os benefícios do exercício físico no controle do estresse

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OS BENEFÍCIOS DO EXERCÍCIO FÍSICO NO CONTROLE DO ESTRESSE,
ANSIEDADE E DEPRESSÃO
EXERCÍCIO ESTRESSE ANSIEDADE DEPRESSÃO
Autora: Patrícia de Souza Tavares, RA nº. 001200600197
Orientador Científico: Prof. Ms. Débora Reis Garcia
Curso de Educação Física - Licenciatura
Universidade São Francisco – Campus de Bragança Paulista
Av. São Francisco de Assis, 218, Jd. São José - CEP 12916-900
e-mail autora: [email protected]
e-email orientadora: dé[email protected]
2
Resumo
O crescimento populacional nas grandes cidades leva a desequilíbrios
biológicos, causados por agentes estressores provenientes de nosso cotidiano.
Quando o indivíduo é influenciado pelos agentes estressores por um longo
período, este pode atingir altos níveis de estresse e ansiedade. De maneira
geral, a psicoterapia e medicação são usadas freqüentemente no tratamento
do estresse, ansiedade e depressão. Porém, o tratamento farmacológico pode
causar efeitos colaterais, o que resultou em novos estudos para desenvolver
tratamentos alternativos como, por exemplo, o uso de exercício físico, junto ou
não ao tratamento farmacológico, visando à diminuição dos escores de
depressão e ansiedade em testes científicos. O presente trabalho identificou
quais os tipos de exercícios físicos ajudaram na melhora dos níveis de
estresse, depressão e ansiedade, tendo em vista a correlação positiva,
exercício físico e fisiologia endocrinometabólica. Os resultados mostraram que
os exercícios aeróbios e anaeróbicos são eficientes no controle das patologias
citadas acima, mas alguns trabalhos indicaram que determinadas práticas
esportivas não causaram mudanças no quadro clínico. Os pacientes são
analisados por questionários padronizados, tal como inventário de Beck para
depressão e ansiedade, mas não há padronização nas outras partes do
experimento (seleção de indivíduos, tempo de pesquisa, ambiente e outros).
Assim, a comparação de resultados se torna difícil, criando discórdia entre
alguns pesquisadores em relação aos mecanismos responsáveis pela
diminuição dos níveis de estresse, ansiedade e depressão. Isto mostra que é
necessário desenvolver metodologias padronizadas de estudo, assim como
3
aumentar os estudos relacionados com o efeito do exercício físico na melhora
do estresse, depressão e ansiedade.
Palavras-chave: estresse, ansiedade, depressão, exercício físico.
Abstract
In these great cities, population growth and life style bring several
biological disturbs such as stress, depression, and anxiety in different levels.
Usually psychotherapy and medication constitute the treatment in these cases,
but the medication would cause some collateral effects. Researches found that
physical exercise can be an alternative treatment, seeing that it helped in the
reduction of depression and anxiety scores. On the other hand, these
researches did not show what type of physical exercise (aerobic or anaerobic)
was better, beside they have showing that there are not a standard protocol
established about exercises methods. Patient usually are submitted to the
standardized questionnaires, such as Beck inventory to analyze of depression
and anxiety scores, but there are not standardized in relation to selection of
individuals, research period, environment and others factories. As a
consequence, it is difficult to compare the results of these researches.
Therefore, it is necessary to develop standardized methods of study, as well as
increasing the studies related to the effect of physical exercise on the
improvement of stress, depression and anxiety.
Key-words: stress, anxiety, depression, physical exercise.
1
1. INTRODUÇÃO
Nas grandes cidades, os indivíduos estão sujeitos a vários fatores como,
por exemplo, transito caótico, violência, dificuldade econômica, poluição e
acúmulo de atividades sociais, que resultam em desequilíbrios biológicos, os
quais podem evoluir para um estado depressivo (BORGES; RAUCHBACH,
2004; WERNECK et al., 2006). O homem moderno é sedentário porque vive
num meio dominado pela automação e, portanto, perde gradativamente seus
movimentos e suas habilidades. Porém, os indivíduos fisicamente aptos e/ou
treinados tendem a apresentar menor incidência à maioria das doenças
crônico-degenerativas (DE CARVALHO et al., 1996; WARBURTON et al.,
2006).
A depressão rouba mais anos de vida útil nos Estados Unidos da
América (EUA) do que a soma dos casos relacionados com a guerra, o câncer
e a AIDS (ZAVASCHI et al., 2002). No Brasil, o Ministério da Saúde informou
que, entre 2003 e 2005, foram gastos, no tratamento de doenças associadas
com a saúde mental, 2,3% do orçamento anual total do Sistema Único de
Saúde – SUS (VIEIRA et al., 2007).
No tratamento tradicional de alguns tipos de doenças mentais (estresse,
ansiedade e depressão) é comum o uso de psicoterapia e medicação
(BLUMENTHAL et al., 1999; DE QUADROS et al., 2006), mas vem sendo
mostrado que: i) 30% a 35% dos pacientes não respondem ao tratamento; ii) a
medicação pode induzir efeitos indesejáveis que podem prejudicar a qualidade
de vida dos pacientes; e iii) mesmo nos casos em que houve melhora com o
uso de antidepressivos, existe um risco significativo de recaída depois de 1 ano
2
do término do tratamento (BLUMENTHAL et al., 1999). Por outro lado, a prática
de exercício físico, que está sendo difundida como uma alternativa não
farmacológica no tratamento das doenças mentais (BABYAK et al., 2000;
STELLA et al., 2002; ANTUNES et al., 2005; DE QUADROS et al., 2006),
apresenta a vantagem de não causar efeitos colaterais indesejáveis
(BLUMENTHAL et al., 1999; STELLA et al., 2002), além de apresentar menor
taxa de recaída do que os tratados com medicação (STELLA et al., 2002;
BABYAK et al., 2000).
Os estudos do efeito da prática de exercícios físicos no humor e na
ansiedade foram iniciados na década de 70 (DE MELLO et al., 2005), os quais
vêm mostrando ao longo do tempo, que a prática de exercícios físicos pode
ajudar no tratamento do estresse, depressão e ansiedade. Porém, alguns
trabalhos indicaram que a prática de exercícios físicos não causou melhora no
quadro clínico dos pacientes com este tipo de patologia.
2. OBJETIVOS
O presente trabalho teve como objetivo geral verificar os benefícios da
atividade física no tratamento do estresse, da ansiedade e da depressão, além
de mostrar os tipos de exercícios físicos que foram considerados mais
eficientes. Os objetivos específicos foram: 1) compreender a relação do
exercício físico na fisiologia endocrinometabólica; 2) analisar as terapias
existentes para o estresse, ansiedade e depressão e as possíveis correlações
com a prática de exercícios físicos; e 3) verificar se há e quais são os
3
benefícios dos exercícios físicos como tratamento do estresse, ansiedade e da
depressão.
3. REVISÃO DA LITERATURA
3.1 Estresse, ansiedade e depressão
A palavra estresse quer dizer pressão ou insistência e, portanto, estar
estressado significa “estar sobre pressão” ou “estar sob a ação de um estimulo
insistente” (NUNOMURA et al., 2004). O termo estresse também pode ser
definido como o estado gerado pela percepção de estímulos que provocam
excitação emocional (MARGIS et al., 2003). Quando estes estímulos perturbam
a homeostasia, eles disparam um processo de adaptação, que é caracterizado,
entre outras alterações, pelo aumento da secreção de adrenalina, o que produz
diversas manifestações sistêmicas oriundas de distúrbios fisiológicos e
psicológicos (MARGIS et al., 2003).
Estressor é qualquer estímulo capaz de provocar o aparecimento de um
conjunto de respostas orgânicas e/ou comportamentais relacionadas com
mudanças fisiológicas de padrão estereotípico, que incluem a hiperfunção da
supra-renal (NUNOMURA et al., 2004). Estes autores relatam uma série de
agentes estressores como, por exemplo, ambientais (calor, barulho e multidão)
e emocionais, que são considerados os mais freqüentes e importantes, os
quais podem afetar o ser humano (mudanças no estilo de vida, doenças,
problemas no trabalho, morte e aumento de responsabilidades).
O processo de estresse é caracterizado por três fases distintas
(CAROMANO et al., 2003). A fase I ou fase de alerta é constituída por sintomas
iniciais de estresse. Quando o estressor é indicado pelo organismo, há uma
4
hiperatividade do sistema nervoso simpático, o que pode promover
hiperventilação, taquicardia e aumento da pressão arterial. A fase II ou fase de
resistência ocorre quando o estímulo estressor persiste por muito tempo. Isto
faz com que o indivíduo utilize sua energia adaptativa para restabelecer o
equilíbrio com o meio. A fase III ou fase de exaustão ocorre quando toda
energia adaptativa é consumida e, então, o organismo fica debilitado, dando
margem ao aparecimento de várias doenças, que podem variar de acordo com
a vulnerabilidade de cada indivíduo. A resposta ao estresse pode ser do tipo
cognitivo, comportamental e fisiológico (MARGIS et al., 2003). A resposta ao
agente estressor depende em grande parte da forma como o indivíduo filtra e
processa as informações, assim como avalia as situações ou estímulos que
devem ser considerados relevantes, agradáveis ou aterrorizantes.
A ansiedade é um padrão de resposta incondicionado, com um conjunto
de reações fisiológicas referentes à emissão de comportamentos de luta ou de
fuga frente a situações perigosas (SENA FILHO et al., 2006). A ansiedade
pode ser dividida em dois tipos: ansiedade-traço que representa a acomodação
da personalidade de modo quase permanente (condição estável) e ansiedadeestado que representa as reações do indivíduo frente a situações ou tensões
temporárias (DE QUADROS et al., 2006). Quando o indivíduo está ansioso
ocorre um aumento da freqüência cardíaca, do consumo de oxigênio, da
pressão arterial e da freqüência respiratória (DE QUADROS et al., 2006). Os
principais sintomas associados com a ansiedade são: náusea, delírio, secura
na boca, sensação de fadiga ou fraqueza, bocejo freqüente e tremor.
O indivíduo com ansiedade pode desenvolver depressão em decorrência
do grande tempo de exposição às tensões adquiridas durante a vida cotidiana.
5
O termo depressão foi apresentado em dicionário médico a partir de 1860
(CORDÁS, 2002). A depressão é uma condição freqüente e crônica, que é
associada com altos níveis de incapacitação funcional, isto é, o indivíduo não
consegue se enquadrar perante a sociedade (SENA FILHO et al., 2006). Na
vida adulta, há vários fatores associados com a depressão como, por exemplo,
os agentes estressores oriundos da infância, tais como morte dos pais ou
substitutos, privação por abandono materno ou paterno, separação ou divórcio
entre outros (ZAVASCHI et al., 2002). Os sintomas associados com a
depressão são: tristeza e/ou irritabilidade durante a maior parte do dia e
freqüentemente; indisposição (desânimo e cansaço); perda gradativa da
capacidade de sentir prazer nas atividades habituais (trabalho, lazer e desejo
sexual);
sentimentos de
culpa,
insegurança,
entre
outros
(BORGES;
RAUCHBACH, 2004; BENEDETTI et al., 2008). A tendência para ter doenças
afetivas seria herdada geneticamente, passadas dos pais ou avós para as
outras gerações.
3.2 Metodologias de análise do nível de estresse, ansiedade e depressão
aplicadas nos estudos do efeito do exercício físico na saúde metal
Há vários instrumentos descritos para avaliar os níveis de ansiedade ou
depressão, tais como: escala de ansiedade de Hamilton, inventário IDATE
(ansiedade estado ou traço), inventário de ansiedade ou de depressão de Beck
e escala hospitalar de ansiedade e depressão (MARCOLINO et al., 2007). Os
estudos do efeito do exercício físico sobre a saúde mental empregam tais
métodos para avaliar os níveis de ansiedade ou de depressão dos indivíduos
6
(CAROMANO et al., 2003; NUNOMURA et al., 2004; MATTOS et al., 2004;
ANTUNES et al., 2005; SANTOS; KNIJNIK, 2006).
O inventário de depressão de Beck é um dos métodos de auto-avaliação
mais usados tanto em pesquisa como em clínica (GORESTEIN; ANDRADE,
1998), tendo sido traduzido para vários idiomas e validado em diferentes
países. A escala original consiste de um questionário com 21 questões,
incluindo sintomas e atitudes, cuja intensidade varia de 0 a 3. Os sintomas para
depressão apontados no inventário de Beck podem ser avaliados de acordo
com o grau de intensidade, que varia de mínimo, leve, moderado até grave,
conforme apresentado na Tabela 1. Além disso, os indivíduos devem
preencher uma ficha com várias informações como, por exemplo, sexo, idade,
escolaridade, estado civil, renda familiar e endereço residencial.
Tabela 1: Classificação de intensidade da depressão com bases no inventário de Beck.
Nível
Escores
Mínimo
0-11
Leve
12-19
Moderado
20-35
Grave
36-63
Fonte: BECK, 1998.
O perfil dos indivíduos submetidos aos estudos do efeito da atividade
física na saúde mental variou em cada trabalho, pois se observaram desde
pessoas sedentárias (mais de 12 anos sem praticar exercícios físicos) até
praticantes de atividades físicas moderadas. O recrutamento dos indivíduos foi
realizado em função de testes físicos ou simplesmente por participarem ou
freqüentarem escolas de educação física ou programas de exercícios físicos
7
(CAROMANO et al., 2003; NUNOMURA et al., 2004; ANTUNES et al., 2005;
SANTOS; KNIJNIK, 2006). Embora haja certa padronização na avaliação
psicológica dos pacientes, não se observou a padronização das metodologias
aplicadas nas outras partes do experimento, tais como seleção de indivíduos,
tempo de pesquisa, ambiente e outros.
3.3 Efeito do exercício físico no tratamento do estresse, ansiedade e
depressão
O emprego de cinco minutos de exercício físico pode ser suficiente para
induzir um efeito ansiolítico, mas tal efeito foi mais significativo quando o
programa de treinamento teve duração superior a dez semanas (SCULLY et
al., 1998). O efeito ansiolítico foi pouco significativo quando o programa de
treinamento teve duração inferior a nove semanas. A realização de exercícios
físicos resultou numa série de alterações fisiológicas e bioquímicas envolvidas
com a liberação de neurotransmissores e ativação de receptores específicos
(CHEIK et al., 2003), que auxiliaram na diminuição dos escores indicativos de
depressão e ansiedade, uma vez que alguns desses neurotransmissores
contribuem para o aparecimento ou diminuição destas patologias.
O exercício físico aeróbio realizado com intensidade moderada e com
longa duração (acima de 30 minutos) propícia alívio do estresse ou tensão
devido ao aumento da taxa de endorfina (STELLA et al., 2002; PELUSO, 2003;
NUNOMURA et al., 2004; ANTUNES et al., 2005). Este hormônio age sobre o
sistema nervoso, reduzindo o impacto estressor do ambiente, o que pode
prevenir ou diminuir transtornos depressivos. Além disso, a atividade física
pode aumentar a transmissão sináptica da mono-amina (PELUSO, 2003;
8
ANTUNES et al., 2005; VIEIRA et al., 2007; MORAES et al., 2007), que atua
supostamente como antidepressivo. Da mesma maneira que seria uma
simplificação afirmar que a eficácia dos antidepressivos se deve ao aumento da
transmissão sináptica da mono-amina, essa hipótese, apesar de plausível,
parece simples demais para explicar a melhora de humor associada com o
exercício físico.
Além
das
hipóteses
fisiológicas,
observaram-se
também
várias
hipóteses psicológicas para explicar o efeito do benefício do exercício físico na
saúde mental, sendo as principais: distração, auto-eficácia e interação social
(PELUSO, 2003). A hipótese de distração implica na redistribuição dos
estímulos desagradáveis durante e depois da atividade física, o que levaria à
melhora do humor. Já a hipótese de interação social se baseia no fato de que
há uma cooperação mútua entre os indivíduos praticantes de atividade física
(integração social), o que pode auxiliar no tratamento de melhora da saúde
mental.
Peluso (2003) indicou a necessidade de desenvolver um modelo
psicológico plausível, que correlacione às hipóteses fisiológicas e psicológicas,
com o intuito de explicar o efeito dos exercícios físicos na melhora da saúde
mental.
De Carvalho et al. (1996) indicaram que um programa regular de
exercício físico deve possuir pelo menos três componentes: aeróbio,
sobrecarga muscular e flexibilidade, variando a ênfase em cada um de acordo
com a condição clínica e os objetivos de cada indivíduo. No entanto, a maioria
dos trabalhos relacionados com o efeito do exercício físico na diminuição dos
níveis de ansiedade e depressão recomenda a prática de atividades aeróbias,
9
tais como: caminhada, natação, dança, ginástica aeróbica, alongamento,
hidroginástica, fitness, Tai Chi Chuan e Yoga, pois ajudam o corpo a retornar
para um estado mais relaxado (STELLA et al., 2002; NUNOMURA et al., 2004;
MATTOS et al., 2004; BORGES; RAUCHBACH, 2004; ANTUNES et al., 2005;
SENA FILHO et al., 2006; MORAES et al., 2007).
Embora estas doenças mentais possam afligir todos os indivíduos ativos
da sociedade moderna, os estudos sobre o efeito do exercício físico na
diminuição dos níveis destas patologias são principalmente desenvolvidos para
indivíduos com idade intermediária e idosos (FRANCHI; MONTENEGRO, 2005;
ANTUNES et al., 2005; SANTOS; KNIJINIK, 2006). Idosos que não praticam
atividades físicas mostraram uma maior propensão para estados depressivos
do que aqueles fisicamente ativos (BORGES; RAUCHBACH, 2004; MORAES
et al., 2007). A Figura 1 mostra que os indivíduos não ativos (homens e
mulheres) com faixa etária entre 75 e 79 anos apresentaram maior tendência
Tendência para depressão (%)
.............
para depressão.
Ativos
Não ativos
60
50
40
30
20
10
0
65-69
70-74
75-79
> 80
Idade
Figura 1 - Tendência à depressão em idosos ativos e não ativos em relação à prática de
exercícios físicos (BORGES; RAUCHBACH, 2004).
10
Segundo as observações de Mattos et al. (2004), os psiquiatras
avaliados em seu estudo indicaram que o exercício físico causou uma
diminuição de vários fatores considerados depressivos. A Figura 2 mostra os
principais sintomas relacionados com a depressão, que foram amenizados pela
prática de exercício físico.
Melhora do humor
14%
4%
Nenhum sintoma
7%
21%
11%
Melhora da imagem corporal
Diminuição da insônia
Interação social
Melhora da auto estima
11%
14%
11%
7%
Maior disposição
Diminuição da ansiedade
Diminuição da tensão
Figura 2 - Sintomas relacionados à depressão citados como amenizados pelo exercício físico
na percepção dos psiquiatras (MATTOS et al., 2004).
Antunes et al. (2005) escolheram quarenta e seis voluntários com média
de idade de 67 anos e com características sedentárias e os dividiram de forma
aleatória em dois grupos. O primeiro grupo, denominado de controle, não foi
submetido à atividade física, mas foi monitorado durante toda a pesquisa. O
segundo grupo, denominado de experimental, foi submetido à atividade física
aeróbia pelo menos três vezes por semana durante seis meses. Estes
indivíduos foram inicialmente submetidos a exercício aeróbio por vinte minutos,
com posterior utilização de cicloergômetro de 9,5 HR (voltas por minuto). Os
níveis de depressão e ansiedade foram avaliados por meio de questionário
aplicado no início e final da pesquisa, sendo os resultados apresentados na
11
Figura 3. Os indivíduos foram avaliados quanto à depressão pelo método de
escala de depressão geriátrica. A ansiedade foi avaliada pelo método de
Spielberger State trait Anxiety (ANTUNES et al., 2005), que apresenta quatro
níveis de escala para ansiedade (0-30: baixo, 31-49: médio, 50: alto). Neste
estudo, os indivíduos apresentaram nível médio de ansiedade, como
observado na Figura 3. Os níveis de depressão, ansiedade-traço e ansiedadeestado não apresentaram diferenças estatísticas entre os resultados obtidos
antes e depois da pesquisa para o grupo controle. No entanto, observaram-se
diminuições significativas nestes níveis para o grupo experimental (Fig. 3),
indicando que a prática de atividade física pode ser usada como uma terapia
não-farmacológica no combate a depressão e ansiedade em indivíduos idosos.
Depressão
Ansiedade-traço
Ansiedade-estado
Niveis de escore.......
50
40
30
20
10
0
Antes
Depois
Grupo de controle
Antes
Depois
Grupo experimental
Figura 3 - Resultados das análises de depressão, ansiedade-traço, ansiedade-estado de
indivíduos idosos. Dois grupos foram analisados: 1) Grupo de controle (indivíduos que não
foram submetidos à atividade física) e 2) Grupo experimental (indivíduos submetidos à
atividade física aeróbia e ciclos ergométricos durante seis meses). Os dois grupos foram
avaliados antes e depois do tratamento (ANTUNES et al., 2005).
Blumenthal et al. (1999) estudaram, por um período de 16 semanas, o
efeito do exercício físico sobre a depressão em pacientes idosos com idade
variando de 57 a 77 anos. Os autores realizaram avaliações médicas e
12
psiquiátricas em 226 pacientes e, então, escolheram 156 pacientes com escore
de depressão maior do que 13 na escala do inventário de Beck (Tabela 1). Os
pacientes escolhidos foram separados aleatoriamente em três grupos distintos,
sendo 48 indivíduos para o grupo de medicação, 53 para o grupo de
treinamento físico e 55 para o grupo combinando medicação e treinamento
físico. Após o teste de avaliação de capacidade máxima aeróbia, os indivíduos
submetidos ao treinamento físico realizaram exercícios em que atingiam de
70% a 80% da sua capacidade máxima aeróbia. O treinamento físico envolveu
10 minutos de aquecimento, seguido por 30 minutos de caminhada e 5 minutos
de exercícios para alongamento e resfriamento do corpo. A Figura 4 mostra os
resultados de escore do nível de depressão dos três grupos de pacientes
avaliados antes e depois do tratamento. Antes do tratamento, os três grupos
(medicação, exercício e combinação) apresentaram níveis de depressão
próximos (Fig. 4). Depois do tratamento, os três grupos tiveram uma diminuição
significativa do escore de depressão (Fig. 4), mostrando que o exercício físico
foi tão eficiente quanto à medicação no tratamento dos indivíduos com
depressão. Porém, a combinação de medicação e treinamento físico resultou
num escore de depressão maior do que aqueles observados para os grupos de
medicação e exercício separadamente (Fig. 4).
Stella et al. (2002) observaram resultados similares aos apresentados na
Figura 4 para pacientes idosos com desordem depressiva. Eles observaram no
final de 16 semanas, que os três grupos (medicação, exercício, combinação de
medicação e exercício) apresentaram diminuição do escore de depressão,
embora os pacientes sob medicamento tenham mostrado uma resposta inicial
mais rápida. Stella et al. (2002) concluíram que a atividade física regular deve
13
ser considerada como uma alternativa não-farmacológica do tratamento de
transtorno depressivo. Seis meses após o término do tratamento, os indivíduos
tratados com exercício físico apresentaram menor taxa de recaída do que os
tratados com medicação, indicando que a terapia com exercício físico foi viável
(STELLA et al., 2002), principalmente quando se aplica o exercício por um
Escore do nível de depressão
..........
longo período.
Antes
Depois
25
20
15
10
5
0
Medicação
Exercício
Combinação
Grupos experimentais
Figura 4 - Resultados de escore do nível de depressão determinado pelo inventário de
depressão de Beck. Três grupos experimentais foram avaliados: 1) Medicação (tratamento via
medicação); 2) Exercício (tratamento via treinamento físico); e 3) Combinação (tratamento
combinando medicação e treinamento físico). Os três grupos foram avaliados antes e depois
do tratamento (BLUMENTHAL et al., 1999).
Babyak et al. (2000) verificaram que cerca de 90% dos pacientes
tratados com exercício físico não apresentaram depressão após quatro meses
de tratamento. Já os pacientes submetidos ao tratamento com medicação,
somente cerca de 50% não apresentaram depressão, enquanto os pacientes
submetidos ao tratamento combinado (exercício físico e medicação) apenas
cerca de 60% se recuperaram. Após seis meses do término do tratamento, os
14
pacientes do grupo de exercício físico apresentaram apenas 8% de recaída,
enquanto os pacientes dos grupos de medicação e combinação apresentaram
40% e 30% de recaída, respectivamente.
Nunomura et al. (2004) observaram uma tendência de diminuição dos
níveis de estresse em indivíduos com idade média de 45 anos submetidos à
prática de exercícios aeróbios por um ano. No entanto, os autores indicaram
que os níveis de diminuição foram baixos devido ao curto tempo disponibilizado
para a pesquisa, sendo indicado um prazo maior para obtenção de resultados
mais significativos. Caromano et al. (2003) observaram que a prática isolada de
exercício físico em água aquecida não se fez suficiente para atingir uma
melhora evidente nos níveis de estresse em jovens estudantes (com idade
média de 22 anos). Estes resultados mostraram que o tempo de execução e a
modalidade da atividade física influenciam de forma significativa nos resultados
referentes à diminuição dos níveis de estresse.
4. DISCUSSÃO
Embora haja vários métodos de análise dos índices de ansiedade e
depressão, apenas alguns trabalhos tiveram a preocupação de indicar o
método de análise empregado no estudo do efeito do exercício físico na
melhora da saúde mental (BLUMENTHAL et al., 1999; BABYAK et al., 2000;
STELLA et al., 2002; CHEIK et al., 2003). De modo geral, o método de análise
mais usado foi o inventário de depressão de Beck (BLUMENTHAL et al., 1999;
BABYAK et al., 2000; CHEIK et al., 2003), seguido pela escala de ansiedade
15
de Hamilton (BLUMENTHAL et al., 1999; BABYAK et al., 2000; STELLA et al.,
2002).
A presença de resultados contraditórios e inconsistentes pode ser
atribuída às diferenças metodológicas observadas nos trabalhos de pesquisa e
aos erros e limitações nos experimentos que incluem: falta de randomização
e/ou grupo de controle, amostra pequena e/ou não representativa da
população, instrumento de medida inadequado, tempo de mensuração após o
exercício (pode ser insuficiente para detectar mudanças), delineamento préexperimental e falta de validade externa em relação ao ambiente da prática de
exercício (BLUMENTHAL et al., 1982; BLUMENTHAL et al., 1999; WERNECK
et al., 2006).
Os efeitos do exercício físico regular no humor foram estudados, na
maior parte das vezes, com atividades físicas aeróbicas (NUNOMURA et al.,
2004; GOMES et al., 2004; DE MELLO et al., 2005; SENA FILHO et al. 2006),
mas se observaram evidencias de que as atividades físicas anaeróbias
(musculação ou treinamento de flexibilidade) também podem diminuir a
sintomatologia depressiva (DE CARVALHO et al., 1996; DE MELLO et al.,
2005).
Em relação aos sintomas de ansiedade não há um consenso, pois se
observaram relatos indicando que as atividades físicas anaeróbias podem ser
mais efetivas ou não em relação às atividades físicas aeróbias (SCULLY et al.,
1998; PELUSO, 2003). Quanto aos efeitos agudos da atividade física aeróbia,
pode-se dizer que houve uma melhora nos sintomas depressivos e ansiosos,
após um único episódio de exercício, com duração de algumas horas até um
dia (PELUSO, 2003). Em relação à ansiedade, observaram-se indícios de que
16
a atividade física anaeróbia pode apresentar o mesmo efeito da atividade física
aeróbia, mas somente três horas depois de encerradas as atividades físicas
(PELUSO, 2003; DE QUADROS et al., 2006).
Além da melhora na saúde mental, a prática de exercícios físicos
também melhora a qualidade de vida dos pacientes com outros tipos de
patologias não psiquiátricas, tais como oclusão arterial periférica e fibromialgia
(DE CARVALHO et al., 1996; WARBURTON et al., 2006; VALIM, 2006), e
ajuda no alívio de sintomatologias diversas, como abstinência à nicotina e
menopausa (PELUSO, 2003).
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os resultados apresentados no relatório da Organização Mundial da
Saúde (OMS) indicaram que a depressão está em quarto lugar entre as
doenças de maior AVAD (anos de vida perdidos por morte prematura e por
incapacidade), podendo chegar ao segundo lugar nos próximos vinte anos. O
estresse, ansiedade e depressão são causados por agentes estressores que
se encontram no cotidiano da sociedade moderna. Assim, todos os indivíduos
estão sujeitos a estas doenças e, portanto, deve-se estudar e conhecer o
tratamento destas patologias, já que o número de casos está aumentando de
forma considerável no mundo.
A psicoterapia e a medicação são usadas no tratamento convencional
das doenças mentais, entre elas o estresse, a ansiedade e a depressão.
Alguns estudos têm mostrando que este tipo de tratamento causa efeitos
17
colaterais que afetam a saúde e, então, propuseram um tratamento alternativo
com base na prática de exercícios físicos.
Os resultados mostraram que os exercícios aeróbios e anaeróbicos
foram eficientes no controle do estresse, depressão e ansiedade, mas alguns
trabalhos indicaram que determinadas práticas esportivas não causaram
mudanças no quadro clínico. Os pacientes foram analisados por questionários
padronizados, tal como inventário de Beck para depressão e ansiedade, mas
não houve uma padronização nas outras partes dos experimentos (seleção de
indivíduos, tempo de pesquisa, ambiente e outros). Assim, a comparação de
resultados se torna difícil, criando discórdia entre alguns pesquisadores em
relação aos mecanismos responsáveis pela diminuição dos níveis de estresse,
ansiedade e depressão. Isto mostrou que é necessário desenvolver
metodologias apropriadas de estudo, assim como aumentar os estudos
relacionados com o efeito do exercício físico em diferentes protocolos
experimentais e os efeitos dos níveis de estresse, ansiedade e depressão.
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