Ensino da criatividade: caminhos desenhantes na educação especial Arlei Peripolli Mestrando em Educação Especial / Altas Habilidades/Superdotação / UFSM – RS; Professor da Rede Municipal de Ensino, na Escola “Nossa Senhora da Conceição”, de Santa Maria – RS, e Tutor no Curso de Formação de Professores para Atendimento Educacional Especializado / UFSM – RS. E-mail: [email protected] ; Soraia Napoleão Freitas Prof. Dra. do Dep. de Educação Especial / UFSM, vinculada ao Programa de PósGraduação em Educação-UFSM – RS. Introdução Esta pesquisa abordou a temática: criatividade enquanto construção de caminhos desenhantes na educação especial, mesmo reconhecendo que a sociedade a vê como elemento ilustrativo, como adorno na prática pedagógica escolar e não como uma aliada na construção do pensamento criativo e na maneira como ela pode ser estimulada. Percebe-se que o estímulo à criatividade foi o eixo estrutural que se entrecruzou nas mais diferentes áreas do ensino escolarizado. Isto é, tal estímulo passou a ser entendido como produção de conhecimento e saberes na educação especial. O objetivo da pesquisa consistiu em apresentar a criatividade enquanto caminhos desenhantes na formação de professores em educação especial e no atendimento especializado em escola comum. Esta encontrou a sua justificativa quanto à relevância, considerando a importância do tema para a comunidade acadêmico-educacional, assim como a necessidade de estudos que elucidem as concepções atuais sobre o conceito, enfatizando que este tem sido abordado em diferentes áreas do conhecimento. Desenvolvimento Para a concretização desta investigação, adotou-se um caminho chamado metodologia, do qual se destacaram os tipos de pesquisa utilizados e o método. A pesquisa se caracteriza como bibliográfica porque os levantamentos das principais contribuições teóricas, que envolveram o problema, foram “filtrados” através da consulta de materiais 1 publicados em periódicos, jornais, revistas, livros, monografias, artigos, etc. Descritiva porque sua finalidade foi observar, registrar e analisar os materiais publicados. O método de abordagem utilizado, nesta investigação, foi o qualitativo, porque se fez uso de análise de aspectos subjetivos dentro das leituras realizadas. A capacidade criativa do ser humano se desenvolve em resposta aos novos paradigmas e situações que a sociedade contemporânea vivencia. O pensamento criativo é fundamental para o desenvolver de uma concepção ampla e ativa nas múltiplas interações com as infinitas situações presentes no mundo cada vez mais complexo. Considerando, então, a criatividade como parte de um processo de formação da personalidade, o professor de educação especial, atuando diretamente com os alunos com necessidades educacionais especiais, deverá despertar os elementos para o desenvolvimento do comportamento criativo. A criatividade é uma das possibilidades de auto-realização do ser humano, e pode ser incentivada, provocada por diversos fatores tanto sociais quanto culturais. Ou seja, ela não se ensina. Os alunos com necessidades educacionais especiais devem ser ‘expostos’ ou provocados pelo contexto. Os professores - principalmente os que atuam na educação especial - que se sobressaem em criatividade na sua atividade profissional, possuem, segundo os pensamentos de Martinez (2003), uma maior sensibilidade para a inovação e a mudança, o que lhes possibilita uma visão muito clara das possíveis expressões de criatividade de seus alunos, sendo mais condescendentes com muitos comportamentos atrelados à expressão criativa e tendo maior abertura para investir tempo e esforço em atividades que estimulem o desenvolvimento da criatividade. Ao professor de educação especial compete perceber e dar condições para o aluno evitar o fútil, o senso comum. Nesse sentido, a responsabilidade do professor é enorme: sobre ele recai a tarefa única de convidá-lo a adentrar no universo da sensibilidade e da experiência criadora. Conforme Fleith (2001) afirma, o professor estimulador do ato criativo em ambiente escolar é aquele que possibilita o ato de pensar ao aluno, para que ele desenvolva idéias e pontos de vista próprio, sabendo fazer escolhas; valorizando o ato da criação; aproveitando o erro como etapa do processo de aprendizagem; considerando os interesses, habilidades e oportunizando aos mesmos o despertar da consciência de seu potencial criativo. 2 A criatividade na escola comum ainda não legitima um modelo de aprendizagem em relação direta com a realidade. A desvalorização desta é uma herança cultural: a criatividade, que se encontra em um plano inferior em relação ao inteligível. Assim, Alencar (1998, p. 14) nos diz: “A criatividade depende também em larga escala das características do ambiente interno, como práticas interpessoais, sistemas de normas e valores, presença de incentivos e desafios, que podem estimular ou obstruir a criatividade”. Assim, esse tipo de educação para a criatividade provoca diferentes estilos de pensar e aprender dos alunos com necessidades educacionais especiais, o que determina a utilização de estratégias variadas de ensino-aprendizagem. Não basta uma educação assentada em um único jeito de ensinar e de aprender. É necessário compor um espaço plurissignificativo, com infinitas possibilidades de experiência do mundo, que permitem ao aluno a aventura do seu existir enquanto caminhante e construtor de seu múltiplo e significativo conhecimento, mesmo apresentando limitações no seu desenvolvimento. Os atendimentos especializados na escola comum devem estimular o pensamento criativo desenvolvendo e utilizando os talentos e habilidades dos alunos e de todos os que os cercam, motivando-os a darem asas à imaginação, empreendendo suas idéias e soluções criativas para diferentes situações. Ou como diz Virgolim (1998, p. 10): “Os exercícios de criatividade propiciam uma abertura da sala de aula para a expressão do pensamento divergente, influindo no aumento da auto-estima dos alunos e na satisfação do aluno com o sistema escolar”. É de suma importância que os ambientes escolares viabilizem, aos alunos com necessidades educacionais especiais, diferentes alternativas para a expressão e a ampliação do potencial criador, pois criar é algo inerente ao ser humano, estamos criando e inventando a todo o tempo. Todos nós possuímos um potencial criativo e habilidades e talentos para inovar e inventar, sendo que as emoções, sensações e os sentimentos, muitas vezes, constituem-se em elementos propulsores para o ato criativo e estimulador da aprendizagem. Dessa maneira, é importante abrir-se à convivência com as diferenças como forma de aparecimento de distintos atos criativos, cada um, com suas idiossincrasias, desenvolve suas habilidades criativas e coopera com o processo educacional de maneiras diferenciadas. Nesse aspecto, um ambiente escolar que aprecie cada aluno com necessidades educacionais especiais, envolvido em seu contexto, tem probabilidades de 3 oferecer uma educação de qualidade e estimular a criatividade, o que irá proporcionar a constituição de cidadãos conscientes de seu encargo social. Não obstante, devemos, seguindo Alencar e Martinez (1998, p. 31), levar em conta também que o: “[...] desenvolvimento da criatividade na educação passa necessariamente pelo nível da criatividade dos profissionais que nele se encontram”. Portanto, o que caracteriza um professor de educação especial comprometido com o desenvolver da criatividade não é a sua ciência dos métodos, mas a confiança que têm sobre os alunos com necessidades educacionais especiais e sobre si mesmo, pois, conforme Martinez (2003, p. 185): “[...] o professor criativo é capaz de transmitir e extrair de seus estudantes vivências emocionais positivas em relação à sua matéria, ao processo de aprendizagem e às realizações produtivas”. Logo, cooperar com o desenvolver da criatividade supõe mudança de paradigmas dos professores de educação especial que exigem certo grau de criatividade, no entanto, muitos destes não estão preparados para atuar com o desabrochar do processo criativo em sala de aula; conseqüentemente, têm dificuldades em identificar, avaliar e promover os atos de criação. No entanto, quando este constrói sua prática pedagógica de maneira lúdica e afetiva, que instigue o ato de criação, o ensino-aprendizagem se torna mais fácil, privilegiando a construção do conhecimento enquanto exercício do sensível olhar pensante do aluno com necessidades educacionais especiais. Conclusão Através da pesquisa, os conceitos analisados refletem as concepções relativas ao papel da educação através do desenvolvimento da criatividade como um dos objetivos do ensino enquanto proposta para um caminho desenhante no atendimento de educação especial que reflita, construa, aprenda e apreenda o “aprender fazendo”, como elemento significativo no processo de construção constante do conhecimento criativo. É possível concluir que o ato de criar e ser criativo depende do desenvolvimento e do estímulo de maneira a possibilitar a estruturação de um conhecimento que habilite o aluno a produzir a sua própria representação do sensível fazer, nos mais diferentes ambientes. Assim, propõe-se que o professor de educação especial se esforce para cumprir seu papel de fornecer experiências novas, instigantes, que despertem a curiosidade dos alunos e da comunidade escolar para que estes, em conjunto, possam buscar soluções originais para os problemas que estão emergindo em decorrência das exigências da modernização dos tempos. 4 O professor de educação especial, para mobilizar seus alunos com necessidades educacionais especiais a se tornarem pessoas mais criativas, pode utilizar uma prática pedagógica mais aberta, flexível, contextualizada, desafiadora, heterogênea, polifônica, de modo a favorecer o ato criativo. Enfim, espera-se que esta pesquisa possa alimentar discussões e fomentar grupos de educadores que acreditam, através da criatividade, que possam promover uma mudança substancial no ensino realizado no nosso país, optando por uma educação criativa voltada para o sensível fazer constante que existe dentro de cada um. Referências bibliográficas ALENCAR, Eunice Soriano. Gerência da criatividade. São Paulo: Makron Books, 1998. ______________________.; MARTÍNEZ, A. M.. Barreiras à expressão da criatividade entre profissionais brasileiros, cubanos e portugueses. Psicologia Escolar e Educacional, vol. 2, nº 1, p. 23-32, ISSN 1413-8557. 1998. FLEITH, Denise de S. Criatividade: novos conceitos e idéias, aplicabilidade à educação. Revista Cadernos de Educação Especial, Santa Maria, nº 17, pp. 55 - 61, 2001. MARTÍNEZ, Albertina Mitjáns. Criatividade, personalidade e educação. Campinas: Editora Papirus, 2003. VIRGOLIM, Angela M. R. (Org).. Toc, toc,... plim, plim: lidando com as emoções, brincando com o pensamento através da criatividade. Campinas: Editora Psy, 1998. 5