1 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” AS CONTRIBUIÇÕES DA NEUROCIÊNCIA NA APRENDIZAGEM Por: Adelaide Ferreira de Carvalho Orientadora Simone Ferreira Rio de Janeiro 2011 2 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” AS CONTRIBUIÇÕES DA NEUROCÊNCIA NA APRENDIZAGEM Apresentação de monografia à Universidade Candido Mendes como requisito parcial para obtenção do grau de especialista em Psicopedagogia. Por: Adelaide Ferreira de Carvalho Rio de Janeiro 2011 3 AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus por cada passo, cada vitória e cada tropeço, pois cada um me guiou a um ser humano mais experiente. Agradeço a meus filhos que me fizeram uma pessoa melhor. 4 DEDICATÓRIA Dedico este trabalho a todas as pessoas que fizeram e continuam fazendo a diferença na vida das crianças, tornando a inclusão uma realidade. 5 RESUMO A escolha do tema deste trabalho foi baseada na necessidade de socializar alguns conhecimentos interessantes e importantes para a aprendizagem. Recentes pesquisas sobre o cérebro humano, sua anatomia, funcionamento e suas dimensões como órgão da aprendizagem são apresentadas revelando sua genialidade e algumas características até então desconhecidas e pouco difundidas no âmbito escolar. Entende-se que ao revelar a genialidade do cérebro, a Neurociência pode ser uma ferramenta a mais para os professores, trazendo elucidações sobre a anatomia da aprendizagem e o seu processo, e assim, os profissionais ligados à área da educação terão mais um subsídio em sala de aula, sob o ponto de vista de novas perspectivas ao seu trabalho, possibilitando o desenvolvimento de maior consciência sobre o sujeito que aprende, ao reconhecê-lo como ser complexo em suas dimensões biológicas, culturais e psicológicas. Diante de questões sobre as dificuldades escolares e do grande desafio e responsabilidade de ser professor, principalmente nos tempos atuais, surge a necessidade imperiosa de uma reflexão sobre a formação do professor, razões e proporções de alguns equívocos cometidos nas abordagens, diagnoses e, consequentemente, nas intervenções da aprendizagem, analisando-se ainda, o diálogo entre teoria e prática, o que torna significativo o trabalho em sala de aula. É assim que se move o processo desta pesquisa, pelo desejo de compartilhar conhecimento, revelando alguns mecanismos do aprender e, como e porque o cérebro é concebido como órgão da aprendizagem, instigando o leitor a buscar novos conhecimentos, além de convidar os professores a uma reflexão sobre questões pontuais sobre a aprendizagem, suas relações sociais e políticas dentro das escolas. 6 METODOLOGIA O trabalho fundamenta-se através de pesquisas bibliográficas como suporte básico, e ainda através de leitura de artigos disponibilizados pela internet, sendo observados os critérios da credibilidade e responsabilidade destes materiais. Foram escolhidos títulos e obras que contribuíssem à pesquisa científica sobre a Neurociência, e ainda, outros que dialogassem com os aspectos relacionados à aprendizagem. Diante da escolha do tema que aborda as contribuições da Neurociência para a aprendizagem, houve a preocupação de escolher assuntos pertinentes, de modo a encaminhar o leitor a um processo de aquisição de conhecimentos, apresentando informações específicas sobre conceito de Neurociência, sua história recente, objeto de estudo e seu campo de atuação, numa rota que pudesse atender, neste sentido, à necessidade de informações sobre as correlações das regiões cerebrais e determinadas aprendizagens. O discurso apresentado atravessa o objetivo informativo, relacionando as informações à aprendizagem humana, refletindo em todo o processo sobre a necessidade de investimento no desenvolvimento das funções mentais, mantendo o cérebro ativo e mais capaz ao aprendizado. O presente trabalho prepara assim o leitor a desenvolver um olhar investigativo sobre a importância das ações do mediador ao lidar com as potencialidades dentro de sala de aula, observando a necessidade de abordagens, diagnoses e intervenções mais significativas. Ao caminhar no sentido das dificuldades da aprendizagem, e ainda, sobre questões referentes à prática do professor, torna-se interessante apresentar uma pesquisa de campo realizada por Tania Zagury, onde professores revelam suas dificuldades em sala de aula, direcionando assim o nosso olhar aos diversos aspectos que permeiam o fazer pedagógico. 7 Neste movimento de informação e reflexão, além da abordagem científica, a abordagem especificamente pedagógica sinaliza que toda pesquisa científica deve atender a uma função, e neste caso, à função pedagógica. 8 SUMÁRIO INTRODUÇÃO 8 CAPÍTULO I NEUROCIÊNCIA 10 CAPÍTULO II COGNIÇÃO, DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM 23 CAPÍTULO III NEUROCIÊNCIA E EDUCAÇÃO 32 CAPÍTULO IV TEORIA E PRÁTICA UM DIÁLOGO NECESSÁRIO 43 CONCLUSÃO 45 BIBLIOGRAFIA 48 WEBGRAFIA 49 ANEXOS 51 ÍNDICE 53 9 INTRODUÇÃO A Neurociência como estudo científico é relativamente um campo recente no Brasil e vem estabelecer sua irrefutável relevância na compreensão do processo da aprendizagem a partir do momento que desbrava o cérebro humano, desvelando as reações ocorridas neste órgão humano e as mudanças nas suas dimensões cada vez que a aprendizagem se concretiza. Ao entendermos o funcionamento do cérebro e os mecanismos das sinapses, poderemos entender como acontece a aprendizagem e que tal fato não pode estar desconectado ao processo de desenvolvimento humano em seus múltiplos aspectos. As recentes descobertas revelam que estímulos externos provocam reações elétricas e químicas entre os neurônios produzindo as sinapses, e que estão diretamente relacionadas ao ato de aprender e à sua qualidade. Ao pensarmos em qualidade nos remetemos às relações ensino-aprendizagem, evidenciando aspectos como teoria e prática num diálogo permanente, e a formação do educador, que deve corroborar efetivamente com o processo da aprendizagem. As reflexões e estudo irão direcionar nosso olhar no sentido da diagnose e da avaliação de melhores estratégias a serem utilizadas, identificando caminhos e instrumentos para uma efetiva intervenção, já que estamos continuamente retornando às questões do insucesso escolar. Dentro deste quadro, reconhecemos as dificuldades encontradas por diversos profissionais e os aspectos positivos e negativos que norteiam sua prática, das escolas que ainda se utilizam da medicalização do chamado fracasso escolar como justificativa deste. Torna-se assim, fator de real relevância, para uma congruência determinantes. de objetivos, discutirmos sobre os prováveis fatores 10 A aprendizagem como processo contínuo, tem uma relação direta com o desenvolvimento humano, percebendo-se que a qualidade da formação do educador estabelece uma relação direta com a sua prática, emoldurando o sucesso ou o seu fracasso. É emergente o reconhecimento das contribuições da Neurociência na educação, dialogar sobre os mitos e a realidade dessa trajetória e da relevância da inclusão de suas descobertas no currículo de formação dos professores, assim como a psicopedagogia, sendo coadjuvantes e proporcionarem resultados mais significativos no caminho de uma aprendizagem de qualidade, onde o sujeito possa ser respeitado em suas diferenças. 11 CAPÍTULO 1 NEUROCÊNCIA 1.1 O que é neurociência Neurocência é um termo que reúne as disciplinas biológicas, para estudar o Sistema Nervoso normal ou patológico, a anatomia e a fisiologia do cérebro, incluindo a relação entre cérebro e comportamento. No estudo palológico, busca-se o conhecimento de diagnósticos, prevenção, tratamento e dos mecanismos da doença. Lent, (2005), diz tratar-se de Neurociências e não Neurociência, pois o estudo aborda outras disciplinas neurocientíficas, tais como: a Neurociência molecular, a Neurociência celular, a Neurociência sistêmica, a Neurociência comportamental e a Neurociência cognitiva. Usaremos aqui o termo Neurociência, pois a abordagem será prioritariamente cognitiva, sem deixar de reconhecer a importância das novas descobertas para outras áreas. O interesse nos avanços da Neurociência iniciou-se por volta da metade do século passado, e eleita com destaque nos Estados Unidos, como prioritária na década de 1990, que ficou conhecida como a “Década do cérebro” (www.scielo.br/pdf/ptp/v26nspe/a11v26ns.pdf ). As pesquisas científicas iniciaram no início do século XIX com as descobertas dos fisiologistas Fristsch e Hitzig sobre a relação de estímujlos elétricos em áreas específicas do córtex cerebral de um animal e os movimentos que realizavam. Os médicos Broca e Wernicke confirmaram por necropsia que indivíduos com danos cerebrais apresentavam deficits na linguagem após algum acidente. Em 1880, o neuroanatomista Cajal estabelece 12 que a célula é única, distinta e individual, enquanto o cientista Sherington, estudando reações, relata que as células nervosas (neurônios) respondem a estímulos e são conectadas por sinapses ( RELVAS, 2010.p.23) Novas tecnologias de imagem proporcionaram avanço nas pesquisas fisiológicas e patológicas do cérebro nunca antes disponíveis. A Neurociência no Brasil está representada principalmente pela Sociedade Brasileira de Neurociências e Comportamento. Originariamente Sociedade Brasileira de Psicologia, tem trinta e quatro anos de existência e foi fundada por Elisaldo Carlini. Nessa reunião histórica, psicólogos, psicofarmacólogos, neurofisiologistas, psiquiatras e outros especialistas, discutiram sobre a importância da integração da psicologia e a neurociência ( www.scielo.br/pdf/ptp/v26nspe/a11v26ns.pdf). Neurocientistas são todos os pesquisadores envolvidos com as pesquisas neurocientíficas, que estudam e colaboram em novas descobertas sobre a anatomia e a fisiologia do cérebro, incluindo estudantes de cursos existentes em nível de pos graduação, não havendo uma formação em nível de graduação. 1.1.1 Por que e para quê Desde a pré-história a humanidade se questiona sobre a materialidade e localização das funções mentais. As pesquisas atuais assim têm contribuído para uma melhor compreensão dos diversos transtornos mentais, dos mecanismos do funcionamento cerebral e de como a aprendizagem acontece. Com o conhecimento de como o sistema nervoso central funciona e a descoberta da plasticidade cerebral, surge um novo olhar e uma esperança para aqueles que, sofrendo de lesões cerebrais, perderam algumas habilidades importantes para seu cotidiano, como andar, falar, vestirse, lembrar fatos e nomes, etc.(RELVAS, 2010). Quando pensamos em cognição, tal conceito nos remete a outros como inteligência e aprendizagem humana. A Neurociência busca então, explicar os mecanismos neuronais elementares que sustentam qualquer ato 13 cognitivo, perceptivo ou motor. Ao observarmos a estrutura do Sistema Nervoso Central, onde se encontra a maioria das células nervosas, seus prolongamentos, e o contato que fazem entre si, podemos conhecer também as capacidades adaptativas do SNC, isto é, sua habilidade para modificar sua organização estrutural, que permite o desenvolvimento de alterações estruturais em resposta à experiência, e como adaptação a condições mutantes e a estímulos repetidos. Experiência, adaptação e estímulos repetidos estão intrinsecamente relacionados à aprendizagem humana, pois é a partir desses mecanismos que os indivíduos aprendem e retém o que aprenderam. Conhecer como o cérebro comanda e se desenvolve e as conseqüências de cada função que realiza, fundamenta a ação pedagógica, direcionando o processo da aprendizagem, na avaliação coerente, na intervenção constante, na prevenção de prováveis dificuldades, na potencialização dos saberes e no encontro de estratégias para facilitar a aprendizagem a partir da diagnose. A Neurociência, ao revelar os mistérios do cérebro, ainda tão desconhecido, comprova a “interdisciplinaridade cerebral”, um trabalho contínuo que implica diversas redes nervosas, aliando-se à pedagogia e a outras disciplinas, principalmente à psicologia, que reconhece as múltiplas inteligências do ser humano, podendo colaborar para uma aprendizagem de qualidade ((RELVAS, 2010). 1.2 O cérebro humano e sua genialidade Para ingressarmos numa fascinante e misteriosa viagem em busca de esclarecimento sobre o cérebro, seu papel na inteligência humana e na aprendizagem, torna-se necessária uma abordagem anatômica do cérebro e um passeio na história de sua formação, para assim, compreendermos sua complexidade e as relações que são estabelecidas com a aprendizagem humana. 1.2.1 Anatomia do cérebro 14 Filogeneticamente, o cérebro humano poderia ser dividido em três unidades: cérebro primitivo, realizando a tarefa de autopreservação e agressão; cérebro intermediário, responsável pelas emoções, e cérebro racional ou superior, responsável pelas tarefas intelectuais. O cérebro primitivo é constituído pelas estruturas do tronco cerebral, cerebelo, mesencéfalo, bulbos olfatórios, e pelo mais antigo núcleo da base cerebral; anatomicamente delimitado, e que corresponde ao cérebro dos répteis. O cérebro intermediário corresponde aos mamíferos inferiores, já apresentando estrutura do Sistema Límbico: hipotálamo, tálamo, amígdala e hipocampo. O Sistema Límbico está relacionado às emoções e à sexualidade. O cérebro superior é encontrado nos atuais mamíferos: primatas, golfinhos e seres humanos, e representa a evolução do homem em sua história filogenética (RELVAS, 2010). Segundo LENT (2005), o Sistema Nervoso Central é um termo geral para determinar as estruturas neurais situadas dentro do crânio e da coluna vertebral. Segundo Critérios anatômicos, o SNC pode ser dividido em grandes partes: Encéfalo e medula espinhal. O encéfalo possui uma forma irregular, cheia de dobraduras e saliências que permite ver diversas subdivisões. Podese então, reconhecer três partes do encéfalo: o cérebro, o cerebelo e o tronco encefálico. No cérebro encontra-se o córtex cerebral, onde estão agrupados os neurônios, nesta área estão representadas as funções neurais e psíquicas mais complexas. O cérebro é constituído por dois hemisférios separados por um profundo sulco. Grandes regiões do cérebro, de delimitação por vezes imprecisas são chamadas de lobos: frontal, parietal, occipital, temporal e insular. As associações recíprocas entre as diversas áreas corticais asseguram a coordenação entre a chegada de impulsos, sua decodificação e associação, e a atividade motora de resposta. O lobo frontal é responsável pelo planejamento e pelo controle motor; o lobo temporal tem centros importantes de memória e audição; o lobo parietal lida com os sentidos corpóreos e espaciais; o lobo occipital direciona a visão. No tronco cerebral encontram-se o bulbo raquiano e o tálamo (RELVAS, 2010). 15 O estudo microscópico possibilitou identificar o neurônio e o gliócito como as unidades estruturais e funcionais do sistema nervoso. Considera-se que o neurônio seja uma unidade morfofuncional fundamental e o gliócito uma unidade de apoio ( LENT, 2005). Em sua abordagem, LENT (2005), diz que a célula nervosa veicula mínimos sinais elétricos, capazes de codificar tudo o que sentimos a partir do meio ambiente interno e externo, e ainda, tudo o que pensamos a partir de nossa própria consciência. Os neurônios operam em grandes conjuntos, que associados formam circuitos ou redes neurais. A diferença entre os neurônios e as demais células do organismo animal é a sua morfologia adaptada para o processamento de informações e a variedade de seus tipos morfológicos. O neurônio é formado por um corpo neuronal ou soma, dentritos e do axônio. O corpo neural apresenta diversos prolongamentos ramificados, chamados de dentritos, é deles que o neurônio recebe informações de outros aos quais se associa. O axônio ou fibra nervosa é a parte do neurônio por onde saem as informações dirigidas a outras células de um circuito neural. O gliócito seria encarregado de alimentar e garantir a saúde do neurônio, e ainda, fazer a orientação de crescimento e de migração dos neurônios durante o desenvolvimento, de comunicação entre eles, de defesa e reconhecimento de situações patológicas. Os neurônios estão sempre se associando a outros a cada vez que são estimulados por fatores do desenvolvimento humano, fatores estes internos ou externos; a cada estímulo acontece o contato entre a fibra nervosa e um dentrito ou o corpo neuronal e mais raramente outro axônio. A esse contato é o que se chama sinapse. As sinapses então são resultado de contatos entre os neurônios, através de produção de sinais elétricos que funcionam como unidades de informação. Isto é possível porque a membrana plasmática do neurônio é excitável (LENT, 2005). As sinapses ocorrem em respostas de estímulos internos em decorrência do desenvolvimento e ainda por estímulos externos. Quanto mais estímulos acontecerem, mais sinapses serão realizadas, aumentando a capacidade de plasticidade cerebral. Em 16 termos de aprendizagem humana pode-se dizer que quanto mais estimulado, mais apto o cérebro fica. 1.2.2 Funções mentais Pode-se dizer que funções mentais sejam processos que se originam da necessidade do ser vivo adaptar-se ao meio e sobreviver frente aos obstáculos que essa aventura impõe. O cérebro é o órgão responsável pelo controle das funções de nosso corpo. Pesquisas revelam que as funções mentais estão representadas em regiões restritas do sistema nervoso e que cada um dos neurônios tem uma propriedade específica e se conectam profusamente, a atividade de um interfere na atividade de milhares de outras células, o que evidencia que os múltiplos circuitos neurais podem variar em cada momento, originando a variabilidade do comportamento humano. “Luria propõe igualmente a noção de pluripotencialidades, reforçando a idéia de que qualquer área específica do cérebro pode participar em inúmeros sistemas funcionais ao mesmo tempo” (FONSECA, 2007). As funções mentais podem ser representadas pela: percepção, atenção, memória, linguagem, emoção e razão. Nas palavras de LENT, 2005, a percepção, para os seres humanos, é a capacidade de associar as informações sensoriais à memória e à cognição, de modo a formar conceitos sobre o mundo e si mesmos e orientar o nosso comportamento. O que diferencia a percepção das sensações seria o que se chama de constância perceptual, explicando que para os sentidos uma imagem é diferente de acordo com a posição que se encontra o objeto, mas para a percepção trata-se de um mesmo objeto. Está situada no córtex cerebral, numa região chamada de córtex associativa; possui duas partes integrantes de mecanismos: analíticos e sintéticos. O primeiro se encarrega de analisar as partes constituintes e as propriedades do objeto, o segundo toma consciência global e unificada dele. Ainda baseado nas investigações de LENT, 2005, memória é focalizar a consciência, concentrando os processos mentais em uma única tarefa principal e colocando as demais em segundo plano, apresentando tipos diferenciados: atenção explícita e atenção implícita. Na atenção explícita a 17 atenção coincide com a fixação visual e tende a ser automática, e na implícita, muitas vezes a atenção não coincide com o foco visual, os objetos a serem percebidos não são selecionados pela posição que se encontram e sim por outros parâmetros, sendo uma operação mental voluntária. Postner descobriu que há uma relação de tempo entre o aparecimento da pista que direciona ao foco e a ocorrência do estímulo-alvo, observando que quanto maior for o tempo do aparecimento da pista, maior também será o tempo de reação, o que produz um fenômeno chamado de inibição de retorno. Caso esse fenômeno se repita várias vezes haverá a extinção da atenção. Descobriu ainda que existe um mecanismo seletivo que provavelmente cria melhores condições para as percepções de estímulos relevantes. “Memória é a capacidade que tem o homem e os animais de armazenar informações que possam ser recuperadas e utilizadas posteriormente” (LENT, 2005). Alguns processos mentais são utilizados na memória: aquisição, seleção, retenção, consolidação e evocação. Pode ainda ser classificada segundo o tempo de retenção como: memória ultra-rápida; memória de curta duração e memória de longa duração. Quanto a sua natureza, é classificada em: memória explícita, memória implícita e memória operacional. A memória explícita reúne tudo que podemos evocar pelas palavras, podendo ser episódica quando estiver relacionado a conceitos temporais, ou semântica, quando envolver conceitos atemporais. A memória implícita não precisa ser descrita com palavras, podendo ser de quatro subtipos: memória de representação perceptual, memória de procedimentos, associativa e memória não-associativa. A memória operacional é aquela em que armazenamos temporariamente informações úteis para o raciocínio imediato e a resolução de problemas. O processo de aquisição das novas informações que vão ser retidas na memória está relacionada à aprendizagem ( LENT, 2005). “A linguagem é determinada pelos sistemas de comunicação com regras definidas que devem ser empregadas por um emissor para que a 18 mensagem possa ser compreendida pelo receptor” (LENT, 2005. p. 623), nas modalidades: oral, escrita, gestual, etc. Em suas pesquisas Broca colaborou para o conceito de localização do sistema nervoso, lançando a idéia de dominância hemisférica. Durante muitas décadas pensou-se que o hemisfério esquerdo, sede da fala, era dominante sobre o direito, tendo esse apenas papel secundário e coadjuvante. A importância dessas descobertas tornou-se relevante para os tratamentos de distúrbios da fala. A linguagem falada tem uma base neurobiológica inata, e a escrita é uma construção cultural. A linguagem falada é o principal modo de comunicação dos seres humanos, sendo caracterizada pela produção e compreensão de sons vocais de sequência rápida, usando o aparelho fonador e depois o auditivo. Os psicolinguistas consideram que possuímos o que se chama de léxicon mental, uma espécie de dicionário onde o indivíduo busca informações semânticas, sintáticas e fonológicas necessárias à expressão verbal de seus pensamentos. O léxicon estaria organizado em redes semânticas categorizados por significados semelhantes: animais, pessoas, cores, plantas, instrumentos, etc. Assim, é possível identificar as regiões cerebrais correspondentes a cada categoria, o que torna relevante para o tratamento de alguns distúrbios da fala. Tais estudos revelaram ainda que o processamento fonológico mostrou-se lateralizado em homens e bilateral nas mulheres, não constituindo uma questão genética, mas simplesmente de estratégias empregadas pelos homens e pelas mulheres na busca do léxicon. Observou-se ainda que o córtex frontal anterior à área de Broca pode sediar o léxicon sintático e o córtex frontal posterior seria responsável pela expressão verbal. Como já vimos, a linguagem escrita difere da falada por ser cultural e mais formal, dependendo de uma aprendizagem mais sistêmica. A diferença é fundamental na desvantagem temporal, pois para a escrita é necessário maior empreendimento de outras áreas. Um século após a descoberta de Broca, pesquisas de Roger Sperry revelaram que os hemisférios possuem suas especializações, porém sem dominância, pois os dois lados trabalham em conjunto, estando em constante comunicação realizada através de milhões de 19 fibras nervosas, chamadas de comissuras cerebrais. As comissuras cerebrais são três: o corpo caloso, a comissura anterior e a comissura do hipocampo. O corpo caloso é a maior delas, possuindo duzentos milhões de fibras que interconectam a maior parte do córtex cerebral de ambos os hemisférios. Essas pesquisas relatam experimentos de cirurgias realizadas de transecção das comissuras cerebrais em indivíduos portadores de epilepsias graves. Verificouse que a interrupção do corpo caloso impede que o foco epilético se expanda para o hemisfério oposto, diminuindo assim o número de crises e podendo ser controlada. Observou-se em pacientes comissurotomizado uma desconexão inter-hemisférica, que como o próprio termo expressa, impede que os dois hemisférios troquem informações. A partir dessa síndrome pode-se lateralizar os estímulos, revelando a especialização de cada hemisfério (LENT, 2005). “Razão e emoção são operações mentais acompanhadas de uma experiência interior característica, capazes de orientar o comportamento e realizar os ajustes fisiológicos necessários” (LENT, 2005. p.653). As definições sobre razão e emoção não são precisas por não serem fáceis de serem observáveis em nível de repercussão orgânica, por isso os neurocientistas adotaram uma definição operacional. O autor continua observando que “a emoção é uma experiência subjetiva acompanhada de manifestações fisiológicas detectáveis, através das mudanças de expressões faciais e movimentos corporais, além de outros como: suor, taquicardia, ruborização, etc. Charles Darwin foi o primeiro a constatar que tanto em homens e animais, as expressões comportamentais de emoções são inatas. Tal comprovação demonstra que tem uma utilidade para a vida dos animais, seja para adaptação, garantia da sobrevivência dos indivíduos e ainda, da espécie. O anatomista James Papez descobriu que vários aspectos das emoções estavam relacionados em redes neurais, o que ficou conhecido por circuito de Papez, que inclui: o córtex cingulado, o hipocampo, o hipotálamo e os núcleos anteriores do tálamo e mais tarde a amígdala. A partir do circuito de Papez, Paul Broca definiu o circuito como sistema límbico, relatando que a maioria das regiões envolvidas, com as emoções, localiza-se na face medial dos 20 hemisférios e no diencéfalo. As emoções podem ser consideradas negativas ou positivas de acordo com as manifestações e causas determinantes. Como emoções negativas destacam-se o medo, o estresse e a ansiedade. O medo por ser provocado por estímulos causadores determina que as regiões neurais conectam-se de algum modo com os sistemas sensoriais. O estresse acontece diante de uma causa geradora de medo crônico, e a ansiedade, um estado de tensão ou apreensão, gerada pelo medo ou pela expectativa de que algum fato possa acontecer no futuro, seja ele positivo ou negativo. As emoções positivas são aquelas que nos causam prazer. “Os sentimentos de prazer que levam à autoestima indicam a importância dos estímulos de reforço positivo ou recompensa que determinam os comportamentos” ( LENT, 2005, p.670 ). LENT, 2005, define consciência como “a percepção da lógica de nossas operações”, um termo sujeito a diferentes interpretações, pois também pode indicar nível de alerta. Assim, entende-se que a razão está relacionada à emoção e que nem sempre é consciente. O uso da razão requer o estabelecimento de um objetivo, de planejamento e execução. O indivíduo se utiliza de sua memória operacional e uma lógica global inconsciente. A razão está relacionada com o córtex pré-frontal no lobo frontal, estabelecendo conexões com todo o encéfalo. Constatamos assim, a relevância da compreensão do funcionamento das articulações neurais e as funções que realizam. Estudos demonstram a enorme capacidade cerebral e sua habilidade modificatória, evidenciando ser o cérebro provido de genialidade, e ainda, que tais evidências possibilitam entender como o meio ambiente e a cultura do indivíduo podem provocar novas aprendizagens e consequentemente novas mudanças no cérebro. 1.2.3 Plasticidade cerebral Chama-se neuroplasticidade ou simplesmente plasticidade, a capacidade de adaptação do sistema nervoso, especialmente a dos neurônios, às mudanças nas condições do ambiente que ocorrem no dia-a-dia da vida dos indivíduos, conceito amplo que se estende desde a resposta a lesões traumáticas 21 destrutivas até as sutis alterações resultantes do processo de aprendizagem ( LENT, 2005. p. 135 ). De acordo com estudos, cientistas puderam comprovar as modificações sofridas pelos neurônios a cada estímulo do meio ambiente. Em outros casos a mudança só pode ser observada por correlatos funcionais. Com os avanços tecnológicos foi possível observar a estrutura microscópica do tecido nervoso, assim compreendendo-se a organização de suas unidades, estruturais e funcionais, que são respectivamente os neurônios e os gliócitos. Os neurônios são células com funções de transmissão e processamento de sinais e são formados por dentritos e axônios. Os dentritos captam os sinais de outros neurônios e os axônios levam as mensagens para outros neurônios ou célula muscular. A comunicação entre os neurônios gera pulsos elétricos que se propagam ao longo do axônio, levando uma mensagem química para a célula seguinte. A este fenômeno é o que chamamos de sinapses. “Ao serem transmitidas, as mensagens podem ser modificadas, e é justamente nisso que resulta a grande flexibilidade funcional do sistema nervoso”(LENT, 2005 ). Torna-se relevante à compreensão do estudo sobre a neuroplasticidade, entender o funcionamento das sinapses. Estudos revelaram que existem dois tipos de sinapses, as elétricas e as químicas. As sinapses elétricas são incapazes de processar informação, apenas transmitindo uma cópia de uma célula à outra. É a velocidade de transmissão, permitindo que numerosas células se acoplem, fato importante para que algumas funções orgânicas se realizem, o que torna evidente a relevância desse tipo de sinapse. As sinapses químicas, diferente das elétricas, permitem a transmissão de informações, ao ser constatado liberação de substâncias biológicas, alterando a informação transmitida ente as células nervosas, como um microcomputador biológico. O estudo da plasticidade ontogenético revela a existência de uma fase na infância durante a qual a influência do ambiente é determinante para o estabelecimento das características fisiológicas e psicológicas do indivíduo. Tais fatos podem ser comprovados em relatos de crianças que se desenvolveram em ambientes selvagens; encontradas em companhia de 22 animais e após esse período submetidas à aprendizagem, tiveram um desempenho insatisfatório. Tal fato corrobora para a evidência de que as possibilidades de aprendizagem se esgotam durante a infância. A função da linguagem parece se estender até o período de dez anos, ainda havendo certa controvérsia nessa avaliação. A descoberta dos períodos críticos levou à conclusão equivocada de que a capacidade dos circuitos neurais se extinguiria depois de certa idade. A partir de experiência com macacos, um grupo de pesquisadores dos Institutos de Saúde dos Estados Unidos, pode descobrir que o cérebro de animais adultos é dotado de plasticidade axônica. Nesta pesquisa, certo número de macacos fora submetido a uma cirurgia onde as raízes dorsais da medula correspondente aos membros superiores foram cortadas. Ao final de dez anos, observaram que a face da região cerebral que representava o braço, passava a conter uma nova representação da face, portanto, uma dupla representação do córtex cerebral. A neuroplasticidade varia de acordo com a idade do indivíduo, sendo verificada profusamente na fase de desenvolvimento dita crítica, período em que muitas transformações ocorrem no organismo. Na fase adulta observou-se que a neuroplasticidade diminui seu ritmo ou apenas modifica na fase adulta, porém não se extingue ( LENT, 2005). LENT, 2005, revela que a plasticidade nem sempre provoca conseqüências benéficas, evidenciando algumas anomalias ou resultados maladaptativos, e, portanto, danosos ao indivíduo. Apesar dessa tese ainda não estar comprovada, um dos exemplos a ser dado é o caso da “síndrome do membro fantasma”, quando um indivíduo que teve algum membro cortado, pode ainda ter algumas sensações específicas do membro, como se ele ainda existisse. Outro dado refere-se ao experimento em hamsters. Ao realizar lesões em seu sistema visual, notou modificabilidade de comportamento visual do animal, ao ser colocado sementes de girassol, seu alimento preferido, o animal virava a cabeça para o lado oposto. A respeito do benefício da plasticidade, são evidentes alguns fenômenos que comprovam que indivíduos cegos têm maior aquidade auditiva 23 do que aqueles que vêem, que sua percepção somestésica é mais apurada do que os demais, e até que os violinistas treinados desde a infância possuem maior representação cortical dos dedos da mão esquerda. Experiências em gatos que tiveram os dois olhos suturados revelaram que sua acuidade auditiva e a percepção espacial são melhores em comparação às mesmas habilidades em gatos normais. Observaram ainda, que as áreas do córtex cerebral apresentavam aumento. Mesmo que os mecanismos celulares compensatórios ainda não estejam completamente esclarecidos, estudos demonstram a enorme capacidade cerebral e sua habilidade modificatória. RELVAS, 2010, faz sua contribuição quando relata que o cérebro possuindo cerca de cem bilhões de neurônios, pode estabelecer milhares de sinapses, e que por isso mesmo a capacidade de aprender é ampla. Fala de uma “interdisciplinaridade cerebral”, quando o conhecimento de uma área é aproveitado em outra área. A aprendizagem é uma modificação biológica na comunicação entre os neurônios, formando uma rede de interligações que podem ser evocadas e retomadas com relativa facilidade e rapidez. Todas as áreas cerebrais estão envolvidas no processo de aprendizagem, inclusive a emoção. ( RELVAS,2010,p. 35 ). Pode-se dizer que quando ocorre a ativação de uma área cortical, acontecem alterações em outras áreas, pois as regiões cerebrais não trabalham isoladamente. As associações recíprocas coordenam a chegada dos impulsos, sua decodificação e a atividade motora de resposta. Ao pensarmos em aprendizagem vem logo à nossa mente questionamentos sobre inteligência e cognição, pois atribuímos a elas toda a capacidade de aprender. “A cognição por definição é sinônimo de ato ou processo de conhecimento”, ou algo que é conhecido através dele (FLAVEL, 1993, Apud FONSECA, 2007. p. 32). É importante o diálogo entre os diferentes conceitos, buscando reforçar a idéia de que somente através dos estímulos repetidos e significativos, o cérebro poderá desenvolver sua capacidade de plasticidade. Daí a importância que a Neurociência vem estabelecer quando dispõe de suas 24 descobertas e reclama sua posição no âmbito escolar, para que os indivíduos possam desenvolver suas competências e habilidades em toda a sua plenitude, colaborando ainda com questões relacionadas a distúrbios ou transtornos da aprendizagem. 25 CAPÍTULO 2 COGNIÇÃO, DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM A aprendizagem é um imenso e complexo evento neurológico, cujo processo envolve sempre a potencialização ou capacidades cognitivas. As funções cognitivas não se desenvolvem espontaneamente, necessitando de treino sistemático e mediatização contínua. Dessa forma, compreender como se processa o desenvolvimento cognitivo e a sua relação com a cultura, é fator que não podemos ignorar, pois diante de questões como dificuldades de aprendizagem, torna-se imprescindível estabelecer uma prática adequada ao desenvolvimento humano em todas as suas dimensões, tanto biológico como culturais. 2.1 – Pressupostos filogenéticos da cognição “A cognição tem um passado aproximado de quatro bilhões de anos, mas apenas cem anos de história. Em termos filogenéticos, a cognição emergiu da ação e da motricidade ideacional inerente à espécie humana” (CALVIN, 1998,1989. apud FONSECA, 2007). A cognição tem origem da necessidade que o homem teve em se adaptar ao meio ambiente e a necessidade de sobreviver, solucionando prováveis problemas ou movido pelo prazer pessoal. A evolução cognitiva baseia-se assim, primeiramente às exigências ambientais, passando para as exigências sociais e culturais. A linguagem é o aspecto que destaca a evolução cognitiva. A espécie humana possui uma sintaxe biológica e extrabiológica. A biológica refere-se à motricidade desenvolvida com o estilo de vida de 26 caçadores-recoletores. A extrabiológica refere-se à cultura, que atingiu seu auge com a linguagem corporal e depois a falada ( FONSECA, 2007 ). O mesmo autor define cognição como “um sistema complexo de componentes que envolvem conhecimento, pensamento, criatividade, resolução de problemas, inferência, conceitualização e simbolização”. Como produto da evolução filogenética, evoca sistemas de sobrevivência, de prazer e de aprendizagem. A construção da cognição não é linear, dependendo de fatores que envolvem o desenvolvimento biológico, interno e fatores externos mediatizados por contextos sociais e culturais. As competências cognitivas são representadas pela aprendizagem, em sua eficácia ou ineficácia, através do desempenho intelectual, fatores de performance que constituem os processo da aprendizagem. Stenberg( 1998,1982,1977) distingue cinco componentes fundamentais da inteligência: componentes de aquisição, componentes de retenção, componentes de transferência, metacomponentes de controle ( envolvendo planificação e decisão) e componentes de desempenho. (FONSECA,2007. p. 63). Seguindo o mesmo autor, podemos dizer que o processo cognitivo é global, pois não se pode determinar exatamente o que ocorre no cérebro em termos de aprendizagem, mas observar como ele capta, extrai, integra, armazena, combina, elabora, planifica e comunica a informação. O desenvolvimento cognitivo, assim, é revelado na interligação que ocorre nesse processo. A cognição não pode ser desconectada ao estudo sobre a memória, pois aprender está diretamente relacionado à capacidade de relembrar e de recuperar informações armazenadas. A memória sendo crucial para a aprendizagem envolve complicados códigos eletroquímicos e desencadeia um conjunto de mudanças nas estruturas neuronais. Possuindo uma dimensão temporal, no primeiro momento foca ativamente a informação por cerca de trinta segundos, passando a um nível mais elaborado e emocionalmente mais integrado de armazenamento, onde possa ser rechamada por um período mais longo. Daí a importância da treinabilidade e educabilidade da memória e da 27 metamemória, através de estratégias como: visualização, imaginação, verbalização, categorização, etc. Estas estratégias irão efetivamente proporcionar a promoção do potencial da aprendizagem. Segundo Stenberg (1982,1977), o desenvolvimento cognitivo é metacoponencial, metaexperencial e metacontextual, onde suas competências podem ser diagnosticadas e ensinadas separadamente, relacionando o conhecimento com a cultura. A aprendizagem envolve um equilíbrio entre a herança biológica e o contexto sociocultural facilitador. Nesse sentido, a aprendizagem humana é o produto das interações interiores e exteriores, realizadas com outros aprendentes. A aprendizagem humana assim é uma síntese psicopedagógica, como evocou Vygotsky (1986,1962). “Psicológica, porque envolve processos de atenção, de codificação, de planificação e de expressão, e pedagógica porque envolve a aplicação de estratégias e mediatização sociocultural”. (DAS 1998,1966. FONSECA, 2007). 2.1.1 - Cognição X Inteligência Ao refletirmos sobre aprendizagem, é importante percebermos alguns equívocos cometidos no espaço da escola, quando educadores costumam confundir conceitos sobre cognição e inteligência, sendo comuns comentários a respeito dos alunos avaliados como mais inteligentes ou menos Inteligentes. Assim, “inteligência é uma habilidade nata, relativamente fixa e constante, e largamente determinada geneticamente “(FONSECA, 2007). A cognição são modos de como a informação se processa, dispositivos, estratégias de adaptação e pensamento. Como dispositivos, são altamente modificáveis ao longo do desenvolvimento. Os indivíduos adquirem tais processos através da aprendizagem por exposição direta às fontes de informação e pelas experiências de interação mediatizada por outros indivíduos. É imprescindível assim que haja uma aprendizagem contextualizada pelas interações sócios-culturais, pois a inteligência sozinha não é capaz de dar conta de uma percepção clara e efetiva, de um pensamento plástico. Mediatizar assim não é sinônimo de mediar, pois 28 mediatizar compõe fatores de troca de experiências e intervenção da promoção concreta do enriquecimento cognitivo. 2.2- Relações entre desenvolvimento e aprendizagem humana 2.2.1 Desenvolvimento e processos O desenvolvimento é simultaneamente orgânico e social, pois para muitos neurocientistas, seu mecanismo é uma função do meio, sendo ainda individual, pois cada cérebro é diferente do outro. Piaget em seus estudos sobre a origem da inteligência evidenciou a existência de estágios no desenvolvimento humano. Segundo ele o ambiente é o que deflagra o desenvolvimento. Entendendo que o homem possui equipamento neurológico e sensorial que interfere em seu desenvolvimento, ressalta que é a interação com o meio que precipitará a organização desses significados em estruturas cognitivas. O desenvolvimento está relacionado ao equilíbrio das necessidades biológicas fundamentais à sobrevivência. Segundo Piaget a aprendizagem objetiva o equilíbrio. Assim colabora com seus conceitos sobre organização, adaptação, assimilação e acomodação. Face a um novo conhecimento, o indivíduo primeiramente toma conhecimento das relações das partes e o todo, após esse conhecimento, adapta-se ao objeto e mais tarde apropria-se dele. A adaptação passa por duas fases: a assimilação, que são os ajustes intelectuais necessários diante dos novos objetos a conhecer, e a acomodação, quando o indivíduo constrói o equilíbrio entre as duas fases da adaptação. Na interação com o meio é que o homem desenvolve sua intelectualidade diante de desafios, organizando-se e adaptando-se a ele, primeiramente por assimilação, ao incorporar dados sobre o objeto apresentado, passando à acomodação, quando há a construção do conhecimento. Piaget ainda fala de desequilibração, um certo desajuste face a novos desafios. De acordo com Piaget “a cognição seria um instrumento 29 adaptativo do comportamento humano”. Outro conceito dedicado à construção do conhecimento desenvolvido por Piaget fala sobre “esquemas”. Esquemas seriam processos de ação aplicados à realidade pelo indivíduo diante de sua interação com o meio. São estes os modos sistemáticos pelos quais nos apropriamos dos objetos. “Um determinado conjunto de esquemas integrados virá a constituir-se numa estrutura intelectual” (AZENHA,1998). As descobertas de Piaget colaboraram e ainda são suportes de pesquisas a respeito do desenvolvimento humano e sua aprendizagem ( LIMA, 2002,2001,1998 ). 2.2.2.Desenvolvimento cognitivo e afetividade O desenvolvimento é um processo interior enquanto que a aprendizagem envolve fatores externos; estão reciprocamente relacionados, pois quanto mais são os estímulos oferecidos, maior será o desenvolvimento. Desde a tenra idade, o indivíduo estabelece as suas relações sociais, provido de uma capacidade mental advinda de uma estrutura dita biológica, desenvolve as funções mentais através de estímulos exteriores. A qualidade do desenvolvimento está diretamente ligada a fatores de intensidade dos estímulos. O bebê poderá desenvolver mais satisfatoriamente a sua percepção, concentração, por exemplo, pelo contato com a sua família, o toque de sua mãe, a exposição de objetos em seu meio ambiente, a conversa e o movimento e as brincadeiras exploradas com a criança, todas essas ações proporcionam o desenvolvimento de suas potencialidades cognitivas e a coloca em contato com o mundo. 2.2.3 – Critérios na mediatização da aprendizagem Feurerstein ( 1980 ) e Haywood ( 1995 ) apud FONSECA (2007), sugerem alguns critérios na mediatização da aprendizagem: intencionalidade, transcendência, significação, regulação do comportamento e participação compartilhada. O mediatizador deve usar a interação com a finalidade de produzir mudança cognitiva estrutural e não apenas circunstancial, de modo 30 que o indivíduo possa pensar sobre suas ações, conferindo suas competências na aplicação de modos diferentes de pensamento e adaptação de estratégias de resolução de problemas. O bom mediatizador deverá também regular o comportamento impulsivo do mediatizado, possibilitando maior reflexão sobre as estratégias de resolução de problemas, pois os freqüentes erros diante de tentativas vazias podem determinar bloqueios. Enfim, interação entre os indivíduos deve ser caracterizada por mútua confiança, possibilitando mudanças no desenvolvimento mental. Tais critérios desenvolvem nos indivíduos a propensabilidade de aprender a aprender (FONSECA, 1999, 1999a ). As contribuições de Luria e Vygotsky em estudos realizados sobre as funções mentais revelam conceitos implícitos no desenvolvimento e aprendizagem humana. O cérebro modifica suas estruturas e mecanismos a partir da interação dos indivíduos com o mundo. As sensações fornecem ao cérebro informações sobre o corpo que produz uma motricidade adaptativa e flexível. Ontogeneticamente essa interação sensorial acontece no útero materno e após o nascimento através de gestos, visão e palavras. O processo de aprendizagem humana envolve ao menos três componentes: a memória, a consciência e a emoção. A estes somam-se outros que são os próprios mediadores da ação humana, o desenvolvimento e a utilização dos sistemas simbólicos, principalmente a linguagem, e o papel da cultura no processo de desenvolvimento humano.Este processo é resultante da articulação entre desenvolvimento, aprendizagem, socialização e formação da personalidade. ( LIMA, 2002,2001,1998. P. 9 ) Percebemos assim que a articulação entre desenvolvimento, aprendizagem, socialização e formação da personalidade é na verdade o aspecto da formação global do indivíduo, aspecto esse a ser dimensionado no âmbito escolar, favorecendo-lhe ao introduzir neste espaço, conhecimentos de outras áreas do saber. A psicologia é a área que mais influenciou os aspectos pedagógicos, trazendo à luz de nossos conhecimentos teorias sobre o desenvolvimento e aprendizagem. ( LIMA, 2002,2001, 1998). 31 Vários neurocientistas têm apontado para o fato de que o desenvolvimento do cérebro se forma na dinâmica cotidiana das reações do indivíduo ao meio, idéia defendida por Wallon, ressaltando que o desenvolvimento é do contexto. Vygoksky propõe um conceito que chamou de Zona de Desenvolvimento Real e Zona de Desenvolvimento Potencial, considerando o que o indivíduo consegue realizar sozinho e o que ele pode realizar tendo ajuda de outros indivíduos. Diverge de Piaget em sua teoria sobre desenvolvimento. Segundo Piaget, a aprendizagem só ocorre depois do desenvolvimento, quando biologicamente o indivíduo está preparado. Para Vygotsky o desenvolvimento discorre de uma aprendizagem adequada, e que a partir da aprendizagem é que serão desenvolvidas as características humanas construídas historicamente. A aprendizagem não é em si mesma desenvolvimento, mas uma correta organização da aprendizagem da criança; conduz ao desenvolvimento mental, ativa todo um grupo de processos de desenvolvimento, e esta ativação não poderia produzir-se sem a aprendizagem (Vygotsky, 1977. p.47 apud http://www.scielo.br/pdf/pe/v11n3/v11n3a02.pdf ) . A partir dos estudos neurocientíficos pode-se tirar elementos fundamentais sobre as relações de desenvolvimento e aprendizagem, quando afirmam que algumas práticas no processo de construir o conhecimento dependem da idade do indivíduo, porém, outras práticas devem ser realizadas independentes da idade, e que a natureza de alguns problemas na aprendizagem pode estar na esfera do desenvolvimento do sistema nervoso. Um bom exemplo diz respeito à competência relacionada ao desenvolvimento temporal e espacial na aprendizagem da escrita. Entendendo que a alfabetização envolve a construção sonora da palavra escrita, percebemos que a leitura em voz baixa ou em voz alta é componente da aprendizagem da escrita. Sabemos que dentro desse processo a memória tem papel fundamental. Assim o tempo de exposição de um determinado assunto deve ser trabalhado tanto pela memória imediata quanto pela memória a longo prazo. . O corpo caloso, responsável pela comunicação entre os dois hemisférios do cérebro, está ligado à memória, levando aproximadamente uma 32 década para amadurecer, isto significa que quanto menor a criança for, menor será o fluxo de informações entre os hemisférios. Isto explica porque pouco nos lembramos dos primeiros anos de vida (RESTAK,1995 apud LIMA, 2002,2001,1998 p. 15 ). Outro aspecto refere-se ao desenvolvimento da consciência, envolvendo atenção, percepção e emoção, e a sua origem. De acordo com as descobertas, a consciência tem sua origem na formação de uma saliência no cérebro, provocada pela elaboração de uma rede neural; esta rede é constituída a partir do tempo e forma de exposição do indivíduo a determinado conteúdo. (DAMASIO, 1995, apud LIMA, 2002, 2001, 1998). LIMA (2002, 2001, 1998) fala da importância da cultura sobre a memória, pois esta depende da biografia do sujeito, construindo seu conhecimento através do domínio das práticas culturais existentes em seu meio; completa dizendo que o tempo e espaço determinam as formas e as qualidades da aprendizagem e que a imitação, primeira estratégia que o ser humano utiliza para aprender, além de ação motora, desencadeia processos neurológicos da memória. Os conhecimentos recentes contribuem para esclarecer os elementos implicados em aprender e se desenvolver como ser humano. Mesmo entendendo o desenvolvimento como um aspecto social e cultural, isto é, a cultura é que dimensiona o desenvolvimento, é correto dizer que o desenvolvimento possui aspectos biológicos. Um organismo ainda imaturo não poderá realizar certas funções; uma criança que não tem um aparelho fonador estruturalmente formado, não conseguirá falar, assim como um bebê de apenas alguns meses não conseguirá andar, escrever ou ler e outras habilidades que dependem do tempo de organização e formação neurológica, psicológica e psicomotora. A aprendizagem como formação humana é um desafio para as instituições de ensino, não podendo ausentar-se das importantes contribuições da psicologia, da neurologia e neuropsicologia para a educação, pois todas as disciplinas mencionadas trazem informações imprescindíveis para uma ação 33 pedagógica que propicie o desenvolvimento humano em sua globalidade, podendo assim descobrir melhores estratégias para ajudar o aluno em sua aprendizagem, reconhecendo seu tempo biológico e psicológico, intermediando e provocando seu potencial cognitivo. Não se pode entender a educação sem o olhar investigativo, sem intencionalidade, sem o conhecimento do sujeito da aprendizagem. É nesse sentido que a Neurociência pode ser considerada como uma ferramenta a mais para o educador, ao trazer elucidações importantes sobre a estrutura e processos cognitivos. 34 CAPÍTULO III NEUROCIÊNCIA E EDUCAÇÃO O cérebro é um conjunto dinâmico, continuamente modelado a partir de experiências sensoriais e de aprendizagem. Nosso sistema nervoso contém uma extensa rede de neurônios que se intercomunicam e que passam por várias fases de amadurecimento e organização. Ao se organizarem, os neurônios compensam prováveis deficiências. O estímulo ambiental é o que garante a modificabilidade do comportamento ( BARBIRATO, 1970). O mesmo autor diz que a preocupação com a saúde mental começou após a Primeira Guerra Mundial, com a questão dos órfãos produzidos pela guerra, mas a atenção cresceu na segunda metade do século XX pelas exigências que a criança apresenta durante a escolaridade, percebendo-se assim que o desempenho escolar está intimamente relacionado à saúde mental. A partir daí iniciou-se o estudo sobre o papel do cérebro para a compreensão do funcionamento da mente. 3.1 Anatomia da aprendizagem humana Todas as células cerebrais são formadas durante os três primeiros meses de gravidez. Ao nascer, a criança já possui 100 bilhões de neurônios, que ao interagir com o mundo irão formar conexões que vão possibilitar o desenvolvimento de todas as funções da vida mental. Os primeiros anos de vida da criança são fundamentais para o seu desenvolvimento, cada experiência nova favorece condições para o surgimento de novas capacidades, além de desenvolver o equilíbrio psicológico (RELVAS, 2010 ) 35 A aprendizagem é a modificação do comportamento, como resultado da experiência ou aquisição de novos conhecimentos acerca dos meios, e a memória é a retenção deste conhecimento por um tempo determinado. ( RELVAS, 2010, p.36 ) A aprendizagem, segundo a autora, é uma modificação biológica, pois está ligada às coligações neuronais, evocadas e retomadas com rapidez. Isto é possível porque o cérebro possui uma plasticidade que permite ilimitada capacidade de aprender e responde eficazmente à atividade física e ao treino mental, podendo manter-se ágil durante toda a vida. É importante ressaltar que atividades que não provocam a concentração e o pensamento, podem traduzir numa limitação à aprendizagem, pois o cérebro necessita de estímulos constantes para que haja maior comunicação entre as células nervosas. A atividade física aeróbica surge então, entre outros estímulos, como coadjuvante da aprendizagem, a partir do momento em que permite a oxigenação do cérebro, levando oxigênio às áreas do cérebro, possibilitando a comunicação entre os neurônios, as sinapses, melhorando a memória e a capacidade de raciocínio. As regiões cerebrais não atuam isoladamente, pois outros conhecimentos podem ajudar na construção de um conhecimento específico. É a plasticidade cerebral que permite isto ser possível. RELVAS, 2010, aponta quatro processos de aprendizagem a partir da neuroplasticidade neuronal: habituação, sensibilização, condicionamento clássico e condicionamento operante. Na habituação, estímulos repetidos provocam uma sensível diminuição das respostas. Na sensibilização, há um aumento de neurotransmissores. No condicionamento clássico, ocorre a associação de estímulos, e no condicionamento operante, há a associação entre estímulo e comportamento. A memória é a base no processo da aprendizagem, pois é o registro vivo de experiências comportamento. que Através da poderão memória ser evocadas planejamos, na mudança abstraímos, do temos julgamento crítico e atenção. RELVAS, 2010, assim, aponta dois tipos de 36 memória: a emocional e a racional. As duas memórias se articulam rapidamente nas tomadas de decisão. O Sistema límbico é uma área do cérebro importante para o aprendizado, pois o hipocampo é ativado no processo de assimilação, momento em que são enviadas as informações para a memória curta ou longa duração. O hipocampo seleciona as informações, enviando as mais relevantes ao córtex. A partir deste momento é o lobo frontal quem guarda as informações, classificando-as de acordo com o tipo. As diferentes memórias se completam dando origem ao raciocínio. RELVAS, 2010, determina a relação das funções desempenhadas por diferentes regiões corticais. Córtex motor primário Inicia o comportamento Córtex visual primário Detecta estímulos visuais Voluntários Córtex motor primário Detecta os estímulos auditivos Córtex visual primário Coordena movimentos complexos Córtex motor primário Produção da fala articulada Córtex de associação Base do esquema corporal Área de Wernicke Compreensão da fala Área Pre - frontal Planejamento, emoção, julgamento Área Temporo-parietal Percepção 3.2 Gêneros, cérebro e aprendizagem A escola deve estar preparada para atender as múltiplas inteligências dos alunos, assim como dispor de tecnologias para desenvolvêlas, e ainda, conhecer bem o grupo a que atende nas suas possibilidades, habilidades, dificuldades e diferenças. Pensando assim é que RELVAS, 2010, 37 contribui com seus estudos sobre a anatomia cerebral e as diferenças entre meninos e meninas. Apesar de entender que as diferenças culturais são maiores entre os gêneros, estudos revelaram que a anatomia cerebral entre os gêneros são diferentes, acarretando diversidade no modo de aprender. A educação em seu aspecto geral abraça a ideia do respeito à história do indivíduo, sua cultura e fatores que determinam seu desenvolvimento. Muitas são as contribuições nesse campo sobre as múltiplas Inteligências, a necessidade de uma visão holística sobre as dificuldades da aprendizagem e a urgência de uma prática realista que possa contribuir efetivamente para a construção do sujeito crítico e capaz de transformar sua própria realidade. Dentro desses pressupostos, poucos sabem sobre os aspectos biológicos que nos caracterizam individualmente, pois, apesar de apresentarem padrões, possuem especificidades representadas pela cultura. Dentro desse quadro, RELVAS, 2010, presenteia-nos com suas abordagens sobre os diferentes modos em que homens e mulheres aprendem, pensam, criam estratégias, calculam o tempo, estimam a velocidade de objetos, realizam cálculos matemáticos, orientam-se no espaço e reagem às suas experiências. Tais padrões diferenciados de comportamento são evidenciados não apenas por fatores culturais, mas também genéticos. Por meio das pesquisas neurobiológicas comportamentais, chega-se a uma “quase conclusão’ teórica, que o meio ambiente e a aprendizagem social contribuem em uma grande variedade de diferenças neurofisiológicas e anatômicas entre os cérebros dos homens e das mulheres. O estudo demonstra as diferenças cerebrais. Métodos pesquisados por meio de exames de imagem, tornam possível o estudo do cérebro vivo, realizando diferentes funções ( RELVAS, 2010, pag.70 ) A ciência afirma que o hemisfério esquerdo é analítico enquanto o direito, intuitivo. Ligados por um feixe nervoso, considera-se que nesta região reside a chave do desenvolvimento intelectual. Costuma ser difundido que pelo fato do hemisfério esquerdo estar mais relacionado à área exata, estaria refletida a ideia de que aí se origina a inteligência e maior capacidade de raciocínio crítico. Estudos revelam que o pensamento crítico seria estéril e 38 fadado ao erro caso não houvesse o discernimento criativo e intuitivo originado no hemisfério direito. O corpo caloso assim é na verdade, o campo de comunicação entre os hemisférios e o grande responsável pela tarefa intelectual ( SAGAN, apud RELVAS, 2010 ). De Acordo com RELVAS, 2010, existem algumas diferenças genéticas entre os cérebros femininos e masculinos, ocorrendo então diferentes modos na aprendizagem. O feixe que liga os dois hemisférios cerebrais é maior nos cérebros femininos, o que permite maior comunicação entre os hemisférios. Como as regiões cerebrais não trabalham isoladamente, sendo outras acionadas para determinada tarefa, foi constatado maior densidade de neurônios entre os cérebros femininos. Os cérebros masculinos trabalham mais centralizados nas regiões específicas; assim sendo, há diferentes mecanismos de aprendizagem entre homens e mulheres, modificando os comportamentos ao lidarem com as tarefas e mesmo com suas emoções. Segundo estudos as mulheres são mais capazes de verbalizar suas emoções enquanto os homens as isolam e tendem a seguir em frente. Consequentemente as mulheres tendem a ser mais cautelosa do que os homens quando falam, e estes com maior probabilidade a dizerem coisas sem pensar. O cérebro feminino atinge sua maturidade aos oitos anos enquanto o masculino apenas três anos mais tarde, porém as regiões onde se concentram as atividades de raciocínio mecânico e espacial e concentração visual parecem se desenvolver quatro a oito anos mais cedo nos homens. O cérebro dos homens é dez por cento maior que o cérebro das mulheres. Descobertas revelam que existe uma região no córtex, o lóbulo ínfero-parietal (LIP), bilateral, localizando-se acima do nível das orelhas. O tamanho parece estar relacionado às habilidades mentais em matemática. Nos homens, o lado esquerdo desse lóbulo é maior que o direito; nas mulheres ocorre o oposto, o lado direito dessa região é maior que o esquerdo. “O LIP permite que o cérebro processe informações a partir dos órgãos dos sentidos, e ajude a atenção e a percepção seletivas” ( RELVAS, 2010 ). 39 Tais diferenças vêm revelar a irrefutável urgência das escolas e consequentemente professores estarem preparados para colaborar com a qualidade de ensino, pois ignorar tais diferenças, e abordar diferentes assuntos dentro de um mesmo formato é no mínimo contribuir para desinteresses precoces dentro da educação. Na realidade, a diversidade genética entre homens e mulheres não invibializa esta ou aquela aprendizagem, mas nos fornece esclarecimento sobre o modo diferenciado de aprender, guiando-nos a escolher meios mais eficazes para promover uma aprendizagem que possa desenvolver as capacidades de cada indivíduo. Os processos como as aprendizagens ocorrem são discriminadas por RELVAS, 2010, afirmando que são indiferentes entre homens e mulheres. Os processos das aprendizagens são: aprendizagem intraneurossensorial, interneurossensorial e integrativa. A aprendizagem intraneurossensorial é específica do sistema nervoso, à sua estrutura, caso alguma região esteja lesada, pode apresentar algumas disfunções. A aprendizagem interneurossensorial funciona na interligação, realizando diversas atividades integradas, possibilitando desenvolver potencialidades. O processo de aprendizagem ocorre através da sensação, percepção, formação de imagens, simbolização e conceituação. A sensação é o nível mais primitivo do comportamento e pelo qual indivíduo percebe o mundo. A percepção é a consciência da sensação. A formação de imagens está relacionada ao processo de memória das informações percebidas, sejam elas visuais ou não. A simbolização é a capacidade de representação verbal ou não verbal. A conceituação é o processo mental que envolve capacidades de abstração, classificação e categorização. 3.3 Educação emocional Todo o Sistema Nervoso Central está envolvido na questão da emoção, tanto nas dimensões biológicas, psicológicas, afetivas e emocionais. 40 RELVAS, 2010, propõe que as emoções podem decorrer das mudanças corporais ou viscerais decorrentes de algum estímulo, da estimulação cognitiva, e ainda, subjetivas de atividade no sistema nervoso central, sendo o tálamo importante para a expressão da emoção. A emoção responde a um circuito cerebral que envolve estruturas do sistema límbico e do córtex pré-frontal, que desempenha papel de regulador das emoções. O córtex pré- frontal amadurece tardiamente em seres humanos e este fator interfere enormemente no comportamento dos indivíduos expostos à aprendizagem. A partir dessa observação torna-se impossível separar as dimensões relativas ao cognitivo e às emoções, concluindo-se que uma emoção positiva facilita a aprendizagem, enquanto que uma percepção negativa pode resultar em sua dificuldade (http://hegelperuportugues.blogspot.com/2009/03/as-emocoes-e-oaprendizado.html). A educação emocional assim relaciona-se à automotivação, ao controle de impulsos, canalizando as emoções para situações apropriadas, possibilitando que os aprendentes liberem mais os seus talentos. Para desenvolver a educação emocional o educador deve conhecer os mecanismos entre os hemisférios cerebrais, pois o esquerdo crítico e analítico interfere na criatividade do direito, limitando a liberação do talento. 3.4 Avaliação e intervenção A identificação precoce de dificuldades na aprendizagem na educação infantil é crucial, pois constitui uma das estratégias profiláticas e preventivas para a redução de seus efeitos, pois os indivíduos estão numa fase do desenvolvimento em que a plasticidade neuronal é maior. A intervenção compensatória trará resultados positivos no futuro. Neste sentido alguns sinais podem ser identificados nesta fase e assim nos orientarmos diante de algumas dificuldades na aprendizagem ( FONSECA, 2007 ). O diagnóstico interdisciplinar deve ser um processo sistemático, onde o início se dá dentro da escola, ouvindo as pessoas que estão 41 diretamente relacionadas ao processo de aprendizagem. A primeira questão a ser abordada refere-se ao como o ao por que o professor faz a diagnose, afirmando que a criança não aprende. Observações realizadas por especialistas apontam algumas hipóteses revelando ausência de estrutura ou uma deficiência desta, implicando em equívoco de uma diagnose “simplista”. A escola assim encaminha as crianças a uma verdadeira travessia em busca de tratamentos, ora determinados como afetivos, psicológicos ou orgânicos na busca por justificativas para a não aprendizagem. Percebe-se um grande equívoco sobre o que sejam os distúrbios de aprendizagem e as dificuldades escolares, em que o primeiro pertence à área médica e o segundo especificamente pedagógico. Apesar das falhas avaliativas, a questão sobre as dificuldades de aprendizagem é uma crescente em nossa sociedade atual e são relegadas a um segundo plano quando comparadas à questão médica. Pensar sobre a distinção entre distúrbios da aprendizagem e as dificuldades escolares é uma ação emergente dentro das escolas, para que o diagnóstico não seja utilizado contra o aluno ( CIASCA, 2003). “O cérebro humano é um sistema complexo que estabelece relações com o mundo que o rodeia por meio de fatores significativos como: a especificidade das vias neuronais, que da periferia levam ao córtex informações provenientes do mundo exterior, e a especificidade dos neurônios que permitem determinar áreas motoras, sensoriais, auditivas, ópticas, ofaltivas, etc.,estabelecendo inter-relações funcionais exatas e ricas que são de extrema importância para o aprendizado” ( CIASCA, 2003 pag. 21 ). O autor continua suas reflexões sobre a aprendizagem como processo de informações, revelando as interações culturais e sociais, onde todo o conhecimento deverá ser adquirido, fragmento por fragmento, envolvendo suas relações com o mundo, sendo a escola o espaço onde ocorre esse vínculo interativo da sociedade. Quando a escola tem o discurso do respeito às diferenças individuais levando em consideração os aspectos sociais e histórico-culturais, ignora a genética dos gêneros em sua estrutura diferenciada, formatando os saberes. 42 Percebe-se assim que não apenas teorias orientam, mas também uma prática consciente. Assim, uma aprendizagem que se preocupe com a formação do indivíduo como um todo é aquela que leva em consideração os diversos aspectos que o envolve. É imprescindível que os professores tenham uma prática baseada em conhecimentos sobre o que envolve a formação de seu aluno, tanto em aspectos culturais ou biológicos, pois é comum observar uma prática ainda intuitiva, sendo necessário revisitar esta cultura na sala de aula. 43 CAPÍTULO 4 A FORMAÇÃO DO PROFESSOR E O INSUCESSO ESCOLAR “A reflexão crítica sobre a prática torna-se uma exigência da relação Teoria/Prática sem a qual a teoria pode ir virando blábláblá e a prática, ativismo” ( FREIRE, 2000 ) . Paulo Freire traz reflexões a respeito da formação docente, abordando questões sobre a ética pedagógica, em que trata do valor do professor crítico, pesquisador, generoso e disponível para o outro. Em suas obras sobre o assunto identifica saberes imprescindíveis à prática educativa onde o sujeito que ensina se mistura ao aprendente, dizendo que quem ensina aprende e o que aprende acaba ensinando. O professor assim assume-se também como produção do saber e convence-se de que ensinar não é meramente “transferir conhecimento, mas criar possibilidades para a sua produção ou a sua construção”. Envolver-se com a prática pedagógica é participar de uma experiência social, biológica, psicológica, histórica, cultural e política, entendendo que somos “seres programados para aprender” (JACOB, 1991, apud FREIRE, 2000 pag. 27). Quando se pensa sobre aprendizagem de forma generalizada e especialmente aquela que ocorre dentro das escolas, tem-se em mãos estatísticas assustadoras do insucesso escolar, tal fato, identificado com maior rigor dentro de espaços públicos, mesmo que se entenda que o insucesso escolar esteja relacionado a diversos fatores, e que estes se espalham independente de classes econômicas, sociais e culturais. 44 As crianças ou os jovens privados ou muito desfavorecidos socioculturalmente ( não esqueçamos o paradigma das “crianças ou os jovens lobos”), por exemplo, apresentam muitas DA por outras razões que não biológicas ou neurológicas, mas essencialmente por razões do tipo psicossocial que acabam por interferir, dialeticamente, com aquelas ( FONSECA, 2007 pag. 160 ) Os discursos a respeito da relação espaço e aprendizagem, ou mais objetivamente, saberes e poderes levam-nos a uma reflexão crítica, deixando cair máscaras e revelando a necessidade de um diálogo consciente da prática estabelecida dentro das escolas. Tal questão apontada obriga-nos a pensar sobre o que chamamos de medicalização do insucesso escolar, cujo pensamento pressupõe uma justificativa para o não aprender, excluindo as responsabilidades do sistema educacional, da escola e de todos os envolvidos diretamente na ensinagem. A reflexão sobre a prática educativa, assim como revisitar o passado de formação docente, leva-nos a um mergulho numa sociedade multifacetária e implica reconhecer uma história excludente, um passado em que professor muitas vezes sofreu e ainda sofre as conseqüências do “insucesso escolar”; implica sobretudo, reconhecer as dificuldades de “ensinagem” que se cruzam com as dificuldades de aprendizagem apresentadas pelos próprios alunos, evidenciando também alguns equívocos que envolve supostos “erros” na avaliação sobre o que sejam dificuldades ou distúrbios da aprendizagem, além de apontar a desestrutura das escolas para atender à demanda. Analisando a tarefa de ser professor como uma profissão tão complexa como o próprio ser humano, pois lida com todas as suas engrenagens de emoção, razão, cultura, processo histórico, questões emocionais e psicológicas, além de sua genética e meio ambiente, todos fatores diferenciais e determinantes na aprendizagem. Esta percepção é assustadora, trazendo dimensões grandiosas e de grandes responsabilidades. Cada conhecimento revela faces de um ser tão único e indivisível, e ao mesmo tempo em que conforta, traz imenso conflito diante de enorme desafio. Atravessando os tempos, os professores diante de profusas mudanças de ideias pedagógicas e metodologias salvadoras, transformações 45 sociais, tecnológicas e relacionais, “assistem a derrocada de tudo ou quase tudo que aprenderam em curso de formação”. Os novos pressupostos falam de avaliação autoritária, da reprovação que destrói o aluno, e de algumas generalizações sobre afetividade, motivação e participação da família como garantias do sucesso na aprendizagem. É necessário construir posturas científicas esclarecedoras sobre as medidas necessárias para sua efetivação na prática. Faz-se necessário apoiar as respostas que se busca em estudos de campo, pesquisas amplas e tecnicamente bem feitas, o suficiente ao menos para permitir, com segurança mínima, a tomada de decisões (ZAGURY, 2009. pag. 38). 4.1 Pesquisas de campo sobre as dificuldades encontradas pelos professores Buscando uma visão mais abrangente sobre as dificuldades escolares, torna-se relevante uma abordagem sob o ponto de vista dos professores sobre suas próprias dificuldades, pois estas refletem nas dificuldades escolares dos alunos ou estão de algum modo, atreladas a elas. Assim ZAGURY, 2009, realizou uma pesquisa de campo que teve início em 2002, com o objetivo de colher dados sobre o pensamento do professor brasileiro. O estudo aborda aspectos polêmicos da prática docente e foi construído tendo como base, dados estatísticos da Sinopse Estatística da Educação Básica, Censo Escolar, publicada em 2001. A pesquisa envolveu docentes do Ensino 787 docentes do Ensino Fundamental e 213 do Ensino Médio. A construção do questionário seguiu critérios da pesquisa científica para a área das Ciências Humanas. Em suas pesquisas, ZAGURY, 2009, indica que as três maiores dificuldades encontradas pelos professores são: a indisciplina, seguida imediatamente da falta de motivação e a avaliação dos alunos. Tais problemas correspondem a 43% dos entrevistados ( anexo 1). As causas apontadas pelos profissionais pela indisciplina são: alunos sem limite, rebeldia, agressividade e falta de respeito; falta de educação 46 e excesso de liberdade da família, e falta de compromisso, interesse e apoio desta. Estas causas correspondem a 74% dos profissionais( anexo 2 ); segundo a autora, “tamanha consistência não pode ser colocada em dúvida”. A autora segue afirmando que é quase impossível dissociar a falta de disciplina com a questão da motivação, e saber o que é causa e o que é conseqüência. Esta é uma questão recorrente e nos remete a conceitos sobre motivação, que implicam além de práticas interessantes aos alunos, aspectos intrínsecos ao sócio-histórico-cultural. O aluno motivado terá maiores possibilidades em aprender, porém apenas isso não garante a aprendizagem, já que “a aprendizagem é um fenômeno extremamente complexo, envolvendo aspectos cognitivos, emocionais, orgânicos, psicossociais e culturais” (http://www.artigonal.com/educacao-artigos/a-importancia-da-motivacao-noprocesso-de-aprendizagem-341600.html ). O quarto problema sinalizado pelos professores está relacionado à sua atualização, pois entendem a importância de uma formação continuada e escolha de metodologias adequadas que faça frente aos seus maiores problemas. É indiscutível que a aprendizagem será afetada qualitativamente frente aos problemas encontrados pelos professores ( ZAGURY, 2009 ). Nossa reflexão objetiva um entendimento maior sobre as questões da aprendizagem, pois ela envolve diversas variáveis que não podem ser ignoradas. Pensar e discutir aprendizagem inclui um olhar dinâmico dos vários aspectos, tendo sempre o foco no aluno, este sempre a maior vítima do processo. 47 CONCLUSÃO Pensar em aprendizagem é pensar grande, é conseguir enxergar o todo e entender as partes constituintes ao mesmo tempo, e por isso mesmo não seja tarefa fácil. Estar envolvido com a aprendizagem pode intimidar aos mais desavisados, aos que não se perguntam e aos que pensam que tudo sabem. Pois pensar e aventurar-se nas searas desse processo do saber, que pode agigantar a humanidade ou destruí-la pela imprudência, é estar a todo o instante em busca, como um viajante disposto a se desarmar, jogar fora bagagens pesadas e antigas e a reformular seu trajeto em favor de seu destino. É preciso ter coragem e comprometimento para ser professor nos dias atuais, principalmente. Apesar de tantas tecnologias e conhecimentos a serviço dos saberes, é assustador o número ainda elevado de analfabetos no Brasil, de alunos que apesar de submetidos a numerosos projetos dentro das escolas, ainda assim, permanecem durante anos, desassistidos, ou estagnados numa mesma série ou no seu potencial. Vários são os aspectos que podemos delinear, desde a falta de uma formação adequada, políticas públicas insatisfatórias ou desmotivação profissional, mas a questão maior é: quem paga por tudo isso a não ser o aluno? Um dos temas relevantes é a formação do professor e as suas próprias dificuldades dentro do sistema educacional, pois é notória a grande confusão que se dá dentro do âmbito escolar, especialmente em espaços públicos, onde projetos chegam e vão constantemente, e o professor, despreparado, de frente com o problema, não consegue dar conta ao menos de questões como a indisciplina, fator apontado como o seu grande nó. Tais questões jamais deveriam ficar de fora das discussões, pois parece que falta dizer ao professor como fazer e não apenas o que fazer. Falta dizer principalmente como aplicar projetos e metodologias que surgem como medidas salvadoras e que na maioria das vezes não atendem à realidade dos 48 alunos, aqueles menos favorecidos. Mudar concepções nem sempre é fácil, mas necessária, pois o nosso único compromisso deve ser com o aluno. Apesar de todos os confrontos e argumentos contrários, há de se priorizar o comprometimento com a aprendizagem e lembrar que a indisciplina, o desinteresse e falta da participação da família não constituem a razão para o problema das dificuldades escolares, e como diz a professora Carol Kee “estes são apenas sintomas do problema. Devemos atuar no processo da aprendizagem”. Um dos grandes equívocos diante do aluno que não aprende, é esquecer-se de sua individualidade, é formatar metodologias e estratégias, é criar o mesmo trajeto, com os mesmos meios, dentro de um mesmo tempo para todos os aprendentes, aos que aprendem e aos que não aprendem, e ainda submetê-los a avaliações inadequadas, na busca por justificativas do insucesso escolar. São comuns diagnoses precipitadas, transformando-se em discursos reveladores sobre alunos com este ou aquele distúrbio. Dentro desse quadro podemos apontar uma grande lacuna na formação do professor, a necessidade de sua atualização, além de um currículo que acompanhe as mudanças da sociedade e dos sujeitos que a constitui, inserindo-se conhecimentos relacionados ao aspecto biológico do indivíduo, mais precisamente, disciplinas como a Neurociência, que vem revelar suas descobertas sobre as estruturas mentais, a plasticidade cerebral e conceitos sobre “anatomia da aprendizagem”. Tais conhecimentos poderão ser uma ferramenta a mais para que professores construam um planejamento mais adequado a sua turma, e atividades que possam realmente desenvolver as potencialidades dentro da sala de aula. Percebe-se que ainda existem ações meramente intuitivas, baseadas em diagnoses equivocadas. Um fazer pedagógico baseado nas intuições não garante o sucesso, além de não prever problemas que nem sempre estão relacionados com o psico-histórico-social do indivíduo e provoca inadequações nas diagnoses e nas devidas intervenções. Ao longo da trajetória da formação do professor, a psicologia foi uma das grandes disciplinas contribuidoras à aprendizagem, abordando conceitos 49 do indivíduo cultural e psicossocial; contudo é importante analisar a forma como tais conhecimentos entram nas escolas e como são articuladas com outros saberes. Conceitos como as múltiplas inteligências, apesar de amplamente discutidos no espaço escolar, costumam ficar apenas no âmbito das discussões, pois o modelo de avaliação conteudista, prioriza apenas alguns saberes e traduzem os desencontros entre a teoria e a prática. Aspectos relacionados à cultura, ao social e ao emocional do aluno, são abordagens comuns dentro das escolas, porém falar sobre o ser biológico, falar sobre as estruturas mentais e plasticidade cerebral, e conhecimentos sobre a importância de estímulos significativos para maiores eventos neuronais e a relação que têm com a aprendizagem, são assuntos ainda carentes entre os professores. A Neurociência assim como a psicopedagogia podem contribuir como suportes à aprendizagem trazendo descobertas ainda recentes sobre como o indivíduo aprende e em como se dá esse processo, porém sozinhas não garantem que a aprendizagem aconteça, pois entende-se que são múltiplas as faces do processo que desenha a aprendizagem. Este trabalho assim, contribui através de pesquisas e reflexões sobre a aprendizagem e alguns pressupostos que a norteiam, trazendo algumas informações sobre as recentes descobertas que a Neurociência nos revela sobre o ainda tão desconhecido cérebro, órgão da aprendizagem, suas estruturas e capacidades e a relação com o processo da aprendizagem, discorrendo ainda, sobre assuntos pertinentes à sala de aula, as práticas dos professores e suas dificuldades. Devemos estar conscientes de que o não saber deve nos conduzir à pesquisa e ao desejo de buscar novos caminhos que nos levem ao sucesso, tendo como foco a intervenção escolar e o processo de aprendizagem dos alunos, para que a inclusão seja realmente uma realidade dentro das escolas. 50 BIBLIOGRAFIA AZENHA, Maria da Graça Construtivismo De Piaget a Emília Ferreiro. São Paulo – Editora Ática. 1998. CIASCA, Sylvia Maria Distúrbios de Aprendizagem: Proposta de Avaliação Interdisciplinar. São Paulo – Editora Casa do Psicólogo. 2003. FONSECA, Vitor da Cognição Neuropsicologia e Aprendizagem – Abordagem neuropsicológica e psicopedagógica. Rio de janeiro – Editora Vozes. 2007. FERREIRO, Emília Reflexões sobre Alfabetização. São Paulo - Editora Cortez. 2001. FREIRE, Paulo Pedagogia da Autonomia. São Paulo – Editora Paz e Terra SA. 1996. GARCIA, Regina Leite A Formação da Professora Alfabetizadora: Reflexões sobre a prática. São Paulo. Editora Cortez. 2001. LENT, Roberto Cem Bilhões de Neurônios Conceitos Fundamentais de Neurociência. São Paulo – Editora Atheneus. 2005. 51 LIMA, Elvira Souza Desenvolvimento e Aprendizagem na Escola. São Paulo – Editora Sobradinho. 2002. LIMA, Elvira Souza Neurociência e Aprendizagem. São Paulo – Editora Inter Alia. 2007. LIMA, Elvira Souza Memória e Imaginação. São Paulo – Editora Inter Alia. 2007. RELVAS, Marta Pires Neurociência e Educação potencialidades dos gêneros na sala de aula. Rio de janeiro – Editora Wak. 2010. RELVAS, Marta Pires Neurociência e Transtornos de Aprendizagem. Rio de Janeiro – Editora Wak. 2010. ZAGURY, Tania O Professor Refém. Rio de Janeiro – Editora Record. 2009. 52 WEBGRAFIA HERBOZO, Hegel Salazar Aprendizagem Cerebral. 2006. P. 473-482 Disponível em: http://hegelperuportugues.blogspot.com/2009/03/as-emocoes-eo-aprendizado.html Acesso em: 10/01/2011 Hora: 19:00 JUNIOR, Jair Lopes Concepções de desenvolvimento e de Aprendizagem no Trabalho do Professor. p. 123. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/pe/v11n3/v11n3a02.pdf Acesso em: 05/02/2011 Hora: 15:30 LIMA, Sandra Vaz de A importância da motivação no processo de aprendizagem. 2008. Disponível em:http://www.artigonal.com/educacaoartigos/a-importancia-da-motivacao-no-processo-de-aprendizagem341600.html Acesso em: 14/03/2011 Hora: 18:00 VENTURA, Dora Fix Um Retrato da Área de Neurociência e Comportamento no Brasil. 2010. p.123-129. Disponível em: www.scielo.br/pdf/ptp/v26nspe/a11v26ns.pdf Acesso em: 10/01/2011 Hora: 18:00 53 ANEXO 1 Pesquisa de campo sobre as maiores dificuldades do professor Maior dificuldade do professor Dados % Manter a disciplina em sala de aula 22 Motivar os alunos 21 Fazer a avaliação dos alunos 19 Manter-se constantemente atualizado 16 A escolha da metodologia adequada a cada unidade ou aula 10 Usar recursos audiovisuais 3 Falta de participação e interesse dos pais 1 Trabalhar com classes cheias 1 Desrespeito e falta de limites dos alunos 1 Dominar o conteúdo de sua disciplina 1 Outras 4 Não respondeu 2 Base 1.172 ZAGURY, Tania Professor Refém. Quadro 2.p. 83. 54 ANEXO 2 Pesquisa sobre os motivos da indisciplina em sala de aula Manter a disciplina em sala Dados % Os alunos não têm limite/são rebeldes/agressivos/ 44 Faltam com respeito Falta de educação familiar/liberdade familiar/ 19 Falta de educação Falta de compromisso/interesse/apoio/da família 11 Excesso de alunos em salas de aula/salas superlotadas 9 Falta de interesse/motivação/dos alunos/alunos dispersos 6 Os alunos fazem o que querem em casa 4 O papel da família foi totalmente substituído pela escola 4 Desestruturação familiar 4 A motivação fora de sala de aula é ( comunicação, jogos, internet, esportes, mídia) maior 3 Turmas heterogêneas diferenciadas 3 A educação mudou/hoje em dia o professor não pode nada/falta de autoridade do professor/”traumatiza” o aluno 3 Falta a presença da família na escola 3 Hoje em dia há uma inversão de valores 3 Falta de atitudes mais energéticas por parte da escola/escola muito aberta 2 Insegurança do professor 2 A desvalorização do professor/da figura do professor 2 55 Imaturidade dos alunos 2 Outros 16 Não respondeu 15 Base 257 ZAGURY, Tania Professor Refém. Quadro 3 p. 87 56 ÍNDICE AGRADECIMENTOS 3 DEDICATÓRIA 4 RESUMO 5 METODOLOGIA 6 SUMÁRIO 7 INTRODUÇÃO 9 CAPÍTULO I NEUROCIÊNCIA 11 1.1 O que é Neurociência 1.1.1 Por que e Para quê 11 11 1.2 O cérebro humano e sua genialidade 1.2.1 Anatomia do cérebro 13 13 1.2.2. Funções cerebrais 16 1.2.3 Plasticidade cerebral 20 CAPÍTULO II COGNIÇÃO, DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM 25 2.1 Pressupostos filogenéticos da cognição 25 2.1.1 Cognição x inteligência 2.2 Relações de aprendizagem e desenvolvimento humano 27 28 2.2.1 Desenvolvimento cognitivo e afetividade 28 2.2.2 Desenvolvimento e processos 29 2.2.3 Critérios da mediatização na aprendizagem 29 CAPÍTULO III NEUROCIÊNCIA E EDUCAÇÃO 34 3.1 Anatomia da aprendizagem humana 34 3.2 Gêneros, cérebro e aprendizagem 36 3.3 Educação emocional 39 57 3.4 Avaliação e intervenção 40 CAPÍTULO IV A FORMAÇÃO DO PROFESSOR E O INSUCESSO ESCOLAR 43 4.1 Pesquisa de campo sobre as dificuldades encontradas pelos professores 45 CONCLUSÃO 47 BIBLIOGRAFIA 50 WEBGRAFIA 52 ANEXO 1 53 ANEXO 2 54 ÍNDICE 56