UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE - UNESC CURSO DE PSICOLOGIA MANOEL ROZENG DA SILVA UM ESTUDO SOBRE A DROGADIÇÃO E OS MODELOS DE TRATAMENTO CRICIÚMA, JUNHO DE 2009 2 MANOEL ROZENG DA SILVA UM ESTUDO SOBRE A DROGADIÇÃO E OS MODELOS DE TRATAMENTO Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado para obtenção do grau de Bacharel no curso de Psicologia da Universidade do Extremo Sul Catarinense, UNESC. Orientadora: Profª. Myrta C. G.Jaroszewski CRICIÚMA, JUNHO DE 2009 3 MANOEL ROZENG DA SILVA UM ESTUDO SOBRE A DROGADIÇÃO E OS MODELOS DE TRATAMENTO Trabalho de Conclusão de Curso aprovado pela Banca Examinadora para obtenção do Grau de Bacharel, no Curso de Psicologia da Universidade do Extremo Sul Catarinense, UNESC, com Linha de Pesquisa em Tratamento para Dependência química. Criciúma, 26 DE JUNHO DE 2009. BANCA EXAMINADORA Profª. Myrta Carlota Glauche Jaroszewski - (UNESC) - Orientadora Airton Ferreira – Advogado - Delegado Prof. Manoel Mendes – Mestre - UNESC 4 Dedico este trabalho à minha mãe, minha esposa e meus filhos, aos meus professores que não mediram esforços para que um sonho se tornasse real. 5 AGRADECIMENTOS A realização de um sonho se traduz num objetivo alcançado com muitas dificuldades. Significa um momento de superação. Um momento em que se tem a certeza de que nunca estivemos sozinhos na caminhada. Que uma força emanada da fé, do amor, da solidariedade, da amizade entre as pessoas, nos reergue naquele momento em que pensamos que não vamos conseguir. Por isso, com a certeza de que em todos os momentos dessa jornada fui acompanhado, ajudado, estimulado a manter-me firme até o final, por uma grande força chamada Deus, e de seus importantes instrumentos: todos os professores, especialmente a minha orientadora Myrta Carlota Glauche Jaroszewski, profissional competente e sempre solícita; minha mãe Maria Rozeng da Silva, que dispensa qualquer justificativa; minha esposa Maria G.S da Silva, meus filhos Osvaldo, Graziela, Ariela e Emanoella, meu irmão Silvio Aparecido da Silva, sempre compreensivos e prontos para ajudar, e todos os colegas de curso, que nestes cinco anos tudo fizeram para que nossa convivência fosse melhor e o mais produtiva possível, tanto que está sendo coroada com pleno êxito. São os motivos pelos quais eu, impulsionado pelo mais profundo sentimento de gratidão, registro neste trabalho o meu sincero muito obrigado a todos, rogando a Deus que me permita, agora, ser este instrumento. 6 ESPAÇOS VAZIOS Se você conseguisse externar um sorriso para um jovem que chora, estender sua mão. Se você conseguisse chorar, se preciso para unir-se a um jovem em qualquer dimensão. Se você entendesse: que os tempos mudaram e que os jovens não param tentando impedir que o tempo vá. Se você vislumbrasse o sentido da vida Você responderia por certo “o que é que há? Se você mergulhasse um pouco mais profundo neste mar de conflitos da atual geração, muito mais que problemas , você encontraria carência de amor, em cada coração. Se você, sociedade, com mil preconceitos fosse mais coerente, mais justa e leal, se você fosse muito mais complacente sem querer exigir o que não pode dar, Haveria de ser muito mais compreendida muito mais temida, mais autêntica e real. Se você, ó família, pudesse conservar sempre abertos os caminhos da comunicação, sem ceder o comando, fosse mais compreensiva, fosse mais liberal e menos possessiva. Se você, mestre, amigo, fosse pai, tio, irmão. Tentasse descobrir o que vai na cabeça desse jovem que grita, protesta, reclama. E que ao tentar descobrir o mistério da vida Acaba por destruir aquilo que mais ama. Se o amor ocupasse o espaço dos vícios, a maconha seria atirada no chão. Drogas não abririam tantos precipícios e os jovens teriam um sorriso radiante como as águas serenas que correm nos rios e haveríamos de ver, o inverso de agora, só o amor ocupando os espaços vazios. (Autor desconhecido) 7 RESUMO O presente estudo, além do cunho informativo a que se propõe, visa pesquisar sobre modelos, regimes e técnicas de tratamento para as dependências criadas pelo uso abusivo de substâncias psicoativas; identificar e reunir as principais modalidades e técnicas usadas, assim como sua comprovada eficácia. Como conclusão deste trabalho, pretende-se disponibilizar, mesmo que de forma sucinta, o que os principais autores, principalmente no campo psicológico e social, apontam para o enfrentamento da problemática da drogadição. Palavras-chave: Alcoolismo. Drogadição. Dependência química. Substâncias psicoativas. Modalidades de tratamento. 8 LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1 – Tabaco......................................................................................................22 Figura 2 – Cafeína 1...................................................................................................24 Figura 3 – Cafeína Anídrica........................................................................................24 Figura 4 – Coca, Cocaína e Crack.............................................................................26 Figura 5 – Ecstasy..................................................................................................... 28 Figura 6 – Álcool 1......................................................................................................30 Figura 7 – Álcool 2......................................................................................................31 Figura 8 – Álcool 3......................................................................................................31 Figura 9 – Skank, Maconha, Haxixe...........................................................................34 Figura 10 - Ópio e Heroína.........................................................................................36 Figura 11 - Solventes e Inalantes...............................................................................37 Figura 12 - Barbitúricos..............................................................................................39 Figura 13 - Benzodiazepínicos...................................................................................40 Figura 14 - LSD..........................................................................................................41 Figura 15 - Cogumelos...............................................................................................43 9 LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Gasto com AIH relacionada aos transtornos mentais decorrentes do uso de álcool e outras drogas...........................................................................................34 Tabela 2 - Critérios Diagnósticos para Abuso de Substâncias..................................45 Tabela 3 - Critérios Diagnósticos CID 10..................................................................53 Tabela 4 - Critérios Diagnósticos DSM IV..................................................................54 10 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS OMS - Organização Mundial da Saúde LSD - Ácido Lisérgico Dietilamida MDMA- Metilene Dioxo Meta Anfetamina SNC - Sistema Nervoso Central DSM IV - Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais CID 10 - Décima Revisão da Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde NIDA - National Institute on Drug Abuse EM - Entrevista Motivacional DCU - (“Drinkers’ check-up” TCC - Terapia Comportamental-Cognitiva CBT - Cognitive Behavioral Therapy APA - Associação Americana de Psicologia AA - Alcoólicos Anônimos NA - Narcóticos Anônimos TC - Therapeutic Community Approach CC - Community Comparison BSFT - Brief Strategic Family Therapy MDFT -Terapia de Grupo para Adolescentes AGT - Adolescent Group Therapy MEI - Multifamily Intervention Education COMAD – Conselho municipal Antidrogas 11 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 13 2 DROGAS ................................................................................................................ 16 1.1 Conceitos ........................................................................................................... 16 2.2 Como Agem a Drogas ......................................................................................18 2.3 Classificação das drogas ................................................................................. 21 2.3.1 Quanto a sua origem ......................................................................................21 2.3.2. Quanto ao tipo e sua ação no cérebro ........................................................21 2.3.2.1 Estimulantes ................................................................................................22 2.3.2.2 Depressora / Narcóticas ............................................................................. 29 2.3.2.3 Perturbadora ou alucinógena ..................................................................... 40 2.3.3 Quanto ao aspecto legal ................................................................................ 44 2.4 Padrão de uso.................................................................................................... 44 2.5 Formas(vias) de uso..........................................................................................47 3 DEPENDENCIA ..................................................................................................... 48 3.1 Concepção da Genética sobre Dependência .................................................. 48 3.2 A dependência química do ponto de vista da psicologia ..............................51 3.3 A Compreênsão da dependencia do ponto de vista do meiosócioambiental .................................................................................................................................. 55 3.4 A dependência química na compreensão biopsicosocial .............................57 3.5 Personalidade do usuário de drogas...............................................................59 4. TRATAMENTO ..................................................................................................... 61 4.1 Modelos de tratamentos ...................................................................................63 4.1.1 Tratamento Psico-social ................................................................................ 64 4.1.2 Tratamentos Farmacológicos........................................................................ 64 4.1.3 Craft ................................................................................................................. 65 4.1.4 Modelo médico ...............................................................................................66 4.1.5 Modelo psiquiátrico........................................................................................66 4.2 Regimes de tratamento .....................................................................................67 4.3 Modalidades ou Abordagens Terapêuticas Psicossociais ............................67 4.3.1 Entrevista Motivacional(EM) .......................................................................... 68 4.3.2 Terapia Cognitiva-Comportamental(TCC) ....................................................70 12 4.3.3 Terapia Familiar ..............................................................................................72 4.3.4 Terapia dos 12 passos ...................................................................................73 4.3.5 Redução de danos..........................................................................................74 4.3.6 Terapia de grupo ............................................................................................75 4.3.7 Psicoterapia Individual Orientada para o “Insight” ..................................... 76 4.4 O Impacto do Tratamento das Dependências Químicas................................77 5 CONCLUSÃO ........................................................................................................ 82 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 87 13 1 INTRODUÇÃO O fenômeno do uso de drogas, tema do presente trabalho, permeia toda história humana. Apesar disso, suas consequências à saúde física psicológica e social do homem, têm chamado atenção apenas nos dois últimos séculos. Os avanços científicos no que se refere à ação destas substâncias no cérebro humano e, como conseqüência, no seu comportamento, tem demonstrado inúmeras constatações sobre os danos causados pelo uso indevido das drogas à integridade física e mental do indivíduo, frequentemente reveladas pelos estudiosos. O inegável avanço das ciências clínica, psiquiátrica e psicológica nesta área, nas últimas décadas, tem possibilitado um amadurecimento na compreensão desse fenômeno e na mudança tanto moral quanto médica, do conceito das dependências químicas, o que já justifica e demonstra a relevância do tema. Hoje o usuário já não é mais considerado apenas um mau caráter, um viciado, mas uma pessoa que precisa de tratamento, sendo uma doença reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS), requerendo atenção e necessários cuidados especiais. Suas conseqüências atingem não só o usuário, mas todos que o cercam e, consequentemente, toda sociedade, com prejuízos incalculáveis. Atualmente, entre 10 e 15% da população mundial sofre com algum tipo de dependência química. No Brasil são cerca de 25 milhões de pessoas, das mais variadas idades, sofrendo com o abuso ou dependência de substâncias. Os custos sociais ultrapassam o senso de valor, segundo estimativas, são bilhões de dólares ao ano. Exemplo disso são os Estados Unidos (USA) que, em 1997, gastaram cerca de 300 bilhões de dólares com problemas decorrentes do uso e tráfico de drogas. Segundo Ramos (2004), 10% das pessoas que fizerem uso de álcool, incluídos todo tipo de experiência “irá apresentar um uso nocivo de álcool e outros 10% se tornará dependente, o que vale dizer que, em cada cinco bebedores, um terá um agravo de saúde por ingerir bebida alcoólica” O mais grave: é uma doença que não tem cura. Em que pesem os avanços alcançados teórica e tecnicamente, e mesmo considerando os últimos 14 lançamentos farmacológicos, os resultados têm se mostrado extremamente tímidos, considerando a abstinência permanente ou mesmo por longo período Ramos (2004) afirma ao referir-se a autores como Paille et. al., que apenas 19,3% dos alcoolistas em processos terapêuticos permaneceram abstêmios ao longo de um ano, um percentual muito baixo considerando que muitos desses recairão, retornando ao padrão abusivo e dependente. Diante desse quadro, e diante dos estudos que serão apresentados ao longo deste trabalho, nossa convicção é de que a área da psicologia tem muito serviço pela frente, tem muita contribuição a dar. Por isso, se faz necessário pesquisar e estudar modelos de tratamento que efetivamente resultem em maior nível de resolutividade, o que foi o objetivo primordial desta pesquisa. Este estudo visa estudar o tema em seus mais variados aspectos e dimensões, principalmente, sobre modelos e regimes de tratamento para dependência química, atualmente estudados e pesquisados, oportunizando uma fonte de referências para auxiliar o leitor (a) que se dispuser a buscar melhor compreensão do contexto do dependente de substâncias, especialmente sob o olhar da psicologia. Este trabalho de caráter informativo/analítico, embasando-se em fontes de pesquisa de natureza bibliográfica analítica, (livros, artigos, revistas especializadas, etc.) caracteriza-se como pesquisa qualitativa do tipo exploratória. Para Gil (1999), a pesquisa exploratória visa aproximar o problema e as hipóteses de pesquisa, neste trabalho envolvendo apenas as fontes bibliográficas, resultantes de aprofundados estudos sobre as dependências. Por ser também, segundo Gil (1999), objetivo das pesquisas exploratórias ampliarem o nível de conhecimento sobre determinado problema, e suas fontes resolutivas. No primeiro capítulo apresentam-se as notas introdutórias, destacando-se o problema de pesquisa e objetivos do estudo e metodologia. No segundo enfoca-se o referencial teórico, destacando-se informações sobre drogas (histórico, conceitos, classificação, ação e conseqüências). O terceiro capítulo dá enfoque aos conceitos sobre dependências, e no quarto capítulo reúnem-se, à luz de renomados estudiosos no assunto, estudos sobre a eficácia dos modelos, regimes e abordagens para tratamentos das dependências, existentes atualmente. 15 Faz-se uma análise comparativa entre os modelos e modalidades de tratamento que apresentam melhores e mais efetivos resultados, alem de dados sobre a eficácia dos mesmos no sexto capítulo. 16 2 DROGAS 2.1 Conceitos Na história humana, fenômenos como o pensamento, a memória, os sentidos e a inteligência sempre intrigaram o homem, instigando-o a buscar uma explicação de como ocorrem tais processos. Muitos atribuíam a órgãos como o fígado e o coração, a fonte dessas misteriosas manifestações humanas, outros creditavam tais poderes aos deuses (PAULINO, 1999, p.1). Com o advento da ciência, foi possível ao homem descobrir que o cérebro, a mais complexa parte do corpo humano, formado por bilhões de celulas nervosas chamadas neurônios, que se comunicam entre si através dos neurotransmissores, substâncias químicas sintetizadas pelo também complexo organismo humano, é o verdadeiro responsável pelas intrincadas operações acima citadas. Operações estas que requerem alta produção energética, mais precisamente, um quinto de toda energia produzida pelo corpo (PAULINO, 1999, p.1). Esta, por sua vez, é gerada pela glicose ao ser “queimada” com o auxílio do oxigênio. O oxigênio é levado ao cérebro pelo sangue que não entra em contato direto com o cérebro, trabalho concluído por substâncias químicas com este papel. Devido à semelhança entre as substâncias endógenas com determinadas substâncias exógenas, ou seja, as drogas, ocorre o transpasse de uma barreira química existente entre o cérebro e o plasma sanguíneo, interferindo e alterando o funcionamento e consequentemente as atividades cerebrais. Este tipo de substância é denominada de droga psicotrópica. Derivado do grego psico tem sentido de mente, alma, espírito; trópico significa atração por. O termo “droga” em que pese sua origem discutível, a mais conhecida é a derivada do termo holandês droog (seco), que refere-se aos carregamentos de peixe seco que chegavam à Europa em más condições de consumo (Carneiro, 1994 apud, PAULINO, 1999, P.1). Sendo assim, por estar relacionado ao peixe estragado, leva a conclusão de que é algo ruim, impróprio para o consumo humano, pois pode acarretar danos à saúde. 17 Outros autores, ao referirem-se à etiologia do termo, também afirmam ser derivado do holandês antigo(droog), mas com significado de folha seca; isto porque antigamente quase todos os medicamentos eram feitos à base de vegetais. Na linguagem médica configura-se numa substância que, usada adequada e orientadamente, traz benefícios ao usuário sem risco considerável de criar dependencia, como por exemplo, alguns medicamentos usados para tratar depressão e quadros psicóticos. Enfim, substância que possa ser empregada, no homem ou em animais, com fim de diagnóstico, de tratamento ou de profilaxia de doença (AURÉLIO, 2003, s/p). Na linguagem popular compõe-se de significações subjetivas e negativas, coisa de pouco valor, enfadonha, desagradável. Na gíria: coisa ruim, imprestável; exclamação que exprime frustração no que se está fazendo. Resgatando a compreensão oficial na Roma antiga sobre o termo droga, de acordo com o encontrado na Lex Cornelina, lê-se o seguinte: “Droga é uma palavra indiferente, onde cabe tanto o que serve para matar como o que serve para curar, e os filtros de amor, mas esta lei só reprova o que for usado para matar alguém” (ESCOHOTADO, 2004, p. 31). Nessa era, no conceito da Organização Mundial da Saúde (OMS), droga, ou substância psicoativa, seja ela de origem natural, sintética ou semi-sintética, é “qualquer substância que, introduzida no organismo, possa modificar uma ou mais de suas funçôes.” Por exemplo, uma substância ingerida contrai os vasos sangüíneos (modifica a função) e a pessoa passa a ter um aumento de pressão arterial (mudança na fisiologia). Outro exemplo, uma substância faz com que as células do nosso cérebro (os chamados neurônios) fiquem mais ativas, "disparem mais” (modificam a função) e como consequência a pessoa fica mais acordada, perdendo o sono (mudança comportamental). Na verdade, droga, em seu sentido original e genérico, é um termo que abrange extensa quantidade de substâncias, do carvão à aspirina. Como afirma Carlini (2001, s/p), mais especificamente, sobre drogas de abuso, definindo-as como “[...] Qualquer substância (tomada por qualquer forma de administração) que altera o humor, o nível de percepção e o funcionamento do Sistema Nervoso Central SNC (desde medicamentos até álcool e solventes)”. 18 2.2 Como Agem a Drogas O processo de ação das drogas acontece em três níveis: físico, físicoquímico e químico, abaixo destacados (ABRIL, 1972, p. 1383). Devido a sua constituição, a primeira age sem reação, um processo apenas mecânico. Exemplo notado no revestimento superficial do corpo humano, basicamente constituido por substâncias quimicamente indiferentes. Seu papel consiste em atenuar ou impedir irritações provocadas na aplicação de drogas em forma de pó ou colóides que, ao solidificarem-se, formam tênue película protetora da pele. Outras agem nas células, a exemplo da dextrana, formando uma película em torno das hemácias, E uma terceira, por sua alta solubilidade, age em diferentes líquidos, sendo lipossolúveis (que se dissolvem nas gorduras) e hidrossolúveis (que se dissolvem na água). As drogas de processo físico-químico agem no papel de substância adsorvente (retenção), de forma a reter outras substâncias em sua superfície. Um exemplo de um processo físico-químico, ou seja, de um processo de adsorção é observado no carvão animal ou vegetal, finamente pulverizado e na forma ativada, pode ser usado como absorvente, a fim de impedir a absorção de tóxicos ingeridos. Outro exemplo se dá nos processos terapêuticos, com a aplicação das resinas sintéticas, especificamente as aniônicas, que são fixadoras de radicais ácidos, e as catiônicas, que são fixadoras de íons básicos. Em relação as drogas de ação química pode se constatar o exemplo do monóxido de carbono, que se combina de maneira estável com a hemoglobina do sangue, impedindo-a de realizar o transporte de oxigênio e gás carbônico. Nos processos acima esclareceu-se sobre a ação fisico-química da droga em todo corpo humano. Mas sobre a ação no Sistema Nervoso Central (SNC), vê-se que, para que estas produzam determinados efeitos, é necessário um conjunto de fatores como: constituição biológica do indivíduo, meio socioambiental , tipo de droga, forma de uso etc. Dentre os fatores ambientais de influência na ação e efeito das drogas se destacam a luz, pois, a exposição a essa radiação, possibilita a ocorrência de processos alérgicos, caso a substância administrada seja fotossensibilizante 19 (amarelecimento da pele de pessoas sob tratamento de mepacrina, substância antimalárica). Em indivíduos que se administrem drogas hipnóticas para indução de sono, a presença de ruídos pode dificultar a instalação deste. O ruído também pode provocar a ocorrência de convulsões em caso de intoxicação por estrecnina. O fator temperatura está relacionado às reações químicas entre substâncias celulares e a droga usada. Estas reações podem ser endotérmicas (absorvem calor) ou exotérmicas (desprendem calor), ocorrendo assim uma aceleração ou retardamento da ação da droga no organismo. Exemplo disso é a reação ocorrida em um animal sem variação de temperatura corporal (homeotermo); este, tendo uma intoxicação com estricnina, costuma ter convulsões no frio. Já a sensibilidade do sapo à adrenalina depende da umidade do ar para que essa ocorra. Outro aspecto de influência na ação e no efeito das drogas é a constituição biológica, ou seja, a espécie animal é determinante. Por exemplo, o homem e o cão respondem muito bem aos efeitos sedativos da morfina, no entanto, produz efeitos estimulantes quando administrada em gatos e cavalos . Também a inanição e a desidratação tornam o indivíduo mais receptivo aos efeitos das drogas; assim como a deficiência de proteínas, a predisposição à intoxicação hepática com clorofórmio e tetracloreto de carbono (ABRIL, 1972, p. 1384) O efeito de uma droga nem sempre é o mesmo com idêntica quantidade em diferentes indivíduos. E pode variar dependendo da presença de maior ou menor proporção de líquido e tecido gorduroso no corpo. A regra de quanto maior a dose, maior o efeito, se aplica até determinado limite de doses ingeridas ou administradas, não se variando mais a intensidade, a partir de determinada quantidade (ABRIL, 1972, p.1384) De acordo com Tiba (1999, p.117) “uma vez dentro do organismo, as drogas seguem um caminho químico pré-estabelecido, independentemente da vontade de quem a consumiu”. No cérebro, segundo este mesmo autor, “as drogas competem com alguns neurotransmissores, imitam outros e, assim, desequilibram seus sistemas funcionais, interferindo em toda a atividade orgânica.” Ainda com relação aos efeitos no cérebro, Teofrasto, discípulo de Aristóteles e autor do primeiro tratado documentado de botânica, referindo-se sobre a ação e aos efeitos da planta datura metel, disse: 20 Ministra-se um dracma se o paciente tiver apenas de se animar e pensar bem de si mesmo; o dobro se tiver de delirar e sofrer alucinações; o triplo se tiver de ficar permanentemente louco; ministrar-se-á uma dose quádrupla se tiver de morrer. (Hist. plant., IX, II, a C, apud ESCOHOTADO, 2004, p.24). . O efeito de uma droga quando em interação com outra pode sofrer alteração ou modificação em sua ação final. Dessa interação decorrem processos distintos, influenciando no resultado final, potencializando ou diminuindo seus efeitos, ou ainda ocorrendo inversão deste. Há também o que se chama de pseudosinergismo, a reação de duas drogas originando uma terceira substância, bem mais potente. Como exemplo, cita-se a amigdalina (glicosídeo extraído de amêndoas amargas), que ao ser administrada junto com a emulsina, desdobra-se e libera ácido cianídrico, letal para o animal. A ação ou efeito de substância também são conhecidos pelo Antagonismo químico(ou físico), farmacológico ou pseudoantagonismo. No primeiro ocorre a inibição de uma droga provocada pela reação com outra. No segundo ocorre o fenômeno do efeito contrário quando duas drogas agem sobre a mesma estrutura. Os casos mais comuns de antagonismo, porém, são os de competição, que surgem quando a ação de certa substância (antagonista) interfere no mecanismo de ação de uma droga, por apresentarem estruturas químicas semelhantes. E o terceiro, o pseudinergismo, se caracteriza pelo processo antagônico ocorrido antes da adsorção (fixação), impedindo a absorção da droga pelo organismo e consequentemente que esta exerça suas ações características. No processo de Inversão, usando como exemplo a ação da adrenalina sôbre o sistema circulatório, acontece o aumento da pressão sanguínea, resultado do efeito invertido pelos bloqueadores adrenérgicos. A ação das drogas também se caracteriza pelo indiferentismo, ou seja, apesar de ministradas conjuntamente agem isoladamente, causando indiferentismo farmacológico, por exemplo, “uma injeção de penicilina, que funciona como antibiótico”.(ABRIL, 1972, p. 1384) 21 2.3 Classificação das drogas Com o decorrer dos tempos, as drogas foram sendo melhor estudadas, catologadas e classificadas segundo sua origem, ação e legalidade. 2.3.1 Quanto à origem Para a Organizaçlão Mundial da Saúde, as drogas podem ser classificadas quanto a sua origem, em natural, semi-sintética e sintética natural: Estas caracterizam-se por drogas que podem ser consumidas sem necessariamente passar por qualquer manipulação de laboratório ou processo químico; exemplos de drogas naturais. Ex.maconha, chás (cogumelo, Santo Daime) cafeína, etc semi-sintética: São substâncias que necessitam passar por processo de elaboração, ou de modificação de sua fórmula, estrutura e composição. São drogas que necessitam de matéria prima natural vegetal ou mineral para o consumo. Ex. Cocaína, heroína, Álcool, Cigarro, mescalina, haxixe, DMT, ácido lisérgico dietilamida (LSD) etc. sintética: Constituem-se de drogas produzidas totalmente em laboratório, não necessitando de qualquer sustância natural para sua composição. Ex. anfetaminas, dexanfetamina, Metanfetamina (Ecstasy), metadona, GHB, barbitúricos, etc. 2.3.2 Quanto ao tipo e sua ação no cérebro A classificação a seguir, refere-se às drogas psicotrópicas de acordo com sua ação no cérebro e podem ser podem ser classificadas em: 22 2.3.2.1- Estimulante Referem-se às substâncias estimulantes da Atividade do Sistema Nervoso Central. Ou seja, atuam no Sistema Nervoso Central SNC aumentando a atividade cerebral, ou seja, estimulam o funcionamento fazendo com que a pessoa sob o efeito dessas drogas fique "ligada”, "elétrica", sem sono. As drogas estimulantes mais usadas são: Tabaco, cafeína, cocaína, crack, merla e ecstasy, etc. *Tabaco Figura 1 - Tabaco Fonte: www.gula.edicaoeletronica.com.br , 2009. A nicotina é o princípio ativo do tabaco, sendo encontrada na planta de nome científico Nicotiana Tabacum e também na planta Duboisia hopwoodii, popularmente conhecida entre aborígines australianos de PITURI há mais de 40.000 anos. Em relação ao uso da Nicotiana Tabacum, este remonta aproximadamente há 3.000 anos, pelos índios da América Central, em rituais mágico-religiosos com objetivo de purificar, contemplar, proteger e fortalecer os ímpetos guerreiros. Estes acreditavam ainda que a mesma tivesse o poder de predizer o futuro. Chegou ao Brasil trazida provavelmente por tribos tupis-guaranis. Em 1600 chega a Europa pelas mãos de Jean Nicot, um diplomata francês vindo de Portugal, que teve cicatrizado, pela ação da mesma, uma úlcera de perna, até então incurável. No início, utilizada com fins curativos, através do cachimbo, difundiu-se rapidamente, atingindo Ásia e África, no século XVII. No século XIX, alcançou a Espanha e posteriormente toda a Europa, Estados Unidos e demais continentes, sendo utilizado para demonstração de ostentação. Após a Primeira Guerra Mundial (1914 a 1918) invadiu o mundo espalhando-se por todos os continentes, ocorrendo 23 um aumento vertiginoso de adeptos influenciados por um marketing extremamente agressivo. Na década de 60 vários estudos foram divulgados alertando fumantes e não-fumantes sobre seus malefícios à saúde. Efeitos no cérebro - São aproximadamente nove, segundo o tempo levado pela nicotina para chegar até o cérebro. Uma vez no cérebro, age elevando levemente o humor e reduzindo o apetite. A sensação de relaxamento que provoca, segundo os fumantes, é decorrência da diminuição do tônus muscular. O uso prolongado leva o usuário a desenvolver tolerância, ou seja, a dose usada já não produz os mesmos efeitos iniciais e precisa ser aumentada para obtê-los. Uma vez instalada a dependência, parar abruptamente o seu uso leva o indivíduo ao desconforto da fissura (desejo incontrolável por cigarro), irritabilidade, agitação, prisão de ventre, dificuldade de concentração, sudorese, tontura, insônia e dor de cabeça, se configurando num quadro denominado Síndrome de Abstinência. As principais consequências da nicotina no resto do organismo são elevação do batimento cardíaco, da pressão arterial, da frequência respiratória, da atividade motora e diminuição do fluxo de sangue para os órgãos. Ao afetar o sistema digestivo provoca queda da contração do estômago, dificultando a digestão. Há um aumento da vasoconstricção e na força das contrações cardíacas. Podem ocorrer ataques cardíacos súbitos e morte. Toxidade: Um cigarro é composto por vários produtos. Estes ao serem queimados transformam-se em mais de 4.700 substâncias tóxicas ao organismo, tanto do fumante passivo quanto do ativo. Entre as mais nocivas estão: a nicotina, de efeitos tóxicos como náuseas, dores abdominais, diarréia, vômitos, cefaléia, tontura, fraqueza, etc.; o monóxido de carbono, o cádmio, o alcatrão, entre outras. Estas substâncias quando usadas intensa e recorrentemente podem provocar várias doenças como pneumonia, câncer (pulmão, laringe, faringe, esôfago, boca, estômago, entre outros), infarto de miocárdio; bronquite crônica; enfisema pulmonar; derrame cerebral; úlcera digestiva; etc. Gravidez: Afetado diretamente pelo uso do tabaco pela mãe gestante, o feto é atingido pelas substâncias tóxicas, que atravessam a placenta, provocando aumento do batimento cardíaco, redução do peso do recém-nascido, menor estatura, além de graves alterações neurológicas. As probabilidades de abortamento 24 espontâneo alem de outras complicações durante a gravidez, são bastante significativas. Após o nascimento, o bebê amamentado continua ingerindo substancias tóxicas através do leite, além da inalação da fumaça, tornando-o um fumante passivo. Alguns estudos afirmam que filhos de pais fumantes apresentam três vezes mais chances de sofrer de infecções respiratórias (bronquite, pneumonia, sinusite). *Cafeína Figura 2 – cafeína Fonte: dicasparaemagrecer.blogsome.com/.../, 2009. Figura 3: Cafeína anídrica Fonte: http://portuguese.alibaba.com/product-gs/caffeine-anhydrous-237381259.html , 2009 A cafeína é um alcalóide do café, chá, cacau e outras plantas, é o estimulante mais usado no mundo. Na China o uso de substâncias contendo cafeína data de cerca de 5.000 anos (ESCOHODATO, 2004, P.19). Segundo Tiba, (1999, p.127) nos primórdios, o café era largamente usado para manter as pessoas acordadas durantes os eventos religiosos noturnos. 25 A cafeína é uma substância em forma de pó branco ou pequenas agulhas, que derretem a 238º C e sublimam a 178º C, em condições normais de temperatura e pressão. É inodor, de sabor amargo e extremamente solúvel em água quente. Sua ação estimulante do SNC altera o humor, exacerba a ansiedade e os distúrbios do pânico e reduz a sensação de fadiga. (CEBRID, 1977, s/p) O uso regular em dose superior a 350 ml dia leva o indivíduo a desenvolver dependência física e psicológica. Interrupção abrupta do uso provoca fortes dores de cabeça, que desaparecem com sua ingestão. (CEBRID, 1977, s/p) O sistema nervoso central, assim como o coração, os vasos sanguíneos e os rins são afetados pelo estímulo provocado por esta substância. Depressão respiratória por intoxicação de barbitúricos ou morfina tem na cafeína um poderoso antídoto, devido a sua rápida ação estimulante (CEBRID, 1977, s/p) Altas doses ingeridas principalmente por pessoas que não costumam consumi-las com freqüência, podem provocar a síndrome do cafeinismo. São manifestações de ansiedade, agitação, irritabilidade, depressão e um aumento do nível de vários hormônios no sangue associados ao estresse. Uma retirada suave pode provocar letargia e dores de cabeça em um indivíduo com ingestão prolongada de 600 mg (aproximadamente oito xícaras médias de café) ou mais por dia. Segundo Tiba (1999, p.127) o bloqueio dos receptores de adenosina provoca agitação e até convulsões. A adenosina é um hormônio local auto-regulável e que funciona como um neurotransmissor com o papel de modulador (normalmente inibe) da maioria das células no corpo. A quantidade de cafeína em duas ou três xícaras de café bloqueia 50% dos receptores de adenosina, fatores envolvidos nos efeitos potenciais da cafeína no corpo. *Cocaína Figura 4: coca, cocaína, crack Fonte: CD Luz (2004). 26 A cocaína é uma substância derivada das folhas de Erythroxylon, conhecida como coca, ou epadú para índios brasileiros. Até ser isolada pela primeira vez em 1859, era muito usada sob forma de chá. Ainda hoje, este chá é bastante comum em certos países como Peru e Bolívia. (CEBRID, 1977, s/p) Em forma de chá, além da ínfima quantidade do princípio ativo presente, ao ser ingerido pela boca, passa por um processo de metabolização no sangue e, indo ao fígado, sendo mínima a quantidade absorvida pelo intestino, apenas um pequeno resíduo chega ao cérebro. (CEBRID, 1977, s/p) A cocaína pode chegar até o consumidor sobre a forma de um sal, o cloridrato de cocaína, o "pó", "farinha", "neve" ou "branquinha" que é solúvel em água e, portanto, serve para ser aspirado ("cafungado") ou dissolvido em água para uso endovenoso ("pelos canos"); ou sob a forma de pedra, o crack, fumada em "cachimbos". (CEBRID, 1977, s/p) Alem do crack, outro derivado da cocaína, em forma de base e também fumado, muito consumida na cidade de Brasília, DF é a merla, (mela, mel ou melado). Uma pesquisa realizada entre 1997 e 1998, revelou que mais de 50% dos usuários de drogas de Brasília faziam uso de merla, sendo, que, “68,7% roubavam para sustentar o vício” (TIBA, 1999, p.125, CEBRID, 1999, s/p). Ao exemplo do crack e da merla, a cocaína não pode ser fumada, pois necessitaria de uma temperatura de 195º para passar do estado sólido para o vapor, enquanto o crack e a merla atingem este estado com uma temperatura relativamente baixa (95º C). Há ainda a pasta de coca, que é um produto grosseiro, obtido das primeiras fases de separação de cocaína das folhas da planta, quando estas são tratadas com álcali, solvente orgânico como querosene ou gasolina e ácido sulfúrico. Esta pasta contém muitas impurezas tóxicas e é fumada em cigarros chamados "basukos". (CEBRID, 1977, s/p). Os efeitos no cérebro, tanto o provocado pelo crack como o provocado pela merla são os mesmos da cocaína. Porém, a via de uso dessas duas formas (via pulmonar, já que ambos são fumados) faz toda a diferença do crack e da merla como o "pó". (CEBRID, 1977, s/p). Assim que o crack e a merla são fumados alcançam o pulmão, que é um órgão intensivamente vascularizado e com grande superfície, levando a uma absorção instantânea. Através do pulmão, cai quase imediatamente na circulação sangüínea chegando rapidamente ao cérebro. Com isto, pela via pulmonar o crack e 27 a merla "encurtam" o caminho para chegar ao cérebro, aparecendo os efeitos da cocaína muito mais rápido do que por outras vias. Em 10 e 15 segundos os primeiros efeitos já ocorrem, enquanto que os efeitos após cheirar o "pó" acontecem após 10 a 15 minutos; sendo injetável, em 3 a 5 minutos. Outra diferença está na duração dos efeitos de um e de outro. O efeito do crack dura em média 5 minutos, já o da cocaína quando injetada dura 20 minutos, quando cheirada chega a 45 minutos. A pouca duração dos efeitos do crack, leva o usuário a usá-lo repetidamente, instalando-se a dependência muitas vezes, nas primeiras experiências. (CEBRID, 1977, s/p) Os efeitos intensos e de curta duração provocam no usuário de crack e merla uma "fissura" extremamente dominadora. Segundo Tiba (1999, p.125) ao serem ativados os circuitos de recompensa do cérebro, estes liberam neurotransmissores exaurindo os neurônios, provocando profunda depressão. Segundo pesquisa realizada por Tiba (1999, p. 126), cerca de 20% dos usuários de merla tentam o suicídio para fugir da síndrome de abstinência. Outra característica do usuário de crack e merla é repentina e vertiginosa perda de peso, chega a perder de 8 a 10 Kg em poucos dias, alem de demonstração de cansaço, intensa depressão e sensações extremamente desagradáveis. (CEBRID, 1977, s/p). Toxidade: O acúmulo de cocaína produz efeitos tóxicos que culminam em derrames e psicoses. O uso repetido estimula adaptação das células. A tolerância é tão rápida que as doses sucessivas já não trazem os mesmos efeitos. (CEBRID, 1977, s/p). As tentativas do usuário de alcançar os mesmos efeitos obtidos com as doses iniciais, lançam-no ao uso desmedido e inconseqüente no afã de repetir os efeitos e sensações obtidas com as doses iniciais. Tal procedimento, além de oferecer alto risco de overdose, podendo, inclusive, resultar em convulsão, coma e morte. As quantidades administradas obrigam o usuário a adotar atitudes bizarras, comportamento violento, além de irritabilidade e tremores. (CEBRID, 1977, s/p) O “craqueiro” ou “pedreiro” como é tratado, devido às altas doses ingeridas, passa a agir de forma desconfiada, vigiando obsessivamente o local de uso da droga, gerando situações extremas de agressividade, alucinações e delírios, configurando-se num quadro denominado de "psicose cocaínica". (CEBRID, 1977, s/p). 28 O uso repetido, por longo tempo, da cocaína, eleva a chance de degeneração irreversível dos músculos esqueléticos, chamada rabdomiólise. (CEBRID, 1977, s/p). A ocorrência de midríase (aumento das pupilas), dor no peito, contrações musculares, convulsões e até coma, são conseqüências do uso excessivo e compulsivo da cocaína. Tiba (1999, p. 126) afirma que “O pó ainda faz subir a norepinefrina nas junções neurais do coração. Resultado: aceleram-se o ritmo e a potência cardíaca, os vasos sanguíneos se contraem, a pressão sobe, diminui o fluxo de sangue para os órgãos. Como consequêncía do excesso desse transmissor, há risco de ataques cardíacos, derrames e deficiências orgânicas. O risco de morte aumenta consideravelmente devido à diminuição de atividades de centros cerebrais que controlam a respiração. Muitos usuários relatam que ao sessar abruptamente o uso de cocaína ocorre "fissura", um desejo descontrolado. (CEBRID, 1977, s/p). *Ecstasy ou êxtase(MDMA) Figura 5: Ecstasy Fonte: http://science.kukuchew.com/wp-content/uploads/2008/10/ecstasy-pill.jpg , 2009. Desenvolvido em 1914 pelo laboratório Merck para emprego como moderador de apetite, o (ecstasy) MDMA, abreviação do nome científico Metilene Dioxo Meta Anfetamina, é uma substância de origem sintética, com propriedades alucinógenas e estimulantes, características que a tornam extremamente e duplamente perigosa. Por provocar graves efeitos colaterais seu uso foi descartado como moderador de apetite. Sua ação no cérebro, intensifica, nas sinápses, a concentração de dopamina, considerada a molécula do prazer, e de serotonina, uma das substâncias responsáveis pelo controle emocional e pela sensação de prazer, além de ação vasoconstritora. Sua interação com os receptores dopaminérgicos produz sensação de bem-estar e euforia, em excesso pode provocar alucinações (TIBA, 1999, p.115). 29 Já as interações com os receptores serotonérgicos, levam o indivíduo a pensar que é agradável, simpático e muito sociável. Com efeitos de longa duração, cerca de 10 a 12h, muitos são os relatos de elevação dos desejos sexuais, como também de diminuição destes e de contato físico. A ação bloquedora do ecstasy impede a reabsorção dos neurotransmissores, acarretando na degradação destes e por consequência provocando intensa depressão. Outra interferência em nível cerebral ocorre nas áres que controlam as funções orgânicas como a temperatura e os batimentos cardíacos, entre outros. Os risco à saúde do usuário aumenta na medida em que são ingeridas em associação com outras substâncias como, por exemplo, o álcool, intensificando seus efeitos com possível ocorrência de choque cardiorrespiratório. (CEBRID, 1999, s/p.). Além dos efeitos psicológicos, muitos são os efeitos físicos com manifestações em todo o corpo. Estes traduzem-se em ressecamento da boca, perda de apetite, náuseas, coceiras, reações musculares como cãibras, contrações oculares, espasmo do maxilar, fadiga, depressão, dor de cabeça, visão turva, manchas roxas na pele, movimentos descontrolados de vários membros do corpo como os braços e as pernas, crises bulímicas e insônia. Ocorrencias de óbitos por hipertemia também tem sido relatadas, possivelmente pela elevação extrema da temperatura corporal, chegando a atingir até 42 graus (SENAD, 2002, p.39, CEBRID, 1999, s/p.) 2.3.2.2 Depressora / Narcóticas Caracterizam-se por drogas que diminuem a atividade cerebral, fazendo o cérebro funcionar mais lentamente. Especificamnente no caso das narcóticas, estas são administradas para supressão da dor. O indivíduo sob efeito desse grupo de drogas tem seu raciocínio bem mais lento, com reflexos na voz (pastosa), nos movimentos corporais, nas percepções de tempo e espaço, etc. Ou seja, a pessoa fica "desligada", "devagar", desinteressada pelas coisas. Exemplos de drogas que deprimem o SNC mais consumidas: Álcool; maconha, haxixe (também consideradas alucinógenas); inalantes ou solventes (lança-perfume, cheirinho da loló, cola de 30 sapateiro, gasolina etc); os narcóticos, como o ópio (heroína, morfina e coedína), e medicamentos com substâncias benzodiazepínicas e barbitúricas em suas fórmulas entre outras. *Álcool Figura 6: Álcool 1 Fonte: www.badaueonline.com.br , 2009. Figura 7: Álcool 2 Fonte: www.hipersuper.pt , 2009. 31 Figura 8: Álcool 3 Fonte: www.opais.co.mz, 2009. Em relação ao álcool etílico, tipo encontrado em bebidas de consumo humano, este é derivado dos mais variados tipos de plantas, sendo o tipo de droga mais antiga utilizada pelo homem. Registros arqueológicos revelam que os primeiros indícios sobre consumo de álcool pelo ser humano, remontam a aproximadamente 6.000 a C. O consumo do álcool perpassa toda a história humana. Em 2200 a C. era recomendado o uso de cerveja como tônico para as mulheres em período de amamentação, dois séculos depois um papiro egípicio trazia a seguinte mensagem : “Eu, teu superior, proíbo-te de ir a tabernas. Ficas degradado como as bestas”. Num segundo papiro, o pai chama atenção do filho com os seguintes dizeres: “Dizem-me que abandonas o estudo, que vagueias de ruela em ruela. A cerveja é a perdição da tua alma” (ESCOHOTADO, 2004, p. 19). Até o advento do processo de destilação, o teor alcoólico das bebidas era relativamente baixo. O processo de destilação, introduzido na Europa pelos árabes da Idade Média, fez surgir novos tipos de bebidas alcóolicas, ganhando conotação de remédio, pois debelavam rapidamente as preocupações e suprimiam a dor, daí o termo whisky (do gálico "usquebaugh, que significa "água da vida")(CEBRID, 1999, s/p). Outra menção, ainda sobre este aspecto, Escohotado (2004, p.58) diz que “o 32 primeiro tratato técnico do século XII, que se chama aqua vitae, água da vida, ao resultado de uma destilação, e aqua ardens, água inflamável, ao álcool de 96 graus obtido por bidestilação”. Seu consumo não para de crescer. Atualmente encontra-se inserido em praticamente todos os cantos do planeta. O álcool age no SNC Central, interferindo no comportamento e causando dependência, ou Síndrome de Dependência do Álcool (SDA)(SENAD, 2002, p.2). Segundo dados da OMS (KAPLAN, 2003, p.381), “10% das mulheres e 20% dos homens ja reuniram critérios diagnóstico para abuso de álcool durante a vida”. No Brasil, o alcoolismo compromete cerca de 15% da população (SENAD, 2002, p.21). Também é responsável por 85% das internações decorrentes do uso de SPAs; 20% das internações em clínica geral e 50% das internações masculinas psiquiátricas (GALDURÓZ et. al., 2000, apud GALLASSI, A.D. et al.2008, s/p.). Segundo Gallassi, A.D. et al(2008), são gastos milhões de reais, em tratamento, conforme ilustra a tabela abaixo: Tabela 1 – Gasto com AIH relacionada aos transtornos mentais decorrentes do uso de álcool e outras drogas. Gasto com AIH relacionada aos transtornos mentais decorrentes do uso de álcool e outras drogas. Morbidades – Cid 10 Valor total {R$} % Transtornos mentais e comportamentais devidos ao uso de álcool. 142.646.007,46 83% Transtornos mentais e comportamentais devidos ao uso de outras drogas 29.098.956,61 17% Total de gastos anuais 171.744.964,07 100% Fonte: Datasus, Ministério da Saúde, Brasil, 2006. Fases distintas caracterizam os efeitos agudos causados pela ingestão do álcool. Inicialmente manifestam-se os efeitos estimulantes como euforia, desinibição e loquacidade (desinibição para falar ). O segundo estágio se caracteriza pelo efeito 33 depressor como, falta de coordenação motora, descontrole e sono, podendo levar ao coma. O efeito do álcool está relacionado à condição física do usuário, com sua intensidade variando de acordo com a capacidade de metabolização, peso e volume aquoso do corpo e “à estrutura física; uma pessoa com uma estrutura física de grande porte terá maior resistência aos efeitos do álcool.” (CEBRID, 1999, s/p) Alcoolismo: O uso constante e prolongado de bebidas alcóolicas pode levar o indivíduo a desenvolver dependência (alcoolismo). Esta é caracterizada pela incapacidade de controlar a ingestão do álcool e por consequentes manifestações psico-físicas (sindrome de abstinência), pode se instalar a partir de fatores biológicos, psicológicos, socioculturais ou da união destes. (CEBRID, 1999, s/p.) Uma pessoa com quadro de dependência, eleva os riscos de doenças como esteatose hepática, hepatite alcóolica e cirrose, gastrite, síndrome de má absorção e pancreatite, hipertensão e problemas no coração. Aumenta também as chances de ocorrência de polineurite alcóolica, caracterizada por dor, formigamento e câimbras nos membros inferiores. Na gravidez, os riscos descritos acima para o usuário(a) e são comprovados os efeitos prejudiciais ao feto, como, por exemplo, a principal causa de retardo mental nos USA: a Síndrome Alcoólica Fetal, afetando 1/3 dos filhos de mães alcoolistas daquele país, é decorrente do consumo de álcool durante a gestação. Outros danos também foram constatados em mães gestantes usuárias de bebidas alcoólicas, como malformações cranofaciais, defeitos nos membros e coração, além de desequilibrio hormonal, que pode resultar no aumento de risco de anormalidades, além de 35% maior, a chance de gerar filhos com anomalias físicas defeituosos. (KAPLAN, 2003, p.393). *Maconha, haxixe , skank - THC (tetrahidrocanabinol) Figura 9: skank, maconha, haxixe Fonte: CD Luz, 2004. 34 Seu nome científico é Cannabis Sativa. Conhecida há pelo menos 5.000 anos, esta substância vem sendo utilizada para diferentes finalidades. Alguns povos primitivos usavam-na para fins terapêuticos. Alguns séculos atrás passou a ser usada tambem na confecção de cordas. Muitos afirmam que a maconha teria sido introduzida no Brasil pelas mãos dos negros escravos, usando bonecas de pano para transportar as sementes. (CEBRID, 1999, s/p.) Preparada em forma de cigarro, conhecido como “fininho”, “baseado” “bagulho”, etc., a maconha nas décadas de 60 e 70 teve seu consumo largamente difundido entre os jovens. Seu princípio ativo é o THC (tetrahidrocanabinol), correspondendo cerca de 1 a 2% na composição de uma dose (um baseado). Lembrando que não é somente o THC que reage no organismo, outras substâncias também provocam reações adversas interessantes, que podem prejudicar uma pessoa. Quanto aos efeitos psíquicos agudos, em algumas pessoas podem ocorrer manifestações de sensação de bem-estar, acompanhadas de calma e relaxamento, menos fadiga e hilaridade; noutras pode ocorrer o contrário, como sentimento de angústia, medo de perder o autocontrole, ansiedade, além de manifestações de tremores e sudorese. Tais efeitos ainda podem comprometer a capacidade de calcular tempo e espaço, além de um prejuízo de memória e de atenção. Em doses elevadas, dependendo da sensibilidade do usuário, pode ocorrer também, quadros de despersonalização e desrealização. (CEBRID, 1999, s/p.) As manifestações físicas agudas se caracterizam por um quadro de Hiperemia conjuntival; diminuição da produção da saliva (sensação de secura na boca), taquicardia (com possibilidades de atingir cerca de 140 batimentos por minuto ou mais). (CEBRID, 1999, s/p.) Já do ponto de vista psicológico, o uso crônico afeta a capacidade de aprendizado e memorização, com alta probabilidade de desenvolver um estado de síndrome amotivacional. Podendo também desencadear manifestações hipomaníacas, transtornos do sono e disfunção sexual. (CEBRID, 1999, s/p.) Os efeitos físicos crônicos da maconha acarretam problemas respiratórios, devido a irritação causada pela fumaça e pelo benzopireno, substância encontrada no alcatrão e altamente cancerígeno. Outra consequência do uso crônico da maconha verifica-se na queda de produção de testosterona nos homens 35 (50-60%), com danos a fertilidade. Ou seja, o homem perde a capacidade de gerar filhos. (CEBRID, 1999, s/p.) Recentemente, estudos têm revelado que algumas substâncias encontradas na planta Canabis Sativa (maconha), apresentam propriedadem terapêuticas importantes, com ação eficaz na redução ou eliminação de náuseas e vômitos decorrentes do uso de medicamentos anticâncer, além de produzir efeitos de melhora nos quadros de epilepsia (doença que se caracteriza por convulsões ou "ataques"). (CEBRID, 1999, s/p.) Finalmente, há provas científicas de que se a pessoa tem uma doença psíquica qualquer, mas que ainda não está evidente (a pessoa consegue "se controlar"), ou a doença já aparece, mas está controlada com medicamentos adequados, a maconha pode piorar o quadro, acelerando o desenvolvimento da doença ou neutralizando a ação do medicamento. Este fato tem sido descrito com freqüência na doença mental chamada esquizofrenia. (CEBRID, 1999, s/p.) *Ópio (morfina, heroína e codeína) Figura 10: Ópio e Heroína Fonte: CD Luz , 2004 e www.cienciapt.net , 2009. De nome científico Fapaver somniferum, o ópio é a planta da qual são extraídas várias substâncias usadas na produção de medicamentos de combate a dor, a tosse e cólicas, como a morfina e a codeína respectivamente, além da heroína, largamente usada desde tempos remotos como droga de abuso. Após sua descoberta pelo laboratório F. Bayer, foi sugerida para tratar dependentes de morfina, sem mencionar se causava ou não dependência, em 1898, foi colocada no mercado com o seguinte apelo publicitário: a) Ao contrário da morfina, esta substância produz um aumento de actividade. b) Adormece todo o sentimento de temor. c) Inclusivamente em doses mínimas faz desaparecer todo o tipo de tosse, até nos tuberculosos. d) Os morfinómanos tratados com esta substância perderam de imediato todo o interesse pela morfina.( ESCOHOTADO, 2004, p.86) 36 A palavra ópio é originária do grego, e significa seiva ou suco. Os efeitos característicos dessa substância são de ação depressora da atividade cerebral, provocando analgesia e sensação de intenso prazer e bem-estar. Os eufóricos efeitos iniciais, ao cessarem, dão lugar à sonolência, contração das pupilas, queda da pressão sanguínea, diminuição da sensibilidade e da atividade do estômago e intestino. Seu efeito também age provocando depressão respiratória, com risco de morte por overdose. (PAULINO, 1999, p.31). O alto poder viciante dos derivados do ópio, como a heroína e morfina, por exemplo, levam o indivíduo rapidamente a desenvolver tolerância e dependência. Isso ocorrendo, instala-se um quadro de intenso sofrimento. De um lado, a tolerância exigindo doses cada vez maiores, com riscos inclusive de morte decorrente das intoxicações agudas. De outro, a dependência. Um quadro em que, com a privação, desencadeia fortes tremores, suores, profunda angústia, câimbras, vômitos, diarréia e cólicas. Ou seja, o uso passa de opção para necessidade fisiológica e psicológica extrema. (CEBRID, 1999, s/p.). É importante salientar que a codeína, em que pese ser um derivado do ópio, o risco de causar dependência é relativamente baixo, principalmente se administrada sob orientação médica. Competente é muito menos potente do que a morfina e a heroína, de pouco risco e normalmente não oferece riscos, quando usada sob controle médico. Além disso, o seu potencial de provocar dependência é incomparavelmente menor do que os outros derivados do ópio. Também pertencendo a categoria dos narcóticos, existem os opióides. Estes medicamentos são produzidos em laboratório, não requerendo substâncias naturais (vegetal ou mineral) na sua composição. Entre os mais conhecidos destacam-se: o meperidina ou petidina, usado como analgésico; dolantina, analgésico e anestésico; metadona, usado no tratamento de dependentes de heroína, e o zipeprol, um xarope de combate a tosse, devido ao alto grau de toxidade apresentado. Outro aspecto importante relacionado aos opióides supra mencionados, refere-se a dependência e as intoxicações. No Brasil foram registrados vários casos de mortes, “provocadas pelo abuso de remédios à base de zipeprol, principalmente entre crianças de rua. Por isso, os medicamentos que contêm essa substância foram recentemente declarados de uso proibido no país” (CEBRID, 1999, s/p.). 37 *Solventes ou Inalantes (lança-perfume, cola de sapateiro, acetona, esmalte, gasolina, etc.) Figura 11: Solventes e Inalantes Fonte: www.clinicanewway.com.br,2009. www.brasilescola.com, 2009. A terminologia usada para definir este grupo de substâncias, usadas como drogas de abuso, principalmente por meninos de rua dos grande centros, é pelo fato de se volatilizarem com facilidade.(PAULINO, 1999, p.27) Os efeitos depressores destas substâncias, como é o caso do éter e do clorofórmio, que juntas transformam-se no popular “cheirinho-da-loló”, funcionamento cerebral, causando inicialmente euforia e afetam o desinibição comportamental. Na fase seguinte ocorre depressão do SNC com confusão, palidez, visão embaçada, desorientação e possíveis ocorrências de alucinações auditivas e visuais, evoluindo para um quadro de depressão profunda, redução acentuada do alerta, incoordenação ocular e motora e manifestações importantes alucinatórias. Finalmente pode ocorrer a chamada depressão tardia, inconsciência, convulsões, coma e morte. Esta última, segundo Tiba (1999), em decorrência de asfixia provocada pela aspiração em recipiente fechado (o vapor toma o lugar do oxigênio no recipiente e nos pulmões), ou por substâncias que “interfiram no ritmo cardíaco, na chamada Síndrome da Morte Súbita por Inalação (sudden sniffing death, SSD)”. Ainda conforme este mesmo autor, 38 A falta de oxigênio não é detectada pelo cérebro durante a intoxicação, devido aos crescentes efeitos sedativos. Se o usuário sobreviver, há risco de danos cerebrais permanentes, por causa do efeito tóxico que a maioria dos inalantes exerce sobre os nervos. Eles destroem o tecido que isola a célula nervosa (mielina), causando danos sensitivos e motores, prejudicam a medula óssea e reduzem o trabalho do fígado e dos rins (TIBA, 1999, p.?) Tranqüilizantes, sedativos, ansiolíticos e soníferos são subgrupos compostos por drogas com ação distinta no cérebro, como os sedativos, que recebem o nome de analgésico por sua ação de combate a dor; os hipnóticos e os soníferos no papel de indutores do sono; os ansiolíticos que recebem este nome por sua ação no SNC revertendo os quadros exagerados de ansiedade; e ainda nos casos de epilepsia, também podem ser administrados barbitúricos como drogas antiepilépticas. *Barbitúricos Figura 12: barbitúricos Fonte: abscondito.wordpress.com, 2009. Os barbitúricos são substâncias de uso terapêutico na indução do sono, anestésica (tiopental) e anticonvulsivantes (fenobarbital). Os efeitos no cérebro característicos dos barbitúricos são: sonolência, sensação de calma e relaxamento, queda na capacidade de raciocínio e concentração. Com a atividade cerebral diminuída, os reflexos também ficam prejudicados, mais lentos. Doses mais elevadas afetam a fala, deixando-a mais pastosa, e andar, como se o indivíduo estivesse embriagado. Seu grau de toxidade se manifesta na incoordenação motora, 39 sonolência profunda e aumentadas chances de ocorrência de coma e até morte. Em tempo de uso muito prolongado, o risco de tolerância e dependência também aumentam consideravelmente, com síndromes de abstinências bastante severas, inclusive com risco de morte, caso não haja atenção médica/hospitalar em tempo hábil. (CEBRID, 1999, s/p.). Os efeitos no resto do corpo ocorrem indiretamente, ou seja, como agem diretamente no SNC, naturalmente tem reflexos sobre a respiração, o coração e a pressão do sangue, ao interferirem em áreas do cérebro que comandam tais funções. (CEBRID, 1999, S/P.). Em relação à segurança, os barbitúricos requerem um cuidado muito maior na hora de administrá-lo, pois o limite entre uma dose adequada e uma tóxica ou letal é muito sutil. Outro aspecto importante a se observar é a qualidade do sono: Um sono não induzido por essas drogas, ou seja, o sono natural é muito diferente. (CEBRID, 1999, S/P.). Importante ressaltar dois aspectos: o primeiro é com relação à associação dessa droga com a bebida alcoólica. O resultado pode ser uma intoxicação aguda e de sérios riscos. O segundo é o uso durante a gestação. Os riscos de o bebê nascer com dificuldades respiratórias, irritabilidade, distúrbios de sono e dificuldade de alimentação, provocados pelo uso dessas substâncias pela mãe, são extremamente elevados. (TIBA, 1999, P.121). *Benzodiazepínicos Figura 13: benzodiazepínicos Fonte: www.antidrogas.com.br, 2009. 40 Diferentemente dos barbitúricos, os benzodiazepínicos são substâncias de uso mais seguros. A diferença entre uma dose tóxica e uma dose terapêutica é bem maior, oferecendo menor risco e maior margem de segurança na administração da mesma e de poucos efeitos colaterais ao organismo. (CEBRID, 1999, s.p.). Por outro lado, trata-se de um medicamento de consequências prejudiciais para os processos de aprendizagem e memória, funções motoras e reflexos rápidos, este último de elevado risco de acidentes de trânsito para motoristas que fazem uso de tais medicamentos. Apesar dos prejuizos observados nos processos de aprendizagem, muitas meninas estudantes fazem uso desse medicamento para evitar as rugas decorrentes de quadro de ansidedade que as levam a franzir constantemente a testa. (CEBRID, 1999, s.p.). O risco de intoxicações por altas doses principalmente se associadas ao álcool ou a barbitúricos, é bastante considerado. Também tem sido relatadas deformações físicas e lesões em fetos de mãe usuária deste tipo de substância, além do risco de dependência.(PAULINO, 1999, p.30). Os benzodiazepínicos mais conhecidos comercialmente são: diazepam, lorazepam, bromazepam, midazolam, flunitrazepam, clonazepam, etc. (CEBRID, 1999, s.p.). 2.3.2.3 Perturbadora ou alucinógena: Também denominadas drogas psicodélicas “de psique e delos, que significa ampliação da mente” (ESCOHDATO, 2004, p.140)), estas por sua vez, não afetam diminuindo ou aumentando a atividade cerebral, mas provocando no cérebro intensa confusão mental, caracterizada por alterações significativas nas percepções e sensações. Ou seja, o cérebro passa a funcionar fora do seu normal, desorganizado. As drogas desse grupo mais comumente usadas são a maconha, o LSD, o esctasy e os Cogumelos. Se caracterizam por seus intensos efeitos alucinatórios auditivos e visuais. 41 *LSD (dietilemida do ácido lisérgico) 25 Figura 14: LSD Fonte: psychedelicdrugsandconsciousness.blogspot.com/ , 2009. Sintetizado a partir de um fungo chamado ergot ou parasita do centeio, descoberta por Albert Hofmann em 1943, portanto de origem semi-sintética, isenta de cheiro, cor ou gosto, é comprovodamente a droga mais potente desse grupo; 20 a 50 milésimo de grama provocam entre 4 e 12 horas de “viagem”, muitas vezes aterradoras, dependendo do estado emocional e da espectativa sobre a droga. Essas “viagens” podem voltar a qualquer momento tempos depois, mesmo o indivíduo não estando sob efeito da substância; são os conhecidos “flash back”.(PAULINO, 1999:55; ESCOHDATO, 2004:140 e SENAD, 2002, p. 38). Também é comum a ocorrência de outros efeitos como delírios de grandiosidade, levando o indivíduo a acreditar que pode voar, muitas vezes tentando atirar-se de grandes alturas (inclusive com relatos de mortes), achar que tem força suficiente para parar um carro em movimento ou caminhar sobre a água, etc.. Sob efeito desse tipo de substância podem ocorrer delírios persecutórios, caracterizados por sensação de que as pessoas a sua volta estejam tramando contra si, levando-o, por conta disso, a agir agressivamente imaginando estar se defendendo. Um quadro muito parecido com a esquizofrenia. Antecendendo o quadro acima, o indivíduo pode apresentar “distorções sensoriais, chamada sinestesia, provocando sensações como “ouvir uma cor ou ver um som” (TIBA, 1999, p.134). Intensa ansiedade, depressão acompanhadas de quadros psicóticos, mesmo após determinado tempo, são descritas por pessoas que experienciaram a droga.(SENAD, 2002, p. 39). 42 No resto do corpo os efeitos tóxicos provocados pela ação do LSD evidenciam aceleração do pulso, elevação de temperatura, dilatação da pupila, podendo ocorrer, segundo alguns relatos, episódios de convulsão.(TIBA, 1999:134; SENAD, 2002: 39). A alta concentração de dopamina ativada no circuito de recompensa, além de provocar as psicoses acima relatadas, leva rapidamente a um quadro de tolerância. Segundo Nicastri, (apud SENAD, 2002, p.39) o Ministério da Saúde do Brasil descata qualquer uso clínico dos alucinógenos. Em relação ao LDS e a psilocibina (cactus). Segundo Escohdato, (2004:140 ), em maio de 1966 foram redefinidas, nos USA, como «drogas sem uso médico nem científico». *Cogumelo e outras plantas alucinógenas Figura 15: cogumelos Fonte: CD Luz, 2004. Especificamente sobre os tipos de cogumelos pertencentes à categoria dos amonitas muscaria, segundo Tiba, (1999, p.133), conhecido como “agárico das moscas” pela atração que exerce sobre estas, deixando-as aturdidas. Registros históricos apontam sua influência sobre o comportamento destemido dos vikings e o fortalecimento dos atletas olímpicos gregos. Neste grupo são encontradas várias espécies venenosas, apesar de raramente fatais devido a ação da toxina muscarina, substância de ação estimulante da acetilcolina. Seus efeitos intoxicatórios provocam ocorrência de salivação, lacrimejamento e descontrole dos esfincters anal e urinário. Outras manifestações como contração pupilar, cólicas, náuseas, vômitos, queda do rítmo cardíaco e da pressão arterial também podem ser desencadeadas. Com o nome científico de Psylocybe mexicana, este cogumelo, 43 considerado sagrado por alguns pagés. No Brasil são encontradas duas espécies, o Psylocibe cubensis e o Paneoulus. (PAULINO, 1999, p.46). As plantas mais conhecidas e usadas em rituais religiosos são Mimosa hostilis, conhecida popularmente como Jurema, uma substância usada em rituais candomblés e extremamente potente na síntese do dimetiltriptamina ou DMT, o princípio ativo responsável pelos efeitos visuais, cores intensas e objeto em movimentos, alegria e euforia. Seu efeito após o uso é extremamente desconfortante, semelhante à ressaca, além de cansaço e dores nos músculos. (CEBRID, 1999, S/P.). Mescal ou Peyolt-(Lophophora williamsii), planta da qual é extraída a mescalina, substância usada em rituais indígenas desde os primórdios na América Central, é também muito conhecida pelo povo indígena da América do Sul e dos adeptos do Santo Daime (Culto da União Vegetal) no Brasil. A bebida, um composto das duas plantas acima, é largamente usada nestes rituais e recebe o nome de Ayahuasca ou “Vinho da Vida. (CEBRID, 1999, s.p.). Não menos conhecidas e populares são a Atropa belladona, fonte da Atropina, originária da Europa, uma planta com bagas de sabor doce e de elevada concentração de atropina, requerendo por isso, cuidados especiais em relação às crianças; e a Datura arborea, conhecida também como trombeteira, saia branca, aguadeiro, buzina, zabumba ou lírio, é um arbusto nativo da América do Norte. Seus efeitos induzem a alucinações terrificantes. Os efeitos tóxicos no resto do corpo provocam dilatação das pupilas, boca seca e diminuição das atividades intestinais, etc. O quadro agudo de intoxicação pode induzir ao coma com risco de morte. (CEBRID, 1999, S/P.). Mais conhecida por seu aroma e gosto marcantes no preparo de alimentos, a noz-moscada ou fragrans, é uma substância psicoativa também muito potente. A noz-moscada concentra em suas cascas as substâncias alucinógenas miristicim e elemicim que, quando consumidas em doses de alta concentração, provocam efeitos semelhantes ou, mais intensos do que os provocados pelo LSD. Escohodato (2004) ao referir-se aos efeitos provocados pelo uso de drogas, cita Corpus hipocraticum sobre este conceito com as seguintes palavras “substâncias que actuam arrefecendo, aquecendo, secando, humedecendo, contraindo e descontraindo, ou fazendo dormir” (IV, 246 apud, ESCOHOTADO, 2004:24). 44 2.3.3 Quanto ao aspecto legal Drogas Lícitas: São substâncias que podem ser cultivadas, produzidas e comercializadas, com fins terapêuticos ou não, algumas com restrição de uso e comercialização. Por exemplo, o tabaco, a bebida alcoólica, algumas substâncias usadas em determinadas indústrias (cola de sapateiro, etc.) e alguns medicamentos têm sua venda e uso proibidos para menores de 18 anos. Drogas Ilícitas: São substâncias que tem seu cultivo, produção, comercialização, porte e uso proibidos por lei. É crime, com pena rigorosa de prisão, as atividades acima, envolvendo tipos de drogas como, por exemplo, maconha, cocaína, ecstasy, crack, mela ou merla, heroína, etc. 2.3.4 Padrão de uso Para uma adequada intervenção num processo de uso de drogas se faz necessário identificar o padrão de uso. Os critérios para classificação do consumo de substâncias requerem do avaliador conhecimentos dos danos, efeitos e consequências causados para que seja possível a definição do padrão de uso. O padrão de consumo possibilita o diagnóstico ou não de dependência. Possivelmente levada pelo enfoque moralista dado à questão do uso de drogas, a Organização Mundial da Saúde (OMS), ainda no início da década de 60, realizou inúmeras reuniões com autoridades e estudiosos de várias partes do mundo para a discussão e pesquisas sobre os critérios para classificação dos tipos, efeitos, origens, padrões de consumo de substâncias psicoativas. Além do desenvolvimento de critérios de avaliação, de modo a possibilitar diagnósticos mais assertivos sobre os comprometimentos causados pelo uso destas ao usuário. Segundo Loureiro e Lacks (2002) apud SENAD (2002, p. 69) os padrões de uso nocivo/dependente estão baseados “(...) na forma de uso e na relação que o indivíduo estabelece com a substância e suas conseqüências negativas”. 45 Estes mesmos autores apresentam os critérios estabelecidos pelo DSM IV e pela CID 10, para a configuração dos padrões de uso abusivo e nocivo nas tabelas abaixo, comparando critérios de abuso e uso nocivo da DSM-lV e CID-1O Tabela 2 — Critérios Diagnósticos para Abuso de Substâncias Abuso de substâncias A.Um padrão mal-adaptativo de uso de substância levando a prejuízi mento clinicamente significativo, manifestado por um (ou mais) da aspectos, ocorrendo dentro de um período de 12 meses: (1) uso recorrente da substância resultando em um fracasso em cumprir obrigações importantes relativas a seu papel no trabalho, na escola ou em casa (por ex., repetidas ausências ou fraco desempenho ocupacional relacionados ao uso de substância; ausências, suspensões ou expulsões da escola relacionadas a substância; negligência dos filhos ou dos afazeres domésticos; (2) uso recorrente da substância em situações nas quais isto representa perigo fisico (por ex., dirigir um veículo ou operar uma máquina quando prejudicado pelo uso da substância) (3) problemas legais recorrentes relacionados à substância (por ex.. detenções por conduta desordeira relacionada a substância) (4) uso continuado da substância, apesar de problemas sociais ou interpessoais persistentes ou recorrentes causados ou exacerbados pelos efeitos da substância (por ex., discussões com o cônjuge acerca das conseqüência intoxicação, lutas corporais) B. Os sintomas jamais satisfizeram os critérios para Dependência de Substancia para esta classe de substância. Fonte: DSM-IV, 1994, apud KAPLAN, (2003, p. 374). CID 10 Uso nocivo Evidência clara que o uso foi responsável (ou contribuiu consideravelmerite) por dano físico ou psicológico, incluindo capacidade de julgamento comprometida ou disfunção de comportamento. B- A natureza do dano é claramente identificável. C- O padrão de uso tem persistido por pelo menos um mês ou tem ocorrido repetidamente dentro de um período de 12 meses. D- Não satisfaz critérios para qualquer outro transtorno relacionado à mesma substância no mesmo período (exceto intoxicação aguda). Fonte: (SENAD, (2002, p 70). 46 Como o uso de drogas não se restringe ao uso abusivo ou nocivo, convém destacar os padrões de uso considerados “inócuos” ou de baixo risco e socialmente aceitas, como no caso das drogas lícitas. Uso experimental – refere-se à primeira experiência com uma droga. Sem que se possa definir um padrão, este se caracteriza por um uso relativamente breve. Uma experiência geralmente levada pela curiosidade, este primeiro contato acontece normalmente em grupo ou na companhia de um amigo. Por outro lado, dependendo do tipo de droga e do fator que levou o indivíduo a experimentar, é relativamente improvável que se repita ou se torne recorrente. Este padrão de uso é o mais pontuado nas pesquisas quantitativas sobre o uso de substâncias, principalmente envolvendo álcool e tabaco. Uso recreacional ou social: está associado a ocasiões sociais e de lazer, geralmente compartilhado entre amigos. A substância usada geralmente é ilícita, mas vista como um mecanismo de prazer e relaxamento, este é um padrão que não implica necessariamente em dependência ou outros problemas relacionados. Apesar da conotação social, muitos discordam, “opinando que, no caso de droga ilícita, não seja possível este padrão devido às implicações legais relacionadas”. Uso circunstancial/ocasional ou controlado se configura pela freqüência, intensidade e duração variável, sem a presença de comprometimentos de nível afetivo, social e profissional. O usuário utiliza uma ou várias drogas quando disponíveis ou em ambiente favorável, sem apresentar problemas nos campos afetivo, social ou profissional. Este é um padrão que suscita muitas dúvidas se realmente é possível o uso de determinadas substâncias de forma controlada, e por quanto tempo o individuo é capaz de manter este autocontrole, pois é fato sabido e comprovado, a ocorrência da tolerância e da dependência. Uso social - considerando as drogas lícitas, consumidas por grande parte da população mundial, salvo em países islâmicos; por exemplo, onde a religião não permite o uso de bebidas alcoólicas (MOREIRA jr., 2005, p.22), o padrão de uso social pode ser entendido, de forma literal, como uso em companhia de outras pessoas e de maneira socialmente aceitável, mas também é usado de forma imprecisa indicando os padrões acima definidos. 47 Uso intenso: o uso prolongado e contínuo de uma substância, pelo menos uma vez por dia, visando aliviar uma necessidade ou um desejo intenso de aliviar situações de estresse, ou na ânsia de resolver um problema persistente, caracteriza este padrão de uso de drogas. Uso compulsivo: é definido pelo uso em grande quantidade de substância, mesmo que a intenção inicial fosse de tomar apenas uma dose, em tempo relativamente curto, o uso continua até a ocorrência de intoxicação aguda; e por último. Uso nocivo/abuso: segundo critérios do DSM IV, (conforme tabela acima) desde que não caracterize dependência, implica na indicação pelo menos de um sintoma específico que resulte em dano ou prejuízo à vida do indivíduo; seja ele de natureza física (ex. perfuração do septo nasal em dependentes de cocaína), como psíquica (ex. depressão após grande consumo de álcool, como também acidentes de transito ou de trabalho, etc). 2.4 Formas(vias) de uso Administrar uma substância no organismo necessita de meios que possa introduzí-la, de forma que esta produza os efeitos esperados. As vias de aplicação possíveis de drogas no corpo são Intranasal: a droga ao ser aspirada com auxílio de instrumentos como canudo, corpo de caneta esferográfica, etc, é absorvida pela mucosa nasal e desta para a corrente sanguínea que a leva até o cérebro; pela via pulmonar o usuário inala a droga volatilizada em função da alta temperatura a que é submetida (crack ou merla), ou pela fumaça (maconha, tabaco), ou ainda apenas inalando solventes, substância altamente volátil em seu estado natural; por via oral, drogas como chás, medicamentos, cafeína, ecstasy, etc., são introduzidas no organismo, absorvidas pelo trato gastrointestinal. Outras vias de administração de substâncias no organismo também se fazem conhecidas e utilizadas como nos casos do LSD, via sublingual e transdérmica através de adesivos, e as drogas acondicionadas em supositórios, administradas no organismo pela via da mucosa retal (SENAD(2002, p.16). 48 3 DEPENDÊNCIA 3.1 A Concepção da Genética sobre Dependência Quando se fala de dependência química, está se falando de um problema biológico, psicológico ou social? E ainda: que tipo de dependência? Física ou psicológica? Seriam dimensões distintas de um mesmo problema? O conceito genérico do termo dependência, abordando drogas de ação física e psicotrópica, encontrado no dicionário Aurélio (2007) refere-se a um Estado psíquico e, eventualmente, físico, decorrente da absorção, periódica ou contínua, de um fármaco (analgésico, hipnótico, etc.), sendo este estado acompanhado, ou não, de tolerância (6); o organismo, para manter um novo estado de equilíbrio, passa a requerer ministração regular, e muitas vezes crescente, desse fármaco, e sua falta pode causar perturbação psíquica e/ou física. “Cada um dos estados mórbidos em que surgem importantes alterações físicas quando é interrompido o uso de certo medicamento, ou droga, e que varia segundo este ou esta, com apresentação de sinais e sintomas de natureza física.” “Cada um dos estados mórbidos em que a impressão de bem-estar causada por medicamento, ou droga, leva o indivíduo a tomá-lo, ou tomá-la, em caráter contínuo ou periódico, inclusive para evitar a sensação de mal-estar que lhe causaria a privação daquele medicamento ou daquela droga.” (AURÉLIO (2007, s/p). Segundo Mota (2007), a exemplo de outras enfermidades do começo do século 20, a dependência química, mais especificamente da bebida alcoólica, em que pesem os fatores econômicos e sociais da época, decorrentes do crescimento econômico e da conseqüente e desordenada urbanização, provocadas pela alta demanda de trabalhadores das fábricas em suas linhas de produção, tinha na sua etiologia um problema identificado de causa hereditária por estudiosos como Lombroso, ao estudar as semelhanças anatômicas apresentadas entre os crânios de animais e crânios humanos primitivos (ou raças inferiores). Esta suposição, identificada com teorias evolucionistas de Darwin, ao comparar o crânio de um presidiário com o de um animal, constatou traços bastante semelhantes entre eles. O estudo concluiu tratar-se de um homem cujo crânio revelaria, pela sua semelhança anatômica com o crânio do animal, de um ser 49 primitivo, um ser distante do grau evolutivo humano da época, nas próprias palavras de Lombroso (apud MOTA, 2007, p.18/19) (...) ao abrir o crânio encontrei, na parte occipital, exatamente no ponto em que fica a espinha no crânio normal, uma nítida depressão que denominei fossa occipital média, por causa de sua situação, precisamente no meio do occipício, como nos animais inferiores, principalmente os roedores, Esta depressão, como no caso dos animais, ligava-se à hipertrofia do vermis, conhecido nos pássaros como o cerebelo médio. Não se tratava apenas de uma idéia, mas de uma revelação. À vista daquele crânio eu parecia compreender, de repente, iluminado como uma planície imensa sob um céu flamejante, o problema da natureza do criminoso — um ser atávico que reproduz em sua pessoa os instintos ferozes da humanidade primitiva e dos animais inferiores. Assim se explicavam anatomicamente os enormes maxilares inferiores, altos molares, arcadas superciliares protuberantes, linhas solitárias nas palmas das mãos, tamanho máximo das órbitas, orelhas acabanadas ou sésseis encontradas em criminosos, selvagens e macacos, insensibilidade à dot vista extremamente aguda, tatuagens, indolência excessiva, gosto pelas orgias e um anseio irresistível do mal pelo mal, o desejo não só de extinguir a vida na vítima, como de mutilar o cadáver, rasgar a carne e beber seu sangue (LOMBROSO apud. COHEN, 1968, p. 108). Sem pretenção de invalidar ou questionar a conclusão acima, apenas com o intuito de contribuir com o leitor, permitiu-se abrir um parêntese para trazer alguns estudos realizados nos USA por Sampson et al. (1997), citado em BAU, (2002, p. 2), revelando casos de alterações no crânio, face e outras malformações (grifo meu) além de retardo mental e déficit de crescimento, como resultado do uso de bebidas alcoólicas por mulheres durante o período da gravidez. A incidência destes casos na população pesquisada, segundo o autor do estudo, é de aproximadamente 2,8 - 4,6 a cada 1000 nascimentos nos Estados Unidos. Seguidas de ampla evolução no campo científico, as teorias biológicas buscaram associar as tendências criminosas do indivíduo, assim como o alcoolismo, à predisposições genéticas e hereditárias, o que deu lugar, logo no início do século 20, à eugenia, um processo de evitação da transmissão desses males. No Brasil, segundo Mota, (2007, p. 21), o processo eugênico tinha como foco, além dos doentes mentais, “os mendigos, alcoolistas, delinquentes, prostitutas, negros e mestiços, entre outros. Tratava-se também de uma estratégia de normalização médica e penal que visava uma espécie de emparelhamento evolutivo e moral (...)”. Ainda nesta mesma época, conforme Mota (2007), o alcoolista era responsabilizado pela geração de filhos epilépticos, raquíticos, doentes mentais, alcoolistas e com propensão ao crime. Suposições já confirmadas por vários 50 autores, como visto acima em estudos de Sampson et al. (1997), além de outros abaixo demonstrados. A evolução no campo genético revela novas descobertas para tentar explicar o fenômeno da dependência química. Sobre isso, Messas (2004) diz em seu estudo sobre o papel da genética na dependência do álcool que esta modalidade de estudo fornece evidências sólidas do papel da genética na dependência química. Apesar disso, o mesmo autor, com suas próprias palavras, ao afirmar que não se pode atribuir única e exclusivamente aos fatores genéticos, o desenvolvimento da dependência química, pois esta, necessariamente, só se manifesta quando fatores relacionados ao meio socioambiental, favoráveis ao uso de substâncias, se fazem presentes, e diz, que: A heterogeneidade dos resultados em termos de definição dos limites dos fenótipos e mecanismos de transmissão hereditária indica o abuso ou dependência de álcool como resultante de uma complexa interação de fatores genéticos, psicossociais e culturais, melhor compreendida dentro de um modelo desenvolvimental de psicopatologia. (MESSAS, 2004. p.56) Já, no campo da neurociência, precedidos pela descoberta da estrutura do DNA por James Watson e Francis Crick, em 1953, e pela divulgação do revolucionário Projeto Genoma Humano, em 2000, estudos, na sua maioria patrocinados pela indústria farmacêutica, impulsionaram vários trabalhos de pesquisa voltados às minudências dos processos bioquímicos causadores da compulsão pelo uso de drogas. Este viés de investigação, na visão de Mota (2004), possibilitaria abordagens isentas de juízos morais, torna possível, inclusive, a produção de vacinas bloqueadoras dos efeitos da substância no cérebro e, consequentemente de prevenção à dependência química. À luz da neurociência, Mota (2004) citando Carelli (2006), diz que estudos comprovam, a exemplo da dependência química, que outros como conservadorismo político, distúrbios alimentares, depressão, neuroses, homossexualidade, violência, alimentação, inteligência etc., mais recentemente também a tendência ao suicídio ou à religiosidade, já foram identificadas geneticamente, compõem uma extensa lista de comportamentos transmissíveis hereditariamente. Sobre este modelo Silveira fillho (1996) faz críticas por entender que: 51 baseia-se em modelos genéticos controversos e em generalizações questionáveis de determinados experimentos para o fenômeno da dependência como um todo; não descreve uma “história natural” de relação do indivíduo com o produto, prescindindo, portanto, de uma teoria de dependencia; não abrange grande contingente de casos que, embora não preencham critérios para sua inclusão nesta categoria nosológica, correlacionam-se com taxas de morbidade e mortalidade diretamente ligadas ao consumo de álcool e drogas” (SILVEIRA FILHO, 1996, P. 11) 3.2 A dependência química do ponto de vista da psicologia No campo da psicologia, apesar das várias teorias desenvolvidas, nada existe de acabado em termos de compreensão da dependencia química. Sua etiologia é melhor explicada pelas teorias (psicanalíticas) da personalidade e pelas teorias (modelo comportamental) do aprendizado. De uma maneira geral, segundo Mota (2007), ao citar Bordin, Figlie e Laranjeira, (2004), a psicologia compreende a dependência, fruto do uso de drogas como preenchimento de um vazio, de compensação de uma carência emocional no sentido de resgate, ou revivência dos estados prazerosos de infância. No que tange ao alcoolismo, por exemplo, Nascimento e Justo (2000), referindo-se aos estudos realizados por Van Kolck, Tosi e Pellegrini (1991) e Sonenreich (1971), citam que este tipo de dependência química está intimamente relacionado a um conjunto de fatores inerentes à personalidade do indivíduo, como regressão emocional, imaturidade, instabilidade, ansiedade, insegurança, timidez e fraqueza do ego. Ainda segundo estes mesmos autores, são indivíduos que buscam no uso de substâncias um mecanismo de fuga do medo de tomar iniciativas e de assumir responsabilidades, ou seja, (...) funcionaria como um mecanismo de fuga do indivíduo devido ao seu sentimento de inadequação, encoberto por ideais de grandeza, certo perfeccionismo e exibicionismo, apresentados face à sua auto-imagem negativa (NASCIMENTO e JUSTO, 2000, p. 530). Outro aspecto na compreensão da dependência na dimensão psicológica diz respeito à família, pois esta também se constitui num fator de risco para a dependência. Ou seja, a desestrutura familiar caracterizada num desequilíbrio de papéis, neste caso, com destaque para a figura do pai ausente e/ou da mãe 52 superprotetora, se faz sentir não só como causador do envolvimento com a substância, como também como coadjuvante num processo de tratamento muitas vezes, mal sucedido, quando de sua atuação inadequada. Mais circunscrito ao modelo das teorias do aprendizado social, a automedicação seria outro importante aspecto para a compreensão do desenvolvimento da dependência no usuário de álcool e/ou outras drogas. De um lado a bebida e as drogas de abuso, e de outro, os medicamentos psicotrópicos usados no intento de afastar o sofrimentos psíquicos causados pelos sentimentos de ansiedade, raiva ou depressão, por exemplo. Este processo de automedicação lançaria o indivíduo no (des)caminho da dependência. Trocando em miudos: O desconforto ao levar o indivíduo a buscar nas drogas, sem que este atente para os critérios médicos, e o alívio resultante, o que, com alta probabilidade encontraria, desencadearia um processo de dependência química, resultando em mais um problema, ao invés de sanar os que o motivaram ao uso. (MOTA (2007), SENAD(2002) No campo psicanalítico, a dependência evidencia sintomas de um indivíduo com problemas emocionais. Desencorajado para lidar com seus problemas cotidianos, lança mão de lenitivos como as drogas para viver a vida sob o que Freud denomina de princípio do prazer. Ou seja, a negação do princípio da realidade, que significa encarar o problema de frente, assumindo o ônus e o bonus do que possa acontecer, aliás, este é o critério usado pelo senso comum para compreensão da dependência, pois desencadeia o desenvolvimento de um quadro patológico de uso de drogas, e consequentemente o vício. (MOTA (2007). Neste sentido, ampliando um pouco mais a percepção do senso comum sobre a etiologia da dependência, este diz que o abuso de drogas tem sua origem no confuso e conturbado mundo subjetivo do indivíduo. (MOTA (2007). Afastando os meios sócioambientais como fatores ou influências ao uso abusivo de substâncias, a psicologia clínica, ao explicar o fenômeno da dependência afirma que, segundo Mota (2007, p. 33), origina-se da “incapacidade de certos indivíduos em lidar com problemas emocionais oriundos de traumas de infância ou similares”, em que pese grande parte das literaturas psicanalíticas não apoiarem tal teoria, a exemplo de Joel Birman, ao afirmar que 53 Não se pode esquecer aqui que o desamparo humano aumentou muito na dita pós-modernidade, pois, com o fim das utopias e dos messianismos alimentados pela modernidade, não há mais como fazer obstáculo às dores e desesperanças produzidas na atualidade. Isso porque não se oferecem outros projetos alternativos nos registros social e político (BIRMAN, 2003 p. 243, apud MOTA, 2007, p.34). Isto posto, conclui-se que, pelo menos sob o enquadre psicanalítico, classificar dependência química implica em vários fatores ora internos ora externos, diferentemente do que postula a Organização Mundial da Saúde (OMS) em sua Décima Revisão da Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID 10) e os critérios encontrados no DSM IV, respectivamente, conforme tabela abaixo: Tabela 3 – critérios diagnósticos CID – 10 Critérios Diagnósticos para Dependência de Substância Três ou mais das seguintes manifestações ocorrendo conjuntamente por pelo menos 1 mês ou, se persistirem por períodos menores que 1 mês, devem ter ocorrido juntas de forma repetida em um período de 12 meses: 1. Forte desejo ou compulsão para consumir a substância; 2. Comprometimento da capacidade de controlar o início, término ou níveis de uso, evidenciado pelo consumo freqüente em quantidades ou períodos maiores que o planejado ou por desejo persistente ou esforços infrutíferos para reduzir ou controlar o uso; 3. Estado fisiológico de abstinência quando o uso é interrompido ou reduzido, como evidenciado pela síndrome de abstinência característica da substância ou pelo uso desta ou similar para aliviar ou evitar tais sintomas; 4. Evidência de tolerância aos efeitos, necessitando de quantidades maiores para obter o efeito desejado ou estado de intoxicação ou redução acentuada destes efeitos com o uso continuado da mesma quantidade; 5. Preocupação com o uso,.manifestado pela redução ou abandono das atividades prazerosas ou de interesse significativo por causa do uso ou do tempo gasto em obtenção, consumo e recuperação dos efeitos; 6. Uso persistente, a despeito de evidências claras de conseqüências nocivas, evidenciadas pelo uso continuado quando o sujeito está efetivamente consciente (ou espera-se que esteja) da natureza e extensão dos efeitos nocivos. Fonte : CID 10, 1997 54 Em que pese algumas diferenças pontuadas por Durte e Morihisa (apud SENAD, 2002, p. 70) entre o que postula a 4ª edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM IV), com seus sete critérios, e a Décima Revisão da Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID 10), composta por seis critérios, tornou-se mais fácil disgnosticar o uso patológico de substâncias. O primeiro, para que se configure a dependência, se faz necessário a presença de fatores fisiológicos (com o preenchimento dos critérios de tolerância ou abstinência), ou sem a presença de fatores fisiológicos, apenas a presença de 3 ou mais critérios, sem a presença de tolerância e abstinência). O segundo, CID – 10 define a presença de 3 ou mais de seus 6 critérios, ja configura um quadro de dependência. A tabela constante no DSM IV, compõem-se dos seguintes critérios para definir dependência química: Tabela 4 – critérios diagnósticos DSM IV DSM IV - Critérios Diagnósticos para Dependência de Substância Um padrão mal-adaptativo de uso de substância, levando a prejuízo ou sofrimento significativo, manifestado por três (ou mais) dos seguintes critérios, ocorrendo a qualquer momento no mesmo período de 12 meses: (1).Tolerância, definida por qualquer um dos seguintes aspectos: a) Uma necessidade de quantidades progressivamente maiores da substância para adquirir a intoxicação ou efeito desejado b) acentuada redução do efeito com o uso continuado da mesma quantidade de substância (2) Abstinência, manifestada por qualquer dos seguintes aspectos: a) Síndrome de abstinência característica para a substância (consultar os Critérios A e B dos conjuntos de critérios para Abstinência das substâncias específicas) b) A mesma substância (ou uma substância estreitamente relacionada) é consumida para aliviar ou evitar sintomas de abstinência (3) a substância é frequentemente consumida em maiores quantidades ou por um período mais longo do que o pretendido 55 (4) Existe um desejo persistente ou esforços mal-sucedidos no sentido de reduzir ou controlar o uso da substância (5) Muito tempo é gasto em atividades necessárias para a obtenção da substância , (por ex., consultas a múltiplos médicos ou fazer longas viagens de automóvel) na utilização da substância (por ex., fumar em grupo) ou na recuperação de seus efeitos. (6) importantes atividades sociais, ocupacionais ou recreativas são abandonadas ou reduzidas em virtude do uso da substância (7) o uso de substância continua, apesar da consciência de ter um problema fisico ou psicológico persistente ou recorrente que tende a ser causado ou exacerbado pela substância (por ex., uso atual de cocaína, embora o indivíduo reconheça que sua depressão é induzida por ela, ou consumo continuado de bebidas alcoólicas, embora o individuo reconheça que uma úlcera piorou pelo consumo de álcool) Especificar se: Com dependência fisiológica: evidências de tolerância ou abstinência (isto é, presença do Item 1 ou 2). Sem dependência fisiológica: não existem evidências de tolerância ou abstinência, isto é, nem Item 1 nem Item 2 estão presentes). Fonte: DSM-IV, apud Kaplan (2003, p. 374). 3.3 A Compreênsão da dependência do ponto de vista do meio sócioambiental O contexto social, por inúmeras razões, dada a impossibilidade de desenvolvimento humano sem este, exerce um papel preponderante para o estabelecimento de patologias decorrentes do uso de drogas. O homem, em sua interação com o meio em que vive, está sujeito às mais variadas influências, tanto positivas quanto negativas. Por isso, torna-se impossível deixar de aceitar os argumentos de vários autores ao afirmarem que a dependência de drogas, ou “síndrome de dependência” (OMS, 1993, apud SENAD, 2002, p. 6) está com suas raizes fincadas no contexto socioambiental do indivíduo. Segundo Mota (2007), a Organização Mundial da Saúde elaborou um relação de fatores considerados de risco, da mesma forma, também elaborou uma 56 relação de fatores considerados de proteção para o uso abusivo e a dependência de substâncias. Quais seriam, então, esses fatores protetivos? Para a OMS, 2004, (apud MOTA, 2007, p.39), os fatores de proteção são encontrados no contexto de “situação econômica estável, controle das situações, apoio social, integração social e acontecimentos positivos na vida”. Já os fatores de risco, segundo os critérios da OMS, são identificados numa sociedade onde há fácil disponibilidade de drogas, pobreza, mudanças sociais, cultura permissiva do círculo de amigos em relação ao uso de drogas, profissão, normas, atitudes culturais e ausência de políticas sobre álcool, tabaco e drogas (OMS, 2004, apud MOTA, 2007, p.39),. Diante disso, sem falso pessimismo, pouco se pode esperar em termos de abstinência do uso de drogas ilícitas, ou uso socialmente aceito no caso da bebida alcoólica e demais drogas lícitas, pois, diariamente os noticiários veiculados nos meios de comunicação de massa são os piores possíveis, considerando os itens apontados pela OMS, como fatores de risco supra citados. Um estudo realizado nos USA, apontou um aumento de 28,8% no consumo de álcool (24,6%), maconha (3,2%) e tabaco (9,7%), por pessoas residentes em áreas próximas ao World Trade Center, nas semanas seguintes ao atentado de 11 de setembro. Segundo os pesquisadores, isso deveu-se ao alto grau de estresse póstraumático a que estas pessoas foram submetidas. O estudo pontua a estreita relação entre tensão social e o consumo de substâncias. Um estudo entre estudantes universitários, realizado por Madu et al(2003) apud Silva et. ai., 2006, p. 8) também afirma haver “correlação entre o aumento do uso de tabaco e de “drogas” quando os alunos estão mais cansados, estressados, deprimidos”. Mas, a influência do contexto social para o aumento do consumo de substâncias, com possibilidades de evoluir para um consumo abusivo e daí para a dependência, não diz respeito apenas aos fatores estressantes externos. Madu et. al. (2003), também identificou em seus estudos os momentos livres, de lazer e confraternizações, mais especificamente, as reuniões festivas entre jovens (Madu et al (2003) apud Silva et. ai., 2006, p. 8). Por outro lado, um estudo com soldados americanos revelou que o sentimento de união e solidariedade, mesmo num campo de batalha, entre os soldados, destacou-se como fator de proteção para a dependência de drogas, 57 Segundo Mota (2007, p. 53), apesar do estímulo social para o uso de substâncias entre os jovens, através do fácil acesso às drogas ilícitas e conivência dos adultos em relação às lícitas, bebida alcoólica, por exemplo, os fracos ou inexistentes vínculos familiares etc, as causas das dependências estão mais relacionadas aos fatores psicológicos que sociológicos. Ainda, segundo este mesmo autor, ” é importante lembrar que a “sociedade” não conduz ninguém ao vício”. Percebe-se uma afirmativa bastante questionável, considerando as propensões, as predisposiões genéticas, identificadas por grande número de renomados autores, baseados em rigorosos estudos, de que um indivíduo não desenvolve ou adquire a dependência sem que haja uma interação com seu contexto social, ou seja, sem que lhe seja permitido o acesso a tais substâncias. Zweig et al., (2002) ao referir-se aos fatores de risco para o uso de drogas, diz que Alguns desses fatores se referem as características dos indivíduos; outros, ao seu meio microssocial e outros, ainda, as condições estruturais e socioculturais mais amplas (Zweig et al., (2002) apud MINAYA, 2004, p. 712). Silveira Filho (1996) faz críticas a este modelo de concepção da dependência química alegando que ... desconsidera motivações intrínsecas, da esfera individual, para se fazer uso de álcool e drogas; não discrimina padrões de uso recreativo/ocasional de abuso e dependência e a existência de influencia social direta constitui fenômeno de difícil comprovação” (SILVEIRA FILHO, 1996, P. 11) 3.4 A dependência química na compreensão biopsicosocial Compreender etiologicamente o fenômeno da dependência química, a partir das dimensões fisíca, psicológica e social, seria uma demonstração de relativo grau de conhecimento acerca da essência e da natureza do homem. Muitos e renomados autores afirmam enfaticamente que este se constitui da integralidade dessa tríplice dimensão biopsicossocial, muito embora a psiquiatria, a psicologia e a sociologia tentem, apesar de toda ambiguidade que o cerca, de forma isolada e circunscrita, entender e explicar este fenômeno. Para MOTA (2007, p.56), no caso das drogas, sua finalidade “(...) perfaz um entendimento que perpassa a biologia, a psicologia e a cultura”. Ou seja, 58 conceber um contexto de uso de substâncias psicoativas, do medicamento àquelas socialmente aceitas, tanto em ritos sociais quanto em ritos religiosos, não se restringe à substância apenas. Muitos fatores interdependentes se fazem presentes como, por exemplo, no caso das substâncias lícitas(álcool, fumo, medicamentos, produtos utilizados nas indústrias (tinta, colas, solventes, etc.), nos meios de transportes como a gasolina, por exemplo); Os condicionantes biológicos(genéticos) e hereditários(valores); os interesses econômicos e políticos, e muitos outros. Como se vê, o uso de substâncias implica em muitas causas que transformam-se em consequências, respaldando qualquer argumento que tente justificar seu uso. Ao mesmo tempo que também justifica qualquer fracasso, ou omissão, de combatê-lo. Autores como Norbert Elias, por exemplo, em “A sociedade dos indivíduos (1994)”, afirmam que sociedade e indivíduo não são um e outro, são apenas um, Sem dúvida temos consciência, ao mesmo tempo, de que esse abismo entre os indivíduos e a sociedade não existe na realidade. Toda sociedade humana consiste em indivíduos distintos e todo indivíduo humano só se humaniza ao aprender a agir, falar e sentir no convívio com outros. A sociedade sem os indivíduos ou o indivíduo sem a sociedade é um absurdo. (ELIAS, 1994 p.67). Ou ainda, como diz Mota, 2007, p.57) o que os sociólogos configuram como ““estrutura social”, não passa do resultante da soma de ações tomadas em seu conjunto”. Por outro lado, o indivíduo, na mesma proporção, também recebe toda uma carga de influências que irão determinar muito do que possa vir a ser em atitudes e comportamentos. Em tom crítico, ao analisar esta concepção, Silveira Filho (1996), argumenta que os assim chamados “fatores de risco” são, na maioria da vezes, fatores correlacionados, não implicando necessariamente a existencia de uma relação de causa e efeito. Ou seja, nunca foi demonstrado que atuando-se nestes fatores, obtenham-se modificações de comportamento, supostamente decorrentes dos mesmos no futuro; não foram bem sucedidas as tentativas de identificar associações de fatores que possam ser preditivos de padrões específicos de consumo; a teoria é estática e linear-causal, uma vez que não dispõe de uma descrição das inter-relações dinâmicas entre os fatores de risco e o uso de substâncias(...) (SILVEIRA FILHO, 1996, P. 12) Este mesmo autor, apresenta também o Modelo Sistêmico como um 4º modelo suficientemente abrangente de compreensão do fenômeno da dependência, 59 ao afirmar que existe uma interação dinâmica do indivíduo e o seu contexto, entre variáveis individuais, ambientais e a droga 3.5 Personalidade do usuário de drogas No enfoque dessa problemática, outro fator se faz importante abordar, a personalidade do dependente. Afinal, de quem estamos falando? Como é o usuário dependente de drogas? Esse indivíduo será capaz de encarar uma realidade, seja objetiva ou subjetiva, sem se sentir impotente, desesperançoso, frustrado sempre que tenta mudá-la por considerá-la insuportável? Ao invés de mera opção de estilo de vida, não seria a droga a única saída para incapacidade de continuar vivenciando esta sua realidade? O tédio, a depressão e a ansiedade não estariam por de trás dessa “relação de dualidade” existente entre o indivíduo e a droga que, segundo Silveira, (1996, p.7) “(...) permanece indissociável enquanto a droga for capaz de propiciar essa alteração de percepção de uma realidade, respondendo assim pela manutenção de uma situação de equilíbrio, ainda que instável, desse indivíduo”. Isto posto, significa dizer que alguns traços são característicos da personalidade do indivíduo; segundo Kox (1998), precedem o vício como, por exemplo, sentimento de desvalia, melancolia, depressão e ansiedade, afeto negativo, sensibilidade profunda, são mais emotivos e magoam-se com maior facilidade. São atormentados por aflições infundadas, perdem o autocontrole facilmente, acreditam que suas vidas são influenciadas por fatores ambientais. As respostas aos estímulos tendem a ser distorcidas e se valem das drogas para diminuir as dores. Possuem a capacidade de cognição e percepção distorcidas, angústia, sentimento de culpa, vergonha e remorso. Um estudo realizado nos USA, conforme Kaplan (2003) aponta que, entre 35 a 60% dos usuários dependentes de substâncias, foi constatado transtorno de personalidade anti-social. Este percentual aumenta se considerados os indivíduos que preenchem em todos os critérios diagnósticos desse tipo de transtorno, precedido ou desenvolvido durante o uso de substâncias. Segundo Cunha, (2007), a identificação e compreensão dos conflitos, mecanismos de defesa, estados emocionais, fantasias, traços de caráter e os 60 aspectos sadios e/ou patológicos, possibilita identificar as áreas mais vulneráveis na personalidade do usuário dependente de substâncias, consideravelmente as probabilidades de sucesso do tratamento. aumentando 61 4 TRATAMENTO Dependencia química tem cura? Para dirimir esta dúvida se faz necessário outra pergunta: O que é cura, o que se entende por cura? Se cura for recobrar a saúde e o bem estar psicológico, físico, emocional e social, apesar do baixo índice de eficácia mostrado até então, a resposta é sim. Mas, se significar, necessáriamente, a completa erradicação da doença, zerar todo e qualquer foco da mesma, então, a resposta é não. “Aqui, não há cura, mas tratamento; (...) e qualquer um pode ser melhor que nenhum”, diz Bernik (1991) apud FOCCHI (2001:IX). Ou seja, uma vez dependente químico, para sempre dependente químico. Não existe cura. O que existe é o controle da patologia, e neste sentido, há necessidade de um conjunto de medidas que visem o controle da mesma e a cura ou o controle de comorbidades associadas ao uso de substâncias. O tratamento para a dependência química, ao que se sabe, em nada se parece com a atenção dispensada à um paciente com uma doença circunscrita, localizada, a qual, se administrada à terapia adequada, os resultados são positivamente certos. A dependência química é bem mais complexa. É um tipo de enfermidade com origens diversas, multifatorial. As várias dimensões que compõem o indivíduo (emocional, social, física e psicológica) precisam ser consideradas e minuciosamente investigadas para um bom diagnóstico e, consequentemente, num prognóstico que resulte em efetividade. A recuperação de um indivíduo dependente de drogas pode se arrastar por longo período de tempo, e não é raro requerer do paciente, várias tentativas. Nos últimos anos, investigações dos processos de tratamento possibilitaram elaboração dos seguintes princípios, considerados básicos pelo National Institute on Drug Abuse (NIDA), para um programa de tratamento que se propõe a alcançar êxito. Segundo o NIDA, muitos estudos científicos comprovam a eficácia do tratamento quando observados os seguintes princípios: 1. Não existe tratamento único que possa ser aplicado a todas as pessoas; 2. O tratamento deve ser de fácil acesso; 62 3. O tratamento para ser eficaz precisa atender além da dependência também outras necessidades do indivíduo; 4. O plano de tratamento e os serviços de cada pessoa devem ser constantemente avaliados e modificados, quando são necessários ajustes a qualquer mudança de suas necessidades. 5. A permanência por determinado e adequado período de tempo ao tratamento é essencial para sua eficácia. 6. O aconselhamento e outras terapias comportamentais são elementos essenciais e fundamentais em praticamente todos os programas de tratamentos da drogadição. 7. Os medicamentos se constituem elementos importantes para o tratamento de certos tipos de transtornos, especialmente quando em conjunto com aconselhamentos e outras terapias comportamentais. 8. Os usuários dependentes ou abusivos de drogas que também apresentem outros transtornos mentais devem receber tratamentos de forma integrada para ambos: dependência e transtornos. 9. As intervenções médicas nos casos de síndrome de abstinência (desintoxicação) significam apenas a primeira etapa do tratamento para a dependência e, por si só, representa muito pouco para modificar o consumo de drogas de longo prazo. 10. O tratamento não necessita ser voluntário para ser eficaz. 11. Deve ser monitorado constantemente, durante o tratamento, o possível uso de drogas. 12. Os programas de tratamento devem incluir exames de HIV/AIDS, hepatites B e C, tuberculose e outras enfermidades contagiosas. Também se deve proporcionar aconselhamento para ajudar as pessoas a modificarem ou substituírem aqueles comportamentos que ofereçam riscos de contaminação para si, ou para outros. 13. A exemplo de outras enfermidades crônicas em que há possibilidade de recaída, a recuperação da dependência de drogas pode ser um processo de longo prazo que geralmente requer submeter-se a várias tentativas de tratamento e às sessões de reforços e outras formas de cuidado contínuo, por também oferecer alto risco de recaída. 63 Aspecto não menos importante, mas de extrema relevância num programa de tratamento, é uma investigação clínico-laboriatorial completa, para verificação de existência, ou não, de comprometimento médico ou neurológico, doenças concomitantes e comorbidades (diagnóstico de duas ou mais doenças em um único paciente—diagnóstico duplo), eliminação de causas orgânicas dos transtornos psiquiátricos e estabelecimento de valores básicos de funções a serem monitoradas. Neste sentido, Duarte e Morihisa, (2002) recomendam que sejam feitos os seguintes exames: a) Hemograma completo;b) Eletrólitos (sódio, potássio, magnésio, cálcio, cloro, etc.); c) Testes de função renal ou dos rins; d) Testes de função hepática ou do fígado; e) Testes de função pancreática ou do pâncreas e glicemia;f) Testes de função tireoidiana ou da tireóide;g) Sorologia para Doenças Sexualmente Transmissíveis — DST (HIV, sífilis, hepatites, etc);h) Exames de imagem (Tomografia Com putadorizada, Ressonância Nuclear Magnética, Tomografia por Emissão de Pósitrons — PET, Tomografia Computadorizada por Emissão de Fóton Unico - SPECT); i) Testes Toxicológicos: testes sanguíneos e de urina para detecção de substâncias psicoativas. (DUARTE E MORIHISA, 2002, apud SENAD, 2002, p.112) Além das investigações de aspecto físico individual acima sugeridas, na triagem de inserção num programa de tratamento, segundo Duarte Vieira, (2002), importa tambem, conhecer o contexto sócioambiental do indivíduo e sua interação com este na 1)vida pessoal e familiar(vida pregressa, relacionamento familiar, papéis familiares, relacionamento com drogas); 2)vida funcional (motivação para o trabalho, responsabilidade, produtividade, absenteísmo, relacionamento Interpessoal, segurança); 3)Vida Econômico-financeira(situação financeira e econômica, uso do dinheiro); 4)vida sócio-cultural (relacionamento com amigos comuns à família, relacionamento com vizinhos, atividades na comunidade, envolvimento com a justiça e a polícia) e 5)vida espiritual (Orientação espiritual Crenças, sonhos , propósitos de vida). (DUARTEVIEIRA, 2002, apud SENAD, 2002, p.125/126) 4.1 Modelos de tratamentos Apesar das tantas dificuldades terapêuticas encontradas na área da dependência química, a começar pela inexistência da cura e, principalmente considerando a inexistência de um indivíduo motivado, muitas pesquisas têm demonstrado que o tratamento deste tipo de doença possui largo espectro de 64 modalidades de terapias, agrupadas em três modelos básicos existentes atualmente: o modelo Craft (auto-ajuda), o modelo médico (craft) e o modelo psiquiátrico (misto), segundo Focchi (2001). Resumidos por Duarte et. al., apud SENAD, (2002 p.176) em dois grandes modelos: Psicossociais e Tratamentos Farmacológicos. 4.1.1 Tratamento Psicossocial No modelo Psicossocial estão agrupadas as abordagens psicoterápicas Cognitivo-comportamental, Comportamental, Psicodinâmica/Interpessoal, de grupo e familiar, além da participação em grupos de Alcoólicos Anônimos (AA) e Narcóticos Anônimos (NA), etc.; 4.1.2 Tratamentos Farmacológicos O modelo Tratamentos Farmacológicos se caracteriza pela utilização de medicamentos para tratar estados de intoxicação e abstinência; para reduzir os efeitos reforçadores (que levam a autoadministração); como antagonistas (desencorajadoras ou indutoras de consequências desagradáveis ao interagir com a substância de abuso); agonista, terapia de substituição e também medicamentos para tratamento de transtornos psiquiátricos. Os medicamentos podem ajudar a restabelecer as funções normais do cérebro, prevenir recaídas e diminuir a fissura pela droga ao longo do processo de tratamento. Já existem atualmente, medicamentos para tratar a dependência de substâncias como opiáceos (morfina, heroína) e tabaco (nicotina). E já se encontra em processo de estudos, medicamentos para tratamento de dependência de estimulantes (cocaína, metanfetamina) e cannabis (maconha). Por exemplo, a metadona e a buprenorfina são medicamentos eficazes para o tratamento da dependência em opiáceos. Ao atuar sobre os mesmos locais do cérebro que a heroína e a morfina, estes medicamentos reduzem os sintomas de síndrome de 65 abstinência e aliviam o desejo intenso pela droga. Isto ajuda aos pacientes a abandonarem a procura pela droga e os comportamentos criminosos associados a esta, e a serem menos resistentes aos tratamentos de abordagens comportamentais. 4.1.3 Craft O modelo Craft, segundo Schenker e Minayo (2004), (Community Reinforcement and Family Training) ou em português “Treinamento de Família e o Reforço da Comunidade”, consiste em treinar e habilitar os familiares e amigos do dependente alcoólico resistente ao tratamento, persuadindo-o a se engajar num processo terapêutico. Esta abordagem, segundo Schenker e Minayo (2004, p.650), percebe “a recuperação do adicto como muito afetada pelo contexto ou “comunidade” de reforço, compondo-se de família, amigos, trabalho, escola, grupo espiritual e grupos sociais”. O mesmo termo para Focchi (2001) refere-se a um modelo largamente usado na abordagem ao dependente químico, principalmente de bebidas alcoólicas, por membros abstinentes ligados aos próprios grupos, atuando como educadores, monitores ou conselheiros do dependente químico em processo de recuperação. Conforme Focchi (2001), citando St. Clair, (1991), apesar das limitações apresentadas por estes educadores/conselheiros no que tange aos conhecimentos teóricos/técnicos de dimensões biopsicológicas afetadas pelo uso de drogas, tiveram reconhecida sua importância na abordagem ao usuário abusivo/dependente de substâncias psicoativas, sendo recentemente credenciados para atuarem na América do Norte. Por outro lado, Carrol e Schottenfeld, (1997), apud FOCCHI, 2001, p.104) afirmam que A familiaridade em relação às abordagens não farmacológicas é crítica para a prevenção efetiva da dependência química, para a identificação de pacientes com o problema, para a. mudança de sua motivação para o tratamento e para maximizar o sucesso terapêutico (CARROL e SCHOTTENFELD, (1997), apud FOCCHI, 2001, p.104) 66 Diante disso, fica evidenciado a importância de um indivíduo motivado para o êxito do tratamento. Em caso contrário, pelo menos até o momento, nem mesmo todo empenho da ciência, se não houver comprometimento do indivíduo, garante sucesso pleno. 4.1.4 Modelo médico Este tem o componente médico em associação com o modelo craft da concepção de Focchi (2001). Ainda de acordo com Focchi (2001), difere do modelo craft apenas em relação à presença do profissional médico fazendo intervenções clínicas nas patologias decorrentes do uso de substâncias, e também no aconselhamento ao paciente, ao mesmo tempo atuando como coordenador e consultor da equipe técnica. Este modelo de tratamento engloba as mais variadas abordagens, tornando-se fundamentalmente multidisciplinar, primeiro por ser a dependência uma doença multifatorial, abrangendo dimensões psicológicas, físicas e sociais do sujeito; segundo, porque até o presente momento, não se conhece um medicamento que possa realmente combater com eficácia esse tipo de enfermidade. 4.1.5 Modelo psiquiátrico Segundo Clair (1991, apud FOCCHI, 2001, p. X), os modelos acima, acrescidos das abordagens psiquiátricas (diagnósticos e tratamentos específicos), compõem o modelo psiquiátrico. Este, por sua vez, atualmente se constitui no mais completo programa de tratamento para dependência química por agregar várias modalidades numa proposta multidisciplinar (psiquiatra, psicólogos, enfermeiro, terapeutas ocupacionais e familiares). Um conjunto de abordagens como psicoterapia individual, familiar, de grupo, cognitivo-comportamental, farmacoterapia, entrevista motivacional, etc) é 67 usado visando um tratamento que tem por objetivo contribuir na reabilitação física, psicológica e social do usuário dependente de substâncias. 4.2 Regimes de tratamento A escolha e decisão sobre qual regime de tratamento mais adequado para tratar um dependente químico, deve ser pautada na necessidade de tratamento específico diponível apenas em determinado regime, na estrutura e suporte necessários, nas habilidades demonstradas pelo paciente em cooperar e beneficiarse com a tratamento oferecido; de abster-se do uso de substância e na habilidade de evitar comportamentos de risco . (DUARTE, e cols. 2002). Os mais comuns são Hospitalar, Residencial (Comunidade Terapêutica), Hospital-dia e regime ambulatorial. Dependendo do regime e do indivíduo e seu grau de comprometimento, a demanda de tempo pode variar entre alguns meses a vários anos. Lembrando que se faz necessário um monitoramento constante desde a fase inicial do processo aos demais estágios, se estendendo até 12 meses após seu término. 4.3 Modalidades ou Abordagens Terapêuticas Psicossociais Neste capítulo serão enfocadas, em seus aspectos mais relevantes, algumas das modalidades abaixo relacionadas, mais aplicadas, atualmente, nos processos de tratamento de usuários abusivos e/ou dependentes de substâncias psicoativas. Lembrando que um plano de tratamento adequado deve se constituir, em termos gerais, de enfoques visando abstinência, prevenção de recaída e quadro clínico concomitante, e que provoque mudanças comportamentais e de atitudes voltados para um estilo de vida saudável e produtivo. Em casos mais especificos, se faz necessário adequar o tratamento à necessidade do indivíduo, segundo Gawin e Kleber, 1986, apud FOCCHI, 2001 p.104) pluralizando o enfoque. Neste sentido, 68 apontam Ferreira e Cols.(1995 apud FOCCHI, 2001, p.104) que “a motivação do indivíduo dependente para se tratar e a participação dos familiares é fundamental”. Rigorosos e metodológicos estudos demonstraram que quanto mais abordagens psicoterápicas num programa de tratamento para dependência de opióides, melhores são os resultados, e mais eficaz torna-se o tratamento. 4.3.1 Entrevista Motivacional(EM) Esta é uma das mais recentes técnicas usadas para tratamento das dependências químicas. Como foi referido inúmeras vezes neste trabalho, para um efetivo engajamento num processo terapêutico por parte do indivíduo dependente, torna-se imprescindível sua motivação para o êxito do mesmo. A motivação, que pode ser um traço de caráter ou apenas um momento interno, é algo que pode variar de intensidade, ou mesmo desaparecer em relação a determinado compromisso, projeto ou ação. Especificamente sobre dependência química Proshaska e DiClemente, (1982, apud SILVA, 2004) dizem que a motivação do usuário dependente segue um espiral nos seguintes estágios: 1) Pré-contemplação: não relaciona seus problemas com o uso de substância; 2) Contemplação:o indivíduo reconhece a existência de problemas associados ao hábito de uso de drogas, mas apesar de sua consciência a respeito, surge a ambivalência, ou seja, ainda não se encontra pronto para mudanças; 3) Ação: Neste estágio o indivíduo reconhecendo que tem problemas decorrentes de seu relacionamento com as drogas, passa a planejar ações, comprometendo-se em lançar mão de estratégias para alcançar mudanças como de estilo de vida, reconhecimento e enfrentamento de situações de risco, etc.); 4) Manutenção: Uma vez plenamente consciente, e em processo de mudança, usa a terapia para se fortalecer e permanecer em seu propósito de se manter abstêmio, criando assim, condições externas para a mudança. A Entrevista Motivacional se constitui numa técnica para levar o paciente a ver e aceitar seu problema durante a terapia e desta forma optar por mudar. Segundo Laranjeira e Jungerman, 2002, apud SENAD, 2002, p.25) esta abordagem segue a mesma linha de atuação de uma “Terapia Centrada no Cliente”, de Carl 69 Rogers, ou seja, o indivíduo toma decisão por si próprio, consciente do que está fazendo, portanto, com motivação. Diferentemente de outras estratégias como a de aconselhamento (“giving advice”) que segundo Rollinik, (1993, apud Focchi, 2001), de pouca efetividade visto que nem sempre o indivíduo está pronto para mudanças, para aceitar o tratamento, gerando ainda mais resistência; e de confronto, que associa, por exemplo, a resistência do indivíduo com traços de caráter, além de profundos mecanismos de defesas deste, por isso também de pouca eficácia, esta visa explorar a ambivalência do paciente, englobando técnicas psicoterápicas breves, Centrada no Cliente, Cognitiva, Sistêmica e Psicologia de Persuasão, reunindo elementos diretivos e não diretivos. Conforme Focchi (2001, p.26), 11 estudos sobre Entrevista Motivacional, analisados por Noonan e Moyers (1997), chegaram aos seguintes resultados sobre seu grau de efetividade: 7 apóiam a eficácia da EM em diferentes “settings” e 2 estudos não sustentam o uso da EM como uma intervenção clínica efetiva. Em relação aos sete resultados favoráveis a EM, no primeiro estudo, MILLER e cois. (1988) constataram redução no consumo semanal de álcool; noutro estudo estes mesmos autores (MILLER e cois. (1993), demonstraram melhores resultados em comparação com técnicas confrontativas. Outros autores como Bien e cols. (1993), ao usarem EM como técnica de estímulo ao tratamento verificaram maior compromisso com o tratamento e percepções mais positivas do terapeuta. Brown e Miller (1993) ao comparar dois grupos em tratamento verificaram além de maior redução no consumo de álcool, também constataram mais comprometimento com o tratamento. Saunders e cols. (1995) ao compararem o uso terapêutico de metadona e EM, com um grupo de usuários de opiáceos, tambem revelaram que este último ...foi mais adiante nos estágios de mudança, fez maior compromisso com a abstinência, observou mais vantagens em se manter abstinente, mantevese mais tempo no programa, além de recair menos e ter menos problemas relacionados ao uso de opiáceos”(FOCCHI, 2001, p.27). Ao monitorar usuários de álcool durante consultas médicas, Handmaker (1993) constatou que um grupo de mulheres em pré-natal diminuiu gradativamente o consumo alcoólico em cada encontro. Senft e cols. (1995) ao estudarem um grupo de usuários de álcool, a exemplo de Handmaker (1993), também constataram que o grupo que tivera uma breve abordagem EM de 15 minutos, conseguiu ao longo de 6 70 meses, além da diminuição gradativa do consumo total, também reduzir o número de dias por semana de uso da substância após 6 a 12 meses. Heather e cols. (1995) observaram que um grupo de usuários de álcool internados, mas que ainda não estava aceitando mudanças, obteve melhores resultados se beneficiando muito mais com a abordagem EM do que um outro grupo, apesar de levar ligeira vantagem, pois este último já estava pronto para mudanças, além disso, beneficiados com a abordagem de treinamento de habilidades (“skill-based counseling” — SBC). Ainda segundo Focchi (2001), Stephens e cols. (1993) ao comparar três modalidades de tratamento: EM (“Drinkers’ check-up” – DCU), prevenção de recaída e tratamento padrão com usuários de maconha, constataram que os dois primeiros mostraram mais eficácia na redução de consumo e de problemas relacionados. Focchi (2001) diz, ainda, que apesar dos resultados apresentados, esta abordagem carece de maiores e mais aprofundados estudos, para corroborar ou não o até aqui exposto. Por outro lado, Laranjeiras(1996, p.195) afirma ser uma das mais bem sucedidas abordagens transteóricas, ou seja, seus fundamentos teóricos baseiam-se no resumo de cerca de 18 teorias sobre o problemas de álcool e outras drogas. 4.3.2 Terapia Cognitiva-Comportamental (TCC) A Terapia Cognitiva-Comportamental, como a própria terminologia indica, é a união de duas teorias: Teoria da Terapia Cognitiva e Teoria da Terapia Comportamental. A primeira, de acordo com Kaplan (2003, p. 796) baseia-se nos pensamentos automáticos, quando negativos induzem à comportamentos inadequados e adaptativos, resultado de um processo cognitivo afetado por experiências anteriores; a segunda, ainda segundo este mesmo autor, “fundamentase nos princípios da teoria da aprendizagem” , ou seja, o comportamento é resultado de um processo de condicionamento, ou aprendido. Sendo assim, significa que pode também ser modificado, “desaprendido”. 71 A Terapia Comportamental-Cognitiva (TCC) (Cognitive Behavioral Therapy CBT), basicamente entende que o comportamento adaptativo pode mudar sem a presença de “insight”, mas, diminuindo ou aumentando, positiva ou negativamente, o reforço ao mesmo (FOCCHI, 2001). Ou seja, a CBT analisa o uso de drogas como sendo causa de fatores sociais cognitivos, atuando como força motriz no funcionamento do indivíduo. (SCHENKER e MINAYO, 2005) A TCC ainda em fase de desenvolvimento, no que concerne ao tratamento das dependências químicas, segundo Capote e Ramos, apud SENAD (2002, p.38), procura através de várias teorias e técnicas das Terapias Cognitiva (TC) e Comportamental (BT), “sinalizar ao paciente a relação entre o seu pensamento, emoção e sua ação em relação às drogas”, corrigindo suas conceituações cogniticas distorcidas. Trata-se de uma modalidade de tratamento com sessões estruturadas, de postura diretiva e ativa. Entre as técnicas utilizadas, segundo Silva (2004) e Foochi (2001), estão as de monitoramento dos pensamentos automáticos negativos; traçar as conexões entre a cognição, o afeto e o comportamento; Mapear as cognições tendenciosas; Identificar e alterar as Crenças Básicas, Lidar com imagens disfuncionais, elucidando e modificando-as, Terapia aversiva, técnicas de relaxamento e treino de habilidades sociais. Quanto a sua eficácia no tratamento das dependências químicas, estudos têm revelado resultados bastante favoráveis indicando boa resolutividade. Segundo Cordioli e Knapp (2008), os problemas de adcção quando tratados com TCC, especialmente, a Prevenção de Recaídas, tem alcançado resultados satisfatórios. Outro estudo realizado por Karkow e Caminha (2005), ao analisar a aplicação de técnicas cognitivo-comportamentais, aliadas a uma boa relação terapêutica, constataram aumento na qualidade de vida e manutenção da abstinência dos participantes. Vários estudos têm oferecido diversas evidências sobre a eficácia desta modalidade e seus métodos de tratamento. Conforme Carvalho (2004, p.5), além de validadas pela Associação Americana de Psicologia (APA), “dois ensaios clínicos controlados, conduzidos em dois centros independentes” comprovam a eficácia da TCC no tratamento das dependências químicas. 72 Marques e Formigoni (2001), num estudo comparando a terapia cognitivocomportamental individual ou em grupo para pacientes dependentes de álcool e/ou outras drogas, concluíram que “Tanto a TCC individual quanto a TCC em grupo demonstraram efetividade semelhante para a maioria das variáveis estudadas”. 4.3.3 Terapia Familiar É comum, nos casos de família que tenha um de seus membros dependente químico, ouvir-se: A família também precisa se tratar. Quanto a isso não restam dúvidas, mas o que precisa ficar claro é que a família precisa se tratar pelo fato dela também ser extremamente afetada, e não com a conotação de acusação. Segundo Zemel (2001, s/p.) “Quando aceitamos que o problema de uso e consumo drogas é uma questão bio-psico-social, já estamos aceitando que a família se inclui nesse processo” O princípio da terapia familiar, ainda segundo Zemel (2001, s/p.), parte de que esta é um sistema em equilíbrio, neste sentido, a terapia familiar entende quando há ocorrência de drogadição, e reforça esta prática ao “estabelecer um equilíbrio patológico entre seus membros”. Para Focchi, (2001) o vínculo do usuário dependente com a família é pobre, rígido e simbiótico. Schenker e Minayo (2004) percebem que no entendimento da Teoria Sistêmica, a drogadição reflete um sistema familiar de elos frágeis e inconsistentes, um contexto no qual o processo relacional do indivíduo com os demais, tende a ser disfuncional. Neste sentido, a família é considerada como co-autora do surgimento do abuso de drogas. Atualmente, são apresentadas diversas abordagens de intervenção familiar. As de melhor conceito por sua efetividade são: “Modelo da Doença Familiar”, que entende que a doença afeta tanto o usuário quanto a família; A “Terapia de Família Comportamental Cognitiva”, união da teoria sistêmica com princípios e técnicas da CBT individual. Esta abordagem também vê drogadição como resultado da dinâmica familiar; As “Terapias Integrativas” ou ecológicas, como a “Terapia de Família Multidimensional” e a “Terapia Multissistêmica da Família” focando os fatores individuais, familiares e extra-familiares (amigos, escola, comunidade). 73 Nas terapias de família, um dos aspectos abordados diz respeito aos processos educacionais pelos quais passa a família, contribuindo com informações, subsidiando-a, para que possa vencer os preconceitos e a negação do problema e, assim, apoiar as mudanças no estilo de vida, necessárias na recuperação do dependente. 4.3.4 Terapia dos 12 passos Concebida como filosofia de vida por membros de Alcoólicos Anônimos (AA), a "Terapia dos 12 Passos" (Twelve-Steps Approaches), é conhecida também como o "Modelo Minnesota" (Minnesota Model), é tida como base do programa de recuperação dos grupos de auto-ajuda Alcoólicos Anônimos (AA) e Narcóticos Anônimos (NA). Nesta modalidade de tratamento a drogadição é conceituada como uma doença progressiva, incurável e fatal. O dependente alcoólico ou de outras drogas é visto como um sujeito vencido pelo poder das drogas, caracterizado pela negação e pela impotência perante a doença. A participação nos programas de auto-ajuda requer apenas que o indivíduo tenha vontade sincera de parar de usar, reconheça sua incapacidade de controlar o uso de substâncias e que acredite num Ser Superior, através do qual poderá restabelecer-se dessa doença. Para estes, a terapia dos 12 passos é uma forma de desenvolver sua espiritualidade. Outra característica dessa modalidade é que o participante deve preocupar-se apenas com as próximas 24 horas, assumindo o compromisso de que “só por hoje”, vivendo apenas um dia de cada vez, vai resistir a vontade de ingerir a substância. Alem dos grupos supra, a terapia dos 12 passos é usada como complemento de outras modalidades de tratamento como os de programas terapêuticos de Comunidades Terapêuticas e modelo Minnesota (SENAD, 2002). Mudança de estilo de vida. Este é o objetivo do programa de tratamento em Comunidades Terapêuticas ou (Therapeutic Community Approach TC), desde que a pessoa esteja motivada, queira e aceite o tratamento. Maxwell Jones, citado por Fracasso (2002), apud SENAD (2002, p. 92), diz que Comunidade Terapêutica 74 “...é um grupo de pessoas que se unem com um objetivo comum e que possui uma forte motivação para provocar mudanças”. Refere-se a um regime de tratamento residencial. O interno precisa de um período de nove meses para completar o programa terapêutico. A Comunidade Terapêutica se constitui num espaço, com características familiares, onde o indivíduo possa resgatar ou desenvolver crenças, atitudes e comportamentos socialmente adaptados. Desenvolvimento interrompido pelo uso de substâncias, comprometendo sua personalidade e suas habilidades interpessoais. 4.3.5 Redução de danos Diante do avanço das doenças transmissíveis como a AIDS, provavelmente ajudada pela impossibilidade de evitar o avanço do uso de drogas, gastos públicos astronômicos frente aos danos à saúde do usuário e a tantos outros fatores como segurança pública, por exemplo, começaram a surgir novas propostas de combate as conseqüências nocivas do uso de drogas (MARLATT, 1999). Segundo Queiroz (2001), as (...) práticas interventivas fundadas sob a égide da abstinência total, da repressão ao uso do proibicionismo não têm conseguido resultados efetivos no campo da drogadição, somos levados à necessidade de buscar novas saídas para a questão. (QUEIROZ, I. S. de. 2001, vol.21, nº.4, p.2-15. ISSN 1414-9893). Na verdade, uma prática com características de redução de danos já se fazia presente em períodos remotos do uso de substâncias como, por exemplo, em 1898, com o advento da morfina e da heroína, rotuladas pelos europeus, conforme Escohodato (2004, p. 87), de “pílula anti-ópio”. Descoberta por químicos do exército alemão, a metadona, batizada por Adolf Hitler de dolofina, uma substância sintética 7 vezes mais “activa” do que a morfina e a heroína (ESCOHODATO, 2004, p. 117), em 1965, surgiu no mercado para fazer o papel de uma droga terapêutica usada para substituir as opiáceas, de acordo com Jesus (2009), intervenções substituição, ou manutenção. terapêuticas, hoje chamadas de 75 Mesquita (1994) informa que mais recentemente, em 1989, em Santos/SP, este polêmico modelo de intervenção terapêutica no comportamento de risco relacionado ao uso de drogas, é experienciado por usuários de drogas ao serem estimulados à troca de agulhas e seringas. Segundo Kaiafa (2001, p.185), o compartilhamento de seringas reduziria o risco de “... ser preso por porte de seringa, estar sozinho e sofrer uma overdose e até mesmo ser rejeitado pelos parceiros”, ou seja, ao contrário do que muitos acreditam, percebe-se, de certa forma, relativo nível de consciência e ação sobre possíveis conseqüências relacionadas a determinadas práticas de auto-administração da droga. Um estudo epidemiológico envolvendo usuários de drogas injetáveis, participantes do Projeto Redução de Danos da Coordenação nacional de DST e AIDS, do Ministério da Saúde, realizado em Porto Alegre, concluiu que A criação de uma “postura” de redução de danos, com certeza, facilitará o longo caminho na luta que se tem a travar contra o HIV/AIDS, HTLV e hepatites B e C neste grupo tão vulnerável de importante participação nestas várias epidemias. (CAIAFFA, W.T. et al. Brasil. Ministério da Saúde. Coordenação Nacional de DST e Aids, Brasilia, Ministério da Saúde. 2001). Segundo Brasil (2003, p.27) uma política de enfrentamento do uso abusivo/dependente de drogas lícitas e ilícitas, e consequentes danos ao usuário e social, não implica, necessariamente em preconização de imediata da abstinência, mas de resgate de seu papel social, mobilizando-o “...nas ações de prevenção e de tratamento, como um método clínico-político de ação territorial inserido na perspectiva da clínica ampliada”. De acordo com Laranjeiras (1996, p.193) para muitos autores a “...política de redução de danos foi o maior revolução já ocorrida na história dos tratamentos de usuários de drogas”, provocando “mudanças profundas no significado do conceito de tratamento”. 4.3.6 Terapia de grupo A primeira intervenção grupal, de acordo com Osório (2000), deu-se em 1905, quando Pratt reuniu pacientes acometidos de tuberculose em uma enfermaria 76 para uma abordagem terapêutica. Este tipo de intervenção ganhou impulso maior a partir da criação de grupos de autoajuda como Alcoólicos Anônimos, em 1935. Hoje se destaca como espaço terapêutico propício para o tratamento das dependências químicas, de igual efetividade as abordagens individuais (MARQUES, 1997) Conforme Kaplan (2003), na Psicoterapia de Grupo, um terapeuta, devidamente treinado e hábil em manobras técnicas, orienta os indivíduos participantes a se ajudarem mutuamente. O feedback imediato mais as transferências observadas são duas das principais características dessa modalidade. Para Focchi e cols (1999) a psicoterapia de grupo é um espaço onde o indivíduo tem mais facilidade de estabelcer inter-relações, de interagir com o outro, buscar e dar apoio, principalmente quando as características do grupo são de homogeneidade, no caso de usuários de substâncias, objetivando uma nova forma de vida, sem o uso de drogas. Jesus (2009, s/p.) diz que “No processo terapêutico grupal reorganizam-se as percepções e é possível estabelecer trocas com o meio em uma constante dialética, entre a busca da identidade individual e da identidade coletiva” Outra característica dos processos grupais e percebida em seu embasamento teórico, apresentam extenso espectro praticamente unânimes em enfatizar a abstinência de substância de seus membros para permanência destes no grupo. (KAPLAN e SADOCK, 1997; MELLO e cols., 1999). 4.3.7 Psicoterapia Individual Orientada para o “Insight” Esta abordagem tem como foco as experiências subjetivas como pedras angulares da estrutura psíquica do indivíduo. Seu objetivo é identificar os fatores indutores de seu comportamento dependente e levá-lo a refletir sobre outras possibilidades de responder à realidade, sem que seja através do uso de substâncias. Segundo Focchi, (2001, p.105), ajuda o indivíduo a desenvolver padrões mais adultos e conscientes de interação e comportamento. Jesus,(2009, s/p.) citando Dijk(1977), diz que “A origem dos processos que levam a dependencia não pode ser atribuida a uma única condição”. Ou seja, 77 seus conflitos inconscientes, frutos de experiências frustrantes vivenciadas nas dimensões biopsicossociais configuram-se neste quadro de abuso de drogas, e Focchi, (2001, p.105) vê como forma de substituir “estruturas psicológicas ausentes, restaurando, assim, a autoestima do dependente químico” . Para Kaplan e Sadock, (1997) O êxito do processo terapêutico com esta abordagem, está vinculado a total abstninência do uso da substância. Segundo Laranjeiras (1996), este é um modelo descartado na maioria dos países desenvolvidos, pelo fato de resultar em alto custo do processo de tratamento e, também, por apresentar resultados altamente discutíveis em relação a sua eficácia. 4.4 O Impacto Do Tratamento das Dependências Químicas A evolução do uso de drogas, considerando a diversidade de tipos, padrão de uso, contexto em que ocorre o uso mais a particularidade do indivíduo, conduzem a busca incansável de novas teorias e práticas de atendimento aos vários tipos de dependências químicas. Apesar disso, Laranjeiras (1996), afirma que no Brasil, o sistema de tratamento público e privado, incluindo as ONGs, adota modelos lineares e pouco flexíveis, de compreensão da complexidade do problema do álcool e outras drogas, revelando poucos avanços no atendimento desta questão. O que demonstra efetividade e/ou eficácia de um processo terapêutico é o engajamento, a retenção e modificação do comportamento relacionado ao problema. Sendo assim, o envolvimento familiar aparece como o elemento mais importante nas exitosas intervenções e nos bem sucedidos processos de tratamento, devido a sua influência no engajamento do usuário relutante e na retenção do mesmo, adulto ou adolescente, ao tratamento (SCHENKER e MINAYO (2004) LEANDRO (2007)). Também é constatada eficácia nas terapias de família, sobressaindo-se às demais formas de intervenções e tratamentos individuais e grupais. Um estudo realizado pelos pesquisadores Coatsworth JD, Santisteban DA, McBride CK, Szapocznik (2001), (Community Comparison comparando o atendimento Comunitário CC) e "Terapia de Família Estratégica Breve" (Brief Strategic Family Therapy BSFT), constatou melhor resultado do segundo na ação 78 de engajamento e retenção de família e/ou jovens, no processo terapêutico para tratamento de dependência do uso de drogas. Segundo Schenker e Minayo (2004), estudos analisando adolescentes usuários abusivo-dependentes de drogas, sob intervenção das “Terapias de Família"; "Terapia de Família e Individual Combinada"; "Terapia Cognitivocomportamental Individual" (CBT) e "Intervenção de Grupo", verificaram que as terapias de família demonstraram maior efetividade e eficácia na influência da queda de consumo de substâncias, em relação aos indivíduos participantes da abordagem individual, com abordagens Cognitivo-comportamental Individual e de grupo; indicando que envolver a família no tratamento, produz mudanças de curto e médio prazo. Outro estudo realizado aleatoriamente com 182 adolescentes usuários abusivos de maconha e álcool, em três tratamentos MDFT; "Terapia de Grupo para Adolescentes" (Adolescent Group Therapy AGT); e "Intervenção Educacional Multifamiliar" (Multifamily Intervention Education MEI), reafirmou a importância das terapias de família para retê-la e engajá-la e ao adolescente no tratamento, com resultados na queda de consumo de drogas e melhoras significativas dos resultados escolares, mudanças positivas de comportamento e relação familiar, Segundo Schenker e Minayo (2004) e Leandro (2007), o desenvolvimento de modelos sistêmicos de abordagem da família, enfatizando o treinamento dos profissionais nesta área, se configuram, segundo recentes pesquisas, em valiosos elementos e instrumentos de ação nos processos terapêuticos para tratamento das dependências provocadoras de alterações física, emocional, psicológica e social. De acordo com Schenker e Minayo (2004), um estudo realizado com adolescentes usuários de maconha, quando submetidos às terapias de família obtiveram mais benefícios do tratamento, além de reduzirem significativamente o uso de drogas do pré ao pós-tratamento. Revelam um estudo com mulheres grávidas, usuárias de cocaína, em fase final de gestação, realizado em um hospital de Nova Iorque, o qual constatou que o grupo submetido ao tratamento com abordagem multissistêmica, não foi detectado presença de droga nos exames de urina. Por outro lado, Biofeedback, Terapia de Família e Terapia Psicodinâmica, de acordo com a Associação Americana de Psicologia (APA), 1996; Fiore et al., (2000), não demonstraram eficácia no tratamento do tabagismo. 79 No entanto, estudos recentes avaliativos sobre a aplicação da Terapia Comportamental comprovam a eficácia da mesma no tratamento do tabagismo. Nos estudos de Fiore et al. (2000), Sutherland, et al.(2003), May e West (2000); Ussher et al. (2000), a taxa de abstinência após seis meses ficou entre 15% a 25%. A técnica do Aconselhamento também oferece bons resultados, segundo Fiore et al. (2000), 13,9% em grupo e de 16,8% para o aconselhamento individual. Em relação às gestantes, West (2002) diz haver fortes evidências de resolutividade com esta técnica. Segundo Bauman, et al., (2000), o mesmo não se aplica ao público adolescente. Os estudos avaliando a aplicação da acupuntura e da hipnose para tratamento das dependências não demonstraram eficácia (Fiore et al., (2000); Abbot et al., (1999)) Em relação ao álcool, um dos mais bem conceituados pesquisadores, e estudiosos sobre o assunto no Brasil, Ramos (2004, s/p.), à luz também de renomados autores, diz que “Se for considerada a abstinência de álcool como único parâmetro de avaliação da eficácia dos tratamentos para alcoolistas, a conclusão é que estes não melhoraram nos últimos 25 anos”. Pesquisa realizada por Orford & Edwards (1977) revela que apenas 20% dos pesquisados continuaram abstêmios um ano depois. 18 anos mais tarde, em um novo estudo realizado por Paille et al.(1995), o índice caiu para 19,3%. Moos & Moos (2003), num trabalho mais recente, apontam abstinência em 29,5% dos pacientes tratados por cerca de dois meses em regime ambulatorial. No Brasil, os índices alcançaram no máximo 25%, num seguimento de 6 meses. (RAMOS, 2004). Outros estudos, como o realizado pelo projeto Match, tiveram resultados bem mais animadores em nível percentual. Por exemplo, um ano após o encerramento do tratamento, 75% dos pesquisados conseguiu diminuir os dias de uso, 80% diminuiu a quantidade, enquanto que 35% permaneceram abstinentes Segundo Blume e Marlatt, (2000); Blume e Schmaling (1998) apud Castro e Passos (2005, p. 331), ao se conscientizar dos prejuízos causados pela substância, desperta e aumenta no dependente a motivação para mudança de seu estilo de vida em relação à mesma, “ficam mais motivados em mudar seu comportamento. Perdas freqüentes relacionadas às substâncias psicoativas podem ser fatores preditivos para aumentar os níveis de motivação pessoal para mudança comportamental”. 80 As Abordagens Breves, modalidades de intervenção de curta duração de tempo, estão sendo alvo de estudos dos mais renomados pesquisadores. Sua efetividade vem sendo comprovada por autores como (Bien et al., 1993; Fleming & Manwell, 1999; Fleming, Barry, Manwell, Johnson, London, 1997; WHO, 1996). Outros estudos sobre a eficácia das intervenções breves com usuários de substâncias psicoativas apontaram resultados importantes. Alguns autores, a exemplo de Albernaz e Passos, (2001), entusiasmados com os resultados encontrados, preconizam sua aplicação por profissionais de outras áreas da saúde sem, necessariamente, serem especialistas em dependência química, no ato de uma consulta clínica geral, visando despertar ou aumentar à motivação para a abstinência. Ainda segundo estudos realizados por De Micheli et al., (2004), a intervenção breve aplicada à adolescentes usuários de drogas, demonstrou eficácia em dois aspectos: redução de prevalência do consumo e comportamentos de risco associados a este. Em relação ao método 12 Passos, base do programa de recuperação das Comunidades Terapêuticas e princípios norteadores dos grupos de auto-ajuda como Alcoólicos e Narcóticos Anônimos - AA e NA, respectivamente, os estudos de Laffaye et. al, (2008) apontaram significativas melhoras do usuário, 4 anos após seu ingresso no tratamento. Prevaleceram como influência neste resultado, os problemas apresentados inicialmente como gravidade no uso de substâncias, sintomas psiquiátricos e prisões anteriores. Esses problemas, mais a crença nos 12 Passos, fortaleceram o indivíduo a optar e permanecer abstinente. Outro surpreendente estudo realizado com adolescentes na faixa etária dos 16 anos, após um tratamento baseado nos 12 passos, por um período de 6 semanas, em regime residencial, em San Diego, na Califórnia, revelou o seguinte resultado: completados 8 anos cerca de 3% freqüentavam os grupos de auto-ajuda semanalmente, 20% mensalmente e 30% aleatoriamente. Aqueles que sabiam da impossibilidade de voltar a usar a substância apresentaram maior assiduidade às reuniões (KELLY et. Al., 2008, s/p.). De acordo com Galduróz e Carlini (1993) apud Jesus (2009, p.33), o manejo com dependentes químicos no aspecto tratamento, especialmente adolescentes, requer profissionais bem treinados e capacitados teórica e tecnicamente, para que possam lidar com situações de recaídas e a motivação dos mesmos. 81 Modelos de tratamento em que o paciente permanece em regime de desintoxicação, ou internação breve, de curto prazo, tem se mostrado ineficaz em relação aos que usam de técnica de substituição e aos de regime residencial em Comunidades Terapêuticas (TC). Segundo Jesus (2009), os tratamentos com período de tempo maior, acima dos três meses, por exemplo, têm oferecido melhores resultados, e com melhor aproveitamento por parte do dependente. Para Kerr-Corrêa, et. al (1999) o conceito de tratamento da dependência química deve ampliar sua compreensão a partir de sua natureza crônica, recorrente dos transtornos e não em termos de cura e não-cura, pois, segundo as autoras, não há como negar a complexidade dos mecanismos de dependência de drogas, além da variação nas abordagens. 5 CONCLUSÃO Analisando os conteúdos desta pesquisa bibliográfica, pode-se concluir que o uso de drogas é uma prática universal, e que apesar do longo tempo em que se faz presente na história humana, pouco domínio se tem sobre o fascínio que esta exerce sobre o homem. Percebe-se uma “perigosidade social e individual” nas palavras de Escohodato (2004, p.26), com incontáveis registros de degradação, prostração, doenças, violências, etc., permeando a história humana. Atenta-se para o que disse o cônsul romano Postúmio ao passar ao fio da espada cerca de 7.000 pessoas no ano 186 a.C. (...)Quando o vinho inflamou as suas mentes, e a noite e a promiscuidade (...) apagaram todo o sentimento de modéstia, começaram a praticar-se toda a espécie de corrupções. (Ad Urbe condita, VIII, 5-8) apud Escohodato(2004, p.33). Os superlativos prejuízos contabilizados em todas as esferas da vida das pessoas são incontestáveis. Os mais relevantes estão associados à saúde individual e coletiva, principalmente na dimensão mental e psicológica. Prova disso são os relevantes dados brasileiros apontando índices de cerca de 85% das internações em hospitais psiquiátricos, segundo Galduróz et al., (2000) apud Gallassi, A.D. et al (2008, s/p.). Ramos (2004), diz que nenhum tipo de tratamento para dependentes químicos consegue alcançar a abstinência total em muito mais do que um terço dos pacientes, após um ano de tratamento. Isso dá uma dimensão do problema relacionado ao uso e dependência de drogas, e do quanto se faz necessário um trabalho árduo, persistente, racional, livre de moralismo ou demonização. Por outro lado, as últimas 3 décadas foram marcadas por vertiginoso avanço das abordagens psicossociais, com destaque para a Prevenção da Recaída, Redução de Danos, Entrevista Motivacional, Farmacologia e principalmente para a, segundo Dutra (2008, s/p.) Terapia Cognitivo-Comportamental, o que dá a certeza de que nem tudo está perdido. 83 A psicologia tem contribuído grande e sistematicamente para, senão reverter, pelo menos minimizar este quadro de uso abusivo de substâncias. Os estudos supra têm comprovado a eficácia das intervenções psicológicas no enfrentamento das dependências e suas conseqüências. Como dito: os estudos comprovam, mas a realidade que está próxima, parece ser diferente. Este acadêmico tem acompanhado inúmeros casos, do mais leve ao de maior comprometimento, de dependências e intoxicações por uso de drogas e os resultados têm sido desestimulantes. O período de abstinência póstratamento tem se mostrado relativamente curto. Os casos mais prolongados, com reestruturação de vida e elevação da auto-estima, são observados quando está baseado na espiritualidade, ou em crenças ou fé em algo como, por exemplo, a filosofia dos 12 passos ou algum tipo de religião. Sanchez (2008, s/p.), num estudo sobre o impacto da religião nos tratamentos das dependências químicas, pontuou enfaticamente o “suporte, a pressão positiva e o acolhimento recebido no grupo, e a oferta de reestruturação da vida com o apoio incondicional dos líderes religiosos” para o sucesso do mesmo. Em outras palavras, não se pode pensar em recuperação desse tipo de enfermidade sem que as relações de afeto, os cuidados com o meio em que os valores possam ser repensados, propiciando inter-relações saudáveis, de pressões positivas afastando os riscos de recaídas. Um estudo sobre a evolução do uso de drogas na história humana, realizado por Sullivan & Hagen, (2002), reforça a tese do reforço ao colocar que alguns autores afirmam que o efeito da droga “funciona como um reforço, uma recompensa (reward), que motiva o indivíduo a novas experiências”. Ou seja, seria o aspecto motivacional sem força (interna) suficiente para provocar estímulos cerebrais que possam funcionar como reforço emocional. Assim, o indivíduo, apenas com esforço próprio, encontra extrema dificuldade para obter e vivenciar sensações e emoções de prazer, necessitando de um elemento externo de ação direta. Seus órgãos de sensação já não conseguem provocar estímulos suficientemente fortes. Diante disso, pensa-se na possibilidade de um sistema cerebral afetado em um de seus mais importantes aspectos: a sensibilidade neuronal. Adaptada à maior concentração e conseqüentemente aos estímulos mais intensos, seja de prazer ou de pura adrenalina, além da adaptação física, para poder funcionar. Impactado apenas por mecanismos de estímulo e liberação, de 84 substâncias no cérebro, muito mais fortes, algo que lhe substitua cem por cento a droga, pelo menos inicialmente. Possivelmente por isso, o processo de tratamento seja lento, pois requer acompanhamento e monitoramento constante para que alcance a readaptação, e sua sensibilidade nos neurônios receptores voltem a funcionar normalmente. Os estudos de Sullivan & Hagen (2008) reportam também aos hábitos alimentares. Ou seja, para a síntese de substâncias como serotonina, dopamina, noradrenalina e acetilcolina são necessários alguns aminoácidos, encontrados apenas com a ingestão de determinados alimentos. Isso significa que o fato de se conviver, atualmente, com farta alimentação não significa que se esteja fornecendo ao organismo as substâncias necessárias para a síntese desses aminoácidos, indispensáveis para a produção de neurotransmissores importantes no comportamento e humor, envolvendo a cognição, a atividade motora, a temperatura corporal e sensopercepção. Portanto, os achados de Sullivan & Hagen(2008) levam a acreditar que um processo terapêutico, seja de que modalidade ou regime for, necessariamente, deve contemplar uma dieta adequada para o dependente em recuperação. Isso, considerando tais estudos, corresponderia à possibilidade de maior eficácia do tratamento. Em vista disso, realmente se confirma a necessidade de abordagens e compreensão multidisciplinar do uso e dependência de drogas. A conotação genérica dada ao termo “uso”, ou seja, qualquer padrão, e não apenas ao uso abusivo/nocivo é porque, apesar de nem todos evoluírem para esses padrões, existe o fato de que se começa sempre pela experimentação. Por outro lado, os problemas nem sempre decorrem do uso abusivo/nocivo ou da dependência. Por exemplo, um indivíduo que não tolere grande quantidade de droga não significa que não vá experimentar seus efeitos ao ingerí-la. Estes, por sua vez, podem se fazer presentes, provocando todo tipo de problemas que produziriam num indivíduo com padrão abusivo/nocivo ou dependente, desde acidentes a danos físicos e psicológicos. O que, neste caso, cabe intervenções educativas e informativas do ponto de vista da prevenção primária e/ou secundária. Pretende-se ainda, a oportunidade de conhecer neste trabalho, vários modelos, abordagens e regimes de tratamento. O que, por sua vez, poderá ampliar os horizontes no que tange ao enfrentamento dessa problemática. Por exemplo, se o leitor integra algum grupo ou organização ou instituição, ou mesmo serviço público 85 de atenção às pessoas com este tipo de problema, verá que as estruturas, tanto pública quanto privada, muito pouco se aproximam dos critérios exigidos para a realização dos estudos supra apresentados. O que, também por sua vez, resulta em baixa resolutividade sem, no entanto, diminuir custos. Na verdade, o que se vê, na grande maioria dos casos, é que o enfrentamento das dependências se faz como tratando de uma dor de cabeça, ou seja, se irá tratar de eliminar a dor de cabeça porque é isso que se apresenta como problema, que incomoda; esquecendo ou ignorando que além de se tornar uma dor reincidente, sua causa, possivelmente, tornar-se-á crônica, dificultando ainda mais a cura. Mas, como a proposta deste trabalho é disponibilizar informações sobre modelos, regimes, abordagens e técnicas que tivessem eficácia comprovada no tratamento das dependências, observou-se que alguns estudos enfatizam a inter, multi e transdisciplinaridade para compreensão e tratamento do fenômeno das dependências. São mais enfáticos ainda, quando se referem sobre o impacto da presença familiar como adjuvante nos processos de tratamento. Aliás, imprescindíveis não só como adjuvantes, mas, segundo Schenker (2004), participantes do processo terapêutico como co-dependentes. Pois, é um elemento que precisa estar bem estruturado para que possa fazer bem a sua parte no processo. Isso, por sua vez, remete a outras preocupações. Primeiro, a falta de profissionais, que são pouquíssimos com perfil e preparo para este tipo de enfoque, deixando a família fora do processo; o segundo aspecto, diz respeito ao ínfimo número de famílias dispostas a mudarem sua dinâmica, até porque, quando no início, não conseguem fazer uma projeção do que poderão enfrentar num futuro não muito distante, achando que o problema é do familiar. E quando o quadro de “fundo de poço” já se estabeleceu, a impotência e a desesperança tomam conta, impedindo-as de agir. Essa realidade era a única possível no período em que este acadêmico esteve à frente do COMAD de Criciúma. Foram centenas de encaminhamentos feitos, mas, infelizmente, pouquíssimos resultados positivos. Um aspecto importante destacado por alguns autores citados neste trabalho se refere aos Programas Redução de Danos (FOCCHI, 2001), (QUEIROZ, 2001) e Prevenção a Recaída (FOCCHI, 2001). Em que pese à existência do preconceito em relação ao primeiro, são frentes de importância relevantes e 86 inquestionáveis. Mas, não se pode furtar a uma observação. A efetividade desses depende necessariamente, de boas e específicas políticas públicas de saúde, segurança, educação, lazer, abrangendo também o aspecto econômico do indivíduo. Num resumo de poucas palavras, pode-se dizer que a comprovação dos estudos acima, se verifica quando efetivamente existe uma estrutura tanto física quanto humana, com profissionais devidamente treinados e capacitados que possam fazer a intervenção sempre que necessário; Conhecendo e atuando em qualquer estágio do uso e de suas complicações; Uma ampla rede de apoio, preparada para o pós-tratamento, amparando e envolvendo o indivíduo num processo de reinserção, considerando todas as dimensões sociais (escola, profissão, atividades de lazer e comunitárias, etc). Isso dá uma dimensão do problema relacionado ao uso e dependência de drogas, e do quanto se faz necessário um trabalho árduo, persistente, racional, livre de moralismo ou demonização. Neste sentido, a área da psicologia tem muito serviço pela frente, tem muita contribuição a dar. Seja na adequada aplicação e aprimoramento do que já existe, seja no estudo e desenvolvimento de novas propostas de tratamento que efetivamente resultem em maior nível de resolutividade, o que foi o objetivo primordial deste trabalho. Portanto, ao finalizar, elucida-se que, além deste trabalho trazer informações acerca das substâncias psicoativas e identificar à luz de renomados autores, as propostas de intervenções e tratamentos mais difundidas atualmente, enfatiza a importância crucial da atuação do psicólogo nessa área, apontando objetivamente para a necessidade de capacitação desses profissionais para um trabalho abrangente, nos aspectos interventivos e preventivos. Estabelecendo um diálogo contínuo e sistemático com profissionais de outras áreas, em equipes multidisciplinares, voltadas para a promoção de saúde individual e coletiva. 87 REFERÊNCIAS ABBOT, N. et. al., Hypnotherapy for smoking cessation (Cochrane Review). The Cochrane Library. 1999; Issue 4, 2003. Chichester, UK: John Wiley & Sons, Ltd. http://mrw.interscience.wiley.com/cochrane/clsysrev/articles/CD001008/frame.htm Acessado em 31/05/2009 12:00h ALBERNAZ, A. L. G.; PASSOS, S. R. L. - Uso de substâncias psicoativas. In: Coutinho, M. F. G.; Barros, R. R. (Org.) Adolescência: Uma abordagem prática. São Paulo: Atheneu, 2001. Acessado em 31/05/2009: 15:00h ANDRADE, A. G. ; et. al. . Princípios básicos do tratamento em dependências químicas. 2002. (Desenvolvimento de material didático ou instrucional - Aspectos básicos do tratamento das dependências químicas (curso à distância) - capítulo 17 mód. 4). 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