante 15 segundos (multiplicada por 4), contabilizados através da presença de uma mancha, que aclara e escurece de forma rítmica na cavidade torácica. 2.2 - Período B As estruturas embrionárias foram mensuradas da mesma forma que no período anterior, ou seja, depois de identificada a estrutura, procedeu-se à escolha da melhor imagem, congelando-a e medindo-a com recurso aos “calipers”. Neste período foram mensurados o comprimento crânio-caudal (até ao dia 68), o diâmetro torácico, a nível do coração e também a nível da última costela do embrião, o diâmetro biparietal, o comprimento do fémur e o diâmetro de placentomas. Comprimento crânio-caudal: mensuração feita como mencionado no período A. Diâmetro torácico 1: esta medida foi determinada na região torácica, passando pelo centro do coração. Diâmetro torácico 2: parâmetro determinado também na zona torácica, ao nível das últimas costelas do feto. Diâmetro biparietal: a sua mensuração foi realizada em cortes longitudinais e simétricos do crânio, colocando os “calipers” nos bordos dos ossos parietais. Comprimento do fémur: a sua determinação foi realizada em cortes longitudinais, pela marcação, através de “calipers”, de ambas as extremidades da estrutura. 90 Diagnóstico de Gestação e Fetometria Durante os Primeiros 90 Dias de Gestação em Caprinos da Raça Serrana Diâmetro dos placentomas: neste estudo foram mensurados três placentomas, sendo as medidas feitas ao longo do seu maior eixo. Durante ambos os períodos ainda foi possível visualizar e diferenciar outras estruturas, tais como anexos embrionários, o cordão umbilical e a diferenciação dos diferentes ossos e órgãos, assim como dos cascos. 3. Resultados Ao longo do trabalho experimental, uma das cabras diagnosticada como gestante apresentou alterações na viabilidade embrionária aos 37 dias de gestação, não sendo possível visualizar os batimentos cardíacos do embrião. Outro animal gestante morreu depois dos 54 dias de gestação. As mensurações realizadas neste animal entraram no tratamento estatístico durante o primeiro período (A) e, através de equações de regressão linear calculadas, estimaram-se as restantes medidas. 3.1 - Período A Para realizar o diagnóstico de gestação foi necessário estabelecer alguns critérios de forma a permitir uma avaliação válida. Assim, foi estabelecido que, em estádios mais precoces, a presença da vesícula embrionária com diâmetro igual ou superior a 4, 0 mm permite obter um diagnóstico positivo. Posteriormente, a presença do embrião e dos seus batimentos cardíacos confirmam o diagnóstico. Nove animais foram diagnosticados como gestantes, sendo o seu diagnóstico baseado nos critérios anteriormente descritos. As restantes cabras embora apresentassem vesículas embrionárias com diâmetro maior ou igual a 4 mm entre os 17 e os 21 dias após a inseminação, foram posteriormente diagnosticadas como não gestantes pela ausência do embrião. A realização dos exames ecográficos permitiu diagnosticar sete gestações simples e duas gestações gemelares. Estas últimas foram detectadas pela primeira vez ao 31º e 33º dia de gestação. Não foram encontradas diferenças significativas entre as mensurações realizadas em animais com gestações simples e gestações duplas, sendo a análise estatística feita em conjunto (Tabela 1). 91 Diagnóstico de Gestação e Fetometria Durante os Primeiros 90 Dias de Gestação em Caprinos da Raça Serrana A primeira evidência da vesícula embrionária ocorreu entre os 19 e os 23 dias (21,0±1,3 d) após a inseminação. A sua identificação foi possível pela observação de uma dilatação circular anecogénica no lúmen uterino, variando entre os 4, 0 e 9,0 mm (6,8±1,3mm). A análise estatística permitiu obter a correlação entre o diâmetro da vesícula embrionária e o dia de gestação, r = 0,97 (r2 = 0,93; P <0,0001). A curva de crescimento da vesícula embrionária ajustou-se à equação definida por Y= 0,31*X + 0,04*X2 (Fig.1). Diâmetro da Vesícula Embrionária (mm) Tempo de Gestação (dias) Fig.1 – Curva de crescimento da vesícula embrionária ao longo do período A. O embrião foi observado pela primeira vez entre os dias 25 e 29 (26,1±1,7 d) após a inseminação, variando o comprimento crânio-caudal médio entre os 3,5 e os 13 mm (7,2±2,5 mm). A correlação entre o comprimento crânio-caudal e o dia de gestação foi de r = 0,99 (r2 = 0,97; P <0.0001). O embrião segue um crescimento, até ao 42º dia, que se traduz pela seguinte equação: Y= 0,53*X+0,03*X2 (Fig.2). No período A foi possível verificar, através das medidas do CCC, que o feto cresceu em média, desde a primeira observação até ao 42º dia, 19,2±5,0mm. O diâmetro do embrião variou entre os 4 e os 7 mm (5,4±0,9mm) a partir do 27º dia de gestação, até atingir um máximo de 16 mm no 42º dia. Pela análise estatística determinou-se a correlação existente entre o diâmetro abdominal do embrião e o dia de gestação, r = 0,98 (r2 = 0,97; P <0,0001). O aumento do diâmetro abdominal do embrião em função dos dias de gestação é traduzido pela equação Y = 4*10-3*X + 0,1*X2 (Fig.3) 92 Diagnóstico de Gestação e Fetometria Durante os Primeiros 90 Dias de Gestação em Caprinos da Raça Serrana Comprimento Crânio-caudal (mm) Tempo de Gestação (Dias) Fig.2 – Variação do aumento do CCC do embrião durante os primeiros 42 dias de gestação. Diâmetro Abdominal do Embrião (mm) Tempo de Gestação (Dias) Fig.3 – Variação do diâmetro abdominal do embrião entre os 27 e os 42 dias de gestação. O batimento cardíaco foi detectado pela primeira vez, em média, aos 27,7±2,1 dias, embora a determinação da sua frequência só possa ter sido possível a partir dos 31 dias de gestação, ocorrendo uma variação de 208 e 180 batimentos cardíacos por minuto (195,6±8,3 bat/min). A frequência cardíaca (Fig.4) apresentou um decréscimo ao longo do 93 Diagnóstico de Gestação e Fetometria Durante os Primeiros 90 Dias de Gestação em Caprinos da Raça Serrana período de mensurações, apresentando ao 42º dia de gestação uma variação entre os 172 e os 188 bat/min. A relação entre a idade gestacional e a frequência cardíaca é dada pela equação: Y= 249-2*X. A correlação obtida foi de r = 0,71. Frequência Cardíaca (bat/min) Tempo de Gestação (dias) Fig.4 – Variação da frequência cardíaca do embrião entre os 31 e os 41 dias de gestação. Tabela 1 – Valores médios e desvios-padrão encontrados no primeiro dia de identificação das diversas estruturas. Dias de gestação (dias) 21,0 ± 1,33 (19 - 23) 26,1 ± 1,66 (25 - 29) 29,18 ± 2,17 31,0 ± 0,0 Diâmetro da vesícula (mm) 6,78 ± 1,32 (4 - 9) Comprimento do embrião (mm) Diâmetro do embrião (mm) Nº de batimentos cardíacos 7,23 ± 2,52 (3,5 -13) 5,36 ± 0,88 (4 - 7) 195,6±8,3 (180 - 208) Durante este período de observações foi ainda possível visualizar algumas transformações nos embriões. Estes começaram a adquirir uma forma em C entre os 31 e os 35 dias, passando a uma forma em L, entre os 35 e os 39 dias de gestação. A primeira evidência dos membros surgiu entre o 31º e o 37º dia de gestação. A vesícula óptica foi identificada pela primeira vez entre os 33 e os 41 dias. Os embriões evidenciaram os primeiros movimentos aos 39 – 41 dias. Os anexos embrionários foram identificados entre 94 Diagnóstico de Gestação e Fetometria Durante os Primeiros 90 Dias de Gestação em Caprinos da Raça Serrana os 27 e os 35 dias de gestação. A primeira observação do cordão umbilical ocorreu entre os 33 e os 39 dias de gestação. 3.2 – Período B O CCC do feto só foi possível medir nos dias 47, 54, 61 e em alguns animais, no dia 68 de gestação. Tal sucede pois o embrião, a partir desta altura, desce no útero para a sua zona mais ventral e o seu maior tamanho começa a impedir a sua visualização completa. As medidas obtidas durante as primeiras observações permitiram calcular a equação que descreve a relação existente entre a idade gestacional e o CCC, sendo portanto possível, determinar os valores médios e respectivos desvios padrão nos restantes dias. Esta relação é descrita pela seguinte equação: DGest. = 35,80 + 2,91 * CCC. Através do tratamento estatístico dos dados foi ainda possível determinar a correlação r = 0,99 (r2 = 0,97; P <0,0001). Através da regressão linear o CCC (Fig.5) médio no 81º dia de gestação, foi estimado em 15,84 ± 0,6 cm, podendo variar entre um mínimo de 15,40 cm e um máximo de 16,5 cm. De acordo com os dados obtidos pela observação ecográfica, no 47º dia de gestação, o CCC médio é de 4,55 ± 0,5 cm, variando entre os 3,8 e os 5,4 cm. Os valores médios encontrados nos outros dias, assim como os que foram calculados por regressão linear, encontram-se discriminados na tabela 2. 18 16 14 Comprimento Crânio-caudal (cm) 12 10 8 6 4 2 0 47 54 61 68 75 82 Tempo de Gestação (dias) Fig.5 – Variação do aumento do CCC do embrião durante o período B. 95 Diagnóstico de Gestação e Fetometria Durante os Primeiros 90 Dias de Gestação em Caprinos da Raça Serrana O diâmetro torácico 1 (Fig.6) variou, desde o 47º ao 81º dia de gestação, entre 1 cm e 4,5 cm, respectivamente, apresentando um valor médio de 2,56 ± 1,1 cm. A relação existente entre os dias de gestação e o diâmetro torácico 1 é obtida através da seguinte regressão linear: DGest. = 36,90 + 10,76 * DT1. A correlação existente entre o diâmetro torácico 1 e os dias de gestação é r = 0,95 (r2 = 0,89; P <0,0001). Na tabela 2 são mencionados os diversos valores da média, do desvio padrão e os valores mínimo e máximo de cada estrutura fetal, mensurados em cada dia de observação. 5 4,5 4 3,5 Diâmetro torácico 1 (cm) 3 2,5 2 1,5 1 0,5 0 47 54 61 68 75 82 Tempo de Gestação (dias) Fig.6 – Variação do Diâmetro Torácico 1 durante os 47 e os 82 dias de gestação. Através da mensuração do diâmetro torácico 2 foi possível encontrar, ao 47º dia, um valor mínimo de 1,1cm e um máximo de 1,5cm (1,35 ± 0,2), passando estes valores a 3,5 e 4,9 cm (4,19 ± 0,4) respectivamente, no último dia de observação. A curva (Fig.7) que permite relacionar os dias de gestação e o diâmetro torácico 2 é descrita pela equação: DGest. = 35,60 + 11,12 * DT2. Pela análise estatística a correlação entre o diâmetro torácico 2 e o tempo de gestação é de r = 0,96 (r2 = 0,92; P <0,0001). 5 4,5 4 Diâmetro torácico 2 (cm) 3,5 3 2,5 2 1,5 1 0,5 0 47 54 61 68 75 82 Tempo de Gestação (dias) Fig.7 – Variação do Diâmetro Torácico 2 durante o período B. 96 Diagnóstico de Gestação e Fetometria Durante os Primeiros 90 Dias de Gestação em Caprinos da Raça Serrana O diâmetro biparietal teve um crescimento médio de 2,44 ± 0,8 cm entre os 47 e os 81 dias de gestação. O mínimo valor observado aos 47 dias foi de 1,1 cm e o máximo de 1,4 cm, aumentando aos 81 dias para 1 valor mínimo de 2,7 cm e máximo de 3,7 cm. Quando se pretende estimar a idade gestacional, quando a mesma não é conhecida, tal é possível através da seguinte regressão: DGest. = 31,40 ± 13,57 * DBP. Através do tratamento estatístico obteve-se entre o diâmetro biparietal e os dias de gestação uma correlação de r = 0,93 (r2 = 0,86; P <0,0001) (Fig.8). 4 3,5 3 Diâmetro biparietal (cm) 2,5 2 1,5 1 0,5 0 47 54 61 68 75 82 Tempo de Gestação (dias) Fig.8 – Variação do diâmetro biparietal desde os 47 dias até aos 82 dias de gestação. O fémur sofreu um aumento médio de 1,66 ± 0,8 cm (0,5 – 3,1 cm) desde os 47 dias de gestação até ao último dia de observações. A curva de crescimento do fémur do feto, em função dos dias de gestação é traduzida pela equação: DGest. = 39,60 + 15,02 * CF. A correlação entre o comprimento do fémur e o tempo de gestação é de r = 0,93 (r2 = 0,93; P <0,0001) (Fig. 9). 3,5 3 2,5 Comprimento do Fémur (cm) 2 1,5 1 0,5 0 47 54 61 68 75 82 Tempo de Gestação (dias) Fig.9 – Crescimento do fémur ao longo do período B. 97 Diagnóstico de Gestação e Fetometria Durante os Primeiros 90 Dias de Gestação em Caprinos da Raça Serrana Através da avaliação ecográfica foi possível identificar uma grande variação do diâmetro dos placentomas na mesma observação, no mesmo feto. Inicialmente (47 dias de gestação) os placentomas mediam 1,0 – 1,7cm crescendo até 2,3 – 4,0cm no final das observações (81 dias), sendo o seu crescimento médio de 2,14 ± 0,6cm. Através da análise estatística obteve-se a correlação existente entre o diâmetro dos placentomas e os dias de gestação que foi de r = 0,81 (r2 = 0,65; P <0,0001) (Fig.10) apresentando o valor mais baixo quando comparado com as restantes estruturas. O diâmetro dos placentomas possibilita a estimativa do dia de gestação através da equação de regressão linear: DGest. = 30,70 + 15,84 * DP. 4 3,5 3 Diâmetro médio dos placentomas (cm) 2,5 2 1,5 1 0,5 0 47 54 61 68 75 82 Tempo de Gestação (dias) Fig.10 – Variação do diâmetro médio dos placentomas durante o segundo período do trabalho experimental. Os placentomas foram visualizado pela primeira vez no 27º dia de gestação, embora a mensuração tenha ocorrido apenas a partir do 47º dia. Através da UTR foi possível observar o tamanho máximo dos placentomas (2,3 – 4,0 cm) ao 82º dia de gestação. Tabela 2 – Estatística descritiva. Resumo dos valores médios e respectivos desvios padrão, valor mínimo e máximo obtidos por dia de avaliação. Comprimento CrânioDias de Gestação 47 Diâmetro Torácico 1 Diâmetro Torácico 2 caudal x±s 4,55 ± 0,5 Min – máx Diâmetro médio de 3 placentomas x±s Min – máx x±s Min – max x±s Min – máx 3,8 – 5,4 1,28 ± 0,3 1,0 – 1,7 1,35 ± 0,2 1,1 – 1,5 1,41 ± 0,2 1,0 – 1,7 54 5,81 ± 0,5 4,9 – 6,8 1,73 ± 0,3 1,3 – 2,2 1,70 ± 0,2 1,3 – 2,0 1,69 ± 0,4 1,0 – 2,5 61 8,67 ± 1,2 7,2 – 11,0 2.15 ± 0,3 1,9 – 2,7 2,15± 0,2 1,9 – 2,4 2,06 ± 0,3 1,6 – 2,4 68 10,68 ± 0,5 9,8 – 11,3 2,44 ± 0,2 2,2 – 2,9 2,65 ± 0,3 2,2 – 3,2 2,19 ± 0,2 1,9 – 2,5 75 13,48 ± 0,4 13,3 – 13,9 3,60 ± 0,4 3,0 – 4,0 3,53 ± 0,3 3,2 – 4,0 2,60 ± 0,3 2,1 – 3,1 82 15,84 ±0,6 15,4 – 16,5 4,17 ± 0,3 3,4 – 4,5 4,19 ± 0,4 3,5 – 4,9 2,86 ± 0,6 2,3 – 4,0 3,8 – 16,5 2,57 ± 1,1 1,0 – 4,5 2,60 ± 1,0 1,1 – 4,9 2,14 ± 0,6 1,0 – 4,0 Total 9,87 ± 4,1 98 Diagnóstico de Gestação e Fetometria Durante os Primeiros 90 Dias de Gestação em Caprinos da Raça Serrana Tabela 2 – Estatística descritiva. Resumo dos valores médios e respectivos desvios padrão, valor mínimo e máximo obtidos por dia de avaliação (Continuação). Dias de Gestação Diâmetro Biparietal Comprimento Fémur Min – máx x±s Min – máx x±s 47 1,25 ± 0,1 1,1 – 1,4 0,58 ± 0,1 0,5 – 0,7 54 1,81 ± 0,3 1,3 – 2,2 1,04 ± 0,2 0,8 – 1,4 61 2,16 ± 0,3 1,7 – 2,5 1,33 ± 0,2 1,0 – 1,5 68 2,78 ± 0,3 2,4 – 3,2 1,94 ± 0,3 1,5 – 2,5 75 3,30 ± 0,4 2,7 – 3,9 2,42 ± 0,2 2,1 – 2,7 82 3,33 ± 0,3 2,7 – 3,7 2,65 ± 0,2 2,3 – 3,1 Total 2,44 ± 0,8 1,1 – 3,9 1,66 ± 0,8 0,5 – 3,1 Tabela 3 – Matriz de correlação. Relação existente entre as mensurações das diversas estruturas entre elas e com os dias de gestação. Matriz de correlação Dias Gest. Dias Gest. CCC DT1 DT2 DP DBP CF 1 CCC 0,99 1 DT1 0,95 0,94 1 DT2 0,96 0,95 0,95 1 DP 0,81 0,82 0,82 0,79 1 DBP 0,93 0,92 0,84 0,88 0,73 1 CF 0,96 0,95 0,91 0,92 0,80 0,89 1 Como anteriormente foi referido, foi possível diagnosticar sete gestações simples e duas gemelares. Pela análise dos dados obtidos foi possível verificar que não existem diferenças significativas entre os dois tipos de gestação (Tabela 4), considerando-se portanto todas as medições na análise estatística. Através da análise da tabela 4.1 é possível concluir que tanto o comprimento crânio-caudal, como o diâmetro torácico 1, o diâmetro torácico 2 e o comprimento do fémur apresentaram um crescimento significativo durante todo o período de mensurações. Por sua vez, a mensuração do diâmetro dos placentomas mostrou que os mesmos apresentaram crescimentos mais lentos, aumentando significativamente apenas de 15 em 15 dias. O diâmetro biparietal apresentou crescimento significativo durante os primeiros cinco dias de mensurações, por outro lado, nas duas últimas foi possível observar que tal não aconteceu, mantendo o diâmetro praticamente igual. 99 Diagnóstico de Gestação e Fetometria Durante os Primeiros 90 Dias de Gestação em Caprinos da Raça Serrana Tabela 4 – Medidas de fetos ao longo do tempo de gestação, por dia de avaliação, para fetos simples e gemelares. CCC DT1 DT2 DP DBP CF Gemelar 10,04 a 2,49 a 2,53 a 2,23 a 2,40 a 1,65 a Simples 9,76 a 2,61 a 2,64 a 2,07 a 2,47 a 1,67 a Tipo de feto (TF) Tabela 4.1 – Medidas de fetos ao longo do tempo de gestação, por dia de avaliação. CCC DT1 DT2 DP DBP CF 47 4,49 f 1,26 f 1,35 f 1,43 c 1,25 e 0,57 f 54 5,76 e 1,72 e 1,70 e 1,68 c 1,79 d 1,05 e 61 8,69 d d d b c 1,33 d 68 10,96 c 2,42 c 2,63 c 2,20 b 2,76 b 1,95 c 75 13,54 b b b a a 2,42 b 82 15,96 a 4,14 a 4,18 a 2,91a 3,34 a 2,63 a DA < 0,0001 < 0,0001 < 0,0001 < 0,0001 < 0,0001 < 0,0001 r2 0,98 0,93 0,93 0,63 0,86 0,92 RMSE 0,59 0,28 0,28 0,37 0,31 0,22 Dia de avaliação (DA) 2,12 3,63 2,14 3,51 2,05 2,64 2,15 3,31 Probabilidade Neste período foi possível visualizar o aparecimento de estruturas anecogénicas no abdómen do feto correspondentes aos vários órgãos e também uma maior movimentação. 4 – Discussão 4.1 – Período A Os resultados decorrentes deste estudo foram semelhantes aos obtidos por outros autores, embora sejam relativamente mais tardios, possivelmente devido à falta de experiência no manuseamento do ecógrafo e na visualização de imagens ecográficas. De Bulnes et al., (1999) afirmaram que é possível estabelecer o diagnóstico de gestação a partir do 11º dia após a inseminação, mediante a presença da vesícula embrionária, ou através da presença do embrião após os 16 dias de gestação. Por sua vez, Gonzalez et al., (2004) afirmaram que o diagnóstico de gestação efectuado pela identificação do embrião só é possível a partir dos 23 dias, apresentando uma maior precisão de diagnóstico ao 26º dia após a inseminação. No entanto, de acordo com Martinez et al. (1998), em fases muito 100 Diagnóstico de Gestação e Fetometria Durante os Primeiros 90 Dias de Gestação em Caprinos da Raça Serrana precoces da gestação, antes do 18º – 19º dia, é muito difícil distinguir entre o fluido livre intra-uterino e o existente nas vesículas embrionárias. De acordo com os critérios estabelecidos só se considerou a presença da VE um sinal de gestação quando a mesma possuía um diâmetro maior ou igual a 4,0 mm. Durante os primeiros dois dias de observações (dias 15 e 17 após a inseminação) foi possível observar a presença de várias vesículas de menor tamanho (entre 2 e 3,5 mm) o que não permitiu realizar qualquer diagnóstico positivo, uma vez que as vesículas poderiam representar apenas fluidos uterinos livres. 19 dias depois da inseminação já foi possível identificar vesículas embrionárias com diâmetros maiores ou iguais a 4,0 mm. Bulnes et al. (1998), detectaram a VE pela primeira vez 12 dias depois da inseminação (medindo 8,0 ± 0,0 mm). Estes autores realizaram a mensuração das vesículas até aos 26 dias de gestação, altura em que as mesmas mediam 25, 3 ± 4,2 mm de diâmetro. Durante este período o crescimento da VE foi linear. A mensuração da VE torna-se mais difícil a partir dos 26 dias devido ao seu elevado crescimento. Segundo Parraguez et al. (1999), é possível diagnosticar uma gestação através da detecção da VE (também com diâmetro maior ou igual a 4,0mm) 13 dias após a inseminação; a observação mais tardia ocorreu aos 25 dias de gestação. Os mesmos autores encontraram uma elevada correlação entre a idade gestacional e o diâmetro da VE: r = 0,89. Doizé et al. (1997), identificaram pela primeira vez as VE aos 21 dias após a inseminação. De acordo com Medan et al. (2004), em caprinos, a primeira evidência da VE surge aos 20,2 ± 0,6 dias de gestação. Já Quintela et al. (1999) identificaram pela primeira vez a VE, em ovinos, aos 27 dias de gestação. A correlação entre o tempo de gestação e o diâmetro da VE encontrada no presente estudo (r = 0,97) é semelhante a encontrada por Parraguez et al. (1999), permitindo portanto, durante as primeiras semanas de gestação determinar a idade gestacional com elevada confiança. Ao analisar os estudos realizados pelos diversos autores sobre o primeiro dia de visualização da VE, foi possível concluir que em fases muito precoces de gestação (11 – 13 dias), a precisão do diagnóstico de gestação é mais baixa. A presença do embrião foi detectada relativamente mais tarde do que em estudos efectuados por Martinez et al. (1998), no entanto as medidas do CCC observadas são muito similares entre ambos os trabalhos, assim como acontece com o diâmetro da vesícula embrionária. As mensurações também são muito semelhantes ás efectuadas por Bulnes et 101 Diagnóstico de Gestação e Fetometria Durante os Primeiros 90 Dias de Gestação em Caprinos da Raça Serrana al., (1999) em ovinos, ocorrendo apenas, ligeiras diferenças nos primeiros 20 – 35 dias, sendo as medidas deste autor um pouco mais elevadas que as observadas neste estudo. A primeira identificação do embrião ocorreu entre os 25 e os 29 dias de gestação com uma variação de comprimento entre os 3,5 e os 13 mm. Aos 41 dias o CCC médio dos embriões foi de 26,7 ± 5,35 mm, valor inferior ao encontrado por outros autores. De acordo com Martinez et al. (1998), a primeira visualização do embrião e dos batimentos cardíacos ocorreu entre os 19 e os 23 dias (20,7 ± 0,5 dias), apresentando um CCC médio de 5,3 ± 0,3 mm, atingindo 34,2 ± 0,6 mm aos 40 dias de gestação. Segundo os mesmos autores e Amari et al. (2003), o crescimento médio do embrião por dia é de 1,4 mm. Bulnes et al. (1998), apenas realizaram a mensuração do CCC do embrião entre os 19 e os 48 dias (uma vez que a partir desta altura é difícil visualizar todo o embrião). Aos 48 dias o CCC médio encontrado foi de 62,2 ± 1,0 mm. Padilla-Rivas et al. (2005) detectaram a presença do embrião e dos seus batimentos cardíacos 26 dias após a inseminação. De acordo com Parraguez et al. (1999), o embrião e o seu batimento cardíaco aparecem a partir do 20º dia de gestação, sendo visualizados em todos os animais aos 36 dias. No entanto, segundo os mesmos autores a detecção precoce do embrião possui uma elevada probabilidade de erro aos 20 dias. Aumentando a frequência do transdutor, é possível visualizar o embrião aos 16 dias de gestação, embora só a partir dos 30 dias se obtenha um diagnóstico mais preciso (Santiago et al., citado por Parraguez et al., 1999). Quintela et al. (1999), afirmaram visualizar os batimentos cardíacos ainda antes de ser possível visualizar os contornos do embrião. Gonzalez et al. (2004) afirmaram que é possível estabelecer um diagnóstico de gestação precoce aos 23 dias de gestação. Medan et al. (2004) observaram os embriões pela primeira vez aos 24,3 ± 0,7 dias de gestação, localizados na zona basal da VE. As diferenças encontradas entre diferentes estudos devem-se principalmente à qualidade e resolução das imagens dos aparelhos utilizados a da frequência dos transdutores. Além disso, o comportamento do animal durante o exame ecográfico, as diferenças entre raças e a habilidade do operador são factores que também influenciam a detecção das diferentes estruturas embrionárias (Souza et al., 1997; citado por Chalhoub et al., 2001). Durante o primeiro período de mensurações, o CCC revelou-se um parâmetro fiável para descrever o desenvolvimento do embrião. De acordo com Parraguez et al. (1999), o diâmetro abdominal e a idade gestacional apresentaram uma correlação de r = 0,82. Lee et al. (2005) por sua vez encontraram uma 102 Diagnóstico de Gestação e Fetometria Durante os Primeiros 90 Dias de Gestação em Caprinos da Raça Serrana correlação de r = 0,89 e a equação de regressão linear: Y = 13,26 X + 33,71. Segundo Bulnes et al. (1998) o diâmetro abdominal segue um crescimento linear até aos 61 dias de gestação, altura em que apresentou 26,5 ± 3,3 mm e, posteriormente, até aos 90 dias, um crescimento exponencial, apresentando um valor médio de 54,0 ± 3,0 mm. Ambas as correlações anteriormente referidas são ligeiramente mais baixas que a encontrada neste estudo (r = 0,98), no entanto todas apresentam elevada capacidade para estimar a idade gestacional. A visualização dos batimentos cardíacos é necessária para a identificação precisa do embrião. A frequência cardíaca, segundo Martinez et al. (1998), visualizada pela primeira vez entre o 21º e o 40º dia de gestação, varia entre 158 e 168 batimentos por minuto, já segundo Calamari et al. (2003), o batimento cardíaco fetal apresenta uma frequência mais elevada, variando entre os 160 e 200 bat/min. Os valores observados no presente estudo são ligeiramente mais elevados que os visualizados por outros autores (172 e 208 batimentos por minuto). No entanto, é necessário ter em consideração a dificuldade de contagem dos batimentos cardíacos nesta fase, pois o reduzido tamanho do coração e o elevado número de batimentos cardíacos tornam difícil a manutenção do feixe de ultrasons no eixo cardíaco. Assim, são necessários vários observadores, de forma a encontrar um valor médio dos batimentos cardíacos, um maior número de animais e um período de tempo de contagem igual ou superior a trinta minutos, para que a frequência cardíaca observada se aproxime mais da realidade. Embora a contagem dos batimentos cardíacos possa conter erros, a sua identificação é essencial para determinar a presença do embrião/feto e a sua viabilidade. Tal como referido por Martinez et al. (1998), foi possível observar uma diminuição da frequência cardíaca desde o primeiro dia da sua contabilização até aos quarenta e dois dias de gestação. Neste período foi possível identificar gestações simples e gestações gemelares. Estas últimas foram detectadas aos 31 e aos 33 dias. De acordo com Medan et al. (2004), o número de fetos é apenas identificado a partir do 40º dia de gestação, embora a sua determinação seja mais precisa aos 60 dias. Por sua vez Schrick e Inskeep (1993), em ovinos, conseguiram distinguir gestações simples de gestações múltiplas aos 25 dias de gestação. Parraguez et al. (1999), começaram a distinguir o número de embriões a partir dos 36 dias de gestação. 103 Diagnóstico de Gestação e Fetometria Durante os Primeiros 90 Dias de Gestação em Caprinos da Raça Serrana Tal como em estudos realizados por Bulnes et al. (1998), não foram encontradas diferenças significativas entre fetos de gestações simples e gestações duplas para qualquer estrutura mensurada, não influenciando a determinação da idade fetal. A identificação de uma gestação múltipla apenas é útil para o maneio do rebanho, permitindo alimentar a progenitora de acordo com as suas necessidades. As elevadas correlações entre o diâmetro da vesícula embrionária, o comprimento ou o diâmetro do embrião e o dia de gestação, r = 0,97, r = 0,99 e r = 0,98, respectivamente são muito semelhantes às observadas noutros estudos efectuados em caprinos (Martinez et al., 1998) e também em ovinos (Bulnes et al., 1999). 4.2 – Período B No presente estudo a correlação existente entre o dia de gestação e o CCC é muito semelhante em ambos os períodos (r = 0,98 e r = 0,99). Tal como foi observado no período A, a correlação entre o CCC do feto e o tempo de gestação, r = 0,99, é da mesma ordem de grandeza que a observada por Bulnes et al. (1998), em ovinos, r = 0,94. No entanto, com o decorrer da gestação, torna-se difícil medir o comprimento do embrião, pelas razões anteriormente referidas, o que restringe a sua utilização em fases mais avançadas de gestação, sendo portanto, mais viável recorrer a outras mensurações quando se pretende conhecer o tempo de gestação. De acordo com as observações, ambos os diâmetros torácicos permitem estimar a idade gestacional com elevada precisão (r = 0,95 e r = 0,96). A correlação entre o diâmetro torácico 2 e os dias de gestação, r = 0,96, é ligeiramente superior à encontrada por Auimlamai et al. (1992), r = 0,80, e por Lee et al. (2005), r = 0,89. Os valores obtidos por Lee et al. (2005) para os 60, 75 e 90 dias de gestação (2,21 ± 0,4 cm; 3,68 ± 0,6 cm; 4,93 ± 0,6 cm; respectivamente) são muito semelhantes aos obtidos neste estudo para os 61, 75 e 82 dias (2,15 ± 0,2 cm; 3,53 ± 0,3 cm; 4,19 ± 0,4cm, respectivamente). A mensuração do diâmetro torácico através da UTR tem como vantagem a facilidade em obter esta medida comparativamente a outras estruturas fetais. A relação existente entre o diâmetro biparietal e os dias de gestação em ovinos (entre os 32 e os 90 dias de gestação) é, segundo Bulnes et al. (1998), r = 0,96, valor muito semelhante ao encontrado no presente trabalho, levando portanto, à conclusão de que a sua mensuração é útil quando o tempo de gestação é desconhecido. O diâmetro biparietal é de 104 Diagnóstico de Gestação e Fetometria Durante os Primeiros 90 Dias de Gestação em Caprinos da Raça Serrana fácil determinação em estágios mais avançados da gestação, quando já não é possível determinar o CCC, pelo que constitui uma boa indicação do desenvolvimento do feto nesta altura. Segundo Haibel (1988), o DBP é a característica fetal que possui maior correlação com o tempo de gestação. No entanto esta medida é difícil de obter nos primeiros 40 dias de gestação, pelo que a sua utilização só é possível normalmente depois dos 40 dias de gestação (Haibel, 1988). De acordo com os estudos realizados por Haibel e Perkins (1989), o diâmetro biparietal, mensurado com uma sonda abdominal, foi o parâmetro mais representativo para estimar o tempo de gestação. A mensuração do diâmetro biparietal deve ser realizada numa imagem simétrica de forma a obter uma maior precisão. De acordo com Lee et al. (2005), a equação que permite estimar a idade gestacional através do diâmetro biparietal é dada por: Y = 21,31 X + 30,31, semelhante à encontrada no presente trabalho: DGest = 30,70 + 15,84 * DP. Segundo os mesmos autores o valor médio do diâmetro biparietal foi aos 60 dias de 1,50 ± 0,4 cm, aos 75 dias foi de 2,74 ± 0,7 cm e aos 90 dias 3,20 ± 0,7. Neste estudo os valores encontrados para os 61, 75 e 82 dias são similares aos anteriores (1,25 ± 0,2; 3,30 ± 0,4 e 3,33 ± 0,3 respectivamente). O comprimento dos membros e a sua variação ao longo da gestação não são referidos por muitos autores, mas de acordo com as observações existe uma elevada correlação entre o comprimento do fémur e os dias de gestação, r = 0,93. Bulnes et al. (1998), estudaram a relação existente entre o comprimento do fémur e o tempo de gestação em ovinos, obtendo uma correlação ligeiramente inferior, r = 0,78, não deixando no entanto de ser relativamente elevada e de ser um bom indicador do desenvolvimento do feto ao longo da gestação. Embora a mensuração dos ossos longos dos membros não seja muito utilizada para estimar a idade gestacional pelos diferentes autores, segundo Medan et al. (2004), é possível serem utilizadas a partir dos dois meses de gestação, altura em que os ossos se tornam visíveis, o que se pode comprovar pelos resultados obtidos neste estudo. A primeira identificação dos placentomas ocorre num período muito similar ao encontrado por outros autores. No presente trabalho, tal como observado por Kaulfuss et al. (1996) e Fernandes (1996), citados por Calamari et al. (2003), os placentomas foram visualizados pela primeira vez aos 27 dias de gestação, embora só se tenha realizado a mensuração do seu diâmetro a partir do 47º dia. Bruckrell et al. (1986) obtiveram 105 Diagnóstico de Gestação e Fetometria Durante os Primeiros 90 Dias de Gestação em Caprinos da Raça Serrana resultados concordantes com os anteriores, visualizando os placentomas pela primeira vez aos 26 – 28 dias de gestação. De acordo com estudos realizados por Doizé et al. (1997), os placentomas (discóides em caprinos) foram identificados pela primeira vez aos 35 dias de gestação, apresentando um crescimento lento, atingindo um diâmetro máximo aos 91 dias. Neste estudo o valor máximo dos placentomas foi observado aos 82 dias de gestação, medindo o maior 5,5 cm. A correlação existente entre o tamanho dos placentomas e a duração da gestação foi, segundo Lee et al. (2005), r = 0,57. De acordo com a correlação existente entre os dois parâmetros os mesmos autores não consideraram a mensuração dos placentomas eficaz para determinar o tempo de gestação. As mensurações realizadas por Lee et al. (2005) e as deste estudo são semelhantes, embora estas últimas sejam um pouco mais elevadas. Segundo Lee et al. (2005), aos 60 dias o DP é de 1,47 ± 0,3 cm; aos 75 é de 1,89 ± 0,5 cm e aos 90 dias é de 2,25 ± 0,3 cm. As mensurações obtidas neste trabalho foram: aos 61 dias o DP foi de 2,06 ±0,3 cm; aos 75 dias o valor médio do DP foi de 2,60 ± 0,3 cm e aos 82 dias foi de 2,86 ± 0,6 cm. Segundo Medan et al. (2004), os placentomas foram observados pela primeira vez, aos 35,4 ± 1,0 dias de gestação, medindo em média 0,7 ± 0,2 cm. A correlação existente entre o diâmetro dos placentomas e a idade gestacional obtida no trabalho prático é superior, r = 0,81, sendo no entanto a mais baixa quando comparada com as correlações existentes entre as diversas estruturas e os dias de gestação, apresentando portanto uma menor precisão na determinação do tempo de gestação. Tal como observado por Medan et al. (2004) e Doizé et al. (1997), foi possível observar, com o decorrer da gestação, um aumento do número e tamanho dos placentomas e as formas em C ou em O. A correlação mais baixa entre o tempo de gestação e o diâmetro dos placentomas poderá ser explicada pela grande variação do tamanho e número dos placentomas presentes no útero durante a mesma observação. Com o decorrer do trabalho prático, foi possível identificar, aos 37 dias de gestação, uma cabra com alterações na viabilidade embrionária. Esta alteração foi detectada pela ausência de batimentos cardíacos, anteriormente identificados. Posteriormente ocorreu a regressão da massa embrionária, desaparecendo por completo 47 dias depois da inseminação, embora, até ao 54º dia ainda sejam visíveis áreas anecogénicas (com fluidos) no útero. 106 Diagnóstico de Gestação e Fetometria Durante os Primeiros 90 Dias de Gestação em Caprinos da Raça Serrana 5 – Conclusão Através da ecografia transrectal, com uma sonda de elevada resolução acústica, é possível diagnosticar precocemente a presença ou ausência de uma gestação, assim como determinar o número de embriões e possíveis alterações no desenvolvimento embrionário e fetal. A presença do embrião, confirmada pela presença dos batimentos cardíacos, é essencial para realizar correctamente um diagnóstico de gestação. A UTR modo B permite estudar a evolução dos anexos embrionários e do embrião a partir da 3ª semana de gestação na cabra da raça Serrana. A aplicação desta técnica permite realizar uma estimativa exacta de diversos parâmetros durante a fase embrionária e fetal e avaliar o desenvolvimento do embrião. Estes parâmetros podem ser úteis em programas de reprodução e maneio dos efectivos caprinos. Em estádios de gestação precoce, a mortalidade embrionária pode ser detectada através da UTR, o que constitui uma vantagem pois permite adequar o maneio reprodutivo do rebanho. Quando a data da cobrição é desconhecida, a UTR possibilita a monitorização do desenvolvimento de algumas estruturas embrionárias e fetais o que permite a estimativa do tempo de gestação. Para além dos excelentes resultados que pode oferecer a UTR, tanto a nível de diagnóstico precoce de gestação quer a nível da monitorização do desenvolvimento embrionário, é de salientar a sua fácil aplicação e a ausência de qualquer risco para o animal. 107 Diagnóstico de Gestação e Fetometria Durante os Primeiros 90 Dias de Gestação em Caprinos da Raça Serrana 6. 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Fonte: http://webcarta.net/carta/geo.php?sr=649&lg=pt 114 Diagnóstico de Gestação e Fetometria Durante os Primeiros 90 Dias de Gestação em Caprinos da Raça Serrana Anexo 2 Imagens ecográficas – Período A a) Vesícula embrionária 27 dias de gestação. b) Embrião com 27 dias de gestação. c) Embriões com 29 dias de gestação. 115 Diagnóstico de Gestação e Fetometria Durante os Primeiros 90 Dias de Gestação em Caprinos da Raça Serrana d) Embrião com 31 dias de gestação. e) Embrião e bolsa amniótica com 33 dias. f) Embrião em forma de C com 33 dias. g) Embrião com 35 dias de gestação. h) Gestação dupla aos 35 dias de gestação. 116 Diagnóstico de Gestação e Fetometria Durante os Primeiros 90 Dias de Gestação em Caprinos da Raça Serrana h) Embrião em forma de L aos 37 dias de gestação. i) Embrião com 39 dias de gestação. j) Embrião aos 41 dias de gestação. Imagens ecográficas – Período B a) Embrião com 47 dias de gestação b) Embrião com 47 dias de gestação, evidenciando os membros e a coluna vertebral c) placentoma e embrião aos 47 dias de gestação 117 Diagnóstico de Gestação e Fetometria Durante os Primeiros 90 Dias de Gestação em Caprinos da Raça Serrana d) Útero com líquidos aos 54 dias após inseminação. Mortalidade embrionária. e) Pormenor da pata posterior de um embrião com 61 dias de gestação f) Diâmetro biparietal de um embrião com 61 dias de gestação g) Pormenor do tronco do embrião com 61 dias de gestação 118 Diagnóstico de Gestação e Fetometria Durante os Primeiros 90 Dias de Gestação em Caprinos da Raça Serrana h) Placentomas aos 61 dias de gestação. i) Vista lateral do crânio e pescoço de um embrião com 68 dias de gestação. j) Fémur de um embrião com 68 dias de idade. k) Diâmetro biparietal de um embrião aos 68 dias de gestação. l) Placentomas aos 68 dias de gestação. m) Pormenor da região abdominal de um embrião com 75 dias de idade. 119 Diagnóstico de Gestação e Fetometria Durante os Primeiros 90 Dias de Gestação em Caprinos da Raça Serrana n) Fémur de um embrião aos 75 dias de gestação. o) Diâmetro biparietal aos 75 dias de gestação. p) Placentomas aos 75 dias de gestação. 120