um estudo sobre a drogadição e os modelos de tratamento

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UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE - UNESC
CURSO DE PSICOLOGIA
MANOEL ROZENG DA SILVA
UM ESTUDO SOBRE A DROGADIÇÃO E OS MODELOS DE
TRATAMENTO
CRICIÚMA, JUNHO DE 2009
2
MANOEL ROZENG DA SILVA
UM ESTUDO SOBRE A DROGADIÇÃO E OS MODELOS DE
TRATAMENTO
Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado
para obtenção do grau de Bacharel no curso de
Psicologia da Universidade do Extremo Sul
Catarinense, UNESC.
Orientadora: Profª. Myrta C. G.Jaroszewski
CRICIÚMA, JUNHO DE 2009
3
MANOEL ROZENG DA SILVA
UM ESTUDO SOBRE A DROGADIÇÃO E OS MODELOS DE
TRATAMENTO
Trabalho de Conclusão de Curso aprovado pela
Banca Examinadora para obtenção do Grau de
Bacharel, no Curso de Psicologia da
Universidade do Extremo Sul Catarinense,
UNESC, com Linha de Pesquisa em
Tratamento para Dependência química.
Criciúma, 26 DE JUNHO DE 2009.
BANCA EXAMINADORA
Profª. Myrta Carlota Glauche Jaroszewski - (UNESC) - Orientadora
Airton Ferreira – Advogado - Delegado
Prof. Manoel Mendes – Mestre - UNESC
4
Dedico este trabalho à minha mãe, minha
esposa e meus filhos, aos meus professores
que não mediram esforços para que um
sonho se tornasse real.
5
AGRADECIMENTOS
A realização de um sonho se traduz num objetivo alcançado com muitas
dificuldades. Significa um momento de superação. Um momento em que se tem a
certeza de que nunca estivemos sozinhos na caminhada. Que uma força emanada
da fé, do amor, da solidariedade, da amizade entre as pessoas, nos reergue naquele
momento em que pensamos que não vamos conseguir.
Por isso, com a certeza de que em todos os momentos dessa jornada fui
acompanhado, ajudado, estimulado a manter-me firme até o final, por uma grande
força chamada Deus, e de seus importantes instrumentos: todos os professores,
especialmente a minha orientadora Myrta Carlota Glauche Jaroszewski, profissional
competente e sempre solícita; minha mãe Maria Rozeng da Silva, que dispensa
qualquer justificativa; minha esposa Maria G.S da Silva, meus filhos Osvaldo,
Graziela, Ariela e Emanoella, meu irmão Silvio Aparecido da Silva, sempre
compreensivos e prontos para ajudar, e todos os colegas de curso, que nestes cinco
anos tudo fizeram para que nossa convivência fosse melhor e o mais produtiva
possível, tanto que está sendo coroada com pleno êxito. São os motivos pelos quais
eu, impulsionado pelo mais profundo sentimento de gratidão, registro neste trabalho
o meu sincero muito obrigado a todos, rogando a Deus que me permita, agora, ser
este instrumento.
6
ESPAÇOS VAZIOS
Se você conseguisse externar um sorriso
para um jovem que chora, estender sua mão.
Se você conseguisse chorar, se preciso
para unir-se a um jovem em qualquer dimensão.
Se você entendesse: que os tempos mudaram
e que os jovens não param
tentando impedir que o tempo vá.
Se você vislumbrasse o sentido da vida
Você responderia por certo “o que é que há?
Se você mergulhasse um pouco mais profundo
neste mar de conflitos da atual geração,
muito mais que problemas , você encontraria
carência de amor, em cada coração.
Se você, sociedade, com mil preconceitos
fosse mais coerente, mais justa e leal,
se você fosse muito mais complacente
sem querer exigir o que não pode dar,
Haveria de ser muito mais compreendida
muito mais temida, mais autêntica e real.
Se você, ó família, pudesse conservar
sempre abertos os caminhos da comunicação,
sem ceder o comando, fosse mais compreensiva,
fosse mais liberal e menos possessiva.
Se você, mestre, amigo, fosse pai, tio, irmão.
Tentasse descobrir o que vai na cabeça
desse jovem que grita, protesta, reclama.
E que ao tentar descobrir o mistério da vida
Acaba por destruir aquilo que mais ama.
Se o amor ocupasse o espaço dos vícios,
a maconha seria atirada no chão.
Drogas não abririam tantos precipícios
e os jovens teriam um sorriso radiante
como as águas serenas que correm nos rios
e haveríamos de ver, o inverso de agora,
só o amor ocupando os espaços vazios.
(Autor desconhecido)
7
RESUMO
O presente estudo, além do cunho informativo a que se propõe, visa pesquisar sobre
modelos, regimes e técnicas de tratamento para as dependências criadas pelo uso
abusivo de substâncias psicoativas; identificar e reunir as principais modalidades e
técnicas usadas, assim como sua comprovada eficácia. Como conclusão deste
trabalho, pretende-se disponibilizar, mesmo que de forma sucinta, o que os
principais autores, principalmente no campo psicológico e social, apontam para o
enfrentamento da problemática da drogadição.
Palavras-chave: Alcoolismo. Drogadição. Dependência química. Substâncias
psicoativas. Modalidades de tratamento.
8
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1 – Tabaco......................................................................................................22
Figura 2 – Cafeína 1...................................................................................................24
Figura 3 – Cafeína Anídrica........................................................................................24
Figura 4 – Coca, Cocaína e Crack.............................................................................26
Figura 5 – Ecstasy..................................................................................................... 28
Figura 6 – Álcool 1......................................................................................................30
Figura 7 – Álcool 2......................................................................................................31
Figura 8 – Álcool 3......................................................................................................31
Figura 9 – Skank, Maconha, Haxixe...........................................................................34
Figura 10 - Ópio e Heroína.........................................................................................36
Figura 11 - Solventes e Inalantes...............................................................................37
Figura 12 - Barbitúricos..............................................................................................39
Figura 13 - Benzodiazepínicos...................................................................................40
Figura 14 - LSD..........................................................................................................41
Figura 15 - Cogumelos...............................................................................................43
9
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Gasto com AIH relacionada aos transtornos mentais decorrentes do uso
de álcool e outras drogas...........................................................................................34
Tabela 2 - Critérios Diagnósticos para Abuso de Substâncias..................................45
Tabela 3 - Critérios Diagnósticos CID 10..................................................................53
Tabela 4 - Critérios Diagnósticos DSM IV..................................................................54
10
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
OMS - Organização Mundial da Saúde
LSD - Ácido Lisérgico Dietilamida
MDMA- Metilene Dioxo Meta Anfetamina
SNC - Sistema Nervoso Central
DSM IV - Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais
CID 10 - Décima Revisão da Classificação Estatística Internacional de Doenças e
Problemas Relacionados à Saúde
NIDA - National Institute on Drug Abuse
EM - Entrevista Motivacional
DCU - (“Drinkers’ check-up”
TCC - Terapia Comportamental-Cognitiva
CBT - Cognitive Behavioral Therapy
APA - Associação Americana de Psicologia
AA - Alcoólicos Anônimos
NA - Narcóticos Anônimos
TC - Therapeutic Community Approach
CC - Community Comparison
BSFT - Brief Strategic Family Therapy
MDFT -Terapia de Grupo para Adolescentes
AGT - Adolescent Group Therapy
MEI - Multifamily Intervention Education
COMAD – Conselho municipal Antidrogas
11
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 13
2 DROGAS ................................................................................................................ 16
1.1 Conceitos ........................................................................................................... 16
2.2 Como Agem a Drogas ......................................................................................18
2.3 Classificação das drogas ................................................................................. 21
2.3.1 Quanto a sua origem ......................................................................................21
2.3.2. Quanto ao tipo e sua ação no cérebro ........................................................21
2.3.2.1 Estimulantes ................................................................................................22
2.3.2.2 Depressora / Narcóticas ............................................................................. 29
2.3.2.3 Perturbadora ou alucinógena ..................................................................... 40
2.3.3 Quanto ao aspecto legal ................................................................................ 44
2.4 Padrão de uso.................................................................................................... 44
2.5 Formas(vias) de uso..........................................................................................47
3 DEPENDENCIA ..................................................................................................... 48
3.1 Concepção da Genética sobre Dependência .................................................. 48
3.2 A dependência química do ponto de vista da psicologia ..............................51
3.3 A Compreênsão da dependencia do ponto de vista do meiosócioambiental
.................................................................................................................................. 55
3.4 A dependência química na compreensão biopsicosocial .............................57
3.5 Personalidade do usuário de drogas...............................................................59
4. TRATAMENTO ..................................................................................................... 61
4.1 Modelos de tratamentos ...................................................................................63
4.1.1 Tratamento Psico-social ................................................................................ 64
4.1.2 Tratamentos Farmacológicos........................................................................ 64
4.1.3 Craft ................................................................................................................. 65
4.1.4 Modelo médico ...............................................................................................66
4.1.5 Modelo psiquiátrico........................................................................................66
4.2 Regimes de tratamento .....................................................................................67
4.3 Modalidades ou Abordagens Terapêuticas Psicossociais ............................67
4.3.1 Entrevista Motivacional(EM) .......................................................................... 68
4.3.2 Terapia Cognitiva-Comportamental(TCC) ....................................................70
12
4.3.3 Terapia Familiar ..............................................................................................72
4.3.4 Terapia dos 12 passos ...................................................................................73
4.3.5 Redução de danos..........................................................................................74
4.3.6 Terapia de grupo ............................................................................................75
4.3.7 Psicoterapia Individual Orientada para o “Insight” ..................................... 76
4.4 O Impacto do Tratamento das Dependências Químicas................................77
5 CONCLUSÃO ........................................................................................................ 82
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 87
13
1 INTRODUÇÃO
O fenômeno do uso de drogas, tema do presente trabalho, permeia toda
história humana. Apesar disso, suas consequências à saúde física psicológica e
social do homem, têm chamado atenção apenas nos dois últimos séculos. Os
avanços científicos no que se refere à ação destas substâncias no cérebro humano
e, como conseqüência, no seu comportamento, tem demonstrado inúmeras
constatações sobre os danos causados pelo uso indevido das drogas à integridade
física e mental do indivíduo, frequentemente reveladas pelos estudiosos. O inegável
avanço das ciências clínica, psiquiátrica e psicológica nesta área, nas últimas
décadas, tem possibilitado um amadurecimento na compreensão desse fenômeno e
na mudança tanto moral quanto médica, do conceito das dependências químicas, o
que já justifica e demonstra a relevância do tema.
Hoje o usuário já não é mais considerado apenas um mau caráter, um
viciado, mas uma pessoa que precisa de tratamento, sendo uma doença
reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS), requerendo atenção e
necessários cuidados especiais. Suas conseqüências atingem não só o usuário,
mas todos que o cercam e, consequentemente, toda sociedade, com prejuízos
incalculáveis.
Atualmente, entre 10 e 15% da população mundial sofre com algum tipo
de dependência química. No Brasil são cerca de 25 milhões de pessoas, das mais
variadas idades, sofrendo com o abuso ou dependência de substâncias.
Os custos sociais ultrapassam o senso de valor, segundo estimativas, são
bilhões de dólares ao ano. Exemplo disso são os Estados Unidos (USA) que, em
1997, gastaram cerca de 300 bilhões de dólares com problemas decorrentes do uso
e tráfico de drogas.
Segundo Ramos (2004), 10% das pessoas que fizerem uso de álcool,
incluídos todo tipo de experiência “irá apresentar um uso nocivo de álcool e outros
10% se tornará dependente, o que vale dizer que, em cada cinco bebedores, um
terá um agravo de saúde por ingerir bebida alcoólica”
O mais grave: é uma doença que não tem cura. Em que pesem os
avanços alcançados teórica e tecnicamente, e mesmo considerando os últimos
14
lançamentos farmacológicos, os resultados têm se mostrado extremamente tímidos,
considerando a abstinência permanente ou mesmo por longo período
Ramos (2004) afirma ao referir-se a autores como Paille et. al., que
apenas 19,3% dos alcoolistas em processos terapêuticos permaneceram abstêmios
ao longo de um ano, um percentual muito baixo considerando que muitos desses
recairão, retornando ao padrão abusivo e dependente.
Diante desse quadro, e diante dos estudos que serão apresentados ao
longo deste trabalho, nossa convicção é de que a área da psicologia tem muito
serviço pela frente, tem muita contribuição a dar. Por isso, se faz necessário
pesquisar e estudar modelos de tratamento que efetivamente resultem em maior
nível de resolutividade, o que foi o objetivo primordial desta pesquisa.
Este estudo visa estudar o tema em seus mais variados aspectos e
dimensões, principalmente, sobre modelos e regimes de tratamento para
dependência química, atualmente estudados e pesquisados, oportunizando uma
fonte de referências para auxiliar o leitor (a) que se dispuser a buscar melhor
compreensão do contexto do dependente de substâncias, especialmente sob o olhar
da psicologia.
Este trabalho de caráter informativo/analítico, embasando-se em fontes
de
pesquisa
de
natureza
bibliográfica
analítica,
(livros,
artigos,
revistas
especializadas, etc.) caracteriza-se como pesquisa qualitativa do tipo exploratória.
Para Gil (1999), a pesquisa exploratória visa aproximar o problema e as hipóteses
de pesquisa, neste trabalho envolvendo apenas as fontes bibliográficas, resultantes
de aprofundados estudos sobre as dependências. Por ser também, segundo Gil
(1999), objetivo das pesquisas exploratórias ampliarem o nível de conhecimento
sobre determinado problema, e suas fontes resolutivas.
No primeiro capítulo apresentam-se as notas introdutórias, destacando-se
o problema de pesquisa e objetivos do estudo e metodologia. No segundo enfoca-se
o referencial teórico, destacando-se informações sobre drogas (histórico, conceitos,
classificação, ação e conseqüências). O terceiro capítulo dá enfoque aos conceitos
sobre dependências, e no quarto capítulo reúnem-se, à luz de renomados
estudiosos no assunto, estudos sobre a eficácia dos modelos, regimes e abordagens
para tratamentos das dependências, existentes atualmente.
15
Faz-se uma análise comparativa entre os modelos e modalidades de
tratamento que apresentam melhores e mais efetivos resultados, alem de dados
sobre a eficácia dos mesmos no sexto capítulo.
16
2 DROGAS
2.1 Conceitos
Na história humana, fenômenos como o pensamento, a memória, os
sentidos e a inteligência sempre intrigaram o homem, instigando-o a buscar uma
explicação de como ocorrem tais processos. Muitos atribuíam a órgãos como o
fígado e o coração, a fonte dessas misteriosas manifestações humanas, outros
creditavam tais poderes aos deuses (PAULINO, 1999, p.1).
Com o advento da ciência, foi possível ao homem descobrir que o
cérebro, a mais complexa parte do corpo humano, formado por bilhões de celulas
nervosas chamadas neurônios, que se comunicam entre si através dos
neurotransmissores, substâncias químicas sintetizadas pelo também complexo
organismo humano, é o verdadeiro responsável pelas intrincadas operações acima
citadas.
Operações
estas
que
requerem alta
produção
energética,
mais
precisamente, um quinto de toda energia produzida pelo corpo (PAULINO, 1999,
p.1). Esta, por sua vez, é gerada pela glicose ao ser “queimada” com o auxílio do
oxigênio. O oxigênio é levado ao cérebro pelo sangue que não entra em contato
direto com o cérebro, trabalho concluído por substâncias químicas com este papel.
Devido
à
semelhança
entre
as
substâncias
endógenas
com
determinadas substâncias exógenas, ou seja, as drogas, ocorre o transpasse de
uma barreira química existente entre o cérebro e o plasma sanguíneo, interferindo e
alterando o funcionamento e consequentemente as atividades cerebrais. Este tipo
de substância é denominada de droga psicotrópica. Derivado do grego psico tem
sentido de mente, alma, espírito; trópico significa atração por.
O termo “droga” em que pese sua origem discutível, a mais conhecida é a
derivada do termo holandês droog (seco), que refere-se aos carregamentos de peixe
seco que chegavam à Europa em más condições de consumo (Carneiro, 1994 apud,
PAULINO, 1999, P.1). Sendo assim, por estar relacionado ao peixe estragado, leva
a conclusão de que é algo ruim, impróprio para o consumo humano, pois pode
acarretar danos à saúde.
17
Outros autores, ao referirem-se à etiologia do termo, também afirmam ser
derivado do holandês antigo(droog), mas com significado de folha seca; isto porque
antigamente quase todos os medicamentos eram feitos à base de vegetais.
Na linguagem médica configura-se numa substância que, usada
adequada e orientadamente, traz benefícios ao usuário sem risco considerável de
criar dependencia, como por exemplo, alguns medicamentos usados para tratar
depressão e quadros psicóticos. Enfim, substância que possa ser empregada, no
homem ou em animais, com fim de diagnóstico, de tratamento ou de profilaxia de
doença (AURÉLIO, 2003, s/p).
Na linguagem popular compõe-se de significações subjetivas e
negativas, coisa de pouco valor, enfadonha, desagradável. Na gíria: coisa ruim,
imprestável; exclamação que exprime frustração no que se está fazendo.
Resgatando a compreensão oficial na Roma antiga sobre o termo droga,
de acordo com o encontrado na Lex Cornelina, lê-se o seguinte: “Droga é uma
palavra indiferente, onde cabe tanto o que serve para matar como o que serve para
curar, e os filtros de amor, mas esta lei só reprova o que for usado para matar
alguém” (ESCOHOTADO, 2004, p. 31).
Nessa era, no conceito da Organização Mundial da Saúde (OMS), droga,
ou substância psicoativa, seja ela de origem natural, sintética ou semi-sintética, é
“qualquer substância que, introduzida no organismo, possa modificar uma ou mais
de suas funçôes.” Por exemplo, uma substância ingerida contrai os vasos
sangüíneos (modifica a função) e a pessoa passa a ter um aumento de pressão
arterial (mudança na fisiologia). Outro exemplo, uma substância faz com que as
células do nosso cérebro (os chamados neurônios) fiquem mais ativas, "disparem
mais” (modificam a função) e como consequência a pessoa fica mais acordada,
perdendo o sono (mudança comportamental).
Na verdade, droga, em seu sentido original e genérico, é um termo que
abrange extensa quantidade de substâncias, do carvão à aspirina. Como afirma
Carlini (2001, s/p), mais especificamente, sobre drogas de abuso, definindo-as como
“[...] Qualquer substância (tomada por qualquer forma de administração) que altera o
humor, o nível de percepção e o funcionamento do Sistema Nervoso Central SNC
(desde medicamentos até álcool e solventes)”.
18
2.2 Como Agem a Drogas
O processo de ação das drogas acontece em três níveis: físico, físicoquímico e químico, abaixo destacados (ABRIL, 1972, p. 1383).
Devido a sua constituição, a primeira age sem reação, um processo
apenas mecânico. Exemplo notado no revestimento superficial do corpo humano,
basicamente constituido por substâncias quimicamente indiferentes. Seu papel
consiste em atenuar ou impedir irritações provocadas na aplicação de drogas em
forma de pó ou colóides que, ao solidificarem-se, formam tênue película protetora da
pele. Outras agem nas células, a exemplo da dextrana, formando uma película em
torno das hemácias, E uma terceira, por sua alta solubilidade, age em diferentes
líquidos, sendo lipossolúveis (que se dissolvem nas gorduras) e hidrossolúveis (que
se dissolvem na água).
As drogas de processo físico-químico agem no papel de substância
adsorvente (retenção), de forma a reter outras substâncias em sua superfície. Um
exemplo de um processo físico-químico, ou seja, de um processo de adsorção é
observado no carvão animal ou vegetal, finamente pulverizado e na forma ativada,
pode ser usado como absorvente, a fim de impedir a absorção de tóxicos ingeridos.
Outro exemplo se dá nos processos terapêuticos, com a aplicação das resinas
sintéticas, especificamente as aniônicas, que são fixadoras de radicais ácidos, e as
catiônicas, que são fixadoras de íons básicos.
Em relação as drogas de ação química pode se constatar o exemplo do
monóxido de carbono, que se combina de maneira estável com a hemoglobina do
sangue, impedindo-a de realizar o transporte de oxigênio e gás carbônico.
Nos processos acima esclareceu-se sobre a ação fisico-química da droga
em todo corpo humano. Mas sobre a ação no Sistema Nervoso Central (SNC), vê-se
que, para que estas produzam determinados efeitos, é necessário um conjunto de
fatores como: constituição biológica do indivíduo, meio socioambiental , tipo de
droga, forma de uso etc.
Dentre os fatores ambientais de influência na ação e efeito das drogas se
destacam a luz, pois, a exposição a essa radiação, possibilita a ocorrência de
processos alérgicos, caso a substância administrada seja fotossensibilizante
19
(amarelecimento da pele de pessoas sob tratamento de mepacrina, substância
antimalárica).
Em indivíduos que se administrem drogas hipnóticas para indução de
sono, a presença de ruídos pode dificultar a instalação deste. O ruído também pode
provocar a ocorrência de convulsões em caso de intoxicação por estrecnina.
O fator temperatura está relacionado às reações químicas entre
substâncias celulares e a droga usada. Estas reações podem ser endotérmicas
(absorvem calor) ou exotérmicas (desprendem calor), ocorrendo assim uma
aceleração ou retardamento da ação da droga no organismo. Exemplo disso é a
reação ocorrida em um animal sem variação de temperatura corporal (homeotermo);
este, tendo uma intoxicação com estricnina, costuma ter convulsões no frio. Já a
sensibilidade do sapo à adrenalina depende da umidade do ar para que essa ocorra.
Outro aspecto de influência na ação e no efeito das drogas é a
constituição biológica, ou seja, a espécie animal é determinante. Por exemplo, o
homem e o cão respondem muito bem aos efeitos sedativos da morfina, no entanto,
produz efeitos estimulantes quando administrada em gatos e cavalos . Também a
inanição e a desidratação tornam o indivíduo mais receptivo aos efeitos das drogas;
assim como a deficiência de proteínas, a predisposição à intoxicação hepática com
clorofórmio e tetracloreto de carbono (ABRIL, 1972, p. 1384)
O efeito de uma droga nem sempre é o mesmo com idêntica quantidade
em diferentes indivíduos. E pode variar dependendo da presença de maior ou menor
proporção de líquido e tecido gorduroso no corpo. A regra de quanto maior a dose,
maior o efeito, se aplica até determinado limite de doses ingeridas ou administradas,
não se variando mais a intensidade, a partir de determinada quantidade (ABRIL,
1972, p.1384)
De acordo com Tiba (1999, p.117) “uma vez dentro do organismo, as
drogas seguem um caminho químico pré-estabelecido, independentemente da
vontade de quem a consumiu”. No cérebro, segundo este mesmo autor, “as drogas
competem com alguns neurotransmissores, imitam outros e, assim, desequilibram
seus sistemas funcionais, interferindo em toda a atividade orgânica.”
Ainda com relação aos efeitos no cérebro, Teofrasto, discípulo de
Aristóteles e autor do primeiro tratado documentado de botânica, referindo-se sobre
a ação e aos efeitos da planta datura metel, disse:
20
Ministra-se um dracma se o paciente tiver apenas de se animar e pensar
bem de si mesmo; o dobro se tiver de delirar e sofrer alucinações; o triplo
se tiver de ficar permanentemente louco; ministrar-se-á uma dose
quádrupla se tiver de morrer. (Hist. plant., IX, II, a C, apud ESCOHOTADO,
2004, p.24). .
O efeito de uma droga quando em interação com outra pode sofrer
alteração ou modificação em sua ação final. Dessa interação decorrem processos
distintos, influenciando no resultado final, potencializando ou diminuindo seus
efeitos, ou ainda ocorrendo inversão deste. Há também o que se chama de pseudosinergismo, a reação de duas drogas originando uma terceira substância, bem mais
potente. Como exemplo, cita-se a amigdalina (glicosídeo extraído de amêndoas
amargas), que ao ser administrada junto com a emulsina, desdobra-se e libera ácido
cianídrico, letal para o animal.
A ação ou efeito de substância também são conhecidos pelo
Antagonismo químico(ou físico), farmacológico ou pseudoantagonismo. No primeiro
ocorre a inibição de uma droga provocada pela reação com outra. No segundo
ocorre o fenômeno do efeito contrário quando duas drogas agem sobre a mesma
estrutura.
Os casos mais comuns de antagonismo, porém, são os de competição,
que surgem quando a ação de certa substância (antagonista) interfere no
mecanismo de ação de uma droga, por apresentarem estruturas químicas
semelhantes. E o terceiro, o pseudinergismo, se caracteriza pelo processo
antagônico ocorrido antes da adsorção (fixação), impedindo a absorção da droga
pelo organismo e consequentemente que esta exerça suas ações características.
No processo de Inversão, usando como exemplo a ação da adrenalina
sôbre o sistema circulatório, acontece o aumento da pressão sanguínea, resultado
do efeito invertido pelos bloqueadores adrenérgicos.
A ação das drogas também se caracteriza pelo indiferentismo, ou seja,
apesar de ministradas conjuntamente agem isoladamente, causando indiferentismo
farmacológico, por exemplo, “uma injeção de penicilina, que funciona como
antibiótico”.(ABRIL, 1972, p. 1384)
21
2.3 Classificação das drogas
Com o decorrer dos tempos, as drogas foram sendo melhor estudadas,
catologadas e classificadas segundo sua origem, ação e legalidade.
2.3.1 Quanto à origem
Para a Organizaçlão Mundial da Saúde, as drogas podem ser
classificadas quanto a sua origem, em natural, semi-sintética e sintética
natural: Estas caracterizam-se por drogas que podem ser consumidas
sem necessariamente passar por qualquer manipulação de laboratório ou processo
químico; exemplos de drogas naturais. Ex.maconha, chás (cogumelo, Santo Daime)
cafeína, etc
semi-sintética: São substâncias que necessitam passar por processo de
elaboração, ou de modificação de sua fórmula, estrutura e composição. São drogas
que necessitam de matéria prima natural vegetal ou mineral para o consumo. Ex.
Cocaína, heroína, Álcool, Cigarro, mescalina, haxixe, DMT, ácido lisérgico
dietilamida (LSD) etc.
sintética: Constituem-se de drogas produzidas totalmente em laboratório,
não necessitando de qualquer sustância natural para sua composição. Ex.
anfetaminas,
dexanfetamina,
Metanfetamina
(Ecstasy),
metadona,
GHB,
barbitúricos, etc.
2.3.2 Quanto ao tipo e sua ação no cérebro
A classificação a seguir, refere-se às drogas psicotrópicas de acordo com
sua ação no cérebro e podem ser podem ser classificadas em:
22
2.3.2.1- Estimulante
Referem-se às substâncias estimulantes da Atividade do Sistema Nervoso
Central. Ou seja, atuam no Sistema Nervoso Central SNC aumentando a atividade
cerebral, ou seja, estimulam o funcionamento fazendo com que a pessoa sob o
efeito dessas drogas fique "ligada”, "elétrica", sem sono. As drogas estimulantes
mais usadas são: Tabaco, cafeína, cocaína, crack, merla e ecstasy, etc.
*Tabaco
Figura 1 - Tabaco
Fonte: www.gula.edicaoeletronica.com.br , 2009.
A nicotina é o princípio ativo do tabaco, sendo encontrada na planta de
nome científico Nicotiana Tabacum e também na planta Duboisia hopwoodii,
popularmente conhecida entre aborígines australianos de PITURI há mais de 40.000
anos.
Em relação ao uso da Nicotiana Tabacum, este remonta aproximadamente
há 3.000 anos, pelos índios da América Central, em rituais mágico-religiosos com
objetivo de purificar, contemplar, proteger e fortalecer os ímpetos guerreiros. Estes
acreditavam ainda que a mesma tivesse o poder de predizer o futuro.
Chegou ao Brasil trazida provavelmente por tribos tupis-guaranis. Em
1600 chega a Europa pelas mãos de Jean Nicot, um diplomata francês vindo de
Portugal, que teve cicatrizado, pela ação da mesma, uma úlcera de perna, até então
incurável.
No início, utilizada com fins curativos, através do cachimbo, difundiu-se
rapidamente, atingindo Ásia e África, no século XVII. No século XIX, alcançou a
Espanha e posteriormente toda a Europa, Estados Unidos e demais continentes,
sendo utilizado para demonstração de ostentação. Após a Primeira Guerra Mundial
(1914 a 1918) invadiu o mundo espalhando-se por todos os continentes, ocorrendo
23
um aumento vertiginoso de adeptos influenciados por um marketing extremamente
agressivo.
Na década de 60 vários estudos foram divulgados alertando fumantes e
não-fumantes sobre seus malefícios à saúde.
Efeitos no cérebro - São aproximadamente nove, segundo o tempo levado
pela nicotina para chegar até o cérebro. Uma vez no cérebro, age elevando
levemente o humor e reduzindo o apetite. A sensação de relaxamento que provoca,
segundo os fumantes, é decorrência da diminuição do tônus muscular.
O uso prolongado leva o usuário a desenvolver tolerância, ou seja, a
dose usada já não produz os mesmos efeitos iniciais e precisa ser aumentada para
obtê-los.
Uma vez instalada a dependência, parar abruptamente o seu uso leva o
indivíduo ao desconforto da fissura (desejo incontrolável por cigarro), irritabilidade,
agitação, prisão de ventre, dificuldade de concentração, sudorese, tontura, insônia e
dor de cabeça, se configurando num quadro denominado Síndrome de Abstinência.
As principais consequências da nicotina no resto do organismo são
elevação do batimento cardíaco, da pressão arterial, da frequência respiratória, da
atividade motora e diminuição do fluxo de sangue para os órgãos. Ao afetar o
sistema digestivo provoca queda da contração do estômago, dificultando a digestão.
Há um aumento da vasoconstricção e na força das contrações cardíacas. Podem
ocorrer ataques cardíacos súbitos e morte.
Toxidade: Um cigarro é composto por vários produtos. Estes ao serem
queimados transformam-se em mais de 4.700 substâncias tóxicas ao organismo,
tanto do fumante passivo quanto do ativo. Entre as mais nocivas estão: a nicotina,
de efeitos tóxicos como náuseas, dores abdominais, diarréia, vômitos, cefaléia,
tontura, fraqueza, etc.; o monóxido de carbono, o cádmio, o alcatrão, entre outras.
Estas substâncias quando usadas intensa e recorrentemente podem
provocar várias doenças como pneumonia, câncer (pulmão, laringe, faringe,
esôfago, boca, estômago, entre outros), infarto de miocárdio; bronquite crônica;
enfisema pulmonar; derrame cerebral; úlcera digestiva; etc.
Gravidez: Afetado diretamente pelo uso do tabaco pela mãe gestante, o
feto é atingido pelas substâncias tóxicas, que atravessam a placenta, provocando
aumento do batimento cardíaco, redução do peso do recém-nascido, menor
estatura, além de graves alterações neurológicas. As probabilidades de abortamento
24
espontâneo alem de outras complicações durante a gravidez, são bastante
significativas. Após o nascimento, o bebê amamentado continua ingerindo
substancias tóxicas através do leite, além da inalação da fumaça, tornando-o um
fumante passivo. Alguns estudos afirmam que filhos de pais fumantes apresentam
três vezes mais chances de sofrer de infecções respiratórias (bronquite, pneumonia,
sinusite).
*Cafeína
Figura 2 – cafeína
Fonte: dicasparaemagrecer.blogsome.com/.../, 2009.
Figura 3: Cafeína anídrica
Fonte: http://portuguese.alibaba.com/product-gs/caffeine-anhydrous-237381259.html , 2009
A cafeína é um alcalóide do café, chá, cacau e outras plantas, é o
estimulante mais usado no mundo. Na China o uso de substâncias contendo cafeína
data de cerca de 5.000 anos (ESCOHODATO, 2004, P.19). Segundo Tiba, (1999,
p.127) nos primórdios, o café era largamente usado para manter as pessoas
acordadas durantes os eventos religiosos noturnos.
25
A cafeína é uma substância em forma de pó branco ou pequenas agulhas,
que derretem a 238º C e sublimam a 178º C, em condições normais de temperatura
e pressão. É inodor, de sabor amargo e extremamente solúvel em água quente. Sua
ação estimulante do SNC altera o humor, exacerba a ansiedade e os distúrbios do
pânico e reduz a sensação de fadiga. (CEBRID, 1977, s/p)
O uso regular em dose superior a 350 ml dia leva o indivíduo a
desenvolver dependência física e psicológica. Interrupção abrupta do uso provoca
fortes dores de cabeça, que desaparecem com sua ingestão. (CEBRID, 1977, s/p)
O sistema nervoso central, assim como o coração, os vasos sanguíneos e
os rins são afetados pelo estímulo provocado por esta substância. Depressão
respiratória por intoxicação de barbitúricos ou morfina tem na cafeína um poderoso
antídoto, devido a sua rápida ação estimulante (CEBRID, 1977, s/p)
Altas doses ingeridas principalmente por pessoas que não costumam
consumi-las com freqüência, podem provocar a síndrome do cafeinismo. São
manifestações de ansiedade, agitação, irritabilidade, depressão e um aumento do
nível de vários hormônios no sangue associados ao estresse. Uma retirada suave
pode provocar letargia e dores de cabeça em um indivíduo com ingestão prolongada
de 600 mg (aproximadamente oito xícaras médias de café) ou mais por dia.
Segundo Tiba (1999, p.127) o bloqueio dos receptores de adenosina provoca
agitação e até convulsões. A adenosina é um hormônio local auto-regulável e que
funciona como um neurotransmissor com o papel de modulador (normalmente inibe)
da maioria das células no corpo. A quantidade de cafeína em duas ou três xícaras
de café bloqueia 50% dos receptores de adenosina, fatores envolvidos nos efeitos
potenciais da cafeína no corpo.
*Cocaína
Figura 4: coca, cocaína, crack
Fonte: CD Luz (2004).
26
A cocaína é uma substância derivada das folhas de Erythroxylon,
conhecida como coca, ou epadú para índios brasileiros. Até ser isolada pela primeira
vez em 1859, era muito usada sob forma de chá. Ainda hoje, este chá é bastante
comum em certos países como Peru e Bolívia. (CEBRID, 1977, s/p)
Em forma de chá, além da ínfima quantidade do princípio ativo presente,
ao ser ingerido pela boca, passa por um processo de metabolização no sangue e,
indo ao fígado, sendo mínima a quantidade absorvida pelo intestino, apenas um
pequeno resíduo chega ao cérebro. (CEBRID, 1977, s/p)
A cocaína pode chegar até o consumidor sobre a forma de um sal, o
cloridrato de cocaína, o "pó", "farinha", "neve" ou "branquinha" que é solúvel em
água e, portanto, serve para ser aspirado ("cafungado") ou dissolvido em água para
uso endovenoso ("pelos canos"); ou sob a forma de pedra, o crack, fumada em
"cachimbos". (CEBRID, 1977, s/p)
Alem do crack, outro derivado da cocaína, em forma de base e também
fumado, muito consumida na cidade de Brasília, DF é a merla, (mela, mel ou
melado). Uma pesquisa realizada entre 1997 e 1998, revelou que mais de 50% dos
usuários de drogas de Brasília faziam uso de merla, sendo, que, “68,7% roubavam
para sustentar o vício” (TIBA, 1999, p.125, CEBRID, 1999, s/p).
Ao exemplo do crack e da merla, a cocaína não pode ser fumada, pois
necessitaria de uma temperatura de 195º para passar do estado sólido para o vapor,
enquanto o crack e a merla atingem este estado com uma temperatura relativamente
baixa (95º C). Há ainda a pasta de coca, que é um produto grosseiro, obtido das
primeiras fases de separação de cocaína das folhas da planta, quando estas são
tratadas com álcali, solvente orgânico como querosene ou gasolina e ácido sulfúrico.
Esta pasta contém muitas impurezas tóxicas e é fumada em cigarros chamados
"basukos". (CEBRID, 1977, s/p).
Os efeitos no cérebro, tanto o provocado pelo crack como o provocado
pela merla são os mesmos da cocaína. Porém, a via de uso dessas duas formas (via
pulmonar, já que ambos são fumados) faz toda a diferença do crack e da merla
como o "pó". (CEBRID, 1977, s/p).
Assim que o crack e a merla são fumados alcançam o pulmão, que é um
órgão intensivamente vascularizado e com grande superfície, levando a uma
absorção instantânea. Através do pulmão, cai quase imediatamente na circulação
sangüínea chegando rapidamente ao cérebro. Com isto, pela via pulmonar o crack e
27
a merla "encurtam" o caminho para chegar ao cérebro, aparecendo os efeitos da
cocaína muito mais rápido do que por outras vias. Em 10 e 15 segundos os
primeiros efeitos já ocorrem, enquanto que os efeitos após cheirar o "pó" acontecem
após 10 a 15 minutos; sendo injetável, em 3 a 5 minutos. Outra diferença está na
duração dos efeitos de um e de outro. O efeito do crack dura em média 5 minutos, já
o da cocaína quando injetada dura 20 minutos, quando cheirada chega a 45
minutos. A pouca duração dos efeitos do crack, leva o usuário a usá-lo
repetidamente,
instalando-se
a
dependência
muitas
vezes,
nas
primeiras
experiências. (CEBRID, 1977, s/p)
Os efeitos intensos e de curta duração provocam no usuário de crack e
merla uma "fissura" extremamente dominadora. Segundo Tiba (1999, p.125) ao
serem
ativados
os
circuitos
de
recompensa
do
cérebro,
estes
liberam
neurotransmissores exaurindo os neurônios, provocando profunda depressão.
Segundo pesquisa realizada por Tiba (1999, p. 126), cerca de 20% dos
usuários de merla tentam o suicídio para fugir da síndrome de abstinência.
Outra característica do usuário de crack e merla é repentina e vertiginosa
perda de peso, chega a perder de 8 a 10 Kg em poucos dias, alem de demonstração
de cansaço, intensa depressão e sensações extremamente desagradáveis.
(CEBRID, 1977, s/p).
Toxidade: O acúmulo de cocaína produz efeitos tóxicos que culminam em
derrames e psicoses. O uso repetido estimula adaptação das células. A tolerância é
tão rápida que as doses sucessivas já não trazem os mesmos efeitos. (CEBRID,
1977, s/p).
As tentativas do usuário de alcançar os mesmos efeitos obtidos com as
doses iniciais, lançam-no ao uso desmedido e inconseqüente no afã de repetir os
efeitos e sensações obtidas com as doses iniciais. Tal procedimento, além de
oferecer alto risco de overdose, podendo, inclusive, resultar em convulsão, coma e
morte. As quantidades administradas obrigam o usuário a adotar atitudes bizarras,
comportamento violento, além de irritabilidade e tremores. (CEBRID, 1977, s/p)
O “craqueiro” ou “pedreiro” como é tratado, devido às altas doses
ingeridas, passa a agir de forma desconfiada, vigiando obsessivamente o local de
uso da droga, gerando situações extremas de agressividade, alucinações e delírios,
configurando-se num quadro denominado de "psicose cocaínica". (CEBRID, 1977,
s/p).
28
O uso repetido, por longo tempo, da cocaína, eleva a chance de
degeneração irreversível dos músculos esqueléticos, chamada rabdomiólise.
(CEBRID, 1977, s/p).
A ocorrência de midríase (aumento das pupilas), dor no peito, contrações
musculares, convulsões e até coma, são conseqüências do uso excessivo e
compulsivo da cocaína. Tiba (1999, p. 126) afirma que “O pó ainda faz subir a
norepinefrina nas junções neurais do coração. Resultado: aceleram-se o ritmo e a
potência cardíaca, os vasos sanguíneos se contraem, a pressão sobe, diminui o
fluxo de sangue para os órgãos. Como consequêncía do excesso desse transmissor,
há risco de ataques cardíacos, derrames e deficiências orgânicas.
O risco de morte aumenta consideravelmente devido à diminuição de
atividades de centros cerebrais que controlam a respiração. Muitos usuários relatam
que ao sessar abruptamente o uso de cocaína ocorre "fissura", um desejo
descontrolado. (CEBRID, 1977, s/p).
*Ecstasy ou êxtase(MDMA)
Figura 5: Ecstasy
Fonte: http://science.kukuchew.com/wp-content/uploads/2008/10/ecstasy-pill.jpg , 2009.
Desenvolvido em 1914 pelo laboratório Merck para emprego como
moderador de apetite, o (ecstasy) MDMA, abreviação do nome científico Metilene
Dioxo Meta Anfetamina, é uma substância de origem sintética, com propriedades
alucinógenas e estimulantes, características que a tornam extremamente e
duplamente perigosa. Por provocar graves efeitos colaterais seu uso foi descartado
como moderador de apetite.
Sua ação no cérebro, intensifica, nas sinápses, a concentração de
dopamina, considerada a molécula do prazer, e de serotonina, uma das substâncias
responsáveis pelo controle emocional e pela sensação de prazer, além de ação
vasoconstritora. Sua interação com os receptores dopaminérgicos produz sensação
de bem-estar e euforia, em excesso pode provocar alucinações (TIBA, 1999, p.115).
29
Já as interações com os receptores serotonérgicos, levam o indivíduo a pensar que
é agradável, simpático e muito sociável. Com efeitos de longa duração, cerca de 10
a 12h, muitos são os relatos de elevação dos desejos sexuais, como também de
diminuição destes e de contato físico.
A
ação
bloquedora
do
ecstasy
impede
a
reabsorção
dos
neurotransmissores, acarretando na degradação destes e por consequência
provocando intensa depressão. Outra interferência em nível cerebral ocorre nas áres
que controlam as funções orgânicas como a temperatura e os batimentos cardíacos,
entre outros. Os risco à saúde do usuário aumenta na medida em que são ingeridas
em associação com outras substâncias como, por exemplo, o álcool, intensificando
seus efeitos com possível ocorrência de choque cardiorrespiratório. (CEBRID, 1999,
s/p.).
Além dos efeitos psicológicos, muitos são os efeitos físicos com
manifestações em todo o corpo. Estes traduzem-se em ressecamento da boca,
perda de apetite, náuseas, coceiras, reações musculares como cãibras, contrações
oculares, espasmo do maxilar, fadiga, depressão, dor de cabeça, visão turva,
manchas roxas na pele, movimentos descontrolados de vários membros do corpo
como os braços e as pernas, crises bulímicas e insônia. Ocorrencias de óbitos por
hipertemia também tem sido relatadas, possivelmente pela elevação extrema da
temperatura corporal, chegando a atingir até 42 graus (SENAD, 2002, p.39,
CEBRID, 1999, s/p.)
2.3.2.2 Depressora / Narcóticas
Caracterizam-se por drogas que diminuem a atividade cerebral, fazendo o
cérebro funcionar mais lentamente. Especificamnente no caso das narcóticas, estas
são administradas para supressão da dor. O indivíduo sob efeito desse grupo de
drogas tem seu raciocínio bem mais lento, com reflexos na voz (pastosa), nos
movimentos corporais, nas percepções de tempo e espaço, etc. Ou seja, a pessoa
fica "desligada", "devagar", desinteressada pelas coisas. Exemplos de drogas que
deprimem o SNC mais consumidas: Álcool; maconha, haxixe (também consideradas
alucinógenas); inalantes ou solventes (lança-perfume, cheirinho da loló, cola de
30
sapateiro, gasolina etc); os narcóticos, como o ópio (heroína, morfina e coedína), e
medicamentos com substâncias benzodiazepínicas e barbitúricas em suas fórmulas
entre outras.
*Álcool
Figura 6: Álcool 1
Fonte: www.badaueonline.com.br , 2009.
Figura 7: Álcool 2
Fonte: www.hipersuper.pt , 2009.
31
Figura 8: Álcool 3
Fonte: www.opais.co.mz, 2009.
Em relação ao álcool etílico, tipo encontrado em bebidas de consumo
humano, este é derivado dos mais variados tipos de plantas, sendo o tipo de droga
mais antiga utilizada pelo homem. Registros arqueológicos revelam que os primeiros
indícios sobre consumo de álcool pelo ser humano, remontam a aproximadamente
6.000 a C. O consumo do álcool perpassa toda a história humana. Em 2200 a C. era
recomendado o uso de cerveja como tônico para as mulheres em período de
amamentação, dois séculos depois um papiro egípicio trazia a seguinte mensagem :
“Eu, teu superior, proíbo-te de ir a tabernas. Ficas degradado como as bestas”. Num
segundo papiro, o pai chama atenção do filho com os seguintes dizeres: “Dizem-me
que abandonas o estudo, que vagueias de ruela em ruela. A cerveja é a perdição da
tua alma” (ESCOHOTADO, 2004, p. 19).
Até o advento do processo de destilação, o teor alcoólico das bebidas era
relativamente baixo. O processo de destilação, introduzido na Europa pelos árabes
da Idade Média, fez surgir novos tipos de bebidas alcóolicas, ganhando conotação
de remédio, pois debelavam rapidamente as preocupações e suprimiam a dor, daí o
termo whisky (do gálico "usquebaugh, que significa "água da vida")(CEBRID, 1999,
s/p). Outra menção, ainda sobre este aspecto, Escohotado (2004, p.58) diz que “o
32
primeiro tratato técnico do século XII, que se chama aqua vitae, água da vida, ao
resultado de uma destilação, e aqua ardens, água inflamável, ao álcool de 96 graus
obtido por bidestilação”.
Seu consumo não para de crescer. Atualmente encontra-se inserido em
praticamente todos os cantos do planeta. O álcool age no SNC Central, interferindo
no comportamento e causando dependência, ou Síndrome de Dependência do
Álcool (SDA)(SENAD, 2002, p.2). Segundo dados da OMS (KAPLAN, 2003, p.381),
“10% das mulheres e 20% dos homens ja reuniram critérios diagnóstico para abuso
de álcool durante a vida”. No Brasil, o alcoolismo compromete cerca de 15% da
população (SENAD, 2002, p.21). Também é responsável por 85% das internações
decorrentes do uso de SPAs; 20% das internações em clínica geral e 50% das
internações masculinas psiquiátricas (GALDURÓZ et. al., 2000, apud GALLASSI,
A.D. et al.2008, s/p.).
Segundo Gallassi, A.D. et al(2008), são gastos milhões de reais, em
tratamento, conforme ilustra a tabela abaixo:
Tabela 1 – Gasto com AIH relacionada aos transtornos mentais decorrentes do
uso de álcool e outras drogas.
Gasto com AIH relacionada aos transtornos mentais decorrentes do uso de
álcool e outras drogas.
Morbidades – Cid 10
Valor total {R$}
%
Transtornos mentais e comportamentais
devidos ao uso de álcool.
142.646.007,46
83%
Transtornos mentais e comportamentais
devidos ao uso de outras drogas
29.098.956,61
17%
Total de gastos anuais
171.744.964,07
100%
Fonte: Datasus, Ministério da Saúde, Brasil, 2006.
Fases distintas caracterizam os efeitos agudos causados pela ingestão do
álcool. Inicialmente manifestam-se os efeitos estimulantes como euforia, desinibição
e loquacidade (desinibição para falar ). O segundo estágio se caracteriza pelo efeito
33
depressor como, falta de coordenação motora, descontrole e sono, podendo levar ao
coma. O efeito do álcool está relacionado à condição física do usuário, com sua
intensidade variando de acordo com a capacidade de metabolização,
peso e
volume aquoso do corpo e “à estrutura física; uma pessoa com uma estrutura física
de grande porte terá maior resistência aos efeitos do álcool.” (CEBRID, 1999, s/p)
Alcoolismo: O uso constante e prolongado de bebidas alcóolicas pode
levar o indivíduo a desenvolver dependência (alcoolismo). Esta é caracterizada pela
incapacidade de controlar a ingestão do álcool e por consequentes manifestações
psico-físicas (sindrome de abstinência), pode se instalar a partir de fatores
biológicos, psicológicos, socioculturais ou da união destes. (CEBRID, 1999, s/p.)
Uma pessoa com quadro de dependência, eleva os riscos de doenças
como esteatose hepática, hepatite alcóolica e cirrose, gastrite, síndrome de má
absorção e pancreatite, hipertensão e problemas no coração. Aumenta também as
chances de ocorrência de polineurite alcóolica, caracterizada por dor, formigamento
e câimbras nos membros inferiores.
Na gravidez, os riscos descritos acima para o usuário(a) e são
comprovados os efeitos prejudiciais ao feto, como, por exemplo, a principal causa de
retardo mental nos USA: a Síndrome Alcoólica Fetal, afetando 1/3 dos filhos de
mães alcoolistas daquele país, é decorrente do consumo de álcool durante a
gestação. Outros danos também foram constatados em mães gestantes usuárias de
bebidas alcoólicas, como malformações cranofaciais, defeitos nos membros e
coração, além de desequilibrio hormonal, que pode resultar no aumento de risco de
anormalidades, além de 35% maior, a chance de gerar filhos com anomalias físicas
defeituosos. (KAPLAN, 2003, p.393).
*Maconha, haxixe , skank - THC (tetrahidrocanabinol)
Figura 9: skank, maconha, haxixe
Fonte: CD Luz, 2004.
34
Seu nome científico é Cannabis Sativa. Conhecida há pelo menos 5.000
anos, esta substância vem sendo utilizada para diferentes finalidades. Alguns povos
primitivos usavam-na para fins terapêuticos. Alguns séculos atrás passou a ser
usada tambem na confecção de cordas. Muitos afirmam que a maconha teria sido
introduzida no Brasil pelas mãos dos negros escravos, usando bonecas de pano
para transportar as sementes. (CEBRID, 1999, s/p.)
Preparada em forma de cigarro, conhecido como “fininho”, “baseado”
“bagulho”, etc., a maconha nas décadas de 60 e 70 teve seu consumo largamente
difundido entre os jovens.
Seu princípio ativo é o THC (tetrahidrocanabinol), correspondendo cerca
de 1 a 2% na composição de uma dose (um baseado). Lembrando que não é
somente o THC que reage no organismo, outras substâncias também provocam
reações adversas interessantes, que podem prejudicar uma pessoa.
Quanto aos efeitos psíquicos agudos, em algumas pessoas podem
ocorrer manifestações de sensação de bem-estar, acompanhadas de calma e
relaxamento, menos fadiga e hilaridade; noutras pode ocorrer o contrário, como
sentimento de angústia, medo de perder o autocontrole, ansiedade, além de
manifestações de tremores e sudorese. Tais efeitos ainda podem comprometer a
capacidade de calcular tempo e espaço, além de um prejuízo de memória e de
atenção. Em doses elevadas, dependendo da sensibilidade do usuário, pode ocorrer
também, quadros de despersonalização e desrealização. (CEBRID, 1999, s/p.)
As manifestações físicas agudas se caracterizam por um quadro de
Hiperemia conjuntival; diminuição da produção da saliva (sensação de secura na
boca), taquicardia (com possibilidades de atingir
cerca de 140 batimentos por
minuto ou mais). (CEBRID, 1999, s/p.)
Já do ponto de vista psicológico, o uso crônico afeta a capacidade de
aprendizado e memorização, com alta probabilidade de desenvolver um estado de
síndrome
amotivacional.
Podendo
também
desencadear
manifestações
hipomaníacas, transtornos do sono e disfunção sexual. (CEBRID, 1999, s/p.)
Os
efeitos físicos
crônicos da maconha
acarretam problemas
respiratórios, devido a irritação causada pela fumaça e pelo benzopireno, substância
encontrada no alcatrão e altamente cancerígeno.
Outra consequência do uso
crônico da maconha verifica-se na queda de produção de testosterona nos homens
35
(50-60%), com danos a fertilidade. Ou seja, o homem perde a capacidade de gerar
filhos. (CEBRID, 1999, s/p.)
Recentemente,
estudos
têm
revelado
que
algumas
substâncias
encontradas na planta Canabis Sativa (maconha), apresentam propriedadem
terapêuticas importantes, com ação eficaz na redução ou eliminação de náuseas e
vômitos decorrentes do uso de medicamentos anticâncer, além de produzir efeitos
de melhora nos quadros de epilepsia (doença que se caracteriza por convulsões ou
"ataques"). (CEBRID, 1999, s/p.)
Finalmente, há provas científicas de que se a pessoa tem uma doença
psíquica qualquer, mas que ainda não está evidente (a pessoa consegue "se
controlar"), ou a doença já aparece, mas está controlada com medicamentos
adequados, a maconha pode piorar o quadro, acelerando o desenvolvimento da
doença ou neutralizando a ação do medicamento. Este fato tem sido descrito com
freqüência na doença mental chamada esquizofrenia. (CEBRID, 1999, s/p.)
*Ópio (morfina, heroína e codeína)
Figura 10: Ópio e Heroína
Fonte: CD Luz , 2004 e www.cienciapt.net , 2009.
De nome científico Fapaver somniferum, o ópio é a planta da qual são
extraídas várias substâncias usadas na produção de medicamentos de combate a
dor, a tosse e cólicas, como a morfina e a codeína respectivamente, além da
heroína, largamente usada desde tempos remotos como droga de abuso. Após sua
descoberta pelo laboratório F. Bayer, foi sugerida para tratar dependentes de
morfina, sem mencionar se causava ou não dependência, em 1898, foi colocada no
mercado com o seguinte apelo publicitário:
a) Ao contrário da morfina, esta substância produz um aumento de
actividade. b) Adormece todo o sentimento de temor. c) Inclusivamente em
doses mínimas faz desaparecer todo o tipo de tosse, até nos tuberculosos.
d) Os morfinómanos tratados com esta substância perderam de imediato
todo o interesse pela morfina.( ESCOHOTADO, 2004, p.86)
36
A palavra ópio é originária do grego, e significa seiva ou suco. Os efeitos
característicos dessa substância são de ação depressora da atividade cerebral,
provocando analgesia e sensação de intenso prazer e bem-estar. Os eufóricos
efeitos iniciais, ao cessarem, dão lugar à sonolência, contração das pupilas, queda
da pressão sanguínea, diminuição da sensibilidade e da atividade do estômago e
intestino. Seu efeito também age provocando depressão respiratória, com risco de
morte por overdose. (PAULINO, 1999, p.31).
O alto poder viciante dos derivados do ópio, como a heroína e morfina, por
exemplo, levam o indivíduo rapidamente a desenvolver tolerância e dependência.
Isso ocorrendo, instala-se um quadro de intenso sofrimento. De um lado, a tolerância
exigindo doses cada vez maiores, com riscos inclusive de morte decorrente das
intoxicações agudas. De outro, a dependência. Um quadro em que, com a privação,
desencadeia fortes tremores, suores, profunda angústia, câimbras, vômitos, diarréia
e cólicas. Ou seja, o uso passa de opção para necessidade fisiológica e psicológica
extrema. (CEBRID, 1999, s/p.).
É importante salientar que a codeína, em que pese ser um derivado do
ópio, o risco de causar dependência é relativamente baixo, principalmente se
administrada sob orientação médica. Competente é muito menos potente do que a
morfina e a heroína, de pouco risco e normalmente não oferece riscos, quando
usada sob controle médico. Além disso, o seu potencial de provocar dependência é
incomparavelmente menor do que os outros derivados do ópio.
Também pertencendo a categoria dos narcóticos, existem os opióides.
Estes medicamentos são produzidos em laboratório, não requerendo substâncias
naturais (vegetal ou mineral) na sua composição. Entre os mais conhecidos
destacam-se: o meperidina ou petidina, usado como analgésico; dolantina,
analgésico e anestésico; metadona, usado no tratamento de dependentes de
heroína, e o zipeprol, um xarope de combate a tosse, devido ao alto grau de
toxidade apresentado. Outro aspecto importante relacionado aos opióides supra
mencionados, refere-se a dependência e
as intoxicações. No Brasil foram
registrados vários casos de mortes, “provocadas pelo abuso de remédios à base de
zipeprol, principalmente entre crianças de rua. Por isso, os medicamentos que
contêm essa substância foram recentemente declarados de uso proibido no país”
(CEBRID, 1999, s/p.).
37
*Solventes ou Inalantes (lança-perfume, cola de sapateiro, acetona,
esmalte, gasolina, etc.)
Figura 11: Solventes e Inalantes
Fonte: www.clinicanewway.com.br,2009.
www.brasilescola.com, 2009.
A terminologia usada para definir este grupo de substâncias, usadas como
drogas de abuso, principalmente por meninos de rua dos grande centros, é pelo fato
de se volatilizarem com facilidade.(PAULINO, 1999, p.27)
Os efeitos depressores destas substâncias, como é o caso do éter e do
clorofórmio, que juntas transformam-se no popular “cheirinho-da-loló”,
funcionamento
cerebral,
causando
inicialmente
euforia
e
afetam o
desinibição
comportamental. Na fase seguinte ocorre depressão do SNC com confusão, palidez,
visão embaçada, desorientação e possíveis ocorrências de alucinações auditivas e
visuais, evoluindo para um quadro de depressão profunda, redução acentuada do
alerta, incoordenação ocular e motora e manifestações importantes alucinatórias.
Finalmente pode ocorrer a chamada depressão tardia, inconsciência, convulsões,
coma e morte. Esta última, segundo Tiba (1999), em decorrência de asfixia
provocada pela aspiração em recipiente fechado (o vapor toma o lugar do oxigênio
no recipiente e nos pulmões), ou por substâncias que “interfiram no ritmo cardíaco,
na chamada Síndrome da Morte Súbita por Inalação (sudden sniffing death, SSD)”.
Ainda conforme este mesmo autor,
38
A falta de oxigênio não é detectada pelo cérebro durante a intoxicação,
devido aos crescentes efeitos sedativos. Se o usuário sobreviver, há risco
de danos cerebrais permanentes, por causa do efeito tóxico que a maioria
dos inalantes exerce sobre os nervos. Eles destroem o tecido que isola a
célula nervosa (mielina), causando danos sensitivos e motores, prejudicam
a medula óssea e reduzem o trabalho do fígado e dos rins (TIBA, 1999,
p.?)
Tranqüilizantes, sedativos, ansiolíticos e soníferos são subgrupos
compostos por drogas com ação distinta no cérebro, como os sedativos, que
recebem o nome de analgésico por sua ação de combate a dor; os hipnóticos e os
soníferos no papel de indutores do sono; os ansiolíticos que recebem este nome por
sua ação no SNC revertendo os quadros exagerados de ansiedade; e ainda nos
casos de epilepsia, também podem ser administrados barbitúricos como drogas
antiepilépticas.
*Barbitúricos
Figura 12: barbitúricos
Fonte: abscondito.wordpress.com, 2009.
Os barbitúricos são substâncias de uso terapêutico na indução do sono,
anestésica (tiopental) e anticonvulsivantes (fenobarbital). Os efeitos no cérebro
característicos dos barbitúricos são: sonolência, sensação de calma e relaxamento,
queda na capacidade de raciocínio e concentração. Com a atividade cerebral
diminuída, os reflexos também ficam prejudicados, mais lentos. Doses mais
elevadas afetam a fala, deixando-a mais pastosa, e andar, como se o indivíduo
estivesse embriagado. Seu grau de toxidade se manifesta na incoordenação motora,
39
sonolência profunda e aumentadas chances de ocorrência de coma e até morte. Em
tempo de uso muito prolongado, o risco de tolerância e dependência também
aumentam consideravelmente, com síndromes de abstinências bastante severas,
inclusive com risco de morte, caso não haja atenção médica/hospitalar em tempo
hábil. (CEBRID, 1999, s/p.).
Os efeitos no resto do corpo ocorrem indiretamente, ou seja, como agem
diretamente no SNC, naturalmente tem reflexos sobre a respiração, o coração e a
pressão do sangue, ao interferirem em áreas do cérebro que comandam tais
funções. (CEBRID, 1999, S/P.).
Em relação à segurança, os barbitúricos requerem um cuidado muito
maior na hora de administrá-lo, pois o limite entre uma dose adequada e uma tóxica
ou letal é muito sutil. Outro aspecto importante a se observar é a qualidade do sono:
Um sono não induzido por essas drogas, ou seja, o sono natural é muito diferente.
(CEBRID, 1999, S/P.).
Importante ressaltar dois aspectos: o primeiro é com relação à associação
dessa droga com a bebida alcoólica. O resultado pode ser uma intoxicação aguda e
de sérios riscos. O segundo é o uso durante a gestação. Os riscos de o bebê nascer
com dificuldades respiratórias, irritabilidade, distúrbios de sono e dificuldade de
alimentação, provocados pelo uso dessas substâncias pela mãe, são extremamente
elevados. (TIBA, 1999, P.121).
*Benzodiazepínicos
Figura 13: benzodiazepínicos
Fonte: www.antidrogas.com.br, 2009.
40
Diferentemente dos barbitúricos, os benzodiazepínicos são substâncias
de uso mais seguros. A diferença entre uma dose tóxica e uma dose terapêutica é
bem maior, oferecendo menor risco e maior margem de segurança na administração
da mesma e de poucos efeitos colaterais ao organismo. (CEBRID, 1999, s.p.).
Por outro lado, trata-se de um medicamento de
consequências
prejudiciais para os processos de aprendizagem e memória, funções motoras e
reflexos rápidos, este último de elevado risco de acidentes de trânsito para
motoristas que fazem uso de tais medicamentos. Apesar dos prejuizos observados
nos processos de aprendizagem, muitas meninas estudantes fazem uso desse
medicamento para evitar as rugas decorrentes de quadro de ansidedade que as
levam a franzir constantemente a testa. (CEBRID, 1999, s.p.).
O risco de intoxicações por altas doses principalmente se associadas ao
álcool ou a barbitúricos, é bastante considerado. Também tem sido relatadas
deformações físicas e lesões em fetos de mãe usuária deste tipo de substância,
além do risco de dependência.(PAULINO, 1999, p.30).
Os benzodiazepínicos mais conhecidos comercialmente são: diazepam,
lorazepam, bromazepam, midazolam, flunitrazepam, clonazepam, etc. (CEBRID,
1999, s.p.).
2.3.2.3 Perturbadora ou alucinógena:
Também denominadas drogas psicodélicas “de psique e delos, que
significa ampliação da mente” (ESCOHDATO, 2004, p.140)), estas por sua vez, não
afetam diminuindo ou aumentando a atividade cerebral, mas provocando no cérebro
intensa confusão mental, caracterizada por alterações significativas nas percepções
e sensações. Ou seja, o cérebro passa a funcionar fora do seu normal,
desorganizado. As drogas desse grupo mais comumente usadas são a maconha, o
LSD, o esctasy e os Cogumelos. Se caracterizam por seus intensos efeitos
alucinatórios auditivos e visuais.
41
*LSD (dietilemida do ácido lisérgico) 25
Figura 14: LSD
Fonte: psychedelicdrugsandconsciousness.blogspot.com/ , 2009.
Sintetizado a partir de um fungo chamado ergot ou parasita do centeio,
descoberta por Albert Hofmann em 1943, portanto de origem semi-sintética, isenta
de cheiro, cor ou gosto, é comprovodamente a droga mais potente desse grupo; 20
a 50 milésimo de grama provocam entre 4 e 12 horas de “viagem”, muitas vezes
aterradoras, dependendo do estado emocional e da espectativa sobre a droga.
Essas “viagens” podem voltar a qualquer momento tempos depois, mesmo o
indivíduo não estando sob efeito da substância; são os conhecidos “flash
back”.(PAULINO, 1999:55; ESCOHDATO, 2004:140 e SENAD, 2002, p. 38).
Também é comum a ocorrência de outros efeitos como delírios de
grandiosidade, levando o indivíduo a acreditar que pode voar, muitas vezes tentando
atirar-se de grandes alturas (inclusive com relatos de mortes), achar que tem força
suficiente para parar um carro em movimento ou caminhar sobre a água, etc.. Sob
efeito desse tipo de substância podem ocorrer delírios persecutórios, caracterizados
por sensação de que as pessoas a sua volta estejam tramando contra si, levando-o,
por conta disso, a agir agressivamente imaginando estar se defendendo. Um quadro
muito parecido com a esquizofrenia. Antecendendo o quadro acima, o indivíduo
pode apresentar “distorções sensoriais, chamada sinestesia, provocando sensações
como “ouvir uma cor ou ver um som” (TIBA, 1999, p.134).
Intensa ansiedade, depressão acompanhadas de quadros psicóticos,
mesmo após determinado tempo, são descritas por pessoas que experienciaram a
droga.(SENAD, 2002, p. 39).
42
No resto do corpo os efeitos tóxicos provocados pela ação do LSD
evidenciam aceleração do pulso, elevação de temperatura, dilatação da pupila,
podendo ocorrer, segundo alguns relatos, episódios de convulsão.(TIBA, 1999:134;
SENAD, 2002: 39). A alta concentração de dopamina ativada no circuito de
recompensa, além de provocar as psicoses acima relatadas, leva rapidamente a um
quadro de tolerância.
Segundo Nicastri, (apud SENAD, 2002, p.39) o Ministério da Saúde do
Brasil descata qualquer uso clínico
dos alucinógenos. Em relação ao LDS e a
psilocibina (cactus). Segundo Escohdato, (2004:140 ), em maio de 1966 foram
redefinidas, nos USA, como «drogas sem uso médico nem científico».
*Cogumelo e outras plantas alucinógenas
Figura 15: cogumelos
Fonte: CD Luz, 2004.
Especificamente sobre os tipos de cogumelos pertencentes à categoria
dos amonitas muscaria, segundo Tiba, (1999, p.133), conhecido como “agárico das
moscas” pela atração que exerce sobre estas, deixando-as aturdidas. Registros
históricos apontam sua influência sobre o comportamento destemido dos vikings e o
fortalecimento dos atletas olímpicos gregos. Neste grupo são encontradas várias
espécies venenosas, apesar de raramente fatais devido a ação da toxina muscarina,
substância de ação estimulante da acetilcolina. Seus efeitos intoxicatórios provocam
ocorrência de salivação, lacrimejamento e descontrole dos esfincters anal e urinário.
Outras manifestações como contração pupilar, cólicas, náuseas, vômitos, queda do
rítmo cardíaco e da pressão arterial também podem ser desencadeadas.
Com o nome científico de Psylocybe mexicana, este cogumelo,
43
considerado sagrado por alguns pagés. No Brasil são encontradas duas espécies, o
Psylocibe cubensis e o Paneoulus. (PAULINO, 1999, p.46).
As plantas mais conhecidas e usadas em rituais religiosos são Mimosa
hostilis, conhecida popularmente como Jurema, uma substância usada em rituais
candomblés e extremamente potente na síntese do dimetiltriptamina ou DMT, o
princípio ativo responsável pelos efeitos visuais, cores intensas e objeto em
movimentos, alegria e euforia. Seu efeito após o uso é extremamente
desconfortante, semelhante à ressaca, além de cansaço e dores nos músculos.
(CEBRID, 1999, S/P.).
Mescal ou Peyolt-(Lophophora williamsii), planta da qual é extraída a
mescalina, substância usada em rituais indígenas desde os primórdios na América
Central, é também muito conhecida pelo povo indígena da América do Sul e dos
adeptos do Santo Daime (Culto da União Vegetal) no Brasil. A bebida, um composto
das duas plantas acima, é largamente usada nestes rituais e recebe o nome de
Ayahuasca ou “Vinho da Vida. (CEBRID, 1999, s.p.).
Não menos conhecidas e populares são a Atropa belladona, fonte da
Atropina, originária da Europa, uma planta com bagas de sabor doce e de elevada
concentração de atropina, requerendo por isso, cuidados especiais em relação às
crianças; e a Datura arborea, conhecida também como trombeteira, saia branca,
aguadeiro, buzina, zabumba ou lírio, é um arbusto nativo da América do Norte. Seus
efeitos induzem a alucinações terrificantes. Os efeitos tóxicos no resto do corpo
provocam dilatação das pupilas, boca seca e diminuição das atividades intestinais,
etc. O quadro agudo de intoxicação pode induzir ao coma com risco de morte.
(CEBRID, 1999, S/P.).
Mais conhecida por seu aroma e gosto marcantes no preparo de
alimentos, a noz-moscada ou fragrans, é uma substância psicoativa também muito
potente. A noz-moscada concentra em suas cascas as substâncias alucinógenas
miristicim e elemicim que, quando consumidas em doses de alta concentração,
provocam efeitos semelhantes ou, mais intensos do que os provocados pelo LSD.
Escohodato (2004) ao referir-se aos efeitos provocados pelo uso de
drogas, cita Corpus hipocraticum sobre este conceito com as seguintes palavras
“substâncias que actuam arrefecendo, aquecendo, secando, humedecendo,
contraindo e descontraindo, ou fazendo dormir” (IV, 246 apud, ESCOHOTADO,
2004:24).
44
2.3.3 Quanto ao aspecto legal
Drogas Lícitas: São substâncias que podem ser cultivadas, produzidas e
comercializadas, com fins terapêuticos ou não, algumas com restrição de uso e
comercialização. Por exemplo, o tabaco, a bebida alcoólica, algumas substâncias
usadas em determinadas indústrias (cola de sapateiro, etc.) e alguns medicamentos
têm sua venda e uso proibidos para menores de 18 anos.
Drogas Ilícitas:
São substâncias que tem seu cultivo, produção,
comercialização, porte e uso proibidos por lei. É crime, com pena rigorosa de prisão,
as atividades acima, envolvendo tipos de drogas como, por exemplo, maconha,
cocaína, ecstasy, crack, mela ou merla, heroína, etc.
2.3.4 Padrão de uso
Para uma adequada intervenção num processo de uso de drogas se faz
necessário identificar o padrão de uso. Os critérios para classificação do consumo
de substâncias requerem do avaliador conhecimentos dos danos, efeitos e
consequências causados para que seja possível a definição do padrão de uso. O
padrão de consumo possibilita o diagnóstico ou não de dependência.
Possivelmente levada pelo enfoque moralista dado à questão do uso de
drogas, a Organização Mundial da Saúde (OMS), ainda no início da década de 60,
realizou inúmeras reuniões com autoridades e estudiosos de várias partes do mundo
para a discussão e pesquisas sobre os critérios para classificação dos tipos, efeitos,
origens, padrões de consumo de substâncias psicoativas. Além do desenvolvimento
de critérios de avaliação, de modo a possibilitar diagnósticos mais assertivos sobre
os comprometimentos causados pelo uso destas ao usuário.
Segundo Loureiro e Lacks (2002) apud SENAD (2002, p. 69) os padrões
de uso nocivo/dependente estão baseados “(...) na forma de uso e na relação que o
indivíduo estabelece com a substância e suas conseqüências negativas”.
45
Estes mesmos autores apresentam os critérios estabelecidos pelo DSM IV
e pela CID 10, para a configuração dos padrões de uso abusivo e nocivo nas tabelas
abaixo, comparando critérios de abuso e uso nocivo da DSM-lV e CID-1O
Tabela 2 — Critérios Diagnósticos para Abuso de Substâncias
Abuso de substâncias
A.Um padrão mal-adaptativo de uso de substância levando a prejuízi mento
clinicamente significativo, manifestado por um (ou mais) da aspectos, ocorrendo
dentro de um período de 12 meses:
(1) uso recorrente da substância resultando em um fracasso em cumprir obrigações
importantes relativas a seu papel no trabalho, na escola ou em casa (por ex.,
repetidas
ausências
ou
fraco
desempenho
ocupacional
relacionados ao uso de substância; ausências, suspensões ou expulsões da escola
relacionadas a substância; negligência dos filhos ou dos afazeres domésticos;
(2) uso recorrente da substância em situações nas quais isto representa perigo
fisico (por ex., dirigir um veículo ou operar uma máquina quando prejudicado pelo
uso da substância)
(3) problemas legais recorrentes relacionados à substância (por ex.. detenções por
conduta desordeira relacionada a substância)
(4) uso continuado da substância, apesar de problemas sociais ou interpessoais
persistentes ou recorrentes causados ou exacerbados pelos efeitos da substância
(por ex., discussões com o cônjuge acerca das conseqüência intoxicação, lutas
corporais)
B. Os sintomas jamais satisfizeram os critérios para Dependência de Substancia
para esta classe de substância.
Fonte: DSM-IV, 1994, apud KAPLAN, (2003, p. 374).
CID 10
Uso nocivo
Evidência clara que o uso foi responsável (ou contribuiu consideravelmerite) por dano
físico ou psicológico, incluindo capacidade de julgamento comprometida ou disfunção
de comportamento.
B- A natureza do dano é claramente identificável.
C- O padrão de uso tem persistido por pelo menos um mês ou tem ocorrido
repetidamente dentro de um período de 12 meses.
D- Não satisfaz critérios para qualquer outro transtorno relacionado à mesma
substância no mesmo período (exceto intoxicação aguda).
Fonte: (SENAD, (2002, p 70).
46
Como o uso de drogas não se restringe ao uso abusivo ou nocivo,
convém destacar os padrões de uso considerados “inócuos” ou de baixo risco e
socialmente aceitas, como no caso das drogas lícitas.
 Uso experimental – refere-se à primeira experiência com uma droga.
Sem que se possa definir um padrão, este se caracteriza por um uso relativamente
breve. Uma experiência geralmente levada pela curiosidade, este primeiro contato
acontece normalmente em grupo ou na companhia de um amigo. Por outro lado,
dependendo do tipo de droga e do fator que levou o indivíduo a experimentar, é
relativamente improvável que se repita ou se torne recorrente. Este padrão de uso é
o mais pontuado nas pesquisas quantitativas sobre o uso de substâncias,
principalmente envolvendo álcool e tabaco.
 Uso recreacional ou social: está associado a ocasiões sociais e de
lazer, geralmente compartilhado entre amigos. A substância usada geralmente é
ilícita, mas vista como um mecanismo de prazer e relaxamento, este é um padrão
que
não
implica necessariamente
em dependência ou
outros
problemas
relacionados. Apesar da conotação social, muitos discordam, “opinando que, no
caso de droga ilícita, não seja possível este padrão devido às implicações legais
relacionadas”.
 Uso
circunstancial/ocasional
ou
controlado
se
configura
pela
freqüência, intensidade e duração variável, sem a presença de comprometimentos
de nível afetivo, social e profissional. O usuário utiliza uma ou várias drogas quando
disponíveis ou em ambiente favorável, sem apresentar problemas nos campos
afetivo, social ou profissional. Este é um padrão que suscita muitas dúvidas se
realmente é possível o uso de determinadas substâncias de forma controlada, e por
quanto tempo o individuo é capaz de manter este autocontrole, pois é fato sabido e
comprovado, a ocorrência da tolerância e da dependência.
 Uso social - considerando as drogas lícitas, consumidas por grande
parte da população mundial, salvo em países islâmicos; por exemplo, onde a religião
não permite o uso de bebidas alcoólicas (MOREIRA jr., 2005, p.22), o padrão de uso
social pode ser entendido, de forma literal, como uso em companhia de outras
pessoas e de maneira socialmente aceitável, mas também é usado de forma
imprecisa indicando os padrões acima definidos.
47
 Uso intenso: o uso prolongado e contínuo de uma substância, pelo
menos uma vez por dia, visando aliviar uma necessidade ou um desejo intenso de
aliviar situações de estresse, ou na ânsia de resolver um problema persistente,
caracteriza este padrão de uso de drogas.
 Uso compulsivo: é definido pelo uso em grande quantidade de
substância, mesmo que a intenção inicial fosse de tomar apenas uma dose, em
tempo relativamente curto, o uso continua até a ocorrência de intoxicação aguda; e
por último.
 Uso nocivo/abuso: segundo critérios do DSM IV, (conforme tabela
acima) desde que não caracterize dependência, implica na indicação pelo menos de
um sintoma específico que resulte em dano ou prejuízo à vida do indivíduo; seja ele
de natureza física (ex. perfuração do septo nasal em dependentes de cocaína),
como psíquica (ex. depressão após grande consumo de álcool, como também
acidentes de transito ou de trabalho, etc).
2.4 Formas(vias) de uso
Administrar uma substância no organismo necessita de meios que possa
introduzí-la, de forma que esta produza os efeitos esperados. As vias de aplicação
possíveis de drogas no corpo são Intranasal: a droga ao ser aspirada com auxílio
de instrumentos como canudo, corpo de caneta esferográfica, etc, é absorvida pela
mucosa nasal e desta para a corrente sanguínea que a leva até o cérebro; pela via
pulmonar o usuário inala a droga volatilizada em função da alta temperatura a que é
submetida (crack ou merla), ou pela fumaça (maconha, tabaco), ou ainda apenas
inalando solventes, substância altamente volátil em seu estado natural; por via oral,
drogas como chás, medicamentos, cafeína, ecstasy, etc., são introduzidas
no
organismo, absorvidas pelo trato gastrointestinal. Outras vias de administração de
substâncias no organismo
também se fazem conhecidas e utilizadas como nos
casos do LSD, via sublingual e transdérmica através de adesivos, e as drogas
acondicionadas em supositórios, administradas no organismo pela via da mucosa
retal (SENAD(2002, p.16).
48
3 DEPENDÊNCIA
3.1 A Concepção da Genética sobre Dependência
Quando se fala de dependência química, está se falando de um problema
biológico, psicológico ou social? E ainda: que tipo de dependência? Física ou
psicológica? Seriam dimensões distintas de um mesmo problema? O conceito
genérico do termo dependência, abordando drogas de ação física e psicotrópica,
encontrado no dicionário Aurélio (2007) refere-se a um
Estado psíquico e, eventualmente, físico, decorrente da absorção, periódica
ou contínua, de um fármaco (analgésico, hipnótico, etc.), sendo este estado
acompanhado, ou não, de tolerância (6); o organismo, para manter um novo
estado de equilíbrio, passa a requerer ministração regular, e muitas vezes
crescente, desse fármaco, e sua falta pode causar perturbação psíquica e/ou
física.
“Cada um dos estados mórbidos em que surgem importantes alterações
físicas quando é interrompido o uso de certo medicamento, ou droga, e que
varia segundo este ou esta, com apresentação de sinais e sintomas de
natureza física.”
“Cada um dos estados mórbidos em que a impressão de bem-estar causada
por medicamento, ou droga, leva o indivíduo a tomá-lo, ou tomá-la, em
caráter contínuo ou periódico, inclusive para evitar a sensação de mal-estar
que lhe causaria a privação daquele medicamento ou daquela droga.”
(AURÉLIO (2007, s/p).
Segundo Mota (2007), a exemplo de outras enfermidades do começo do
século 20, a dependência química, mais especificamente da bebida alcoólica, em
que pesem os fatores econômicos e sociais da época, decorrentes do crescimento
econômico e da conseqüente e desordenada urbanização, provocadas pela alta
demanda de trabalhadores das fábricas em suas linhas de produção, tinha na sua
etiologia um problema identificado de causa hereditária por estudiosos como
Lombroso, ao estudar as semelhanças anatômicas apresentadas entre os crânios de
animais e crânios humanos primitivos (ou raças inferiores).
Esta suposição, identificada com teorias evolucionistas de Darwin, ao
comparar o crânio de um presidiário com o de um animal, constatou traços bastante
semelhantes entre eles.
O estudo concluiu tratar-se de um homem cujo crânio
revelaria, pela sua semelhança anatômica com o crânio do animal, de um ser
49
primitivo, um ser distante do grau evolutivo humano da época, nas próprias palavras
de Lombroso (apud MOTA, 2007, p.18/19)
(...) ao abrir o crânio encontrei, na parte occipital, exatamente no ponto em
que fica a espinha no crânio normal, uma nítida depressão que denominei
fossa occipital média, por causa de sua situação, precisamente no meio do
occipício, como nos animais inferiores, principalmente os roedores, Esta
depressão, como no caso dos animais, ligava-se à hipertrofia do vermis,
conhecido nos pássaros como o cerebelo médio. Não se tratava apenas de
uma idéia, mas de uma revelação. À vista daquele crânio eu parecia
compreender, de repente, iluminado como uma planície imensa sob um céu
flamejante, o problema da natureza do criminoso — um ser atávico que
reproduz em sua pessoa os instintos ferozes da humanidade primitiva e dos
animais inferiores. Assim se explicavam anatomicamente os enormes
maxilares inferiores, altos molares, arcadas superciliares protuberantes,
linhas solitárias nas palmas das mãos, tamanho máximo das órbitas,
orelhas acabanadas ou sésseis encontradas em criminosos, selvagens e
macacos, insensibilidade à dot vista extremamente aguda, tatuagens,
indolência excessiva, gosto pelas orgias e um anseio irresistível do mal pelo
mal, o desejo não só de extinguir a vida na vítima, como de mutilar o
cadáver, rasgar a carne e beber seu sangue (LOMBROSO apud. COHEN,
1968, p. 108).
Sem pretenção de invalidar ou questionar a conclusão acima, apenas
com o intuito de contribuir com o leitor, permitiu-se abrir um parêntese para trazer
alguns estudos realizados nos USA por Sampson et al. (1997), citado em BAU,
(2002, p. 2), revelando casos de alterações no crânio, face e outras malformações
(grifo meu) além de retardo mental e déficit de crescimento, como resultado do uso
de bebidas alcoólicas por mulheres durante o período da gravidez. A incidência
destes casos na população pesquisada, segundo o autor do estudo, é de
aproximadamente 2,8 - 4,6 a cada 1000 nascimentos nos Estados Unidos.
Seguidas de ampla evolução no campo científico, as teorias biológicas
buscaram associar as tendências criminosas do indivíduo, assim como o alcoolismo,
à predisposições genéticas e hereditárias, o que deu lugar, logo no início do século
20, à eugenia, um processo de evitação da transmissão desses males.
No Brasil, segundo Mota, (2007, p. 21), o processo eugênico tinha como
foco, além dos doentes mentais, “os mendigos, alcoolistas, delinquentes, prostitutas,
negros e mestiços, entre outros. Tratava-se também de uma estratégia de
normalização médica e penal que visava uma espécie de emparelhamento evolutivo
e moral (...)”.
Ainda nesta mesma época, conforme Mota (2007), o
alcoolista era
responsabilizado pela geração de filhos epilépticos, raquíticos, doentes mentais,
alcoolistas e com propensão ao crime. Suposições já confirmadas por vários
50
autores, como visto acima em estudos de Sampson et al. (1997), além de outros
abaixo demonstrados.
A evolução no campo genético revela novas descobertas para tentar
explicar o fenômeno da dependência química. Sobre isso, Messas (2004) diz em seu
estudo sobre o papel da genética na dependência do álcool que esta modalidade de
estudo fornece evidências sólidas do papel da genética na dependência química.
Apesar disso, o mesmo autor, com suas próprias palavras, ao afirmar que não se
pode atribuir única e exclusivamente aos fatores genéticos, o desenvolvimento da
dependência química, pois esta, necessariamente, só se manifesta quando fatores
relacionados ao meio socioambiental, favoráveis ao uso de substâncias, se fazem
presentes, e diz, que:
A heterogeneidade dos resultados em termos de definição dos limites dos
fenótipos e mecanismos de transmissão hereditária indica o abuso ou
dependência de álcool como resultante de uma complexa interação de
fatores genéticos, psicossociais e culturais, melhor compreendida dentro de
um modelo desenvolvimental de psicopatologia. (MESSAS, 2004. p.56)
Já, no campo da neurociência, precedidos pela descoberta da estrutura
do DNA por James Watson e Francis Crick, em 1953, e pela divulgação do
revolucionário Projeto Genoma Humano, em 2000, estudos, na sua maioria
patrocinados pela indústria farmacêutica, impulsionaram vários trabalhos de
pesquisa voltados às minudências dos processos bioquímicos causadores da
compulsão pelo uso de drogas. Este viés de investigação, na visão de Mota (2004),
possibilitaria abordagens isentas de juízos morais, torna possível, inclusive, a
produção de vacinas bloqueadoras dos efeitos da substância no cérebro e,
consequentemente de prevenção à dependência química.
À luz da neurociência, Mota (2004) citando Carelli (2006), diz que estudos
comprovam, a exemplo da dependência química, que outros como conservadorismo
político, distúrbios alimentares, depressão, neuroses, homossexualidade, violência,
alimentação, inteligência etc., mais recentemente também a tendência ao suicídio ou
à religiosidade, já foram identificadas geneticamente, compõem uma extensa lista de
comportamentos transmissíveis hereditariamente.
Sobre este modelo Silveira fillho (1996) faz críticas por entender que:
51
baseia-se em modelos genéticos controversos e em generalizações
questionáveis de determinados experimentos para o fenômeno da
dependência como um todo; não descreve uma “história natural” de relação
do indivíduo com o produto, prescindindo, portanto, de uma teoria de
dependencia; não abrange grande contingente de casos que, embora não
preencham critérios para sua inclusão nesta categoria nosológica,
correlacionam-se com taxas de morbidade e mortalidade diretamente ligadas
ao consumo de álcool e drogas” (SILVEIRA FILHO, 1996, P. 11)
3.2 A dependência química do ponto de vista da psicologia
No campo da psicologia, apesar das várias teorias desenvolvidas, nada
existe de acabado em termos de compreensão da dependencia química. Sua
etiologia é melhor explicada pelas teorias (psicanalíticas) da personalidade e pelas
teorias (modelo comportamental) do aprendizado. De uma maneira geral, segundo
Mota (2007), ao citar Bordin, Figlie e Laranjeira, (2004), a psicologia compreende a
dependência, fruto do uso de drogas como preenchimento de um vazio, de
compensação de uma carência emocional no sentido de resgate, ou revivência dos
estados prazerosos de infância.
No que tange ao alcoolismo, por exemplo, Nascimento e Justo (2000),
referindo-se aos estudos realizados por Van Kolck, Tosi e Pellegrini (1991) e
Sonenreich (1971), citam que este tipo de dependência química está intimamente
relacionado a um conjunto de fatores inerentes à personalidade do indivíduo, como
regressão emocional, imaturidade, instabilidade, ansiedade, insegurança, timidez e
fraqueza do ego. Ainda segundo estes mesmos autores, são indivíduos que buscam
no uso de substâncias um mecanismo de fuga do medo de tomar iniciativas e de
assumir responsabilidades, ou seja,
(...) funcionaria como um mecanismo de fuga do indivíduo devido ao seu
sentimento de inadequação, encoberto por ideais de grandeza, certo
perfeccionismo e exibicionismo, apresentados face à sua auto-imagem
negativa (NASCIMENTO e JUSTO, 2000, p. 530).
Outro aspecto na compreensão da dependência na dimensão psicológica
diz respeito à família, pois esta também se constitui num fator de risco para a
dependência. Ou seja, a desestrutura familiar caracterizada num desequilíbrio de
papéis, neste caso, com destaque para a figura do pai ausente e/ou da mãe
52
superprotetora,
se faz sentir não só como causador do envolvimento com a
substância, como também como coadjuvante num processo de tratamento muitas
vezes, mal sucedido, quando de sua atuação inadequada.
Mais circunscrito ao modelo das teorias do aprendizado social, a
automedicação
seria
outro
importante
aspecto
para
a
compreensão
do
desenvolvimento da dependência no usuário de álcool e/ou outras drogas. De um
lado a bebida e as drogas de abuso, e de outro, os medicamentos psicotrópicos
usados no intento de afastar o sofrimentos psíquicos causados pelos sentimentos de
ansiedade, raiva ou depressão, por exemplo. Este processo de automedicação
lançaria o indivíduo no (des)caminho da dependência. Trocando em miudos: O
desconforto ao levar o indivíduo a buscar nas drogas, sem que este atente para os
critérios médicos, e o alívio resultante, o que, com alta probabilidade encontraria,
desencadearia um processo de dependência química, resultando em mais um
problema, ao invés de sanar os que o motivaram ao uso. (MOTA (2007),
SENAD(2002)
No campo psicanalítico, a dependência
evidencia sintomas de um
indivíduo com problemas emocionais. Desencorajado para lidar com seus problemas
cotidianos, lança mão de lenitivos como as drogas para viver a vida sob o que Freud
denomina de princípio do prazer. Ou seja, a negação do princípio da realidade, que
significa encarar o problema de frente, assumindo o ônus e o bonus do que possa
acontecer, aliás, este é o critério usado pelo senso comum para compreensão da
dependência, pois desencadeia o desenvolvimento de um quadro patológico de uso
de drogas, e consequentemente o vício. (MOTA (2007).
Neste sentido, ampliando um pouco mais a percepção do senso comum
sobre a etiologia da dependência, este diz que o abuso de drogas tem sua origem
no confuso e conturbado mundo subjetivo do indivíduo. (MOTA (2007).
Afastando os meios sócioambientais como fatores ou influências ao uso
abusivo de substâncias, a psicologia clínica, ao explicar o fenômeno da dependência
afirma que, segundo Mota (2007, p. 33), origina-se da “incapacidade de certos
indivíduos em lidar com problemas emocionais oriundos de traumas de infância ou
similares”, em que pese grande parte das literaturas psicanalíticas não apoiarem tal
teoria, a exemplo de Joel Birman, ao afirmar que
53
Não se pode esquecer aqui que o desamparo humano aumentou muito na
dita pós-modernidade, pois, com o fim das utopias e dos messianismos
alimentados pela modernidade, não há mais como fazer obstáculo às dores
e desesperanças produzidas na atualidade. Isso porque não se oferecem
outros projetos alternativos nos registros social e político (BIRMAN, 2003 p.
243, apud MOTA, 2007, p.34).
Isto posto, conclui-se que, pelo menos sob o enquadre psicanalítico,
classificar dependência química implica em vários fatores ora internos ora externos,
diferentemente do que postula a Organização Mundial da Saúde (OMS) em sua
Décima Revisão
da
Classificação Estatística Internacional
de Doenças e
Problemas Relacionados à Saúde (CID 10) e os critérios encontrados no DSM IV,
respectivamente, conforme tabela abaixo:
Tabela 3 – critérios diagnósticos
CID – 10
Critérios Diagnósticos para Dependência de Substância
Três ou mais das seguintes manifestações ocorrendo conjuntamente por pelo
menos 1 mês ou, se persistirem por períodos menores que 1 mês, devem ter
ocorrido juntas de forma repetida em um período de 12 meses:
1. Forte desejo ou compulsão para consumir a substância;
2. Comprometimento da capacidade de controlar o início, término ou
níveis de uso, evidenciado pelo consumo freqüente em quantidades ou
períodos maiores que o planejado ou por desejo persistente ou esforços
infrutíferos para reduzir ou controlar o uso;
3. Estado fisiológico de abstinência quando o uso é interrompido ou
reduzido, como evidenciado pela síndrome de abstinência característica da
substância ou pelo uso desta ou similar para aliviar ou evitar tais sintomas;
4. Evidência de tolerância aos efeitos, necessitando de quantidades
maiores para obter o efeito desejado ou estado de intoxicação ou redução
acentuada destes efeitos com o uso continuado da mesma quantidade;
5. Preocupação com o uso,.manifestado pela redução ou abandono das
atividades prazerosas ou de interesse significativo por causa do uso ou do
tempo gasto em obtenção, consumo e recuperação dos efeitos;
6. Uso persistente, a despeito de evidências claras de conseqüências
nocivas, evidenciadas pelo uso continuado quando o sujeito está efetivamente
consciente (ou espera-se que esteja) da natureza e extensão dos efeitos
nocivos.
Fonte : CID 10, 1997
54
Em que pese algumas diferenças pontuadas por Durte e Morihisa (apud
SENAD, 2002, p. 70) entre o que postula a 4ª edição do Manual Diagnóstico e
Estatístico de Transtornos Mentais (DSM IV), com seus sete critérios, e a Décima
Revisão
da
Classificação Estatística Internacional
de Doenças e Problemas
Relacionados à Saúde (CID 10), composta por seis critérios, tornou-se mais fácil
disgnosticar o uso patológico de substâncias. O primeiro, para que se configure a
dependência, se faz necessário a presença de fatores fisiológicos (com o
preenchimento dos critérios de tolerância ou abstinência), ou sem a presença de
fatores fisiológicos, apenas a presença de 3 ou mais critérios, sem a presença de
tolerância e abstinência). O segundo, CID – 10 define a presença de 3 ou mais de
seus 6 critérios, ja configura um quadro de dependência.
A tabela constante no DSM IV, compõem-se dos seguintes critérios para
definir dependência química:
Tabela 4 – critérios diagnósticos DSM IV
DSM IV - Critérios Diagnósticos para Dependência de Substância
Um padrão mal-adaptativo de uso de substância, levando a prejuízo ou
sofrimento significativo, manifestado por três (ou mais) dos seguintes critérios,
ocorrendo a qualquer momento no mesmo período de 12 meses:
(1).Tolerância, definida por qualquer um dos seguintes aspectos:
a) Uma necessidade de quantidades progressivamente maiores da
substância para adquirir a intoxicação ou efeito desejado
b) acentuada redução do efeito com o uso continuado da mesma
quantidade de substância
(2) Abstinência, manifestada por qualquer dos seguintes aspectos:
a) Síndrome de abstinência característica para a substância (consultar os
Critérios A e B dos conjuntos de critérios para Abstinência das substâncias
específicas)
b) A mesma substância (ou uma substância estreitamente relacionada) é
consumida para aliviar ou evitar sintomas de abstinência
(3) a substância é frequentemente consumida em maiores quantidades ou
por um período mais longo do que o pretendido
55
(4) Existe um desejo persistente ou esforços mal-sucedidos no sentido de
reduzir ou controlar o uso da substância
(5) Muito tempo é gasto em atividades necessárias para a obtenção da
substância , (por ex., consultas a múltiplos médicos ou fazer longas viagens de
automóvel) na utilização da substância (por ex., fumar em grupo) ou na
recuperação de seus efeitos.
(6) importantes atividades sociais, ocupacionais ou recreativas são
abandonadas ou reduzidas em virtude do uso da substância
(7) o uso de substância continua, apesar da consciência de ter um
problema fisico ou psicológico persistente ou recorrente que tende a ser
causado ou exacerbado pela substância (por ex., uso atual de cocaína, embora
o indivíduo reconheça que sua depressão é induzida por ela, ou consumo
continuado de bebidas alcoólicas, embora o individuo reconheça que uma
úlcera piorou pelo consumo de álcool)
Especificar se:
Com dependência fisiológica: evidências de tolerância ou abstinência
(isto é, presença do Item 1 ou 2).
Sem dependência fisiológica: não existem evidências de tolerância ou
abstinência, isto é, nem Item 1 nem Item 2 estão presentes).
Fonte: DSM-IV, apud Kaplan (2003, p. 374).
3.3 A Compreênsão da dependência do ponto de vista do meio sócioambiental
O contexto social, por inúmeras razões, dada a impossibilidade de
desenvolvimento humano sem este, exerce um papel preponderante para o
estabelecimento de patologias decorrentes do uso de drogas. O homem, em sua
interação com o meio em que vive, está sujeito às mais variadas influências, tanto
positivas quanto negativas. Por isso, torna-se impossível deixar de aceitar os
argumentos de vários autores ao afirmarem que a dependência de drogas, ou
“síndrome de dependência” (OMS, 1993, apud SENAD, 2002, p. 6) está com suas
raizes fincadas no contexto socioambiental do indivíduo.
Segundo Mota (2007), a Organização Mundial da Saúde elaborou um
relação de fatores considerados de risco, da mesma forma, também elaborou uma
56
relação de fatores considerados de proteção para o uso abusivo e a dependência de
substâncias. Quais seriam, então, esses fatores protetivos? Para a OMS, 2004,
(apud MOTA, 2007, p.39), os fatores de proteção são encontrados no contexto de
“situação econômica estável, controle das situações, apoio social, integração social
e acontecimentos positivos na vida”. Já os fatores de risco, segundo os critérios da
OMS, são identificados numa sociedade onde há
fácil disponibilidade de drogas, pobreza, mudanças sociais, cultura
permissiva do círculo de amigos em relação ao uso de drogas, profissão,
normas, atitudes culturais e ausência de políticas sobre álcool, tabaco e
drogas (OMS, 2004, apud MOTA, 2007, p.39),.
Diante disso, sem falso pessimismo, pouco se pode esperar em termos de
abstinência do uso de drogas ilícitas, ou uso socialmente aceito no caso da bebida
alcoólica e demais drogas lícitas, pois, diariamente os noticiários veiculados nos
meios de comunicação de massa são os piores possíveis, considerando os itens
apontados pela OMS, como fatores de risco supra citados.
Um estudo realizado nos USA, apontou um aumento de 28,8% no
consumo de álcool (24,6%), maconha (3,2%) e tabaco (9,7%), por pessoas
residentes em áreas próximas ao World Trade Center, nas semanas seguintes ao
atentado de 11 de setembro. Segundo os pesquisadores, isso deveu-se ao alto grau
de estresse póstraumático a que estas pessoas foram submetidas. O estudo pontua
a estreita relação entre tensão social e o consumo de substâncias. Um estudo entre
estudantes universitários, realizado por Madu et al(2003) apud Silva et. ai., 2006, p.
8) também afirma haver “correlação entre o aumento do uso de tabaco e de “drogas”
quando os alunos estão mais cansados, estressados, deprimidos”.
Mas, a influência do contexto social para o aumento do consumo de
substâncias, com possibilidades de evoluir para um consumo abusivo e daí para a
dependência, não diz respeito apenas aos fatores estressantes externos. Madu et.
al. (2003), também identificou em seus estudos os momentos livres, de lazer e
confraternizações, mais especificamente, as reuniões festivas entre jovens (Madu et
al (2003) apud Silva et. ai., 2006, p. 8).
Por outro lado, um estudo com soldados americanos revelou que o
sentimento de união e solidariedade, mesmo num campo de batalha, entre os
soldados, destacou-se como fator de proteção para a dependência de drogas,
57
Segundo Mota (2007, p. 53), apesar do estímulo social para o uso de
substâncias entre os jovens, através do fácil acesso às drogas ilícitas e conivência
dos adultos em relação às lícitas, bebida alcoólica, por exemplo, os fracos ou
inexistentes vínculos familiares etc, as causas das dependências estão mais
relacionadas aos fatores psicológicos que sociológicos. Ainda, segundo este mesmo
autor, ” é importante lembrar que a “sociedade” não conduz ninguém ao vício”.
Percebe-se uma afirmativa bastante questionável, considerando as
propensões, as predisposiões genéticas, identificadas por grande número de
renomados autores, baseados em rigorosos estudos, de que um indivíduo não
desenvolve ou adquire a dependência sem que haja uma interação com seu
contexto social, ou seja, sem que lhe seja permitido o acesso a tais substâncias.
Zweig et al., (2002) ao referir-se aos fatores de risco para o uso de
drogas, diz que Alguns desses fatores se referem as características dos indivíduos;
outros, ao seu meio microssocial e outros, ainda, as condições estruturais e
socioculturais mais amplas (Zweig et al., (2002) apud MINAYA, 2004, p. 712).
Silveira Filho (1996) faz críticas a este modelo de concepção da
dependência química alegando que
... desconsidera motivações intrínsecas, da esfera individual, para se fazer
uso de álcool e drogas; não discrimina padrões de uso recreativo/ocasional
de abuso e dependência e a existência de influencia social direta constitui
fenômeno de difícil comprovação” (SILVEIRA FILHO, 1996, P. 11)
3.4 A dependência química na compreensão biopsicosocial
Compreender etiologicamente o fenômeno da dependência química, a
partir das dimensões fisíca, psicológica e social, seria uma demonstração de relativo
grau de conhecimento acerca da essência e da natureza do homem. Muitos e
renomados autores afirmam enfaticamente que este se constitui da integralidade
dessa tríplice dimensão biopsicossocial, muito embora a psiquiatria, a psicologia e a
sociologia tentem, apesar de toda ambiguidade que o cerca, de forma isolada e
circunscrita, entender e explicar este fenômeno.
Para MOTA (2007, p.56), no caso das drogas, sua finalidade “(...) perfaz
um entendimento que perpassa a biologia, a psicologia e a cultura”. Ou seja,
58
conceber um contexto de uso de substâncias psicoativas, do medicamento àquelas
socialmente aceitas, tanto em ritos sociais quanto em ritos religiosos,
não se
restringe à substância apenas. Muitos fatores interdependentes se fazem presentes
como, por exemplo, no caso das substâncias lícitas(álcool, fumo, medicamentos,
produtos utilizados nas indústrias (tinta, colas, solventes, etc.), nos meios de
transportes como a gasolina, por exemplo); Os condicionantes biológicos(genéticos)
e hereditários(valores); os interesses econômicos e políticos, e muitos outros. Como
se vê, o uso de substâncias implica em muitas causas que transformam-se em
consequências, respaldando qualquer argumento que tente justificar seu uso. Ao
mesmo tempo que também justifica qualquer fracasso, ou omissão, de combatê-lo.
Autores como Norbert Elias, por exemplo, em “A sociedade dos indivíduos
(1994)”, afirmam que sociedade e indivíduo não são um e outro, são apenas um,
Sem dúvida temos consciência, ao mesmo tempo, de que esse abismo
entre os indivíduos e a sociedade não existe na realidade. Toda sociedade
humana consiste em indivíduos distintos e todo indivíduo humano só se
humaniza ao aprender a agir, falar e sentir no convívio com outros. A
sociedade sem os indivíduos ou o indivíduo sem a sociedade é um
absurdo. (ELIAS, 1994 p.67).
Ou ainda, como diz Mota, 2007, p.57) o que os sociólogos configuram
como ““estrutura social”, não passa do resultante da soma de ações tomadas em
seu conjunto”. Por outro lado, o indivíduo, na mesma proporção, também recebe
toda uma carga de influências que irão determinar muito do que possa vir a ser em
atitudes e comportamentos.
Em tom crítico, ao analisar esta concepção, Silveira Filho (1996),
argumenta que os
assim chamados “fatores de risco” são, na maioria da vezes, fatores
correlacionados, não implicando necessariamente a existencia de uma
relação de causa e efeito. Ou seja, nunca foi demonstrado que atuando-se
nestes fatores, obtenham-se modificações de comportamento,
supostamente decorrentes dos mesmos no futuro; não foram bem
sucedidas as tentativas de identificar associações de fatores que possam
ser preditivos de padrões específicos de consumo; a teoria é estática e
linear-causal, uma vez que não dispõe de uma descrição das inter-relações
dinâmicas entre os fatores de risco e o uso de substâncias(...) (SILVEIRA
FILHO, 1996, P. 12)
Este mesmo autor, apresenta também o Modelo Sistêmico como um 4º
modelo suficientemente abrangente de compreensão do fenômeno da dependência,
59
ao afirmar que existe uma interação dinâmica do indivíduo e o seu contexto, entre
variáveis individuais, ambientais e a droga
3.5 Personalidade do usuário de drogas
No enfoque dessa problemática, outro fator se faz importante abordar, a
personalidade do dependente. Afinal, de quem estamos falando? Como é o usuário
dependente de drogas? Esse indivíduo será capaz de encarar uma realidade, seja
objetiva ou subjetiva, sem se sentir impotente, desesperançoso, frustrado sempre
que tenta mudá-la por considerá-la insuportável? Ao invés de mera opção de estilo
de vida, não seria a droga a única saída para incapacidade de continuar vivenciando
esta sua realidade? O tédio, a depressão e a ansiedade não estariam por de trás
dessa “relação de dualidade” existente entre o indivíduo e a droga que, segundo
Silveira, (1996, p.7) “(...) permanece indissociável enquanto a droga for capaz de
propiciar essa alteração de percepção de uma realidade, respondendo assim pela
manutenção de uma situação de equilíbrio, ainda que instável, desse indivíduo”.
Isto posto, significa dizer que alguns traços são característicos da
personalidade do indivíduo; segundo Kox (1998), precedem o vício como, por
exemplo, sentimento de desvalia, melancolia, depressão e ansiedade, afeto
negativo, sensibilidade profunda, são mais emotivos e magoam-se com maior
facilidade. São atormentados por aflições infundadas, perdem o autocontrole
facilmente, acreditam que suas vidas são influenciadas por fatores ambientais. As
respostas aos estímulos tendem a ser distorcidas e se valem das drogas para
diminuir as dores. Possuem a capacidade de cognição e percepção distorcidas,
angústia, sentimento de culpa, vergonha e remorso.
Um estudo realizado nos USA, conforme Kaplan (2003) aponta que, entre
35 a 60% dos usuários dependentes de substâncias, foi constatado transtorno de
personalidade anti-social. Este percentual aumenta se considerados os indivíduos
que preenchem em todos os critérios diagnósticos desse tipo de transtorno,
precedido ou desenvolvido durante o uso de substâncias.
Segundo Cunha, (2007), a identificação e compreensão dos conflitos,
mecanismos de defesa, estados emocionais, fantasias, traços de caráter e os
60
aspectos sadios e/ou patológicos, possibilita identificar as áreas mais vulneráveis na
personalidade
do
usuário
dependente
de
substâncias,
consideravelmente as probabilidades de sucesso do tratamento.
aumentando
61
4 TRATAMENTO
Dependencia química tem cura?
Para dirimir esta dúvida se faz necessário outra pergunta: O que é cura, o
que se entende por cura?
Se cura for recobrar a saúde e o bem estar psicológico, físico, emocional e
social, apesar do baixo índice de eficácia mostrado até então, a resposta é sim. Mas,
se significar, necessáriamente, a completa erradicação da doença, zerar todo e
qualquer foco da mesma, então, a resposta é não. “Aqui, não há cura, mas
tratamento; (...) e qualquer um pode ser melhor que nenhum”, diz Bernik (1991)
apud FOCCHI (2001:IX). Ou seja, uma vez dependente químico, para sempre
dependente químico. Não existe cura. O que existe é o controle da patologia, e
neste sentido, há necessidade de um conjunto de medidas que visem o controle da
mesma e a cura ou o controle de comorbidades associadas ao uso de substâncias.
O tratamento para a dependência química, ao que se sabe, em nada se
parece com a atenção dispensada à um paciente com uma doença circunscrita,
localizada, a qual, se administrada à terapia adequada, os resultados são
positivamente certos. A dependência química é bem mais complexa. É um tipo de
enfermidade com origens diversas, multifatorial.
As várias dimensões que compõem o indivíduo (emocional, social, física e
psicológica) precisam ser consideradas e minuciosamente investigadas para um
bom diagnóstico e, consequentemente, num prognóstico que resulte em efetividade.
A recuperação de um indivíduo dependente de drogas pode se arrastar por longo
período de tempo, e não é raro requerer do paciente, várias tentativas.
Nos
últimos
anos,
investigações
dos
processos
de
tratamento
possibilitaram elaboração dos seguintes princípios, considerados básicos pelo
National Institute on Drug Abuse (NIDA), para um programa de tratamento que se
propõe a alcançar êxito. Segundo o NIDA, muitos estudos científicos comprovam a
eficácia do tratamento quando observados os seguintes princípios:
1. Não existe tratamento único que possa ser aplicado a todas as
pessoas;
2. O tratamento deve ser de fácil acesso;
62
3. O tratamento para ser eficaz precisa atender além da dependência
também outras necessidades do indivíduo;
4. O plano de tratamento e os serviços de cada pessoa devem ser
constantemente avaliados e modificados, quando são necessários ajustes a
qualquer mudança de suas necessidades.
5. A permanência por determinado e adequado período de tempo ao
tratamento é essencial para sua eficácia.
6. O aconselhamento e outras terapias comportamentais são elementos
essenciais e fundamentais em praticamente todos os programas de tratamentos da
drogadição.
7. Os medicamentos se constituem elementos importantes para o
tratamento de certos tipos de transtornos, especialmente quando em conjunto com
aconselhamentos e outras terapias comportamentais.
8. Os usuários dependentes ou abusivos de drogas que também
apresentem outros transtornos mentais devem receber tratamentos de forma
integrada para ambos: dependência e transtornos.
9. As intervenções médicas nos casos de síndrome de abstinência
(desintoxicação) significam apenas a primeira etapa do tratamento para a
dependência e, por si só, representa muito pouco para modificar o consumo de
drogas de longo prazo.
10. O tratamento não necessita ser voluntário para ser eficaz.
11. Deve ser monitorado constantemente, durante o tratamento, o possível
uso de drogas.
12. Os programas de tratamento devem incluir exames de HIV/AIDS,
hepatites B e C, tuberculose e outras enfermidades contagiosas. Também se deve
proporcionar aconselhamento para ajudar as pessoas a modificarem ou substituírem
aqueles comportamentos que ofereçam riscos de contaminação para si, ou para
outros.
13. A exemplo de outras enfermidades crônicas em que há possibilidade
de recaída, a recuperação da dependência de drogas pode ser um processo de
longo prazo que geralmente requer submeter-se a várias tentativas de tratamento e
às sessões de reforços e outras formas de cuidado contínuo, por também oferecer
alto risco de recaída.
63
Aspecto não menos importante, mas de extrema relevância num programa
de tratamento, é uma investigação clínico-laboriatorial completa, para verificação de
existência, ou não, de comprometimento médico ou neurológico, doenças
concomitantes e comorbidades (diagnóstico de duas ou mais doenças em um único
paciente—diagnóstico duplo), eliminação de causas orgânicas dos transtornos
psiquiátricos e estabelecimento de valores básicos de funções a serem monitoradas.
Neste sentido, Duarte e Morihisa, (2002) recomendam que sejam feitos os seguintes
exames:
a) Hemograma completo;b) Eletrólitos (sódio, potássio, magnésio, cálcio,
cloro, etc.); c) Testes de função renal ou dos rins; d) Testes de função
hepática ou do fígado; e) Testes de função pancreática ou do pâncreas e
glicemia;f) Testes de função tireoidiana ou da tireóide;g) Sorologia para
Doenças Sexualmente Transmissíveis — DST (HIV, sífilis, hepatites, etc);h)
Exames de imagem (Tomografia Com putadorizada, Ressonância Nuclear
Magnética, Tomografia por Emissão de Pósitrons — PET, Tomografia
Computadorizada por Emissão de Fóton Unico - SPECT); i) Testes
Toxicológicos: testes sanguíneos e de urina para detecção de substâncias
psicoativas. (DUARTE E MORIHISA, 2002, apud SENAD, 2002, p.112)
Além das investigações de aspecto físico individual acima sugeridas, na
triagem de inserção num programa de tratamento, segundo Duarte Vieira, (2002),
importa tambem, conhecer o contexto sócioambiental do indivíduo e sua interação
com este na
1)vida pessoal e familiar(vida pregressa, relacionamento familiar, papéis
familiares, relacionamento com drogas); 2)vida funcional (motivação para
o trabalho, responsabilidade, produtividade, absenteísmo, relacionamento
Interpessoal,
segurança);
3)Vida
Econômico-financeira(situação
financeira e econômica, uso do dinheiro); 4)vida sócio-cultural
(relacionamento com amigos comuns à família, relacionamento com
vizinhos, atividades na comunidade, envolvimento com a justiça e a polícia)
e 5)vida espiritual (Orientação espiritual Crenças, sonhos , propósitos de
vida). (DUARTEVIEIRA, 2002, apud SENAD, 2002, p.125/126)
4.1 Modelos de tratamentos
Apesar das
tantas dificuldades terapêuticas encontradas na área da
dependência química, a começar pela inexistência da cura e, principalmente
considerando a inexistência de um indivíduo motivado, muitas pesquisas têm
demonstrado que o tratamento deste tipo de doença possui largo espectro de
64
modalidades de terapias, agrupadas em três modelos básicos existentes
atualmente: o modelo Craft (auto-ajuda), o modelo médico (craft) e o modelo
psiquiátrico (misto), segundo Focchi (2001). Resumidos por Duarte et. al., apud
SENAD, (2002 p.176) em dois grandes modelos: Psicossociais e Tratamentos
Farmacológicos.
4.1.1 Tratamento Psicossocial
No modelo Psicossocial estão agrupadas as abordagens psicoterápicas
Cognitivo-comportamental, Comportamental, Psicodinâmica/Interpessoal, de grupo e
familiar, além da participação em grupos de Alcoólicos Anônimos (AA) e Narcóticos
Anônimos (NA), etc.;
4.1.2 Tratamentos Farmacológicos
O modelo Tratamentos Farmacológicos se caracteriza pela utilização de
medicamentos para tratar estados de intoxicação e abstinência; para reduzir os
efeitos
reforçadores
(que levam a
autoadministração); como
antagonistas
(desencorajadoras ou indutoras de consequências desagradáveis ao interagir com a
substância de abuso); agonista, terapia de substituição e também medicamentos
para tratamento de transtornos psiquiátricos.
Os medicamentos podem ajudar a restabelecer as funções normais do
cérebro, prevenir recaídas e diminuir a fissura pela droga ao longo do processo de
tratamento. Já existem atualmente, medicamentos para tratar a dependência de
substâncias como opiáceos (morfina, heroína) e tabaco (nicotina). E já se encontra
em processo de estudos, medicamentos para tratamento de dependência de
estimulantes (cocaína, metanfetamina) e cannabis (maconha). Por exemplo, a
metadona e a buprenorfina são medicamentos eficazes para o tratamento da
dependência em opiáceos. Ao atuar sobre os mesmos locais do cérebro que a
heroína e a morfina, estes medicamentos reduzem os sintomas de síndrome de
65
abstinência e aliviam o desejo intenso pela droga. Isto ajuda aos pacientes a
abandonarem a procura pela droga e os comportamentos criminosos associados a
esta,
e
a
serem
menos
resistentes
aos
tratamentos
de
abordagens
comportamentais.
4.1.3 Craft
O modelo Craft, segundo Schenker e Minayo (2004), (Community
Reinforcement and Family Training) ou em português “Treinamento de Família e o
Reforço da Comunidade”, consiste em treinar e habilitar os familiares e amigos do
dependente alcoólico resistente ao tratamento, persuadindo-o a se engajar num
processo terapêutico. Esta abordagem, segundo Schenker e Minayo (2004, p.650),
percebe “a recuperação do adicto como muito afetada pelo contexto ou
“comunidade” de reforço, compondo-se de família, amigos, trabalho, escola, grupo
espiritual e grupos sociais”. O mesmo termo para Focchi (2001) refere-se a um
modelo largamente usado na abordagem ao dependente químico, principalmente de
bebidas alcoólicas, por membros abstinentes ligados aos próprios grupos, atuando
como educadores, monitores ou conselheiros do dependente químico em processo
de recuperação.
Conforme Focchi (2001), citando St. Clair, (1991), apesar das limitações
apresentadas por estes educadores/conselheiros no que tange aos conhecimentos
teóricos/técnicos de dimensões biopsicológicas afetadas pelo uso de drogas, tiveram
reconhecida sua importância na abordagem ao usuário abusivo/dependente de
substâncias psicoativas, sendo recentemente credenciados para atuarem na
América do Norte.
Por outro lado, Carrol e Schottenfeld, (1997), apud FOCCHI, 2001, p.104)
afirmam que
A familiaridade em relação às abordagens não farmacológicas é crítica
para a prevenção efetiva da dependência química, para a identificação de
pacientes com o problema, para a. mudança de sua motivação para o
tratamento e para maximizar o sucesso terapêutico (CARROL e
SCHOTTENFELD, (1997), apud FOCCHI, 2001, p.104)
66
Diante disso, fica evidenciado a importância de um indivíduo motivado
para o êxito do tratamento. Em caso contrário, pelo menos até o momento, nem
mesmo todo empenho da ciência, se não houver comprometimento do indivíduo,
garante sucesso pleno.
4.1.4 Modelo médico
Este tem o componente médico em associação com o modelo craft da
concepção de Focchi (2001). Ainda de acordo com Focchi (2001), difere do modelo
craft apenas em relação à presença do profissional médico fazendo intervenções
clínicas nas patologias decorrentes do uso de substâncias, e também no
aconselhamento ao paciente, ao mesmo tempo atuando como coordenador e
consultor da equipe técnica.
Este modelo de tratamento engloba as mais variadas abordagens,
tornando-se fundamentalmente multidisciplinar, primeiro por ser a dependência uma
doença multifatorial, abrangendo dimensões psicológicas, físicas e sociais do
sujeito; segundo, porque até o presente momento, não se conhece um medicamento
que possa realmente combater com eficácia esse tipo de enfermidade.
4.1.5 Modelo psiquiátrico
Segundo Clair (1991, apud FOCCHI, 2001, p. X), os modelos acima,
acrescidos das abordagens psiquiátricas (diagnósticos e tratamentos específicos),
compõem o modelo psiquiátrico. Este, por sua vez, atualmente se constitui no mais
completo programa de tratamento para dependência química por agregar várias
modalidades numa proposta multidisciplinar (psiquiatra, psicólogos, enfermeiro,
terapeutas ocupacionais e familiares).
Um conjunto de abordagens como psicoterapia individual, familiar, de
grupo, cognitivo-comportamental,
farmacoterapia, entrevista motivacional, etc) é
67
usado visando um tratamento que tem por objetivo contribuir na reabilitação física,
psicológica e social do usuário dependente de substâncias.
4.2 Regimes de tratamento
A escolha e decisão sobre qual regime de tratamento mais adequado para
tratar um dependente químico, deve ser pautada na necessidade de tratamento
específico diponível apenas em determinado regime, na estrutura e suporte
necessários, nas habilidades demonstradas pelo paciente em cooperar e beneficiarse com a tratamento oferecido; de abster-se do uso de substância e na habilidade
de evitar comportamentos de risco . (DUARTE, e cols. 2002).
Os mais comuns são Hospitalar, Residencial (Comunidade Terapêutica),
Hospital-dia e regime ambulatorial.
Dependendo do regime e do indivíduo e seu grau de comprometimento, a
demanda de tempo pode variar entre alguns meses a vários anos. Lembrando que
se faz necessário um monitoramento constante desde a fase inicial do processo aos
demais estágios, se estendendo até 12 meses após seu término.
4.3 Modalidades ou Abordagens Terapêuticas Psicossociais
Neste capítulo serão enfocadas, em seus aspectos mais relevantes,
algumas das modalidades abaixo relacionadas, mais aplicadas, atualmente, nos
processos de tratamento de usuários abusivos e/ou dependentes de substâncias
psicoativas. Lembrando que um plano de tratamento adequado deve se constituir,
em termos gerais, de enfoques visando abstinência, prevenção de recaída e quadro
clínico concomitante, e que provoque mudanças comportamentais e de atitudes
voltados para um estilo de vida saudável e produtivo. Em casos mais especificos, se
faz necessário adequar o tratamento à necessidade do indivíduo, segundo Gawin e
Kleber, 1986, apud FOCCHI, 2001 p.104) pluralizando o enfoque. Neste sentido,
68
apontam Ferreira e Cols.(1995 apud FOCCHI, 2001, p.104) que “a motivação do
indivíduo dependente para se tratar e a participação dos familiares é fundamental”.
Rigorosos e metodológicos estudos demonstraram que quanto mais
abordagens psicoterápicas num programa de tratamento para dependência de
opióides, melhores são os resultados, e mais eficaz torna-se o tratamento.
4.3.1 Entrevista Motivacional(EM)
Esta é uma das mais recentes técnicas usadas para tratamento das
dependências químicas. Como foi referido inúmeras vezes neste trabalho, para um
efetivo engajamento num processo terapêutico por parte do indivíduo dependente,
torna-se imprescindível sua motivação para o êxito do mesmo. A motivação, que
pode ser um traço de caráter ou apenas um momento interno, é algo que pode
variar de intensidade, ou mesmo desaparecer em relação a determinado
compromisso, projeto ou ação.
Especificamente sobre dependência química Proshaska e DiClemente,
(1982, apud SILVA, 2004) dizem que a motivação do usuário dependente segue um
espiral nos seguintes estágios: 1) Pré-contemplação: não relaciona seus problemas
com o uso de substância; 2) Contemplação:o indivíduo reconhece a existência de
problemas associados ao hábito de uso de drogas, mas apesar de sua consciência a
respeito, surge a ambivalência, ou seja, ainda não se encontra pronto para
mudanças; 3) Ação: Neste estágio o indivíduo reconhecendo que tem problemas
decorrentes de seu relacionamento com as drogas, passa a planejar ações,
comprometendo-se em lançar mão de estratégias para alcançar mudanças como de
estilo de vida, reconhecimento e enfrentamento de situações de risco, etc.); 4)
Manutenção: Uma vez plenamente consciente, e em processo de mudança, usa a
terapia para se fortalecer e permanecer em seu propósito de se manter abstêmio,
criando assim, condições externas para a mudança.
A Entrevista Motivacional se constitui numa técnica para levar o paciente a
ver e aceitar seu problema durante a terapia e desta forma optar por mudar.
Segundo Laranjeira e Jungerman, 2002, apud SENAD, 2002, p.25) esta abordagem
segue a mesma linha de atuação de uma “Terapia Centrada no Cliente”, de Carl
69
Rogers, ou seja, o indivíduo toma decisão por si próprio, consciente do que está
fazendo, portanto, com motivação.
Diferentemente de outras estratégias como a de aconselhamento (“giving
advice”) que segundo Rollinik, (1993, apud Focchi, 2001), de pouca efetividade visto
que nem sempre o indivíduo está pronto para mudanças, para aceitar o tratamento,
gerando ainda mais resistência; e de confronto, que associa, por exemplo,
a
resistência do indivíduo com traços de caráter, além de profundos mecanismos de
defesas deste, por isso também de pouca eficácia, esta visa explorar a ambivalência
do paciente, englobando técnicas psicoterápicas breves, Centrada no Cliente,
Cognitiva, Sistêmica e Psicologia de Persuasão, reunindo elementos diretivos e não
diretivos.
Conforme Focchi (2001, p.26), 11 estudos sobre Entrevista Motivacional,
analisados por Noonan e Moyers (1997), chegaram aos seguintes resultados sobre
seu grau de efetividade: 7 apóiam a eficácia da EM em diferentes “settings” e 2
estudos não sustentam o uso da EM como uma intervenção clínica efetiva.
Em relação aos sete resultados favoráveis a EM, no primeiro estudo,
MILLER e cois. (1988) constataram redução no consumo semanal de álcool; noutro
estudo estes mesmos autores (MILLER e cois. (1993), demonstraram melhores
resultados em comparação com técnicas confrontativas. Outros autores como Bien
e cols. (1993), ao usarem EM como técnica de estímulo ao tratamento verificaram
maior compromisso com o tratamento e percepções mais positivas do terapeuta.
Brown e Miller (1993) ao comparar dois grupos em tratamento verificaram além de
maior redução no consumo de álcool, também constataram mais comprometimento
com o tratamento. Saunders e cols. (1995) ao compararem o uso terapêutico de
metadona e EM, com um grupo de usuários de opiáceos, tambem revelaram que
este último
...foi mais adiante nos estágios de mudança, fez maior compromisso com a
abstinência, observou mais vantagens em se manter abstinente, mantevese mais tempo no programa, além de recair menos e ter menos problemas
relacionados ao uso de opiáceos”(FOCCHI, 2001, p.27).
Ao monitorar usuários de álcool durante consultas médicas, Handmaker
(1993) constatou que um grupo de mulheres em pré-natal diminuiu gradativamente o
consumo alcoólico em cada encontro. Senft e cols. (1995) ao estudarem um grupo
de usuários de álcool, a exemplo de Handmaker (1993), também constataram que o
grupo que tivera uma breve abordagem EM de 15 minutos, conseguiu ao longo de 6
70
meses, além da diminuição gradativa do consumo total, também reduzir o número
de dias por semana de uso da substância após 6 a 12 meses. Heather e cols. (1995)
observaram que um grupo de usuários de álcool internados, mas que ainda não
estava aceitando mudanças,
obteve melhores resultados se beneficiando muito
mais com a abordagem EM do que um outro grupo, apesar de levar ligeira
vantagem, pois este último já estava pronto para mudanças, além disso,
beneficiados com a abordagem de treinamento de habilidades (“skill-based
counseling” — SBC).
Ainda segundo Focchi (2001), Stephens e cols. (1993) ao comparar três
modalidades de tratamento: EM (“Drinkers’ check-up” – DCU), prevenção de recaída
e tratamento padrão com usuários de maconha, constataram que os dois primeiros
mostraram mais eficácia na redução de consumo e de problemas relacionados.
Focchi (2001) diz, ainda, que apesar dos resultados apresentados, esta
abordagem carece de maiores e mais aprofundados estudos, para corroborar ou não
o até aqui exposto. Por outro lado, Laranjeiras(1996, p.195) afirma ser uma das mais
bem sucedidas abordagens transteóricas, ou seja, seus fundamentos teóricos
baseiam-se no resumo de cerca de 18 teorias sobre o problemas de álcool e outras
drogas.
4.3.2 Terapia Cognitiva-Comportamental (TCC)
A Terapia Cognitiva-Comportamental, como a própria terminologia indica,
é a união de duas teorias: Teoria da Terapia Cognitiva e Teoria da Terapia
Comportamental. A primeira, de acordo com Kaplan (2003, p. 796) baseia-se nos
pensamentos
automáticos,
quando
negativos
induzem
à
comportamentos
inadequados e adaptativos, resultado de um processo cognitivo afetado por
experiências anteriores; a segunda, ainda segundo este mesmo autor, “fundamentase nos princípios da teoria da aprendizagem” , ou seja, o comportamento é resultado
de um processo de condicionamento, ou aprendido. Sendo assim, significa que
pode também ser modificado, “desaprendido”.
71
A Terapia Comportamental-Cognitiva (TCC) (Cognitive Behavioral Therapy
CBT), basicamente entende que o comportamento adaptativo pode mudar sem a
presença de “insight”, mas, diminuindo ou aumentando, positiva ou negativamente, o
reforço ao mesmo (FOCCHI, 2001). Ou seja, a CBT analisa o uso de drogas como
sendo causa de fatores sociais cognitivos, atuando como força motriz no
funcionamento do indivíduo. (SCHENKER e MINAYO, 2005)
A TCC ainda em fase de desenvolvimento, no que concerne ao
tratamento das dependências químicas, segundo Capote e Ramos, apud SENAD
(2002, p.38), procura através de várias teorias e técnicas das Terapias Cognitiva
(TC) e Comportamental (BT),
“sinalizar ao paciente a relação entre o seu
pensamento, emoção e sua ação em relação às drogas”, corrigindo suas
conceituações cogniticas distorcidas. Trata-se de uma modalidade de tratamento
com sessões estruturadas, de postura diretiva e ativa.
Entre as técnicas utilizadas, segundo Silva (2004) e Foochi (2001), estão
as de monitoramento dos pensamentos automáticos negativos; traçar as conexões
entre a cognição, o afeto e o comportamento; Mapear as cognições tendenciosas;
Identificar e alterar as Crenças Básicas, Lidar com imagens disfuncionais,
elucidando e modificando-as, Terapia aversiva, técnicas de relaxamento e treino de
habilidades sociais.
Quanto a sua eficácia no tratamento das dependências químicas, estudos
têm revelado resultados bastante favoráveis indicando boa resolutividade. Segundo
Cordioli e Knapp (2008), os problemas de adcção quando tratados com TCC,
especialmente, a Prevenção de Recaídas, tem alcançado resultados satisfatórios.
Outro estudo realizado por Karkow e Caminha (2005), ao analisar a
aplicação de técnicas cognitivo-comportamentais, aliadas a uma boa relação
terapêutica, constataram aumento na qualidade de vida e manutenção da
abstinência dos participantes.
Vários estudos têm oferecido diversas evidências sobre a eficácia desta
modalidade e seus métodos de tratamento.
Conforme Carvalho (2004, p.5), além de validadas pela Associação
Americana de Psicologia (APA), “dois ensaios clínicos controlados, conduzidos em
dois centros independentes” comprovam a eficácia da TCC no tratamento das
dependências químicas.
72
Marques e Formigoni (2001), num estudo comparando a terapia cognitivocomportamental individual ou em grupo para pacientes dependentes de álcool e/ou
outras drogas, concluíram que “Tanto a TCC individual quanto a TCC em grupo
demonstraram efetividade semelhante para a maioria das variáveis estudadas”.
4.3.3 Terapia Familiar
É comum, nos casos de família que tenha um de seus membros
dependente químico, ouvir-se: A família também precisa se tratar. Quanto a isso não
restam dúvidas, mas o que precisa ficar claro é que a família precisa se tratar pelo
fato dela também ser extremamente afetada, e não com a conotação de acusação.
Segundo Zemel (2001, s/p.) “Quando aceitamos que o problema de uso e consumo
drogas é uma questão bio-psico-social, já estamos aceitando que a família se inclui
nesse processo”
O princípio da terapia familiar, ainda segundo Zemel (2001, s/p.), parte de
que esta é um sistema em equilíbrio, neste sentido, a terapia familiar entende
quando há ocorrência de drogadição, e reforça esta prática ao “estabelecer um
equilíbrio patológico entre seus membros”. Para Focchi, (2001) o vínculo do usuário
dependente com a família é pobre, rígido e simbiótico. Schenker e Minayo (2004)
percebem que no entendimento da Teoria Sistêmica, a drogadição reflete um
sistema familiar de elos frágeis e inconsistentes, um contexto no qual o processo
relacional do indivíduo com os demais, tende a ser disfuncional. Neste sentido, a
família é considerada como co-autora do surgimento do abuso de drogas.
Atualmente, são apresentadas diversas abordagens de intervenção
familiar. As de melhor conceito por sua efetividade são: “Modelo da Doença
Familiar”, que entende que a doença afeta tanto o usuário quanto a família; A
“Terapia de Família Comportamental Cognitiva”, união da teoria sistêmica com
princípios e técnicas da CBT individual. Esta abordagem também vê drogadição
como resultado da dinâmica familiar; As “Terapias Integrativas” ou ecológicas, como
a “Terapia de Família Multidimensional” e a “Terapia Multissistêmica da Família”
focando os fatores individuais, familiares e extra-familiares (amigos, escola,
comunidade).
73
Nas terapias de família, um dos aspectos abordados diz respeito aos
processos educacionais pelos quais passa a família, contribuindo com informações,
subsidiando-a, para que possa vencer os preconceitos e a negação do problema e,
assim, apoiar as mudanças no estilo de vida, necessárias na recuperação do
dependente.
4.3.4 Terapia dos 12 passos
Concebida como filosofia de vida por membros de Alcoólicos Anônimos
(AA), a "Terapia dos 12 Passos" (Twelve-Steps Approaches), é conhecida também
como o "Modelo Minnesota" (Minnesota Model), é tida como base do programa de
recuperação dos grupos de auto-ajuda Alcoólicos Anônimos (AA) e Narcóticos
Anônimos (NA). Nesta modalidade de tratamento a drogadição é conceituada como
uma doença progressiva, incurável e fatal. O dependente alcoólico ou de outras
drogas é visto como um sujeito vencido pelo poder das drogas, caracterizado pela
negação e pela impotência perante a doença.
A participação nos programas de auto-ajuda requer apenas que o
indivíduo tenha vontade sincera de parar de usar, reconheça sua incapacidade de
controlar o uso de substâncias e que acredite num Ser Superior, através do qual
poderá restabelecer-se dessa doença. Para estes, a terapia dos 12 passos é uma
forma de desenvolver sua espiritualidade.
Outra característica dessa modalidade é que o participante deve
preocupar-se apenas com as próximas 24 horas, assumindo o compromisso de que
“só por hoje”, vivendo apenas um dia de cada vez, vai resistir a vontade de ingerir a
substância.
Alem dos grupos supra, a terapia dos 12 passos é usada como
complemento de outras modalidades de tratamento como os de programas
terapêuticos de Comunidades Terapêuticas e modelo Minnesota (SENAD, 2002).
Mudança de estilo de vida. Este é o objetivo do programa de tratamento
em Comunidades Terapêuticas ou (Therapeutic Community Approach TC), desde
que a pessoa esteja motivada, queira e aceite o tratamento. Maxwell Jones, citado
por Fracasso (2002), apud SENAD (2002, p. 92), diz que Comunidade Terapêutica
74
“...é um grupo de pessoas que se unem com um objetivo comum e que possui uma
forte motivação para provocar mudanças”. Refere-se a um regime de tratamento
residencial. O interno precisa de um período de nove meses para completar o
programa terapêutico.
A Comunidade Terapêutica se constitui num espaço, com características
familiares, onde o indivíduo possa resgatar ou desenvolver crenças, atitudes e
comportamentos socialmente adaptados. Desenvolvimento interrompido pelo uso de
substâncias, comprometendo sua personalidade e suas habilidades interpessoais.
4.3.5 Redução de danos
Diante
do
avanço
das
doenças
transmissíveis
como
a
AIDS,
provavelmente ajudada pela impossibilidade de evitar o avanço do uso de drogas,
gastos públicos astronômicos frente aos danos à saúde do usuário e a tantos outros
fatores como segurança pública, por exemplo, começaram a surgir novas propostas
de combate as conseqüências nocivas do uso de drogas (MARLATT, 1999).
Segundo Queiroz (2001), as
(...) práticas interventivas fundadas sob a égide da abstinência total, da
repressão ao uso do proibicionismo não têm conseguido resultados
efetivos no campo da drogadição, somos levados à necessidade de buscar
novas saídas para a questão. (QUEIROZ, I. S. de. 2001, vol.21, nº.4, p.2-15.
ISSN 1414-9893).
Na verdade, uma prática com características de redução de danos já se
fazia presente em períodos remotos do uso de substâncias como, por exemplo, em
1898, com o advento da morfina e da heroína, rotuladas pelos europeus, conforme
Escohodato (2004, p. 87), de “pílula anti-ópio”.
Descoberta por químicos do exército alemão, a metadona, batizada por
Adolf Hitler de dolofina, uma substância sintética 7 vezes mais “activa” do que a
morfina e a heroína (ESCOHODATO, 2004, p. 117), em 1965, surgiu no mercado
para fazer o papel de uma droga terapêutica usada para substituir as opiáceas, de
acordo com Jesus
(2009), intervenções
substituição, ou manutenção.
terapêuticas, hoje
chamadas
de
75
Mesquita (1994) informa que mais recentemente, em 1989, em Santos/SP,
este polêmico modelo de intervenção terapêutica no comportamento de risco
relacionado ao uso de drogas, é experienciado por usuários de drogas ao serem
estimulados à troca de agulhas e seringas. Segundo Kaiafa (2001, p.185), o
compartilhamento de seringas reduziria o risco de “... ser preso por porte de seringa,
estar sozinho e sofrer uma overdose e até mesmo ser rejeitado pelos parceiros”, ou
seja, ao contrário do que muitos acreditam, percebe-se, de certa forma, relativo nível
de consciência e ação sobre possíveis conseqüências relacionadas a determinadas
práticas de auto-administração da droga.
Um estudo epidemiológico envolvendo usuários de drogas injetáveis,
participantes do Projeto Redução de Danos da Coordenação nacional de DST e
AIDS, do Ministério da Saúde, realizado em Porto Alegre, concluiu que
A criação de uma “postura” de redução de danos, com certeza, facilitará o
longo caminho na luta que se tem a travar contra o HIV/AIDS, HTLV e
hepatites B e C neste grupo tão vulnerável de importante participação
nestas várias epidemias. (CAIAFFA, W.T. et al. Brasil. Ministério da Saúde.
Coordenação Nacional de DST e Aids, Brasilia, Ministério da Saúde. 2001).
Segundo Brasil (2003, p.27) uma política de enfrentamento do uso
abusivo/dependente de drogas lícitas e ilícitas, e consequentes danos ao usuário e
social, não implica, necessariamente em preconização de imediata da abstinência,
mas de resgate de seu papel social, mobilizando-o “...nas ações de prevenção e de
tratamento, como um método clínico-político de ação territorial inserido na
perspectiva da clínica ampliada”.
De acordo com Laranjeiras (1996, p.193) para muitos autores a “...política
de redução de danos foi o maior revolução já ocorrida na história dos tratamentos de
usuários de drogas”, provocando “mudanças profundas no significado do conceito de
tratamento”.
4.3.6 Terapia de grupo
A primeira intervenção grupal, de acordo com Osório (2000), deu-se em
1905, quando Pratt reuniu pacientes acometidos de tuberculose em uma enfermaria
76
para uma abordagem terapêutica. Este tipo de intervenção ganhou impulso maior a
partir da criação de grupos de autoajuda como Alcoólicos Anônimos, em 1935. Hoje
se destaca como espaço terapêutico propício para o tratamento das dependências
químicas, de igual efetividade as abordagens individuais (MARQUES, 1997)
Conforme Kaplan (2003), na Psicoterapia de Grupo, um terapeuta,
devidamente treinado e hábil em manobras técnicas, orienta os indivíduos
participantes a se ajudarem mutuamente. O feedback imediato mais as
transferências
observadas
são
duas
das
principais
características
dessa
modalidade.
Para Focchi e cols (1999) a psicoterapia de grupo é um espaço onde o
indivíduo tem mais facilidade de estabelcer inter-relações, de interagir com o outro,
buscar e dar apoio, principalmente quando as características do grupo são de
homogeneidade, no caso de usuários de substâncias, objetivando uma nova forma
de vida, sem o uso de drogas.
Jesus (2009, s/p.) diz que “No processo terapêutico grupal reorganizam-se
as percepções e é possível estabelecer trocas com o meio em uma constante
dialética, entre a busca da identidade individual e da identidade coletiva”
Outra característica dos processos grupais e percebida em seu
embasamento teórico, apresentam extenso espectro praticamente unânimes em
enfatizar a abstinência de substância de seus membros para permanência destes no
grupo. (KAPLAN e SADOCK, 1997; MELLO e cols., 1999).
4.3.7 Psicoterapia Individual Orientada para o “Insight”
Esta abordagem tem como foco as experiências subjetivas como pedras
angulares da estrutura psíquica do indivíduo. Seu objetivo é identificar os fatores
indutores de seu comportamento dependente e levá-lo a refletir sobre outras
possibilidades de responder à realidade, sem que seja através do uso de
substâncias. Segundo Focchi, (2001, p.105),
ajuda o indivíduo a desenvolver
padrões mais adultos e conscientes de interação e comportamento.
Jesus,(2009, s/p.) citando Dijk(1977), diz que “A origem dos processos
que levam a dependencia não pode ser atribuida a uma única condição”. Ou seja,
77
seus conflitos inconscientes, frutos de experiências frustrantes vivenciadas nas
dimensões biopsicossociais configuram-se neste quadro de abuso de drogas, e
Focchi, (2001, p.105) vê como forma de substituir “estruturas psicológicas ausentes,
restaurando, assim, a autoestima do dependente químico” . Para Kaplan e Sadock,
(1997) O êxito do processo terapêutico com esta abordagem, está vinculado a total
abstninência do uso da substância.
Segundo Laranjeiras (1996), este é um modelo descartado na maioria dos
países desenvolvidos, pelo fato de resultar em alto custo do processo de tratamento
e, também, por apresentar resultados altamente discutíveis em relação a sua
eficácia.
4.4 O Impacto Do Tratamento das Dependências Químicas
A evolução do uso de drogas, considerando a diversidade de tipos, padrão
de uso, contexto em que ocorre o uso mais a particularidade do indivíduo, conduzem
a busca incansável de novas teorias e práticas de atendimento aos vários tipos de
dependências químicas. Apesar disso, Laranjeiras (1996), afirma que no Brasil, o
sistema de tratamento público e privado, incluindo as ONGs, adota modelos lineares
e pouco flexíveis, de compreensão da complexidade do problema do álcool e outras
drogas, revelando poucos avanços no atendimento desta questão.
O que demonstra efetividade e/ou eficácia de um processo terapêutico é o
engajamento, a retenção e modificação do comportamento relacionado ao problema.
Sendo assim, o envolvimento familiar aparece como o elemento mais importante nas
exitosas intervenções e nos bem sucedidos processos de tratamento, devido a sua
influência no engajamento do usuário relutante e na retenção do mesmo, adulto ou
adolescente, ao tratamento (SCHENKER e MINAYO (2004) LEANDRO (2007)).
Também é constatada eficácia nas terapias de família, sobressaindo-se às demais
formas de intervenções e tratamentos individuais e grupais.
Um estudo realizado pelos pesquisadores Coatsworth JD, Santisteban DA,
McBride
CK,
Szapocznik (2001),
(Community Comparison
comparando
o
atendimento
Comunitário
CC) e "Terapia de Família Estratégica Breve" (Brief
Strategic Family Therapy BSFT), constatou melhor resultado do segundo na ação
78
de engajamento e retenção de família e/ou jovens, no processo terapêutico para
tratamento de dependência do uso de drogas.
Segundo Schenker e Minayo (2004), estudos analisando adolescentes
usuários abusivo-dependentes de drogas, sob intervenção das “Terapias de
Família"; "Terapia de Família e Individual Combinada"; "Terapia Cognitivocomportamental Individual" (CBT) e "Intervenção de Grupo", verificaram que as
terapias de família demonstraram maior efetividade e eficácia na influência da queda
de consumo de substâncias, em relação aos indivíduos participantes da abordagem
individual, com abordagens Cognitivo-comportamental Individual e de grupo;
indicando que envolver a família no tratamento, produz mudanças de curto e médio
prazo.
Outro estudo realizado aleatoriamente com 182 adolescentes usuários
abusivos de maconha e álcool, em três tratamentos MDFT; "Terapia de Grupo para
Adolescentes" (Adolescent Group Therapy
AGT); e "Intervenção Educacional
Multifamiliar" (Multifamily Intervention Education MEI), reafirmou a importância das
terapias de família para retê-la e engajá-la e ao adolescente no tratamento, com
resultados na queda de consumo de drogas e melhoras significativas dos resultados
escolares, mudanças positivas de comportamento e relação familiar,
Segundo Schenker e Minayo (2004) e Leandro (2007), o desenvolvimento
de modelos sistêmicos de abordagem da família, enfatizando o treinamento dos
profissionais nesta área, se configuram, segundo recentes pesquisas, em valiosos
elementos e instrumentos de ação nos processos terapêuticos para tratamento das
dependências provocadoras de alterações física, emocional, psicológica e social.
De acordo com Schenker e Minayo (2004), um estudo realizado com
adolescentes usuários de maconha, quando submetidos às terapias de família
obtiveram mais benefícios do tratamento, além de reduzirem significativamente o
uso de drogas do pré ao pós-tratamento. Revelam um estudo com mulheres
grávidas, usuárias de cocaína, em fase final de gestação, realizado em um hospital
de Nova Iorque, o qual constatou que o grupo submetido ao tratamento com
abordagem multissistêmica, não foi detectado presença de droga nos exames de
urina.
Por outro lado, Biofeedback, Terapia de Família e Terapia Psicodinâmica,
de acordo com a Associação Americana de Psicologia (APA), 1996; Fiore et al.,
(2000), não demonstraram eficácia no tratamento do tabagismo.
79
No entanto, estudos recentes avaliativos sobre a aplicação da Terapia
Comportamental comprovam a eficácia da mesma no tratamento do tabagismo. Nos
estudos de Fiore et al. (2000), Sutherland, et al.(2003), May e West (2000); Ussher
et al. (2000), a taxa de abstinência após seis meses ficou entre 15% a 25%. A
técnica do Aconselhamento também oferece bons resultados, segundo Fiore et al.
(2000), 13,9% em grupo e de 16,8% para o aconselhamento individual. Em relação
às gestantes, West (2002) diz haver fortes evidências de resolutividade com esta
técnica. Segundo Bauman, et al., (2000), o mesmo não se aplica ao público
adolescente.
Os estudos avaliando a aplicação da acupuntura e da hipnose para
tratamento das dependências não demonstraram eficácia (Fiore et al., (2000); Abbot
et al., (1999))
Em relação ao álcool, um dos mais bem conceituados pesquisadores, e
estudiosos sobre o assunto no Brasil, Ramos (2004, s/p.), à luz também de
renomados autores, diz que “Se for considerada a abstinência de álcool como único
parâmetro de avaliação da eficácia dos tratamentos para alcoolistas, a conclusão é
que estes não melhoraram nos últimos 25 anos”.
Pesquisa realizada por Orford & Edwards (1977) revela que apenas 20%
dos pesquisados continuaram abstêmios um ano depois. 18 anos mais tarde, em um
novo estudo realizado por Paille et al.(1995), o índice caiu para 19,3%. Moos &
Moos (2003), num trabalho mais recente, apontam abstinência em 29,5% dos
pacientes tratados por cerca de dois meses em regime ambulatorial. No Brasil, os
índices alcançaram no máximo 25%, num seguimento de 6 meses. (RAMOS, 2004).
Outros estudos, como o realizado pelo projeto Match, tiveram resultados
bem mais animadores em nível percentual. Por exemplo, um ano após o
encerramento do tratamento, 75% dos pesquisados conseguiu diminuir os dias de
uso, 80% diminuiu a quantidade, enquanto que 35% permaneceram abstinentes
Segundo Blume e Marlatt, (2000); Blume e Schmaling (1998) apud Castro
e Passos (2005, p. 331), ao se conscientizar dos prejuízos causados pela
substância, desperta e aumenta no dependente a motivação para mudança de seu
estilo de vida em relação à mesma, “ficam mais motivados em mudar seu
comportamento. Perdas freqüentes relacionadas às substâncias psicoativas podem
ser fatores preditivos para aumentar os níveis de motivação pessoal para mudança
comportamental”.
80
As Abordagens Breves, modalidades de intervenção de curta duração de
tempo, estão sendo alvo de estudos dos mais renomados pesquisadores. Sua
efetividade vem sendo comprovada por autores como (Bien et al., 1993; Fleming &
Manwell, 1999; Fleming, Barry, Manwell, Johnson, London, 1997; WHO, 1996).
Outros estudos sobre a eficácia das intervenções breves com usuários de
substâncias psicoativas apontaram resultados importantes. Alguns autores, a
exemplo de Albernaz e Passos, (2001), entusiasmados com os resultados
encontrados, preconizam sua aplicação por profissionais de outras áreas da saúde
sem, necessariamente, serem especialistas em dependência química, no ato de
uma consulta clínica geral, visando despertar ou aumentar à motivação para a
abstinência. Ainda segundo estudos realizados por De Micheli et al., (2004), a
intervenção breve aplicada à adolescentes usuários de drogas, demonstrou eficácia
em dois aspectos: redução de prevalência do consumo e comportamentos de risco
associados a este.
Em relação ao método 12 Passos, base do programa de recuperação das
Comunidades Terapêuticas e princípios norteadores dos grupos de auto-ajuda como
Alcoólicos e Narcóticos Anônimos - AA e NA, respectivamente, os estudos de
Laffaye et. al, (2008) apontaram significativas melhoras do usuário, 4 anos após seu
ingresso no tratamento. Prevaleceram como influência neste resultado, os
problemas apresentados inicialmente como gravidade no uso de substâncias,
sintomas psiquiátricos e prisões anteriores. Esses problemas, mais a crença nos 12
Passos, fortaleceram o indivíduo a optar e permanecer abstinente.
Outro surpreendente estudo realizado com adolescentes na faixa etária
dos 16 anos, após um tratamento baseado nos 12 passos, por um período de 6
semanas, em regime residencial, em San Diego, na Califórnia, revelou o seguinte
resultado: completados 8 anos cerca de 3% freqüentavam os grupos de auto-ajuda
semanalmente, 20% mensalmente e 30% aleatoriamente. Aqueles que sabiam da
impossibilidade de voltar a usar a substância apresentaram maior assiduidade às
reuniões (KELLY et. Al., 2008, s/p.).
De acordo com Galduróz e Carlini (1993) apud Jesus (2009, p.33), o
manejo com dependentes químicos no aspecto tratamento, especialmente
adolescentes, requer profissionais bem treinados e capacitados teórica e
tecnicamente, para que possam lidar com situações de recaídas e a motivação dos
mesmos.
81
Modelos de tratamento em que o paciente permanece em regime de
desintoxicação, ou internação breve, de curto prazo, tem se mostrado ineficaz em
relação aos que usam de técnica de substituição e aos de regime residencial em
Comunidades Terapêuticas (TC).
Segundo Jesus (2009), os tratamentos com
período de tempo maior, acima dos três meses, por exemplo, têm oferecido
melhores resultados, e com melhor aproveitamento por parte do dependente.
Para Kerr-Corrêa, et. al (1999) o conceito de tratamento da dependência
química deve ampliar sua compreensão a partir de sua natureza crônica, recorrente
dos transtornos e não em termos de cura e não-cura, pois, segundo as autoras, não
há como negar a complexidade dos mecanismos de dependência de drogas, além
da variação nas abordagens.
5 CONCLUSÃO
Analisando os conteúdos desta pesquisa bibliográfica, pode-se concluir
que o uso de drogas é uma prática universal, e que apesar do longo tempo em que
se faz presente na história humana, pouco domínio se tem sobre o fascínio que esta
exerce sobre o homem.
Percebe-se uma “perigosidade social e individual” nas palavras de
Escohodato (2004, p.26), com incontáveis registros de degradação, prostração,
doenças, violências, etc., permeando a história humana.
Atenta-se para o que disse o cônsul romano Postúmio ao passar ao fio da
espada cerca de 7.000 pessoas no ano 186 a.C.
(...)Quando o vinho inflamou as suas mentes, e a noite e a promiscuidade
(...) apagaram todo o sentimento de modéstia, começaram a praticar-se
toda a espécie de corrupções. (Ad Urbe condita, VIII, 5-8) apud
Escohodato(2004, p.33).
Os superlativos prejuízos contabilizados em todas as esferas da vida das
pessoas são incontestáveis. Os mais relevantes estão associados à saúde individual
e coletiva, principalmente na dimensão mental e psicológica. Prova disso são os
relevantes dados brasileiros apontando índices de cerca de 85% das internações em
hospitais psiquiátricos, segundo Galduróz et al., (2000) apud Gallassi, A.D. et al
(2008, s/p.).
Ramos (2004), diz que nenhum tipo de tratamento para dependentes
químicos consegue alcançar a abstinência total em muito mais do que um terço dos
pacientes, após um ano de tratamento.
Isso dá uma dimensão do problema relacionado ao uso e dependência de
drogas, e do quanto se faz necessário um trabalho árduo, persistente, racional, livre
de moralismo ou demonização.
Por outro lado, as últimas 3 décadas foram marcadas por vertiginoso
avanço das abordagens psicossociais, com destaque para a Prevenção da Recaída,
Redução de Danos, Entrevista Motivacional, Farmacologia e principalmente para a,
segundo Dutra (2008, s/p.) Terapia Cognitivo-Comportamental, o que dá a certeza
de que nem tudo está perdido.
83
A psicologia tem contribuído grande e sistematicamente para, senão
reverter, pelo menos minimizar este quadro de uso abusivo de substâncias. Os
estudos supra têm comprovado a eficácia das intervenções psicológicas no
enfrentamento das dependências e suas conseqüências.
Como dito: os estudos comprovam, mas a realidade que está próxima,
parece ser diferente. Este acadêmico tem acompanhado inúmeros casos, do mais
leve ao de maior comprometimento, de dependências e intoxicações por uso de
drogas e os resultados têm sido desestimulantes. O período de abstinência póstratamento tem se mostrado relativamente curto. Os casos mais prolongados, com
reestruturação de vida e elevação da auto-estima, são observados quando está
baseado na espiritualidade, ou em crenças ou fé em algo como, por exemplo, a
filosofia dos 12 passos ou algum tipo de religião.
Sanchez (2008, s/p.), num estudo sobre o impacto da religião nos
tratamentos das dependências químicas, pontuou enfaticamente o “suporte, a
pressão positiva e o acolhimento recebido no grupo, e a oferta de reestruturação da
vida com o apoio incondicional dos líderes religiosos” para o sucesso do mesmo. Em
outras palavras, não se pode pensar em recuperação desse tipo de enfermidade
sem que as relações de afeto, os cuidados com o meio em que os valores possam
ser repensados, propiciando inter-relações saudáveis, de pressões positivas
afastando os riscos de recaídas.
Um estudo sobre a evolução do uso de drogas na história humana,
realizado por Sullivan & Hagen, (2002), reforça a tese do reforço ao colocar que
alguns autores afirmam que o efeito da droga “funciona como um reforço, uma
recompensa (reward), que motiva o indivíduo a novas experiências”.
Ou seja, seria o aspecto motivacional sem força (interna) suficiente para
provocar estímulos cerebrais que possam funcionar como reforço emocional. Assim,
o indivíduo, apenas com esforço próprio, encontra extrema dificuldade para obter e
vivenciar sensações e emoções de prazer, necessitando de um elemento externo de
ação direta. Seus órgãos de sensação já não conseguem provocar estímulos
suficientemente fortes. Diante disso, pensa-se na possibilidade de um sistema
cerebral afetado em um de seus mais importantes aspectos: a sensibilidade
neuronal. Adaptada à maior concentração e conseqüentemente aos estímulos mais
intensos, seja de prazer ou de pura adrenalina, além da adaptação física, para poder
funcionar. Impactado apenas por mecanismos de estímulo e liberação, de
84
substâncias no cérebro, muito mais fortes, algo que lhe substitua cem por cento a
droga, pelo menos inicialmente. Possivelmente por isso, o processo de tratamento
seja lento, pois requer acompanhamento e monitoramento constante para que
alcance a readaptação, e sua sensibilidade nos neurônios receptores voltem a
funcionar normalmente.
Os estudos de Sullivan & Hagen (2008) reportam também aos hábitos
alimentares. Ou seja, para a síntese de substâncias como serotonina, dopamina,
noradrenalina e acetilcolina são necessários alguns aminoácidos, encontrados
apenas com a ingestão de determinados alimentos. Isso significa que o fato de se
conviver, atualmente, com farta alimentação não significa que se esteja fornecendo
ao organismo as substâncias necessárias para a síntese desses aminoácidos,
indispensáveis
para
a
produção
de
neurotransmissores
importantes
no
comportamento e humor, envolvendo a cognição, a atividade motora, a temperatura
corporal e sensopercepção. Portanto, os achados de Sullivan & Hagen(2008) levam
a acreditar que um processo terapêutico, seja de que modalidade ou regime for,
necessariamente, deve contemplar uma dieta adequada para o dependente em
recuperação. Isso, considerando tais estudos, corresponderia à possibilidade de
maior eficácia do tratamento.
Em vista disso, realmente se confirma a necessidade de abordagens e
compreensão multidisciplinar do uso e dependência de drogas. A conotação
genérica dada ao termo “uso”, ou seja, qualquer padrão, e não apenas ao uso
abusivo/nocivo é porque, apesar de nem todos evoluírem para esses padrões, existe
o fato de que se começa sempre pela experimentação. Por outro lado, os problemas
nem sempre decorrem do uso abusivo/nocivo ou da dependência. Por exemplo, um
indivíduo que não tolere grande quantidade de droga não significa que não vá
experimentar seus efeitos ao ingerí-la. Estes, por sua vez, podem se fazer
presentes, provocando todo tipo de problemas que produziriam num indivíduo com
padrão abusivo/nocivo ou dependente, desde acidentes a danos físicos e
psicológicos. O que, neste caso, cabe intervenções educativas e informativas do
ponto de vista da prevenção primária e/ou secundária.
Pretende-se ainda, a oportunidade de conhecer neste trabalho, vários
modelos, abordagens e regimes de tratamento. O que, por sua vez, poderá ampliar
os horizontes no que tange ao enfrentamento dessa problemática. Por exemplo, se o
leitor integra algum grupo ou organização ou instituição, ou mesmo serviço público
85
de atenção às pessoas com este tipo de problema, verá que as estruturas, tanto
pública quanto privada, muito pouco se aproximam dos critérios exigidos para a
realização dos estudos supra apresentados. O que, também por sua vez, resulta em
baixa resolutividade sem, no entanto, diminuir custos.
Na verdade, o que se vê, na grande maioria dos casos, é que o
enfrentamento das dependências se faz como tratando de uma dor de cabeça, ou
seja, se irá tratar de eliminar a dor de cabeça porque é isso que se apresenta como
problema, que incomoda; esquecendo ou ignorando que além de se tornar uma dor
reincidente, sua causa, possivelmente, tornar-se-á crônica, dificultando ainda mais a
cura.
Mas, como a proposta deste trabalho é disponibilizar informações sobre
modelos, regimes, abordagens e técnicas que tivessem eficácia comprovada no
tratamento das dependências, observou-se que alguns estudos enfatizam a inter,
multi e transdisciplinaridade para compreensão e tratamento do fenômeno das
dependências. São mais enfáticos ainda, quando se referem sobre o impacto da
presença
familiar
como
adjuvante
nos
processos
de
tratamento.
Aliás,
imprescindíveis não só como adjuvantes, mas, segundo Schenker (2004),
participantes do processo terapêutico como co-dependentes. Pois, é um elemento
que precisa estar bem estruturado para que possa fazer bem a sua parte no
processo.
Isso, por sua vez, remete a outras preocupações. Primeiro, a falta de
profissionais, que são pouquíssimos com perfil e preparo para este tipo de enfoque,
deixando a família fora do processo; o segundo aspecto, diz respeito ao ínfimo
número de famílias dispostas a mudarem sua dinâmica, até porque, quando no
início, não conseguem fazer uma projeção do que poderão enfrentar num futuro não
muito distante, achando que o problema é do familiar. E quando o quadro de “fundo
de poço” já se estabeleceu, a impotência e a desesperança tomam conta,
impedindo-as de agir. Essa realidade era a única possível no período em que este
acadêmico esteve à frente do COMAD de Criciúma. Foram centenas de
encaminhamentos feitos, mas, infelizmente, pouquíssimos resultados positivos.
Um aspecto importante destacado por alguns autores citados neste
trabalho se refere aos Programas Redução de Danos (FOCCHI, 2001), (QUEIROZ,
2001) e Prevenção a Recaída (FOCCHI, 2001). Em que pese à existência do
preconceito em relação ao primeiro, são frentes de importância relevantes e
86
inquestionáveis. Mas, não se pode furtar a uma observação. A efetividade desses
depende necessariamente, de boas e específicas políticas públicas de saúde,
segurança, educação, lazer, abrangendo também o aspecto econômico do indivíduo.
Num resumo de poucas palavras, pode-se dizer que a comprovação dos
estudos acima, se verifica quando efetivamente existe uma estrutura tanto física
quanto humana, com profissionais devidamente treinados e capacitados que
possam fazer a intervenção sempre que necessário; Conhecendo e atuando em
qualquer estágio do uso e de suas complicações; Uma ampla rede de apoio,
preparada para o pós-tratamento, amparando e envolvendo o indivíduo num
processo de reinserção, considerando todas as dimensões sociais (escola,
profissão, atividades de lazer e comunitárias, etc).
Isso dá uma dimensão do problema relacionado ao uso e dependência de
drogas, e do quanto se faz necessário um trabalho árduo, persistente, racional, livre
de moralismo ou demonização.
Neste sentido, a área da psicologia tem muito serviço pela frente, tem
muita contribuição a dar. Seja na adequada aplicação e aprimoramento do que já
existe, seja no estudo e desenvolvimento de novas propostas de tratamento que
efetivamente resultem em maior nível de resolutividade, o que foi o objetivo
primordial deste trabalho.
Portanto, ao finalizar, elucida-se que, além deste trabalho trazer
informações acerca das substâncias psicoativas e identificar à luz de renomados
autores, as propostas de intervenções e tratamentos mais difundidas atualmente,
enfatiza a importância crucial da atuação do psicólogo nessa área, apontando
objetivamente para a necessidade de capacitação desses profissionais para um
trabalho abrangente, nos aspectos interventivos e preventivos. Estabelecendo um
diálogo contínuo e sistemático com profissionais de outras áreas, em equipes
multidisciplinares, voltadas para a promoção de saúde individual e coletiva.
87
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