Balança de Pagamentos – Inflação – Desindustrialização

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Balança de Pagamentos – Inflação – Desindustrialização
A Balança Comercial, que contabiliza as transações com mercadorias entre o Brasil e o
exterior, registrou resultado positivo, em março, de US$ 1,55 bilhão. Este saldo corresponde à
diferença entre as exportações (US$ 19,3 bilhões) e as importações (US$ 17,8 bilhões).
O saldo de US$ 1,55 bilhão é 131% superior ao saldo registrado em março de 2010,
que foi de US$ 673 milhões.
No mês de março, os três grandes conjuntos de produtos registraram crescimento nas
exportações, quando comparados ao mesmo período de 2010:
Produtos básicos: + 44,6%
Produtos manufaturados: +22,4%
Produtos semimanufaturados: + 43,2%.
Os resultados positivos da Balança Comercial neste início de ano decorrem, muito
mais, do aumento de preços dos bens exportados que da quantidade vendida. Nos últimos 12
meses contados até fevereiro, os preços subiram, em média, 22,5%, enquanto que a
quantidade exportada aumentou 9,6%. Os produtos básicos (commodities), que compõem a
referida média, registraram expressivo aumento de preços, acumulando, em doze meses,
elevação de 34,3%. Os demais grupos também acumularam aumentos de preços:
semimanufaturados (+)29,4% e manufaturados (+)9,2%.
Importantes produtos da pauta de exportações brasileira apresentaram elevação de
preços entre março de 2010 e março de 2011. Entre eles, destacam-se produtos básicos e
semimanufaturados:
Minério de ferro: +122,8%
Café em grão: + 63,6%
Óleo de soja em bruto: +47,6%
Semimanufaturados de ferro/aço: +43,9%
Aços laminados planos: +35,4%
Carne bovina: +35,3%
Soja em grão: +34,1%
Milho: +32,1%
Óleos combustíveis: +29,3%
Petróleo: +25,0%
Etanol: +20,9%
Farelo de soja: +19,5%
Suco de laranja: +19,3%
Carne de frango: +18,9%
Alumínio: +17,8%
Açúcar em bruto: +15,4%
1
Fumo em folhas: +14,5%
Açúcar refinado: +13,1%
Algodão: +12,5%
Carne suína: +12,2%
Couro: +12,0%
Os aumentos nos preços internacionais desses produtos explicam, em boa parte, o
resultado positivo da Balança Comercial e acabam compensando, em alguma proporção, a
valorização do Real em relação ao Dólar norte-americano. Cálculos efetuados pelo IPEA,
comparando o Real a 13 moedas de nossos principais parceiros comercias, revelam que o
câmbio valorizou-se, nos últimos dozes meses, em cerca de 10,0%.
A valorização do Real torna os produtos brasileiros mais caros quando cotados nessas
13 moedas, retirando-lhes a competitividade no mercado internacional e, portanto, reduzindo
as quantidades exportadas. O aumento dos preços de tais mercadorias mitiga os efeitos dessa
redução da quantidade e mantém as receitas obtidas com as vendas, em alta.
Se as condições de comércio (termos de troca) internacional são favoráveis aos
produtos básicos (lista acima), o mesmo não ocorre em relação aos produtos manufaturados.
A alta de preços desses produtos não compensa a valorização da moeda nacional frente outras
moedas, com reflexos negativos para o desempenho das vendas externas desses produtos.
Essa circunstância faz com que os produtos manufaturados reduzam sua participação
na pauta de exportações e esta passe a concentrar, crescentemente, vendas de produtos
básicos. Entre março de 2010 e março de 2011, a participação de produtos básicos no total das
exportações cresceu em 4,7 p.p., enquanto que os produtos manufaturados diminuíram sua
participação em 4,9 p.p.
O comércio com os Estados Unidos, nosso segundo mercado comprador, ilustra bem o
que ocorre com nossas exportações. “De 2006 a 2010, a participação das exportações de
produtos básicos no total das exportações brasileiras para os Estados Unidos passou de 14,3%
para 30,8%. Na direção oposta, os produtos manufaturados reduziram sua participação
relativa de 68,2% para 52,0%. Esse comportamento constitui um indicador importante do
movimento recente de ‘primarização’ da pauta de exportações brasileiras”.
Aqui é possível localizar uma das contradições que hoje envolvem a economia
brasileira. Como grande exportador de produtos básicos, é interessante que os preços desses
produtos subam no mercado internacional, pois, com isso, aumentamos nosso superávit
comercial, importante para financiar nossos compromissos externos. Há, no entanto, duas
conseqüências, inevitáveis, que devem ser consideradas: (a) a valorização cambial1, que reduz
a competitividade do setor industrial e (b) aceleração inflacionária, uma vez que a alta dos
preços desses produtos acaba contaminando os preços internos.
1
A valorização cambial não é conseqüência apenas de superávits comerciais. Em grande parte, ela é
fruto das altas taxas de juros (a maior do mundo) praticadas pelo país e que atrai grande volume de
capitais especulativos, aumentando a oferta de dólares no país, fazendo com que seu preço caia.
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Conclusão
A Balança Comercial brasileira, com alguns altos e baixos, tem apresentado saldos
expressivos, importantes para o equilíbrio externo de nossa economia. Não obstante os
benefícios desse comportamento para toda a economia, é preciso entender que a qualidade
da pauta de exportação está se reduzindo. Crescem as vendas de produtos básicos e diminuem
as exportações de produtos manufaturados, num claro processo de primarização da pauta.
Esse fenômeno se deve, em grande medida, à perda de competitividade da indústria
brasileira, principalmente a de transformação. Câmbio excessivamente valorizado e altas taxas
de juros representam uma combinação extremamente prejudicial à expansão industrial.
Assim, além de ver encarecer os investimentos devido aos juros, a indústria perde
competitividade em razão do câmbio valorizado. Essa situação abre oportunidades para que as
importações passem a atender parcela significativa da demanda interna, inclusive substituindo
o fornecimento de insumos e componentes das cadeias produtivas e desorganizando os
setores da produção. A reação da indústria nacional é dificultada pelo alto custo do capital
que, via taxa de juros, encarece os investimentos e a expansão da oferta e, também, pelo alto
custo de logística, já que a infra-estrutura de transporte, comunicação, energia e mão de obra
qualificada, é precária.
De outro lado, não se pode renunciar às exportações de produtos básicos, mais ainda
em um cenário de alta de preços. Mesmo sabendo que essa elevação de preços, bom pelo lado
da contabilidade externa, é prejudicial à estabilização da economia, uma vez que repercute,
internamente, nas taxas de inflação. Por este caminho, não se pode esperar que o mercado,
isoladamente, detenha a valorização do real e, como conseqüência, evite que o processo de
desindustrialização se instale no país.
Serão necessárias medidas que reduzam a entrada de recursos de curto prazo no país,
que aqui adentram em busca de fácil e rápida valorização. Pagando as mais altas taxas de juros
reais do planeta, o Brasil tornou-se o paraíso dos capitais especulativos. Reduzir taxas de juros
e introduzir tempo de permanência para os capitais aqui investidos pode ajudar a solucionar o
problema.
Dieese/Força Sindical
Maio/2011
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