Páginas 16-21

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Artigo Original
TENDÊNCIAS BRASILEIRAS NO TRATAMENTO DO CÂNCER
DE LARINGE
BRAZILIAN TRENDS IN THE LARYNGEAL CANCER TREATMENT
1
TERENCE FARIAS
FERNANDO LUIZ DIAS2
GERALDO MATOS DE SÁ1
1
EMILSON DE QUEIROZ FREITAS
1
IZABELLA COSTA SANTOS GISLER
GABRIEL MANFRO3
RESUMO
Introdução: O tratamento do câncer de laringe é
bastante controverso. Neste trabalho, o objetivo é avaliar as
tendências brasileiras no tratamento do câncer de laringe.
Material e Métodos: Pesquisa realizada através de
resposta a questionário de múltipla escolha idealizado pelo
INCa-MS-RJ e aplicado a cirurgiões de cabeça e pescoço.
Resultados: Os cirurgiões entrevistados tiveram
como principais indicações: para tumores T1a glóticos 48,3%
indicaram radioterapia, em tumores glóticos estágio T1b
43,7% indicaram laringectomia fronto-anterior ou frontolateral e 21,9% laringectomia supracricóidea. Em tumores
glóticos T2 48,3% indicaram laringectomia supracricóidea.
Nos pacientes com tumores T1 e T2 supraglóticos
54,1% indicaram radioterapia e 79,41% laringectomia
supraglótica, respectivamente. Em tumores T3 glóticos
(aritenóide móvel, com prega vocal fixa), 64,4% indicaram
laringectomia supracricóidea. Nos casos de tumores T3
glóticos (aritenóide fixa, com corda vocal fixa), 45,4%
responderam que indicariam a laringectomia near-total. Em
casos de tumores T4, 88,5% dos entrevistados indicaram
laringectomia total associada à radioterapia adjuvante. No
tratamento das cadeias linfáticas, 84,8% indicaram
linfadenectomia dos níveis II, III e IV em pacientes N0 e
apenas 46% esvaziam bilateralmente ao realizar
laringectomia total. Para tumores T1N0 supraglóticos 63,2%
indicam esvaziamento cervical e 78,2% fazem-no
bilateralmente.
1-Titular da Seção de Cirurgia de Cabeça e Pescoço do Instituto Nacional de Câncer RJ-MS
2-Chefe da Seção de Cirurgia de Cabeça e Pescoço do Instituto Nacional de Câncer RJ-MS
3-Residente da Seção de Cirurgia de Cabeça e Pescoço do Instituto Nacional de Câncer RJMS
Instituto Nacional de Câncer INCa
Seção de Cirurgia de Cabeça e Pescoço.
Recebido e, 30.09.05; aceito em 20.10.05
Endereço para correspondência
Terence Farias
Rua Ministro Artur Ribeiro nº 98/503 Jardim Botânico-Rio de Janeiro
E-mail [email protected]
Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v. 35, nº 1, p. 16-21, janeiro / fevereiro / março 2006
Conclusão: O tratamento preferencial para o câncer
de laringe no Brasil segue o que se considera o “padrão ouro”,
ou seja, pacientes com tumores iniciais têm como principal
indicação a radioterapia ou a cirurgia endoscópica e, nos
casos de tumores avançados, a laringectomia total associado
à radioterapia. Há uma tendência de maior indicação de
cirurgias parciais/subtotais para o tratamento de pacientes
com tumores de laringe avançados selecionados.
Descritores: laringe; tratamento; carcinoma espinocelular.
ABSTRACT
Introduction: The treatment of laryngeal cancer is still
a matter of controversy. In this work, our aim is to evaluate the
Brazilian trends on the treatment of those patients.
Methods: A multiple choice questionnaire made by
Inca-MS-RJ, was applied to Brazilian Head and Neck
Surgeons. Questions were made regarding the treatment
options for laryngeal squamous cell carcinoma.
Results: Surgeons who were interviewed had the
following main indications: for T1a glottic tumors, 48.3% of
surgeons indicated radiotherapy and for T1b glottic tumors
treatment, 43.7% indicated frontoanterior laryngectomy or
frontolateral laryngectomy, and 21.9% supracricoid
laryngectomy. For T2 glottic tumors 48.3% of surgeons
indicated supracricoid laryngectomy. For supraglottic tumors,
the main treatment was radiotherapy for T1 stage (54.1% of
surgeons) and supraglottic laryngectomy for T2 stage
(79.41% of surgeons). The majority of surgeons (64.4%)
indicated supracricoid laryngectomy for T3 glottic tumors
(mobile arytenoid, with fixed vocal cord) and when the T3
glottic tumors had fixed arytenoid, with fixed vocal cord, the
main option was the near-total laryngectomy (45.4%). For T4
tumors, 88.5% of surgeons indicated total laryngectomy plus
adjuvant radiotherapy. For the neck treatment, 84.8% of
16
surgeons indicated neck dissection in levels II, III and IV in N0
patients and only 46% indicated bilateral neck dissection when
total laryngectomy was indicated. More than 60% of surgeons
indicated neck dissection to T1N0 supraglottic tumors, and
78.2% of them indicated bilateral neck dissection in these
cases.
Conclusion: The preferencial treatment of larynx
cancer in Brazil follows what we consider “gold standard”, that
is, patients with inicial tumors have as main indication
radiotherapy or endoscopic surgery with or without laser. In the
cases of advanced tumors total laryngectomy plus adjuvant
radiotherapy is the most commonly used in Brazil. There is a
tendency of a higher indication of partial/subtotal surgeries for
the treatment of patients with selected advanced larynx
tumors.
Nacional de Câncer/INCA-MS-RJ e aplicado a Cirurgiões de
Cabeça e Pescoço provenientes de todo Brasil, participantes
do XIX Congresso Brasileiro de Cirurgia de Cabeça e Pescoço
realizado de 3 a 6 de setembro de 2003, em Curitiba, Paraná.
Foram 200 questionários distribuídos e 117 respondidos.
Oitenta e sete foram aproveitados (devido a rasuras, múltiplas
respostas, não entendimento da pergunta).
Foram 21 perguntas pertinentes a qual tratamento o cirurgião
argüido realiza no seu serviço, considerando que o paciente
em questão encontra-se em ótimas condições clínicas,
podendo submeter-se a qualquer tratamento escolhido.
AS SEGUINTES PERGUNTAS FORAM REALIZADAS:
De todos os tumores da área de cabeça e pescoço, o
câncer de laringe é o que gera maiores controvérsias quanto
às possibilidades terapêuticas, desde os pacientes com
tumores T1 a T4. Várias são as opções terapêuticas e essas
mudam, dependendo do serviço em que está realizando o
tratamento.
Como conduta para pacientes com tumores glóticos
iniciais, tradicionalmente a radioterapia é a primeira opção de
tratamento1, porém, com o aprimoramento de técnicas
microcirúrgicas e com o uso do laser, tem-se obtido em
grandes centros uma efetividade oncológica semelhante ao
tratamento com a radioterapia2.
Vários fatores são preditivos para uma pior resposta
do tumor à radioterapia e à ressecção endoscópica, como o
acometimento da comissura anterior, o volume tumoral,
diminuição da mobilidade da corda vocal, o que leva a uma
maior indicação de cirurgias parciais e subtotais da laringe,
mas apesar de um excelente controle loco-regional e controle
de margens cirúrgicas, o resultado funcional da qualidade de
voz é muito inferior quando comparado com as outras
técnicas terapêuticas, sem falar da necessidade da
traqueostomia temporária; no entanto, o que está em primeiro
plano é o controle oncológico3.
O tratamento padrão para pacientes com tumores
avançados da laringe, continua sendo a laringectomia total,
com esvaziamento cervical seguido de radioterapia
adjuvante4. Várias são as técnicas cirúrgicas existentes, como
a ressecção endoscópica à laser, a laringectomia
supraglótica, supracricóide, hemilaringetomia e a
laringectomia near total que também podem ser indicadas
para pacientes com tumores avançados com semelhante
efetividade oncológica2,3,5.
Com a intenção de preservação do órgão da laringe,
vários protocolos de radioterapia, associado à quimioterapia
têm surgido, deixando a cirurgia como opção para resgate
cirúrgico6,7.
Como podemos observar, várias são as opções
terapêuticas para o paciente com câncer de laringe. O objetivo
deste trabalho é de analisar as tendências brasileiras para o
tratamento desses pacientes, assim como compará-los com
resultados da literatura mundial.
1- Qual tratamento você indica para pacientes com tumores
T1 glótico?
2- Qual tratamento você indica para pacientes com tumores
T2 glótico?
3- Qual tratamento você indica para pacientes com tumores
T1 supra glótico?
4- Qual tratamento você indica para pacientes com tumores
T2 supra glótico?
5- Qual tratamento você indica para pacientes com tumores
T1b glótico?
6- Qual tratamento você indica para pacientes com tumores
T3 glótico (aritenóide móvel com corda vocal fixa)?
7- Qual tratamento você indica para pacientes com tumores
T3 glótico (aritenóide fixa com corda vocal fixa)?
8- Qual tratamento você indica para pacientes com tumores
T4 de laringe?
9- Quais níveis do pescoço você esvazia no tratamento de
pacientes com CEC de laringe N0?
10- Ao realizar uma laringectomia total, você indica o
esvaziamento cervical profilático, bilateral, sempre?
11- Ao realizar a laringectomia supra glótica, você esvazia o
pescoço ao tratar pacientes com tumores T1?
12- No caso acima, se indicou esvaziamento, esse é bilateral?
13- Você indica laringectomia parcial de resgate (supraglótica,
fronto-lateral, hemilaringectomia, supracricóidea, near total)
para RT1, RT2 pós RXT ou RXT + QT?
14- Você indica laringectomia parcial/subtotal (near total) para
T3 irradiado?
15- Ao realizar uma cirurgia de resgate em paciente já
irradiado, onde os campos da RXT já abrangeram os linfáticos
do pescoço, e no momento o mesmo encontra-se com
pescoço negativo, mesmo assim, você ainda esvazia
profilaticamente?
16- E se o tumor for supraglótico?
17- Você tem utilizado em seus pacientes a prótese traqueoesofágica?
18- Se o tumor de laringe acomete o hipofaringe ou a
orofaringe, com pescoço N0, você inclui outros níveis no seu
esvaziamento profilático?
19- Você inclui as cadeias paratraqueais, mediastino ânterosuperior e recorrenciais no seu esvaziamento ao tratar
pacientes com acometimento tumoral da subglote?
20- Você resseca rotineiramente a glândula tireóide do lado
afetado ao realizar a laringectomia total?
21- Ao realizar a hipofaringectomia total, qual sua opção de
reconstrução?
Assim como alguns dados demográficos dos
entrevistados como idade, sexo, tempo de formado,
especialização e tipo de hospital onde trabalha.
MATERIAL E MÉTODOS
RESULTADOS
Pesquisa realizada através de preenchimento de um
questionário de múltipla escolha idealizado pelo Instituto
Os questionários foram respondidos por 87
cirurgiões, provenientes das seguintes cidades: São Paulo -
Key words: Larynx; treatment; squamous cell carcinoma
INTRODUÇÃO
17
SP: 32, Rio de Janeiro - RJ: 16, Recife - PE: 10, Porto Alegre RS: 7, Salvador - BA: 6, Campinas - SP: 3, João Pessoa - PB:
3, Belo Horizonte - MG: 03, Santos - SP: 2, Piracicaba - SP: 01,
São José do Rio Preto - SP: 1, Pelotas - RS: 1, Limeira - SP: 1,
Barra Mansa - RJ: 1.
A idade média dos entrevistados foi de 42,7 anos,
variando entre 27 e 63 anos. O tempo de exercício da
profissão foi de 18,6 anos, variando entre 5 e 40 anos de
formado.
Dos entrevistados, 29,7% trabalham em hospitais
sem CACON (Centro de Alta Complexidade Oncológica).
Com relação à especialidade, 32,4% tinham a
Otorrinolaringologia como pelo menos parte da formação
médica, 8,1% também tinham formação em Cirurgia Plástica
e 59,4% eram Cirurgiões de Cabeça e Pescoço com formação
em Cirurgia Geral. Dos entrevistados, apenas 4 (4,6%) eram
do gênero feminino.
A radioterapia (RXT) foi a primeira opção para o
tratamento de tumores glóticos T1, com 48,2% das respostas,
seguido da cirurgia endoscópica com 28,7% e a cirurgia
endoscópica associada à radioterapia se margens
comprometidas com 21,8%. Apenas 1,1% dos cirurgiões
ainda utiliza a laringofissura com cordectomia. Nenhum
entrevistado indicou radioterapia e quimioterapia para
tumores nesse estágio.
Para os pacientes com tumores T2 glóticos, a
laringectomia supracricóidea (LSC) foi a primeira opção com
48,2% das opiniões, seguida da radioterapia com 25,2%.
Hemilaringectomia (12,6%) e a laringectomia fronto-lateral
(9,1%) foram a terceira e quarta opções, respectivamente. A
cirurgia endoscópica e a cirurgia endoscópica associada à
radioterapia se margens comprometidas tiveram poucos
defensores, com 1,1 e 3,4% respectivamente. Novamente,
nenhum entrevistado indicou radioterapia associada à
quimioterapia.
Em se tratando de tumores T1 supraglóticos, 54%
utilizam a radioterapia como primeira opção de tratamento. A
laringectomia supraglótica foi indicada em 21,8% dos
entrevistados seguida de ressecção endoscópica com 18,3%.
A ressecção endoscópica seguida da radioterapia se margens
comprometidas foi indicado por 5,7% dos cirurgiões.
Já se o tumor for T2 supraglótico, a laringectomia
supraglótica (LSG) foi indicada como primeira opção em
79,3%. Radioterapia com 17,2%, radioterapia associada à
quimioterapia com 2,2% e cirurgia endoscópica associada à
radioterapia se margens comprometidas com 1,1% (figura 1).
Pacientes com tumores T1b glóticos tiveram como primeira
opção de tratamento a laringectomia fronto-lateral ou frontoanterior com 43,6%, seguido da radioterapia com 27,5%. A
laringectomia supracricóidea foi indicada por 21,8%, cirurgia
endoscópica com 5,7% e a glotectomia com 1,1%.
Se o tumor é T3 glótico (aritenóide móvel, com prega
vocal fixa), 64,3% dos entrevistados indicaram a
laringectomia supracricóide. A hemilaringectomia foi indicada
por 12,6%, laringectomia total também por 12,6%,
laringectomia near total com 6,9% e a radioterapia associada
à quimioterapia com 3,4% dos votos (figura 2).
Figura 2 - Opção terapêutica para tumores T3 glóticos (aritenóide
móvel, com prega vocal fixa) (%).
Pacientes com tumor glótico T3 com prega vocal e
aritenóide fixa (apenas 75 dos 87 responderam a estas
perguntas), 52% indicaram a laringectomia near total, 33,3% a
laringectomia total, 17,3% a radioterapia associada à
quimioterapia e 4% a hemilaringectomia (figura 3).
Figura 3 - Opção terapêutica para tumores T3 glóticos (aritenóide e
pre
g a
voc
a
l
fixa
s
)
(%)
.
Figura 1 - Opção terapêutica para tumores T2 supraglóticos (%).
Se o paciente for portador de um tumor T4 de laringe,
88,5% dos entrevistados optaram pela laringectomia total
seguida da radioterapia. Apenas 11,5% indicam a radioterapia
associada à quimioterapia como primeira opção de
tratamento. Nenhum entrevistado indicou radioterapia
isolada.
Com relação aos níveis do pescoço esvaziados ao
tratar cirurgicamente pacientes com pescoço N0, 88,8%
esvaziavam os níveis II, III e IV, 11,3% os níveis II, III, IV e V,
apenas 2,5% os níveis II e III e 1,2% não esvaziam o pescoço
18
(figura 4). Esse esvaziamento foi indicado de forma bilateral
em 46% dos argüidos e 54% só esvaziam o lado da lesão.
Se a laringectomia foi supraglótica em pacientes
com tumores T1N0, 63,2% indicaram o esvaziamento cervical
profilático e 36,8% não indicaram. Dos que indicaram
esvaziamento nesses casos (55 entrevistados), 78,2% o
fazem de forma bilateral e 21,8% só do lado da lesão.
Se o paciente apresenta recidiva local (rT1 ou rT2)
após tratamento radioterápico e quimioterápico
concomitante, 88,2% indicaram cirurgia parcial de resgate
enquanto que 11,8% indicaram a laringectomia total. Porém,
se o tumor irradiado foi rT3, 45,6% indicaram cirurgia menor
que total (supracricóidea, near total e hemilaringectomia) e
54,3% indicaram a laringectomia total.
Fig
Figura 5 - Opção terapêutica quanto indicação do esvaziamento em
paciente com recidiva local após tratamento radio e quimioterápico
concomitante. (%)
Figura 6 - Opção terapêutica quanto indicação do esvaziamento
profilático em paciente com recidiva local de um tumor supra-glótico
(%).
Em se falando de prótese tráqueo-esofágica, 40%
dos cirurgiões têm utilizado, contra 60% que não a utilizam.
Voltando a falar de esvaziamento cervical, se há
extravasamento tumoral para a hipofaringe ou orofaringe,
56,9% não ampliam o seu esvaziamento enquanto que 43,1%
(37 cirurgiões) ampliam o esvaziamento, para o nível I (5,4%),
nível V (18,9%) e nível I ao V (75,6%) (Tabela 1).
Tabela 1 - Níveis de ampliação do esvaziamento nos casos de
extravasamento tumoral para o hipofaringe ou orofaringe.
Níveis de Ampliação
Nível I
Nível V
Níveis I V
Percentagem de indicações
5,4
18,9
75,6
As cadeias paratraqueais, recorrenciais e o
mediastino ântero-superior são incluídos no esvaziamento
cervical em pacientes com tumor com extensão infraglótica
por 75% dos cirurgiões.
Sessenta e dois por cento dos entrevistados não
ressecam rotineiramente a glândula tireóidea do lado afetado.
Ao realizar uma hipofaringectomia total, 59,8% indicaram o
transplante de jejuno como primeira opção de reconstrução,
seguido do retalho de músculo grande peitoral utilizado de
diversas formas (com 28,8%), transposição gástrica, indicado
por 10,3% e o retalho chinês tubulizado por 1,1%.
ura 4 - Opção terapêutica quanto aos níveis do esvaziamento cervical
no tratamento de pacientes com CEC de laringe N0. (%).
Se esse paciente já foi irradiado, apenas 16,1% dos
entrevistados indicaram o esvaziamento profilático, enquanto
que 83,9% realizam a laringectomia em campo estreito (figura
5). Entretanto, se o tumor recidivado for supraglótico, 31,1%
esvaziam profilaticamente e 68,9% não indicaram o
esvaziamento (figura 6).
19
DISCUSSÃO
O tratamento dos diferentes estágios do carcinoma
epidermóide da laringe é controverso. A escolha depende da
experiência de cada cirurgião e da disponibilidade das
modalidades terapêuticas propostas. Nem todos os serviços
brasileiros são CACON, não dispondo de radioterapia ou
quimioterapia, assim como o laser é uma opção pouco
freqüente.
Tumores glóticos iniciais apresentam várias
possibilidades terapêuticas, sendo que todas possibilitam um
bom controle da doença2. A ressecção endoscópica pode ser
pelo método tradicional ou com laser. Ambas as
possibilidades apresentam boas respostas terapêuticas,
porém, em alguns casos, podem ser necessárias múltiplas
ressecções8. Nos casos de persistência de doença após a
ressecção endoscópica, a radioterapia apresenta resposta
semelhante à ressecção cirúrgica9, 10. O resultado terapêutico
das ressecções endoscópicas é alterado pelo envolvimento
da comissura anterior e radioterapia prévia11, condições estas
que fazem com que 65,6% dos cirurgiões brasileiros optem
pela laringectomia supracricóidea, laringectomia frontolateral ou fronto-anterior em casos de comprometimento da
comissura anterior como no estádio T1b e apenas 27,6%
optem pelo tratamento radioterápico. Em nosso país, 48,3%
dos cirurgiões optaram pelo tratamento radioterápico nos
tumores T1a glóticos. A dificuldade de disponibilidade de
ressecção utilizando o laser influenciou na opção terapêutica,
pois esta última modalidade é disponível em poucos serviços
no Brasil. No entanto, somando a indicação de cirurgia
endoscópica e cirurgia endoscópica associada a radioterapia
se margens comprometidas, obtemos um índice de 50,6%
como primeira opção terapêutica para tumores T1 glóticos.
O uso da radioterapia para o tratamento de T1 e T2
glóticos é atrativo devido à melhor qualidade vocal comparado
ao tratamento cirúrgico. Quatro fatores fazem com que a
resposta para esses tumores seja menor quando tratados
com radioterapia: tamanho do tumor, envolvimento da
comissura anterior, extensão infraglótica e diminuição da
mobilidade da prega vocal. O controle local a cinco anos
diminui de 87% para 76% nos casos de T2 glóticos que
apresentem diminuição da mobilidade da prega vocal12.
Devido a esses fatores de pior resposta ao tratamento
radioterápico, a maioria dos cirurgiões de cabeça e pescoço
brasileiros optam pelo tratamento cirúrgico (70,3%)
laringectomia supracricóidea, hemilaringectomia e
laringectomia fronto-lateral. Apenas 25,3% tratam o T2 glótico
com radioterapia. Em pacientes com recidiva de tumores T1 e
T2 tratados com radioterapia, 88,2% dos cirurgiões
entrevistados indicam laringectomia parcial.
Os tumores precoces supraglóticos (T1 e T2)
através do tratamento cirúrgico endoscópico e da radioterapia
alcançam controle da doença em 90 a 95% e 80 a 90% dos
casos, respectivamente13,14. Os bons resultados oncológicos
da laringectomia supracricóidea já estão bem estabelecidos3.
A indicação de radioterapia tem como ponto negativo a
dificuldade de diagnóstico da recidiva devido essa se localizar
em alguns casos na submucosa e espaço pré-epiglótico,
muitas vezes impossibilitando o tratamento de resgate com
laringectomia supraglótica, sendo necessária a realização de
laringectomia near total ou total. A radioterapia tem a
preferência dos cirurgiões brasileiros no tratamento dos
tumores supraglóticos T1 (54,1%). Já nos casos de tumores
supraglóticos T2, 79,4% dos cirurgiões indicam a
laringectomia supraglótica.
Tumores glóticos avançados não apresentam
indicação terapêutica definida, principalmente após a
apresentação de protocolos de preservação de órgão. A
Universidade da Flórida divide os tumores avançados (T3 e
T4) em favoráveis e desfavoráveis, sendo os primeiros
restritos a um lado da laringe sem obstrução respiratória
importante. Nesses casos, é indicado o tratamento
radioterápico, reservando a laringectomia total aos casos de
falência do tratamento e de tumores desfavoráveis15. A
radioterapia não é a melhor opção em casos de tumores T4
com invasão da cartilagem tireóidea, devido à alta incidência
de condronecrose16. Essa modalidade terapêutica de forma
isolada não é indicada por nenhum dos cirurgiões
entrevistados nesse estudo para tumores nesse estágio. O
primeiro trabalho que utilizou o tratamento combinado com
quimioterapia e radioterapia foi o estudo do grupo Veterans
Affairs, onde foi possível a preservação do órgão em até 66%
dos casos de câncer de laringe estágios III e IV17. A grande
maioria dos entrevistados (88,5%) tratam tumores T4 com
laringectomia total associado à radioterapia adjuvante,
tratamento que apresenta sobrevida a cinco anos variando de
20 a 94%18,19.
Os tumores T3 glóticos que apresentam apenas a
prega vocal fixa são uma das indicações de laringectomia
supracricóidea, pois nesse caso as articulações cricoaritenoídeas encontram-se intactas. A sobrevida a cinco anos
de pacientes tratados com laringectomia supracricóidea foi de
94,6% em pacientes com tumores T2 com mobilidade
diminuída e tumores T320. Os cirurgiões brasileiros preferem
o tratamento cirúrgico em tumores T3 da laringe, indicando
em 64,4% dos casos onde as aritenóides encontram-se
móveis a laringectomia supracricóidea e, em 45,4 % dos
casos onde toda a hemilaringe encontra-se fixa, a
laringectomia near-total. Apenas 45,7% dos cirurgiões
indicam cirurgia parcial ou subtotal em tumores T3
recidivados pós-radioterapia isolada ou concomitante à
quimioterapia.
A abordagem do pescoço é de extrema importância,
pois esse é o sítio de maior recorrência da doença em
pacientes tratados com cirurgia. Em pacientes sem evidência
clínica de metástase linfática (N0) e portadores de tumores
glóticos T3 ou T4, há indicação de dissecção linfática eletiva
das cadeias II, III e IV21, procedimento realizado por 84,8% dos
cirurgiões entrevistados. Contudo, apenas 46% dos
cirurgiões realizam o esvaziamento cervical contra-lateral ao
realizar uma laringectomia total. Apenas 16,1 % dos cirurgiões
entrevistados indicam esvaziamento cervical em pacientes
clinicamente N0 após tratamento radioterápico ou radio e
quiomioterápico concomitante. Esta conduta aumenta para
31,1% caso o tumor tratado fosse localizado na supraglote.
A região supraglótica apresenta uma drenagem
linfática mais rica que a região glótica da laringe, sendo a
drenagem contra-lateral bastante incidente nesta região da
laringe. O esvaziamento cervical bilateral em tumores
supraglóticos diminui a recidiva regional de 20 para 9%22. A
maioria dos cirurgiões brasileiros (63,2%) indica o
esvaziamento cervical em tumores T1 localizados na
supraglote e, desse grupo, 78,2% realizam a dissecção
linfonodal bilateral.
Apesar das inúmeras controvérsias e propostas
terapêuticas variadas, os cirurgiões brasileiros apresentam
condutas reconhecidas na literatura nacional e internacional.
CONCLUSÕES
O tratamento padrão ouro para o câncer de laringe
ainda é o preferencial no Brasil: pacientes com tumores
iniciais têm como principal indicação a radioterapia ou a
cirurgia endoscópica com ou sem laser, de acordo com a
disponibilidade de equipamento dos serviços entrevistados.
Já nos casos de tumores avançados, o tratamento
radical padrão (laringectomia total associado à radioterapia) é
o mais utilizado no Brasil. Avanços como protocolos de
radioterapia, quimioterapia e próteses fonatórias ainda são
pouco utilizados como opções terapêuticas, visto o perfil dos
pacientes com câncer de cabeça e pescoço no Brasil e
também as dificuldades de instituir-se tal tratamento no nosso
país. Há uma tendência de uma maior indicação de cirurgias
parciais/subtotais como a laringectomia supracricóidea para o
tratamento de pacientes com tumores de laringe avançados
selecionados. Apesar das inúmeras controvérsias e
propostas terapêuticas variadas, os cirurgiões brasileiros
apresentam condutas reconhecidas na literatura nacional e
internacional.
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