1 AVM FACULDADE INTEGRADA PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU A VIDA SEXUAL DOS PORTADORES DE INSUFICIÊNCIA RENAL CRÔNICA (IRC) ISABEL LIBERATO ARRUDA MENDONÇA Prof. Orientador Fabiane Muniz FORTALEZA-CE 2 AVM FACULDADE INTEGRADA PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU A VIDA SEXUAL DOS PORTADORES DE INSUFICIÊNCIA RENAL CRÔNICA (IRC) ISABEL LIBERATO ARRUDA MENDONÇA Monografia apresentada ao Instituto A Vez do Mestre como requisito parcial para obtenção do título de Especialista em Sexualidade. Prof. Orientador: Fabiane Muniz FORTALEZA-CE 2015 3 RESUMO O presente estudo aborda a vida sexual dos portadores de insuficiência renal crônica (IRC). Tem-se como questão central a seguinte indagação: É possível os pacientes renais conseguirem obter uma satisfatória atividade sexual durante o processo de hemodiálise? Neste exposto, o objetivo geral deste trabalho é adaptar os portadores de Insuficiência Renal Crônica à doença, ao tratamento e as novas limitações em sua (não) sexualidade. Os objetivos específicos são: Ajudar os pacientes renais na sua sexualidade; Ajudar os companheiros e a família dos portadores de Insuficiência Renal Crônica a terem uma maior compreensão da sua sexualidade; Melhorar sua autoestima. Este estudo tem como metodologia pesquisa de cunho bibliográfico. Conclui-se que a doença crônica traz consigo um desgaste natural do corpo humano, além disso, o tratamento da hemodiálise acaba fazendo com que as funcionalidades sejam reduzidas, acarretando em problemas físicos, psíquicos e sociais. 4 SUMÁRIO INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 5 CAPÍTULO 1 ........................................................................................................... 9 SEXUALIDADE ...................................................................................................... 9 1.1 CONCEITO DE SEXUALIDADE ....................................................................... 9 1.2 IDENTIDADE E SEXUALIDADE ..................................................................... 10 1.3 DISFUNÇÕES SEXUAIS ................................................................................ 12 CAPÍTULO 2 ......................................................................................................... 14 INSUFICIÊNCIA RENAL CRÔNICA..................................................................... 14 2.1 DEFINIÇÃO..................................................................................................... 14 2.2 EPIDEMIOLOGIA............................................................................................ 16 2.3 HEMODIÁLISE................................................................................................ 20 CAPÍTULO 3 ......................................................................................................... 24 VIDA SEXUAL DOS PORTADORES DE INSUFICIÊNCIA RENAL CRÔNICA (IRC) ..................................................................................................................... 24 3.1 ASPECTOS PSICOLÓGICOS DO PORTADOR DE IRC ............................... 24 3.2 QUALIDADE DE VIDA .................................................................................... 27 3.4 DISTÚRBIOS DA SEXUALIDADE DO PORTADOR DE IRC.......................... 31 CONCLUSÃO ....................................................................................................... 35 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................... 37 5 INTRODUÇÃO O presente estudo aborda a vida sexual dos portadores de insuficiência renal crônica. Tem-se como questão central a seguinte indagação: É possível os pacientes renais conseguirem obter uma satisfatória atividade sexual durante o processo de hemodiálise? Diante dessa problemática, estudar sobre a vida sexual desses pacientes e seus companheiros, a diferença existente antes da doença e durante o período de hemodiálise. Estudar as mudanças, as causas e os efeitos na vida sexual dos portadores de Insuficiência Renal Crônica. Considerando a pouca pesquisa na área sobre a sexualidade dos pacientes renais, acredito ser importante desenvolver uma pesquisa sobre esse assunto, para um maior esclarecimento sobre a sexualidade e sua consequências e implicações. Como a doença é definida como a perda definitiva das funções renais, onde o paciente deve seguir um rigoroso tratamento, através de dietas especificas, constante controle médico e em geral, dialítico. O tratamento impõe aos pacientes intensas restrições, e tem como consequências, várias manifestações psíquicas e comportamentais, frustrações, estados estressantes tanto em nível físico, como psíquico. A intenção do trabalho é mostrar quem são esses pacientes, suas problemáticas, propor uma forma de ajuda em torno da sua sexualidade a ser mais explorada e ampliada, mostrar que existem outras possibilidades de explorar seu corpo, com a ajuda terapêutica. Aumentar a qualidade de vida não somente do paciente renal, mais como do seu parceiro (a). Diante dessa problemática enfrentada pelo paciente renal crônico em hemodiálise, buscou-se estudar a relação paciente-máquina-doença. 6 Neste exposto, o objetivo geral deste trabalho é adaptar os portadores de Insuficiência Renal Crônica à doença, ao tratamento e as novas limitações em sua (não) sexualidade. Os objetivos específicos são: Ajudar os pacientes renais na sua sexualidade; Ajudar os companheiros e a família dos portadores de Insuficiência Renal Crônica a terem uma maior compreensão da sua sexualidade; Melhorar sua autoestima. Diante dessa problemática enfrentada pelo paciente renal crônico em hemodiálise, buscou-se estudar a relação paciente-máquina-doença com o objetivo de proporcionar uma melhor adaptação do paciente ao tratamento, promovendo a reabilitação social desse individuo: preparando este e seus familiares para uma nova percepção da sua realidade, podendo até mesmo transformá-la, dentro de suas limitações. Uma vez que o paciente perde suas funções físicas, como o vigor e a resistência para as atividades da vida diária, o lazer, o trabalho e a atividade sexual. Entretanto, com a ajuda do psicólogo, que deverá atuar com o intuito de minimizar o impacto da doença no paciente e na família, tentará impedir os efeitos do tratamento, juntamente com a equipe multidisciplinar, objetivando a manutenção do tratamento terapêutico com a finalidade de alcançar os objetivos propostos que é a melhoria da condição não só sexual, mais em sua vida como um todo. O quadro clínico dos pacientes renais é bem complexo, o desinteresse sexual acontece devido a uma soma de fatores, como exemplos; total falecimento corporal, capacidade de se concentrar, fases de agitação alternadas como letargia, hiperirritabilidade neuromuscular, tremores, câimbras, alterações dos reflexos, distúrbios sensitivos como queimação e formigamentos, fraqueza muscular e até perda completa da sensibilidade pela diminuição de lubrificação nas mulheres e a dificuldade de ereção nos homens. O paciente sofre uma serie de perdas, conduzindo-o a um esfacelamento total de sua vida física, orgânica e 7 social, mudando de uma maneira drástica a relação que seu paciente tem com seu corpo. METODOLOGIA O trabalho foi desenvolvido no Instituto do Rim da cidade de Fortaleza (CE), com a finalidade de mostrar o trabalho realizado por uma equipe, constituído por médicos, psicólogos, nutricionistas, enfermeiras e serviço social, frente a esses pacientes renais para a obtenção de sua melhora. Neste estudo foi mostrado o trabalho do psicólogo, como este facilita o processo pela abordagem utilizada no hospital: a Psicoterapia breve de apoio, estabelecendo um vínculo de confiança com o terapeuta, permitindo assim, a colocação dos problemas enfrentados por eles, as emoções vivenciadas, falar de seus problemas pessoais, até então escondidos, seja por vergonha de sua nova condição, de uma forma consciente ou inconsciente. Este estudo tem como metodologia pesquisa de cunho bibliográfico e também de campo, uma vez que será desenvolvido entrevistas com os pacientes renais sobre sua sexualidade em sua totalidade. Com critérios éticos, utilizaremos as informações necessárias para o auxilio ao paciente, sem destruir o respeito, a privacidade e a confiança existente na relação terapêutica, necessária para a manutenção e o avanço desta. Os capítulos foram divididos, sendo o primeiro capitulo 1 a sexualidade, seu conceito, gênero e sexualidade e identidade e sexualidade. No capítulo 2 será apresentada a insuficiência renal crônica, epidemiologia, terapêutica, hemodiálise e transplante renal. O capítulo seguinte trará em seu bojo a vida sexual dos portadores de insuficiência renal crônica, incluindo seus aspectos psicológicos, qualidade de vida, afetividade e intimidade do portador IRC e distúrbios da sexualidade do portador de IRC. 8 Foi de extrema importância a contribuição em especial dos autores Ana Cristina Garcia, 2007 e Bortolotto, 2008, já que nos mostra os desafios e os impactos da doença e da sexualidade dos pacientes renais de uma forma bastante clara e com muitos aspectos a serem estudados e considerados diante dessa problemática enfrentada pelo paciente renal crônico em hemodiálise. Os autores também mostram a relação paciente-maquina-doença com o objetivo de proporcionar uma melhor adaptação do paciente ao tratamento, promovendo a reabilitação social desse individuo: preparando este e seus familiares para uma nova percepção da sua realidade, podendo até mesmo transformá-la, dentro de suas limitações. No decorrer do trabalho monográfico retrata que o paciente perde suas funções físicas, como o vigor e a resistência para as atividades da vida diária, o lazer, o trabalho e a atividade sexual. Entretanto, com a ajuda do psicólogo, que deverá atuar com o intuito de minimizar o impacto da doença no paciente e na família, tentará impedir os efeitos do tratamento, juntamente com a equipe multidisciplinar, objetivando a manutenção do tratamento terapêutico com a finalidade de alcançar os objetivos propostos que é a melhoria da condição não só sexual, mais em sua vida como um todo. Para finalizar, na conclusão mostra de uma maneira resumida o papel do psicólogo dentro do hospital, prestando maiores esclarecimentos aos pacientes enquanto sua nova condição da vida sexual, despertando uma sensação de apoio e de maior segurança, por estar sendo assistido por uma gama de profissionais com o objetivo comum, que é a promoção de sua saúde e bem estar. 9 CAPÍTULO 1 SEXUALIDADE 1.1 CONCEITO DE SEXUALIDADE A sexualidade pode ser definida como características morfológicas, fisiológicas e psicológicas relacionadas ao sexo. A OMS coloca a sexualidade da seguinte forma: A sexualidade é uma energia que nos motiva a procurar amor, contacto, ternura e intimidade; que se integra no modo como nos sentimos, movemos, tocamos e somos tocados; é ser-se sensual e ao mesmo tempo sexual; ela influencia pensamentos, sentimentos, ações e interações e, por isso, influencia também a nossa saúde física e mental. Importa destacar que a definição de sexualidade resulta de um conjunto que envolve sexo, gênero, identidades, orientação sexual, erotismo, prazer, intimidade e reprodução. Ambos são experimentados a partir de sua interação (PONTES, 2006). Na definição contemporânea, a sexualidade tem diversos níveis e aspectos. Um deles é o sexo biológico-reprodutivo que envolve todos os seres vivos. O outro é o nível psicossocial em que se constroem diferenças entre o sexo 10 masculino e feminino, constituindo-se os papeis sociais. Independente do nível, a sexualidade é uma área do saber polêmica, por envolver elementos de ordem religiosa e ética de diferentes universos sociais (NUNES, 2005). Quanto aos direitos sexuais, a OMS no ano de 2002 identificou os seguintes aspectos: 1) Acesso a serviços de saúde sexual e reprodutiva; 2) procurar, receber e partilhar informação relacionada com sexualidade; 3) educação sexual; 4) respeito pela integridade corporal; 5) escolher os seus parceiros; 6) decidir ser sexualmente activo ou não; 7) manter relações sexuais consensuais; 8) casamento consensual; 9) decidir se quer ou não e quando ter filhos; e 10) alcançar uma vida sexual caracterizada pela satisfação, segurança e prazer. A definição de sexualidade resulta de um amplo significado que se experiência durante o ciclo de vida, através de costumes, leis e moral, sendo moldada por fatores históricos. 1.2 IDENTIDADE E SEXUALIDADE A sexualidade é uma forma de expressão dos desejos e prazeres codificada nas múltiplas identidades de gênero que constituem o individuo socialmente. 11 Assim, a identidade forma grupos sociais que podem ser mulheres, homens, homoafetivos. Fonseca (2004, p. 24) repara: Conceito de identidade é um conceito relacional porque é através da socialização, ou seja, da convivência, que o indivíduo realiza suas identificações e diferenciações, iniciando um processo de configuração e reconfiguração de sua identidade, o qual não tem fim. Destaca-se que determinou como marca corporal a constituição do sujeito feminino e masculino, no entanto, outras representações surgem com nova linguagem, culturalmente específica, com desejos sexuais particulares, transpondo-se ao binarismo de gênero (LOURO, 1999). A aceitação de outra forma de sexualidade, se não o feminino e o masculino, é um produto do entendimento da identidade como destino, como resistência e como escolha. Esta última inicia-se quando o indivíduo se torna consciente de sua diferença para com os outros. Em seguida começa a sentir essas diferenças no mundo social. A partir de então reconhece a si mesmo e aceita os seus sentimentos e estilo de vida (WEECKS, 2000). Verifica-se, deste modo, que há grande intenção das considerações teóricas sobre a identidade sexual, visando estabelecer uma fundamentação sólida e segura, enquanto preocupação ou cuidado para com o outro humano. 12 1.3 DISFUNÇÕES SEXUAIS As disfunções sexuais podem ocorrer tanto em mulheres como em homens. Define-se como qualquer tipo de desarranjo relacionado ao desejo sexual, tendo maior prevalência em mulheres (MENDONÇA; AMARAL, 2011). Na mulher cita-se o transtorno da excitação feminina que consiste em uma incapacidade persistente de manter uma resposta à excitação sexual não conseguindo consumar a atividade sexual. Inclui-se também o vaginismo que se caracteriza por contração involuntária dos músculos do períneo quando há tentativa de penetração (MENDONÇA; AMARAL, 2011). Dentre os fatores psíquicos relacionados à disfunção sexual, Lara ET. AL (2008, p. 315) diz que: Estados depressivos e distúrbios psíquicos podem cursar com disfunção sexual. As tensões no trabalho têm impacto negativo na função sexual, especialmente em mulheres. Experiência sexual prévia negativa e traumas por violência sexual, como abuso sexual na infância e estupro, têm alto impacto negativo na função sexual. 13 No homem, citam-se como transtornos sexuais o desejo sexual hipoativo que se caracteriza por baixos níveis de fantasias e atividades sexuais; transtorno de aversão ao sexo em que se evita todo e qualquer contato sexual; transtorno erétil definido como: Impotência, diz respeito à incapacidade – periódica ou persistente – do homem conseguir ou manter a ereção até a finalização da atividade sexual. Este transtorno apresenta grande importância clínica, pois 36 a 53% dos homens recorrem a clínicas especializadas por conta do transtorno erétil masculino (LIDÁRIO; TATAREN, 2012, p. 21). Tem-se ainda o transtorno orgásmico quando à ausência ou demora excessiva de orgasmo durante a estimulação sexual; ejaculação precoce que se refere à estimulação mínima sexual; dispareunia que se caracteriza como uma dor durante a relação sexual (LIDÁRIO; TATAREN, 2012). Destaca-se que esses transtornos aqui citados, sistematizam os distúrbios sexuais, relacionados à libido, ereção, ejaculação e ao orgasmo. 14 CAPÍTULO 2 INSUFICIÊNCIA RENAL CRÔNICA 2.1 DEFINIÇÃO A doença renal crônica – DRC está definida por alterações na taxa de filtragem glomerular mantidas pelo menos por três meses. Se o diagnóstico for realizado precocemente poderá o indivíduo ser encaminhado para o nefrologista possibilitando pré-diálise e medidas preventivas para o retardo ou interrupção da progressão para estágios avançados de IRC (BASTOS; KIRSZTAJN, 2011). A insuficiência renal crônica – IRC, por sua vez, se define quando a taxa de filtragem glomerular fica menor que 60mL/min/1,73m² por mais de três meses independente de ter ou não lesão renal (BORTOLOTTO, 2008). A IRC é definida como a perda definitiva das funções renais, no qual o tratamento impõe ao paciente, restrições intensas com várias manifestações psíquicas e comportamentais (MACIEL, 2002). Considera-se a insuficiência renal crônica como o resultado final do comprometimento da função renal por doenças que acometeram os rins, sendo necessária adesão ao tratamento que em geral se dá por meio hemodialítico. Explica-se que os rins são fundamentais para a manutenção da homeostase do corpo e se houver uma redução da função renal, consequentemente comprometerá os outros órgãos. Dentre aqueles que têm maior suscetibilidade para IRC cita-se: 15 1. Hipertensos: A hipertensão arterial é comum na DRC, podendo ocorrer em mais de 75% dos pacientes de qualquer idade; 2. Diabéticos: Os pacientes diabéticos apresentam risco aumentado para DRC e doença cardiovascular e devem ser monitorizados frequentemente para a ocorrência da lesão renal; 3. Idosos: A diminuição fisiológica da FG e, as lesões renais que ocorrem com a idade, secundárias a doenças crônicas comuns em pacientes de idade avançada, tornam os idosos susceptíveis a DRC; 4. Pacientes com doença cardiovascular (DCV): A DRC é considerada fator de risco para DCV e estudo recente demonstrou que a DCV se associa independentemente com diminuição da FG e com a ocorrência de DRC; 5. Familiares de pacientes portadores de DRC: Os familiares de pacientes portadores de DRC apresentam prevalência aumentada de hipertensão arterial, Diabetes mellitus, proteinúria e doença renal (BASTOS, et. al, 2010, p. 249). Na insuficiência renal o rim mantém suas múltiplas atividades homeostáticas com adaptação dos néfrons remanescentes até a fase avançada da doença (MACIEL, 2002). Além de filtrar o sangue, os rins são importantes na manutenção discoquímica do organismo, bem como exerce funções de glândula endócrina produzindo eritropoietina e forma ativa de vitamina D. Sá (2008, p. 16) explica o seguinte: 16 O funcionamento inadequado dos rins, ou seja, a insuficiência renal pode levar o indivíduo à morte. Tal insuficiência ocorre quando, por algum problema, o rim deixa de filtrar o sangue e é caracterizada pelo aumento da uréia, proteína eliminada pela urina e que, na IRC, fica acumulada, no sangue, o que leva a um conjunto de sinais e sintomas chamado de uremia ou síndrome urêmica. Por ser uma perda progressiva, a IRC se dá de forma lenta podendo ser avaliada por medida de clearance de creatinina em urina de 24 horas, onde em casos avançados a filtração pode reduzir em até 10-5 ml/min sendo necessário tratamento dialítico ou transplante renal (DRAIBE; AJZEN, 2015). 2.2 EPIDEMIOLOGIA Dados do Ministério da saúde informam que entre os anos de 1990 a 2007 o número de mortalidade por doenças crônicas não transmissíveis é de 34,3%, sendo que destas a IRC tem maior prevalência. A população idosa (acima de 60 anos) tem maior índice de IRC do que grupo etário menores de 30 anos de idade (SAMPAIO, et. al, 2011). No que se refere às causas de IRC, a Sociedade Brasileira de Nefrologia apontou como fatores principais a hipertensão arterial, glomerulonefrite e diabetes mellitus. A tabela abaixo explicita os dados: CAUSA N % Glomerulonefrite 666 23,5 17 Hipertensão 684 24,1 Diabetes Tipo 1 71 2,5 Diabetes Tipo 2 399 14,1 Nefrite intersticial 81 2,9 Rins policísticos 78 2,7 Uropatia obstrutiva 86 3,0 Outros 321 11,3 Desconhecida 453 16,0 TOTAL 2839 100,0 Doença renal primária. Fonte: Adaptado de Sociedade Brasileira de Nefrologia, 1996. A Sociedade Brasileira de Nefrologia apontou que no ano de 2008, 87.044 pacientes se encontravam com IRC em tratamento hemodialítico no Brasil, sendo que 57,4% pertenciam a região Sul do país e em menor número (19,1%) estavam na região nordeste (SAMPAIO, et. al, 2011). No ano 2000, 68.467 pacientes realizaram no Brasil terapia renal substituta, onde 8.501 foram à óbito e 1.190 perdidos no acompanhamento até o final do ano 18 de 2004. Conforme tabela abaixo, tem-se a prevalência, incidência e letalidade de pacientes submetidos a terapia renal substitutiva entre os anos de 2000 e 2004 no Brasil: Fonte: CHERCHIGLIA, ET. AL, 2010. Verifica-se aumento de 5,5% entre os anos de 2000 a 2004 na prevalência de pacientes em terapia renal substituta. Realizaram diálise no Brasil entre os anos 200 e 2004, 90.356 pacientes, onde destes, 7% realizou transplante renal e 42% foram à óbito (CHERCHIGLIA, ET. AL, 2010). Pacientes incidentes em hemodiálise, 10% iniciou TRS tendo como acesso a fístula arteriovenosa. Em DP, 28% realizou os procedimentos de treinamento indicados à entrada em tratamento. Ao final do período de acompanhamento, 47% dos pacientes em DP e 42% em hemodiálise foram a óbito, devido principalmente a diabetes mellitus e doenças cardiovasculares. O tempo médio de permanência dos pacientes em TRS foi semelhante para ambas modalidades (CHERCHIGLIA, ET. AL, 2010, p. 645). as 19 No ano de 2006, o Brasil teve o índice de 383 pacientes por diálise por milhão da população (pmp), onde cerca de 5% destes faziam tratamento utilizando medicamentos de grupo ou seguros particulares, o que não se computa nas estatísticas governamentais. Destaca-se que 26% dos pacientes em diálise têm mais de 60 anos de idade. A tabela abaixo apresenta um apanhado de pacientes em diálise no Brasil entre os anos de 1994 a 2006: Fonte: Sesso, 2006. O último censo realizado pela SBN foi no ano de 2013, apontando para 50.961 pacientes em diálise. O gráfico abaixo demonstra a distribuição percentual de pacientes em diálise conforme a faixa etária. 20 Fonte: Censo da Sociedade Brasileira de Nefrologia 2013 Conforme pode ser visto, há uma maior prevalência entre pacientes entre 19 a 64 anos e de 65 a 80 anos. Em menor número está o grupo etário de 1 a 12 anos. 2.3 HEMODIÁLISE Pacientes diagnosticados com IRC devem realizar tratamento conservador ou dialítico imediatamente para evitar complicações, dentre eles está a hemodiálise que é um tipo de tratamento de diálise mais utilizada no Brasil, sendo realizada por meio de um acesso vascular permitindo um fluxo sanguíneo elevado 21 para que seja transportado até um filtro capilar através de um circuito de circulação extracorpóreo para ser purificado e em seguida retornar ao corpo por meio do acesso vascular. O sangue retirado de uma artéria é continuamente circulado através de uma diálise, no qual é purificado e retorna a uma veia. Geralmente utiliza-se a artéria radial e a veia cefálica (MACIEL, 2002). A hemodiálise está indicada sempre que houver paralisação da função renal, que pode ser classificada como Insuficiência Renal Aguda (IRA), quando ocorre de forma súbita e geralmente reversível e Insuficiência Renal Crônica (IRC) quando se instala de forma lenta e progressiva acarretando danos permanentes aos rins (MOYSÉS NETO et al, 2000, p. 343). Esse procedimento é realizado em média três vezes por semana em um período de três a quatro horas, devendo ser prescrito por nefrologista e administrado por enfermeira ou técnico em ambiente especializado. Sobres esta questão Madeiro et. al (2010, p. 2) dizem o seguinte: A adesão ao tratamento de hemodiálise é considerada bastante desgastante, por ser realizado três dias por semana, durante quatro horas/dia, necessitando de transporte; sabe-se que as atuais condições das estradas brasileiras são precárias, sendo um fator de estresse para os 22 pacientes renais crônicos, dificultando a realização do tratamento hemodialítico. É primordial evitar riscos ao paciente à infecções realizando assepsia do local de acesso e cateter e aderência à dietas e uso de medicamentos prescritos (ARREDONDO et al., 1998). Sugere-se a utilização da metodologia de blunde para redução de infecção primária de corrente sanguínea laboratorial associada ao uso de cateter venoso central, sendo entendida como uma prática clínica formada por um conjunto de intervenções com cuidados específicos incluindo vigilância constante, educação da equipe de saúde, treinamento e estratégias de prevenção de infecção de corrente sanguínea. Destaca-se a importância da higienização das mãos com aplicação de gluconato de clorexidina como antisséptico, uso de barreira de máxima precaução e evitar acesso a veia femoral. Pode-se utilizar tintura de iodo como antisséptico, porém este só é indicado no caso de contra indicações ao uso de gluconato de clorexidina. Se realizada corretamente a hemodiálise trará melhora rapidamente do edema generalizado, bem estar físico e controle de sintomas (DAUGIRDAS, 2003). A ação da equipe multidisciplinar exerce grande influência na resposta às necessidades de cada paciente, que se torna difícil ou no mínimo complexa quando evidenciadas situações de dependência, medo, dor extrema, solidão e abandono. Nessas condições, a equipe de profissionais de saúde, além de habilidades técnicas precisa desenvolver competências de relacionamento 23 humano que possibilite empatia e a partir de então elaborar estratégias terapêuticas para um cuidado individual. Em situação de hemodiálise, tanto paciente como sua família estão fragilizados, pelo estado físico do paciente e emocional de sua família. Devido a esta situação em que se encontram paciente e família, o profissional de saúde deve atuar de forma clara e objetiva, com interatividade e dinamicidade desde que respeitadas a individualidade do paciente, proporcionando-lhe sensação de bem estar e conforto para sua família (AVANCI, et. al, 2009). 24 CAPÍTULO 3 VIDA SEXUAL DOS PORTADORES DE INSUFICIÊNCIA RENAL CRÔNICA (IRC) 3.1 ASPECTOS PSICOLÓGICOS DO PORTADOR DE IRC Vários sentimentos perturbadores surgem como raiva, ansiedade e depressão, devido à pequena expectativa de vida, medo da morte e de ser abandonado pelo companheiro (MEIRELES; GOES; DIAS, 2004). Dentre os problemas psíquicos, os portadores de doença renal sofrem a angustia da iminência da morte, sentindo a ameaça constante de perder o vínculo com a família e amigos, trazendo modificações nas suas relações pessoais, o que acaba refletindo na deturpação da imagem corporal dos pacientes (CASTRO; DIAS, 2007). A ansiedade do paciente é freqüente, pois a doença é percebida como ameaça à vida e à integridade corporal e 25 como interrupção do meio de sobrevivência, prejudicando a sua identidade de autoridade - muitas vezes necessária ao bem estar - e trazendo incerteza acerca do seu futuro (MEIRELES; GOES; DIAS, 2004, p. 170). Pacientes portadores de doenças crônicas passam por um processo de adaptação psicológica em que se utilizam estratégias racionais para o enfrentamento da doença, sendo importante manter relações harmônicas para a manutenção da saúde física e mental (SERRATE, 2013). A doença renal crônica acarreta no indivíduo alterações em sua vida desde o diagnóstico, englobando manifestações psíquicas, desequilíbrios psicológicos, interferindo no dia a dia tanto do paciente como de quem convive com ele (FASSBINDER, ET. AL, 2011). O paciente com IRC obriga-se a conviver diariamente com a ideia de que possui uma doença incurável, a partir do momento que passa a realizar hemodiálise, pois se depara com a realidade de uma forma de tratamento dolorosa, de longa duração, e que, além da própria evolução da doença, irá acarretar ainda mais prejuízos na sua funcionalidade, implicando diretamente na sua qualidade de vida (FASSBINDER, ET. AL, 2011, p. 456). Em geral o indivíduo fica em estado de alerta, tensão, ansioso e inseguro, com estresse contínuo, tendo a autoimagem prejudicada, bem como humor depressivo e sentimentos pessimistas (FASSBINDER, ET. AL, 2011). 26 A pessoa com insuficiência renal crônica vivencia uma brusca mudança no seu viver, convive com limitações, com um pensar na morte, com o tratamento doloroso que é a hemodiálise, [...] responsável por um cotidiano monótono e restrito, e as atividades desses indivíduos são limitadas após o início do mesmo, favorecendo o sedentarismo e a deficiência funcional, fatores que se refletem na vida diária do paciente (RESENDE, ET. AL, 2007, P. 94). É, portanto, necessário que as capacidades do paciente sejam estimuladas adaptando-o ao seu novo estilo de vida, de modo que assuma o controle do tratamento, melhorando o ajustamento biológico que para a psicologia refere-se ao estado desejável. É preciso que o ambiente seja compatível com as capacidades do paciente, evitando o surgimento do estresse por falta de equilíbrio entre a capacidade de adaptação e as alterações do corpo e do ambiente. Relações positivas com os outros engloba ter com estes uma relação de qualidade, calorosa, satisfatória e verdadeira; preocupar-se com o bem-estar do outro; ser capaz de manter relações afetuosas e agradáveis, sejam elas familiares, de intimidade ou de amizade (RESENDE, ET. AL, 2007, P. 94). 27 O paciente que está cronicamente doente se sente em conflito, com frustração e culpa geralmente expressando sentimentos negativos como a raiva, necessitando em maior grau da presença e apoio de familiares e amigos (SILVA, 2013). É importante que o paciente renal seja tratado de forma individual, reconhecendo e respeitando suas crenças, suas fragilidades, reação positiva da presença da família e amigos e desejo da presença constante dos seus e outras reações e sentimentos muitas vezes demonstrados em silêncio. Os cuidados com o doente com IRC exigem que o profissional tenha além de conhecimentos técnicos, habilidades que permitem a identificação de sintomas e necessidades, que vão além da situação física, pois nesta fase, o emocional e o espiritual são abalados. 3.2 QUALIDADE DE VIDA Desde o início da existência humana, a questão, Qualidade de Vida – QV tem se constituído em um desejo transformado em uma busca constante por uma vida saudável e prazerosa. Nesse sentido, qualidade de vida significa meio ambiente, paz, alimentação, saúde, moradia digna, educação de qualidade, lazer, transporte, liberdade, trabalho, autoestima, segurança, mobilidade urbana, água com qualidade, energias confiáveis, tecnologia ao alcance de todos, relações sociais, entre outras. O tema “Qualidade de Vida” vem sendo motivo de estudos de diversas áreas como sociais, filosóficas e políticas. Para Fleck et al. (1999), Bittencourt et al. (2004) qualidade de vida é um movimento dentro das ciências humanas e 28 biológicas, no sentido de valorizar parâmetros mais amplos como a diminuição da morbimortalidade, análise de intervenções terapêuticas e grau de satisfação do indivíduo nas várias esferas de sua vida. De acordo com Neri (1997) no início, o conceito de qualidade de vida era usado por profissionais de saúde, relacionando-o com preocupações voltadas para sobrevivência dos recém-nascidos, e atendimento de pacientes adultos e idosos altamente fragilizados ou terminais, depois foi se estendendo principalmente para as ciências sociais. Para os autores Minayo, Hartz e Buss (2000) as boas condições de saúde, os progressos políticos, socioeconômicos e ambientais influenciam favoravelmente a qualidade de vida. Para Paschoal (2000, p. 13): O processo de autoavaliação da qualidade de vida é intrapsíquico complexo, abrangendo julgamentos, emoções e projeções para o futuro. Fatores ambientais e pessoais, negativos e positivos, saúde e doença, o físico, o mental e o social, tudo é processado pelo indivíduo, determinando o “como” e o “quanto” ele valoriza sua vida. Portanto, cada pessoa tem a sua visão do que foi sua vida, como ela está e quais suas expectativas para o futuro. Para a literatura, “qualidade de vida” possui diversas definições ao considerar que é multidimensional, subjetiva, dependente de autoavaliação, e é 29 extremamente variável e sensível ao tempo. Tais conceitos são bastante utilizados pelas políticas públicas em seu propósito para um envelhecimento bem sucedido. De acordo com Who (1994), qualidade de vida em geral é vista de forma diferente pelas pessoas, ou seja, varia de acordo com a percepção de cada uma. González (2007) afirma que a qualidade de vida se define como a percepção do indivíduo sobre sua posição na vida, dentro do contexto cultural, do sistema de valores em que vive e com respeito às suas metas, expectativas, normas e preocupações. Em pacientes renais crônicos, a qualidade de vida em pacientes renais crônicos em tratamento dialítico é um dos fatores que merecem mais atenção, implicando em queda do bem estar do indivíduo tendo em vista as conseqüências dos sintomas, limitações da doença e da hemodiálise (NÓRA, 2009). Silva; Coelho e Diniz (2012), em seu estudo identificaram que portadores de IRC melhoraram sua qualidade de vida após modificar o tratamento de hemodiálise convencional de três vezes por semana para diariamente, incluindo melhora de energia, força, resistência e bem estar em geral. Pacientes com IRC sofrem alteração no peso e apetite, boca seca, constipação e distúrbios do sono. Além disso, a redução do convívio social ocorre pelas limitações do tratamento, fazendo com que ele comece a se sentir inútil, ocorrendo a redução da libido, impotência, e perda da autoestima (MEIRELES; GOES; DIAS, 2004). A Insuficiência renal crônica- IRC se comparada com outras doenças crônicas está entre as que geram maior impacto na qualidade de vida- 30 QV do indivíduo. Com o tratamento e progressão da doença a ocorrência de limitações e prejuízo no estado mental, físico, funcional, assim como no bem estar geral e nas interações sociais é cada vez mais frequente na vida do paciente. Fato decorrente de fatores como, modificação alimentar e de hábitos, esquema terapêutico, convívio com doença incurável, dependência a uma máquina, modificação da aparência corporal devido à presença da fistula arteriovenosa, além de exercer efeito negativo sobre os níveis de energia e vitalidade (SILVA, 2013, P. 9). Neste sentido, as variáveis que mais interferem na qualidade de vida são a dor física, necessidade de tratamento médico com dependência da equipe médica de saúde e da família, além da falta de energia e disposição durante o dia a dia em decorrência dos sintomas e complicações da doença (SERRATE, 2013). A qualidade de vida dessas pessoas começa no propósito daqueles que cuidam, quer sejam membros da família ou profissionais remunerados, que o vejam como o ser capaz de ter independência e autonomia, mesmo com certas limitações. Autonomia significa dizer que um indivíduo possui plenas condições de viver em sociedade, podendo fazer escolhas, permitindo a superação das perdas e limitações provocadas pela doença. Porém a autonomia depende do nível de consciência do doente. Todas as informações devem ser passadas para que possa decidir (OLIVEIRA; SILVA, 2010). 31 A autonomia permite ao paciente sua decisão em relação ao seu tratamento bem como sua interrupção. Kovacs (2003, p. 115) ressalta que: Para isso é importante que o doente seja esclarecido quanto ao processo da doença e suas condições de vida, para que ele esteja apto a tomar decisões diante das opções existentes. Neste contexto, pessoas acometidas por IRC apresentam necessidades diferentes dos outros pacientes, carecendo de que diferentes profissionais de saúde motivem-nos para uma maior adesão ao tratamento, estimulando o exercício da autonomia, de modo a assumir responsabilidade pela própria saúde, evitando que estes deleguem todos os seus problemas para os profissionais e familiares. 3.4 DISTÚRBIOS DA SEXUALIDADE DO PORTADOR DE IRC Homens e mulheres com IRC sofrem problemas na função sexual, tendo sido associada frequentemente à disfunção erétil, falta de libido e infertilidade, cujos mecanismos decorrem da baixa taxa de progesterona, diabetes melito, insuficiência vascular, estresse psicológico e outros (SMITH; TANAGHO, 2014). Explica-se que em portadores de IRC, os níveis de testosterona total e livre são 32 reduzidos, havendo redução da resposta ao estímulo de liberação da testosterona com administração de gonadotrofina coriônica humana (HCG) (BARROSO, 2007). Pacientes masculinos com insuficiência renal crônica – IRC, apresentam em geral disfunção erétil que é definida como incapacidade de obter ou manter ereção suficiente para um bom desempenho sexual, envolvendo fatores orgânicos e psicológicos, decorrendo de limitações impostas pelo tratamento dialítico (NÓRA, 2009). Estas anomalias são em princípio de natureza orgânica, relacionadas não só com a uremia, mas também com outras condições frequentemente associadas à insuficiência renal. Fatores psíquicos e sociais podem também estar também presentes, motivados não só pela perda da qualidade de vida inerente à IRC como pelas alterações da atividade sexual surgindo na maioria das vezes em idades jovens. Estes fatores vão agravar ainda mais a disfunção sexual e particularmente a disfunção erétil (DE) (MORALES; ROLO; SÁ, 2001, p. 36). Homens portadores de insuficiência renal crônica em diálise ou não tem nível de fertilidade reduzida pela metade, no qual a qualidade do sêmen é pobre, o volume ejaculado é baixo e a densidade e motilidade espermática são diminuídas. Isto se deve ao dano à espermatogênese com eficiência hormonal (BARROSO, 2007). As causas da disfunção erétil dividem-se em orgânica e psicogênica, sendo que fatores de risco como idade, tabagismo, diabetes, depressão e insuficiência 33 renal crônica são considerados como principais. O fato é que a disfunção erétil impacta na qualidade de vida tanto do homem como de sua parceira, afetando negativamente a sua autoestima e relacionamento interpessoal. Pacientes transplantados sofrem com disfunção erétil devido a redução do suprimento sanguíneo para corpos cavernosos, má função do enxerto, efeitos colaterais de imunossupressores, indução de hipertensão, medicações e aumento do tônus simpático (BARROSO, 2007). Distúrbios na função sexual são uma característica comum de pacientes com insuficiência renal crônica. Aproximadamente 50% de homens urêmicos têm disfunção erétil e um percentual ainda maior apresenta diminuição da libido e um declínio importante do número de relações sexuais. A gênese da disfunção sexual é multifatorial e primariamente, de origem orgânica. Em adição, à própria uremia, a neuropatia periférica, insuficiência autonômica, doença vascular (diuréticos, periférica, anti-hipertensivos), e terapia todas têm farmacológica um papel importante na gênese deste problema. Acrescente-se ainda o estresse psicológico e físico tão comum nesta situação (BARROSO, 2007, p. 20). Pacientes portadores de IRC sofrem alterações nas quatro fases da resposta sexual, desejo, excitação, orgasmo e resolução, fazendo com que se reduza o interesse e a atividade sexual, principalmente quando há ocorrência de dor durante o ato sexual (MARQUES, 2006). 34 O excesso de medicamentos utilizado durante o tratamento, a aparência modificada, fistula, cicatrizes e outros provocam problemas na sexualidade fazendo com que o indivíduo se sinta diferente em relação ao seu parceiro. 35 CONCLUSÃO A partir deste estudo verificaram-se pontos importantes relacionados à sexualidade dos pacientes portadores de insuficiência renal crônica. Abordaramse aqui também as disfunções sexuais femininas e masculinas, relatando os fatores psíquicos, patológicos e estressantes envolvidos. Portadores de IRC ao realizar tratamento hemodialítico sentem as limitações, carecendo de intervenção multidisciplinar, incluindo psicólogos para melhor adesão do paciente ao tratamento dialítico, atuando na sua reestruturação psíquica, almejando a melhoria da qualidade de vida e resgate do bem estar. Analisou-se que os pacientes têm uma percepção de sua doença como um processo que levará à sua morte, desencadeando sentimentos negativos, estresse, medos e fantasias. É importante, pois o apoio dispensado tanto pela equipe de saúde como por familiares e amigos dando-lhe apoio emocional e segurança, estimulando para que os pacientes se sintam tranqüilos, além de fortalecer o vínculo durante o tratamento. Chegou-se aqui ao entendimento de que a IRC é a perda irreversível da função renal, e o seu tratamento ocasionam transformações profundas no cotidiano do paciente, trazendo desgaste físico e psíquico. Ficou constatado que o tratamento de hemodiálise impacta na qualidade de vida dos pacientes, devendo a assistência prestada ser qualificada para agir de acordo com os princípios da integralidade e humanização, de modo a promover a reabilitação do indivíduo portador de IRC. 36 Espera-se que esta pesquisa possa estimular as reflexões acerca das alterações sexuais em indivíduos portadores de IRC, alertando para o cuidado integral em saúde. Acredita-se que o estudo tenha contribuído de forma satisfatória para o entendimento do assunto. 37 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALVES, Bianca Moreira; PITANGUY, Jacqueline. O que é feminismo. São Paulo: Editora Brasiliense, 1981. ARREDONDO A.; RANGE, R.; ICAZA E. de. Costo-efectividad de intervenciones para insuficiência renal crônica terminal. Rev. Saúde Pública. São Paulo, 32 (6): 556-65, 1998. BARROSO, Leocácio Venicius de Sousa. Avaliação da função sexual e reprodutiva de homens em hemodiálise e transplantados renais (Estudo Piloto). 147 f. : il. 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