TRATAMENTO DA LESÃO AGUDA DO LIGAMENTO CRUZADO ANTERIOR Tratamento da lesão aguda do ligamento cruzado anterior* GILBERTO LUÍS CAMANHO1, ROGÉRIO OLIVI2, LUÍS FELIPE CAMANHO3, MARCELO DE AZEVEDO E SOUZA MUNHOZ4, MAURO CUBAS MOURA2 RESUMO INTRODUÇÃO Os autores estudaram a evolução de 73 pacientes com lesão do ligamento cruzado anterior submetidos a reconstrução por duas técnicas distintas. Quarenta e seis foram operados pela técnica que utiliza o terço médio do tendão patelar como enxerto e 27 pela técnica que utiliza o tendão do músculo semitendíneo triplo. Os resultados quanto ao retorno às atividades que antecederam o trauma foram bons na maioria dos casos, independente da técnica empregada. A análise do período de reabilitação demonstrou que os pacientes operados pela técnica que utiliza o terço médio do tendão patelar apresentaram maior número de problemas. O entorse do joelho é um trauma muito freqüente e pode, em alguns casos, significar uma lesão do ligamento cruzado anterior. Esta lesão favorece o aparecimento de lesões meniscais e processos degenerativos da cartilagem articular, antecipando o processo de artrose. O objetivo do presente trabalho é estudar a reconstrução do ligamento cruzado anterior em pacientes portadores de lesão aguda, verificar os resultados e estudar as eventuais complicações de duas técnicas operatórias. Ambas utilizam enxertos tendinosos na substituição do ligamento lesado; a primeira utiliza o terço médio do ligamento patelar e a outra o tendão do músculo semitendíneo dobrado duas vezes, de forma a ficar triplo. SUMMARY Treatment of the acute lesion of the anterior cruciate ligament The authors studied the clinical outcome of 73 patients with anterior cruciate ligament tear submitted to reconstruction by two different techniques. Forty-six patients were operated with the technique that employs the mid-third portion of the patellar tendon and 27 with the technique that employs the triple semitendinous tendon. The results in terms of return to normal activities were good in the majority of the cases. The analyses of the patients during the rehabilitation period demonstrated that those operated by the patellar tendon technique presented more complications. * Trab. realiz. no Inst. Ortopédico Camanho (IOC)/Hospital Santa Catarina. 1. Prof. Livre-Doc. da Fac. de Med. da USP. 2. Méd. Assist.-Mestre do Inst. de Ortop. e Traumatol. do Hosp. das Clín. da Fac. de Med. da USP. 3. Médico do IOC. 4. Estag. do IOC. Rev Bras Ortop _ Vol. 32, Nº 5 – Maio, 1997 CASUÍSTICA E MÉTODO Estudamos 73 pacientes com lesão do ligamento cruzado anterior (LCA), diagnosticada pela manobra de Lachman, jerk test e sinal da gaveta anterior, operados nos primeiros 60 dias após o trauma que provocou a lesão. Todos os pacientes foram operados por via artroscópica pelo autor principal, utilizando duas técnicas: – Reconstrução do LCA com enxerto do terço médio do ligamento patelar fixado com parafuso de interferência do túnel femoral e amarria com fio de aço duplo número 2 a um parafuso esponjoso na tíbia; – Reconstrução do LCA com enxerto do tendão do músculo semitendíneo, retirado por incisão única na região da pata de ganso, dobrado duas vezes de forma a dar uma conformação tripla e fixado ao fêmur com fio de Ethibond número 5 amarrado a um Endobutton. Na tíbia a amarria foi feita com fio de Ethibond número 5 a um parafuso esponjoso. Foram 46 pacientes operados com enxerto do ligamento patelar (TP) e 27 com semitendíneo triplo (3ST). 347 G.L. CAMANHO, R. OLIVI, L.F. CAMANHO, M.A.S. MUNHOZ & M.C. MOURA Quarenta e nove pacientes eram do sexo masculino e o lado direito foi acometido 34 vezes. Nove foram considerados atletas, por praticarem uma atividade esportiva regularmente com características competitivas. A idade dos pacientes teve a seguinte distribuição: com menos de 20 anos, 11 casos; entre 20 e 30 anos, 29 casos; entre 30 e 40 anos, 19 casos; com mais de 40 anos, 14 casos. Ao exame inicial todos os pacientes fizeram uma radiografia simples de joelho nas posições de frente e de perfil e as hipóteses diagnósticas, referentes a lesões intrínsecas, foram anotadas para serem avaliadas durante a artroscopia. Todos os pacientes foram argüidos sobre a ocorrência de hemartrose; 17 informaram de forma irrefutável que tiveram hemartrose. Após a avaliação inicial, os pacientes que procuraram o Instituto, antes de 21 dias depois do trauma, foram orientados segundo o protocolo PRICE: proteção com muletas, repouso, ice (gelo) 20 minutos quatro a seis vezes ao dia, compressão com enfaixamento e exercícios isométricos para flexores e extensores. Todos os casos foram operados, pelo menos 21 dias, após o trauma inicial. A artroscopia foi feita em todos os casos após a retirada do enxerto. Iniciou-se pelo diagnóstico e correção das eventuais lesões intrínsecas. Encontramos as seguintes lesões intrínsecas associadas a lesão do LCA: 31 lesões meniscais – 19 mediais, oito laterais e quatro lesões duplas (mediais e laterais); duas lesões osteocondrais. Após o diagnóstico e tratamento das lesões intrínsecas, determinamos o ponto de inserção tibial com guia apropriado. Um fio de Kirschner foi introduzido e a seguir uma broca canulada perfurou o túnel tibial, que foi dimensionado de acordo com a espessura do enxerto retirado. Através do túnel tibial, um fio de Kirschner foi introduzido no ponto de inserção femoral do LCA. A mesma broca canulada foi introduzida, na face interna do côndilo femoral lateral, na profundidade de 2,5 a 3cm para inserção do fragmento ósseo do TP ou da extremidade do 3ST. A fixação foi feita inicialmente no fêmur, por parafuso de interferência nos casos de TP e por Endobutton, nos casos de 3ST e por amarria na tíbia. Os pacientes tiveram seus joelhos enfaixados, com enfaixamento compressivo e imobilizados com imobilizador removível. No terceiro dia, o enfaixamento foi retirado e os pacientes foram estimulados a movimentar a articulação sempre que não estivessem apoiados. A marcha foi permitida imediatamente após a alta hospitalar, que foi dada 36 horas 348 após a cirurgia, e protegida por imobilizador removível por 21 dias após a operação. Após o 21º dia, o imobilizador foi retirado e todos os pacientes fizeram o mesmo programa de reabilitação no mesmo local e orientados pela mesma fisioterapeuta. No terceiro mês, em média, fizemos uma radiografia de controle e caso o paciente tivesse recuperado a flexo-extensão normal, era liberado para correr, nadar e andar de bicicleta. No sexto mês, após mais um controle radiográfico, era dada alta para aqueles que tivessem recuperado todo o movimento articular e o trofismo muscular. Para os pacientes considerados como atletas, o período de reabilitação entre o terceiro e o sexto mês foi orientado já na sua atividade esportiva base e a liberação para atividade competitiva só foi dada após uma avaliação em equipamento isocinético que demonstrasse recuperação muscular do membro operado em torno de 80%, em relação ao normal. Acompanhamos os pacientes por: um ano após a cirurgia, 26 casos; dois anos após a cirurgia, 18 casos; tempo maior que dois anos, 29 casos. RESULTADOS Inicialmente avaliamos a acurácia do nosso diagnóstico clínico, confrontando-o com os achados na artroscopia. Verificamos que o diagnóstico clínico das lesões intrínsecas foi confirmado em apenas 44 casos, ou seja, 60%. Para análise de nossos resultados, consideramos inicialmente duas fases na evolução dos pacientes: a primeira foi a fase pós-operatória, na qual observamos queixas e problemas que ocorreram nos primeiros 21 dias, ou nos primeiros três meses ou nos últimos três meses, ou durante a evolução após seis meses; a segunda foi ao final do tempo de seguimento. Para a avaliação final consideramos três níveis de resultados: bom – retorno à atividade que antecedeu o trauma seis meses após a operação; regular – retorno à atividade que antecedeu o trauma em tempo maior que seis meses, ou após algum procedimento terapêutico diferente da cirurgia inicial; mau – falha da cirurgia ou complicação que impediu o retorno à atividade que antecedeu a operação. Resultado na fase pós-operatória – Nos primeiros 21 dias: um caso de dor na face medial da coxa: paciente submetido a 3ST; evoluiu bem sem problemas na seqüência de tratamento. Nos primeiros três meses de evolução pós-operatória – Dois casos de derrame articular: pacientes submetidos a TP; um caso de dores no joelho: paciente submetido a TP; um caso Rev Bras Ortop _ Vol. 32, Nº 5 – Maio, 1997 TRATAMENTO DA LESÃO AGUDA DO LIGAMENTO CRUZADO ANTERIOR Fig. 2 – Radiografia de frente demonstrando a fixação femoral com Endobutton e a tibial com amarria a um parafuso de esponjosa Fig. 1 – Radiografias de frente e perfil demonstrando a fixação femoral com parafuso de interferência e a tibial com amarria de aço a um parafuso de esponjosa de entorse com lesão meniscal medial: paciente submetido a TP inicialmente; foi realizada artroscopia para correção da lesão do menisco medial, que constatou a integridade do enxerto TP. No período de três a seis meses – Um caso de tendinite do tendão patelar: paciente submetido a TP; um caso de falha do enxerto após queda do paciente; paciente submetido a revisão da cirurgia, que demonstrou rotura do enxerto de TP; a revisão foi feita com 3ST; um caso de dores no joelho: paciente submetido a 3ST. Após período de seis meses – Um caso de dor e patela baixa: paciente submetido a TP; dois casos de dor no local do parafuso: pacientes submetidos a TP, foi feita a retirada do parafuso em ambos os casos. Resultado no final do tempo de seguimento – 70 bons resultados; dois resultados regulares; um mau resultado. Resultados quanto à técnica empregada – Casos operados com enxerto do ligamento patelar: 43 bons; dois regulares; um mau. Casos operados com enxerto triplo do semitendíneo – 27 bons. Resultados quanto ao tempo de seguimento – Com um ano de evolução: 70 bons; dois regulares; um mau. Os resultados mantiveram-se estáveis ao longo do período de seguimento. Resultados segundo as lesões associadas – com lesão associada: 30 bons; um regular. Sem lesão associada: 40 bons; um regular; um mau. Análise dos resultados regulares – Tivemos um paciente que sofreu entorse de joelho com lesão do menisco medial. Após a artroscopia para a meniscectomia, constatamos a integridade do enxerto, que se confirmou ao longo do período Rev Bras Ortop _ Vol. 32, Nº 5 – Maio, 1997 de seguimento, que foi de dois anos. O segundo paciente, cujo resultado consideramos como regular, apresentou retarde no tempo de reabilitação, que perdurou por nove meses. Este paciente foi acompanhado por três anos e apresentavase bem, realizando as atividades que antecederam sua lesão. O exame clínico demonstrava a patela baixa em relação ao outro lado. Os dois pacientes foram submetidos a reconstrução do LCA com enxerto do terço médio do ligamento patelar. Análise do mau resultado – O paciente sofreu entorse do qual resultou rotura do enxerto de ligamento patelar, no quarto mês de evolução da reconstrução do ligamento. Ao realizarmos a artroscopia, observamos a rotura completa do enxerto. DISCUSSÃO Os pacientes portadores de lesão aguda do LCA são orientados segundo um protocolo no nosso grupo. Aqueles que apresentam sinais clínicos de instabilidade ao exame físico feito com manobras clássicas (Lachman, gaveta anterior e jerk test) são encaminhados para o tratamento cirúrgico. Os pacientes com suspeita clínica de lesão de LCA, mesmo com ressonância magnética demonstrando a lesão, porém sem sinais clínicos de instabilidade, são acompanhados quanto à evolução para instabilidade anterior. A indicação cirúrgica na presença de sinais clínicos de instabilidade é feita no sentido de evitar as manifestações secundárias à deficiência do LCA, como as lesões meniscais e os processos degenerativos articulares. Marcacci et al.(15) verificaram melhores resultados nos pacientes portadores de lesões do LCA operados precocemente, do que naqueles operados tardiamente. Casteleyn & 349 G.L. CAMANHO, R. OLIVI, L.F. CAMANHO, M.A.S. MUNHOZ & M.C. MOURA Handelberg(10) acompanharam por dois a 12 anos 228 pacientes portadores de lesão do LCA que não foram operados e verificaram que 23% tiveram evolução muito boa e 50%, evolução boa no período de seguimento. O tratamento cirúrgico oferece índices de resultados melhores que os obtidos pelos autores, porém a opção de tratamento conservador poderá ser considerada dentro dos limites de resultados descritos. Tecnicamente o tratamento das lesões agudas do LCA passou por diversas fases, sendo que atualmente é quase um consenso a reconstrução com enxerto tendinoso. A sutura com reinserção do LCA, embora tenha sido defendida no passado, hoje não encontra nenhum suporte bibliográfico. Indicamos a cirurgia sempre 21 dias após o trauma, pois acreditamos que as cirurgias imediatas ou feitas no período menor de 21 dias propiciariam uma cicatrização mais exuberante no pós-operatório e, conseqüentemente, uma artrofibrose. Majors & Woodfin(14), estudando um grupo de pacientes submetidos a reconstrução do LCA em fase aguda, não observaram maior incidência de artrofibrose nos casos operados nos primeiros 14 dias. Murakami et al.(16) consideram que é melhor aguardar o estágio de sinovite aguda para realizar a reconstrução. Os autores concordam com nossa preocupação em evitar artrofibrose. Shelbourne et al.(19) afirmam que a incidência de artrofibrose é maior em cirurgias realizadas antes de 21 dias. Fizemos todas as cirurgias por via artroscópica. A técnica cirúrgica por via artroscópica é menos traumática e possibilita um programa de reabilitação mais precoce, porém é tecnicamente mais difícil, trazendo freqüentemente dificuldades intra-operatórias. Arciero et al.(4), comparando um grupo de pacientes muito semelhante ao nosso, submetidos a reconstrução do LCA com o terço médio do ligamento patelar via artroscópica e via aberta, verificaram que os resultados finais são superponíveis, porém as complicações intra-operatórias foram mais freqüentes nos pacientes operados por via artroscópica. Os casos de lesões intrínsecas diagnosticados pela artroscopia, se comparados com o diagnóstico clínico, demonstram que, além do aspecto técnico-cirúrgico, a artroscopia foi muito importante. Fizemos o diagnóstico clínico correto e completo em 60% dos casos. O diagnóstico clínico no joelho agudo é muito falho, necessitando sempre de uma complementação. Bollen & Scott(6) citam que apenas 9,8% dos pacientes portadores de lesões agudas do LCA tiveram o diagnóstico clínico das lesões completo e correto. 350 A hemartrose que sabidamente, quando presente, indica lesão do LCA(1,17), pode estar ausente. Encontramos hemartrose ou referência a ela em apenas 23% dos nossos pacientes. Não examinamos a maioria dos pacientes na fase aguda; tivemos a informação do momento agudo na maioria dos casos; portanto, pode ter ocorrido hemartrose sem que o paciente observasse, porém podemos afirmar que percentagem significativa de pacientes com lesão aguda de LCA não apresenta hemartrose. A artroscopia, além de possibilitar complementar o diagnóstico, permite o tratamento da lesão intrínseca com maior precisão. A nosso ver, é muito difícil visibilizar e tratar uma lesão do corno posterior do menisco interno pela incisão de abordagem e tratamento das lesões do LCA. Nos casos de lesões do menisco lateral, e nas fraturas osteocondrais do côndilo lateral e de indicação de sutura meniscal, a abordagem por via de acesso pararrotuliana medial é insuficiente, no nosso ponto de vista. A concomitância de lesões meniscais foi semelhante à da literatura e não interferiu nos resultados finais no período de evolução analisado. Anderson & Gillquist(3) verificaram 52 lesões meniscais em 107 casos de lesão aguda do LCA. Observamos que a ocorrência de lesão meniscal nos casos agudos é menor que nos casos crônicos, fato que nos permite supor que a lesão do LCA é um fator gerador de lesão meniscal. Warren(20) também considera a lesão do LCA como importante causadora da lesão meniscal e sugere a reconstrução como medida preventiva. Esta observação é um dos fatores importantes para, no nosso protocolo, indicarmos, nos pacientes com lesão ligamentar do LCA aguda e manifestação clínica de instabilidade, a reconstrução precoce do ligamento. Consideramos apenas as lesões osteocondrais visíveis à artroscopia; foram em número de dois. Não pudemos demonstrar a alta incidência de lesões osteocondrais descritas por Kokron(12), porém acreditamos que a ocorrência destas lesões e sua gravidade são muito importantes no prognóstico das lesões do LCA. A escolha do tipo de enxerto tendinoso, nos casos agudos, em nosso grupo, passou por dois períodos distintos: Na primeira fase, todas as reconstruções foram feitas com enxerto do terço médio do ligamento patelar, técnica consagrada e utilizada por nós na reconstrução dos pacientes com instabilidade anterior crônica. Fizemo-las por via artroscópica e fixando o enxerto no fêmur com parafuso de interferência. Não observamos, no presente material, nenhum problema com o posicionamento Rev Bras Ortop _ Vol. 32, Nº 5 – Maio, 1997 TRATAMENTO DA LESÃO AGUDA DO LIGAMENTO CRUZADO ANTERIOR do enxerto, embora Brodie et al.(7) citem uma divergência significante do enxerto e do parafuso, nos casos fixados no fêmur, como descrevemos. A fixação tibial foi feita por amarria do enxerto a um parafuso de esponjosa. Estimulados pela tendência ao ressurgimento das reconstruções com tendões flexores, demos início à segunda fase. Motivados pelos novos métodos de fixação, que permitiram utilizar todo o tecido tendinoso intratúneis ósseos, sem desperdiçá-los em fixações extratúneis, iniciamos a utilização do enxerto com o tendão do músculo semitendíneo dobrado de forma tripla e fixado com Endobutton ao fêmur, como descrevemos(9). Não fizemos modificação na fixação tibial. Os estudos biomecânicos demonstram que a resistência do tendão do semitendíneo triplo é suficiente para substituir o LCA(18) e os estudos clínicos demonstraram que a fixação é eficiente(5). Maeda et al.(13) publicaram experiência com o tendão do semitendíneo triplo, em período concomitante ao do nosso trabalho, descrevendo-o como excelente substituto para o LCA. Yasuda et al.(21) estudaram um grupo de 65 pacientes que se submeteram à reconstrução do LCA com enxerto de tendões flexores, retirados do mesmo joelho ou do joelho contralateral. Verificaram que o déficit muscular do quadríceps foi mínimo em ambos os casos e que a força dos flexores foi totalmente restabelecida nove meses após a retirada dos enxertos tendinosos. O pós-operatório foi semelhante nos dois grupos e baseouse no fato de que os métodos de fixação permitem um programa agressivo quanto a restabelecer graus de movimento articular normal e retorno da força muscular. Fu & Schulte(11) consideraram em 1996 a reabilitação precoce o maior avanço na cirurgia reconstrutiva do LCA. Pudemos neste grupo de pacientes, bastante semelhante, analisar o comportamento dos dois tipos de enxerto no final da evolução e durante o período de reabilitação. No que se refere ao retorno às atividades que antecederam o trauma, os dois tipos de reconstrução deram resultado muito semelhante, sendo considerado bom na maioria dos casos. É importante observarmos que o perfil de pacientes tratados é de indivíduos que, na sua maioria, são esportistas recreacionais, pois tivemos apenas nove pacientes considerados atletas e 45% tinham idade superior a 30 anos. Aglietti et al.(2), estudando pacientes submetidos a reconstrução com enxerto de ligamento patelar e tendões flexores, após 20 meses de seguimento, observaram resultados iguais quanto à instabilidade. Rev Bras Ortop _ Vol. 32, Nº 5 – Maio, 1997 Tendo em conta as pequenas complicações ocorridas durante o período de seis meses, que consideramos a reabilitação, verificamos uma incidência maior de problemas nos pacientes operados pela técnica que utiliza o terço médio do ligamento patelar. Sete pacientes apresentaram queixas, que julgamos decorrentes da técnica cirúrgica empregada. Apenas o caso do paciente que apresentou patela baixa poderá trazer problemas futuros; os outros pacientes tiveram queixas temporárias. Callway et al.(8), embora tenham verificado resultados iguais quanto à instabilidade, observaram maiores problemas na reabilitação dos pacientes submetidos a reconstrução com enxerto do terço médio do ligamento patelar, comparados com aqueles submetidos à mesma reconstrução com enxerto do semitendíneo. Não foi a intenção dos autores comparar os métodos de tratamento, pois para tal necessitaríamos randomizar a amostra, o que não foi feito. A falha que determinou o resultado considerado mau não pode ser atribuída à técnica empregada, pois o paciente sofreu grave entorse antes da alta. Apenas em um dos casos considerados como com resultados regulares, pode ser atribuído à técnica empregada o maior tempo necessário para retorno à atividade que antecedeu o trauma. Os resultados são estáveis; não verificamos incidência maior de problemas em pacientes com tempo de seguimento mais longo. CONCLUSÃO – A reconstrução do LCA, nos casos de lesões agudas em pacientes com atividade física recreacional, quando feita com enxertos tendinosos, propicia alta percentagem de bons resultados. – A técnica que utiliza o enxerto do músculo semitendíneo triplo apresenta resultados semelhantes aos da que utiliza o terço médio do ligamento patelar, com número menor de complicações no programa de reabilitação. REFERÊNCIAS 1. Abdalla, R.J.: Artroscopia nas hemartroses pós-traumáticas do joelho, Tese de mestrado, Escola Paulista de Medicina, 1988. 2. Aglietti, P., Buzzi, R. & Zacherotti, G.: Patellar tendon versus doubled semitendinous and gracilis tendons for anterior cruciate ligament reconstruction. Am J Sports Med 22: 211, 1994. 3. Anderson, C. & Gillquist, J.: Treatment of acute and combined ruptures of the anterior cruciate ligament. A long term follow-up study. 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