NOTA CIENTÍFICA Atividade da Redutase do Nitrato em Folhas de Plantas Jovens de Mogno (Swietenia macrophylla King R.A) Submetidas ao Estresse Hídrico e à Reidratação Nilton Junior Lopes Rascon1, Diana da Silva Castro2, Allan Klynger da Silva Lobato2 , Dramerson Dorivan Silva Gouvea3, Cândido Ferreira de Oliveira Neto3, Raimundo Lázaro Moraes da Cunha4 e Roberto Cezar Lobo da Costa4 Introdução O mogno (Swietenia macrophylla) é uma espécie pertencente à família Meliaceae, que possui folhas compostas e uma altura variando entre 25 e 30 m. Está presente não só na Amazônia, mas também em outras regiões do Brasil, sendo particularmente freqüente na região sul do Pará Lorenzi [1]. Globalmente, existe aproximadamente 200 mil ha de plantações de mogno. Contudo, poucas madeiras provenientes de plantações entram no comércio internacional. Os compradores americanos consideram que a madeira crescida em plantações é inferior à madeira de árvores naturais. Em decorrência disso, atualmente o mogno está ameaçado de extinção, devido a forte pressão da exploração sofrida pelo alto valor econômico da madeira, que no mercado internacional chega a valores acima de US$ 1.000 (mil dólares) o metro cúbico. A S. macrophylla é explorada devido sua madeira ser de alta qualidade, e muito utilizada por fabricantes de móveis, de botes e de painéis caros. A maior parte das exportações são as de madeira serrada de alta qualidade sem processamento [2]. A intensa exploração das indústrias madeireiras vem ocasionando desmatamentos que estão se expandindo para áreas maiores, promovendo a redução na evapotranspiração e diminuição das chuvas, gerando, assim, períodos secos na Amazônia [3]. O estresse hídrico, que é, na maior parte das definições, um desvio significativo das condições ótimas para a vida, origina mudanças e respostas a todos os níveis do organismo. Estas respostas são inicialmente reversíveis, no entanto, podem tornar-se permanentes. Mesmo se o acontecimento os fatores de estresse for temporário, a vitalidade da planta diminui com o prolongar do estresse. Quando a capacidade de ajustamento da planta é atingida, o que era até aí um dano latente, passa a ser considerada uma doença crônica ou um dano irreversível [4]. O metabolismo do nitrogênio relacionado com a absorção e assimilação de fontes orgânicas (uréia e glutamina) e inorgânicas (nitrato e amônio) têm sido alvo de recentes pesquisas. O estresse hídrico provoca reduções drásticas na atividade de redutase do nitrato já a partir de pequenos decréscimos no potencial da água [5], porém os mecanismos moleculares não são totalmente conhecidos [6]. Por outro lado, a atividade das enzimas envolvidas com os passos seguintes da assimilação de nitrato (redutase de nitrito, glutamina sintetase e glutamato sintase) são pouco afetadas pelo déficit hídrico [7]. A redução de nitrato, através de redutase de nitrato (EC.1.6.6.1), representa o principal ponto de controle quando a fonte externa é o nitrato [8]. A interação nitrogênio versus condição hídrica do solo é importante porque esse nutriente freqüentemente limita o crescimento das plantas cultivadas em ambientes de pouca pluviosidade. Além disso, existem evidências na literatura de que o nitrogênio e a disponibilidade de água no solo limitam o crescimento, dentre outros fatores, pela limitação na aquisição e assimilação desse nutriente. O objetivo desse trabalho foi avaliar a influência do estresse hídrico e da reidratação na atividade da enzima redutase do nitrato em folhas de mogno. Material e métodos O experimento foi conduzido em casa de vegetação do Instituto de Ciências Agrárias da Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA), em Belém, PA. As mudas de mogno, fornecidas pela AIMEX quando tinham seis meses de idade, e oriundas de sementes vindas de Rondônia/RO e Paragominas/PA, foram acondicionadas em vasos plásticos com capacidade para 10 litros, contendo terra preta arenosa. Antes do inicio dos tratamentos, todas as plantas foram colocadas sob sombrite 50%, irrigadas diariamente, recebendo macro e micronutrientes na forma de solução nutritiva de Hoagland & Arnon [9] modificada no laboratório de Fisiologia Vegetal da UFRA. A intensidade luminosa dentro da casa de vegetação, medida por um Luxímetro portátil LD-206 Light Meter, foi 25% da luz solar total. O delineamento experimental utilizado foi inteiramente casualizado, em fatorial 2 x 6 (condições hídricas x ciclos de estresse) com 5 repetições, totalizando 60 mudas. A comparação entre as médias foi feita através do desvio padrão da média ao longo do tempo. Foram feitas 10 coletas destrutivas (tempos: 0, 3, 6, 9, 12 e 14 (reidratação) dias), sempre às 9:00 h da manhã. ________________ 1. Acadêmico Bolsista do Programa de Educação Tutorial (PET) do Curso de Eng. Florestalal. E-mail: [email protected]. 2. Bolsista de Iniciação Científica PIBIC/UFRA, UFRA, Universidade Federal Rural da Amazônia, Belém, PA, Brasil. 3.Mestrando em Biologia Vegetal Tropical, UFRA, Universidade Federal Rural da Amazônia, Belém, PA, Brasil. 4. Professor e pesquisador da UFRA, Universidade Federal Rural da Amazônia, Belém, PA, Brasil. Revista Brasileira de Biociências, Porto Alegre, v. 5, supl. 2, p. 930-932, jul. 2007 931 Imediatamente após a coleta, as folhas foram congeladas em freezer (- 20 º C), e depois conduzidas para estufas de circulação de ar forçada a 65 ºC, até a secagem para preparo da farinha. As análises da atividade de redutase de nitrato nas folhas foram feitas pelo o método “in vivo” descrito por Hangeman & Hucklesby [10]. As médias dos tratamentos foram comparadas através do desvio padrão da média segundo Gomes [11]. Resultados e Discussão Os resultados demonstram que nas plantas controle (irrigadas diariamente), houve uma manutenção na atividade da enzima redutase do nitrato durante os 14 dias do experimento, conforme mostra a figura 1. Entretanto, quando as plantas foram submetidas ao estresse hídrico contínuo, houve uma considerável redução na atividade desta enzima, variando de 1,704 micromoles de NO2- /g.MF/h (tempo zero) para 0,3552 micromoles de NO2- /g.MF/h no 12º dia do estresse, ocasionando um decréscimo aproximado de 79,15%, quando comparado com as plantas controle nesse mesmo período do experimento. Resultados semelhantes foram encontrados em plantas de algodoeiro [12], onde o decréscimo da atividade desta enzima se deve ao fato da diminuição de água disponível no solo provocar um fechamento estomático e consequentemente [13] e com isso diminuir a corrente transpiratória [8]. Como esta enzima é altamente dependente de seu substrato [14], o nitrato que chega as folhas em teores muito baixos, diminui a atividade da redutase do nitrato [15], sendo que no 12º dia do experimento, as plantas foram condicionadas a reidratação e os resultados evidenciam uma pequena elevação na atividade da enzima, mostrando assim que apenas dois dias de reidratação não são suficientes para a atividade de a enzima voltar a ter uma atividade igual ao das plantas controle (Figura 1) [5]. [2] ROBBINS, C. 2000. Mahogany matters: The US market for bigleafed mahogany and its implications for the conservation of the species. TRAFFIC North America. Washington, DC. [3] LEAN, J., C.B. BUNTON, C.A. NOBRE & P.R. ROWNTREE. 1996. The simulated impact of Amazonian deforestation on climate using measured abraco vegetation characteristics. p. 549576 In: J.H.C. Gash, C.A. Nobre, J.M. Roberts & R.L. Victoria (eds.) Amazonian Deforestation and Climate. Wiley, Chichester, Reino Unido. 611 p. [4] LARCHER, W. 2000. Ecofisiologia vegetal ed. Rima artes e texto. São Carlos. [5] COSTA, R.C.L.da. 1999. Assimilação de Nitrogênio e Ajustamento Osmótico em Plantas Noduladas de Feijão-de-corda [Vigna unguiculata (L.) Walp] Submetidas ao Estresse Hídrico. Tese de doutorado. UFC/DBBM, março. [6] FOYER, C.H.; VALADIER, M.; MIGGE, A. & BECKER, T.W. 1999. Drought-induced effectes on nitrate reductase activity and mRNA and on coordination of nitrogen and carbon in maize leaves. Plant Phyology, 117:283-292,. [7] RABE, E. 1993. Altered Nitrogen Metabolism Under Environmenatal Stress Conditions. In: Handbook of Plant and Crop Stress. Ed. Mohammad Passarakli, Marcel Dekker,(Inc,), New York. [8] LEA, P. J. 1997. Primary Nitrogen Metabolism. In: PLANT BIOCHEMISTRY (DEY, P. M. & HARBORNE, J. B. eds.), pp. 273-306. Academic Press, San Diego, California-USA. [9] HOAGLAND, D. R. & ARNON. D. I. 1950. The water culture method for growing plants without soil. Calif. Agric. Exp. Stn. Univ. Calif. 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